O SL Benfica falhou a presença na edição deste ano da Champions League, ao perder com o PAOK, num jogo que foi decidido a uma mão, devido à pandemia que se abateu no mundo inteiro.
E é mesmo de uma pandemia que estamos a falar, uma vez que um pouco antes do COVID-19 já se começava a afigurar que algo não estaria certo naquilo que tinha sido operado no início de 2019 e que nos levou à conquista de um campeonato e de uma goleada ao Sporting na Supertaça. O que veio depois daí foi sucinto, mas no fundo, a consequência de uma ausência de estratégia desportiva que norteia a principal modalidade do clube.
Apesar da saída de Jorge Jesus em 2015, o Benfica ainda conseguiu dois campeonatos com Rui Vitória e outro com Bruno Lage, sendo que os outros dois foram conquistados por um FC Porto que de talento ou qualidade ao nível de jogadores se cinge a uma mão cheia deles e pouco mais.
O Benfica, quando poderia ter sido, ou pelo menos, tentado a ser penta abdicou de investir na construção das falhas que já existiam num plantel, que se pensou na altura em que todas as soluções estariam no Seixal.
No Seixal, está muita qualidade, e isso é um facto! Mas não é uma qualidade que permita ao clube apostar de olhos fechados para dar uma estabilidade que não consegue com jogadores no primeiro ano de sénior. É sempre preciso acrescentar experiência, para que os imberbes que vêm do Benfica Campus possam crescer e aprender diariamente com os mais velhos.
E ao longo do tempo isso foi passando e a melhoria que se exigia para a equipa não chegava. Na época passada, o investimento mudou de lado e começou a ser mais notório, mas a escolha do mesmo trouxe sempre dúvidas. Ninguém questiona a qualidade Julian Weigl, por exemplo, mas seria mesmo necessário ter o internacional alemão, quando temos Florentino? Não poderiam ter sido aproveitados os milhões gastos junto do Borussia Dortmund em dois laterais com qualidade?
E é aqui que se nota que o Benfica parece perdido e que procura um rumo. De quem será a responsabilidade de não se ter investido num plantel, que ao longo dos anos, foi sendo delapidado em qualidade?
O Benfica, hoje em dia, como que parece que se está a juntar nuns cacos, que mais dia, menos dia, se iriam juntar no chão. Os desequilíbrios dos plantéis eram uma realidade e ninguém tinha a coragem de dar um murro na mesa ou tentar mostrar que a solução não era aquela que se pensava que seria.
Pior… Se Bruno Lage não tem apostado em João Félix, provavelmente a extraordinária metade da época 2018/2019 não teria o fim que teve, mostrando mais uma vez que a estratégia adotada nunca foi a melhor.
E o que é preciso mudar? Que rumo tem de ter a equipa profissional do Benfica para que realmente a hegemonia seja uma realidade? Porque brincar com os números pode ser espectacular, mas dizer que o Benfica ganhou 5 dos últimos 8 campeonatos é o mesmo que dizer que dos últimos 3, só ganhou 1, ou que nos últimos 10 ganhou os mesmos 5. Confusos?
Confuso é pensar que numa equipa desportiva que tem (ou deveria ter) como principal objetivo ganhar as competições em que se encontra, prefira enaltecer os resultados financeiros e esteja dependente deles para encontrar sustentabilidade, através da venda de ativos. É certo que ganhou algumas vezes neste processo, mas o dinheiro gasto em contratações duvidosas, para não lhe chamar outra coisa, foi surreal. A quantidade de jogadores que assinou contrato com o clube e que nem sequer vestiu a camisola encarnada é inconcebível para um clube que deveria ter cuidado melhor da sua planificação e estratégia.
E isso demonstra que, ao mesmo tempo em que houve episódios destes, não se foi cuidando do que era necessário, que era o de reforçar a equipa em posições onde havia efetivamente lacunas. E isto foi acontecendo, ao longo dos anos. E ao longo dos anos, estes hábitos e vícios foram-se mantendo e acumulando na gestão diária do clube.
A qualidade foi diminuindo e não houve o cuidado de precaver o futuro de forma a manter uma estabilidade necessária para o tão desejado crescimento europeu que tanto era / foi apregoado.
E é esse o principal problema e falta de rumo do Benfica. O que é que se quer? O que é que se pretende? Que tipo de estratégia se tem para o futebol profissional do Benfica? Obviamente, que a resposta ideal e óbvia é “GANHAR”. Mas para ganhar, terá de ser de forma sustentada e para isso são necessárias criar bases que permitam esse crescimento e se quisermos chamar, dinâmica.
Dinâmica de vencer, de compreender que tipo de estratégia é necessária e que decisões tomar. A aposta no Seixal será para manter, como é óbvio, mas não poderá ser o turbilhão dos miúdos estarem 6 meses a 1 ano e depois serem vendidos como se de mercadoria se tratassem, sem que tenham hipótese alguma de vestir a camisola na equipa principal, para depois, passados anos, se lamentarem e dizerem que querem acabar a carreira no “clube do coração”.
Tem de haver comprometimento com o clube e aguentá-los o máximo, porque sabemos que o mercado não perdoa. E Ruben Dias tem sido o melhor exemplo do que se escreveu mais acima. E quantos mais “Rubens Dias” o Benfica aguentar, maior compromisso existe e o sonho se pode realizar.
Mas para isso acontecer, o paradigma tem de mudar, e este ano, curiosamente com o mesmo treinador que saiu em 2015, isso começa paulatinamente a acontecer. Vertonghen é um bom exemplo e Cavani poderia ter sido outro. E é com estes exemplos que as equipas crescem, aliando qualidade a irreverência e experiência a talento.
É olhar para a estrutura do Benfica e ver onde se tem falhado e corrigir. É não estar dependente de uma pessoa que quer, pode e manda. É explicar que não é assim que funcionam as organizações de sucesso e se o Benfica quer ser A empresa de sucesso desportivo que o clube tem de ser, terá de funcionar como um todo e não como um individual. Porque, “de todos, um”.
Era este o rumo que eu gostava que fosse discutido, mas acima de tudo, exigido e efetuado. E neste momento, e infelizmente, não vejo nenhum dos três desejos a ser concretizado.
▶ Texto enviado pelo benfiquista João Silva.
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