MICHAL VOJTÁŠ
PEDAGOGIA
SALESIANA DEPOIS
DE DOM BOSCO
edebe
e di t ora ■
■
A p e d a g o g ia s a le sia n a d e se n v o lv e re flex õ es q u e s u p e r a m a r e c o n s tr u
çã o h is tó ric a d o s c o n te x to s , d a s e x p e riê n c ia s e d a s v isõ es o rig in á ria s d e
\ i
D o m B o sco s o b re a e d u c a ç ã o . A p e s q u is a p u b lic a d a n e ste v o lu m e , p ro s s e
g u in d o n e ssa tra je tó ria , e s tu d a p r im a r ia m e n te as fo rm u la ç õ e s p e d a g ó g i
cas d a s g e ra ç õ e s su ce ssiv a s e, e m nível d e m é to d o , te n ta in clu siv e s u p e r a r
a e s te rilid a d e d a s re c o n s tru ç õ e s d o c u m e n ta rís tic a s .
A in te n ç ã o d e c o n e c ta r D o m B o sco c o m o s d e sa fio s e d u c a tiv o s d e h o je
p a ssa p e la v iv ê n c ia d a s d iv e rsa s é p o c a s c o m se u s d ife re n te s m o d o s d e
p e n sa r. E ssas m e n ta lid a d e s re fo rç a m a lg u m a s n o v a s id eias p e d a g ó g ic a s,
o m itin d o o u tra s , p re fe re m a lg u m a s m o d a lid a d e d e aç ão , d e se n v o lv e m r e
flex õ es, a lg u m a s p ro fé tic a s e c o ra jo sa s, o u tra s m a is d e a c o rd o c o m a m e n
ta lid a d e a tu a l o u c o m s o lu ç õ e s d e e m e rg ê n c ia .
O a lte r n a r-s e d a s m u d a n ç a s c o m p o rta , a ssim , u m a c o m p le x a c o m b i
n a ç ã o d e in e v itá v e is d in â m ic a s p e n d u la r e s e n tre as v isõ e s p e d a g ó g ic a s
a b o r d a d a s n o s seis c a p ítu lo s:
1. F o rm u la ç õ e s p e d a g ó g ic a s d a p rim e ira g e ra ç ã o
2. P e d a g o g ia p rá tic a c a p a z d e se a d a p ta r à s o c ie d a d e m o d e r n a
3. F id e lid a d e d is c ip lin a d a a D o m B osco, e d u c a d o r e m te m p o s d ifíce is
4. A n te s, d u r a n te e d e p o is d a s m u d a n ç a s d o V a tic a n o II
5. P ro je ta ç ã o e a n im a ç ã o c o m o sín te se s p ó s -c o n c ilia re s
6. N o v a e v a n g e liz a ç ã o e n o v a e d u c a ç ã o p a ra o te rc e iro m ilé n io
M ichal V ojtàs é u m S alesian o de D o m Bosco, p ro fesso r n a c á ted ra
de h istó ria e p ed ag o g ia salesian a n a F acu ld ad e de C iências d a E d u ca
ção d a U n iv ersid ad e P o n tifícia Salesiana d e R om a e d ire to r d o C e n tro
de E stu d o s D om B osco d a m esm a u n iv ersid ad e. N a área d a p ed ag o g ia
salesiana e d a lid e ra n ç a ed u cativ a p u b lico u os vo lu m es P rojetar e dis
cernir e R e v iv in g D o n B o sco s O ratory.
CENTRO STUDI
DON BOSCO
“
Università Pontifícia Salesiana
c s d b . u n is a l . it
SALESIAN.ONLINE
ISBN 978-65-5885-267-4
edebe
ed itora
10. 02. 00015
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9
786558 852674
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P E D A G O G IA SALESIA N A D E P O IS D E
D O M BO SCO
M ICH A L VOJTÁŠ
T rad u ção
D . H ilá rio M o s e r
P ub licações do
C E N T R O D E E STU D O S D O M B O S C O
E stu d o s e su b síd io s - 1
V 898 p
V ojtás, M ichal
Pedagogia salesiana dep ois de D o m B osco/ M ichal Vojtás
T radução d e D o m H ilário M oser - Brasília: E debê Brasil, 2022.
520 p., tab.;
T ítu lo orig in al: P ed ag ogia salesiana d o p o D o n B osco
ISBN
97 8-65-5 885-267-4 (Im presso)
97 8-65-588 5-268-1 (D igital)
1. P edagogia. 2. E sp iritu a lid a d e salesiana. I. M oser, D o m H ilário. II. Título.
C D U 37.013:271.789.1
D ad o s in te rn acio n ais p a ra C ata lo gação n a P ublicação (C IP )
(M ayara C risto v ão d a Silva / C RB 2812 / B rasília, DF, Brasil)
A e d iç ã o d e s t a o b r a e m lín g u a p o r t u g u e s a f o i p r o m o v id a e o r g a n iz a d a p e la C IS B R A S IL .
D ir e t o r g e r a l:
P. N iv ald o Luiz P essinatti
G e r e n t e e x e c u tiv a :
Ir. A d air A p arecid a Sberga
C o o r d e n a d o r a e d ito r ia l:
E d ito r a :
G io v an n a F arago
A d air A p arecid a Sberga
T r a d u to r:
D o m H ilário M ose r
R e v is o r a :
Z e n e id a C ere ja d a Silva
S u p e r v is o r d e p r o d u ç ã o e d it o r ia l:
D ia g r a m a d o r :
A n d e rso n B. de F ig ueiredo
M arcílio H . C an u to
P r o d u t o r G r á fico :
P r o d u t o r d ig ita l:
L uciano S a n ta n a
M arcílio H . C an u to
P r o je t o g r á f ic o e c a p a :
R o b e rta B raga
E d it o r a E d e b ê B r a s il L td a .
SHC S C R Q u a d ra 506, Bloco B, Loja 59
A sa Sul - B rasília-D F C E P 70350-525
Telefone: (61) 3214-2300 - Fax: (61) 3214-2346
Site : w w w .edebe.co m .b r
Texto © M ic h al V ojtás, 2021
T ítu lo original: P ed ag ogia S alesiana d o p o D o n Bosco
T ra d u ção au to rizad a: P ed ag ogia S alesiana D epois d e D o m B osco
FSC*C 174640
SU M Á RIO
P R E F Á C I O ....................................................................................................................... 1 3
I N T R O D U Ç Ã O ............................................................................................................... 1 7
A B R E V I A Ç Õ E S .............................................................................................................. 2 5
1.
F o r m u l a ç õ e s p e d a g ó g i c a s d a p r i m e i r a g e r a ç ã o s a l e s i a n a ( 1 8 8 8 - 1 9 1 7 ) ......... 2 7
1.1 A p rim e ira geração dos Salesianos n a passagem do s é c u lo ......................... 27
1.1.1 O desafio d o “livre p e n s a m e n to ” a n ticle rica l ...........................................28
1.1.2 A reação da Igreja en tre n o v o s equ ilíbrios e o co n serva d o rism o .............. 30
1.1.3 Id e n tid a d e e evo lu çõ es da escola sa lesia na ................................................ 33
1.1.4 Segunda revolução in d u stria l d o s ú ltim o s d ecén io s d e 1800 .................... 35
1.1.5 A R eru m N o v aru m e a crescente sen sib ilid a d e so cia l d o s S a le sia n o s.... 36
1.1.6 O n a sc im e n to das escolas profission ais e agrícolas sa le sia n a s ..................38
1.1.7 O utras obras sociais: oratórios, asilos da in fâ n cia e in te rn a to s
pa ra operá ria s .............................................................................................40
1.2 L inhas pedagógicas dos S uperio res n u m te m p o de forte e x p a n s ã o .............43
1.2.1 O p a d r e M ig u e l R u a e a fid elid a d e criativa ao S istem a P reven tivo
d e D o m B o s c o ............................................................................................44
1.2.2 B o n d a d e e zelo d o educa do r p o r um a educação p ro fu n d a e duradoura... .47
1.2.3 A s lin h a s para o s oratórios e os ex-alun os .................................................. 50
1.2.4 A p lic a çõ es da R eru m N o v a ru m ................................................................52
1.3 As prim eiras form ulações d a pedagogia salesiana p o r parte dos colaboradores
de D om B osco ....................................................................................................55
1.3.1 A "Pedagogia sagrada”d o p a d r e Júlio B arberis c o m o te xto fo rm a tiv o
d e b a se ......................................................................................................... 55
1.3.2 Padre Francisco C erruti, p r im e ir o co nselheiro escolar-geral ................... 65
1.3.3 O p a d r e Jo sé B ertello e a transform ação das oúcinas em
escolas p ro ú ssio n a is .................................................................................... 70
1.4 In stru m e n to s e re c u rs o s .................................................................................. 74
1.4.1 Tabela c ro n o ló g ica ..................................................................................... 74
1.4.2 Bibliografía se le c io n a d a ............................................................................ 76
1.4.3 R ecu rso s o n -lin e ..........................................................................................80
2.
