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As Muralhas Romanas Do Porto: Um Balanço Arqueológico

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Analisa-se o tema das muralhas do núcleo urbano fundador da cidade do Porto, o povoado proto-histórico estabelecido no morro da Sé, durante a época romana, com base na informação arqueológica produzida desde meados da década de 1980. Como resultado da política sistemática de salvaguarda e avaliação desenvolvida no Município do Porto nas últimas décadas, especialmente através da acção do extinto Gabinete de Arqueologia Urbana, vieram à luz do dia mais de uma dezena de troços de uma linha fortificada com cronologias que parecem variar entre os finais da Idade do Ferro, a transição entre os séculos I e II e os séculos III-IV da nossa era, testemunhando provavelmente diversas fases de construção ou remodelação de uma mesma cerca defensiva.

Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 AS MURALHAS ROMANAS DO PORTO: UM BALANÇO ARQUEOLÓGICO António Manuel S. P. Silva1 RESUMO: Analisa-se o tema das muralhas do núcleo urbano fundador da cidade do Porto, o povoado proto-histórico estabelecido no morro da Sé, durante a época romana, com base na informação arqueológica produzida desde meados da década de 1980. Como resultado da política sistemática de salvaguarda e avaliação desenvolvida no Município do Porto nas últimas décadas, especialmente através da acção do extinto Gabinete de Arqueologia Urbana, vieram à luz do dia mais de uma dezena de troços de uma linha fortificada com cronologias que parecem variar entre os finais da Idade do Ferro, a transição entre os séculos I e II e os séculos III-IV da nossa era, testemunhando provavelmente diversas fases de construção ou remodelação de uma mesma cerca defensiva. Palavras-chave: Porto. Romanização. Muralhas ABSTRACT: The article discusses Roman walls of ancient Oporto town, settled on Cathedral hill from Late Bronze Age, according to archaeological data produced during latest decades, mainly as a result of the continuous rescue and field evaluation policy Town Hall has developed through its former Urban Archaeology Unit. Due to this work, near a dozen of a defensive wall sections were already recognized, dating from the end of Iron Age, till 1st/2nd and 3rd/4th centuries, which suggests several building or rebuilding phases on the same wall. Key-words: Oporto. Romanization. Urban walls INTRODUÇÃO Até não há muito tempo, a historiografia tradicional da cidade do Porto resumia a memória e os vestígios conser vados das antigas muralhas urbanas a duas únicas linhas defensivas: a designada muralha “suévica” e a mais bem conhecida e melhor datada cerca fernandina. A primitiva cerca medieva, impulsionada pelo renascimento económico e estabilização política decorrentes da doação da cidade ao bispo D. Hugo por D. Teresa (1120) e posterior carta de couto daquele prelado (1123) terá sido reconstruída no século XII (Carvalho; Guimarães; Barroca, 1996: 1 Investigador do CITCEM/Centro de Investigação Transdisciplinar: Cultura, Espaço e Memória (Paisagens, fronteiras e poderes). E-mail: [email protected] 43 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 122), remontando, segundo diversos Autores, pelo menos ao século IX (Varia, 1939; Carvalho; Guimarães; Barroca; Ibid.), podendo coincidir com a presúria da urbe no reinado de Afonso III das Astúrias (866-910). Com um perímetro de cerca de 750 metros e defendendo uma superfície de pouco mais de 3 hectares, teria apenas 4 portas, dela existindo poucos troços visíveis presentemente, o que não obsta a que seja possível reconstituir o seu traçado quase na totalidade, com base na cartografia e outros registos antigos (Duarte; Barroca, 1990; Osório, 1994; Carvalho; Guimarães; Barroca, 1996: 120-3). Na actualidade, preserva-se à vista quase exclusivamente o cubelo e pano de muralha existentes junto ao Largo de D. Hugo, podendo ainda observar-se alguns paramentos nas traseiras das casas do lado Poente da Rua de Santana. Também em algumas inter venções arqueológicas foram identificados tramos desta muralha, nomeadamente na que teve lugar no Largo do Colégio, 9-12 (Cleto; Varela, 2000; Varela; Cleto, 2001), único ponto em que podem ainda observar-se as faces externa e interna, no subsolo da Rua de S. Sebastião, junto à antiga Casa da Câmara, onde apareceu o embasamento do arco da porta de S. Sebastião (Ribeiro, 1999; 2002), provavelmente já tardo-medieval ou dos começos da época moderna e, mais recentemente, na intervenção em curso no Quarteirão da Bainharia (Fonseca; Teixeira; Fonseca, 2009). A atribuição ao período suévico desta muralha tem uma longa tradição historiográfica, parecendo remontar pelo menos a D. Rodrigo da Cunha, em 1623, autor que justificava a edificação do castelo de “Portucale Novum” no quadro dos conflitos militares entre Alanos e Suevos (Cunha, 1623: 12-3), e assenta documentalmente na distinção feita nas supostas actas do Concílio de Lugo de 569 – a Divisio