Achille Mbembe

A partir dos usos necropolíticos da memória escrava no Brasil pós-abolição, este ensaio analisa a figura do escravo como um ponto de singularização e acúmulo de uma série de tecnologias de poder (soberanas, pré, proto e ultradisciplinares, bio e necropolíticas) que poderiam oferecer uma grade de inteligibilidade para compreender a governamentalidade colonial e suas relações paradoxais com a abolição e a liberdade. Convocando as relações entre memória, história e intempestivo, e por meio da articulação entre textos do pensamento político ocidental antigo, moderno e contemporâneo, propomos descrever de forma interdisciplinar as relações entre o escravo e o fundamento da autoridade política como lógica de necropoder subterrânea que atravessa as figuras aparentemente díspares do escravo, do imigrante europeu, do trabalhador livre e do empresário de si neoliberal. Conclui-se que o desaparecimento da forma-escravo antiga e colonial não determina o fim da lógica escravista, mas sua difusão generalizada na figura de um escravo informe a que os trabalhadores livres, empresários de si mesmos e imigrantes dão consistência hoje.

O artigo aborda a gestão social e política capitalizada por interesses de mercado para tratar de seus efeitos que devastam as regras de convivência e as relações de alteridade. Destaca a lógica da guerra que favorece o estreitamento dos laços grupais que opera enquanto versão repaginada de um racismo que é destrinchado no conceito de necropolítica formulado por Achile Mbembe. Propõe um deslocamento da lógica da guerra para dialogar sobre a queda dos ideais e algumas linhas de resistência que a psicanálise oferece para traçar direções para o futuro.

A necropolítica travestida de narrativa religiosa no Brasil Por Thiago Teixeira Ao nos aproximarmos das compreensões do lósofo camaronês Achille Mbembe, enfrentamos uma relação que, a princípio, pode soar estranha, mas que, se estivermos atentos, descreve a realidade e os fenômenos que nos cercam. Na perspectiva do lósofo, há uma composição da realidade social que, de modo bastante agudo, articula quem merece viver e quem não merece. Nota-se que, por detrás dessa estrutura aparentemente simples se esconde uma realidade consideravelmente violenta e perversa.

Em 2018, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro publicou dados referentes  aos óbitos no interior das unidades prisionais (doravanteUPs) cariocas, devido à negligência dos           
serviços de saúde prestados. A partir do conceito de ​necropolítica, definido por Achille Mbembe, é possível conjecturar que o aumento exponencial dos óbitos no Sistema revelam aplanificação da
necropolítica nos centros de detenção, desvelando as consequências do encarceramento em massa e sobre que corpos recai a letalidade programada. O aumento descomunal do número de óbitos em centros de detenção cariocas nas últimas duas décadas demonstram as inovações nas tecnologias de produção da morte, que tencionam civilizar as maneiras de matar e eliminar um grande número de vítimas em um curto espaço de tempo.  Desde a análise documental dos relatórios de vistoria das UPs, produzidos regularmente a partir do ano de 2015 pela supracitada Defensoria Estadual, pretende-se demonstrar como o  superencarceramento - e as múltiplas violações que dele decorrem - promove a configuração da violência, que constitui a forma original do direito nos centros de detenção. Fundamentados por              políticas institucionais racistas que operam para o extermínio da população negra, esses dispositivos que matam ou expõe à morte se reinventam em novas tecnologias que definem os corpos descartáveis e naturalizam as práticas de desumanização.

From Lampedusa in Italy to Calais in France, a constellation of camps has spread across the continent. With the Mediterranean migration crisis continuing to unleash privation and mortality on the bodies of countless migrants, the camp is fast becoming Europe’s unofficial answer; a de facto solution to European political inertia. Having witnessed the birth of one such refugee camp – the ‘new Jungle’ in Calais – this editorial asks how we can respond to the prodigious and increasingly ‘necropolitical’ (Mbembe, 2003) realities of the migration emergency.

Comprendre les tensions et les conflits qui traversent le monde, dans les relations entre les peuples et les États, entre les gouvernants et les gouvernés, mais aussi dans l’émergence de nouvelles formes de pouvoir et de mobilisation ; étudier le politique à partir des rapports de pouvoir d’échelle planétaire qui s’exercent sur les individus, et qui occupent quotidiennement les médias et nos conversations : ces objectifs s’imposent avec force.

Pour y répondre, l’anthropologie politique a développé des outils d’enquête et d’analyse spécifiques, que ce manuel se propose de présenter d’une manière aussi synthétique et claire que possible. Élaborés à partir de l’étude du politique depuis les sociétés « tribales » jusqu’au monde contemporain, ces outils s’appuient sur la capacité de la discipline à regarder le politique « autrement ». En cela, ce manuel, bien que consacré au politique, peut aussi se lire comme une introduction à l’anthropologie générale vue sous l’angle du politique. Il donne en effet un aperçu de la manière dont l’anthropologie a, depuis sa naissance, décrit le monde et les nombreux changements qu’il a subis. Il s’agit donc d’un manuel sur l’anthropologie du politique, mais il offre aussi des clefs et des outils d’analyse pour comprendre comment faire de l’anthropologie politique, du point de vue des méthodes, des outils d’interprétation, des concepts et des considérations éthiques.