P e d a g o g ia p r á tic o -e x p e r ie n c ia l c a p a z d e s e a d a p ta r à s o c ie d a d e
m o d e r n a ( 1 9 0 2 - 1 9 3 1 ) ............................................................................................... 8 1
2.1
O
orató rio na sociedade de m assa e as m issões na época do co lonialism o.... 81
2.1.1 O fe n ó m e n o d o te m p o livre e su as im p lica çõ es. ......................................81
2.1.2 So cied a d e d e m assa e o c re sc im e n to d o a sso c ia cio n ism o ...................... 83
2.1.3 A adaptação d o s o ra tórios salesianos n o s in íc io s d e 1900 ..................... 84
2.1.4 O s eq u ilíb rio s e a an im a çã o d o centro: B o letim , con gresso s
e r e g u la m e n to s ........................................................................................... 86
2.1.4.1 Situação concreta d o s oratório s .......................................................... 90
2.1.4.2 D e se n v o lv im e n to e te n sõ es n o a sso cia cio n ism o sa le sia n o ...............93
2.1.5 A P rim eira G uerra M u n d ia l e o s S a le sia n o s ........................................... 96
2.1.6 O p ó s-g u e rra e o a d ven to d o fa s c is m o .................................................... 99
2.1.7 A id a d e d e o u ro d o c o lo n ia lism o e as m issõ e s salesia nas .................... 101
2.1.7.1 N a scim en to d o m é to d o m issio n á rio salesiano na A m éric a Latina... 102
2.1.7.2 D e s e n v o lv im e n to d o m é to d o m issio n á rio d ep o is da
P rim eira G uerra M u n d ia l. .................................................................104
2.1.7.3 Os esforços da enculturação ................................................................106
2.1.8 N o v a s tipolog ias d e p resen ça s sa le sia n a s .............................................. 109
2.2 O m ag istério dos S u p erio res-G erais acerca d a adaptação flexível
às c irc u n stân cias.............................................................................................111
2.2.1 O s eq uilíb rio s d o p a d re P aulo Á lb era q u a n to à fid elid a d e e à p ie d a d e
n a ed u ca ç ã o ..............................................................................................112
2.2.2 O P adre F elipe R in a ld i e a prá tica d e u m a "sadia m o d e r n id a d e " .........117
2.2.3 C on figuração pe d a g ó g ica da n o v id a d e d o S istem a P re v e n tiv o ............119
2.2.4 P a ternidad e e un iã o c o m D e u s c o m o fu n d a m e n to s da
educação salesian a ................................................................................... 121
2.2.5 F o rm açã o e d u ca tiv o -ex p erie n cia l e im p o rtâ n cia d o tir o c ín io .............125
2.2.6 A s com panhias salesianas, a A çã o Católica e outras organizações ju v e n is . 129
2.3 A utores de p edagogia salesian a n a d écad a de 1920.....................................131
2.3.1 O p a d r e Faseie e a pe d a g o g ia salesiana e x p e rie n c ia l ............................ 132
2.3.2 P. C im atti e o “D o m B osco ed uca dor”n o con fro nto co m o p o s itiv is m o .. 135
2.3.3 R eflex õ es p ed a g ó g ica s e m â m b ito fra n có fo n o : Sc a lo n i e A u ffr a y ........141
2.4 In stru m e n to e re c u rso s.................................................................................. 145
2.4.1 Tabela cro n o ló g ica ................................................................................... 145
2.4.2 B ibliografia sele c io n a d a .......................................................................... 147
2.4.3 R ec u rso s o n -lin e ...................................................................................... 152
F id e lid a d e d is c ip lin a d a a D o m B osco s a n to em te m p o s de
a d v e rsid a d e s (1 9 2 9 -1 9 5 1 )................................................................................... 153
3.1 O colégio salesiano, "a ilha que previne" os influxos do s te m p o s difíceis... 154
3.1.1 Regim es autoritários e totalitários que educam u m "homem n o v o "............154
3.1.2 M issã o educativa da Igreja e os efeito s da “D ivini Illius M agistri”.......157
3.1.3 C o m p ro m isso s e equilíbrios salesianos relacionados co m a canonização
d e D o m B o s c o ........................................................................................... 160
3.1.4 O colégio salesian o - in stitu iç ã o educativa p r e d o m in a n te e criadora
d e m e n ta lid a d e .........................................................................................163
3.1.4.1 A lg u m a s m u d a n ça s na vid a concreta dos colég ios-in terna to ........... 164
3.1.4.2 C onsequências das m uda nças - disciplina m ais m ilita r do
que fa m ilia r .........................................................................................168
3.2 L inhas do R eitor-M or, p a d re P edro R icald one - fidelidade, catequese
e e s tu d o ........................................................................................................... 170
3.2.1 A unid ade, a fo rm a çã o e o e stu d o cien tífic o d o In s titu to S u p erio r
d e P ed a g o g ia .............................................................................................171
3.2.2 O a m o r c o m o inspiração e a disciplina c o m o m e io geral da ed u ca çã o ... 175
3.2.3 A evolução da ca tequese so b fo rm a d e "C ru zad a"................................. 178
3.2.4 A qu estã o d o s d iv e rtim e n to s levada ao e x tr e m o ...................................183
3.2.5 Síntese: o p a ra d ig m a d o "colégio so b a ssé d io " .......................................187
3.3 A utores d e pedagogia sa le sia n a.....................................................................188
3.3.1 P adre C arlos L e ô n c io da Silva e a inspira ção n e o to m ista d o In stitu to
S u p erio r d e P ed ago gia ............................................................................. 189
3.3.2 O “D o m B osco E d u c a d o r” e os p a ra d o xo s d e u m m a n u a l peda g ó g ico
"m agisterial" ..............................................................................................194
3.3.3 Padre A lberto Caviglia - voz dissonante co m u m pote n cial para o fu tu r o . 201
3.4 In stru m en to s e re c u rs o s ................................................................................ 205
3.4.1 Tabela c ro n o ló g ic a ................................................................................... 205
3.4.2 Bibliografia selecio n ad a ........................................................................... 207
3.4.3 R e c u rso s o n -lin e ....................................................................................... 210
A n t e s , d u r a n t e e d e p o i s d a s m u d a n ç a s d o V a t i c a n o I I ( 1 9 5 2 - 1 9 7 8 ) ............ 2 1 1
4.1 O contexto social, educativo e eclesial p o r ocasião do C oncílio Vaticano I I .... 211
4.1.1 A reco nstruçã o p ós-b élica e u m a crescente consciência m u n d ia l ......... 212
4.1.2 E vo lu çã o da p ed a g o g ia católica n a m e ta d e da década d e 1960 .............214
4.1.3 O In s titu to S u p erio r d e P ed ago gia .......................................................... 216
4.1.4 A virada d o C o n cílio Vaticano I I na G ravissim um E d u ca tio n is...........222
4.1.5 O Vaticano I I e a m e to d o lo g ia dialógica d o s C apítulos G erais .............226
4.1.6 O p ó s-c o n c ílio na C on greg a çã o ..............................................................229
4.1.7 O P o n tifíc io A te n e u Salesiano n a n o va sed e r o m a n a ............................ 232
4.2 L inhas pedagógicas n o m agistério salesiano p o r ocasião do
C oncílio V aticano I I ....................................................................................... 238
4.2.1 Cartas d o pa dre R enato Ziggio tti na lógica da m undialização do carisma.. 238
4.2.2 A virada p a rcia l n ã o realizada p e lo C G 1 9 ............................................. 242
4.2.2.1 Os conteúdos do CG 19 referentes à educação-pastoral ..................... 244
4.2.2.2 A aplicação do C G 19 na área ed uca tivo-pasto ra l .............................248
4.2.3 O p ro c e sso d e re p e n sa m e n to d o C ap ítulo G eral E sp ecia l .................... 253
4.2.4 O C a pítulo G eral E specia l e o s te m a s ed u ca tiv o -p a sto ra is ................... 256
4.2.5 O s efeito s o p erativos d o C G E ..................................................................259
4.2.6 O p a d r e R icceri e a g estã o d o c o n flito .................................................... 263
4.3 A utores e m ovim entos de pedagogia salesiana p o r ocasião d o V aticano II... 266
4.3.1 A bonda de [amorevolezza] co m o chave de leitura d o "primeiro B raido "... 266
4.3.2 A seg u n d a edição d o "Sistema P reve n tiv o " d o p a d r e B ra ido c o m u m a
sen sib ilid a d e m a is h is tó r ic o -c r ític a ........................................................ 271
4.3.3 O p a d re Braido e a m etodologia educativa n o b in ó m io "
am or-disciplina ",......................................................................................... 273
4.3.4 E n c o n tro s so b re a atualização da ped a g o g ia salesiana .......................... 275
4.3.4.1 D o m Bosco educador, hoje (1960) ......................................................276
4.3.4.2 O siste m a ed u ca tiv o de D o m Bosco en tre p ed ag og ia an tiga
e m o d e rn a (1 9 7 4 ) ..............................................................................279
4.3.5 O s C o ló q u io s sa lesia nos .......................................................................... 282
4.3.6 O p a d r e G in o C orallo fora d o coro das vo zes da ép o ca ........................ 285
4.4 In stru m e n to e re c u rs o s .................................................................................. 290
4.4.1 Tabela c r o n o ló g ic a ................................................................................... 290
4.4.2 B ibliografia selec io n a d a ........................................................................... 292
4.4.3 R e c u rso s o n -lin e ....................................................................................... 296
P ro je taç ão e an im açã o , d o is n ú cleo s d e sínteses p ed ag ó g icas (1 9 7 8 -1 9 9 8 )... 297
5.1 O últim o quartel do século e a consolidação sob a guia dos padres Viganò
