O Outro Lado Da Independência Quilombolas
O Outro Lado Da Independência Quilombolas
O Outro Lado Da Independência Quilombolas
de Carvalho (UFPE) Source: Luso-Brazilian Review, Vol. 43, No. 1 (2006), pp. 1-30 Published by: University of Wisconsin Press Stable URL: http://www.jstor.org/stable/4490641 . Accessed: 27/12/2013 09:44
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MarcusJ. M. de Carvalho(UFPE)'
This in theprovince on maroonage plantation paper focuses of Pernambuco's indicates thattheactivities zoneduring Brazil's era. The evidence Independence Masters thecourse armedtheir of localpolitics. frequently of maroons influenced also and involved themin localdisputes Slaves slaves forpower. participated thefreenon-white in urbanuprisings population oftentriggered by alongside At leaston oneoccasion, urban"rabble" between localelites. conflicts freedcaptured maroons Fortheir wereaware part,maroons fromthehandsof authorities. theforces of thevicissitudes of localpoliticsbecause factionaldisputes influenced them. maroons elite The actions fueled of repression arrayed of fearsthat against a second Haiti where a successful slaverevolt theirnationcouldbecome might Theactionsof maroons constitutional Brazil's monarchy. topple influfledgling themostconserencedthedecisions pushingthemto support of thelocalelites, vative years,theformation of a highlycentralized politicaloptionin those impein distant RiodeJaneiro. Scholars rialmonarchy withits capital oftencreditthe institution as a major unitedelites ubiquitious factorthatultimately of slavery Brazilundera singlenational unlike across government, provinces fromfarflung based on the case this herSpanish American Pernambuco, and, of neighbors, butlesscommonly thatmaroonage playedan analogous recogpapersuggests in thisperiod. Brazil's nizedrolein shaping unique politicalhistory
Desde o seculo XIX, que a historiografia sobre a Independencia do Brasil tem utilizado o caso do federalismo pernambucano como contraponto a proposta vencedora, a monarquia unitarista, articulada a partir do Rio de
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Janeiro. Sobre este assunto existe um rico e atualizado debate. Naquele momento, as elites locais tinham que escolher entre tres alternativas principais: permanecerem fieis aisCortes em Portugal, acompanharem o Rio de Janeiro no projeto monirquico constitucional unitarista, ou manterem-se longe destas duas propostas, apoiando um terceiro plano de cariter federalista.2A haitianizaqio, por outro lado, representava tudo aquilo que as camadas dominantes ndo desejavam. Este artigo tenta reconstituir alguns dos possiveis liames entre a hist6ria dos quilombos a noroeste do Recife e a hist6ria mais ampla da provincia no exato momento em que as elites locais tinham que escolher entre aquelas alternativas. A reconstrugdo dos complexos vinculos entre os quilombolas e o restante da populagdo rural e urbana, permite estabelecer as possiveis repercuss6es da resist ncia escrava no trajeto da haute politique pernambucana, aferindo ate que ponto a presenga de quilombolas as portas da cidade do Recife teve alguma influ ncia no desenrolar da Independencia na provincia. Este trabalho, portanto, pretende contribuir com a historiografia sobre a Independencia, abordando o problema da resistencia e do protesto escravo naquele momento de perigo, quando estavam se delineando os contornos do arranjo institucional do novo Estado nacional. Embora possua suas peculiaridades, o caso aqui enfocado serve ainda de prisma para se abordar quest6es de rata, classe e etnicidade nos quadros da Independencia do Brasil. Pernambuco e uma das mais antigas col6nias aqucareiras do mundo atl ntico. Seu principal porto, Recife, jaifuncionava em 1537,quando a cana comegou a ser plantada, empregando primeiro escravos indigenas, depois africanos. Ante a ausencia de listas nominativas disponiveis para os historiadores, os censos para a provincia na epoca da Independencia sdo pouco confiiveis, mas os dados existentes indicam que havia de quatrocentos a quinhentos mil habitantes em Pernambuco nessa epoca. Em torno de um tergo a um quarto dessa popula~go era formada por escravos, cuja maioria concentrava-se na zona aqucareirapr6xima a costa.3 Os quilombolas estavam alojados num percurso de matas, sem comego nem fim exatos, pois surgia timidamente nos morros que nascem perto da costa, entre Recife e Olinda, e engrossava ao se afastar do litoral, seguindo sinuosamente entre engenhos e povoados da zona da mata norte, ultrapassando os limites da vila de Goiana, chegando perto da fronteira com a Paraiba. Visitando a provincia na metade da d~cada de 181o,o viajante Henry Koster foi informado que as matas que saiam do Recife no subfirbio de Apipucos estavam ligadas as matas em Goiana, a quinze lguas da capital.4 Nas casas grandes dos engenhos que margeavam aquelas matas, viviam alguns dos proprietarios mais abastados da provincia. Eram agricultores experientes. Sabiam que precisavam de muita lenha para suas caldeiras. De fato, as matas eram tantas que se queimava ate madeiras nobres, apesar do
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interesse do Estado em manter uma reserva de bosques para a construgao naval desde o periodo colonial. Mas, por outro lado, os plantadores tamb6m sabiam, por experiencia pr6pria, que a existencia de matas pr6ximas as caldeiras e canaviais, ndo apenas cortava o custo de transporte da lenha como contribuia para limitar a propagagdo de pragas, pois, onde nio havia matas, os ratos e insetos, sem ter para onde ir, terminavam se alojando na nas plantay6es. Para resumir o problema, sem matas, nio haveria aticar utilizado em da o era Pernambuco nio pois Independencia, bagago 6poca como combustivel. Um ponto relevante para o sucesso de uma plantation era justamente conseguir balancear adequadamente o uso da terra, pois os engenhos precisavam de pastos para os animais de traqdo, lenha para as caldeiras e terra para se plantar cana.5 Uma solugdo pritica e simples era ndo mexer muito nas matas nos morros e terrenos acidentados que entremeavam os engenhos. A bem da verdade, queimar as matas encimadas nos morrotes mais ingremes nao garantia boa terra para o plantio, pois a erosdo logo se instalava quando a chuva pesada, de maio a agosto, lavava fora os nutrientes do solo. A cana vinga muito melhor nos terrenos planos. Nio 6 preciso estudar agronomia para entender isso. A a cana, desde o s6culo XVI, ensinava. A destruigdo total das experiencia comrn matas de um engenho s6 ocorria quando o proprietario jaindo dispunha de terrenos planos e varzeas para expandir o canavial. E ai a decadencia seria inevitaivel,ante a falta de lenha. Claro que tamb m era sabido que a terra rec6m-queimada era a melhor para se plantar novas mudas. A relagdo da predat6ria da cana-de-aqticar com a mata atl ntica 6 por demais conhecida, mas, segundo Warren Dean foi somente com a mecanizaaio dos transportes e da indi~stria,depois de 1850,que a mata foi realmente devastada. Apesar de toda a agressdo ecol6gica, ate os dias de hoje, nas terras das usinas de a~qicar na area onde estavam os quilombolas, ainda resistem tufos de mata em pontos altos, nos monticulos que despontam acima dos canaviais. Sdo facilmente visiveis por quem viaja pela estrada que vai do Recife a Jodo Pessoa (no Estado vizinho da Paraiba), passando inevitavelmente por Goiana.6 A cana plantada em terreno irregular tamb6m era mais dificil de ser transportada em carro de boi, ou mesmo no lombo de um homem. O infrene sobe-e-desce morro acima e abaixo podia quebrar o carro de boi, os lombos dos burros ou as costas dos cativos. Alm do prejuizo, poderia demorar, e este era o maior problema, pois a cana comeqa a fermentar assim que e cortada. Cada hora que passa, ela perde em teor de sacarose. Os plantadores podiam ndo saber esses nomes tecnicos, como sacarose, mas entendiam perfeitamente que quanto mais a cana demorava a ser processada, menor a quantidade de auicar produzida. Passadas 24 horas do corte, a cana estava perdida para o aqicar, servindo apenas para fazer cachaCaou melago. O tempo entre o corte, a moagem e o cozimento, tinha que ser o menor possi-
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vel. Este aspecto tecnico da cana era tao importante que a distancia entre o plantio e a moenda impunha limites bastante rigidos ao tamanho dos engenhos. Canavial longe, ou em local de dificil acesso ndo era vantajoso, pois jai chegava fermentado na moenda. A lenha, por sua vez, tinha que estar perto tambem. Era esta a utilidade da floresta pr6xima e a raz~o de ndo se utilizar qualquer terra para o plantio.7 O resultado e que o tal caminho da floresta, de que Koster ouviu falar, saindo do Recife ate Goiana, percorria o mesmo cinturio de morros que perpassa a zona da mata hoje em dia. Embora ndo houvesse uma unidade na textura do verde que serpenteava entre os engenhos, as fontes costumavam chamar aquelas matas de Catucai,nome de um dos iniimeros riachos que irrigavam o caminho que a selva tragava entre os clar6es de canaviais, povoados e cercados construidos pelo homem. No centro da mata, ainda perto do eixo urbano de Recife e Olinda, num local ate hoje conhecido como Cova da Onga, ndo foi possivel implantar a agricultura de exportagio. A literatura tradicional sobre os engenhos pernambucanos e muito cuidadosa em listar os engenhos da provincia, bergo da chamada "nobreza da terra". Nio havia nenhum na Cova da Onga.8 Pode-se dizer sem grandes riscos que, no miolo da floresta, pode ter havido agricultura de subsistencia desde tempos imemoriais, mas a agricultura de exportagdo ndo vicejou. Atualmente, 1i em cima, com infinitos olhos d'Agua,e em alguns pontos com vista do alto para o mar, repousam soberbas granjas de veraneio. Se os proprietairiosrurais sabiam que nao podiam, nem deviam destruir completamente a mata, sabiam tambem dos problemas da convivencia com a imensiddo da mata atlantica. Nao e absurdo supor que, no inconsciente coletivo residia um medo antigo da floresta fechada, com suas sombras e misterios. Concretamente, havia um temor da mata talvez menos abstrato, herdado dos s culos anteriores. Ali era o lugar dos animais selvagens, o abrigo de indios e quilombolas hostis. Em pleno s&culoXIX, continuava sendo o reposteiro de bandidos, morada de posseiros e excluidos de toda sorte. quase inevitaivelque tenham existido calhambolas nesse cinturdo verde. Andando por ali por volta da metade da decada de 1810,o viajante Henry Koster sentiu um certo desconforto diante da espessa folhagem da mata atlantica, tapando a luz do sol. Segundo ele, ali era esconderijo de foragidos da justiga em geral.9 Ndo 6 razoivel supor, portanto, que a presenga de negros naquelas matas tenha ocorrido tardiamente, no alvorecer do seculo XIX. Por esta razio, s6 e relevante a referencia a InsurreiCdoPernambucana de 1817ao se estudar este quilombo tdo pr6ximo do eixo urbano Recife/Olinda.1' Foi na zona da mata norte a "repi6blica" arranjou mais adeptos fora do perimetro urbano em Pernambuco. As tropas reals varreram v4rias propriedades rurais nos limiares do Catuci. Seu principal alvo nao eram os cativos, mas os seus senho-