Theodemiri, ou Parochiale dos suevos – entre as duas povoações separadas pelo Douro: o Portucale castrum antiquum, de obediência ao bispado de Conimbriga (na margem sul do Douro), e, já como sede episcopal, o castro novo situado na margem Norte (David, 1947: 34-7), referências que num dos manuscritos do Parochiale surgem adjectivadas, classificando o núcleo gaiense como Portucale castrum antiquum Romanorum e o localizado a Norte como castro novo Suevorum, indicação que levou numerosos autores a atribuir aos Suevos a fundação do Portucale da margem direita (Idem: 79) e a deduzir que tal “fundação” tivesse sido acompanhada pela fortificação do lugar. Se bem que desde há muito diversos estudiosos (Basto, 1948; Oliveira, 1973; Real et al. 1986; Osório 1994; Silva 1994; Carvalho; Guimarães; Barroca, 1996) tenham demonstrado a insustentabilidade desta atribuição cronológica, a designação sobrevive ainda em roteiros turísticos e obras de divulgação, algumas até de autores e instituições que teriam talvez a obrigação de estar melhor informados da evolução das pesquisas históricas e arqueológicas. Todavia, o desenvolvimento urbano em breve tornou a cerca românica escassa e obsoleta, levando a que a Coroa e a cidade empreendessem nova obra de fortificação. Erigida numa fase de grande expansão urbana, esta última linha muralhada é visível ainda em extensos troços, como nas áreas dos Guindais, Ribeira e Escadas do Caminho Novo, entre outros. No reinado de D. Afonso IV, em 1336, estava já em construção, alongando-se a obra até 1376, em tempo já de D. Fernando, o que originou a que tradição historiográfica designasse como fernandino o novo muro. Espraiando-se ao longo de cerca de 2600 metros, rasgada por 18 portas e postigos e cobrindo mais de 44 ha., a cerca nova aproximou a cidade do Douro e envolveu os novos bairros e conventos que entretanto se tinham construído na periferia do núcleo primitivo (Muralhas, 1936; Vitorino, 1946; Rodrigues, 1986; Duarte; Barroca, 1990; Sousa, 1994). Os vestígios materiais da ocupação na área urbana do Porto ao longo do período do Império, no quadro da problemática da localização de Cale e da ocupação proto-histórica da região, foram recentemente sintetizados (Silva, 2010), sendo dispensável, até por necessária contenção de espaço, que repitamos aqui o que então afirmámos (Fig. 1). Pareceu-nos oportuno, todavia, reunir em breve ensaio os dados disponíveis sobre o sistema monumental defensivo2 do aglomerado 2 O tema das muralhas, em diferentes épocas, tem sido objecto de interessantes análises, destacando quer os seus aspectos mais funcionais ou militares, quer os simbólicos. Não sendo este o nosso tema, remetemos o leitor para o que sobre o assunto dissemos já (Silva 2005: 174-5), devendo destacar-se o contributo recente de Jean-Pierre Adam (2007). 44 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 que desde os finais da Idade do Bronze se constituiu neste ponto da margem direita do Douro, considerando até alguns achados posteriores ao trabalho citado. As escavações que tiveram lugar num imóvel da Rua D. Hugo, nº 5 entre 1984 e 1987 (com uma segunda fase em 1992 e 1993), que de certa maneira inauguraram, agora em função de propósitos de pesquisa devidamente determinados, a arqueologia urbana na cidade do Porto, não só proporcionaram os primeiros vestígios arquitectónicos da ocupação do morro da Sé durante a Idade do Ferro e a Época Romana como forneceram a primeira evidência material de uma linha defensiva anterior à cerca medieval (Real et al. 1985-86). Posteriormente, diversos trabalhos conduzidos pelo Gabinete de Arqueologia Urbana da Câmara Municipal do Porto (GAU) em casas do lado Norte da Rua e Largo de Penaventosa levaram à identificação de outros trechos de amuralhamentos datados do período de dominação romana, o mesmo sucedendo num edifício localizado no lado Sul do Largo do Colégio. Mais recentemente, uma intervenção de grande envergadura levada a cabo no quarteirão da Bainharia, entre as ruas de S. Sebastião, Escura e da Bainharia, proporcionou o achado certamente mais espectacular, até pela extensão do troço defensivo posto a descober to, ocorrendo também outros elementos na Rua da Penaventosa e de D. Hugo, que adiante discutiremos. Desta forma, começam a reunir-se um conjunto de achados que permitem algumas leituras cruzadas de carácter essencialmente cronológico, tanto mais que sobre o urbanismo e a natureza das edificações cujo espaço vital aquelas muralhas delimitavam, pelo menos simbolicamente, as informações disponíveis continuam a ser diminutas. Importa notar, contudo, que os dados que utilizámos correspondem na maior parte dos casos a intervenções ainda não devidamente estudadas, e algumas praticamente inéditas3, sendo necessário uma pesquisa mais aprofundada, sobretudo ao nível dos espólios e das estratigrafias, para porventura alcançarmos uma evidência melhor sustentada. DA RUA D. HUGO Nº 5 AO LARGO DO COLÉGIO Neste edifício da rua D. Hugo encontraram-se, em aparente associação