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Literatura-Mundo em Português: Encruzilhadas em África

From ideas that destabilize the hegemonic paradigms – "epistemologies of the south" and "provincializing Europe" – this paper reflects on the epistemological dimension of world literature and its contribution to the analysis of the intersections between literatures in Portuguese. By expanding the focus of comparison aspects related to linguistic and cultural transits as well historical and ideological were taken into consideration from theoretical perspectives which unveiled relations between African literatures and their counterparts in Portugal and Brazil, while made them unique as national systems. KEY WORDS: Literature-World - epistemological category - literature in Portuguese - contact zones.

ISSN: 0210-7287 LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA World Literature in Portuguese: Intersections in Africa Inocência MATA FLUL/CEC [email protected] Recibido: septiembre de 2013; Aceptado: octubre de 2013; Publicado: diciembre de 2013 BIBLID [0210-7287 (2013) 3; 103-118] Ref. Bibl. INOCÊNCIA MATA. LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA. 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3 (2013), 103-118 RESUMO: A partir de ideias que desestabilizam paradigmas hegemónicos –«epistemologias do sul» e «provincializar a Europa»– este trabalho reflecte sobre a dimensão epistemológica da categoria literatura-mundo e a sua contribuição para a análise das relações e intersecções entre as literaturas em português. Ao ampliar o campo da comparatística, foram referidos aspectos que têm a ver com trânsitos não apenas linguísticos e culturais, mas também históricos e ideológicos a partir de perspectivas teóricas que desvelavam as relações entre as literaturas africanas e suas congéneres portuguesa e brasileira, ao mesmo tempo que as tornavam singulares enquanto sistemas nacionais. Palavras-chave: Literatura-Mundo, Categoria Epistemológica, Literaturas em Português, Zonas de Contacto. © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 104 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA ABSTRACT: By calling upon ideas that destabilize hegemonic paradigms –«the epistemologies of the south» and «provincializing Europe»– this paper reflects upon the epistemological dimension of world literature and the contribution it has made in analysing the intersections between literatures in Portuguese. By widening the focus of my comparison, aspects related to linguistic and cultural as well historical and ideological transits have been taken into consideration from theoretical perspectives which unveil the relations existent between African literatures and their counterparts in Portugal and Brazil while at the same time making them unique as national systems. Key words: Literature World, Epistemological Category, Literatures in Portuguese, Contact Zones. 1. E NCRUZILHADAS CRÍTICAS : LITERATURA - MUNDO COMO CATEGORIA EPISTEMOLÓGICA Epistemologia é toda a noção ou ideia, reflectida ou não, sobre as condições do que conta como conhecimento. Boaventura de SOUSA SANTOS & Maria Paula MENESES Durante muito tempo, os estudos literários africanos foram caracterizados por uma quase obsessão de estudo interno, longe de uma abordagem comparatista que, quando existia, se restringia aos corpora das literaturas dos Cinco, que, embora se reconhecesse pertencerem a sistemas culturais e geográficos diferentes, eram consideradas bem próximos em termos históricos e simbólicos1. Por exemplo, naquele que pode ser considerado o primeiro evento exclusivamente dedicado às literaturas africanas de língua 1. Privilegio esta designação dos países de língua portuguesa de África, em detrimento de PALOP, não apenas pelo equívoco que encerra (são países de outras línguas também, sobretudo do crioulo que em três deles é realmente «língua nacional»), mas sobretudo na esteira de Mário Pinto de Andrade para quem a designação «os Cinco» resgata a utopia da fraternidade dos tempos da luta anticolonial, com a criação da CONCP-Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, fundada sob a égide de Amílcar Cabral em 1961, em Rabat, Marrocos. © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA 105 portuguesa, organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian em 1984, em Paris (no Centro Cultural Português), há uma estatística reveladora: entre sessenta e duas comunicações, apenas uma fala da relação entre a literatura negra norte-americana e a poesia africana –numa secção dedicada a «Problèmes generaux» (Martinho, 1985). Essa opção metodológica obedecia a uma paradigma epistemológico