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res envolvidosem maior ou menor graucom a repuiblica. Os proprietairios armar escravos de tambem costumavam seus confianqaquando "patriotas" de protegdopessoal."Talvezalgunsdos cativosenvolvidosnos precisavam a oportunidade embatesde 1817 tenhamaproveitado parafugir. no seculoXIX,os rebeldesde 1817 Como erapraxeentreliberais deixaram nao seriam libertos explicitono "Preciso" que os negros pelos "patriotas".'2 Mas ante a pressaoda esquadra, bloqueandoo porto do Recife,e a iminente nao restaramalchegadadas tropasimperiaisparacombatera "repfiblica", ternativas a ndo ser mobilizartambemos cativos.Segundoo viajanteTollee armaramem torno de nare,somente no Recifeos insurgenteslibertaram mil de escravospara a defesa da cidade. Depois, talvez arrependidosante resolveramdesarma-lose os riscos de haitianiza~go, de volta mandart-lostodos os e armarnegros poderiaser perigoso Assuas rotinas.Libertar para brancos.Tollenare conta que o padreJoaoRibeiro,um dos lideresdo moviconsiderava mento de 1817, que parasalvara liberdadetodos os meios eram bons, opinidocom o que nao concordava o viajantefrances.13 ForA presenqado Batalhaode Henriques,todavia,ndo foi passageira. mado por negros livres e libertos,aquele batalhaotomou conta das principais fortalezasda cidade. O 6iltimobaluartedo Recifefoi a fortalezado os canh6escontraas tropasimperiais. Brum,onde os Henriquesmanejaram eles tiveram Luiz Geraldo um papelrelevanteno movimento Silva, Segundo com autonomia de 1817, bastante naqueleseventos.14Paracompletar, agindo na faltade soldadosbrancosno interior,algunsrebeldesmais abastadosnao a nao ser armarseus pr6prioscativos.Enquanto tiveramoutra alternativa durou a escraviddo no pais, era uma pritica corriqueira utiliza-los como oculares da ou Testemunhas PernamInsurreiqdo guarda-costas capangas. Kostere Tollenare escravos sua bucanade 1817, protedio empregaram para 0 mesmo fizeramos "patriotas". pessoal durantesuas viagensno Brasil.'" o negocianteDoEm 1817, lidercivildo movimentorepublicano, o principal com tropa de fez a mesma andando Recife coisa, pelo mingos JoseMartins, tiradosde seus senhorescom essa fina300 negros,"quasetodos escravos", Tambemfoi assimque agiu o proprietairio lidade.'6 JoaoFranciscodo Rego do engenhoNovo, com os quaismarchoupara Barros,armandoos escravos o Recife.'7 tambem foram enviadospara engrossaro Escravos particulares Coronel um abastadoproprietario dos Suassuna, Henriques.18O regimento rural,tambemsaiu de seu engenhoparao Recife"a frentede negros armados", e junto com seus filhos, futurosSenadoresdo Imperio,teria ajudado no forte das Cinco Pontas.19 Na na libertagdo dos prisioneiros"patriotas" de Itamaraca um senhor tomadada fortaleza pelos rebeldesteriaparticipado Ate mesmo algunsprode engenhojunto "comseus cunhadose escravos".20
prietirios, que uma vez capturados testemunharam contra a revolta, durante a vigencia do governo republicano, colocaram escravos a sua disposigao.21
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Na repressio ao movimento de 1817,novamente apareceram proprietirios rurais com as suas tropas de escravos, desta vez para defender a monarquia luso-brasileira.22 As contradi?6es s6cio-raciais, todavia, tambem afloraram naquele momento em que havia tantos negros livres, libertos e cativos armados. Nem todos os escravos eram leais aos seus senhores. E uma vez armados, protagonizaram inuimeros atos de rebeldia, atrapalhando a consolidaedo da repiiblica.23Houve aqueles que se aproveitaram do momento, integrando-se ia "populaqa", "entusiasmada da palavra liberdade".24Um deles pertencia ao Padre Bento Farinha. Quem sabe doutrinado pelo pr6prio clero ilustrado, andava armado pela praia de Pitimbu, junto com um parceiro, gritando vivas a "pitria".25Um cativo que acompanhava seu senhor, certamente um "patriota",no dia do levante apareceu armado de espada pronto para servir a "patria".Entusiasmado, "ameagavaos soldados brancos que ihes havia de cortar a cabega".26 Como seria de esperar em ocasi6es assim, houve aqueles que simplesmente aproveitaram a confusdo para cuidar dos pr6prios interesses, como um escravo que ao ser solto da cadeira pelos rebeldes, voltou a exercer a atividade que o levara a prisao: roubar cavalos.27 A derrota do movimento de 1817aconteceu quando as tropas imperiais invadiram Pernambuco a partir de Alagoas e tomaram o Recife. Naquele momento, os ricos "patriotas"das propriedades rurais da zona da mata norte devem ter ficado aterrorizados com o que poderia ihes acontecer. Nio era a toa o temor. Do outro lado da provincia, na zona da mata sul, onde o apoio ao movimento de 1817foi menor, engenhos foram devastados e escravos confiscados pela repressdo. A violkncia das tropas ndo respeitou as noyqes de honra da classe senhorial. Encerrada a rebelido, um parecer do Juiz da devassa aconselhava que os escravos encontrados com armas deveriam receber logo de manha duzentos aqoites na praCaptiblica ou nas guardas principais.28 Alkm disso, foram tambem confiscados (na pritica presos e revendidos) escravos de proprietairiosenvolvidos na rebelido.29 A iminencia do castigo deve ter encorajado os cativos envolvidos a desertar e fugir. Da perspectiva deles, envolver-se na rebelido, mesmo como capanga, significava correr o risco de ser severamente punido. Alrm disso, empunhar armas contra a ordem imperial representava um risco de vida real, afinal de contas teriam que enfrentar as forqas imperiais e nao apenas as tropas particulares de outros proprietarios, como devia ser rotina nas querelas entre senhores de engenho que costumavam armar seus cativos. Da perspectiva da classe senhorial, equipar escravos para uma revolta contra a coroa, sem fazer concess6es mais amplas, poderia significar um outro tipo de A N-o fugir, simplesmente. risco: vy-los implausivel que as fugas possam ter e brutalidade. de incerteza aumentado naqueles meses
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Cabe lembrar aqui que, sendo uma das principais formas de resistencia escrava, a fuga ndo e um ato que dispensa interpretagio, pois ela pode assumir diferentes formas e sentidos, ter m6iltiplos significados. A floresta nunca foi o finico esconderijo possivel. Havia quem preferisse buscar as cidades, as vilas e povoados do interior. Outros que simplesmente procuravam encontrar um novo senhor em alguma propriedade rural ou povoagio do interior. A fuga para o quilombo, portanto, era o produto de uma escolha. E ndo era uma escolha simples, mas uma alternativa extrema ante as press6es de um sistema de dominaqgo que tinha ndo apenas na mente, mas tambem no corpo do escravo, o alvo da sua violencia. Entre as alternativas de fuga, esta era uma escolha radical.30 A arregimentagio de quilombolas era um processo muito seletivo. Ir para um quilombo requeria safide, menos amarras pessoais com criangas e velhos que poderiam ser deixados para tris e, principalmente, coragem. Era uma quebra mais radical com o sistema. A puniego para um quilombola era ainda mais brutal do que para um fujdo qualquer flagrado com outro senhor ou perambulando pelas ruas do Recife, vilas e povoados do interior. O florescimento do quilombo do Catuca dependia dessa possibilidade de arregimentaqdo.Nessa epoca, havia um dado que facilitava este processo: o trifico de escravos atingira o seu ponto mais alto em todo o seculo XIX. A historiografia sobre quilombos haimuito enfatiza a relevancia da presenqa de africanos para o aparecimento dessas comunidades. Foi assim no Brasil, no Suriname, no Haiti e na Jamaica.As raz6es para isso sdo razoavelmente simples. Em primeiro lugar, nem todo mundo sabe usar armas. Os que sabem, estdo mais aptos a se rebelar. Enquanto durou o trifico atlantico de escravos, ndo era incomum a vinda para o Novo Mundo de soldados aprisionados nas guerras africanas. Em segundo lugar, muitas das pessoas vindas recentemente da Africa mantinham vivas as mem6rias de quando eram livres. E estas lembrangas eram um incentivo adicional a fuga, ou mesmo aformaCao de comunidades quilombolas. Por iltimo a cultura politica e as tradiqoes religiosas trazidas da Africa serviam de alicerce para a organiza~go da nova comunidade no Brasil. No que se refere especificamente ao quilombo do Catuca, existe um dado marcante que o vincula explicitamente a Africa. Trata-se do nome do seu lider mais conhecido, Malunguinho, assim identificado numa reunido do Conselho de Governo em janeiro de 1827.31Malungo era um termo de uso
Tanto no Caribe eraa formacomo se tracomono Brasil, pan-americano. os cativos no mesmonavionegreiro.32 tavam mutuamente Os transportados e Louis doisviajantes coevos aoseventos Koster Franaquinarrados, Henry
*oisTollenare, observaram que este liame era considerado muito relevante
