Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2019.
O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e recriaram laços de solidariedade, dependência e autoridade com indivíduos do mesmo grupo e com outros minas, em uma espécie de (re)encontro nas Américas.
O livro traz importante descoberta: a origem dos courás na África. Esse termo africano, traduzido para a língua portuguesa, era até então desconhecido. Este achado liga os dois lados do Atlântico, o que ainda é raro em investigações históricas. E revela uma das páginas mais surpreendentes da História da África e também da migração forçada de africanos para o Brasil colonial.
Os chamados courás vinham, originalmente, do reino de Uidá (reino de Ajudá para os portugueses; Whydah para os ingleses; Fida para os holandeses), no golfo do Benim. Era um pequeno e próspero Estado que viu o seu auge, no início do século XVIII, ao abrigar o mais importante “porto” do tráfico de escravos da África Ocidental. Mas que poucas décadas depois foi conquistado pelo Daomé, parceiro no infame comércio e força africana do interior daquela região.
Uidá passou, assim, de reino traficante a reino conquistado, e parte do seu povo foi escravizada e vendida para diversos pontos do continente americano, principalmente, para as áreas mineradoras de Minas Gerais. O povo de Uidá protagonizou um dos capítulos mais dramáticos e impressionantes da História da África e da diáspora africana.
O estudo aponta como a identidade courá / courana se metamorfoseou em Minas Gerais, tornando-se mais inclusiva. Tanto os Huedas e Hulas, dois grupos com intensa interação social e ambos habitantes do reino de Uidá e do litoral, passaram a se autoidentificar como courás e couranos na diáspora, mesmo que as distinções e contrastes identitários pudessem continuar a existir no interior da dita "nação" em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro.
Os courás eram originalmente povos agricultores, pescadores e produtores de sal na região costeira e com a diáspora passaram a viver em Minas Gerais e outras partes do Brasil colonial. O livro enfoca a presença africana desses indivíduos principalmente em duas das mais importantes localidades mineiras do período: Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (Mariana). E revela a luta desses africanos litorâneos para reconstruir suas vidas nas montanhas de Minas Gerais.
“Apoiado em vasta pesquisa conduzida nos arquivos coloniais, Moacir Maia renova a forma de compreendermos a história da experiência africana no Brasil ao analisar a diáspora dos povos courá dentro de uma moldura que abrange o litoral do golfo do Benim e o interior da América portuguesa. O autor joga luz sobre trajetórias vividas entre a escravidão e a liberdade, mostrando com muita sensibilidade as redes de solidariedade e as estratégias de resistência que os couranos desenvolveram por meio do batismo cristão, dos cultos voduns e da entrada nas irmandades católicas negras. Para além da tragédia do tráfico, emergem desta obra homens e mulheres com nomes, rostos, histórias e identidades construídas entre a África e Minas Gerais” (Aldair Rodrigues, professor do Departamento de História da Unicamp).
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