que recusava a indagação da nacionalidade cultural dos objectos e sujeitos dessas literaturas, como se a simples indagação pudesse significar a sugestão da inexistência de um sistema nacional. Os primeiros estudos dessas literaturas ajudaram a consolidar esse incómodo quando, numa disciplina com a designação de Literatura Portuguesa, também eram contemplados autores e obras africanos –simplesmente porque embora não houvesse disciplina nenhuma em que se pudesse estudar tal matéria, os professores consideravam importante o conhecimento de escritores de África num curso de Letras. Dir-se-ia que o efeito da luta pela visibilização das literaturas africanas foi, em certo aspecto, contraproducente. Nos anos 90 do século passado começou a verificar-se o questionamento dessa opção metodológica que circunscrevia a produção literária africana a uma dimensão estritamente interna e marcadamente político-ideológica que não raro se esgota(va) em si mesma. Muitos estudiosos alertaram para o perigo da circunscrição dessas literaturas a essa condição tão instrumental, embora necessária em determinado tempo pois a literatura foi uma das formas de expressão que os intelectuais encontraram para enfrentar o poder político em tempo de silenciamento musculado de vozes dissonantes. Recentemente Helena Buescu referiu-se a esta questão, de modo genérico, do seguinte modo: Se é verdade que ela, a literatura, funcionou em determinada conjuntura histórica como projecção de uma certa comunidade imaginada que ajudou a cimentar o processo político e ideológico da construção das nações […] o certo é que julgo empobrecedor reduzir a literatura a tal movimento – ignorando assim outras formas poderosas pelas quais a cultura humana nela se cristaliza, enquanto constelação transmissível a todos os que também imaginamos como nossos contemporâneos e nossos vindouros. Escamotear o papel decisivo da literatura nesse processo […] é, em minha opinião, um dos passos primeiros que conduz ao mal-estar que tantos dos que trabalham com ela sentem, em relação à literatura (Buescu 2013, 14). Embora tais abordagens «contextuais» não sugirissem a diminuição do valor estético das obras estudadas, elas talvez inibissem tanto a exploração de potencialidades temáticas, discursivas, formais, quanto o tratamento de motivações experienciais e vivenciais das literaturas © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 106 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA em português que uma «observação em português» (Helena Buescu), ou mais ampla, pudesse desencadear2. Assim, a partir da observação no âmbito mais alargado, que não apenas «observar em português» –portanto, africano, global–, as literaturas dos Cinco começaram a ser integradas num contexto comparatista. Partindo do estudo do universo da reinvenção da diferença cultural do português nos espaços nacionais que o têm como língua de expressão literária, foram sendo referidos aspectos que têm a ver com trânsitos não apenas linguísticos e culturais, mas também históricos e ideológicos, com reflexos nos estudos literários, a partir de perspectivas teóricas que desvelavam as relações entre essas literaturas, ao mesmo tempo que as tornavam singulares enquanto sistemas nacionais. Tratou-se, nessa viragem metodológica (que reflectia uma mudança de paradigma na análise do passado), de pesquisar o caractér supranacional de «certos fenómenos estéticos e literários» e do reconhecimento da sua «capacidade trans-histórica» (Buescu 2013, 36); tratou-se, pode dizer-se, de «provincializar a Europa», isto é, de reivindicar a contribuição que as colónias (parte do «resto do mundo») deram para a construção da realidade histórica e cultural de Portugal e da Europa –ou, se se preferir, para a ideologia da modernidade europeia, através de uma reinterpretação da história a partir das suas margens. Recorro à ideia de «provincializar a Europa», expressão metafórica de Dipesh Chakrabarty para designar a globalização do pensamento europeu (ocidental afinal) no âmbito das ciências sociais, para entender a transição para a «modernidade capitalista» no mundo não-ocidental, entenda-se, no contexto, espaços ex-imperiais, não obstante as adaptações que se impõem para e pelas margens. Com efeito, embora por vezes inadequadas, Chakrabarty reconhece a indispensabilidade de formulações do pensamento europeu e suas categorias –pelo menos ao nível académico– para compreender a modernidade pós-colonial: European thought is at once both indispensable and inadequate in helping us to think through the experiences of political modernity in non-Western nations, and provincializing Europe becomes the task of exploring how this thought –which is now everybody’s heritage and which affects us all– may be renewed from and for the margins (Chakrabarty 2008, 16). 