com edificações de planta circular típicas do urbanismo castrejo, os restos de uma construção de planta ortogonal com as esquinas arredondadas e pavimento interior lajeado, datada do séc. I, cortada por um muro de bom aparelho (de que só pôde observar-se a face interna, pois está incorporado no alicerce da parede tardoz do edifício moderno) interpretado como correspondente a um amuralhamento, erguido provavelmente em finais do século III (Real et al. 1985-86: 19-20). Tratava-se de um muro feito com blocos de apreciáveis dimensões dispostos em fiadas relativamente regulares (Fig. 2), que assentava numa camada datada do século III com base no respectivo conteúdo artefactual (Idem: 30-31, Fig. 23). A estrutura foi interpretada pelos responsáveis pela escavação como o alinhamento de uma muralha do Baixo Império, erigida no quadro de instabilidade e potencial conflito que fez com que várias cidades do Noroeste peninsular erguessem ou reforçassem cercas defensivas nesse período (Real et al., 1985-86; Real; Osório, 1993)4. Durante mais de uma década este pequeno troço de paramento da Rua D. Hugo, situado na escarpa ENE. do morro da Sé, elemento topográfico que importa ter presente para melhor se compreender a implantação do aglomerado castrejo romanizado, constituiu o único vestígio identificado – que infelizmente não pôde ser deixado visível, por razões de segurança das fundações 3 Cumpre-nos uma nota de agradecimento aos arqueólogos que nos facultaram elementos inéditos para este trabalho, nomeadamente aos responsáveis da empresa Arqueologia e Património pela cedência de imagens dos achados no Quarteirão da Bainharia. 4 Para este, como para outros locais, simplificámos ligeiramente a bibliografia técnica apresentada. Veja-se Silva, 2010 para referências mais detalhadas. 45 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 do imóvel – de um amuralhamento da época romana, elemento aliás destacado em vários textos historiográficos e de divulgação (Real; Osório, 1993; Silva, 1994; Silva, 2000). Nos finais da década de 1990 outros restos arquitectónicos, ordinariamente mal preservados ou com acessibilidade muito condicionada por razões estruturais, ampliaram o conhecimento disponível sobre as muralhas antigas do Porto. Iremos apresentá-los sensivelmente por ordem cronológica das descobertas, reservando para o final o comentário de conjunto e a discussão de algumas questões em aberto. Em 1998 o GAU/CMP levou a cabo diversas intervenções de avaliação arqueológica, prévias a projectos de remodelação dos imóveis, em diversas casas da Rua da Penaventosa, no sector ONO. da elevação do morro da Sé. No número 39-43 daquele arruamento foi efectuada uma intervenção de emergência na sequência da detecção de vestígios arqueológicos em valas de obra abertas inadvertidamente. Das escavações resultou a identificação de diferentes estruturas de época romana, muito truncadas, com realce para um muro bastante espesso, exibindo aparelho algo irregular mas tendendo para a isodomia das fiadas, visível em cerca de três metros de extensão, não podendo determinar-se a largura em consequência da sua face posterior/externa se encontrar sob um dos muros do edifício actual (Fig. 3). Se bem que os resultados desta intervenção não tenham ainda sido estudados e os relatórios disponíveis não permitam afirmar uma cronologia precisa para esta estrutura, é indubitável o seu contexto castrejo-romano, considerando os espólios associados, como por exemplo o dormente de uma mó circular, de bom talhe, depositado junto à sua face interna, e o facto do muro se sobrepor a uma profunda vala, provavelmente para escoamento de águas, cujos depósitos integravam também cerâmicas de tipo romano, podendo talvez sugerir-se um intervalo entre o século I a.C. e o século I da nossa era para a erecção deste tramo de muro, certamente pertencente às linhas defensivas do povoado (Silva, 1998; Silva; Barbosa, 1998a; 1998b). Em parcelas quase contíguas para Nordeste, nos números 49-51 e 53-57 da mesma rua e no tardoz dos edifícios actuais, sobre uma escarpa muito pronunciada voltada para a Rua da Bainharia, ocorreram igualmente vestígios porventura correlacionáveis com a linha de muralha romana. Na casa nº 49-51, igualmente escavada após a abertura de valas de obra sem a devida avaliação arqueológica prévia, encontrou-se espólio romano e da Idade do Ferro, estando eventuais estruturas antigas bastante destruídas por intervenções da época moderna e infra-estruturas contemporâneas. Num logradouro posterior foram detectados alguns depósitos homogéneos de época romana e restos de estruturas, igualmente mal conservados, que podem talvez relacionar-se com a muralha, sugerindo-se para estes contextos uma cronologia essencialmente dos finais da Idade do Ferro e Alto Império, embora ocorram também artefactos tardo-romanos (Silva; Barbosa 1998a; 1998b). Na mesma Rua de Penaventosa, nos números 53-57, parcela adjacente à anterior, efectuou-se uma pequena sondagem em local onde seria expectável