Em reflexões provocadas pela pandemia de covid-19, o pensador e líder indígena Ailton Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da chamada “civilização”: consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.
Um dos mais influentes pensadores da atualidade, Ailton Krenak vem trazendo contribuições fundamentais para lidarmos com os principais desafios que se apresentam hoje no mundo: a terrível evolução de uma pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global.
Crítico mordaz à ideia de que a economia não pode parar, Krenak provoca: “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro”. Para o líder indígena, civilizar-se não é um destino. Sua crítica se dirige aos consumidores do planeta, além de questionar a própria ideia de sustentabilidade, vista por alguns como panaceia.
Se, em meio à terrível pandemia de covid-19, sentimos que perdemos o chão sob nossos pés, as palavras de Krenak despontam como os paraquedas coloridos descritos em seu livro Ideias para adiar o fim do mundo, que já vendeu mais de 50 mil cópias no Brasil e está sendo traduzido para o inglês, francês, espanhol, italiano e alemão.
A vida não é útil reúne cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020, com pesquisa e organização de Rita Carelli.
Ailton Krenak é escritor, roteirista, porta-voz e pensador indígena. Integrante da comunidade dos Krenak, aos dezessete anos migrou com seus parentes para o estado do Paraná. Posteriormente, tornou-se produtor gráfico e jornalista. Dedica-se ao movimento indígena desde muito jovem. Graças a esforços coletivos e do próprio escritor, o número de indivíduos de sua comunidade voltou a subir, depois de sofrer grande queda em números totais até os anos 1980, e fechou o século 20 com 150 indivíduos. É professor doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Participou da antologia A outra margem do ocidente (Minc-Funarte/ Companhia das Letras, 1999), e publicou a entrevista Ailton Krenak (Azougue, 2015) e O lugar onde a Terra descansa (ECO-Rio, 2000).
"Eu me pergunto quantas Terras essa gente precisa consumir até entender que está no caminho errado."
Eu li mais cedo esse ano Ideias para adiar o fim do mundo, do mesmo autor, e, apesar de ter curtido, me incomodei com alguma coisa a respeito do formato dele. Acho que essa ideia de transcrever palestras e entrevistas, tirando o contexto em que elas foram dadas, me deixou confuso. Aqui, apesar dos cinco textos serem baseados em entrevistas e lives feitas pelo Ailton Krenak, o texto é bem mais claro e direto.
"Pode ser uma ficção afirmar que se a economia não estiver funcionando plenamente nós morremos. Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro."
Esse livro traz reflexões sobre a pandemia, sobre o modo como estamos vivendo e sobre como temos essa certeza de que somos criaturas tão superiores que o resto da natureza e da vida na Terra não importa tanto quanto nós. Gostei de todos os textos e das provocações do autor. Senti um sentimento de impotência enquanto lia, o que não é culpa do livro, mas de todo esse sistema que criamos para que um grupo muito seleto de pessoas tenha poder sobre nossa vida.
"Governos burros acham que a economia não pode parar. Mas a economia é uma atividade que os humanos inventaram e que depende de nós. Se os humanos estão em risco, qualquer atividade humana deixa de ter importância. Dizer que a economia é mais importante é como dizer que o navio importa mais que a tripulação."
Gostei MUITO da leitura e recomendo! Para quem quiser ter um gostinho do livro e não puder comprá-lo agora, a editora disponibilizou um dos textos, O amanhã não está à venda, em eBook de graça.
Assim como em seu livro anterior 'Ideias para Adiar o Fim do Mundo', Ailton Krenak nos entregou cinco textos impactantes, reflexivos e muito atuais. Destrinchando os impactos da pandemia de Covid-19 no mundo, Krenak continua a nos afrontar com suas ideias anti-consumistas, e filosofias já abordadas antes, como: O que é ser humano? Qual o sentido da vida, se ela tiver um sentido? O que nos conecta com nossa ancestralidade?
Em 'Não se Come Dinheiro', meu texto favorito do livro, Krenak entoa mais uma vez o altíssimo consumismo da população, os impactos da pandemia e a relação dela com o dinheiro, afinal, não há dinheiro que compre de volta uma vida perdida.
"Não é preciso nenhum sistema bélico complexo para apagar essa tal de humanidade: se extingue com a mesma facilidade que os mosquitos de uma sala depois de aplicado um aerossol. Nós não estamos com nada: essa é a declaração da Terra."