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malungo, gerando o nome do lider, Malunguinho, 6 uma crioulizadio desta expressao de raiz bantu. O uso do inho, como h~ muito ensinou S6rgio Buarque de Hollanda, 6 um trago caracteristico do portugues falado no Brasil.34 Em alguns dos oficios da correspondencia das autoridades provinciais, os pr6prios quilombolas foram algumas vezes tratados por "malunguinhos".35 Era como se o lider tivesse se multiplicado. Existe, portanto, uma ligaCdo entre o nome do lider e o trifico. Embora ndo tenhamos evidencias concretas a este respeito, 6 razoaivelespecular que, talvez, a fuga de um grupo de malungos tenha sido um dos momentos marcantes da do constitui?go do quilombo Catuci. Claro que ndo faltaram cativos crioulos e at6 afro-descendentes nascidos livres participando, ou mesmo liderando, as comunidades quilombolas no Novo Mundo. Mas salvo exceq6es, a regra continua sendo equacionar os quilombos Apresenga africana. Neste caso, a d6cada de 1810enquadra-se perfeitamente no modelo. Os dados disponiveis sobre o trdfico para a provincia neste periodo, embora incompletos, sdo bastante expressivos, pois mostram 's v6speque as importay6es de cativos estavam em expansao, ao menos at6 ras da Independencia. De acordo com esses dados, dentre as 60 mil pessoas que vieram da Africa para Pernambuco entre 1811e 1825,em torno de 38 mil entraram entre 1815e 1820. A repuiblicafoi esmagada pelas tropas comandadas pelo General Luiz do Rego, que depois permaneceu A frente do Governo de Pernambuco. A sua presenga na provincia nos anos seguintes deve ter inibido a expansio dos quilombos. Militar experimentado nas guerras europ6ias, o General tinha um contingente substantivo de homens em armas B sua disposiqdo. Entre as tropas de primeira linha que trouxe consigo estava o batalhao dos Algarves, um corpo de elite do exercito lusitano. Dispunha ainda de indios trazidos de Alagoas, al6m das onipresentes ordenanqas e milicias pagas. A Insurreiaio de 1817nao sairia barato aos participantes. A devassa ndo poupou sequer os homens da igreja. Apesar de ter havido inimeros outros movimentos questionando a suserania da coroa portuguesa, foi esta a primeira vez em que foram executados padres. Esse nivel de brutalidade expressa a preocupaqdo que a revolta causou. As tropas ficariam em Pernambuco para manter a ordem nos anos seguintes. Apesar da maciqa presenga das tropas imperiais em Pernambuco, apoiada por milicias e indios acostumados a bater as matas, 6 depois da Insurreiqdo de 1817que aparece a primeira noticia mais concreta das atividades dos negros aquilombados nas matas pr6ximas do nmicleourbano formado por Recife e Olinda. De acordo com a correspondencia militar da provincia, em novembro de 188, foi identificado um "coito de onze negros fugidos". O lider seria um cativo do engenho Abreu, pertencente a Lourengo Bezerra. Os negros ali reunidos haviam atacado algumas pessoas, matando inclusive um
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homem na localidade de Duas Pedras. Na carta que escreveu ao comandante do 80 Batalhdo de Primeira Linha, Inaicio de Mello da Silva adiantava ainda que os negros comunicavam-se com "todos os escravos deste lugar e nio s6 vnrios forros".37 N~o sabemos que provicom estes como tao bem [sic] com dencias foram tomadas naquela ocasido. Mas sabemos que a classe senhorial contava entdo com toda a tropa comandada pelo General Luiz do Rego para, caso necessario, apoia-los no combate aos quilombos na provincia. O que ninguem previa, todavia, era a Revolugdo do Porto (Portugal) no final de agosto de 1820. O Brasil inteiro entrou em ebuliqio com as noticias de que as cortes haviam se reunido em Portugal, exigindo que Dom Jodo VI, que desde 1808 morava no Rio de Janeiro, jurasse uma constituigdo a ser feita por uma assembleia constituinte que seria formada o mais brevemente possivel. Visando enfraquecer o poder do Rei, as Cortes expediram ainda decretos demitindo os governos das provincias do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e autorizando as Camaras do Reino Unido a elegerem juntas de governo locais. As camaras do Recife e Olinda elegeram o pr6prio General Luiz do Rego para presidir a junta de governo local. Mas uma facqdo das elites pernambucanas resolveu organizar um governo paralelo, sediado na vila de Goiana, na zona da mata norte, p61o algodoeiro e aqucareiro, caminho do gado que descia do interior para a costa e depois um dos locais de onde sairiam varias diligencias contra o negros aquilombados na zona da mata norte.38 Depois do Recife, Goiana era o segundo maior nticleo urbano de toda a provincia. Ali foi concreto o apoio a Repuiblicade 1817.A Revolugdo do Porto era a oportunidade por que esperavam os remanescentes de 1817,logo reforqados com a anistia dada aos "patriotas"que ainda se encontravam presos na Bahia e que foram direto para li, uma vez que o Recife estava nas mros do General que comandara a repressdo ao movimento de 1817. Buscando pressionar o Governador regio, o General Luiz do Rego, em 1820, novamente as elites locais armaram seus cativos e a populaqdo negra livre e liberta, ameaqando tomar o Recife a forga d'armas.39Maria Graham, uma camareira inglesa, estava em Pernambuco nessa 6poca e testemunhou o cerco ao Recife. Notou entusiasmo, mas tambem uma certa ingenuidade nos exaltados pernambucanos, que queriam saber qual a posiqgo da Inglaterrano caso do Brasil emancipar-se.40 Talvez o retrato mais nitido de que dispomos sobre esta pratica de armar negros e pardos seja o testemunho deixado pelo pr6prio General Luiz do Rego no exato momento em que aparecia na provincia essa facqdo das elites locais disposta a confronta-lo. Para o General, os negros e pardos votavam branca. O "mata-europeu" um 6dio sincero a popularao europia-leia-se era um brinquedo "tao favorito" em Pernambuco.41A elite local mazomba manipulava esse sentimento e, segundo o General, assalariava "mulatos" e
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negros para defender seus interesses autonomistas.42 Para o experiente General, ndo se tratavaapenas de um problema de classe, ou mesmo da aversio natural e 6bvia dos escravos por seus senhores, mas de um 6dio de raga, de negros e mulatos contra brancos. De fato, nao devia ser muito dificil para a elite mazomba insuflar a massa contra os europeus, fossem estes militares, como o pr6prio General, ou negociantes da praga do Recife. Nas palavras de Luiz do Rego, no Brasil havia a disposidao de quem precisasse "centenares [sic] de individuos habeis para perpetrar os mais horriveis atentados por prego vil: sdo dotados de uma destimidez [sic] e ousadia admiraveis; sao declarados inimigos dos homens de raga branca, e folgam de ter ocasiao de satisfazer o seu 6dio, vingando-se do justo, ou injusto, desprezo que deles sofrem".43 Assim, em 1820, os proprietirios rurais voltaram a armar seus escravos e agregados, muitos dos quais provavelmente tambem ndo eram brancos. Houve escaramugas entre as tropas do General e os efetivos comandados pela junta de governo paralela instalada em Goiana. Ao final de muitas negociaq6es, mal-entendidos e provocaq6es mfituas, o General Luiz do Rego Barreto embarcou de volta para Portugal. Reunidas, as camaras do Recife, Olinda, Goiana, Serinhaem e outras vilas do interior, elegeram um novo governo local, presidido por Gervaisio Pires Ferreira, um dos maiores negociantes locais, que participara das negociay6es entre o General e a junta de Goiana, representando os negociantes do Recife. Segundo os partidarios da expulsdo do General Luiz do Rego, suas bases locais de apoio haviam se erodido, por isso ele simplesmente entregou o cargo e voltou para Portugal. Da perspectiva do General, exposta em suas Mem6rias, ele finalmente viu atendidos os seus pedidos de demissSo e voltou para casa.44 Uma coisa sabemos ao certo, depois que o General deixou Pernambuco, a provincia passou a governar-se com razodivelautonomia, tanto em relaqao as cortes em Portugal como em relagdo ao Rio de Janeiro. A hist6ria da Independencia do Brasil em Pernambuco 6 complexa e merecedora de uma rica historiografia que discute esta tensdo entre as duas alternativasabertas ao governo local: aderir ao Rio de Janeiro ou as cortes em Portugal. Este contexto maior, todavia, ndo esta desvinculado da hist6ria dos quilombos da zona da mata norte, pois estava se desenrolando um processo singular. Aquelas disputas intra-elites ndo s6 resultaram na distribuiCdode armas a populaqio ndo-branca da provincia (inclusive indigena), como tamb6m provavelmente facilitou as fugas para as matas nas imediaq6es do eixo urbano formado por Recife e Olinda. Mal tomou posse, em 27 de outubro de 1821, a nova junta de governo, formada por cinco membros, teria que enfrentar o problema dos negros armados e da populaga que transitavam livremente e praticavam desordens pelas ruas do Recife. Mesmo que tenha sido umrn exagero a den6incia do General
