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O Filho de Mil Homens

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This is an alternative cover edition for ISBN 9896721076 / ISBN-13 9789896721077

Esta é a história de Crisóstomo que, chegando aos quarenta anos, lida com a tristeza de não ter tido um filho. Do sonho de encontrar uma criança que o prolongue e de outros inesperados encontros, nasce uma família inventada, mas tão pura e fundamental como qualquer outra.
As histórias do Crisóstomo e do Camilo, da Isaura do Antonino e da Matilde mostram que para se ser feliz é preciso aceitar ser o que se pode, nunca deixando contudo de acreditar que é possível estar e ser sempre melhor. As suas vidas ilustram igualmente que o amor, sendo uma pacificação com a nossa natureza, tem o poder de a transformar.
Tocando em temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família, O filho de mil homens exibe, como sempre, a apurada sensibilidade e o esplendor criativo de Valter Hugo Mãe.

260 pages, Paperback

First published September 1, 2011

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About the author

Valter Hugo Mãe

64 books2,086 followers
valter hugo mãe é o nome artístico do escritor português Valter Hugo Lemos. Além de escritor é editor, artista plástico e cantor.
Nasceu em Saurimo, Angola em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira e, actualmente, vive em Vila do Conde.
É licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Vencedor do Prémio José Saramago no ano de 2007
É autor dos livros de poesia: Livro de Maldições (2006); O Resto da Minha Alegria Seguido de a Remoção das Almas e Útero (2003); A Cobrição das Filhas (2001); Estou Escondido na Cor Amarga do Fim da Tarde e Três Minutos Antes de a Maré Encher (2000); Egon Shiele Auto-Retrato de Dupla Encarnação, (Prémio de Poesia Almeida Garrett) e Entorno a Casa Sobre a Cabeça (1999); O Sol Pôs-se Calmo Sem Me Acordar (1997) e Silencioso Sorpo de Fuga (1996). Escreveu ainda o romance O Nosso Reino (2004).
Organizou as antologias: O Encantador de Palavras, poesia de Manoel de Barros; Série Poeta, em homenagem a Julio-Saúl Dias; Quem Quer Casar com a Poetisa, poesia de Adília Lopes; O Futuro em Anos Luz, por sugestão do Porto 2001; Desfocados pelo Vento, A Poesia dos Anos 80, Agora.

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4,810 (51%)
4 stars
3,160 (33%)
3 stars
1,145 (12%)
2 stars
237 (2%)
1 star
59 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 859 reviews
Profile Image for Inês.
215 reviews66 followers
December 6, 2011
Não é a história mais empolgante do Mundo mas este livro é mesmo bom de ler. Está carregado de frases que fazem suster a respiração, com palavras que constantemente se misturam de forma a mexer cá dentro. Está cheio de preconceitos e linguagem rural (um apelo especial para o capítulo 11 que quase me fez chorar a rir) mas tudo está organizado de maneira a nos fazer gostar cada vez mais de cada personagem e a perceber a forma como elas "se gostam" entre si.
Valter Hugo Mãe foi uma bela surpresa quando li o primeiro romance e passa agora a ser um dado adquirido. Fico empolgada por descobrir um escritor português com esta qualidade, com este dom de misturar palavras que só está ao alcance de alguns. E a ousadia, senhores, a ousadia deste homem.

"Imaginava que um não leitor ia ao médico e o médico o observava e dizia: você tem o colesterol a matá-lo, se continuar assim não se salva. E o médico perguntava: tem abusado dos fritos, dos ovos, você tem lido o suficiente. O paciente respondia: não, senhor doutor, há quase um ano que não leio um livro, não gosto muito e dá-me preguiça. Então o médico acrescentava: ah, fique pois sabendo que você ou lê urgentemente um bom romance, ou então vemo-nos no seu funeral dentro de poucas semanas. O caixão fechava-se como um livro. (...)
Quando percebeu o jogo, o Camilo disse ao avô que havia de se notar na casa, a quem não lesse livros caía-lhe o tecto em cima de podre. O velho Alfredo riu-se muito e respondeu: um bom livro, tem de ser um bom livro. Um bom livro em favor de um corpo sem problemas de colesterol e de uma casa com o tecto seguro. Parecia uma ideia com muita justiça."