2. Helena Buescu, que prefere esta designação a essoutra «literaturas de/em língua portuguesa», expõe, no seu último livro, as razões dessa preferência. «Observar em português» (BUESCU 2013, 34-35). © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA 107 A renovação de que fala Chakrabarty talvez não acolha a concordância de muitos epistemólogos, como Boaventura de Sousa Santos que fala da premência de pluralidade de práticas científicas a conformarem uma «ecologia de saberes» para a qual é necessário considerarem-se outras racionalidades alternativas a partir de experiências sociais, políticas e culturais do Sul marginalizadas pela razão dominante do Norte global (Santos 1998, 2006). Embora por caminhos diferentes, e porventura um mais conciliatório (Chakrabarty), creio que os dois epistemólogos coincidem na proposta de uma teoria crítica (mais do que cosmopolita) que não desconsidere os saberes locais (Chakrabarty talvez falasse em «saberes subalternos»), incluindo outras racionalidades para dar conta da «diversidade epistemológica do mundo» (Santos 2006, 16). Não me parecem diferentes as razões daqueles que procuram valorizar a pluralidade das literaturas e as diferentes expressões literárias do mundo, solapando a dimensão estritamente nacionalizante do estudo da literatura e a preocupação com a dimensão «universal» dos escritores, qualificativo que não sugere, apenas, um «modo de ler», mas uma substância, com o filtro a ser, sempre, as figuras das «grandes literaturas». O sentido de esvaziamento do conceito de universal de todas as certezas, aliado à desestabilização de posições fixas como as de determinados lugares de determinadas obras, revela uma visão mais ampla dos modos de ler. E tal perspectiva, para além de implicar uma perspectiva comparatística, articula-se com a noção de literatura-mundo, categoria que pode ser entendida como série de expressão de um conjunto de obras que ignoram fronteiras e limites de ordem geográfica, genérica e temporal (Damrosch 2009, 496). Não se pense, porém, que pelo facto de tudo poder interessar à literatura-mundo não exista um filtro: o espaço das «literaturas centrais» continua a ditar o ponto de partida da perspectiva (isto é, continua a ser o diálogo com as «grandes figuras» a iluminar as «figuras menores»), pois o que conta é o «eco» internacional de uma obra. Afinal, a literatura-mundo varia com o que se leu. © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 108 2. INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA PROBLEMÁTICA DAS RELAÇÕES HISTÓRICAS DAS LITERATURAS EM PORTUGUÊS La traducción dentro de una lengua no es, en este sentido, esencialmente distinta a la traducción entre dos lenguas. Octavio PAZ As considerações acima apresentadas vêm a propósito da mudança de paradigma na análise crítica das relações culturais, com reflexos no estudo da literatura dos países de língua portuguesa e particularmente das literaturas em português3. Trata-se, a meu ver, de uma mudança decorrente de um processo de representação dicotómica: por um lado, o reconhecimento da importância das histórias locais, de territórios da margem, para a compreensão de histórias supranacionais, portanto, o reconhecimento de que aquelas «histórias minoritárias» são parte de uma história global –sendo, no caso, as suas expressões literárias importantes para a conformação da série mundial. Por outro, apesar de ser ainda com «os olhos do império», esse reconhecimento vem-se fazendo com base em teorias (literárias e culturais) que não imaginavam aqueles corpora parte integrante de uma formulação, cuja monolitismo epistemológico vai sendo desconstruído pela intersecção daquelas experiências e vivências nas representações modernas. Esse processo tem sido, como diria Homi Bhabha, uma reflexão além da teoria (Bhabha 1998). Através de aproximações e «rupturas afectivas» que foram desestabilizando o provincialismo que (ainda) subjaz a muitas perspectivas, a crítica, através de uma perspectiva holística aplicável ao mundo literário de língua portuguesa –a que alguns preferem chamar «mundo lusófono»–, foi indagando as posições fixas como as de obras tradicionalmente «canónicas» e rearticulando-as com os «ecos universais» de obras que estão muitas vezes na periferia do cânone, contribuindo para iluminá-lo pois essas expressões literárias em português acabam por ser, afinal, tangentes e paralelas, expressão metafórica utilizada por Maria Aparecida Santilli para 3. Não é especiosa esta distinção (do tipo «literaturas dos países