Em 'Sonhos para Adiar o Fim do Mundo', o autor fala mais sobre a podridão atual do ser humano, da falta de empatia, e uma reflexão sobre um novo modo de viver pós-pandemia, na esperança que isso não seja apenas uma crise, mas um momento de renovação na humanidade.
"Destruir a floresta, o rio, destruir as paisagens, assim como ignorar a morte das pessoas, mostra que não há parâmetro de qualidade nenhum na humanidade, que isso não passa de uma construção histórica não confirmada pela realidade"
Em 'A Máquina de Fazer Coisas', o assunto abordado é mais filosófico: o que significa ser humano? Ter humanidade? Nos sentimos com um pertencimento à nossa vida? Isso casado à modernização constante da tecnologia, que traz ao ser humano a sensação de que as coisas ficarão melhores no futuro. Mas será que realmente irão
"Continuamos usando todos os artifícios da tecnologia, da ciência, para endossar a fantasia de que todo mundo vai ter comida, todo mundo vai ter geladeira, todo mundo vai ter leito hospitalar e todo mundo vai morrer mais tarde. As pessoas hoje querem nascer em hospitais e depois viver blindadas quanto à possibilidade de morrer. Isso é uma falsificação da vida."
Em 'O Amanhã Não Está a Venda', Ailton dialoga sobre o significado 'espiritual' da pandemia, e a esperança de vivermos um 'novo normal' a partir daqui. Esse texto está disponível gratuitamente na Amazon e uma resenha dele já foi feita aqui.
"O que estamos vivendo pode ser obra de uma mãe amorosa que decidiu fazer o filho calar a boca pelo menos por um instante. Não porque não goste dele, mas por querer lhe ensinar alguma coisa. 'Filho, silêncio.'"
Em 'A Vida Não é Útil', o texto que considero mais radical no livro, a ideia transmitida é de que a vida que nos foi dada é uma dádiva, e muitos encaram a vida para ter uma utilidade, um propósito, e a frustração que isso pode fazer. Ele também conversa mais sobre o corte de laços com nossa ancestralidade.
"Por que insistimos em transformar a vida em uma coisa útil? Nós temos que ter coragem de ser radicalmente vivos, e não ficar barganhando a sobrevivência. Se continuarmos comendo o planeta, vamos todos sobreviver por só mais um dia."
Em seu objetivo, 'A Vida Não é Útil' cumpre muito bem seu papel, ainda mais nos tempos atuais, mas ainda considero 'Ideias para Adiar o Fim do Mundo' uma obra mais impactante. De qualquer forma, como tudo o que Ailton Krenak escreve, é uma leitura indispensável. Agradeço a editora por disponibilizar uma cópia antecipada em troca de uma resenha sincera sobre a obra via Netgalley.
O Mérito do livro se encontra na síntese de um pensamento radical e na objetividade de seu manifesto. Simples e direto, vai na raiz do problema. Na verdade, essa talvez sua benção e maldição, já que vivemos em tempos que as coisas devem PARECER mais complexas para que tenha o devido o valor. Sua obra pode ser confundida com um mero panfleto.
Pequeno livro, fortíssimas ideias, sábias palavras. “Nós poderíamos colocar todos os dirigentes do Banco Central em um cofre gigante e deixá-los vivendo lá, com a economia deles. Ninguém come dinheiro.”
una crítica a la blanquitud colonialista que emana la furia por el consumismo desmedido y el necrocapitalismo al q poco a poco vamos entrando. Una reflexión sobre una nueva religión; la economía. Una carta de amor a la Tierra, y de odio hacia aquellos que la hicieron (y siguen haciendo) mierda.
Vi esse livrinho meio escondido na prateleira de uma livraria independente, e tive a oportunidade de comprar alguns meses depois. Assim, meio sem querer e sem nenhuma indicação prévia, entrou pra lista de favoritos.
Composto por 5 capítulos independentes entre si, todos os textos abordam o tema de entender a Terra como um organismo vivo em que seres humanos existem como parte intrínseca e indivisível, e cuja sobrevivência é incompatível com o capitalismo.
"O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo, acham que o trabalho é a razão da existência. Eles escravizaram tanto os outros que agora precisam escravizar a si mesmos. Não podem experimentar a vida como um dom e o mundo como um lugar maravilhoso".
Ao criticar a visão ocidental do significado da vida, hábitos de consumo e o próprio conceito de humanidade, Ailton Krenak resgata a sabedoria dos povos originários que se recusaram, e ainda se recusam, a encarar o mundo do ponto de vista utilitário.