e V ecchi........................................................................................................... 297
5.1.1 G lobalização crescen te n o ú ltim o qu a rtel d o sécu lo X X . ..................... 298
5.1.2 A Igreja e a p a sto ra l ju v e n il c o m a m a rca d e João P aulo I I .................. 300
5.1.3 S ín tesesp ó s-co n cilia re s e consolidação organizativa da Congregação
(1978-2000 ) ...............................................................................................304
5.1.3.1 A provação definitiva das C onstituições (1984) e sistem atização
da fo rm a çã o (19 81 -1 98 5) ...................................................................305
5.1.3.2 Projeto Á frica e as dinâm icas de desen vo lvim en to ............................ 307
5.1.3.3 D inâ m icas do pessoal nas obras, entre os núm eros e a retó ric a ....... 309
5.1.4 D a pedago gia às ciências da educação co m um a interdisciplina rida de
(im jp o ssív e l. ..............................................................................................312
5.1.5 A p ro je ta çã o ed uca tiva e suas teorias d e su p o rte. .................................. 315
5.2 As linhas pedagógicas do m agistério salesian o ........................................... 318
5.2.1 A s co ncepçõ es da projetação ed uca tivo -p a sto ra ln o CG21 (1978) .......... 318
5.2.1.1 Projetação linear: situação-objetivos-m eios ....................................... 319
5.2.1.2 Projetação sistémica: atitudes dos educadores e o am biente educativo... 321
5.2.1.3 O pro jeto com o in stru m en to o p era tivo ..............................................322
5.2.1.4 Projeto, u m term o com u m cam po sem ân tico (m u ito ) a m p lo .......... 323
5.2.2 Padre E g íd io Viganò:projetação, nova educação e nova evangelização... 326
5.2.3 P adre João E d m u n d o Vecchi, a n im a d o r da con ceitu aliza çã o d o
P E P S (1 9 7 8 -1 9 8 0 ) .................................................................................... 331
5.2.3.1 M etodologia da projetação salesiana (1 9 7 8 ) .....................................331
5.2.3.2 A p ro fu n d a m en to s e aplicações da projetação em diversos am bientes
educativos (1 9 7 9 -1 9 8 1 ) ......................................................................335
5.2.3.3 O peratividad e da projetação na década de 1 9 8 0 .............................. 337
5.2.4 A década d e 1990: a educação à f é e a espiritualidade salesiana ........... 340
5.2.5 A revisão d o sp ro je to s inspetoriais e a corresponsabilidade d o s leigos... 344
5.3 As lin h as ped ag ógicas dos m aio res au tores salesianos de re fe rê n c ia .........349
5.3.1 O se g u n d o Braido, fu n d a d o r d o In s titu to H istó ric o Salesiano .............349
5.3.1.1 A síntese do "Prevenir, não re p rim ir" ............................................... 350
5.3.1.2 O rigor científico e o problem a das d ep en d ên cia s ............................. 354
5.3.1.3 A tu aliza çã o do Sistem a P reventivo ....................................................356
5.3.2 Colaboração entre o D icastério d a P J e a UPS sobre a projetação ............. 359
5.3.2.1 O Sem iná rio P rojetar a educação, hoje, com D o m Bosco (1 9 8 0 ) ..... 359
5.3.2.2. A publicação do Projeto E ducativo Salesiano. E lem entos
m odulares (1 9 8 4 ) ............................................................................... 363
5.3.2.3. O Encontro Praxe educativa pastoral e ciências da educação (1987).... 367
5.3.3. Reflexões pedag ógicas das FM A e n tre reciprocid ade, co educação
e educação d a m u lh e r............................................................................. 370
5.3.4. A a n im a çã o so c io c u ltu ra l d e Tonelli, P ollo e E lle n a ............................ 376
5.3.4.1 A anim a ção cultural de M ário Pollo .................................................. 377
5.3.4.2. As implicações educativas da anim ação do pa dre Ricardo Tonelli. ..380
5.3.4.3. A anim açã o social do p a d re A ld o E lle n a .......................................... 384
5.3.5 A cisão m eto d o ló g ica en tre a religião e a ed u c a ç ã o .............................. 386
5.4 In stru m e n to s e re c u rs o s ................................................................................ 393
5.4.1 Tabela c ro n o ló g ic a ................................................................................... 393
5.4.2 Bibliografia se le c io n a d a .......................................................................... 395
5.4.3 R ec u rso s o n - lin e ...................................................................................... 400
N ova evangelização e n o v a ed u cação p a ra o te rc eiro m ilén io (1998-2018).... 401
6.1 Situação - o p ó s-m o d e rn o e a C ongregação S alesian a............................... 401
6.1.1 Situação m u n d ia l d o terceiro m ilé n io en tre preca ried a d e e liq u id e z ... 401
6.1.2 A C ongregação salesiana r u m o a um a in tercu ltu ra lid a d e
p o u c o o c id e n ta l ........................................................................................ 403
6.1.3 B e n to X V I e F rancisco - acentu açõ es ed ucativa s diversas,
m a s c o m p le m e n ta re s ............................................................................... 408
6.1.4 O d ig ita l en tre in stru m e n to , espaço e s ím b o lo d e u m a g era çã o .......... 411
6.1.5 O s jo v e n s a d u lto s e o IU S c o m o n o v o c a m p o d e ação .......................... 414
6.1.6 E du ca ção p ó s-in d u stria l, lean m a n ag em e n t e im p o rtâ n cia da
lidera nça tr a n sfo rm a d o ra ....................................................................... 418
6.1.7 Q u e jo v e n s em erg em d o S ín o d o d e 2018? ............................................. 420
6.2 As linhas pedagógicas divulgadas p o r R om a n a passagem do m ilé n io
423
6.2.1 D o m è n e c h e as sín te ses d o Q ua dro d e R eferência (19 98 e 2 0 0 0 ) ........423
6.2.1.1 A p rim eira edição do Q uadro de Referência (1 9 9 8 ) ......................... 424
6.2.1.2 O dilem a da unidade orgânica e da divisão em dim ensões do PEPS..A25
6.2.1.3 A com un ida de educativo-pastoral em fu n ç ã o do projeto .................. 428
6.2.1.4 A m etodologia da elaboração e da avaliação do P E P S ..................... 429
6.2.1.5 A s integrações m etodológicas da segunda edição do Q uadro
de R eferên cia ...................................................................................... 430
6.2.2 Santidade, esp iritu alida de e evangelização n o m a g istério d o
p a d re P ascual C h á vez V illa n u e va ........................................................... 432
6.2.3 O p a d re C hávez, a atenção às n o v a s p o b re za s e o c a m in h o do s
direito s h u m a n o s ..................................................................................... 436
6.2.4 N o v o s p r o je to s e o m é to d o d o d isc e rn im e n to .......................................439
6.2.5 P adre Fábio A tta r d e a terceira edição d o Q u a d ro d e R eferên cia .........443
6.2.6 O B icen te n á rio e o s p r im e ir o a n o s d o reitorad o d o
p a d r e F e rn á n d ez A r ti m e ......................................................................... 449
6.3 As co rren tes de p en sam en to pedagógico salesiano n o terceiro m ilén io
453
6.3.1 A visão histórico-crítica da educação salesiana .....................................453
6.3.2 A p a sto ra l ju v e n il e a p rio rid a d e da eva n g e liza çã o ............................... 457
6.3.3 O acom pa nh am en to , n o v o parad ig m a para a educação p ó s-m o d e rn a ... 463
6.3.3.1 Os traços do aco m pa nh am en to sa lesian o .......................................... 465
6.3.3.2 Os desafios e as respostas co ntem porâneas ........................................ 468
6.3.3.3 Um olhar m u n d ia l e realista a respeito do a co m p a n h a m en to .......... 471
6.3.4 Pedagogia tra n sfo rm a d o ra e virtu osa q u e supera a pro je ta çã o
pa ra efeito d e o b je tivo s ............................................................................ 474
6.3.5 F orm ação salesiana d o s ed uca dores a d u lto s ..........................................480
6.3.6 D eclínio s, in o v a ç õ e s e in tu iç õ e s "setoriais”........................................... 484
6.3.7 U m a conclu sã o aberta en tre o S ín o d o e a C o v id 19 .............................. 489
6.4 In stru m en to s e re c u rs o s ................................................................................ 493
6.4.1 Tabela cro n o ló g ica ................................................................................... 493
6.4.2 Bibliografia s e le c io n a d a .......................................................................... 495
6.4.3 R ec u rso s o n - lin e ...................................................................................... 500
P O S F Á C I O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ' . . .. . . .. . . .. . . .. . . . .. . . .. . . .. . . .. . . .. . . . .. . . .. . . .. . . .. 5 0 1
Tentando redescobrir o Sistem a P reventivo .................................................... 503
1. O relançam ento do "honesto cidadão" e do "bom cristão" ......................... 506
2. O retorno aos jo v en s com m a ior qualificação .............................................510
3. U m a educação do coração ...........................................................................514
A m odo de conclusão ....................................................................................... 516
B IB L IO G R A F IA , ÍN D IC E E U L T E R IO R M A T E R IA L
O N LINE.. .. ... .. .. .. .. .. ... .. 5 1 8
PR E FÁ C IO
A lg u m a s lin h a s p ro g ra m á tic a s p a ra o sex ê n io 2 0 2 0 -2 0 2 6 1 o fe re c e m o
c o n te x to in te rp re ta tiv o d este v o lu m e so b re a p e d a g o g ia sa le sia n a , q u e lig a
a e x p e riê n c ia fu n d a d o ra d a p rim e ira g e ra ç ã o s a le sia n a co m as d iv ersas
ép o c a s até os n o sso s d ias. D ad o q u e o a u to r M ic h a l V ojtás p ro p õ e -se a
tra ta r d as d iv e rsa s m e n ta lid a d e s p e d a g ó g ic a s co m v ista s à a tu a liz a ç ã o p re
sen te e fu tu ra, a s sin a lo aq u i a v ir tu d e d a e s p e r a n ç a co m o p rin c íp io -g u ia
p a ra a leitu ra. S o m en te co m a e s p e ra n ç a p o d e m o s e n fre n ta r o fu tu ro , c o n
fian d o q u e o S e n h o r le v a rá a b o m te rm o n o ssa s h u m ild e s c o n trib u iç õ e s de
m en te e de ação.