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Luiz do Rego de que a junta de Goiana armara a "gente rude" da provincia,45o certo e que uma das primeiras medidas do novo governo foi escalar diferentes rondas nos tres bairros que formavam a cidade do Recife, uma das quais de cavalaria, devido s "muitas desordens entre o povo todas as noiEra preciso ainda desarmar a populaCio. Foi determinado entio que, tes".46 quem fosse encontrado A noite com armas proibidas por lei seria entregue ao magistrado competente para ser devidamente indiciados pelo delito. Os cativos armados, todavia, nao teriam direito B defesa. Seriam remetidos aos magistrados para que fossem logo castigados com agoites. S6 depois seriam devolvidos aos seus proprietirios, desde que nio tivessem "outro crime senio o carregaremtais armas".47 A leitura das atas das reuni6es da junta de governo, empossada em outubro de 1821,evidencia que os seus membros iniciaram o mandato enfrentando alguns dos mesmos problemas que fustigaram o tiltimo Governador regio, o General Luiz do Rego: banditismo no interior, negros e mulatos armados pelas ruas da cidade, desordens de vairiostipos. Um dos atritos que preocupou particularmente a junta foram as recorrentes brigas do batalhao dos Algarves contra o "povo baixo" e mesmo contra os Henriques. Numa dessas brigas, o batalhao lusitano comegou a "pegar-se com o povo baixo". Os Henriques participaram da briga, que resultou na morte de um dos soldados do batalhao dos Algarves e ferimentos em outro.48Este problema era grave, pois foi uma briga entre componentes dessas duas forgas de cristalino contraste racial, uma de europeus a outra de negros livres e libertos, um dos estopins da InsurreiCdoPernambucana de 1817.49 t relevante notar que, se antes, em sua correspondencia, o Governador Luiz do Rego enfatizava a aversao que os negros e pardos tinham pelos europeus, agora era a vez da junta formada por liberais federalistas de inverter este discurso e alegar o contrario: era o batalhao europeu que provocava e odiava os negros e pardos brasileiros. P ficil tomar este discurso como express~o de uma realidade, e concordar com as alegay6es da junta brasilica e, emulando o discurso nativista ufanista, simplesmente admitir que os portugueses eram mais racistas. Todavia, observando-se com mais cuidado, 6 possivel perceber que todos viviam imersos num contexto onde a cor da pele ndo era apenas um indicativo da social, como hoje em dia, mas da condi?go do individuo. mais clara a cor da pele, mas Quanto pr6pria condigio legal a estava da Os brancos longe pessoa condigao servil.50 desprezavam os negros e pardos, e estes reagiam sempre que podiam. O que facilitava a reaqao era a conjuntura do momento. Durante o processo de Independencia, e no resto do primeiro reinado (1822-31), as elites brasileiras fabricaram um discurso buscando opor a poTalvez a principal razao para a conspulagio mestiga contra os europeus.5i1 de uma nativista trugao ideologia seja bastante simples: era daquela massa
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os indefinida, entre os extremo da despossessao-escravos e indios-e brancos mais ricos, que as elites locais iriam extrair os soldados para confrontar a metr6pole. As elites locais pernambucanas logo perceberam isso. A viajante Maria Graham notou o contraste entre as milicias do General Luiz do Rego e as tropas da junta de Goiana. Enquanto os "patriotas"haviam armado at' "novo negros", haipouco chegados da Africa, as milicias do Recife tinham muitos europeus que ... "como esperam ser saqueados no caso dos brasileiros da terra tomarem a cidade pela forga, sdo os mais zelosos nos deveres militares".52 Para assumir um discurso nativista moderado, simpitico a populagdo nao-branca, mas sem insuflai-la contra os europeus, talvez ninguem fosse melhor talhado do que o pr6prio presidente da junta, o rico negociante GervaisioPires Ferreira, membro da irmandade do Rosario dos Pretos do bairro da Boa Vista. Morando numa mansdo ao lado da igreja do Rosario, ele foi o principal patrono da irmandade.53 De acordo com a fala de Gervisio Pires proferida na reuniao do governo provincial do dia 28 de novembro de 1821,era o Batalhio dos Algarves que nutria uma "rivalidade"contra "a gente de cor da tropa da terra". Assim, mesmo reconhecendo que a retirada daquele disciplinado batalhao poderia resultar em "algumas pequenas desordens", o lider da junta considerava a sua permanencia ainda mais danosa, mesmo porque o batalhao estava aivido Nas semanas seguintes, continuaram havendo atripara voltar a Portugal.54 tos entre o "povo" e as tropas lusitanas estacionadas na provincia. Quando o Batalhdo dos Algarves finalmente zarpou, a junta de governo sentiu-se aliviada. Ao menos o Recife parecia ter ficado em paz. No seu discurso emrn 30 de da se de Presidente Gervasio Pires, 1822, afirmava haviam que janeiro junta, o as de noticias aterradoras os "nossos irmros seriam que dissipado europeus" incomodados ap6s a retirada do batalhao dos Algarves. Buscando conciliar os brancos brasileiros e portugueses, isentou os oficiais portugueses de culpa, mas nao deixou de asseverar que havia de fato "homens por6m maus" que ameagavam os "cidaddos das diversas cores de os levarem a peqa e a surra e outras ameaqas".55 Fora do perimetro urbano, o combate aos negros aquilombados foi sempre uma preocupa~go tanto dos particulares como das autoridades constituidas durante o sculo XIX. A maior parte das fugas dos cativos para o mato era combatida diretamente pelos proprietirios interessados. Para isso, ou armavam suas tropas particulares, ou contratavam capitaes do mato especializados em bater as matas. Somente quando a situaqdo tornava-se grave, e que se recorria ao apoio estatal. E foi isso que aconteceu em fevereiro de 1822, quando o governo provincial publicou uma portaria, cujo objetivo era a "extingo do palmar dos negros fugidos que tanto arruinam a agricultura e A portaria autorizava ainda 0 repasse perturbam o sossego dos habitantes".56 de de 200oo ao da vila Igarassu para que pudesse armar os mil r6is Capitio-mor
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no Ambito os negros a combater aquilombados paisanos quese dispunham dos cativos aindaqueos proprietirios de suajurisdigdo. Ficouestabelecido umataxade20milreis,casofossem deveriam capturados apreendidos pagar desarmados. lo se com estataxa comarmas, ou mil, estivessem Esperava-se a diligencia.57 a Fazenda reembolsar dos200milreisadiantados para doscapitdeseraparte darotina o combate a negros Como aquilombados do Conna pauta de reunido eraum assunto mor,dificilmente queentrava de 1822, estava Ainda maisno complexo selhode Governo. quando quadro a ser estabelecido do novo entre o formato em discussioaberta pacto qual Havia assuntos de o Riode Janeiro e as Cortes as provincias, em Portugal. de tratados. relevAncia a serem eram ordem mais local, como imensa Alguns daInsurreiiao Pera reintegradio dosmilitares porterem participado presos sobre ainda tinham comoerao casodadiscussao maisamplas, repercuss6es financeira no Brasil e o Ambito da autonomia e o papeldo principe regente ateboatosde umainvaPorfim,corriam dos governos provinciais. politica de todasessasquest6es saoportuguesa. o quilombo parase discutir, Apesar entre conturbados do Catuca cresceu tantodurante meses 1822-23, aqueles entrando foi o principal sim na pauta,ou melhordizendo, que terminou de 1822. dareunido do governo no dia20 de marCo assunto provincial "de novo" contra os a ata encontro, apareceram queixas Segundo daquele entaoumaportaria auFoiexpedida amocambados pertodacapital. negros a persegui-los, atirando o Coronel Cavalcanti torizando Cristovdo d'Olanda A intervenqao do governo nelesinclusive, se assim achasse pronecessArio.58 vincial a incapacidade dos particulares evidencia em conteros quilombolas a ata,ndoerasequer a pricom recursos Comomostra somente pr6prios. das indefinidos dos vez eles se meira que Apesar queixavam ataques negros. deveria aos os rumos tomaremrelaCao queo governo provincial q6essobre havia a certeza de quea juntade no Rioe Portugal, desdobramentos rapidos e cara, de colaborar na conse omitir datarefa, ndopoderia pesada governo na escala ainda da represdosquilombolas. Percebe-se um aumento tenqdo deumarecompensa definiu o pagamento ajunta emfevereiro sao.Enquanto ou ficoudecidido dos ndo, em armados que pelacaptura quilombolas marCo astropas, se achassem atirar-mataros necessario, simplesmente poderiam semmaiores quilombolas explicay6es. Duassemanas o assunto novamente medidas repressivas, depoisdessas A asnoticias voltava baila nareunido dajunta degoverno. quevinham Agora, dasimediaq6es dasmatas do CatucA eramaindamaisaterradoras. Chegara napovoagdo estacionadas de Pasmado, dasforgas um oficiodo comandante
na margem da floresta do Catuci, denunciando um "levante dos escravos dos engenhos contra seus senhores". A junta mandou avisar aos comandantes dos termos vizinhos para que tomassem as provid~ncias que considerassem
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necessarias e autorizou o envio de 20 armas e mil cartuchos para a autoridade encarregada de reprimir os negros rebelados nas imedia?oes da povoagao de Pasmado.59Um mr s depois, pelo que indica a ata da reunido do dia 6 de as ncias maio, haviam resultado na prisdo de negros do engenho Aradilig ripe, que deveriam ser devidamente processados.60 O ano de 1822ndo correu tranquiiloem Pernambuco. Desde Varnhagen, que a historiografia sobre a Independencia tem discutido as posi?6es assumidas pelo Presidente da junta, GervaisioPires. Quando ele se viu pressionado tanto pelas Cortes em Portugal como pelo nficleo palaciano liderado por Jose Bonificio no Rio de Janeiro, GervaisioPires simplesmente escolheu um terceiro caminho. Ambos os centros de poder exigiam definiy6es. Era preciso escolher entre as Cortes ou o Rio de Janeiro. GervaisioPires preferia que Pernambuco mantivesse a autonomia em relaCdoa ambos. Autonomia que jaihavia sido adquirida com a volta do General Luiz do Rego a Portugal. Os desdobramentos da disputa entre o Rio e as Cortes comprovam a imensa habilidade politica de Jose Bonifticio e Pedro que pouco a pouco foram urdindo uma malha de ades6es "iideia de conceder ao principe regente o poder executivo no Brasil, um movimento que terminou transbordando na Independencia. No cerne deste projeto, legitimando um acordo entre provincias, teoricamente com direitos iguais, estaria a constituigao. Aquela altura, ficar ou ndo independente era uma questdo secundiria para muitos dos principais protagonistas do jogo politico. O que realmente importava era estabelecer uma constitui~go, na qual estaria impresso ndo apenas o contrato entre a naqdo e o Rei, mas tamb6m o formato do pacto entre as provincias e o nficleo central do poder.61O projeto andradino era avaliado de forma distinta em cada provincia, de acordo com necessidades muito especificas. A textura institucional dessa alianea entre provincias em torno de Pedro I era um processo complexo e ndo uma necessidade hist6rica inevitivel. O governo de Pernambuco tinha serias e bem fundadas desconfianqas que a vit6ria da chamada "causa do Rio de Janeiro"resultaria no fimrn da autonomia provincial.62 A adesdo de Pernambuco ao projeto de Jose Bonificio e Pedro, portanto, era problemritica. A federa~qo era um anseio nutrido pela facqdo das elites locais que empalmaram o poder na provincia. A experiencia de 1817,quando a provincia foi independente por mais de dois meses, reforqava a ideia da federaqo. A mem6ria daquele epis6dio era muito recente. As migoas ainda estavam vivas contra a corte no Rio de Janeiro, onde, por exemplo, transitava no circulo de confianqa do principe regente o pr6prio Caetano Pinto de Miranda Montenegro, o Governador R6gio derrubado pela de Insurreig;o 1817.A junta liderada por Gervisio Pires, um "patriota"de 1817,representava justamente o oposto dos planos de Jos6 Bonificio, ao encarnar a manutenMo da autonomia provincial em relagio a ambos os nicleos de poder, Rio de Janeiro e Cortes de Lisboa. Por conta disso, a junta ndo autorizou o de-