africanos de língua portuguesa» e «literaturas africanas em português»), pois há um corpus de produção literária que não se actualiza em português, como em Cabo Verde, em São Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau em que existem escritores que escrevem em crioulo. Em Angola e em Moçambique também se registam experiências de escrita em línguas africanas, embora não sistematicamente. © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA 109 referir a simultaneidade do sentido de autonomia e os pontos de encontro das literaturas em português4: Paralelas aí serão as linhas que, estando à mesma distância de outras, nunca com estas se encontram mas também as que evoluem ou se desenvolvem na mesma direção, a par de outras, ou em igual proporcionalidade. Há, ainda, as tangentes, as que contatam com outras ou com uma superfície em determinado ponto. Nas tangentes cabe ainda a acepção de parentesco artístico, advinda de tanger como produzir som, fazer música (Santilli 2003, 9-10). Assim, embora eu não esvazie, como sugere Octavio Paz, a ideia de «literaturas nacionais», julgo ser produtivo captar a transnacionalidade dos estilos e a dinâmica das interlocuções entre esses sistemas, nas suas «conjunções e disjunções»5, tensões e distensões. Por isso pareceu-me própria, no âmbito da busca da dimensão capilar dos fenómenos, a noção de «zonas de contacto» com a qual venho trabalhando neste campo, noção conceptualizada por Mary Louise Pratt em Os Olhos do Império: Relatos de Viagem e Transculturação (1992): «Zonas de contacto»: espaço de encontros coloniais, no qual as pessoas geográfica e historicamente separadas entram em contacto umas com as outras e estabelecem relações contínuas, geralmente associadas a circunstâncias de coerção, desigualdade radical e obstinada (Pratt 1999, 31). Assim definido, este instrumento conceptual de eficácia interpretativa em estudos sobre encontros culturais, a que prefiro chamar fluxos e conexões entre as literaturas em português, funcionou para mim como um upgrade de um outro instrumento que outrora designara como «sistema de vasos comunicantes» (Mata 1992)6, na medida em que ele funciona como categoria 4. Já em 1995 Carlos Reis chamara a atenção para a existência, na comunidade académica portuguesa (e, acrescento eu, brasileira) de «uma mal disfarçada resistência contra o reconhecimento do significado próprio das chamadas Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa; fruto, em parte, de reminiscências ideológicas de raiz colonialista, essa resistência funda-se também na leitura de tais literaturas à luz do cânone literário português e europeu, leitura que, desse ponto de vista, é naturalmente desqualificadora» (1995, 77). Creio, porém, que esta não é uma atitude do passado: ela continua, por vezes nem tão disfarçada assim, a condicionar as perspectivas das literaturas em português, embora seja evidente o grande avanço no reconhecimento das literaturas africanas, mormente dado o papel das editoras –essa poderosa instância de legitimação literária– nesse processo. 5. Título de um livro de Octavio PAZ (1979). 6. Questão que sempre me interessou discutir, falo de forma mais sistemática dela em dois ensaios (MATA 1997 e 2001). © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 110 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA relacional que permite dar conta da «descontinuidade e multiplicidade de variáveis determinantes da história da construção do sentido imperial» (Pratt 1999, 28). É por isso que o considero um utensílio interpretativo que pode ser produtivo na análise das relações entre as actividades culturais dos intelectuais do espaço imperial português (a metrópole e suas colónias), no processo da resistência com vista à reinvenção da diferença, que gerou uma intensa cumplicidade com reflexos nas relações pós-coloniais. É a esta categoria, que limita o padrão totalizante da crítica da ideologia (Pratt 1999, 30), que eu recorro para interpretar a construção de um certo imaginário histórico mas de pulsão político-ideológica no espaço transnacional de língua portuguesa, que a literatura regista nas suas contínuas interlocuções internas e com outras séries sociais. Partindo da ideia de «estilos translinguísticos» (Otávio Paz 1980)7, é interessante pesquisar um dos lugares mais produtivos dessa cumplicidade entre os espaços que se exprimem em português: a literatura, ontem (tempo colonial, em que a produção africana era marcada pela estética anticolonial e a portuguesa pela estética neo-realista, que aliava a resistência antifascista à transformação do social) e hoje, época em que se fala, categoricamente, em «literaturas