A e s p e ra n ç a p o ssu i u m a re la ç ã o p riv ile g ia d a co m o tem p o , p o is, p o r
um lad o , p e rm ite o lh a r o fu tu ro co m fé e co m a atitu d e d e co n fian ça na
P ro v id ê n c ia , tão ca ra a D o m B o sco ; p o r o u tro , e n ra íz a -s e n u m a c o n te m
p la ç ã o do p a ssa d o re p le ta de g ra tid ã o p e lo cam in h o p e rc o rrid o . A h is tó
ria d a p e d a g o g ia s a le sia n a faz p a rte d isso , re sp o n d e aos d esafio s e aco lh e
os e stím u lo s d as d iv e rsa s ép o cas, d á c o n tin u id a d e a a lg u m a s in tu iç õ e s
p ro fé tic a s v iv id a s n o o ra tó rio de V ald o cco , to rn a o p e ra n te o pensam ento
m ediante indicações m etodológicas q u e criam e q u ilíb rio , o rd em e o rg a n iz a
ç ão s iste m á tic a e n tre as in tu iç õ e s c o n c re ta s n a sc id a s d e g ra n d e n ú m e ro de
ric a s in ic ia tiv a s do m u n d o sale sian o .
C o m o d iz o P a p a n a su a m e n sa g e m aos sa le sia n o s re u n id o s p a ra o C a
p ítu lo G eral 28: « N em p e ssim ista , n em o tim ista , o S a le sia n o do sécu lo
X X I é u m h o m e m ch eio de e s p e ra n ç a p o rq u e sab e q u eo seu cen tro e stá no
S enhor, c a p a z de fa z e r n o v as to d as as co isa s (cfr. A p 21, 5). Só isto n o s
s a lv a rá de v iv e r n u m a a titu d e de re sig n a ç ã o e so b re v iv ê n c ia d e fe n siv a . Só
isto to rn a rá fe c u n d a a n o ssa v id a » .O d e s e n v o lv im e n to p ro g re ssiv o do p e n
sam e n to p e d a g ó g ic o sa le sia n o e n sin a -n o s q u e « v iv e r fie lm e n te o c a rism a é
q u a lq u e r c o isa m ais ric a e e s tim u la n te que o sim p le s ab a n d o n o , re m e d e io
o u re a d a p ta ç ã o das a tiv id a d e s; c o m p o rta u m a m u d a n ç a de m e n ta lid a d e
d ia n te d a m issã o a re a liz a r» .2
E ste livro dem onstra que as form ulações p ed agógicas nu n ca são definiti
vas; p elo contrário, sem pre que houve p rojeto s que p retendiam ser co m pletos,
1
2
Cfr. “Q ua is salesianos p a ra os jo v e n s d e h oje?”. R eflexão pó s-ca p itu la r da Sociedade de São Francisco
d e Sales, em «A tos do C o n selh o G eral» 102 (2020) 433, 8-43.
FR A N C IS C O . M en sa g em ao CG 28, em “Q uais salesianos p a ra os jo v e n s de h o je ?’, 46.
definitivos ou perfeitos, norm alm ente sua co ncretização e a aco lh id a dos es
crito s referentes a eles foi m enos satisfató ria do que se esperava.
A p rim e ira lin h a p ro g ra m á tic a p a ra o p ró x im o sex ên io , "C r e s c e r n a
i d e n t i d a d e s a l e s i a n a " , re c o rd a -n o s a n e c e ssid a d e de c ria r ra íz e s m u ito só
lid as p ara c o n s tru ir u m fu tu ro co m a b e rtu ra ao d iálo g o . F azem o s p a rte de
um a h istó ria a p a ix o n a n te , m as tam b ém d ra m á tic a e n ão lin ear, co m seus
alto s e b a ix o s, n a c o m p a n h ia de p e rso n a lid a d e s sa le sia n a s qu e d e d ic a ra m
a p ró p ria v id a a e d u c a r e a p e n s a r a e d u cação . D e fato , a n o ssa id e n tid a d e
e n ra íz a -se n u m a c o rre n te de p e n sa m e n to e ação q u e so u b e c o n ju g a r a co n c re tu d e co m a fle x ib ilid a d e , a so lid e z co m a c ria tiv id a d e , a m e to d o lo g ia
co m u m e stilo de v id a, a ló g ic a d a fé co m u m a razão p ro je tiv a .
A id e n tid a d e sa le sia n a não é fe ita de c o n c e ito s e c o o rd e n a d a s p e d a g ó
g icas, m as, co m o a id e n tid a d e d os que creem , e n c o n tra -se e n ra iz a d a no
en c o n tro co m C risto , n u m a a titu d e de g ra tid ã o p e la m issã o q u e ele nos
confia. D e fato , a p e d a g o g ia sa le sia n a não é so m e n te u m p ro je to h u m an o ,
in v e n ç ã o de u m a p e sso a g e n ia l; é fru to da in ic ia tiv a de D eus qu e n o s e n
v ia a e sta r co m os jo v e n s , a a c o m p a n h á -lo s e a p e n s a r p ro p o sta s e d u c a ti
v as c o n siste n te s, só lid a s e ao m esm o tem p o fle x ív e is e cria tiv a s
A seg u n d a lin h a p ro g ra m á tic a , a d a f o r m a ç ã o p a r a s e r m o s S a l e s i a n o s
p a s t o r e s , h o je , ex ig e em p en h o a fim de « su p e ra r a d istâ n c ia en tre fo rm a
ção e m issão , fa v o re c e n d o na C o n g re g a ç ã o u m a re n o v a ç ã o d a c u ltu ra da
fo rm a ç ã o n a m issão p a ra estes d ias em to d o o m u n d o sa le sia n o , co m m e
d id as e d e c isõ e s de g ra n d e s ig n ific a tiv id a d e » .3 D e fato , o n o sso m o d elo
de fo rm a ç ã o só p o d e e s ta re s tre ita m e n te lig ad o ao S iste m a P re v e n tiv o e à
p e d a g o g ia sale sia n a . Q u an to m ais c o n se g u irm o s re fle tir c ritic a m e n te so b re
as fo rm u la ç õ e s do p a ssa d o , ta n to m ais serem o s c a p a z e s de v a lo riz a r as
b a se s p e rm a n e n te s da e d u c a ç ã o s a le sia n a e de e v ita r os c u rto s-c irc u to s do
p e n sa m e n to e d a ação lig ad o s aos e ste re ó tip o s da é p o c a e ao s e stilo s e s ta n
d a rd iz a d o s e m a n iq u e ísta s de p en sa m e n to .
A form ação dos S alesianos-pastores liga-se indissoluvelm ente à terceira
linha program ática, a d a m is s ã o e f o r m a ç ã o v iv id a j u n t o c o m o s le ig o s . O
cam inho para superar o fosso entre o estu do e a m issão não está em rem ediar
p o r dentro a velh a "m entalidade de estudantado", m as em criar processos
radicalm ente div ersos que conectam a n o v a id entidade com a novid ade da
3
"Q uais salesian os p ara os jo vens d e hoje?", 26.( Cfr. J.E. V e c c h i , “E u p o r vós estudo.” ( C 14) A prepa
ração adequada dosirm ãos e as qualidades do nosso trabalhoeducativo, em A C G 78 (1997) 361, 3-45.
p ro p o sta p ara u m a form ação co n tín u a que se desenvolve no contexto v ital de
um a com unidade de fé, de ap rendizagem e de p rática educativa.
Q u ase u m q u a rto de sécu lo atrás, o p a d re Jo ã o V ecchi tra ç o u p ro fe ti
c am e n te esse p ro c e sso n a c a rta c irc u la r in titu la d a “P o r v ó s e s tu d o ”. O s
tra ç o s da fig u ra do "n o v o sa le sia n o " p e n sa d o s p o r ele c o rre sp o n d e m às
e x ig ê n c ia s d a "n o v a e v a n g e liz a ç ã o " e da "n o v a ed u c a ç ã o ". N ã o se tra ta de
lev es re to q u e s, m as de alg o m ais ra d ic a l. O sa le sia n o é c h a m a d o a in serir-se n u m "n o v o m o d e lo o p e ra tiv o ",o d o s o rie n ta d o re s p a s to ra is , p rim e iro s
re sp o n sá v e is p e la id e n tid a d e s a le sia n a das in ic ia tiv a s e d as o b ras, a n im a
d o res de o u tro s e d u c a d o re s n o c e n tro de u m n ú c le o an im a d o r.4 D e aco rd o
co m as reflex õ es do C G 28 e sto u c o n v e n c id o de qu e este m o d e lo é o c a m i
n h o p a ra o fu tu ro , qu e d ev e se r m a n tid o , e stu d a d o e rea liz a d o .