"A ecologia nasceu da preocupação com o fato de que o que buscamos na natureza é finito, mas o nosso desejo é infinito, e, se o nosso desejo não tem limite, então vamos comer esse planeta todo."
really excellent essays on what we accept and the ludicrousness of why we can’t rethink them
The author is an indigenous activist from Brazil who reflects on how the whole world stopped during covid, and why we can’t apply those lessons of collective care and pace to addressing rampant consumption and greed that are catalyzing the climate crisis
It’s short and every essay is great, a little funny and also just .. to the point
“Some people suggest that those who know how to live in the world are the rich, and that poverty is responsible for the destruction of the environment. This statement, in addition to being racist and classist, is murderous. Because someone in the rich person’s position who is saying that the poor - who make up 80% of the world’s population - are destroying the planet may also end up suggesting that the poor don’t need to live anymore.”
Ailton Krenak pega un directo a la nariz del "club exclusivo de la humanidad" encabezado por la blanquitud colonialista. En páginas tan concisas como potentes, discute la raiz enferma de la mitología capitalista desde una posición exterior, excluida por los procesos coloniales (que haríamos muy mal en pensar pasados y cerrados) para poner sobre la mesa el problema común que tenemos tanto los blancos occidentales como los indígenas y todos aquellos grupos excluidos de tal club (animales, plantas, ríos...). Una exposición breve del cuadro que se observa desde una cosmología que no podría jamás convivir con la nuestra y que tampoco lo desea porque no quiere adherirse a un sentido utilitario de la vida que no cesa de vender el mañana. Ailton explica una visión del tiempo de una forma totalmente distinta, desde la perspectiva de Gaia, que implica la oposición a algunos conceptos tales como progreso, crecimiento, recursos naturales, sostenibilidad... Así, trata de convencernos de que el futuro no es una linea colonial hacia adelante, sino que el futuro es ancestral. En fin, una última llamada de atención ante el problema que todos en mayor o menor medida tenemos presente, pero desde una perspectiva distinta que aboca a la resistencia, a la escucha y al disfrute respetuoso y alegre de la vida.
Eu tenho que me retratar e reconhecer: eu não consigo entender a profundidade da cosmovisão apresentada nesse livro. Claro, é evidente que eu entendo que estamos destruindo a possibilidade de vida no nosso planeta, e que essa é uma consequência de uma forma de vida ocidental que foi radicalizada pelo advento do capitalismo. Mas, ainda assim, há uma riqueza de detalhes que não consigo entender, e que não posso fingir que estou entendendo. Qual é exatamente o papel da humanidade na natureza, sendo o humano também natureza, por exemplo? Não sei, mas vou procurar saber — sendo a leitura de autores(as) indígenas um passo inicial a ser tomado.
"Estamos viciados em modernidade. A maior parte das invenções é uma tentativa de nós, humanos, nos projetarmos em matéria para além de nosso corpos. Isso nos dá sensação de poder, de permanência, a ilusão de que vamos continuar existindo"
Ler Ailton Krenak é sempre um choque de realidade. Um choque não pelo ineditismo do que se fala, mas por fazer você parar alguns minutos e ler determinadas coisas que o seu cérebro provavelmente já pensou sobre mas o nosso estilo de vida nunca nos permitiu refletir. A sabedoria de Ailton, que é um professor e ativista indígena, sem dúvidas deve ser de conhecimento geral. E se sua fala já causa um desconforto reflexivo necessário, com "A Vida não é Útil" não seria diferente.
Esse livro, assim como o anterior do autor, é uma reunião de textos produzidos a partir de palestras, entrevistas e falas de Ailton. Porém, dessa vez, o livro vem com uma motivação: refletir sobre o Covid-19. Não são reflexões sobre a doença em si, mas no momento atual da pandemia, aonde estão desesperados pelo mínimo senso de "normalidade" que sentíamos em nosso passado (e governantes e pessoas de poder procuram moldar essa imagem de "novo normal"), Ailton utiliza a paralisação sofrida para provocar reflexões sobre como estamos tratando a Terra e como tratamos a nós mesmos, compartilhando suas posições e saberes sobre o assunto. E, a partir disso, é notável como um assunto em comum junta todos os textos: a humanidade.