nacionais», mesmo que, como no caso das literaturas africanas, elas tenham começado por funcionar como «lugar de conflitos e ambiguidades» gerados pela «ambivalências da História» (Couto 2009, 186-187). É portanto ideia consensual, senão unânime, que é uma mais-valia para a série literária do mundo estudar as literaturas em português de forma dialogante com outras séries de outras geografias culturais, rastreando a interlocução que as de África vêm estabelecendo com suas congéneres europeia e (sul-)americana desde a segunda metade do século XX, comparando trânsitos e afinidades, descobrindo convergências e divergências, pois, ensina-nos Otavio Paz, «tradução e criação são operações gêmeas», podendo-se entender aqui «tradução» como inteligibilidade universal face à diversidade das línguas culturais. Diz o Nobel mexicano em Traducción: Literatura y Literalidad que La traducción dentro de una lengua no es, en este sentido, esencialmente distinta a la traducción entre dos lenguas, y la historia de todos 7. Octavio Paz refere-se à «literatura do Ocidente», sobre a qual afirma que «nenhuma tendência nem nenhum estilo têm sido nacionais, nem sequer o chamado «nacionalismo artístico». Todos os estilos foram trans-linguísticos». Ainda assim julgo que se pode aplicar este pressuposto às literaturas em português, sobretudo no período do Estado Novo (1933-1974) no que diz respeito às literaturas portuguesa e africanas (Octavio PAZ 1980, 16-17). © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA 111 los pueblos repite la experiencia infantil: incluso la tribu más aislada tiene que enfrentarse, en un momento o en otro, al lenguaje de un pueblo extraño […] Cada texto es único y, simultáneamente, es la traducción de otro texto (Paz 1980, 8-9). Com efeito, num mundo inexoravelmente em conexão, principalmente em países cuja história mais recente tem determinado a sua produção cultural, a perspectiva do estudo da literatura deverá ter em conta não apenas a dinâmica da história dos países de língua portuguesa, num nível transnacional, mas também uma perspectiva multidisciplinar no ensino das culturas e, particularmente, das literaturas em português. Considerando-se essa capilaridade dialogal, pode-se reverter a dimensão insular que marcou de forma «nacionalística» o estudo dessas literaturas. É que diferentemente do que é reiterado, a proximidade entre essas literaturas não se limita à «irmandade linguística» –por isso a designei em outro lugar «Irmandades atlânticas pelo viés literário» (Mata 2012). Com efeito, razões que não meramente as linguísticas fizeram (e têm feito) dialogar as literaturas em português. Essa interlocução, essa dinâmica dialógica entre espaços, paisagens, personagens e vivências mergulha as suas raízes nos «tempos difíceis» do colonial-fascismo em que a palavra literária era subsidiária da acção contestatária, na metrópole (contra o fascismo) e nas colónias (contra o colonialismo). Já então essas literaturas formavam um sistema de «vasos comunicantes» que tiveram em projectos editoriais a corporização dos desígnios de uma voz colectiva e solidária contra o mesmo poder opressor e de uma aspiração comum: são exemplos as colecções neo-realistas de Coimbra «Novo Cancioneiro» e «Cancioneiro Geral» ou as Colecções Bailundo (de Nova Lisboa, hoje Huambo), e Imbondeiro, de Sá da Bandeira (hoje Lubango), colecções em que metropolitanos pontuavam, como autores e promotores de escritores naturais de África (alguns com uma escrita claramente anticolonialista, como é o caso de Luandino Vieira8 de que as Edições Imbondeiro publicaram «Duas histórias de pequenoburgueses», em 1961) e que publicaram tanto autores de literatura colonial (como Reis Ventura) quanto de literatura africana (como Henrique Abranches), tanto naturais de Angola, como Inácio Rebelo de Andrade, quanto de outras colónias como Teobaldo Virgínio (Cabo Verde) e Orlando Mendes (Moçambique). Por outro lado, há evidências de um longínquo trânsito de ideias estéticas entre claridosos (cabo-verdianos) e presencistas 8. Não sendo natural de Angola (nasceu na Lagoa do Furadouro, Portugal), José Mateus Vieira da Graça sempre se assumiu como angolano tendo optado pelo gentílico «luandino» para homenagear a cidade que o viu crescer: José Luandino Vieira. © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 112 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA (portugueses), que talvez não caibam no âmbito desta reflexão, valendo no entanto a pena lembrar outros diálogos por vezes em jeito de paródia –como em As Quibíricas, ou melhor, As Quybyrycas: Poema Éthyco em Outava que corre sendo de Luís Vaaz de Camões em Suspeitíssima Atribuiçon, de