Ild�sio Tavares
Canto do homem
cotidiano
Eu canto o homem vulgar, desconhecido
Da imprensa, do sucesso, da evid�ncia
O her�i da rotina,
O rei do pijama,
O magnata
Do d�cimo terceiro m�s,
O play-boy das mariposas
O imperador da contabilidade.
Esse que passa por mim
Que nunca vi outro assim.
Esse que toma cerveja
E cheira mal quando beija.
Esse que nunca � elegante
E fede a desodorante.
Esse que compra fiado
E paga sempre atrasado.
Esse que joga no bicho
E atira a pule no lixo.
Esse que sai no jornal
Por atropelo fatal.
Esse que vai ao cinema
Para esquecer seu problema.
Esse que tem aventuras
Dentro do beco �s escuras.
Esse que ensina na escola
E sempre sofre da bola.
Esse que joga pelada
E � craque da canelada.
Esse que luta e se humilha
Pra casar bem sua filha.
Esse que ag�enta o roj�o
Pro filho ter instru��o.
Esse que s� se aposenta
Quando tem mais de setenta.
Esse que vejo na rua
Falando da ida a lua.
Eu canto esse mesmo, exatamente
Esse que sonhou em, mas nunca vai
Ser:
Acrobata,
Magnata,
Psiquiatra,
Diplomata,
Astronauta,
Aristocrata.
(� simplesmente democrata)
Almirante,
Traficante,
Viajante,
Ca�ador de
Elefante
(Vive s� como aspirante)
Pintor, compositor
Senador, sabotador
Escritor ou Diretor
(� apenas sonhador)
Pistoleiro,
Costureiro,
Terrorista,
Vigarista
Delegado,
Deputado,
Gal� na tela
Ou mesmo em telenovela,
Marechal,
Industrial,
Presidente,
Onipotente,
(Ele � simplesmente gente)
E, inconsciente marcha pela vida
buscando no seu bairro
Na cidade l� do interior,
No escrit�rio, consult�rio
No gin�sio,
Na reparti��o,
Na rua, no mercado, em toda a parte
Somente uma raz�o
Para poder dormir com a esperan�a
E de manh�, na hora do encontro
Com o espelho, ao fazer a barba,
Ver o reflexo do campe�o,
Mas que, na frustra��o cotidiana,
Vai encontrando aos poucos sua gl�ria
Por isso eu canto a luta sem mem�ria
Desse homem que perde, e n�o se ufana
De no ros�rio de derrotas v�rias
E de omiss�es, e condi��es prec�rias
Poder contar com uma s� vit�ria
Que n�o se exprime nas mentiras tantas
Espirradas sem medo das gargantas
Mas sim no que ele vence sem saber
E n�o se orgulha, campe�o na hist�ria
Da eterna luta de sobreviver.
|