Profile Image for Célia Loureiro.
Author 24 books905 followers
May 26, 2021
Tenho de atribuir duas estrelas, porque significa it's ok enquanto 3 já significa I liked it

Foi a minha estreia com Valter Hugo Mãe, um autor que encontro muito pelo mundo dos livros, mas que até agora não me despertou grande curiosidade. Li algumas reviews de utilizadores com gostos semelhantes aos meus, folheei "A Desumanização", não consigo estar desinformada sobre títulos e às vezes até sinopses de livros que saem, e sempre me pareceu que não era para mim. Mas um amigo insistiu que devia lê-lo, e decidi ir até à biblioteca conseguir um exemplar de qualquer uma das suas obras e assim poder opinar com conhecimento de causa.

Uma das surpresas é que a capa da edição da Alfaguara (o homem em chamas) sugeria uma história poderosa, adulta, séria. Eu gosto muito de austeridade na escrita, mesmo o humor que surge num ambiente soturno tem outro gosto. A história não é nada disto, embora tenha rasgos de crueldade e outros de ingenuidade, e o contraste dos dois - promovido por um narrador que se expressa de modo peculiar - resulta nesta voz única em que mal se distinguem as personagens por si sós. Crianças, adultos e velhos, todos pensam do mesmo jeito, e com níveis de maturidade por vezes desadequados da sua faixa etária.

Que dizer desta história sem tempo nem espaço? As personagens têm nomes esquisitos, coisa a que começo a habituar-me no caso de alguns criadores portugueses. Temos o Crisóstomo, o Gemúndio, o Antonino e a Mininha (não me importava que os nomes esquisitos se tivessem ficado pelo imaginário do Saramago, e do seu Baltazar e Blimunda). A somar aos nomes, a personalidade das personagens: todos apanhados de uma certa loucura que procura elevar os rasgos de clarividência que lhes assistem os pensamentos ou os diálogos. Depois é essa falta de tempo que me incomoda: que tempo é este em que a mentalidade é tão fechada, em que as pessoas atravessam montes a pé para chegar ao mar, mas há carros, hospitais e outras inovações que tais? E que espaço é este, que se estende da terra ao mar, e na terra naturalmente que o povo é lavrador, e no mar é pescador, e são todos remediados? É Portugal, julgo que seja Portugal. Diria um Portugal meio dos anos 30, ainda que nem o tempo nem o espaço cumpram nenhum propósito na narrativa. Tenho imensa pena, porque o tempo é um dos fatores que me leva até aos livros, e o espaço é outro logo a seguir.

Apesar de em jeito de romance, senti a história como uma espécie de compêndio de contos entrelaçados. Há homens tristes por não terem filhos e que enganam a tristeza com bonecos que se sentam no sofá, há anãs, há galinhas gigantes, há humanização de objetos (travessas e flores que se espantam) e há uma aura de surrealismo que nunca se cumpre, porque a força do surrealismo é a profundidade das raízes no real. Como num quadro de Magritte, a propósito meu pintor favorito, em que a composição é perfeita mas a imagem é desfasada do mundo físico. Perfeita, mas irreal. De contornos reais, mas a flutuar num céu azul de nuvens brancas. Surrealismo regado a mais surrealismo não me prende. As personagens acabam por não ser palpáveis - embora surja uma Isaura que é mais nítida do que as restantes -, as ações parecem-me dúbias e os encontros forçados. Fez-me especialmente impressão o modo como os menores são trocados de mão em mão, porque neste recanto do mundo sem tempo a lei também não existe. E temos de aceitar que tudo poderia passar-se assim, ou ficamos incapazes de produzir uma emoção quanto ao texto.

Parece que é um livro sobre a paternidade, mas não o senti assim. Achei que era um livro sobre superarem-se diferenças. A temática da aceitação do diferente - a mulher estranha, o velho solitário e desesperado, o maricas - é muito mais forte do que as relações interpessoais no livro. Ou melhor, as relações desenvolvem-se sobre essa superação da diferença, o que é algo positivo. O livro acaba por estar bem organizado - ainda que padeça de uma inesperada simplicidade -, e o português vem enrolado e desenrolado em floreados em certos trechos, por vezes sacrificando o significado à forma.

Destaco esta afirmação como o único momento em que o livro me agarrou realmente:
«Quando se conhece alguém, procuram-se as exuberâncias dos gestos (...) como para fazer exuberar o amor, mas o amor é uma pacificação com as nossas naturezas e deve conduzir ao sossego.»