Frey Ioannes Garabatus, aliás, João Pedro Grabato Dias9, poema em onze cantos que intenta reescrever a epopeia da história da expansão portuguesa pela desmistificação da figura de Dom Sebastião e da derrota de Alcácer-Quibir equiparando-a, metonimicamente, à história colonial, de Portugal. No contexto em que foi publicada, em plena guerra colonial (ou de libertação, consoante o local do discurso), esta é uma obra muito importante porque «enuncia uma proposição de realidade ao relatar as formas de racionalidade presentes na estrutura política, cultural e econômica de Portugal, do século XVI, que se tornaram implausíveis por seu caráter colonial, escravista e racialmente excludente» (Ferreira 2011, 91): com efeito, corria «o ano da Graça de 1972», ano do quarto centenário de Os Lusíadas, celebrado em rescaldo da Operação Nó Górdio (1970), ano em que aconteceu o massacre de Wiriamu, consequência, pode pensar-se, do «nervosismo» das forças coloniais num cenário de guerra em que a FRELIMO se vinha impondo, não obstante os desaires do cerco que lhe movia Kaúlza de Arriaga10. Mas outros diálogos intertextuais, mais celebrativos, eram actualizados como aqueles entre africanos e os autores da escrita do Nordeste (Jorge Amado, Lins do Rego, Graciliano Ramos, Ribeiro Couto) e modernistas (Manuel Bandeira, porventura o escritor brasileiro mais glosado, mas ainda Carlos Drummond de Andrade): comprovam-no não apenas os paratextos (dedicatórias e epígrafes) de textos literários angolanos e cabo-verdianos, mas ainda as paráfrases e os ecos das produções brasileiras em textos africanos –como se pode ver no poema que se segue, entre inúmeros exemplos que poderiam ser retirados das literaturas angolana e cabo-verdiana (claridosa sobretudo): PALAVRA PROFUNDAMENTE11 Há uma palavra que Manuel Bandeira descobriu um dia na Poesia e que poeta algum poderá mais empregar 9. Heterónimo (ou apenas pseudónimo?) de António Quadros, também Mutimati Barnabé João, autor de Eu, o Povo: Poemas da Revolução (1975). 10. FRELIMO-Frente de Libertação de Moçambique, movimento que empreendeu uma luta armada contra o poder colonial (de 1964 a 1974). 11. Publicada na revista Claridade (1958) e incluído em Jorge BARBOSA (2002). © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA 113 porque ele só ficou sabendo o seu sentido exacto e o simples segredo da sua expressão. Palavra que não é Pasárgada não é Primeva não é nenhuma das suas desconcertantes fantasias de evasão lírica. Palavra profundamente […] Enquanto isto Manuel Bandeira vai passando por nós no tempo na sua alegria melancólica na sua alegria de coração apertado vai passando na sua Poesia profundamente. No âmbito dessa fenomenologia dialógica actualizada em interlocução explícita, «influências» e ecos, não se pode esquecer a persistente e reiterada aproximação de escritores como Luandino Vieira e Mia Couto a Guimarães Rosa –vinculação que importaria também desvelar12. Porém, porventura o mais colectivizante projecto talvez tenha sido aquele realizado entre intelectuais da metrópole e das colónias através da Casa dos Estudantes do Império (CEI): Mensagem-Boletim da Casa dos Estudantes do Império, primeiro apenas boletim, transformou-se depois em revista publicada em Lisboa entre 1948 e 1964, espaço-tempo em que a literatura, enquanto construção discursiva intelectual, era assumidamente veículo de contestação. A razão imediata dessa «instrumentalização» do literário tem a ver com a natureza do regime, o colonialismo fascista13, que vigorou em Portugal de 1933 a 1974 e que marcou o curso da história tanto dos países africanos (o timing e a natureza do processo das independências políticas) quanto de Portugal (as razões imediatas do 25 de Abril de 1974 12. Cf. Inocência MATA 2010. 13. Utilizo esta expressão embora sabendo da discussão quanto à designação do regime que vigorou em Portugal de 28 de Maio de 1926 a 25 de Abril de 1974, período conhecido grosso modo como Estado Novo (na verdade, de 1933 a 1974). © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 114 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA e as suas consequências sociais), também na convergência de acções de resistência. Uma dessas acções firma-se no facto de que (quase) todas as antologias publicadas pela CEI, consideradas fundacionais dos sistemas literários africanos, terem sido organizadas, introduzidas, prefaciadas ou editadas por um português: Alfredo Margarido14. Por outro lado, a primeira publicação do primeiro negritudinista de língua portuguesa, Francisco José Tenreiro, foi publicada na colecção Novo Cancioneiro, de Coimbra15: refiro-me à Ilha de Nome Santo (1942), livro que, sendo um marco da modernidade literária são-tomense, marca também a presença do movimento da Négritude no mundo da língua portuguesa, antes ainda da publicação daquela que é considerada a publicação seminal do movimento que nasceu em Paris com Cahier d’un Retour au Pays Natal, de Aimé Césaire (1939): com efeito, a Anthologie de la Nouvelle Poésie Nègre et Malgache, de Leopold Senhor, com o prefácio «Orphée Noir», de Jean Paul Sarte (considerado por sua vez um dos textos fundacionais do movimento), só seria publicada em 194816! 