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detropas mandadas e relutava Pernambuco em obedecer as para sembarque Rio de normativas tanto do como das Cortes Janeiro instru?6es portuguesas. o liberal radical no Recife nestaepoca, Barata, Segundo Cipriano queestava os pernambucanos estavam a lutar seus S6 queos interesses.63 dispostos por ndo estavam unidos. Osdesdobramentos nosmesesseguinpernambucanos tes demonstrariam setores daseliteslocaisquese deixaram quehavia largos seduzir do grupopalaciano em tornodo principe no pelosafagos regente
Rio de Janeiro. Diante deste contexto, no qual nem as elites se entendiam, nao e surpreendente que as ruas do Recife tivessem ficado inseguras. Em pouco tempo renovaram-se as rixas entre o "povo" e os soldados e oficiais europeus remanescentes. Mas ndo era somente a dita "populaga" que ameagava o governo provincial. A junta liderada por Gervasio Pires tamb6m tinha que enfrentar as ambiqoes da outra facqao politica que ja havia se delineado: os partidarios do projeto de Jose Bonificio em Pernambuco. Encabegadapor liderangas que traziam Albuquerque e/ou Cavalcanti no nome, esta fac?ao contava com os recursos politicos e militares do Rio de Janeiro. Embora GervaisioPires tenha buscado cooptar as tropas de primeira linha para seu lado, fazendo muitas promo?6es, e armando milicias de negros e pardos conhecidos como "montabrechas",as tropas de primeira linha e o baixo oficialato apoiavam o principe regente, que, no Rio de Janeiro, sinalizara com medidas simpiticas aos soldados e oficiais nascidos no Brasil, quer fossem eles brancos ou pardos. O golpe foi dado justamente pela tropa de primeiralinha. No dia 16de setembro de 1822, Gervasio Pires caiu. A nova junta de governo, formada em sua maioria por grandes proprietirios rurais consolidaria a Independencia em Pernambuco, ligando os destinos da provincia ao projeto centralista de Jos6 Bonificio.64 Antes de sua queda, uma das 6iltimasmedidas tomadas pela junta de Gervwsio Pires, foi tentar novamente conter os negros aquilombados nas proximidades do caminho da estrada real, que ligava as cidades de Recife e Olinda a zona da mata norte. t relevante ressaltar mais uma vez que, em agosto de 1822, os oficiais de primeira linha servindo na provincia, ji deviam estar cindidos entre as principais alternativas que se apresentavam: manter-se leal ao governo local federalista, ou aderir ao golpe que estava sendo maquinado pela outra facdao das elites locais apoiadas pelo Rio de Janeiro. Este faccionalismo no interior do aparato repressivo deve ter atrapalhado as diligencias de rotina contra os quilombolas. A pr6pria junta de Gervisio Pires percebeu a sua relativa impotencia para conter os quilombolas, tanto que na reuniao de 31 de agosto de 1822, resolveu oficiar a "alguns sujeitos de fora" para fazerem "algumas sortidas" contra os negros aquilombados, "enquanto nao se podiam dar providmnciamais enlrgicas para obstar ao [sic] aumento dos seus insultos".65 A repressio mais firme ao quilombo do Catuci ficaria a cargo da nova
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junta, instalada ap6s o golpe contra Gervisio Pires, perpetrado em setembro de 1822. Em outubro de 1822, menos de um mes depois do golpe, o novo Conselho de Governo comeqou a tomar providencias contra os negros aquilombados. Uma portaria expedida em 7 de outubro de 1822, mandava que o intendente da marinha fornecesse o armamento necessario para equipar uma forga que marchava para combater "o quilombo de negros foragidos nas matas circunvizinhas desta capital". A expedigio, com 200 homens de primeira e segunda linha, bateria as matas entre o antigo arraial do Bom Jesus, no Recife e o riacho Paratibe, pr6ximo a povoadio de Pasmado.66 Dois dias depois da expedigdo desta portaria, o Conselho de Governo voltou a reunir-se. Conforme expressa a curta ata que nos resta daquele encontro, o assunto em pauta foi basicamente "um bando de negros foragidos acoitados nos matos vizinhos ao Noroeste da Capital, donde saem a infestar as estradas e atacaros moradores, fazendo roubos e impetos de toda a sorte". Em virtude destes acontecimentos, ordens foram novamente expedidas para que os quilombolas fossem atacados por tropas de primeira linha, milicias e capitaes do mato.67 Mais uma vez, a politica provincial influenciou na forma de se lidar com os quilombolas. A nova junta ndo apenas contava naquele momento com o apoio da tropa de primeira linha, como tambem era formada por proprietirios rurais, que obviamente eram acostumados a controlar e reprimir seus cativos com toda a brutalidade que o sistema escravista permitia. O fato de ndo haver comerciantes entre os membros do governo provincial, sequer negociantes moradores no Recife, levou os liberais federalistas de Pernambuco a apelidarem aquela nova junta de "governo dos matutos", numa clara alusao as raizes rurais dos seus membros.68Todavia, eram justamente os senhores de engenho que compunham o governo dos matutos, os mais habilitados a combater os quilombolas. Traziam no sangue seculos de experiencia de sua classe social. Eles ndo economizariam no uso dos instrumentos de repressao e violencia disponiveis. No dia 2 de novembro de 1822, o governo dos matutos fazia mais uma das suas reuni6es de rotina. E tal como no comeqo do mrs anterior, o inico assunto em pauta eram os negros aquilombados nas matas pr6ximas do Recife e Olinda. A ata menciona que houve "muitas representaq6es dos senhores de engenho e moradores das ribeiras e sitios circunvizinhos das matas infestadas pelos negros dos quilombos da Cova da Onga".69 relevante observar
nestedocumento do quivez,menciona-se que,pelaprimeira queo coraqio ficava na da local Cova lombo masde dificilacesso, Onga, pertodo Recife, acidentado daestrada reale irrigado e olhos porem perto pormuitosriachos a sobreviv nciana matae os ataques dosquilomboo quefacilitava d'agua,
las. A nova junta, formada por senhores de engenho, tomou providencias mais endrgicas que a anterior. De acordo com a ata daquela reuniao de 2 de
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novembro de 1822, foi decidido as ditasmatas e orde"cercar pelasmilicias dito e feito o fossem de indios cerco, linha, nangas, que exploradas portropas do matoa fimde se extinguir de e capitaes couto salteadores".70 aquele Estamedida inicia no combate aosnegros do Catucai. umanovocapitulo Nao se tratava de mais uma invadindo as matas apenas langar diligencia, embuscadosfugitivos daescraviddo, atirando as auinclusive neles.Agora, toridades estavam de combate. uma nova estrategia Pretendiam tragando cercar efetivamente as matas, o contatodos quilombolas cortar com a esos engenhos, trada aspovoa?6es do interior, o Recife e Olinda. As principal, seriam matas do indios e do mato. exercito, exploradas portropas capitdes seria tentasse de segunda Quem linha), fugir, preso pelosordenangas (tropas foradasmatas, o cerco.Para efetivar a queformariam piquetes compondo foram constituidos dois de e municiados operaqdo corpos tropa,armados, mantidos recursos do sobo comando com provincial. governo O primeiro, deJodo Francisco deAlbuquerque e Mello,operaria entreo Arraial do Bom no Recife, e asmatas do valedo rio Paratibe, o mar Jesus, queao encontrar a chamar-se rio Doceaindanos diasde hoje.Albupassa pertode Olinda, e Mello, estava deatacar asmatas daCovada portanto, querque encarregado sob o comando do Antonio destacamento, Jose Capitdo O segundo OnCa. entre o termo de e a vila de Goiana. Bacalhau, Marques operaria Igarassu Teria o restante da estrada realque serpenteava entre quevigiar, portanto, de fazendas e matas circunvizinhas. Ambosos destacaengenhos, algodao mentosestavam autorizados a fazertodasas requisiq6es necessarias parao sucesso daoperaqdo.71 da envergadura destatentativa de cercar, isolaros quilombolas Apesar nas matas, e capa-los no anoseguinte o problema continuava. Os quilombolasdevemtersofrido Emjunhode 1823, muito,masndodesapareceram. eraexpedida indicava era umaportaria, cujopreambulo queo seuobjetivo Francisco de e Mello a "novamente de bater Jodo [sic] designar Albuquerque A portaria os pretosaquilombados". autorizava-o aindaa reunirtodasas inclusive e municid-las indios,e armai-las devidamente, tropasnecessairias, fazendo asrequisiq6es asjustificativas queconsiderasse adequadas. Segundo na portaria, os negros estavam atacando os engenhos e as estradas, expostas a real ordem. E observar uma representando ameaqa importante que,nessa as autoridades mencionaram havia ocasiao, um grupo explicitamente que denegros reunidos nasmatas do engenho de Igarassu, freguesia Utinga, que tinham sidopresos nasdiligencias anteriores naCovadaOnqa. duTodavia, ranteas manifestaq6es de ruapromovidas PedroPedroso em pelo Capitdo
fevereiro daquele ano de 1823,eles haviam fugido do calabougo da fortaleza das Cinco Pontas no Recife. Na ocasiao, os quilombolas juntaram-se a outros negros que se encontravam armados, mas como foram rechagados, fugiram, enfurnando-se nas matas.72