Não me alongo mais, termino esclarecendo que o livro é, para mim, uma obra de art naïf, um quadro de figuras simplificadas e muito coloridas, num cenário primitivo de terra e animais. O meu gosto pessoal revê-se mais na intriga por detrás do surrealismo de Magritte.
Profile Image for Pedro Pacifico Book.ster.
362 reviews4,743 followers
March 31, 2020
Em 2019, resolvi fazer a releitura dessa obra que é única em sua sensibilidade e na forma como aborda o afeto e as relações humanas. Quem me acompanha aqui há um tempo sabe da minha admiração pelo autor, que foi um dos responsáveis por despertar a vontade de conhecer um universo mais amplo de livros, que não se limitava apenas aos autores mais conhecidos ou às listas de mais vendidos. E, na minha opinião, o que mais se destaca nos livros de @valterhugomae é a sua escrita. É a poesia que preenche as suas frases, como se cada palavra tivesse sido escolhida a dedo.

Em “O filho de mil homens”, a narrativa é construída a partir de situações simples. É a história de um pescador solitário, Crisóstomo, que conhece um garoto órfão, chamado Camilo. É a história de uma família criada a partir de laços que fogem do convencional. E para acompanhar as emoções que percorrem a história de Crisóstomo e Camilo, o autor nos apresenta diferentes personagens, cada um com seus próprios conflitos. Cada um vive e sofre do seu jeito os problemas que encontram na pequena aldeia, mas que também estão presentes em todo canto: machismo, homofobia e outras formas de discriminação. Mas é justamente no meio dessas falhas de uma sociedade, que cada busca no outro um pedaço daquele seu vazio, daquela metade que lhe falta... E não é para isso que deveriam servir o amor e o afeto?

Fica até difícil para mim, como leitor, contar mais sobre o que você pode encontrar nesse livro. Até porque, como sempre falo, um livro vai muito além de uma história. Nesse caso, a leitura de “O filho de mil homens” vale pela experiência, que nos deixa marcas – e também exige muitas marcações (haja post-its). Por isso, a recomendação é fácil e serve para qualquer um que quer um conhecer um pouco do ser humano, do que é ser humano.

E antes que me perguntem: acho que esse livro é uma boa opção para quem quer iniciar na obra de valter hugo mãe!

Nota: 10/10

Leia mais resenhas em https://www.instagram.com/book.ster/
Profile Image for José Gomes.
Author 5 books6 followers
January 27, 2018
Valter Hugo Mãe não escreveu um romance, mas um tratado de humanismo. Tão bom que se sai deste livro muito melhor pessoa do que no momento em que se iniciou a leitura,
Profile Image for Ensaio Sobre o Desassossego.
368 reviews183 followers
September 18, 2021
Como começar a escrever sobre este livro? Não sei. Sinto que tudo o que possa escrever não será suficiente para descrever a beleza do mesmo. Além disso, acresce a dificuldade que sinto e sempre senti em falar dos meus livros favoritos, de livros que me marcaram de uma forma singular e que eu não sei explicar porquê.

A história de um homem que aos 40 anos era profundamente solitário. Até que um dia decide que está na hora de inventar uma família, decide encontrar um filho. (Aquelas sinopses que só ocorrem mesmo ao VHM)

Caraças, que este foi, sem dúvida alguma, o livro mais bonito que já li em toda a minha vida. A solidão, o cuidado mútuo, o amparar o outro, a solidariedade, o preconceito e o ser diferente, ser marginalizado, ser "fora do normal" são temas tratados de forma muito característica pelo autor. Temos aqui uma mensagem muito profunda e muito importante, que retrata uma família criada não por laços de sangue, mas sim por laços de amor. O amor deve prevalecer sempre.

Valter Hugo Mãe é um escritor fenomenal, já todos sabemos disso, mas o que ele fez com Crisóstomo, Isaura, Camilo, Matilde, Rosinha, Gemúndio é de uma beleza e generosidade profundas. De uma humanização tão bonita.
Sentimos a dor e a beleza em cada palavra de Valter, e é isso que me encanta na escrita do autor. Como a beleza e a dor se juntam para criar uma obra de arte. Escrito com a sensibilidade única, aquela sensibilidade que nós pensamos logo "isto só podia ter sido escrito por Valter Hugo Mãe".

Um livro em prosa que, no fundo, é poesia.

Gosto muito de ler livros densos e tristes, livros que versem essencialmente sobre a densidade psicológica das personagens, mas este livro - que é um livro esperançoso, um livro feliz (apesar das inúmeras tragédias que acometem as personagens), um livro que nos dá esperança e que nos faz querer ficar abraçados a ele depois de terminar a leitura - passou a ser dos meus livros favoritos da vida.