localizar-se o referido muro defensivo romano. Todavia, sob um lajeado moderno surgiu um entulhamento de grandes blocos, que não pôde ser removido por razões de segurança. Os depósitos associados apresentavam espólio romano, de cronologia variável, e também da Idade do Ferro. Assim, as possibilidades de localização da muralha romana neste ponto foram reduzidas pelas dificuldades logísticas de alargamento da área escavada (Silva; Barbosa, 1998a; 1998b). Não longe destes locais, mas já na encosta OSO. do morro da Sé, voltada do Largo do Colégio para a Rua dos Mercadores, foi intervencionada entre 1998 e 1999 a casa nº 9-12 do mesmo largo. A escavação, que se estendeu por toda a cave do imóvel e abrangeu ainda algumas plataformas no exterior, voltadas à escarpa, proporcionou diversos achados de muito interesse, desde logo um significativo troço da muralha românica, que aliás serve de alicerce às paredes posteriores do prédio, e diversas estruturas de época romana, com destaque para uma sepultura (a primeira e única até hoje aparecida no Porto). A inumação, orientada no sentido Sudoeste/ 46 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 /Nordeste, achava-se estruturada com tegulae na base e com as paredes laterais feitas no mesmo material, formando uma cobertura em duas águas colmatada superiormente por imbrex (Cleto; Varela 2000), sendo esta tumba interpretada como tardia (sécs. IV-V), atentas a tipologia e a ausência de mobiliário funerário (Cleto; Varela 2000; Varela; Cleto 2001; Abreu 2002: 160). No exterior do imóvel e do traçado da cerca medieva, em zona de forte pendente, detectou-se ainda, sob um derrube de blocos de grandes dimensões que incluía materiais romanos, uma estrutura de grande aparelho e monumentalidade, feita em opus vittatum com boa isodomia e composta por um tramo rectilíneo de onde parece sair um paramento de planta subcircular (Figuras 4 e 5). Infelizmente, por razões de segurança, dado o grande desnível topográfico onde se localizou esta estrutura, a escavação neste ponto não pôde ser prosseguida para além dos potentes níveis de derrube que cobriam e se adossavam à estrutura monumental, pelo que a sua datação não foi avançada pelos responsáveis da intervenção, parecendo fora de dúvida, contudo, tratar-se de mais um tramo de amuralhamento romano (Cleto; Varela 2000; Varela; Cleto 2001). Retomando as pesquisas na Rua e Largo da Penaventosa entre 2002 e 2003, os arqueólogos municipais voltaram a encontrar diversos tramos da cerca romana, agora com mais clareza e em níveis estratigráficos mais preservados que nas casas escavadas alguns anos antes, verificando-se nitidamente que sobre essa linha muralhada, voltada para a escarpa da Bainharia, assenta aparentemente o alçado exterior da maior parte dos imóveis daquela rua, prolongada para Sudoeste pelo largo do mesmo nome. No número 25-27 da Rua da Penaventosa, muito perto de uma das casas escavadas em 1998, ressalta como principal resultado a identificação de níveis de ocupação romana, nos quais se insere um tramo da muralha antiga. Trata-se de um muro de orientação NE./SO., com cerca de 2,30 metros de extensão e uma espessura máxima de 1,30 metros (devendo recordar-se que não foi possível observar a face externa, pelas razões apontadas). O seu alçado, que atinge os 1,75 metros de altura, revela o que parece corresponder a duas fases construtivas, discerníveis quer pelo aparelho, quer até por divergências sensíveis na orientação dos muros (Figs. 6 e 7). Estas observações, relacionadas com a análise do espólio, apesar de escasso, permitiram-nos propor uma cronologia entre a 2ª metade do séc. I e a 1ª metade do séc. II para a primeira fase da muralha, podendo datar-se a segunda fase talvez dos séculos III-IV (Alicerces… 2003). Também no número 25 mas agora do Largo da Penaventosa, junto à parcela anterior, as escavações do GAU revelaram, na fase mais antiga, designada como “castrejo-romana”, entre outras estruturas, um tramo de amuralhamento dessa época, igualmente servindo de alicerce à parede posterior do imóvel. Trata-se de um muro de orientação NE./SO., com cerca de dois metros de extensão e uma espessura máxima entre 1,60 e 1,85 metros, considerando a sapata de fundação (devendo notar-se que não foi possível obser var a face externa, pelas razões apontadas), conservando-se o seu alçado interno em 1,10 metros. Do ponto de vista arquitectónico, ressalta a circunstância da muralha possuir, se assim pode dizer-se, dois alinhamentos internos, sendo o mais largo cronologicamente posterior ao tramo principal. Isto poderá resultar de diferentes fases construtivas, reforços estruturais, ou significar mesmo um escalonamento interno dos muros da cerca defensiva (Fig. 8). Pelos materiais associados a esta estrutura monumental, apesar de parcos, propôs-se datar a sua construção de meados ou 2ª metade do século I da nossa era (Silva et al., 2003). Por fim, no mesmo Largo de Penaventosa, no nº 21, foi igualmente identificada uma fase de ocupação designada como “castrejo-romana”, na qual se insere um tramo de muralha antiga, ser vindo também de alicerce à parede tardoz do imóvel. O muro, com orientação NE./SO., apresentava cerca de 2,30 metros de extensão e uma espessura máxima, na sua parte visível, de 0,70 metros, conser vando-se o seu alçado interno em 1,20 metros (Figs. 9 e 10). Pelos materiais associados pode datar-se a sua construção entre a 2ª metade do século I e a 1ª metade do séc. II (Silva et al., 2006). 