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Esta filtima informa~qo e de extrema relevancia pois ela indica que os liames entre os quilombolas e os cativos do Recife ndo foram quebrados, pelo contririo, durante os motins urbanos de 1823, os quilombolas foram soltos pelos negros e pardos armados que haviam tomado a cidade. Pode-se perceber ainda que, mais uma vez, a politica provincial, as manifestaq6es dos negros e pardos do Recife, tinham repercuss6es na resistencia quilombola. Para entender estes elos sutis entre os quilombolas e os manifestantes que tomaram as ruas do Recife naquela ano, convem falar um pouco sobre o Capitao Pedro Pedroso, considerado responsivel pelas manifestag6es de rua de fevereiro de 1823.Pedroso fora uma figura de proa na Insurreigao de 1817.73 Posteriormente, tal como tantos outros oficiais de baixa patente, deixou-se encantar pelo discurso monirquico-constitucional autoritario que vinha do Rio de Janeiro, pelos afagos do principe regente aos oficiais nascidos no Brasil como ele, e terminou sendo o principal articulador militar do golpe contra a junta de Gervasio Pires. Foi neste golpe que ascendeu o governo dos matutos, responsaivelpela adesdo da provincia ao projeto politico de unido das provincias em torno do principe regente no Rio de Janeiro.74 Mas Pedroso ndo era um homem qualquer. Ele tinha consciencia de que ndo era branco, e sabia como manipular os significados da cor da pele em seu beneficio, passando-se por negro ou por pardo, conforme as circunstancias do momento.75 Frei Caneca, um aliado de Gervisio Pires, e adversario do governo dos matutos, ndo podia gostar de Pedroso, 6 claro, afinal de contas, o Capitdo foi o lider militar do golpe de setembro de 1823que levou o governo dos matutos ao poder. A bem da verdade, quando fala de Pedroso, frei Caneca, um liberal radical, nio consegue conter seus sentimentos e reproduz o racismo dos intelectuais coevos. Foi ele que contou, com indisfaraivel desprezo, um epis6dio em que Pedroso, durante uma festa de rua, foi visto por pessoas importantes, membros do governo, com uma negra sentada no seu colo. Neste encontro Pedroso ndo apenas convidou aqueles fidalgos a se sentarem com ele como ainda teria dito: "Sempre estimei muito esta cor, e a minha gente".76 O problema, todavia, 6 que o governo provincial, que Pedroso ajudou a colocar no poder, era formado por senhores de engenho. Pedroso, por sua instrumental ajuda no golpe, terminou contemplado com o governo das armas da provincia. A designaqio daquele oficial de baixa patente para um cargo tao importante ndo foi exatamente uma escolha da junta, mas apenas o reconhecimento tacito de um fato: o Capitdo jaiestava no exercicio do cargo por "aclamaqao do povo e tropa", segundo a ata da reunido daquele novo governo provincial.77Tratava-se,todavia, de uma nomea~ao temporiria. Ele era comandante interino, e nao efetivo. t natural que Pedroso quisesse se efetivar, ji que recebia apenas metade dos vencimentos de um Comandante das Armas efetivo.78
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Pedroso estaria contra a pr6pria tramando Logo-logo juntade governo ao de subiu atraves no a sua forafunum poder que golpe qual participaCdo damental. Policiando as ruasda cidade, desentendeu-se com comerciantes do Recife. dapraqa a colocar delesna Dizemquechegou portugueses alguns vista fazia urbana se assenhorava cadeia. Alemdisso, que grossai populaqa dosbairros dosnegociantes de grosso trato. centrais, para espanto Enquanto soltava leaisao governo haviam prendia quemndodevia, gentequeastropas detido.Emfevereiro de 1823, Pedroso colocousuastropas na rua,tentando dosremanescentes dadisputa de 1821 umnovogolpe,como apoiodealguns entreo Governador Luizdo Regoe a juntade Goiana. Antea ameaqa das e reunidas Pedroso do de no clima o governo tropas por inseguranCa Recife, dos matutos retirou-se paraa vilado Cabo,na zonada matasul,ondeum dosseusmembros eraum grande iriorural. De 1i articulou a retopropriet mada do poder. Pedroso o apoioda maiorparteda tropa isolado, terminou poisperdeu de primeira trilhar o caminho linha,cujooficialato maisseguro, preferiu o governo dosmatutos do quese aventurar numnovogolpe.Terapoiando alios diasdegl6ria do Capitdo Pedro Pedroso minaram pardo quefoipresoe ao RiodeJaneiro.79 remetido em fevereiro de 1823, Todavia, dias, porpoucos ele foi de fatosenhordo Recife. Foi nestemomentoque soltouos presos, e fechouos olhos-se 6 que nao promoveu-a prendeu virios europeus das mais uma conhecidas dosnegros e pardos de umagrande manifestaq6es cidadebrasileira durante a Independencia.80 Mandado por JoseBonificio articular a adesdo de Pernambuco ao Riode Janeiro, Moraes espara Mayer creveu de1823, diasdefevereiro "Pela vezseouviuem que,naqueles primeira falar e mulatos daspessoas de bem,filhas dessamesma Pernambuco, pretos
provincia".81 Foi nesta ocasido que os quilombolas anteriormente capturados foram soltos do calabouqo, voltando para as matas. O esforqo para prend&-los,por-
nas mataspr6ximasdo caminhoentre Olindae Igarassu, onde situava-sea tamenteque os negrosarmadosforamrechagados e por isso procuraram as
Eles ganharam mais adeptos que os acompanharam para as matas. Cova da OnCa. R relevante observar que o texto da portaria indica explici-
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ao engenho nasmatas foramlogo pegospelo pr6ximas Alguns Monjope.82 do senhor dos fugitivos ele, pr6prio Monjope. Segundo apareceram quatro no seu engenho, sendopresospelagenteque ele tinha"arondar a minha fazenda". os quatro no tronco. mais Elecolocou Posteriormente, umfoi capno tronco. dia o filhodo senhor turado e tambem No do enpreso seguinte Na Abreus e os cativos o Coronel apareceu genho entregues. carta, lheforam Cristovao contra os d'Olanda um anocomandava Cavalcanti, quehai tropas tentava ndohavia (nota48acima), daquele quilombo negros porque explicar mandado os cativos de Igarassu, ao seu paraa cadeia preferindo entrega-los
senhor, cujo filho fora ate o engenho Monjope busca-los. Segundo alegava o Coronel Cristovdo, os negros capturados nao eram do quilombo, por isso ele agira dessa forma. Como prova de sua boa f6 lembrava que pouco tempo antes remetera dois quilombolas presos para o juiz competente.83 De fato, talvez os fugitivos dos Abreus tivessem sido capturados antes de poderem se encontrar corn os negros aquilombados naquelas matas. Mas foram apenas 5 os capturados logo depois da fuga. No final do mrs de julho de 1823,foi articulada uma diligencia de maior envergadura a partir do engenho Mussupinho. A intenqao era bater as matas "contra os negros levantados e amocambados nas matas do engenho Utinga".84Segundo Jodo Francisco de Albuquerque Mello, que se assinava "Comandante da tropa do matto da Cova da Onqa", os quilombolas "jatinham se posto em fuga" [sic]. A diligencia levou 6 dias "paradestruir todos os mocambos e armadilhas naquelas a populaqCo matas". Custou em requisiaqes um totalde R$352$92585 local,
armas e soldos.As matas do com comedorias, al6mdasdespesas muniCdo, foram cercadas. Erapara teriam ido 25 engenho Monjope que os fugitivos li do engenho dosAbreus. e entregues diretamente 13delesforamcapturados ao seuproprietario, a a autoridade comandou Consegundo que expedigao. cordando senhor do o Mello com engenho Albuquerque Monjope, alegou haviam que faziapoucosdiasque os cativos fugido,por isso nao houvera aosquilombolas.86 tempopara queelessejuntassem aosolhosdequem1eaqueO quendoestaditonesteoficio,masquesalta lasfontes, e quenaprimeira de maior quen6s enconenvergadura dentincia datada de1818, e descrita eraditoexplicitamente tramos, acima,87 queo lider dos negrosaquilombados nas imediaq6es da mesmaareainvestigada em senhor eraum cativo ao do Nao Abreus. e razoa1823, pertencente engenho ainda estava vivoe comanvelafirmar queesteliderde1818 categoricamente dando daOnCa em1823. os negros daCova Haviam sepassado cincoanos.E os destinos de homens nessas impossivel prever perseguidos circunstincias. dizerpor-m-especulandoabertamente-equetalvezos O quepodemos do engenho em 1823,procuraram as matas e Abreus, 25cativos quefugiram
o quilombo sabendo exatamente para onde queriam ir. Nao 6 absurdo supor que a mem6ria, ou mesmoo-se nos permitirmos especular ainda mais-al-
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de 1818, aindaestivesse viva decontato, como liderquilombola gumaforma os cativos do engenho em1823. Talvez essamem6ria- ou contato-tientre vessesubsistido, nesses cincoanosentreumepis6dio e outro,comosimbolo umaesperanga de resistencia ou mesmoancorando concreta de fuga. de foi em Desafiado tenso todo semestre 1823 o pais. poruma O segundo ia Constituinte o poderdo imperador, Pedro Assembl limitar queameagava I fechou e outorgou a Assembleia umaconstituigdo a seugosto.EmPernamdessas noticias do RiodeJaneiro coincide buco,a chegada com praticamente a voltadastropas lutadocontra os remanescentes da guarnidio quehaviam na Bahia.88 os militares coliberal, Comandados porum oficial portuguesa ao ladodos chamados "liberais locaram-se pernambucanos", que aproveio momento taram e simplesmente umanovogoverno provincial, elegeram tendocomopresidente liberal veterano do movium conhecido federalista, mentopelaautonomia nos anosanteriores. Nos mesesseguintes, provincial embaixadas tentando o novogoverno mandou a Corte, provincial conseguir I aceitasse estaeleigdo. Ao invesde atende-los, mano imperador quePedro e exigiuquea presidencia daprovincia doubloquear o portodo Recife fosse do dos do dos matutos". ao membros um Cabo, entregue morgado "governo os federalistas decretaram a independencia das Semsaida, pernambucanos serve Esteresumode um movimento que abaloua unidadenacional, as tens6es ndo facilintra-elites se resolveram aquiapenas paraindicar que mandado do foi esmagada mente.A Confedera~qo pelo exercito imperial, auxiliado reunidas rurais RiodeJaneiro, tropas pelosproprietairios que pelas a 16gica o antigo"governo dos matutos". da guerra de apoiavam Seguindo a as domios voltaram se camadas expandir enquanto guerrilhas, quilombos em 1824. Pacificado o Recife, executados os reuscaptunantes guerreavam das reuniu os efetivos em rados, 1825o comandante tropas imperiais dispodo exercito ateos indiose Ordenangas niveis- desdeastropas imperial que a cidade tomar do deAlagoas e dazonamata vieram sulde Pernambuco para A opera~qo nasmatas do Catuca. do governo confederado-eentrou Recife enser um ataque definitivo contraos quilombolas, que haviam prometia civilde 1824.90 O Brasil a guerra tornara-se durante independente. grossado seus Aselites locaiscontavam comtodosos recursos possiveis parareprimir adversairios. indicaque ao Recife A leitura dasfontessobreos quilombos pr6ximos serio muito antes da eclosao da do elesjai eram um problema ConfederaCqo as do Catucai elites em Os pernambucafustigaram Equador 1824. negros o modaIndependencia. durante nasemplena6poca Isso,principalmente, as juntasde governo, mentoem que se formaram ap6sa saidado iiltimo