C o n g ra tu lo -m e co m M ich a l V ojtás p o r este am p lo p a n o ra m a p e d a g ó
g ico e faço v o to s p a ra q u e o v o lu m e se to m e u m in stru m e n to p a ra fo r
m a r a c a p a c id a d e de in te rp re ta r c ria tiv a m e n te a c u ltu ra , a n im a r u m am p lo
a m b ie n te e d u c a tiv o , a c o m p a n h a r p ro c e sso s de a m a d u re c im e n to e c re s c i
m en to , o rie n ta r os e d u c a d o re s sa le sia n o s e in te ra g ir n o co n te x to so cial.
F aço sin c e ro s v o to s ta m b é m p a ra q u e o le ito r se h a b itu e a c o n te x tu a liz a r
o p e n sa m e n to e os p ro je to s e d u c a tiv o s p a ra sa b e r re c o n h e c e r as d iv ersas
o rie n ta ç õ e s p e d a g ó g ic a s n e le s in clu íd as.
E ste é u m p re ssu p o sto in d isp e n sá v e l p a ra p o d e r ser, co m o o d isc íp u lo
do R ein o dos c éu s, q u e "tira do seu te so u ro co isa s n o v as e v elh as" (M t 13,
5 2), fo rm a n d o a n o v a m e n ta lid a d e n e c e s sá ria p a ra a m u d a n ç a d a ép o ca
que e sta m o s v iv e n d o . « A ssim a sa le sia n id a d e , em v ez d e se p e rd e r n a u n i
fo rm id a d e das to n a lid a d e s, c o n q u ista rá u m a e x p re ssã o m a is b e la e a tra e n
te... sa b e rá e x p re ssa r-se "em d ia le to " » .5 A F a m ília S a le sia n a fa la rá , assim ,
a m e sm a lín g u a do S iste m a P re v e n tiv o , co m v a ria n te s, m a tiz e s, so n h o s e
p rá tic a s n o v a s e o rig in ais.
Pe. A n g e l F e m á n d e z A rtim e , SD B .
R o m a, 8 de d e z e m b ro de 2 0 2 0 , so le n id a d e de M a ria Im a cu lad a,
161° a n iv e rsá rio da fu n d a ç ã o da C o n g re g a ç ã o S alesian a.
4
Cfr. J.E. V e c c h i , “E U p o r vós estudo.” (C 14) A preparação ad eq u a d a dos irm ãos e as qua lidad es do
nosso trabalho educativo, em A C G 78 (1997) 361, 3-45.
5
FR A N C IS C O , M en sa g em ao CG28, 52.
IN T R O D U Ç Ã O
“ O q u e faria D o m B o sco , h o je ? ” é co m fre q u ê n c ia o re frã o e x p líc ito
ou im p líc ito q u e a c o m p a n h a a p ro je ta ç ã o e d u c a tiv a n as casas sa le sian as.
A p e rg u n ta , a lém de se r q u ase u m s l o g a n h o m ilé tic o , re v e la u m m o d o
de a g ir m u ito d ifu n d id o sem p re q u e se e n fre n ta o tem a da a tu a liz a ç ã o ,
in c lu siv e em c írc u lo s ac a d é m ic o s: em p rim e iro lu g a r d ev em o s c o n h e c e r
h i s t o r i c a m e n t e a s r a í z e s e o s s o n h o s e d u c a tiv o s o rig in á rio s; d ep o is é n e
c e ssá rio c o m p r e e n d e r o c o n t e x t o a tu al a p re se n ta d o p e lo s d esafio s e p e la s
o p o rtu n id a d e s; p o r fim é n a tu ra l qu e se p asse a p r o j e t a r a a ç ã o e d u c a t i v a
p a ra e n c a rn a r o id eal de D om B o sco n o s d ias de hoje.
E ssa c o n c e p ç ã o de a tu a liz a ç ã o a fu n d a su as ra íz e s no p e río d o s u b se
q u en te ao C o n c ílio V atican o II, q u an d o as o rd en s re lig io sa s fo ram c o n
v id a d a s a a p ro fu n d a r su as ra íz e s c a rism á tic a s e a se a b rire m aos d esafio s
atu a is, a fim de, em seg u id a , p ro je ta r u m a p a sto ra l a tu a liz a d a . A s três
fases d a a tu a liz a ç ã o acim a in d ic a d a s re fe re m -se a d isc ip lin a s cien tífica s
esp ecíficas: a c iê n c ia h istó ric a , p a ra c o m p re e n d e r c ritic a m e n te D om B o s
co no seu co n te x to ; as c iê n c ia s h u m an as, p a ra m a n te r-se em c o n ta to com
a so c ie d a d e dos n o sso s dias; as c iê n c ia s o rg a n iz a c io n a is, a fim de p ro je ta r
a e d u c a ç ã o co m se rie d a d e , in c isiv id a d e e eficácia.
E m b o ra o e s q u e m a de a tu a liz a ç ã o p ó s -c o n c ilia r p o ssa p a re c e r à p ri
m e ira v ista c o n v in c e n te , a m eio sécu lo de d istâ n c ia em erg em sérias d ifi
c u ld a d e s. A p rim e ira d e riv a da in sig n ific â n c ia p rá tic a do d e se n v o lv im e n to
o c o rrid o nos p e río d o s en tre a fu n d a ç ã o d a C o n g re g a ç ã o e a a tu a lid a d e . Se
lev arm o s o ra c io c ín io ao e x tre m o , não d e v e ría m o s, p o r ex em p lo , e stu d a r
o m o d e lo fo rm a tiv o dos in ício s, o m éto d o m issio n á rio n a P a ta g ô n ia , o d e
s e n v o lv im e n to d os o ra tó rio s n a p rim e ira p arte de 1900 o u as v ic issitu d e s
d a c ru z a d a c a te q u ís tic a d u ra n te o p e río d o do p ad re R ic a ld o n e ? T odo um
p a trim ó n io de e x p e riê n c ia s, de reflex õ es e e x p e rim e n ta ç õ e s se p e rd e ria e
se ría m o s lev a d o s a re p e tir erro s m u ito se m e lh a n te s aos dos n o sso s p re d e
c esso re s. A seg u n d a d ificu ld ad e su rg e da s u b d iv isã o en tre â m b ito s c ie n
tífico s d iv e rso s qu e d ificilm en te se c o m u n ic a m en tre si, d ad o q u e usam
m é to d o s, p re ssu p o sto s, ax io m a s, lin g u a g e n s e c o m u n id a d e s cien tífica s
d ife re n te s. U m ú ltim o p ro b le m a , c o n ex o co m o p re c e d e n te , é a sep araçã o
m e n ta l que e x iste en tre "o n tem " e "h o je", en tre "h isto ria d o re s", " e d u c a d o
res" e "p ro je tista s", co m a d ificu ld ad e u n iv e rsa l de p a s sa r "do p ap el p ara
a v id a".
P a ra ilu s tra r e ssa d in â m ic a p o d e ría m o s m e n c io n a r a re c e n te e e m b le
m á tic a c e le b ra ç ã o do b ic e n te n á rio do n a sc im e n to de D o m B o sco , p re p a ra
d a p o r u m trié n io , m e d ia n te e n q u a d ra m e n to s se to ria is. E m n ív e l h istó ric o
foi o rg a n iz a d o o c o n g re sso de h istó ria s a le sia n a de 2 0 1 4 ; p a ra a reflex ão
p e d a g ó g ic a c e le b ro u -se em 2 0 1 5 o c o n g re sso de p e d a g o g ia sa le sia n a ; e
em n ív e l de d ec isõ e s p ro je tiv a s p o d e ría m o s re fe rir-n o s ao C a p ítu lo G eral
27 e à c o n c lu sã o dos tra b a lh o s da te rc e ira e d ição do Q u a d ro d e r e fe rê n c ia
d a p a s to r a l ju v e n il. P re c isa m e n te d u ra n te o p e río d o c e le b ra tiv o do b ic e n
te n á rio n a sc e u a id eia d este v o lu m e , qu e p re te n d e lig a r D o m B o sco com
os tem p o s atu a is, a tra v e ssa n d o d iv e rsa s ép o c a s, co m su as m e n ta lid a d e s
d ife re n te s, q u e re fo rç a v a m a lg u m a s n o v a s id eias p e d a g ó g ic a s o m itin d o
o u tra s, p re fe ria m a lg u m a s m o d a lid a d e s de ação , d e s e n v o lv ia m reflex õ es,
a lg u m a s d elas p ro fé tic a s e c o ra jo sa s, o u tra s m ais a d e re n te s à m e n ta lid a d e
a tu al o u a so lu ç õ e s de e m e rg ê n c ia , ou ta m b é m d ita d a s p o r c e rta in é rc ia
in te le c tu a l. O a lte rn a r-se das m u d a n ç a s c o m p o rta sem p re a in e v itá v e l d i
n â m ic a p en d u lar, co m o a s sin a la v a V ico o u T o y n b ee, das id as e v in d a s, das
re tira d a s e re to rn o s en tre os d iv e rso s p erío d o s.