"O filho de mil homens" é um lugar feliz. Um lugar seguro para todos os seres humanos, sejam eles de que forma forem. Um livro-esperança.
Profile Image for João Carlos.
662 reviews309 followers
August 28, 2016

Ilustração de Luís Silva

Nos primeiros livros do valter hugo mãe o escritor apenas usava as letras minúsculas. Num artigo publicado no Jornal de Letras por Maria Leonor Nunes, valter hugo mãe refere: "É antes uma questão literária, de "limpeza formal do texto". valter hugo mãe acha que as maiúsculas são uma "sinalética" que só atrapalha a leitura. "Simplificando, sintáctica e graficamente, chegamos a uma escrita mais próxima do modo como falamos", justifica. "As pessoas não falam com maiúsculas". "
A única explicação plausível que encontro para ter detestado os dois únicos livros que li, primeiro, "A Desumanização" (2013) (1*) e, agora, "O filho de mil homens" (2011) (1*) é a alteração empreendida pelo escritor Valter Hugo Mãe que começou a utilizar as letras maiúsculas em vez de recorrer exclusivamente às letras minúsculas.
Em "O filho de mil homens" as diferentes histórias que se vão interligando são más, sem nenhuma originalidade; as personagens, todas elas, são retratadas de uma forma confrangedora, os excluídos, os enjeitados, os abandonados, o "maricas", a anã, os velhinhos e as velhinhas, os coitados e os coitadinhos, o anão e...; e, por fim, a escrita, que mais parece de um "aspirante" a escritor, repleta de banalidades e de clichés morais e psicológicos.
A questão da temática relacionada com o amor fraternal e a paternidade merecia mais, muito mais...
Profile Image for Aline Borges.
12 reviews7 followers
September 21, 2018
Uma vez eu vi só de relance o título de uma matéria que dizia "Valter Hugo Mãe, o fofo da literatura" e, mesmo sem abrir para ler, fiquei com isso na cabeça. Aliás, não consegui parar de pensar nisso enquanto lia O Filho de Mil Homens. O Valter Hugo Mãe é mesmo um fofo, como já tinha percebido lendo O Paraíso São os Outros, mas também é muito mais do que isso.
O enredo (sem spoiler) é basicamente assim: histórias de personagens renegados que se cruzam, e como cada um passa a ter um papel fundamental na vida do outro. É uma história de amor. Amor romântico, sim, mas também de amor próprio, amor fraternal, maternal e paternal. Amor em forma de amizade e em forma de compaixão, amor aos animais, bem como amor ao que temos de mais simples na vida. Fico imaginando que o Valter Hugo Mãe deve amar muito o que faz para conseguir fazer com que o leitor sinta tanto amor em cada palavra.
Terminei a leitura me sentindo figurativamente abraçada e pensando em todo amor que tenho dentro de mim e todo o que recebo das pessoas que me amam. A certeza que fica é de que o amor pode existir em diversas formas ou famílias, independente do que preconceitos sociais tentam impor.

Ps: uma leitura dessas numa época em que um certo candidato machista e homofóbico está tão bem posicionado na corrida presidencial é um soco no estômago ainda maior.
Profile Image for Ana.
708 reviews107 followers
February 4, 2017
Acho que tive a sorte de ter conhecido o VHM num encontro literário, antes de ter lido qualquer livro seu. Assim que abriu a boca, lembrei-me imediatamente dos meus primos “retornados” de Angola, com quem convivi bastante quando era miúda. No início, estranhei aquele falar diferente, mais suave e cantado, com um sotaque diferente do meu, mas depressa me habituei. Na margem sul do Tejo, fui encontrar este sotaque, por vezes mais carregado até, nos miúdos africanos, ou descendentes de africanos que tinham emigrado para Portugal. Quando peguei no meu primeiro livro de VHM (A Máquina de Fazer Espanhóis), não estranhei, portanto, a sua escrita. Aquilo que me tenho apercebido soar abrasileirado, ou falso, a algumas pessoas, a mim soou-me natural, pois era como se, através da escrita, continuasse a ouvir o autor falar. Vim mais tarde a saber que VHM nasceu em Angola. Não sei se é daí que lhe vem aquela forma de se expressar, meia cantada, e com palavras inventadas, mas seja como for, encontro (quase sempre) sentido neste português meio escangalhado, que não me soa a falso nem pretensioso, antes genuíno e bonito.