governador rdgio, o General Luiz do Rego, que chegou em Pernambuco para debelar a Insurreieio Pernambucana de 1817.A hist6ria da repressao aos qui-
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lombos pr6ximos a cidade, e das manifestagoes de rua da populaqa do Recife nos anos 1820, indica ainda que o medo dos quilombolas e da haitianizaqao ndo eram infundados.91Este temor deve ter influenciado alguns dos grandes proprietirios rurais a optarem pela alternativa mais conservadora e segura naqueles anos: aderir as propostas centralistas advindas do Rio de Janeiro. Com esta arriscavamperder a autonomia provincial, mas ganhavam opqdo, o apoio das tropas imperiais para conter a populaga e, se necessario, os quilombolas. Foi o "governo dos matutos", que subiu ao poder atrav6s de um golpe dado com o aval dos Andradas no Rio de Janeiro, que comeqou uma repressao sistemitica aos quilombos perto do Recife. Ao menos no que diz respeito aameaqa quilombola e popular, aderir a chamada "causa do Rio de Janeiro"era um caminho mais seguro para as elites locais do que a federaqio. Isto seria confirmado na diligencia de Lima e Silva, em 1825, quando centenas de efetivos bateram as matas em busca dos quilombolas. A partir dos indicios aqui narrados, pode-se inferir tamb6m que tanto os negros e pardos do eixo urbano Recife-Olinda, como os pr6prios quilombolas, ndo estavam totalmente alheios aos desdobramentos da politica provincial. NMose trata aqui de uma consci ncia m"igicade uma classe, mas pelo simples fato de que as atitudes, decis6es, disputas e desentendimentos das elites locais atingiam diretamente os quilombolas e a populaqgo urbana despossuida. Assim, sempre que eles podiam, tiravam proveito da conjuntura, como demonstram os indicios sutis, porem concretos, da fina articulaqgo entre cativos de diferentes engenhos pr6ximos das matas com os quilomboa tal populaqa do Recife, que tanto preocupava as autoridalas, e destes comrn des urbanas. O quilombo, por sua vez, apesar de todos os esforgos para sua contenqgo, continuaria pulsando nos anos seguintes, ate sua extinado final em 1837,quando jaifazia tempo que a Independencia havia se consolidado.92
Notes
1. Agradeqo o apoio do CNPqe aos pareceristas que leram uma versdoanterior destetrabalho. 2. A expressdo unitaristafoi adotadapor EvaldoCabralde Mello para designar o projetode JoseBonificio e o circulode dulicosem torno do principeregente,que as provinciasem torno de um governomonarquicoforte, cenbuscavaamalgamar tralizadono Rio de Janeiro. Sobreo federalismo nos quadrosda Inpernambucano
dependencia, veja-se: Evaldo Cabral de Mello, A Outra Independencia:0 Federalismo Pernambucano de 1817 a 1824, Paulo, Editora 34, 2004, cap. 2, passim. Denis S.o Antonio de Mendonga Bernardes, "Pernambuco e o Imperio (1822-1824): sem cons-
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e da Sao Paulo, Hucitec/FAPESP, 2003, pp. 219-249. Marcia Berbel, "Patria Na?do, e patriotas em Pernambuco (1817-1822): Napdo, identidade e vocabulirio politico", in Istvin Jancs6 (Org.), pp. 361-363. Renato Lopes Leite, Republicanos e libertdrios, pensadores radicais no Rio de Janeiro (1822), Rio de Janeiro, Civilizago Brasileira, 2000, pp. 32- 48. Iara Lis Carvalho Souza, Pdtria coroada:0 Brasil como corpopolitico aut6nomo, 1780-1831, Sao Paulo, UNESP, 1999, pp. 65-73. Barbosa Lima Sobrinho, Pernambucoda Independencia 1 Confederaqdo do Equador, Recife, de CulFunda?go tura da Cidade do Recife, 1998, passim. Manoel Correia de Andrade, Eliane Moury Fernandes e Sandra Melo Cavalcanti (Orgs.), Formaqo hist6rica da nacionalidade: Brasil, 1701-1824, Recife, Massangana, 1999. Roderick Barman, Brazil: The Forging of a Nation, 1798-1852, Stanford, Stanford University Press, 1988, pp. 59, 62, 81, 121As Forfas 123.Jose Hon6rio Rodrigues, Independencia:Revolupdoe Contra-Revolupdo: Armadas, vol. 3, Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1975, p. 168-182. Oliveira Lima, O movimento de Independencia, 1821-1822, Rio de Janeiro, Topbooks, (1922), 1997, pp. 286-294. Francisco A. de Varnhagen, Hist6ria da Independencia do Brasil, Sao Paulo, Melhoramentos, 1940, p. 139. 3. Peter Eisenberg, Modernizafdo sem mudanga, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977, p. 170. Manoel Correia de Andrade, A terra e o homem no Nordeste, Quarta Ed. Sao Paulo, Atlas, 1998, cap. 3. 4. Henry Koster, Viagens ao Nordeste do Brasil, Recife, Secretaria de Educaqio, 1978,p. 343. 5. Guillermo Palacios, Campesinato e escraviddono Brasil:Agricultoreslivres e pobresna Capitania Geralde Pernambuco, 1700-1817, Brasilia, Editora da UNB, 2004, p. 158.Dirceu Lindoso, A utopia armada:Rebelidesdepobres nas matas do TomboReal, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, cap. 4. J. H. Galloway, The Sugar Cane Industry: An Historical Geography from its Origins to 1914, Cambridge, Cambridge University Press, 1989, p. 91. 6. Eisenberg, pp. 45-70. Warren Dean, A ferro efogo: A hist6ria da devastaiio da Mata Atldntica Brasileira, Sao Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 192. Gilberto Freyre,Nordeste, Rio, Editora Record, 1989, cap. 3. Sobre o plantio de cana-de-auiicar em Pernambuco no comeqo do s6culo XIX, veja-se Koster, pp. 330-335. 7. Koster, pp. 330-335. Galloway, p. 16. 8. A lista mais completa ainda esti em Sebastido Vasconcellos Galvao, Dicciondrio chorogrdfico,hist6rico e geogrdfico de Pernambuco, 4 volumes, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1908-1927. 9. Koster, pp. 65-66, 209. 10. Em margo de 1817,um grupo de militares, padres, negociantes e letrados tomou o governo da provincia, decretando uma repfiblica. Embora tenham recebido o apoio de muitos plantadores, principalmente da zona da mata seca, e ate das provincias vizinhas, o movimento foi derrotado, depois que o porto do Recife sofreu um bloqueio e as tropas enviadas do Rio de Janeiro desembarcaram ao sul da provincia, marchando para o Recife, angariando adeptos no caminho. Carlos Guilherme Mota, Nordeste 1817, Sao Paulo, Perspectiva, 1972. Glacyra Lazzari Leite, Pernambuco 1817: Estruturase comportamentossociais, Recife, Massangana, 1988. 11. Luiz Geraldo Silva, "Negros patriotas: Raga e identidade social na formagdo
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do Estado Na9do (Pernambuco, 1770 -1830)", in Istvdn Jancs6 (Org.), pp. 497-520.
Sobreo empregode escravos paraa proteq&o pessoal das camadasdominantesno da viode peleja:A instrumentalizadio Brasil, veja-se:CarlosA. M. Lima,"Escravos
tas dos rebeldesilustrados, como Ant6nio Carlos,irmaode JosC Bonificio, que nMo fazia concessoesquanto a essa questio. O objetivodaquelemanifestoera acalmar os proprietiriosassustadoscom os boatos de que os "patriotas" pretendiamabolir a escraviddo. Mesmo negandoos boatos, o "Preciso" admite que a escraviddo era uma instituigio imoral,fadadaao fim. Todavia, segundoaquelemanifesto,era prematuro terminai-la abruptamente. Documentos hist6ricos:Revolupfo de 1817, Rio de
14. Silva, pp. 498-499. 15. Koster, p. 233. Tollenare, p. ioo. 16. Documentos hist6ricos,vol. CI, p. 226. 17. Documentos hist6ricos,vol. CIX, p. 183. 18. Documentos hist6ricos,vol. CIX, p. 222. 19. Documentos hist6ricos,vol. CI, p. 128. Vide tamb6m Francisco Augusto Pereira da Costa, Diciondrio biogrdficode pernambucanos cdlebres,Recife, 1882;reediFio: Re-
cife, Fundaqiode Culturada Cidadedo Recife,1982,p. 366. Sobreos filhos do Coronel Suassuna,veja-se:Jeffrey C. Mosher, "Pernambuco and the Constructionof
the Brazilian Nation-State, 1831-1850",University of Florida at Gainesville, Tese de Ph.D., 1996, pp. 85-88. Affonso E. Taunay, O Senado no Impdrio, Brasilia, Senado Federal, 1978,p. 16o. 20. Documentos hist6ricos,vol. CVI, p. 161. 21. Documentos hist6ricos,vol. CVIII, pp. 36, 114. 22. Documentos hist6ricos,vol. CI, p. 181. 23. Documentos hist6ricos,vol. CI, p. 96. 24. Documentos hist6ricos,vol. CVII, p. 246. 25. Documentos hist6ricos,vol. CVI, p. 239. 26. Documentos hist6ricos,vol. CVI, p. 196. 27. Documentos hist6ricos,vol. CIII, p. 24. 28. Documentos hist6ricos,vol. CVI, pp. 132-133. e um dos liderescivis do movimentode 1817),por 29. Cruz Cabugi (negociante hist6ricos,vol. CIV, p.126). Veja-se tamb6m as listas de escravos confiscados para leilIo, Documentos hist6ricos,vol. CIII, pp. 40 - 41. Mesmo que depois muitos tenham
os seusbens,o sustodeveter sido grandeno momentoem que o governo recuperado daspropriedades dos rebeldes,como aconteceuem junho efetivamente apropriou-se