H a v e n d o u m am p lo leq u e de a b o rd a g e n s p a ra a c e d e r ao d ad o h is tó ri
co e ao p e n sa m e n to p e d a g ó g ic o do p a s sa d o ,6 p e n so ser n e c e ssá rio e s c la
re c e r alg u n s p o n to s m e to d o ló g ic o s do m eu tra b a lh o , qu e se d istin g u e de
u m a re c o n stru ç ã o p u ra m e n te h istó ric a , em d iv e rso s se n tid o s. E m n ív el
de reflex õ es h isto rio g rá fic a s g e ra is, c o n sid e ro in sp ira d o ra s e e q u ilib ra d a s
as p o siç õ e s de H en ri Iré n é e M arro u , h isto ria d o r fra n c ê s, qu e so u b e c ria r
u m a sin e rg ia en tre a id e n tid a d e do h isto ria d o r, do filó s o fo d a h is tó ria e do
cre n te c a tó lic o , n u m a p e rs p e c tiv a e stim u la n te , in te g ra l, a n ti-id e o ló g ic a e
h u m ild e . A lém d isso , o qu e n ão se d ev e su b estim ar, su as c o n c e p ç õ e s são
a n im a d a s p o r u m a a c e n tu a d a s e n sib ilid a d e p e d a g ó g ic a e u m a v a lo riz a ç ã o
d a e d u cação . D e fato, su a o b ra m ais im p o rta n te e n fre n ta a h istó ria e a e v o
lu ção da e d u c a ç ã o a n tig a com o rig in a lid a d e , su p e ra n d o d iv e rso s e s te re ó
tip o s ilu m in ista s, lig a d o s p a rtic u la rm e n te à p a ssa g e m en tre a a n tig u id a d e
e a id ad e m é d ia .7 8 O p o te n c ia l h istó ric o e h isto rio g rá fic o q u e em erg e do
6
7
8
Cfr. O v o lu m e G. LO PA R C O - S. Z IM N IA K (eds), L a storiografta salesiana tra s tu d i e do cu m enta zio n e nella stagione postconciliare, LAS, R o m a 2014, 9-142, esp ecia lm en te as co n trib u iç õ es: M .
N1CKEL, G run dfragen u n d T en den zen de r Kirchengeschichte in de r G egenwart, em Ibid., 27-48 e G.
R O C C A , L a storiografta delle congregazioni religiose in E uropa. O rie n ta m en ti e proposte, em Ibid. pp,
73-109. P ara a h istó ria d a p ed ag o g ia cfr. p. ex. G. C H IO SS O , N ovecentopedagogico.La Scuola, B rescia
1997 e ID, Proftlo storico delia pedagogia cristian a in Italia ( X IX e X X secolo), La scuo la, B rescia 2001.
Cfr. G. T O G N O N , P refa zio n e p e r rileggere M arrou, em H .-I. M A R R O U , Storia delV educazione
n ella n tích ità , S tu d iu m ,R o m a 2016, 13-3
Cfr. H .-I. Marrou, C onoscen za storica, il M ulino, B o lo n h a 1997 e ID ., Teologia delia storia, Jaca,
M ilão 2010.
estu d o dos p e río d o s de tra n siç ã o foi v a lo riz a d o p e lo n o sso a u to r n o s seus
v o lu m e s so b re O c o n h e c im e n to h is tó r ic o e a T eo lo g ia d a h is tó r ia 9
Suas in v e stig a ç õ e s so b re a re la ç ã o en tre p e sq u isa h istó ric a e reflex ão
filo só fica c o n d u z ira m -n o a su p e ra r a c a n sa tiv a e c é tic a h isto rio g ra fia p o
s itiv ista qu e a p re n d e ra q u an d o jo v e m e stu d a n te d a S o rb o n n e. E m sin to n ia
co m a e sc o la de L e s A n n a le s , ta m b é m ele a p o n ta v a o lim ite m ais im e d ia
to da h isto rio g ra fia p o s itiv is ta n a c o n c e p ç ã o a to m iz a d a do fato h istó ric o .
H av ia e x c e s siv a c o n c e n tra ç ã o a re sp e ito da im p o rtâ n c ia do "d o c u m e n to ",
p e n sa n d o p o d er, assim , re c o n stru ir os fato s co m e v id ê n c ia , p a rtin d o do
p re ssu p o sto de qu e c ad a m o m e n to h istó ric o fo sse c o m p le to em si m esm o ,
sen d o p o ssív e l se p a rá -lo da e stru tu ra d a c o m p le x id a d e e d a c o n tin u id a d e
d a re a lid a d e h istó ric a .
E x iste m , to d a v ia , o u tra s c o n c e p ç õ e s m ais filo só ficas e te o ló g ic a s do
qu e a h istó ria . S u p õ e m -se leis u n iv e rsa is que g o v e rn a ria m a h istó ria , que
co m fre q u ê n c ia p a re c e m u m eco m ais o u m en o s lo n g ín q u o d as id eias heg e lia n a s, às v e z e s co m v e ste s de te o ria s h isto g io g rá fic a s ou so c io ló g ic a s.
N e ssa s c o rre n te s de p e n sa m e n to , as n o ç õ e s, assim co m o os tip o s-id e a is,
de m o d a lid a d e s p ro v isó ria s que re p re se n ta m a h istó ria se tra n sfo rm a m em
leis c rista liz a d a s qu e p re te n d e m c o n d u z ir de m o d o esp ecífico a u m p la n o
u n itá rio , tra n sfo rm a n d o -se em « g ra n d e s m á q u in a s q u e im p ed em de c o m
p re e n d e r» e co m a sua « ilu só ria c la re z a acab am p o r d im in u ir a d isp o siç ã o
do h isto ria d o r p a ra v e r a re a lid a d e na sua a u tê n tic a e d e s c o n c e rta n te m u l
tip lic id a d e » .9 B e m a rd L o n e rg an , re to m a n d o a c rític a de M a rro u às c o n
ce p ç õ e s id e a lístic a s d a h isto rio g ra fia , n o seu m ais c é le b re esc rito so b re o
m é to d o a re sp e ito do u so das h ip ó te se s in te rp re ta tiv a s, afirm a:
M a rro u a p ro v a o uso de tip o s-id e a is n a p e sq u isa h istó ric a , m as faz d u as
a d v e rtê n c ia s. E m p rim e iro lugar, os tip o s-id e a is são sim p le s c o n stru ç õ e s
te ó ric a s: d e v e -se re s is tir à te n ta ç ã o dos e n tu sia sta s qu e os c o n sid e ra m
co m o d e sc riç õ e s da re a lid a d e . [...]. E m se g u n d o lugar, e x iste a d ificu ld ad e
de e la b o ra r tip o s-id e a is a p ro p ria d o s: q u an to m ais ric a e ilu m in a d o ra for
sua c o n stru ç ã o , ta n to m a io r será a d ificu ld ad e de su a ap lic a ç ã o ; v ic e -v e rsa, q u an to m ais tê n u e e v a g a fo r su a c o n stru ç ã o , ta n to m e n o r se rá sua
c a p a c id a d e de o fe re c e r u m a c o n trib u iç ã o sig n ific a tiv a p a ra a h istó ria. 10
T o d av ia, a c rític a das te o ria s m e ta físic a s da h istó ria não se e sg o ta no
ex am e das m e sm a s, m as ab re o cam in h o p a ra a c o m p re e n sã o d a d im e n sã o
C ono scenza storica,
9
M a rro u ,
10
B. L o n e r g a n , II M eto d o in Teologia, C ittà N uova, R o m a 2 0 0 1 , 2 5 8 - 2 5 9 .
192.
p o lié d ric a da p ró p ria h istó ria e de su as v isõ e s c o rre sp o n d e n te s. A não
lin e a rid a d e da h istó ria n ão a to m iz a o c o n h e c im e n to d o s liam es e das re la
çõ es de in te rd e p e n d ê n c ia dos d iv e rso s p e río d o s, m e n ta lid a d e s ou c o n ju n
tos h istó ric o s. In stitu iç õ e s, m e n ta lid a d e s, artes, e stilo s de e d u c a ç ã o são
re a lid a d e s q u e a p a re c e m co m o m e te o ro s no céu da h istó ria , m as su rg em
d ep o is de um lo n g o p e río d o de in c u b a ç ã o e p o d e m se r p e rc e b id a s so m en te
n a sua e v o lu ç ã o e c o n tín u a tra n s fo rm a ç ã o .11
P ara M a rro u , a h istó ria n ão é u m a su c e ssã o de fato s m e n su rá v e is a
ser re c o n stru íd a ; ela é sem p re o c o n h e c im e n to do p a ssa d o c o m p le x o de
u m a re a lid a d e h u m a n a "que j á fo i". C o m o e n sin a H eid eg g er, a h istó ria ,
e n q u a n to d a g e w e s e n e s D a s e i n (e x is te n c ia in é d ita ), in flu en c ia o n o sso
S er p re se n te e fu tu ro .12 P o r essa ra z ã o os p re te n so s c o n h e c im e n to s d essa
d isc ip lin a d ev e m se r situ a d o s n u m n ív e l m ais m o d e sto do q u e o do o rg u
lho do id e a lista (q u e se sen te d o n o "das le is") e d a e sc ru p u lo sa m io p ia do
p o s itiv is ta (q u e se sen te d o n o "do fato " e "do d o c u m e n to " ).13
In sp iran d o -m e n essa p o sição eq u ilib rad a, h u m an ista e cren te, neste v o
lum e eu q u ereria situ ar o p en sam en to p ed ag ó g ico salesian o no co n tex to das
co o rd en ad as h istó ricas, p ara n ão o relativ izar, d isso lv en d o -o num d e te rm i
nado am b ien te so cio c u ltu ral ou etiq u etan d o -o com u m a teo ria p ed ag ó g ica
g eral, p recisam en te p o r cau sa da n ecessid ad e de co m p reen d ê-lo no co n tex to
d a ev o lu ção das ideias e das ap licaçõ es ed u cativ as em sua con tin u id ad e.