O Filho de Mil Homens foi, até agora, o seu livro de que mais gostei (mas ainda é só o terceiro). É um conjunto de histórias simples, que se entrelaçam umas nas outras, quase todas sobre temas bastante complexos. Mas apesar de simples, não são contadas de forma simplista. Num tom que varia entre o sarcástico e subtil (o que me ri, com a falsa compaixão das vizinhas da anã) e o directo e cruel (o que me horrorizei, com a juventude da Isaura e do Antonino), VHM vai retratando e criticando um certo Portugal tacanho que ainda existe, incapaz de aceitar a diferença, ou encaixando-a da pior forma. Mas retrata igualmente o lado bom, que também existe, e por vezes se sobrepõe à ignorância ou simples maldade, como acaba por acontecer no final do livro. Boas e más, muito, ou apenas vagamente semelhantes, também tenho tido conhecimento de situações e pessoas, que me fizeram lembrar algumas das que são aqui retratadas. E tal como o livro termina num tom positivo, também eu acredito numa evolução, baseada na entreajuda – os tais mil pais e mil mães - que nos torne cada vez mais humanos e menos bichos. Porque “(…) todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós.”
Profile Image for Os Livros da Lena.
243 reviews300 followers
June 21, 2021
Opinião O Filho de Mil Homens, de Valter Hugo Mãe

Este era um dos poucos livros que me faltavam ler do VHM e posso dizer-vos que passou para o meu Top3 do autor.

O que é uma família e quem define quem a compõe? É verdade que é mais fácil e confortável colocar as famílias em poucas e redutoras categorias, mas quando isso não é o que as faz feliz, quem é alguém para dizer o que está certo ou errado só porque está de acordo, ou não, com aquilo que lhe é confortável?

“Parecia-lhe que a vida era aprender, saber sempre mais e mudar para aceitar sempre mais.”

Muitas vezes os nossos pais e mães não são aqueles que nos deram a matéria-prima, que nos pariram, mas antes aqueles que nos deram o que somos, o amor que temos e o que damos aos outros. Aqueles que nos alimentaram de calor e colo, de verdade e de lições.

“Todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo.”

E que bom é quando percebemos que, por mais assustadora que tenha sido a nossa infância, há no mundo tanta gente que nos cuida e quer bem, sem que nenhum cânone lhes tenha dito que é assim que deve ser. Porque são aqueles que amam sem obrigação que mais amam, que melhor amam. São os que cultivam os sonhos que nos fazem ter propósito.

“Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que são passados de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós.”

É sabido que a diferença incomoda, porque faz pensar, e há quem não tenha amor suficiente por si próprio para se dar ao trabalho de pensar no outro com o mesmo amor. Que personagens plenas de amor criou VHM.

“Às vezes, por serem diferentes, as pessoas preferem morrer. Eu queria mais que ele estivesse vivo, porque era-me igual que ele fosse diferente.”

Sempre sonhei um dia viver num mundo onde somos livres e deixamos toda a gente ser. Onde percebemos que a nossa liberdade termina onde começa a do outro. Onde amamos o outro por ser livre. Onde somos e deixamos ser.

“Amou a rapariga por ter sido livre e decidir uma coisa tão subjectiva e delicada quanto a crença na transcendência.”

Obrigada ao Valter por este livro. Há poucos livros onde o mundo que sonhei exista, mas ainda bem que os há. Se também sonham este mundo, leiam.

Para acompanhar a leitura deixo-vos playlist com o título do livro, no Spotify.
Profile Image for Joana.
95 reviews24 followers
February 17, 2017
Este é um livro sobre a derrota da solidão e do preconceito. Nem sempre cativante, mas magnificamente escrito, "O Filho de Mil Homens" leva-nos a reflectir sobre a felicidade e o modo como nos expandimos e redimensionamos na relação com os outros. A vida é feita de amputações (mortes, rupturas, afastamentos) e acrescentos. Na perspectiva de Valter Hugo Mãe (VHM) somos o resultado de todos quanto se cruzam no nosso caminho, de mil histórias e mil sonhos, como se fossemos irmãos uns dos outros, filhos de mil pais e mil mães, sempre à procura de um sentido de pertença, de amor e compreensão.