3. PARA ALÉM DAS «RUÍNAS» DO PASSADO: O BACKLASH DO «IMAGINÁRIO COLONIAL» O lugar político das práticas de memória é ainda nacional e não pós-nacional ou global. Andreas HUYSSEN Com as independências políticas das colónias portuguesas e a retracção territorial de Portugal a que se seguiu o processo de agenciamento identitário da nação portuguesa, a dinâmica da história conduziu à elaboração de uma 14. Das seis antologias, quatro têm a mão de Alfredo Margarido, uma de Carlos Eduardo (Poetas Angolanos, 1959) e uma de autoria colectiva (anónima), que apareceu como separata da Mensagem: Poesia em Moçambique (1951). As antologias de autoria ou com prefácio de Alfredo Margarido são: Poetas de Moçambique (1960) e Poetas de Moçambique (1962), Poetas Angolanos (1962) e Poetas de S. Tomé e Príncipe (1963). 15. Esta não é, porém, uma questão consensual. Com efeito, datam da segunda década do século XX os poemas negritudinistas de Marcelo da Veiga, também são-tomense. No entanto, esses poemas só seriam publicados em 1963 na antologia Poetas de S. Tomé e Príncipe, organizada por Alfredo Margarido e publicada pela CEI. 16. Sobre o assunto, é imprescindível consultar os trabalhos de Pires LARANJEIRA (1995 e 2000). © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA 115 «outra língua» que emergiu desse processo de reinvenção e metamorfose do (mesmo) sistema linguístico português para traduzir nações diferentes através de diferentes articulações estético-ideológicas. Tornara-se necessário, nos espaços outrora colonizados mas também na antiga metrópole, actualizar o jogo das representações culturais –não já no âmbito de uma retórica anticolonialista (da literatura nacionalista africana) ou, na contramão, do discurso da missão colonizadora e da representação de uma África que era necessário «civilizar» (da literatura colonial portuguesa). Hoje, com espaços e paisagens diferentes, prismas ideológicos por vezes «formatados» para pesquisar representações nacionais no tempo e no espaço, as temáticas e técnicas vão transitando e se interseccionando, independentemente do olhar crítico sobre as relações coloniais e póscoloniais: leia-se, a título de exemplo, O Senhor das Ilhas (1994), de Maria Isabel Barreno, romance inaugural desse novo olhar sobre esse lugar de simultânea distância e localização matricial da identidade cultural portuguesa que é a África (Cabo Verde, no caso); leia-se, ainda, Oríon (2003), de Mário Cláudio, em que história de Portugal e de São Tomé e Príncipe se cruzam na formação identitária das duas comunidades; leia-se também A Gloriosa Família: o Tempo dos Flamengos (1997), de Pepetela, em que a história da ocupação holandesa de Angola (após a perda da independência do reino de Portugal em 1580) é contada através dos olhos de um escravo kimbundu, propriedade do holandês Baltazar Van Dum, segundo um prisma diferente do de António de Oliveira Cadornega em História Geral das Guerras Angolanas (1680); leiam-se ainda os romances Nação Crioula: a Correspondência Secreta de Fradique Mendes (1997) em que Fradique Mendes, partindo de Portugal, cruza o Atlântico ligando Angola ao Brasil, ou vice-versa) ou O Ano em que Zumbi Tomou o Rio (2002), em que um antigo guerrilheiro angolano reconstitui o seu maquis numa favela carioca, ambos de José Eduardo Agualusa. Muitos trabalhos têm demonstrando esse interseccionamento como, entre outros, o de Lola Geraldes Xavier na sua tese de doutoramento sobre «O discurso da ironia em literaturas de língua portuguesa», em que estuda as manifestações de ironia na obra de Lobo Antunes, Pepetela e Mia Couto. Não se pense, no entanto, que este é um momento de pacificador olhar sobre a História: os títulos que adiante referirei são algumas das obras emblemáticas da contemporaneidade que dizem desse doloroso processo rememorativo, que pontua, como disse em outro lugar, «a viragem que aponta para uma reinicialização relacional com a África, já no dealbar do século XXI» (Mata 2011, 134). Lembra a propósito Márcio Seligmann-Silva que A memória tem a ver com o presente, embora sempre seja vista como coisa do passado. Ela é uma construção do presente, está