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Bestialidades Presidenciais

No Brasil todo mundo fala besteira e canta goga. Até presidentes da República. No passado, um falou que a questão social era caso de polícia. Outro que governar é fazer

Bestialidades Presidenciais Mércio P Gomes Antropólogo, autor de O Brasil Inevitável No Brasil todo mundo fala besteira e canta goga. Até presidentes da República. No passado, um falou que a questão social era caso de polícia. Outro que governar é fazer estradas. Outro que fez uma revolução para trazer a democracia. Outro dizia com certa ironia que tinha um pé na cozinha. E diversos falavam inglês, francês ou espanhol em sotaques muito próprios. Os dois contendores atuais ganham de todos os anteriores somados. Bem, nossa singular presidenta é hors-concours. Estocar vento é brilhante! Um achou que Napoleão invadiu a China. O outro ficou em dúvidas. Um se compara a Jesus; o outro é Messias. Mas as grandes parlapatices estão no jogo cru de suas simpatias e putarias. São muito esfuziantes e brincalhonas. Um disse que quando era rapaz novo “comia” cabrita, não oralmente. O outro já se gabou de ser capaz de “comer” índio com banana, oralmente. Uma já se declarou admirador de Hitler, por sua grande determinação em prol do povo alemão. O outro admira um conhecido médico que participou de torturas em presos políticos. Um admira Fidel Castro e o coronel Hugo Chávez. O outro tece loas a Trump e Putin. Um é Palestina, o outro, Israel. Um promete o paraíso com carinho; o outro, com trabalho. Um já convocou seu exército de mulheres do grelo duro. O outro já recusou estuprar mulher feia. Um acha que preso político em Cuba não pode protestar. O outro Um xinga o adversário de genocida; o outro, de ladrão. Um disse que pagou um mês de cadeia assediando um rapaz revolucionário. O outro preferia filho morto a homossexual. Um exulta a Natureza por ter mandado o coronavirus para derrubar o adversário. O outro diz que não é coveiro para saber quantos morreram. Um aceita que rapaz pode roubar celular se for para tomar uma cervejinha. O outro diz que é para passar fogo em ladrão. O que os dois têm em comum é que ambos gostam genuinamente de se misturar com o povo e ser popular. E a população brasileira esta claramente dividida entre um e outro. Ambos são bestiais, no duplo sentido brasileiro e português. Quem já falou mais besteira? Quem é campeão de bizarrices? Cada um que pense como quiser. Eu lavo as mãos e explico por que usando o exemplo da modalidade alimentar. Lembremos. Um disse que comeu cabrita no seu sertão. Ora, era rapaz, cheio de testosterona, atendendo certamente a algum convite de amigo, algo que se faz pela zona rural de Norte a Sul do país. Ele queria dizer que é cabra macho, que é raiz, que não tem vergonha do seu passado. O outro diz que só não comeu carne de índio porque os colegas não quiseram ir com ele à aldeia. Dito para exibir que trabalhou na Amazônia, no Batalhão de Surucucu, onde os índios Yanomami praticam uma forma sutil de canibalismo. Assim diziam seus colegas fardados porque ele mesmo nunca chegou a presenciar tal cerimônia. Mas insiste que toparia se lhe fosse franqueado. Ritual de um certo povo indígena, existe sim. Come-se um mingau de banana misturado com as cinzas de um corpo cremado. Será que ele sabia desse detalhe? Nem importam os detalhes. Cada qual que se jacte mais de suas presepadas e disparates. Parodiando a deliciosa canção de Ataulfo Alves, “Atire a primeira pedra, Iaiá, aquele que não morrer pela boca”. E agora, brincadeiras à parte, cada qual eleitor que avalie as peças que estão em jogo. Palavras são palavras, o vento as leva. Ações ficam. Capitalismo ou Socialismo? Mais liberdade ou mais Estado? Mais agronegócio ou mais MST? Mais franqueza ou mais esperteza? Mais alvoroço ou mais controle? Mais STF ou mais Legislativo? Mais restrição de gastos públicos ou mais prodigalidade? Mais bandeira verde-amarela ou mais bandeira vermelha?