Foi o primeiro livro de VHM que li e já acrescentei pelo menos mais dois à minha lista: "A Máquina de Fazer Espanhóis" e "O Apocalipse dos Trabalhadores".
Profile Image for Susana Frazão.
249 reviews2 followers
August 30, 2020
A minha estreia com o autor... gostei da escrita, do modo como as personagens se apresentavam... achei um pouco cru e por vezes cruel algumas expressões utilizadas... não adorei mas fiquei curiosa com o escritor, pretendo ler mais alguns títulos do autor...
Profile Image for Bruno Lages.
42 reviews14 followers
October 23, 2012
O Filho de Mil Homens é uma obra de arte imperdível. O texto é elegante, enxuto, sem afetações. Os personagens dizem, fazem, vivem coisas de um peso e profundidade que me tiraram o fôlego, me deixaram estupefato pela beleza com que foram escritas.
Profile Image for Álvaro Curia.
Author 2 books452 followers
November 18, 2019
Em “O Filho de Mil Homens, Valter Hugo Mãe leva-nos a uma ruralidade profunda, onde a vida parece, não obstante os espaços abertos, em que se desenvolve, encarcerada numa pré-história das mentalidades. Onde a mulher é um instrumento reprodutor, onde os “maricas” são linchados e tudo o que é diferente é espezinhado com toda a maldade do mundo.

Mas será assim, realmente? A figura de Crisóstemo, o pescador que procura um filho, de Isaura, a mulher que cedeu à tentação ou Antonino, o delicado filho de Matilde enquadram um cenário onde sobressai Camilo, o filho de mil homens (ou pelo menos quinze) e que traz a esperança na evolução, desconstruindo, à medida que cresce, os preconceitos em relação à família e à ideia de certo ou errado.

A família é o núcleo central do romance. A família que escolhemos, a família possível, cheia de contradições e defeitos que somos ensinados a relevar; cheia de amor também, de calor e de apoio.

Este é o realismo mágico no seu auge. História cheia de imagens fantásticas, como a dos deuses crianças submersos ou a galinha enviada dos céus. Um enredo cozido com muito tempero, personagens com uma densidade incrível e um cheirinho às terras do Norte de Portugal.
Profile Image for Carolina.
136 reviews79 followers
October 3, 2022
Maravilhoso.
Um livro daqueles que dá pena acabar! Dei por mim a adiar terminá-lo. Este livro consegue a proeza de ser triste e, ao mesmo tempo, belo e terno. Estou encantada.
Profile Image for Célia M. Martins.
42 reviews1 follower
May 18, 2016
2.5 * que quase não iam sendo arredondadas.

Há qualquer coisa nos livros de Valter Hugo Mãe que simplesmente não me cativa, nem me convence.


Este é o segundo livro que leio de VHM e, uma vez mais, não fiquei rendida (perdoem-me aqueles que idolatram o autor). Não é que a escrita seja má, o enredo aborrecido, ou que o livro seja longo, muito pelo contrário.

Valter Hugo Mãe habituou-nos à sua escrita esplêndida, rebuscada, à sua prosa poeticamente explorada (por vezes, um tanto ou quanto forçada, exagerada), criando uma narrativa fluída, através de um vocabulário muito rico e das tão características metáforas, ironias, hipérboles, comparações, repetições.

Depois de ler "A Desumanização" que, do meu ponto de vista, é um livro demasiado cruel e frio (apesar de estar super bem escrito), decidi voltar a aventurar-me pelas páginas de um outro livro do autor em busca de um outro registo. Quando comecei a ler este livro estava animada, à espera de um livro majestoso, sensível, daqueles que nos fazem deixar cair uma lágrima, mas não foi isso que aconteceu.

A premissa é de facto muito promissora e o Crisóstomo é aquele tipo de personagem que nos toca no coração e que é capaz de nos mostrar que os sonhos se podem tornar realidade e que "quem tanto pede o que lhe pertence assim o mundo convence. "

No entanto, este livro não relata só a história de Crisóstomo. Conhecemos as histórias de outras personagens, cada uma com os seus episódios e cujas relações se vão intercalando, num espaço onde todos se conhecem, onde todos opinam uns sobre os outros.

Agora que penso bem, acho que aquilo que mais me desagrada nos livros de VHM é a forma como o autor explora temas tão importantes como o amor, a religião, a sexualidade, a deficiência (mental e /ou física) a homossexualidade, o papel da mulher na sociedade, etc... Explora-os de uma forma cruel, bruta, descreve-os de uma perspectiva muito obscura, pouco humana.

