O jornalista Luiz Carlos Azedo afirmou recentemente que Lula aproveitou o pacote de corte de gastos para passar a ideia de ser Robin Hood, cobrando mais imposto de quem recebe acima de R$ 50 mil e isentando quem recebe abaixo de R$ 5.000.
A opção demonstra compromisso moral e social do presidente, mas foi um equívoco apresentá-la junto com pacote que demonstra seriedade fiscal. Ainda pior, o presidente ignorou que o corte de gastos tem função de fortalecer a confiança dos agentes econômicos, simplificadamente chamados de “mercado”.
O déficit fiscal indica o grave problema de falta de recursos para cobrir gastos do Tesouro Nacional. Mas a falta de confiança é ainda mais grave porque paralisa a economia. Por isso, o governo precisava agir para recuperar a confiança.
A economia do século XXI tem mais do que os três fatores fundamentais de antigamente – trabalho, capital, recursos naturais –, pois agora tem também tecnologia, inovação, educação e confiança. E a escassez de confiança impede o bom funcionamento do sistema econômico e dificulta mobilizar os demais fatores, como inovação, tecnologia, capital, recursos naturais.
Foi um erro estratégico dar ênfase ao papel fiscal do corte, e ainda maior erro querer atender às expectativas eleitorais, especialmente do entorno político do candidato em 2026, passando a ideia de Robin Hood. Isso abalou a credibilidade do principal avalista do realismo econômico, o ministro Haddad, que faz parte dos economistas sensíveis socialmente, comprometidos e responsáveis com a realidade.
Mas o momento cronológico não foi o único erro do pacote Robin Hood, houve um erro no momento histórico. O Robin Hood do século XII tirava bens e dinheiro dos ricos para os pobres; o Robin Hood do século XXI precisa levar as crianças dos pobres para a escola dos ricos.
Este seria o caminho para cumprir o papel moral do governo, porque os mais pobres não se beneficiarão da isenção entre R$ 2.500 e R$ 5.000, e esse benefício para a classe média baixa será conjuntural e financeiro, não estrutural e permanente, como seria com uma política de Robin Hood Educacional.
O governo deveria ter aceitado a visão do ministro Haddad e apresentado isenção quando pudesse mostrar resultados positivos do equilíbrio fiscal.
Deveria também retomar o programa que iniciou em 2003 chamado “Escola Ideal”, pelo qual faria o papel do Robin Hood do século XXI oferecendo escola com qualidade federal para todas as crianças.
Está havendo déficit de pensamento estrutural no governo, capaz de pensar estrategicamente; e déficit de comunicação eficiente, capaz de falar o que é preciso, dizer a todos, e não apenas à bolha dos apoiadores no curto prazo, em busca de eleitores que logo se afastarão se a economia não reagir bem.