A h istó ria , c o n sid e ra d a co m o o p a ssa d o h u m an o re c o n stru íd o e in te r
p re ta d o p o r o u tro s h u m a n o s, im p lic a n u m a m e to d o lo g ia que to m a a sé
rio a p o siç ã o de "a lte rid a d e ", p o r c au sa d a d istâ n c ia te m p o ra l, m e n ta l ou
c u ltu ra l. M a rro u re fe re -se à fe n o m e n o lo g ia de E d m u n d H u sse rl, p ro p o n
do o c o n c e ito de e p o q u ê co m o p a ra d ig m a fu n d a m e n ta l, p a ra não c a ir n a
"h istó ria filo só fica d a filo so fia", q u e re c o n d u z a c ritic a m e n te o p a ssa d o ao
p re se n te co m o p o n to de c h e g a d a .13 14N o sso a u to r escrev e: « h isto ria d o r é
q u em , a tra v é s das ép o c a s, sab e s a ir de si m esm o p a ra e n c o n tra r-se co m os
o u tro s » .15
11
12
13
14
15
Cfr. G. G U G L IE LM I, C ritica alia storiografia po sitivista e alia filo so fia delia storia. L onergan interprete
di M arro u , em E. CIBELLI - C. TA D D EI FER R ETTI (E ds), Ricerche lonerganiane offerte a S a tu rn in o
M uratore, Istitu to Italian o p e r gli S tudi Filosofici, N áp oles 2016, 356. (p o r in teiro è 353-364)
Cfr. M a r r o u , C on oscenza storica, 2 0 8 .
Cfr. M a r r o u , C on oscenza storica, 56.
O p ro cesso in te rp re tativ o dessa h isto rio g rafia filosófica co n siste em c o n sid erar h isto ric am en te rele
v an te so m e n te o q ue e n c o n tra eco n a p ró p ria id eolo gia. Cfr. p. ex. P. P IO V A N I, Filosofia e storia delle
idee, E d iz io n i d i S toria e d i L ette ratu ra, R om a 20102, 200.
M a r r o u , C onoscenza storica, 99. Cfr. ta m b é m 89-92.
A e x p e riê n c ia da h istó ria , p re c isa m e n te p o rq u e c o n siste no en c o n tro
co m o o u tro , c o n d u z o h isto ria d o r a u m a a titu d e de p ro fu n d a h u m ild a
de. Se ele se situ a a u te n tic a m e n te d ian te da a lte rid a d e do p a ssa d o , faz
a e x p e riê n c ia de u m a g ra n d e z a qu e n os d e ix a p a sm a d o s; de fato , com
fre q u ê n c ia , os h o m en s do p a ssa d o q u e ela n o s re v e la fo ram m a io re s do
q u e nós. A lém d isso , M a rro u in siste ta m b é m na afin id ad e p sic o ló g ic a , na
e m p a tia qu e o h isto ria d o r n e c e ssa ria m e n te d ev e cu ltiv ar, a fim de a lc a n ç a r
o c o n h e c im e n to do p a ssa d o que e stá te n ta n d o rec o n stru ir. A ssim co m o a
h istó ria da arte ex ig e dos e stu d io so s u m a s e n sib ilid a d e e s té tic a fo rte e sutil, a do c ristia n ism o su p õ e qu e se p o ssu a o se n tid o dos v a lo re s e sp iritu a is
e do fe n ó m e n o r e lig io s o .16
A p esq u isa com um conceito de ep o q u ê feno m en o ló g ica aceita os aco n te
cim entos e a sucessão dos períodos históricos tais co m o se apresentam , sem
um esquem a fixo predeterm inado. E m alguns m om entos esbarra-se num ped ag o g ista influente ou num superior forte; em outros, surge um a situação eclesial (C oncílio V aticano II) ou p olítico-social (regim es totalitários) que arrasta
consig o a reflexão sobre a educação; ou en tão despontam as dinâm icas das
p essoas e das gerações que podem ser determ inantes (prim eira geração for
m ad a p o r D om B osco ou então a contraposição de gerações dos anos Sessenta
do século passado), etc. Em alguns períodos, os S alesianos se b asearam em
testem unhos diretos da ação ed ucadora do fundador; em outros, deixaram -se
influenciar pelo p ensam ento p edagógico de au tores externos do seu tem po;
em outros ainda, em contextos m udados e condições ad versas, cuidaram das
p róprias tradições e da pró p ria identidade.
P a ra a reflex ão p e d a g ó g ic a é d e te rm in a n te o influxo do c o n te x to exp e rie n c ia l q u o tid ia n o lig ad o às d iv e rsa s in te ra ç õ e s q u e se criam em d e
te rm in a d a s e s tru tu ra s e d u c a tiv a s típ ic a s (c o lé g io , o ra tó rio , e sc o la p ro
fissio n al, c o m p a n h ia s, g ru p o s, u n iv e rsid a d e , etc.). E ste ú ltim o in flu x o é
p a rtic u la rm e n te re le v a n te p a ra os S a le sia n o s e n q u a n to m em b ro s de u m a
C o n g re g a ç ã o de e d u c a d o re s e n ão de p e d a g o g ista s. D e ssa fo rm a, os d e s a
fios do tem p o , o p e n sa m e n to de alg u n s su p e rio re s, as id eias o rg a n iz a tiv a s
in te rn a s das e s tru tu ra s fo rm a tiv a s e e d u c a tiv a s, e as c o n se q u ê n c ia s dos
p e río d o s p re c e d e n te s co n flu em n a c ria ç ã o de u m "tip o -id e a l", o u seja, nos
tra ç o s d a m e n ta lid a d e típ ic a de u m a g eração . O a lte m a r-s e das g e ra ç õ e s e
dos p a ra d ig m a s p e d a g ó g ic o s, n as d iv e rsa s ép o c a s h istó ric a s, será re s u m i
do n o s se g u in te s seis c a p ítu lo s:
16
Cfr. Marrou, C o noscenza storica, 104. N o c o n tex to d a edu cação cristã co n sid ero im p o rta n te s as a r
g u m en taçõ es co n tid as n a P rem issa d e J. R A T Z IN G E R - B E N E D ET T O X VI, G esu di N azaret, LEV,
C id ad e do V aticano 2007, 8-20.
I.
F orm ulaçõ es ped a g ó g ica s d a p rim eira geração salesiana, entre os
inícios do reitorado do padre M iguel R ua e o desaparecim ento do padre
Francisco Cerruti, prim eiro conselheiro escolar-geral (1888-1917).
II.
P ed a g o g ia p rá tic o -o sm ó tic a c a p a z d e s e a d a p ta r à so cie d a d e
m od erna, que p o d e ser idealm ente situada a partir dos congressos
sobre o oratório, incluindo os reitorados do pad re Paulo Á lbera e do
padre Felipe R inaldi (1902-1931).
III.
F id e lid a d e d iscip lin a d a a D o m B o sco sa n to em tem p o s de
adversidad es, que caracteriza o perío do que idealm ente com eça
com a beatificação de D om B osco e com preende a tentativa de
sistem atização p ed ag ó g ica do padre Pedro R icald one (1929-1951).
IV.
A ntes, d u ra n te e d ep o is da s m u d a n ça s d o Vaticano II, isto é, o
im pacto da inovadora reflexão eclesial sobre a educação e sobre
a p edagogia, dando prio ridade aos estím ulos in ovadores dos
respectivos C apítulo s G erais (1952-1978).
V.
P ro jeta çã o e anim açã o, do is n ú cleo s de sín teses p e d a g ó g ic a s, que
se desenvolvem duran te o período do reito rado do pad re E gídio
V iganò, com as significativas contrib uições p edagógicas do pad re
João E dm undo Vecchi (1978-1998).
VI.
N o v a eva n g eliza çã o e ed u ca çã o p a r a o terceiro m ilénio, um período
que com eça com a sistem atização dos quadros de referên cia da
pasto ral ju v e n il e term in a idealm ente p o r ocasião do Sínodo dos
Jovens (1998-2018).