Para além disso, a linguagem das personagens é, em alguns casos, tão grosseira. Dá-me aquela sensação de a história se passar numa daquelas aldeolas onde as pessoas não evoluem com o tempo, nem acompanham a própria evolução da sociedade. Um espaço e um tempo estagnados onde existem ideias preconcebidas de que a mulher só serve para procriar, ou que mais vale morrer do que viver como sendo "maricas", onde uma mãe sente vergonha de ter trazido ao mundo um filho deficiente.

Eu consigo perceber a intenção do autor ao apresentar-nos todas estas histórias, estes pontos de vista, estas personagens. Consigo perceber as mensagens que ele nos quer passar para além daquilo que vemos escrito nas páginas do livro. No entanto, não me convence.

De um modo geral, a história é interessante e o livro tem passagens muito bonitas que nos fazem mesmo parar para reflectir. Contudo um bom livro não é só feito de meia dúzia de frases profundas e inspiradoras.

Apesar de bem escrito, são os motivos acima referidos que me levam a não simpatizar com as personagens imaginadas e criadas por VHM e a não apreciar assim tanto o estilo e os livros do autor.

May 31, 2023
Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós. (p. 257)
Profile Image for Landslide.
344 reviews72 followers
February 13, 2012
O filho de mil homens é uma história composta de várias histórias que se cruzam de forma magistral. No fundo, é a história de uma série de personagens infelizes que por força do destino ou das circunstâncias, vêm as suas vidas interligadas e, juntas, formam a mais improvável das famílias e conseguem, finalmente, ser felizes.

O quarentão que queria um filho, o filho da anã que fica órfão, a mulher enjeitada, o maricas, a mãe do maricas e a cria são a família improvável que se forma ao longo das páginas deste livro e cujos destinos nos prendem à sua leitura sempre na expectativa de saber o que irá acontecer a seguir.

Opinião completa no meu blog
Profile Image for Ana.
275 reviews38 followers
February 27, 2023
1ª leitura de Valter Hugo Mãe.

Gostei da forma como a narrativa se foi construindo e como personagens aparentemente sem qualquer relação se foram aproximando. Gostei igualmente pela forma como o autor fez alusão a certos valores e posturas através das historias de vida de cada uma das suas personagens.

Apesar de ser um livro sem muitos diálogos, que é geralmente algo que me cativa e me faz avançar mais rápido nas leituras, gostei bastante da forma como toda a narrativa se desenrolava, pelas descrições, comparações e analogias, assim como um uso de linguagem por vezes um pouco mais crua mas certeira.
Profile Image for Ana Marinho.
502 reviews30 followers
September 16, 2022
A sensação de leveza e conforto com que terminei este livro deixou-me verdadeiramente feliz. Depois de ler três livros deste autor e ficar totalmente desiludida, achei que não voltaria a tentar e abandonaria de vez. No entanto, houve sempre algo na escrita de Valter Hugo Mãe que me fascinou, fazendo com que, apesar de não gostar das histórias que tinha lido, adorasse a poesia das suas palavras. Cedi quando uma amiga me emprestou este livro. Disse a mim mesma que seria a última vez, mas, para minha alegria, finalmente houve uma conexão com a narrativa e deixei-me embalar pelo autor. Fui totalmente conquistada por Crisóstomo, Camilo, Isaura e Antonino. É maravilhosa a forma como os caminhos das personagens se cruzam e de como a solidão e o preconceito são desenvolvidos. Existe um forte sentido de pertença e amor, principalmente em Crisóstomo que diz e bem que o amor é uma atitude, "uma predisposição natural para se ser a favor de outrem", "ser, sem sequer se pensar, por outra pessoa". No final percebemos como é bonito não ser apenas homem inteiro, mas sim o dobro de um homem, cuja felicidade é proporcional.
Profile Image for Mafalda.
64 reviews12 followers
August 24, 2021
Quem é que já se sentiu só metade?

"Estava sozinho, os seus amores tinham falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas."

Comecei logo a sublinhar a primeira página e, como devem imaginar, não foi só metade da página.

Esta obra de VHM oferece-nos uma panóplia de personagens muito humanas, com traços muito particulares e distintos, que selam em si um forte sentimento de incompletude, de vazio, de infelicidade, de se sentirem "só pela metade". São "pessoas feitas de imprudência", uma delas é uma "mulher carregada de ausências e silêncios", outra que está "sozinha para dentro de si mesmo", outro que "para dentro de si mesmo caía".