"Eu não percebo esse momento que estamos vivendo como uma situação-limite, acho que o que estamos passando é uma espécie de ajuste de foco no qual temos a oportunidade de decidir se queremos ou não apertar o botão da nossa autoextinçãoz mas todo o resto da Terra vai continuar existindo"
Nesses 5 ensaios, o autor debate diversos pontos que conectam ou desconstrem o que seria o conceito de humanidade em si e, principalmente, como ele afeta o modo como levamos a vida. Ailton Krenak debate acerca de diversos temas tomando como ponto de partida essa ideia de "humanidade". Entre muitos, há debates sobre como as tecnologias vendem uma invenção de "salvamento do planeta" quando de fato não cooperam para isso; debates sobre como essa ideia de humanidade, que constantemente busca uma ideia de progresso, ignora a pluralidade de povos que a compõe e como esses povos estão lidando com o planeta; e debate sobre como estamos tão imersos nesse estilo de vida que acredita estar buscando sempre uma utilidade na ideia de produtividade, sem de fato entender seu sentido.
Enfim, "A Vida não é Útil" é um livro curto, mas poderoso. A linguagem de Ailton é concisa, simples e direta e, eu acredito, que seu objetivo não seja você se lembrar das falas ditas pra reproduzí-las para outras pessoas, mas sim internalizar essas ideias, ler, se chocar e absorver os ensinamentos do autor numa busca por mudança no modo como lidamos com a vida e com nosso planeta. Mesmo que a maior parte do meu ser seja habitada por desesperança e descrença numa efetiva melhora da humanidade, as palavras do autor reverberam na tentativa de buscar um mundo melhor.
Recomendo demais a obra e, caso tenha um interesse em experimentar, a editora liberou um dos textos desse livro, "O Amanhã não está à venda", para ser lido gratuitamente na Amazon. Agradeço à Cia das Letras pelo fornecimento de uma cópia em ebook através da plataforma netgalley.
Quando falam sobre a pandemia muitas pessoas dizem que o mundo parou. Algumas pessoas tiveram que se isolar e outras apenas ignoraram medidas de segurança, a roda gigante e cruel do capitalismo contínuo e através do discurso de bilionários e governantes genocidas matou diversas pessoas, como então podem dizer que o mundo parou? O mundo continuou e continuará, não importa se estamos em quarentena ou não a lógica cruel capitalista não para ela segue e oprime. Poucas pessoas detentoras de riqueza comandam e tomam o que vêem pela frente e mesmo no século XXI não saímos do colonialismo, querem tomar as terras, planetas e nossos corpos. A vida não é útil é um livro cheio de provocações necessárias para pensar sobre um futuro e um presente que assasina, está matando o planeta que não tem culpa de nada, apenas por egoísmo e concentração de riqueza. Afinal o interesse da vida ser útil somente interessa a quem tem dinheiro
“Nós, Krenak, decidimos que estamos dentro do desastre, ninguém precisa vir tirar a gente daqui, vamos atravessar o deserto, temos que atravessar o deserto. Ou toda a vez que você vê um deserto você sai correndo? Quando aparecer um deserto, o atravesse.”
Tanto falam de Ailton Krenak e tanto vejo os seus livros em todo lugar que vende livros que eu boto os pés e os olhos (no caso de livrarias virtuais) que resolvi adquirir os livros. Também resolvi fazer isso até porque estou me apropriando de algumas questões indígenas em decorrência de um artigo acadêmico que estou escrevendo. Mas sinceramente, para o artigo acadêmico os textos não vão servir e não achei assim tão impactantes as crônicas trazidas aqui neste "A vida não é útil". Talvez eu tenha começado pelo volume errado dos três publicados na mesma coleção. Mas pouco me cativou o texto, diferente de outros textos indígenas que tenho lido. Vou ler os outros dois livros da coleção e darei o meu verdito em seguida.
O livro é composto de cinco textos e na minha opinião eles foram ficando melhores ao longo da leitura. Em vários momentos bateu a tristeza e a impotência de se confrontar com a realidade de o nosso sistema ser predatório e antinatural, mas me ver totalmente imerso nele.
Assim como o outro livro que li dessa "coleção" da Companhia Das Letras, achei que a brevidade as vezes esbarra na falta de profundidade. Por serem produzidos a partir lives e entrevistas, recursos interativos, os textos as vezes parecem vagar de um assunto pro outro sem um fio condutor. Ainda assim, eles trouxeram algumas reflexões interessantes, especialmente os dois últimos.
No dia 10/03/2020 eu ouvi Ailton Krenak falar no evento de boas-vindas aos calouros da UnB. No dia 13/03 Brasília entrou em quarentena. 5 meses depois tudo mudou. Tudo, menos a urgência de ouvir/ler/aprender com o Krenak. Essa urgência apenas se intensificou.