47 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Numa intervenção arqueológica bastante extensiva (mais de 200 m2, distribuídas por perto de três dezenas de sondagens) que ainda está em curso no designado Quarteirão da Bainharia, entre as Ruas de S. Sebastião, Escura e da Bainharia, na encosta NNO. do morro da Sé, apareceu em 2009, entre outras estruturas antigas, uma extensa linha amuralhada que os responsáveis pelas escavações classificam como pré-romana, datável de entre os séculos II e I a.C. (Fonseca; Teixeira; Fonseca, 2009). Os troços de muralha, em assinalável grau de preservação (Figs. 11 e 12), foram localizados em diferentes sondagens situadas no interior do quarteirão, sensivelmente nos logradouros das parcelas com os números 51 a 59 da Rua de S. Sebastião, e respeitam a uma construção de orientação OSO./ENE., com cerca de 1,90 metros de largura, ampliada para 2,50 metros graças à presença de uma contrafor tagem pelo lado exterior, zona de forte declive (Idem: 5-6). Para além daquelas observações, troços de muralha foram também detectados em outras duas sondagens, implantadas de encontro à parede posterior dos imóveis com os números de polícia 73 e 77 da Rua da Penaventosa (Fonseca; Teixeira; Fonseca, 2009: 21-4). Por razões de segurança e logística as áreas de escavação não puderam ainda ser ampliadas ou aprofundadas de modo a caracterizar devidamente as estruturas detectadas, apontando-se por isso a hipótese de estarem relacionadas com a primitiva cerca medieva. Não obstante, e nomeadamente no que se refere à sondagem da parcela nº 73, deve registar-se que o aspecto do paramento é em tudo idêntico aos troços de muralha alto-imperial detectados nas intervenções do Largo de Penaventosa 21 e 25 ou da Rua do mesmo nome nº 25-27, que atrás descrevemos, devendo por isso encarar-se, em nosso entender, a possibilidade de datação romana destas estruturas. REGRESSO A D. HUGO Mais recentemente ainda foram levados a cabo outros trabalhos arqueológicos em outras parcelas da Rua D. Hugo que merecem breve nota. No nº 19 da mesma artéria, situada a poucas dezenas de metros do arqueossítio musealizado, foi localizado mais um tramo do alicerce de muralha antiga da cidade. Implantado sob a parede posterior do imóvel (que nesta área não está directamente voltado sobre a encosta Sudeste do morro da Sé, uma vez que existe ainda um logradouro em plataforma), o muro granítico, com orientação aproximada Nordeste/Sudoeste, apresentava cerca de dois metros de extensão (limite da sondagem efectuada), e foi escavado num alçado máximo a rondar os 1,20 metros, mediando a espessura visível sensivelmente entre os 1,38 e os 1,56 metros, dimensão que não corresponde à totalidade da estrutura, uma vez que sobre ela se ergue a parede da construção moderna e não foram feitas sondagens no exterior que porventura permitissem a visibilização da face externa da muralha (Almeida; Soares; Marques 2010). O aparelho construtivo deste muro evidencia o alinhamento de blocos graníticos de tamanho médio em fiadas relativamente regulares, existindo significativa colmatação de uma “argamassa de tom branco-amarelado que envolve as pedras da muralha” (Idem: 6). Discutindo a cronologia da sua edificação, os responsáveis pela intervenção arqueológica, sublinhando as limitações decorrentes da circunstância da escavação não ter atingido os níveis fundacionais do muro, inclinam-se para uma origem pré-romana deste muro defensivo, atendendo a que “o seu modo construtivo parece idêntico a outros exemplares encontrados nos castros” e apontando mesmo eventuais semelhanças com o troço de muralha identificado no Quarteirão da Bainharia (Idem: 6, 12-13), para concluir que “esta estrutura, embora mais antiga, foi sendo aproveitada e reformulada durante o Mundo Romano” (Ibidem: 12). Todavia, importa precisar que, apesar dos Autores citados interpretarem a maior parte dos depósitos escavados de encontro à face interna da muralha (até à profundidade máxima escavada de 1,20 metros) como níveis de entulhamento relacionados com a utilização do “espaço 48 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 interior da muralha (...) principalmente durante o Mundo Romano” (Idem: 6), tais camadas não proporcionaram qualquer espólio arqueológico. O último estrato com conteúdo artefactual, uma camada (a nº 7) que cobre já o topo da estrutura, forneceu alguma cerâmica comum romana, ânfora e tegula, mas misturada com louça das épocas moderna e contemporânea (mais de 80% do contexto), segundo o mesmo relatório (Idem: 