N e sta p u b lic a ç ã o , a c o m p re e n sã o da id eia de "p e d a g o g ia sa le sia n a " situ a -se em to rn o dos princípios fenom enológicos e h isto rio g rá fic o s a p re se n
ta d o s a c im a e será e n te n d id a co m o u m a reflex ão s iste m á tic a e c rític a so b re
a ed u c a ç ã o in sp ira d a n o e stilo e n a o b ra e d u c a tiv a de Jo ão B o sco . R e s p e i
tan d o a h istó ria sa le sia n a tal co m o se a p re se n ta , os c o n c e ito s de sistem atic id a d e e c ritic id a d e serão e n te n d id o s em se n tid o am p lo e in c lu siv o , p o r
ta n to , a c e ita n d o ta m b é m a b o rd a g e n s d o s d iv e rso s g ra u s de cie n tific id a d e e
de in fluxo n a ed u cação . D isp o n d o de a b u n d a n te m a te ria l e d e v e n d o lim ita r
o cam p o d e p e sq u isa , será se le c io n a d o o m ais sig n ific a tiv o em n ív e l de
p e n sa m e n to e de d ifu sã o . A s o p çõ es m e to d o ló g ic a s refletem -se ta m b ém
n a e s tru tu ra ç ã o de c a d a u m dos c a p ítu lo s do n o sso te x to , c o n fo rm e segue:
- no in ício , as c a ra c te rís tic a s so cia is, e d u c a tiv a s e p e d a g ó g ic a s de um
p e r ío d o h istó ric o , seu c o rre sp o n d e n te c o n te x to e c le sia l e a re sp o sta de
a d e q u a ç ã o da e d u c a ç ã o s a le s ia n a n as e stru tu ra s e d u c a tiv a s típ ic a s;
- seg u e m as lin h as p e d a g ó g ic a s e de g o v e m o em m a té ria e d u c a tiv a que
p a rte m do c e n tro d a C o n g re g a ç ã o e qu e in te rp re ta m , n u m d ad o p e río
do, a fid e lid ad e ao m o d e lo e d u c a tiv o de D o m B o sco ;
- a p ro fu n d a m -se as reflex õ es de a lg u n s p e d a g o g is ta s s a le s ia n o s m ais
sig n ific a tiv o s em n ív el d ein flu x o e d ifu são . A s c o n trib u iç õ e s d o s a u to
res serão a n a lisa d a s s in c ro n ic a m e n te (no seu c o n te x to ) e d ia c ro n ic a m en te (e stu d a n d o a c o n tin u id a d e e a d e sc o n tin u id a d e en tre as c o n c e p
çõ es p e d a g ó g ic a s);
- p o r fim , é p ro p o sta u m a n to lo g ia d e te x to s e d e m a te r ia l de c ad a p e
río d o , d isp o n ív e l em p a rte n o te x to im p re sso e em g ra n d e p a rte o n -lin e.
C e n te n a s de d o c u m e n to s, fo n te s, p e sq u isa s e a rtig o s p o d e m ser c o n s u l
ta d o s em f u l l - t e x t no s ite s a le s ia n . o n lin e.
A s o p ç õ e s m e to d o ló g ic a s im p lic a m o b rig a to ria m e n te em lim ita ç õ e s. O
fato de le v a r em c o n sid e ra ç ã o as lin h as p e d a g ó g ic a s d iv u lg a d a s p e lo c e n
tro da C o n g re g a ç ã o e de fo rn e c e r a p ro fu n d a m e n to s a re sp e ito dos au to res
m ais in flu en tes c o m p o rta o b v ia m e n te a d m itir q u e o tra b a lh o n ão é e x a u s
tiv o n em co m p leto . A lg u n s a u to re s d e se n v o lv e ra m sín te se s o rig in a is ou
sig n ific a tiv a s; to d a v ia , p o r n ão fa z e re m p arte do pensamento c o n g re g a c io n al, n ão fo ram a n a lisa d a s em p ro fu n d id a d e ,p e rm a n e c e m so m en te situ ad as
no in te rio r das c o rre n te s de p e n sa m e n to . T am b ém a reflex ão p e d a g ó g ic a
das F ilh a s de M a ria A u x ilia d o ra é so m en te a c e n a d a em a lg u m a s p artes
do tex to . S en d o n e c e s sá ria u m a c o n te x tu a liz a ç ã o n o in te rio r das lin h as de
a n im a ç ã o do In stitu to , das S u p e rio ra s e d a so b ra s e d u c a tiv a s típ ic a s p a ra a
ed u c a ç ã o fe m in in a e in fa n til, p re fe ri d e ix a r a te m á tic a p a ra os p e rito s do
c o rre sp o n d e n te cam p o h istó ric o e p ed ag ó g ic o .
A o p ção de c o n fe rir c erto p eso às d ire triz e s do c e n tro d a C o n g re g a ç ã o
im p lic a n u m a v isã o c la ra m e n te íta lo -c e n trista p a ra os p rim e iro s p e río d o s
até o p a d re R ic a ld o n e ; so m e n te p o r o c a siã o do C oncílio V aticano II é que
se abre a outros contextos, e s p e c ia lm e n te n a E u ro p a O c id e n ta l e na A m é ric a
L atin a. N o ta -se , assim , qu e so m en te no te rc e iro m ilé n io a C o n g re g a ç ã o
S a le sia n a p o d e rá ser c o n sid e ra d a re a lm e n te m u n d ia l em n ív e l p e d a g ó g ic o ,
em b o ra co m d ife re n te s v e lo c id a d e s c o n fo rm e o s c o n te x to s. D e fato , co m o
re su lta das R e la ç õ e s so b re o esta d o da C o n g re g a ç ã o e de d iv e rso s estu d o s,
as id eias e as lin h as o p e ra tiv a s dos d iv e rso s C a p ítu lo s G erais n ão tra n s ita
ram p e la s in sp e to ria s de m a n e ira u n ifo rm e.
P a re c e -m e im p o rta n te s u b lin h a r que m in h a te n ta tiv a é p a rtic u la rm e n te
a de e stu d a r as id eias p e d a g ó g ic a s em g e sta ç ã o e típ ic a s n o c o n te x to do
seu n a sc im e n to e n a sua e v o lu ç ã o , n ão de a v a lia r d e fo rm a a b ra n g e n te os
a u to res, os e stilo s de g o v ern o ou a C o n g re g a ç ã o no seu c o n ju n to . P enso
qu e o fu tu ro da p e d a g o g ia sa le sia n a n ão se e n c o n tra em sín te se s se to ria is
te n d e n te s à p e rfe iç ã o , m as no e n riq u e c im e n to c o n tín u o e re c íp ro c o en tre
as p e sq u isa s h istó ric a s, os estu d o s de s is te m a tiz a ç ã o te ó ric o -m e to d o ló g ica, os a p ro fu n d a m e n to s p e d a g ó g ic o s re g io n a is e as b o as p ra x e s, fru to do
E sp írito q u e ag e n a h istó ria e da s a b e d o ria p rá tic a d o s e d u cad o res.
A g ra d e ç o c o rd ia lm e n te aos R e ito re s-M o re s A n g el F e rn á n d e z A rtim e e
P a sc u a l C h á v e z V illa n u e v a p e lo seu ap o io d u ra n te o p ro c e sso de p e sq u isa
e suas p re c io sa s in d icaçõ es. G o sta ria de a g ra d e c e r ta m b é m aos c o n s u lto
res p elo seu em p e n h o e su as p re c io sa s o b se rv a ç õ e s e su g estõ es. De m o d o
e sp ecial d esejo m e n c io n a r os p ro fe sso re s A ld o G ira u d o , Jo sé M an u el P rellezo e M o ra n d W irth , da U n iv e rsid a d e P o n tifíc ia S alesian a ; o p ro fe sso r
G io rg io C h io sso , d a U n iv e rsid a d e de T u rim e a p ro fe s so ra P ie ra R u ffín a tto , da P o n tifíc ia F a c u ld a d e de C iê n c ia s da E d u c a ç ã o A u x iliu m . C o m
sin c e ro re c o n h e c im e n to d esejo m e n c io n a r o In stitu to H istó ric o S a le sia n o ,
a A s so c ia ç ã o d os C u lto re s de H istória Salesiana e o pessoal do A rquivo Sale
siano C entral, p o r te r p o sto à d isp o siç ã o ed iç õ e s c rític a s,e stu d o s e m ateria l
de a rq u iv o q u e p e rm itira m esse tip o de p esq u isa. A g ra d e ç o c o rd ia lm e n te
m eu s c o le g a s da F a c u ld a d e de C iê n c ia s da E d u c a ç ã o e do C e n tro de E stu
dos D o m B o sco da U PS p e la p o ssib ilid a d e de u m c o n fro n to in te rd isc ip linar. U m tra b a lh o im p o rta n te foi re a liz a d o n o qu e ta n g e à re v isã o lin g u ísti
ca, co m c o rre ç õ e s e su g e stõ e s p o r p a rte de M a ssim o S c h w a rz e l e C ristia n o
C ife rri ao sq u ais sou m u ito g rato . F in a lm e n te , n ão , p o ré m , em ú ltim o lu g ar
co m o im p o rtâ n c ia , q u ero re c o rd a r m eu s e stu d a n te s de p e d a g o g ia sa le sia
na, q u e c o n tin u a m e n te m e e stim u la m a p ro fu n d a r n o v o s a sp e c to s e a a d o ta r
n o v as p e rsp e c tiv a s no cam p o p ed ag ó g ic o .
A o le ito r d e se jo u m a e s tim u la n te a b o rd a g e m d e ste v o lu m e, re p le ta de
in sp ira ç õ e s com v ista s ao em p e n h o e d u c a tiv o en tre os jo v e n s de ho je.
M ich al Vojtás, SD B