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essas virias possibilidades, veja-se: Jodo Jos6 Reis e Flivio Gomes (Eds.), Liberdade por um rn o: Hist6ria do quilombo no Brasil, Sdo Paulo, Companhia das Letras, 1996, passim. 31. Ata da reunido do dia 29/01/1827, Conselho de Governo de Pernambuco, Atas do Conselho de Governo (1821-34) (Transcrigdo de Acicio Jose Lopes Catarino e Hercy Lais de Oliveira), Recife, Assembleia Legislativa, 1997, vol. 2, p. 28-30. 32. Luis da Camara Cascudo apud Koster, nota 18, p. 417. Roger Bastide, The African Religions of Brazil, London e Baltimore, John Hopkins University Press, 1978, p. 85. Joseph Miller, Kings and Kinsmen, Early Mbundu States in Angola, Oxford, Claredon Press, 1976, pp. lo, 59. Richard Price, "Introduction," in Richard Price (Editor), Maroon Societies:Rebel Slave Communities in the Americas, Baltimore, John Hopkins University Press, 1979, p. 28. Robert W. Slenes, "Malungu, Ngoma Vem: Africa Coberta e Descoberta do Brasil"Revista USP (Dez/Fev., 1991-1992), n. 12, pp. 48-67. Luiz Felipe de Alencastro, O Trato dos Viventes:Formagaodo Brasil no Atldntico Sul, Sdo Paulo, Companhia das Letras, 2000, pp. 313-314. James H. Sweet, RecreatingAfrica: Culture,Kinship and Religion in the African-PortugueseWorld,1441-1770, Chapel Hill and London, The University of North Carolina Press, 2003, p. 33. 33. Koster, pp. 397 e 413. Tollenare, p. 143. 34. Sergio Buarque de Holanda, Raizes do Brasil, Rio de Janeiro, Jose Olympio, 1978, pp. 108-109. 35. Francisco Augusto Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, Recife, Fundarpe, 1983-1985, vol. 9, p. 287. 36. Fontes: Manoel dos Anjos da Silva Rebelo, Relaqes entre Angola e Brasil, entre Angola e Brasil, 1808-1830, Lisboa, Agencia Geral de Ultramar, 1970, Relafdes quadro 2, s/n. Eisenberg, p. 171.Joseph Miller, "The Numbers, Origins and Destinations of Slaves in the Eighteenth Century Angolan Slave Trade", in J.I. Inikori e S.L Engerman (Orgs.), The Atlantic Slave Trade:Effectson Economies, Societies and Peoples in Africa, the Americas and Europe, Durnham e Londres, Duke University Press, Rotinas e rupturas do 1992, pp. 92-93, loo-iol. Marcus J. M. de Carvalho, Liberdade: escravismo,Recife 1822-1850, Recife, Editora da UFPE, 1998, p. 112. 37. APEJE,Assuntos Militares vol. 2, 09/11/1818. 38. Manoel de Oliveira Lima, O Movimento da Independencia, 1821-1822, Rio de de Mello,pp. 65-69. Janeiro, 1997, pp. 129-140. Cabral Topbooks,
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39. Oliveira Lima, passim. Veja-se ainda a correspondencia entre a junta de Goiana e o governador Luis do Rego publicadas em: Pernambuco no Movimento da Independdncia,Recife, Conselho Estadual de Cultura, 1972,pp. 144-145 e passim. 40. Maria Graham, Didrio de uma viagem ao Brasil (e de uma estada nesse pais durante parte dos anos de 1821, 1822 e 1823), Londres, 1824; reediqgo: Sdo Paulo, Companhia Editora Nacional, 1956,p. 130. 41. Luiz do Rego Barreto, Mem6ria justificativa sobre a conduta do marechal de campo Luiz do Rego Barreto durante o tempo em que foi governador de Pernambuco, Recife, Companhia Editora de Pernambuco, 1991,p. 77. 42. Ibidem, pp. 49, 57, 77. 43. Ibidem, p. 67. 44. A junta liderada por Gervisio Pires seria derrubada em setembro de 1822 por um golpe urdido a partir do Rio de Janeiro. Conhecedor dos meandros da politica pernambucana, pois esteve envolvido em 1817, Antonio Carlos articulou com seu irmao o golpe, do qual resultou a ascensdo de uma junta favorivel ao projeto centralista dos Andradas. Marcus J. M. de Carvalho, "Cavalcantis e cavalgados: a formaqao das aliangas politicas em Pernambuco, 1817-1824",Revista Brasileirade Hist6ria (Sdo Paulo), 1998, vol. 18, n. 36, pp. 331-365. 45. Ata da reunido do dia 11/09/1821, in Atas do Conselho de Governo,vol. 1, p. 23. in Atas do Conselho de Governo,vol. 1, p. 49. 46. Ata da reunido do dia 13/11/1821,
47. Atas das reuni6es dos dias 16/11/1821 e 17/11/1821, in Atas do Conselho de Go-
verno, vol. 1, p. 51. 48. Atas das reuni6es dos dias 28 e 29/11/1821e 30/01/1822, in Atas do Conselho de Governo,vol. 1, pp. 56-57. 49. Francisco Muniz Tavares,Hist6ria da Revolupdode 1817, Recife, Imprensa Industrial, 1917,p. 86. 50. O Padre Lopes Gama, arguto observador da realidade brasileira, escreveu que "No Brasil qualquer um tendo a pele um pouco mais clara, ndo s6 alardeia de branco puro e extreme, sendo tambem de nobre e descendente das mais ilustres familias da Europa, e, em conseqiiencia desta presungdo, reina entre as castas um cifume implacavel". O Carapuceiro(Recife), 13/01/1844. 51. Sobre o antilusitanismo no Brasil, veja-se Gladys Sabina Ribeiro, A liberdade em construpdo: Identidade nacional e conflitos antilusitanos no Primeiro Reinado, Rio de Janeiro, Relume Dumar i, 2002, passim. 117. 52. Graham, pp. 113, 53. Pereirada Costa, Diciondrio biogrdfico,1982, p. 409. Marcelo Mc Cord, Rosdrio de Dom Antonio: Irmandades negras, aliangas e conflitos na hist6ria social do Recife, 1848-1872, Recife-Sdo Paulo, UFPE-FAPESP,2005, pp. 193-195. in Atas do Conselho de Governo,vol. 1, p. 56. 54. Ata da reunido do dia 29/11/1821, 55. Ata da reunido do dia 30/01/1822, in Atas do Conselho de Governo,vol. 1, p. 77. 56. APEJE,R.PRO 09/ol, 01/02/1822, pp. 77 verso a 78. 57. Josemir Camilo de Melo, "Quilombos em Pernambuco", Revista do Arquivo Pdblico, vol. 33-34 (1977-1978), P. 22. 58. Ata da reunido do dia 20/03/1822, in Atas do Conselho de Governo, vol. 1, pp. 90 -91.
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Luso-Brazilian Review 43:1 59. Ata da reunido do dia 03/04/1822, in Atas do Conselho de Governo, vol. 1,
p. 95.
60. Ata da reunido do dia 06/05/1822, in Atas do Conselho de Governo, vol. 1,
no termo sediadopela vila de Igarassu(no caminho da mesma 98-99. Localizado estradarealque passava pela povoaCiode Pasmadoem direCioa Goiana),nos anos
do Catuca. Veja-se, por exemplo, APEJE:Juizes de Paz vol. 8, 30/01/1835, 07/02/1835, 20/02/1835. 61. Maria Beatriz Nizza da Silva e Roderick Barman identificaram um vies "nacionalista ufanista" na historiografia brasileira tradicional que costumava exagerar o desejo de separaFqode Portugal, quando as quest6es mais prementes na 6poca eram, na realidade, a escraviddo e o constitucionalismo. Maria Beatriz Nizza da Silva, "Liberalismo e separatismo no Brasil (1821-1823)," Cultura, hist6ria e filosofia (Lisboa, Centro de Hist6ria da Cultura da Universidade Nova de Lisboa), 1986, p. 22. Ibid., Movimento constitucional e separatismo no Brasil, 1821-1823, Lisboa: Horizonte, 1988. Roderick Barman, Brazil: The Forging of a Nation, 1798-1852, Stanford, Stanford University Press, 1988, p. 66. Sobre a questdo do constitucionalismo como o cerne da discussao em 1820 -23, veja-se ainda: Lticia Maria Bastos Pereira das Neves, Corcundas e constitucionais:A cultura politica da independdncia, 1820-1822, Rio de Janeiro, Revan/ FAPERJ,2003, passim. 62. Carvalho, "Cavalcantis e cavalgados", pp 345-352. Cabral de Mello, cap. 2, passim.
63 Segarrega (Recife), 31/08/1822. O Maribondo (Recife), 25/07/1822.
64. Carvalho, "Cavalcantise cavalgados", pp. 348-352. Barman, p. 93. 65. Ata da reunido do dia 31/o8/1822, in Atas do Conselho de Governo, vol. 1,
p. 127. 66. Melo, p. 22. APEJE, R.PRO o9/o01, 07/10/1822, p. 220 verso. 67. Ata da reuniao do dia 09/10/1822, in Atas do Conselho de Governo, vol. 1,
p. 136. 68. Koster observou que o termo matuto tinha uma conotaAio pejorativa, indicando uma pessoa violenta (Koster, p. 217). Hoje em dia, utilizado de forma amena, indica uma pessoa ingenua do interior. No mau sentido, e sin6nimo de interiorano ignorante. Evaldo Cabral de Mello observou o contraste entre esta junta e aquela liderada por Gervaisio Pires que s6 tinha habitantes do Recife. Cabral de Mello, pp. 76, 113. 69. Ata da reuniao do dia 02/11/1822, in Atas do Conselho de Governo, vol. 1, p. 140o. 70. Ibidem. 71. APJE,R.PRO 09/ol, 22/11/1822,23/11/1822,pp. 246 -247. Melo, p. 22. 72. APJE,R.PRO o8/o01, 26/o6/1823, p. 86. Melo, p. 22. 73. Testemunha ocular de 1817,O viajante Tollenare afirmou que se ndo fosse a firmeza de Pedro Pedroso, tomando a ponte do Recife, defendida por marinheiros imperiais, a revolta ndo teria vingado. Tollenare, p. 188. 74. Carvalho, "Cavalcantise cavalgados", pp. 351-352. 75. Silva, pp. 515-520.
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Atirandona AraraPernambucana em que se Trans76. FreiCaneca,"OCagador formouo Reidos RatosJoseFernandes in Ant6nio Joaquim de Mello (Org.), Gama",
Obraspoliticas e literdriasde FreiJoaquim do Amor Divino Caneca, Recife, 1875;reediqgo: Recife, Assembleia Legislativa,1972, pp. 269-270. 77. Ata da reunido do dia 25/09/1822, in Atas do Conselho de Governo, vol. 1, 133. p. 78. "Portariade 25/09/1822", in Didrio da Junta de Governo (Recife), o8/02/1823. 79. Cabral de Mello, pp. 123-125.
80. Foi naquelesdias em que Pedrosoreinou no Recife,que a populagaurbana cantouos citadissimos versos:Marinheiros e caiados/ todos vao se acabar, / porque s6 pardose pretos,/ o Brasilhdo de habitar." Pereirada Costa,Anais,vol. 9, p. 63. C6dice745,vol 1, "Confederaqio do Equa81. ArquivoNacional(Rio de Janeiro):
dor", 05/03/1823.
82. Tal como o engenhoAraripe,mencionadoacima, o engenho Monjope aparecerianovamentealgunsanos depois na documentadiosobre o combateao quilombo. Em 1830,por exemplo,ap6s uma diligenciaficou constatadoque os escravos fornecendo aos quilombolasa farinhaarmazenada no pr6daqueleengenhoestavam
prio engenho. APEJE,Assuntos Militares vol. 4, 18/06/1830. 83. APEJE,Assuntos Militares vol. 3, 31/o6/1823, o6/07/1823, P 1.
85. Estevalor era suficienteparaa aquisigode pelo menos dois cativos,j) que,
a nota 37e o texto correspondente. 87. Veja-se da guarnigdo 88. O GeneralMadeira, lusitanaem Salvador comandante (Bahia), de Independencia da Bahia", concluidaem julho de 1823 resistiu,iniciandoa "Guerra com a sua rendiqdo.
89. Glacyra L. Leite, Pernambuco, 1824, Recife, Fundaj, 1989, passim. Cabral de
Mello,capitulos4 e 5.
90. "Correspondencia Oficial", 21/04/1825, 22/04/1825, in Diario do Governo de Pernambuco (Recife), 04/o6/1825.
Mott, Escraviddo,homosexualidadee demonologia, Sdo Paulo, Icone, 1988, pp. 11-18. C61iaMarinho de Azevedo, Onda negra, medo branco: 0 negro no imagindrio da elites, s&culo XIX, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, pp. 40- 41. JoWo Jose Reis e Edu-
foi compartilhado 91. Estemedo da haitianiza9do pelas elites locaisnos quadros da Independencia do Brasil,influenciandosuas decis6es politicase militares.Luiz
das Letras,1989.HendrikKraay, SdoPaulo,Companhia "Emoutra coisa escravista, os pardos,cabras,e crioulos": ndo falavam "recrutamento" de escravos na guerra o
da Independencia na Bahia", Revista Brasileira de Hist6ria (2002), vol. 22, n. 43, PP.
30
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