10), o que parece caracterizar aquele depósito como relacionado com obras modernas feitas no imóvel, em pouco servindo como elemento de datação da estrutura. Por outro lado, não só o aparelho construtivo desta linha defensiva pouco tem que ver com o aparecido no Quarteirão da Bainharia como a abundante presença de argamassas beje-amareladas distingue este troço de todos os outros encontrados na cidade com cronologia pré-medieval, onde tal ligante nunca foi documentado deste modo. Assim, ainda que admitindo que o tramo de muralha possa porventura assentar sobre uma linha de fortificação anterior, o que não pôde obser var-se pelo facto da sondagem não ter sido aprofundada, quer-nos parecer que o muro documentado naquele imóvel será já de cronologia medieval. Esta datação parece confirmar-se, aliás, pelos resultados da escavação arqueológica poucos meses antes realizada na parcela contígua do lado Sudoeste, número 23 do mesmo arruamento (Argüello; Teixeira, 2009). Numa sondagem localizada no canto Nascente do imóvel, igualmente sob o tardoz do edifício e separada da sondagem da casa nº 19 apenas pela parede de meação, foi também detectada a base de uma estrutura de grande porte. Composta por pedras de granito dispostas com pouca regularidade e envolvidas por grande quantidade de argamassa amarelada, apresentava na sua parte visível uma espessura de 1,20 metros, tendo sido escavada numa extensão de dois metros (a largura da sondagem) por um alçado de cerca de 0,60 metros. O muro achava-se assente em níveis de terra, algo instáveis, o que impediu o aprofundamento da sondagem até à rocha natural; porém, a sua vala de fundação cortava depósitos classificados como tardo-romanos, o que levou os responsáveis pela intervenção a considerar o troço de muro como provável alicerce da muralha românica (Idem: 19), se bem que admitindo, pela disposição dos depósitos romanos contíguos, que tal estrutura pudesse coincidir sensivelmente com o traçado de outra muralha anterior, de época romana (Idem: 19, 20, 25). Numa outra intervenção recente no nº 33 da mesma Rua D. Hugo, foram feitas sondagens de encontro à parede posterior do edíficio e também no logradouro, mais a Sudeste, não tendo aparecido estruturas relacionadas com o circuito muralhado, se bem que nas pesquisas realizadas no interior do imóvel, que possuía já uma cave bastante profunda em relação à cota da rua, tenham sido detectados interessantes depósitos com espólio do Bronze Final e Idade do Ferro, indiciando talvez que se alguma linha defensiva antiga (romana ou medieval) ali foi implantada, terá por certo sido destruída em consequência da abertura da referida cave (Fonseca, 2011). Por fim, merece ainda referência o achado feito há muito pouco tempo, no largo de D. Hugo, por ocasião da abertura de uma vala de obra, de um muro de grandes dimensões, parecendo ter mais de um metro de espessura, em contexto genérico aparentemente romano, se bem que não tenha sido ainda efectuada a sua escavação, mas tão só trabalhos de limpeza e registo (Marçal 2010). Este muro, que parece situar-se no alinhamento do tramo de muralha tardo-romana localizada no interior da casa nº 5, de que aliás dista escassos metros, poderá, a confirmarem-se esta interpretação e cronologia, fornecer elementos de grande significado para a compreensão da muralha romana neste ponto da velha urbe. CONCLUSÃO Fruto dos trabalhos arqueológicos realizados na cidade do Porto nas últimas décadas, com particular incidência desde finais do século passado e no quadro da acção de salvaguarda desen49 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 volvida pelo extinto Gabinete de Arqueologia Urbana da Câmara Municipal do Porto, diversas inter venções permitiram já documentar alguns troços das cercas defensivas mais antigas do primitivo núcleo urbano. Se bem que alguns elementos devam ser encarados com alguma prudência, uma vez que respeitam a intervenções ainda em curso, insuficientemente estudadas ou, pela própria natureza da arqueologia urbana, resultantes de sondagens de limitada extensão ou que não atingiram os depósitos de fundação das estruturas, começa a ser possível antever parte já relevante de um circuito muralhado aparentemente com diversas fases ou reconstruções ao longo do Império. Sintetizando tais observações tomando como referência a elevação do Morro da Sé ou da Penaventosa (como é designada nos documentos da Idade Média), assentamento do núcleo proto-histórico primitivo, possuímos já informações significativas para os sectores Es-nordeste, Nor-noroeste, Oés-noroeste Oés-sudeste (Fig. 13). A ENE., para iniciarmos este breve percurso final pela descoberta mais antiga, contamos com o pequeno alinhamento do interior do arqueossítio da Rua D. Hugo, nº 5, datado dos finais do século III ou século IV (Real et al. 1986), esperando-se com grande expectativa mais elementos sobre a estrutura detectada um pouco a Poente, no largo de D. Hugo. Seguindo agora, de algum modo, o rebordo da plataforma superior da colina