sempre voltada © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 116 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA para questões atuais […] O teatro da memória é eminentemente político (Seligmann-Silva 2008, 5). Com efeito, a literatura portuguesa de motivação africana acompanha, neste âmbito, disponibilidades psico-ideológicas que as notícias dos jornais vão transmitindo: as tensões continuam, embora a predisposição para arrumar as ruínas da História se venha impondo sobre a emoção (Susan Sontag dissera, em Diante da Dor dos Outros, que não há substituto para a experiência –mas para isso, a emoção tem de ser traduzida em acção: no caso a escrita?). E essa tradução em escrita começou a revelar-se na última década do século XX, passada a fase de emudecimento decorrente da impossibilidade de transmitir «experiência comunicável» logo após o desmoronamento do império, no momento em que se está a superar a «bulimia comemorativa» (Nora 2010), assente num frenesim nostálgico colectivo decorrente de um processo amnésico do passado –que Benjamin consideraria índice misterioso do passado que o impele à redenção (Benjamin 1987). Porque «o trauma tem a ver com os limites da linguagem e da representação» (SeligmannSilva 2008, 6), o distanciamento temporal (à altura cerca de três dezenas de anos, numa era de intensa vertigem temporal dinamizada pelos meios de comunicação e de novos paradigmas de pensamento) proporcionou a recuperação da «faculdade de intercambiar experiências» (Benjamin 1987, 198). Nesse ressurgimento a presença de África (que sempre fora uma constante na literatura portuguesa desde os primórdios da ocupação e do colonialismo) tem com uma feição diferente, parecendo ter outras derivações, outras dimensões e outra feição na refiguração identitária, em escrita actualizada num jogo em que vão ecoando harmonias e desarmonias coloniais (Mata 2011, 131). Com efeito, a literatura portuguesa tem conhecido obras que questionam a incompletude identitária que o deslocamento pós-colonial originou, num misto de regresso nostálgico e sentido de perda traumática –e romances como Lourenço Marques (2003), de Francisco José Viegas; Niassa (2007), de Francisco Camacho; O Tempo dos Amores Perfeitos (2006), O Último Ano em Luanda (2008), de Tiago Rebelo; Os Retornados: um Amor Nunca se Esquece (2008), de Júlio Magalhães; Caderno de Memórias Coloniais (2009), de Isabela Figueiredo, ou O Retorno (2012), de Dulce Maria Cardoso ilustram essa tendência narrativa de catarse colectiva, familiar ou somente individual, verbalizando os traumas causados pela ruptura tanto ideológica quanto política em que consistiu a «perda» das colónias. Creio que essa escrita corrobora a ideia de que sobretudo «no rastro da descolonização e de novos movimentos sociais em sua busca de histórias alternativas e revisionistas […] o lugar político © Ediciones Universidad de Salamanca 1616: Anuario de Literatura Comparada, 3, 2013, pp. 103-118 INOCÊNCIA MATA LITERATURA-MUNDO EM PORTUGUÊS: ENCRUZILHADAS EM ÁFRICA 117 das práticas de memória é ainda nacional e não pós-nacional ou global» (Huyssen 2000, 10). Por outro lado, como «os discursos da memória articulam questões de poder e de política» (Seligmann-Silva 2008, 6), romances como Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo (2003), de Lobo Antunes, Oríon (2003), de Mário Cláudio, Equador (2003), de Miguel Sousa Tavares, O Outro Pé da Sereia (2006), de Mia Couto, Lenin Oil (2006), de Pedro Rosa Mendes, Olhos de Caçador (2007), de António Brito, O Olho de Hertzog (2010), de João Paulo Borges Coelho, A Sul. O Sombreiro (2011), de Pepetela são alguns porventura dos mais conhecidos títulos entre os inúmeros que ligam, de forma inexorável, os destinos de ex-colonizadores e ex-colonizados. Destinos com História de um passado recente em pano de fundo17. BIBLIOGRAFIA BARBOSA, Jorge. «Palavra Profundamente». Claridade, 1958, 8, p. 26. — Obra Poética. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda/Associação de Escritores Cabo-verdianos, 2002. BHABHA, Homi. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. BENJAMIN, Walter. «Sobre o conceito de história». Em Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios sobre Literatura e História da Cultura. Obras Escolhidas, I. São Paulo: Brasiliense, 1987, pp. 222-232. — «O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov». Em Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios sobre Literatura e História da Cultura. Obras Escolhidas, I. São Paulo: Brasiliense, 1987, pp. 119-221. BUESCU, Helena Carvalhão. Experiência do Incomum e Boa Vizinhança. 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