20 Here we could draw on how Dana Luciano extends the temporal dimension of the Foucauldian model of power relations in disciplinary societies to what she calls "chronobiopolitics" or the "sexual arrangement of the time of life," to which we would add ethnic and racial arrangements too. Within this extended framework, Luciano argues, the body "cannot be temporalized in relation to (its) death alone; rather, it becomes implicated in a proliferation of temporalities dominated by, but not limited to, the linear, accumulative time of development, the cyclical time of domestic life, the sacred timelessness of the originary bond and of the eternal reward toward which the faithful subject progressed; or, beyond these norms, the wayward time of perversity, the nonprogressive time of pure sensation, et cetera." See

Cuando iniciamos el proyecto de este libro, nos dimos cuenta de que, en los países con un pasado colonial, la violencia se dice de muchas formas, las cuales como carne y cicatriz han quedado inscritas, tanto en el registro histórico como en el pulso del presente. Ocultas en la lejanía del pasado, e inscritas en la naturalidad del presente, suelen presentarse como independientes de toda causalidad histórica y de toda articulación sistemática, carentes de unidad y sin posibilidad de encontrar la lógica y la racionalidad que las promueve. Como si se tratara de acontecimientos aislados, propios de las condiciones económicas y sociales que determinan a nuestros países y como resultado del comportamiento y las acciones, siempre insuficientes, de nuestra gente.
Ya pasado un tiempo, y luego de una serie de eventos sociales, políticos, pero también personales que ralentizaron el proceso editorial, hemos sido testigos en América Latina (y en el mundo entero), de los procesos históricos más intensos de las últimas décadas. Paradójicamente, donde las políticas de la muerte han hecho su aparición de la forma más grotesca.
Nos entristece, en cierta forma, dar curso a un trabajo académico como este, en un contexto donde las condiciones vitales de gran parte de la humanidad están siendo vulneradas; pero, por otro lado, sentimos cada vez más necesario que el trabajo intelectual sea un fiscalizador y denunciante permanente de las prácticas de gobierno que establecen los marcos de la excepcionalidad.
Consideramos, que podemos rastrear —en parte— la complejidad de las causas que provocan las mil formas de la muerte, a través de un pensamiento crítico, que indaga y cuestiona, desde su núcleo, a la modernidad/colonialidad y sus consecuencias.
Para denunciar la vigencia de la necropolítica, nos dimos a la tarea de reunir diversas lecturas acerca de la obra del pensador camerunés Achille Mbembe, como punto de partida para emprender un trabajo de esta naturaleza. Así pues, el ejercicio que nos ocupa lleva al aparato conceptual del filósofo a confrontarse con diversas latitudes; su fuerza nos permitirá analizar desde el mordisco histórico de los perros en el México de la Conquista, como los asesinatos de mujeres olvidadas en el desierto, hasta las desapariciones y el terrorismo de Estado, las masacres y los genocidios, pasando por la omisión política, el olvido, el silencio y el abandono. A pesar de todo, nuestro trabajo no se limita a una simple ubicación geográfica, sino que responde a una voluntad sistemática de dar la muerte que se hizo y se sigue haciendo concreta, en múltiples territorios y en innumerables víctimas.
En efecto, acometer un estudio de esta naturaleza implica una mirada múltiple y un lenguaje complejo, un conjunto discursivo que esté en condiciones de explorar la multiplicidad de las formas de la muerte y la violencia que nos ocupan. Por ende, reflexionamos desde la sociología, pero también desde la antropología, la historia, la filosofía o la ciencia política. Una diversidad de disciplinas que se enriquecen, a su vez, de la pluralidad de voces y registros que, de África a Latinoamérica, se confrontan con la muerte.
Si bien durante estos últimos años se ha insistido en deseurocentrizar tanto las miradas como los enunciados sobre la formación social hegemónica, nos hemos dado cuenta de que desgraciadamente los debates siguen girando en torno a las pautas marcadas por la academia «blanca». En ese sentido, nuestro interés en dialogar con el pensamiento de un autor que proviene del «Sur global» radica en intentar ir más allá de los marcos impuestos por el canon académico institucional. Sin embargo, no adscribimos «a pie juntillas» a la propuesta teórica planteada por Mbembe, pues consideramos que algunas de sus tesis merecen ser cuestionadas y, además, esta compilación está lejos de ser un trabajo exegético. Aun así, creemos que un acercamiento desde nuestra América puede contribuir a la construcción de un verdadero diálogo desde los márgenes. 
Si en algo los autores aquí reunidos han convergido es en la constatación de que la modernidad es un proyecto de muerte. Por consiguiente, es necesario no solo comprender su dinámica necrofílica (acentuada por el valor que se valoriza), sino, incluso, confrontarla desde una posición política e intelectualmente bien definida para poder seguir nutriendo la posibilidad de que otra civilización sea posible.