Os textos presentes no breve livro trazem reflexões diretas e profundas. Essenciais para pensar o futuro.
Tive uma bela surpresa ao descobrir que o conto recitado pelo Gilberto Gil na música "É tudo pra ontem", do Emicida, é uma história antiga do povo Krenak.
"A vida é uma fruição, é uma dança, só que é uma dança cósmica, e a gente quer reduzi-la a uma coreografia ridícula e utilitária. Uma biografia: alguém nasceu, fez isso, fez aquilo, cresceu, fundou uma cidade, inventou o fordismo, fez a revolução, fez um foguete, foi para o espaço; tudo isso é uma historinha ridícula. Por que insistimos em transformar a vida em uma coisa útil? Nós temos que ter coragem de ser radicalmente vivos, e não ficar barganhando a sobrevivência. Se continuarmos comendo o planeta, vamos todos sobreviver por só mais um dia."
Os livros do Krenak tinham que ser ensinados nas escolas, nas igrejas, nos retiros. Ele expressa ideias q entendemos como "radicais" de uma forma absolutamente simples e concreta, o que nos lembra: viver em comunhão com a natureza não é radical. Radical é o capitalismo. Radical é destruir a Amazônia pra plantar soja pq temos q ter carne o suficiente pra poder jogar fora. Radical é comer comida cheia de agrotóxico e respirar ar cheio de fumaça pq a eficiência das máquinas é mais importante do que o bem estar dos nossos corpos.
Tudo isso é muito óbvio, mas a loucura coletiva em que estamos inseridos nos obriga a esquecer. Krenak vem nos aterrar e nos fazer lembrar do que no fundo já sabemos. Que venham mais livros dele e de outros autores com essa capacidade enorme de desinverter o mundo e reencaixar as coisas em seus lugares.
Everyone needs to read this book. Ailton illuminates the true relationship between what we define as “humanity” and the natural world. He carefully outlines the deadly, pervasive nature of capitalism but not in the way many of us have become numb to (through the narrative of western liberals). Ailton instead forces the reader to take accountability for the collective actions of humanity that we are all complicit in and allow ourselves to be turned away from. Still, in it’s honesty this book also forces the reader to acknowledge the intrinsically beautiful nature of the world around us. Ailton awoke me to facts about life I should’ve already known but never made me feel stupid for my ignorance of the dangerous path we’re all being led down. Ultimately, we need books and indigenous voices like these to remind us that our desire is uselessly infinite and life itself should never be useful and instead is necessary in it essence of transcendence.
Esse fim de semana ouvi dois audiobooks do Krenak de uma vez só enquanto lavava a louça e em seguida fazia minhas unhas. Encontrei nas palavras dele, além de uma grande inspiração, o conforto em saber que minhas ideias não são de maluco. Talvez sejam, mas pelo menos não estou sendo maluca sozinha, tem umas umas 690 mil pessoas malucas igual. Ouvi no youtube, mas assim que puder vou comprar os livros físicos. É o tipo de livro que é preciso ler, reler, reler mais uma vez, já que cada palavra relida traz uma nova reflexão, um novo estalo
Ailton é um orador. As suas ideias partem da palavra dita e alcançam o papel a fim de nos guiar durante a árdua tarefa de imaginar um mundo diferente.
Ailton está impaciente nesses textos e ele está coberto de razão. É preciso estar impaciente, ansioso, é preciso revoltar-se com o saqueamento da Terra.
Consigo ver na fala de Krenak ecos de outros textos mais longos e com conceitos menos acessíveis e por isso acho ele tão importante como porta-voz de uma geração que não aceita a derrota, mas precisa encarar o pior.
Assim como o livro anterior de Ailton Krenak, "A vida não é útil" nos oferece reflexões muito boas sobre a nossa relação enquanto seres vivos com a vida, a natureza e o nosso planeta, com fortes críticas ao capitalismo, à sociedade de consumo e à sociedade ocidental em geral. As palavras do autor sempre me deixam pensando por muito tempo depois que termino de ler, e com certeza vou querer ler o novo livro dele.
Cada obra de Ailton Krenak é um convite à uma reflexão profunda sobre a forma moderna de se relacionar com o mundo. O modo atual de produzir, consumir, viver e ambicionar não é compatível com as melhores aspirações que o ser humano pode ter, segundo o autor. É preciso entender a vida como ela é, e povos originários têm a resposta para esse dilema.
“Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade e nos alienamos desse organismo de que somos parte, a Terra, passando a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo que exista algo que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza.”