em sentido inverso ao horário, deparamo-nos com os importantes achados do Quarteirão da Bainharia, onde se localizou o tramo mais extenso e melhor conservado, quer em alçado, quer em espessura, com uma primeira datação artefactual que aponta para os séculos II-I a.C. (Fonseca; Teixeira; Fonseca, 2009), em contexto indígena ou porventura contemporâneo dos primeiros contactos com os invasores. A confirmar-se a cronologia pré-medieval dos troços mais próximos da Rua da Penaventosa poderemos ter aqui algum faseamento temporal entre os diferentes tramos, parecendo menos crível, mesmo atendendo ao aparente desfasamento de traçados, que se trate de muralhas distintas. Avançando para Poente ao longo da Rua da Penaventosa, parece fora de dúvida que as fundações da muralha romana correm sob as paredes posteriores das casas voltadas à Rua da Bainharia, aproveitando o grande desnível topográfico entre ambos os arruamentos (Fig. 13). As seis parcelas que o GAU aí intervencionou entre 1998 e 2003 documentaram bem essa realidade, nomeadamente nas parcelas situadas mais a Oeste. Não obstante apenas ser acessível o paramento interno e parte do topo conservado desse muro, puderam observar-se com maior pormenor os seus aspectos construtivos e os depósitos onde foi fundado. Nas parcelas onde foi detectada mais recentemente (Alicerces… 2003), a muralha apresentava um alçado máximo conservado de 1,75 metros e era feita de blocos de granito rudemente aparelhados de médio e grande calibre, grosseiramente afeiçoados a pico na face externa, assentes com auxílio de uma terra argilosa, de coloração avermelhada, e com as juntas colmatadas com rachão miúdo também de granito, como se viu par ticularmente na sondagem executada no Largo da Penaventosa, nº 17-21. Neste ponto, estima-se que a muralha tivesse originalmente uma espessura superior a dois metros, datando-se a sua construção, pelo espólio associado, entre a 2ª metade do séc. I e a 1ª metade da centúria seguinte, segundo os dados do Largo da Penaventosa, 21 (Silva et al. 2006), ou de meados/2ª metade do séc. I, de acordo com as obser vações do Largo da Penaventosa, 25 (Silva et al. 2003)5. Na parcela contígua da Rua da Penaventosa, 25-27, verificou-se a circunstância curiosa da muralha exibir duas fases construtivas, remontando a primeira aos Flávios, homóloga por tanto dos tramos vizinhos, enquanto a mais recente poderá talvez situar-se entre os séculos III e IV. As estruturas monumentais identificadas na intervenção do Largo do Colégio 9-12, essencialmente um muro de silharia de vulto prolongado por um pano de planta subcircular ou elíptica 5 Este ligeiro desfasamento cronológico, que poderá ser afinado com o estudo de outros tramos desta muralha aparecidos em intervenções próximas, decorre sobretudo da escassez dos materiais cerâmicos presentes nos níveis fundacionais da estrutura. 50 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 (Cleto; Varela 2000; Varela; Cleto 2001), parecem corresponder ao arranque de um torreão (Fig. 5), talvez à semelhança dos da muralha de finais do século III de Bracara Augusta que apareceram na zona do Fujacal daquela cidade (Lemos et al., 2001; Lemos; Leite; Cunha, 2007). Embora a escavação não tenha aparentemente proporcionado elementos seguros para a sua datação, propomos a sua atribuição a uma época tardia com base em numerosos paralelos de cercas urbanas do Baixo Império das províncias Nor-ocidentais, como é o caso de Lugo, Astorga, Conimbriga ou, segundo descobertas recentes, Viseu6. A circunstância de terem já sido identificados troços desta cronologia na Rua D. Hugo 5 e aparentemente na segunda fase da Rua da Penaventosa 25-27, reforçam um pouco tal possibilidade, para além da datação igualmente tardia da sepultura encontrada no mesmo Largo do Colégio 9-12. Não obstante, por esta zona deveria também correr a muralha do Alto Império, obser vando a continuidade hipotética dos tramos detectados na Penaventosa. Entre este local e a parte média da Rua D. Hugo, por todo o sector meridional do morro da Sé, não possuímos qualquer indicação acerca do traçado das muralhas romanas (Fig. 13), sobretudo por falta de trabalhos arqueológicos, sendo a plataforma do Seminário Maior do Porto, a este respeito, uma área de grande potencial, atendendo a alguns achados ocasionais de espólio romano (Brandão 1984) e à aparente conservação dos depósitos naquela plataforma7. Temos assim evidência de estruturas monumentais defensivas localizadas já em vários pontos da encosta do povoado castrejo original. Apesar da informação disponível não ser abundante, as diferenças de cronologia e de aparelho construtivo recomendam-nos prudência na sua interpretação. As datações propostas para a sua edificação vão, como vimos, dos séculos II-I a.C. (Bainharia) ao Alto Império (Rua da Penaventosa) e ao Baixo Império (Rua D. Hugo e Largo do Colégio). Independentemente dos acer tos e revisões cronológicas que venham a ser feitos, aquelas diferenças só encontram duas explicações possíveis: ou seriam dois circuitos muralhados distintos ou, mais provavelmente, diferentes momentos construtivos, ou de reconstrução, de uma mesma estrutura que, no essencial, parece acompanhar, ou andar muito próxima, do traçado da cerca românica. Todos estes dados resultantes da intensa actividade arqueológica desenvolvida na cidade do Porto no último quarto de século, reflectem bem – a par de outros achados excepcionais, naturalmente, que iluminam épocas anteriores e posteriores à da dominação romana – a utilidade de uma política cultural de salvaguarda sistemática do património arqueológico em articulação esclarecida com o necessário desenvolvimento urbanístico da cidade, concretizada no município portuense, até data recente, através do Gabinete de Arqueologia Urbana. As lacunas, bem mais evidentes, ao nível da divulgação e valorização de tais vestígios, que requerem acções consistentes e continuadas de estudo dos elementos proporcionados pelas escavações, para as quais os apoios e o interesse dos decisores são, em nosso entender, cada vez menores, levam-nos a reflectir sobre o próprio projecto de arqueologia urbana que foi sendo desenhado para o Porto e os seus resultados e constrangimentos, nomeadamente em consequência das recentes reestruturações orgânicas nos serviços técnicos municipais, questão que não é já o tema deste pequeno ensaio8. BIBLIOGRAFIA ABREU, João M. F. (2002) – Necrópoles romanas do território português. Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Texto dactilografado. 6 Veja-se Rodriguez; Rodá de Llanza 2007 para um conspecto actualizado. Veja-se Silva 2010 para detalhes, bibliografia e visão de conjunto. 8 As imagens das figuras 4, 5, 11 e 12 foram cedidas pelos responsáveis das respectivas intervenções, a quem agradecemos a permissão para o seu uso. As das figuras 3 e 6 a 10 correspondem a intervenções do GAU de que fomos co-autores. 7 51 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 ADAM, Jean-Pierre (2007) – “Murailles de la peur, murailles du prestige, murailles du plaisir”. In Rodriguez Colmenero, A.; Rodá de Llanza, I. (eds.) – Murallas de Ciudades Romanas en el Occidente del Imperio (Lvcvs Avgvsti como paradigma). Actas del Congreso Internacional celebrado en Lugo… Lugo: Museo e Diputación Provincial, p. 23-43. “Alicerces da muralha romana descobertos na Penaventosa” (2003). Portvs. Boletim de Arqueologia Portuense. 4 (Jun. 2003), Porto, p. 4-5. ALMEIDA, Carlos A. B.; SOARES, Sofia P.; MARQUES, Marta M. 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As das figuras 3 e 6 a 10 correspondem a intervenções do GAU de que fomos co-autores. Agradecemos ainda a colaboração de Gabriel Pereira (cartografia) e Manuela Ribeiro (revisão). 53 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 1 – Localização dos vestígios romanos na cidade do Porto. Área nuclear do centro histórico (seg. Silva, 2010). 55 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 2 – Rua D. Hugo, 5. Corte estratigráfico que evidencia a face da muralha do Baixo Império (REAL; OSÓRIO 1993). Fig. 3 – Troço de muralha aparecido na Rua da Penaventosa, 39-43, vendo-se também o dormente de uma mó giratória, junto ao alicerce interno. 56 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 4 – Largo do Colégio, 9-12. Estrutura de grande aparelho, interpretada como possível alinhamento de muralha romana Fig. 5 – Largo do Colégio, 9-12. Estrutura de grande aparelho, de plano curvilíneo (torreão?) interpretada como possível alinhamento de muralha romana. 57 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 6 – Rua da Penaventosa, 25-27. Alçado da face interna da muralha romana. Fig. 7 – Rua da Penaventosa, 25-27. Vista superior da muralha romana, que serve de alicerce à parede tardoz da habitação. 58 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 8 – Largo da Penaventosa, 23-27. Aspecto do alicerce da muralha romana, aqui bastante destruído. 59 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 9 – Largo da Penaventosa, 17-21. Face interna da muralha, sobre a qual assenta a parede posterior da habitação. 60 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 10 – Largo da Penaventosa, 17-21. Vista superior da estrutura defensiva. 61 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 11 – Quarteirão da Bainharia. Vista de topo e da face exterior da muralha, aparecida em trabalhos recentes. 62 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 12 – Quarteirão da Bainharia. Aspecto da mesma estrutura, que conserva ainda um alçado bastante expressivo. 63 Silva, António Manuel – As Muralhas Romanas do Porto: Um balanço arqueológico Portvgalia, Nova Série, vol. 31-32, Porto, DCTP-FLUP, 2010-2011, pp. 43 -64 Fig. 13 – Locais onde foi identificada a muralha romana do Porto. 1. Largo do Colégio/Santana, 9-12; 2. Largo/Rua da Penaventosa; 3. Rua da Penaventosa; 4. Quarteirão da Bainharia; 5. Rua D. Hugo, nº 5. O tracejado sugere uma reconstituição por ora meramente hipotética (Silva, 2010, actualizado). 64