Apesar de cada história ser absolutamente singular e das imperfeições de cada personagem, conseguimos encontrar algo de tão universal, como o sentido de pertença, a vontade intrínseca de criar ou até inventar-se uma família e a procura pela esperança e felicidade.

"Ser o que se pode é a felicidade."

VHM, mais uma vez, é algodão doce para o cérebro 💙. Ele presenteia-nos com uma subtileza muito própria e com a sua sensibilidade de marca, personagens altamente humanas que na sua simplicidade são complexas e com as quais não conseguimos ficar indiferentes. Porque a solidão chega a todos, porque a necessidade de pertença e afecto é universal.

"Todos nascemos filhos de mil pais e mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo.  Somos resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós." 💙
Profile Image for Tamara Bakuzis.
10 reviews
December 26, 2018
Terminei encantada a leitura. O romance traz poesia e sensibilidade a cada sentença. Um livro que causa!!! Uma escrita em prosa, que te envolve pela leveza e densidade da história e dos personagens. Apesar de ser curto, me senti convidada a retomar a leitura de diversos parágrafos. Não é um livro para se engolir, sugiro degustá-lo calmamente. Cada sentença um convite para reflexão. Estou encantada. @valterhugomae, fique tranquilo, você certamente já é pai de mil homens e mais mil mulheres.
Entre mil trechos que me encantou:
"... todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fossemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós..."
Profile Image for Filipa Machado.
213 reviews6 followers
June 28, 2020
Neste livro podemos ler histórias que teriam tudo para serem infelizes mas todos arranjam forma de superar as suas tristezas. Numa força que acaba por vir de dentro de cada um deles, mas que vem também dos que os rodeiam e que ao mesmo tempo procuram essa felicidade que é “ser-se inteiro”. Belíssimo.
Profile Image for Simona.
208 reviews34 followers
July 20, 2024
Toto bola taka nadhera.... uplna....
Smutne a bolestive ale zaroven optimisticke.
Antonio, postava homosexuala a vztah s jeho matkou, je pre mna jeden z najkrajsich literarnych opisov vztahu matky a syna.
A kapitola, ked pride starec pytat o ruku, je jedna z najvtipnejsich, co som v poslednej dobe citala.
Profile Image for Joana  .
158 reviews122 followers
Read
June 4, 2022
Dnf - 50%

Foi o meu primeiro de Valter Hugo Mãe mas não vou desistir, dou sempre mais oportunidades aos escritores.

Não gostei da escrita meio infantilizada. Secalhar foi feito com esse propósito, mas sinto que não é para mim. Dei-o à minha irmã para ler. Ela está a gostar, portanto o problema pode ser meu.
Não sei se voltarei para ele. Provavelmente sim, mas não já. Deu para rir um pouco mas aborreceu-me a meio.
Profile Image for Julia Landgraf.
142 reviews71 followers
February 8, 2021
Um livro lindo. No primeiro 1/3 dele, eu estava completamente absorvida por todas as estórias e as vidas das personagens, bastante conectada com elas. Algo aconteceu ali pela metade do livro que me afastei, e no fim a experiência não foi tão profunda quanto estava julgando que seria.
Profile Image for Giovanna.
34 reviews1 follower
January 10, 2021
Desses livros que tiram nossa vontade de ler qualquer outra coisa, porque nada vai ser tão bom!
Profile Image for Adriano Abreu.
18 reviews78 followers
August 19, 2019
valter hugo mãe é poesia

O livro nasce do desejo do autor querer ter um filho, de chegar a uma certa idade e encontrar-se com a solidão. valter cria um primeiro capítulo belíssimo, onde o autor diz-nos que a solidão torna-nos seres pele metade. não era necessário mais nada, só por este capítulo.

Neste livro, o autor cria atrevo-me a dizer mesmo estando errado, na personagem Crisóstomo, o seu reflexo. Crisóstomo é talvez a personagem mais sensível que já alguma vez inventou, que tem algo a nos ensinar. Mas valter, tem muito carinho por este personagem e não quer desperdiça-lo logo nas primeiras páginas então apresenta-nos a um leque de personagens, cada um com a sua aprendizagem e vamos amadurecendo com elas.

Pouco a pouco, ao decorrer da leitura do romance vamo-nos apercebendo que valter vai construíndo uma família e que todas as história se interligam e se relacionam.

Com uma escrita sempre fluída e poética q.b, valter é sempre um porto de abrigo para mim. hei-de algum dia reler as suas obras para retirar sempre uma lição, um ensinamento.
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