ARTIGO
DOI: 10.20396/etd.v23i3.8657881
ESCOLA DE GENTE FEIA
SCHOOL OF UGLY PEOPLE
ESCUELA DE GENTE FEA
Steferson Zanoni Roseiro1, Janete Magalhães Carvalho2
RESUMO
Este artigo objetiva discutir algumas relações entre o corpo e as feiuras, procurando avaliar os abalos que um
corpo feio provoca nos modelos de apreensão da subjetividade construídos prioritariamente com base nos
referenciais da representação e da identidade. Parte de uma cena comum de escola para problematizar alguns
possíveis limites entre as feiuras e as produções de modos de vida. Propõe, a partir do aporte de autores
alinhados à filosofia da diferença, algumas possibilidades de subversão suscitadas pelo corpo feio para uma
política de subjetivação que afirme uma diferença radical. Há, conforme aposta o texto, escolas de gente feia
que fazem de seus corpos marcos nas transformações afetivas tecidas nas escolas. O corpo feio cria, vorazmente,
insultos à lógica Capital.
PALAVRAS-CHAVE: Escola. Corpo feio. Feiuras. Resistência. Devir.
ABSTRACT
This essay aims to discuss some relations between body and ugliness, trying to evaluate the changes that the
ugly body provokes on the subjectivities apprehension models constituted majorly on references of
representation and identity. It starts from an usual school scene to problematize some possible limits between
ugliness and the way to produce life. Using contributions of authors allied to the philosophy of difference, it
proposes some possibilities of subversion raised by the ugly body for a subjectivation policy that affirms a radical
difference. There are, as it is said, schools for ugly people that uses their bodies as marks to affective
transformations sewed in school. The ugly body insults the Capital logic voraciously.
KEYWORDS: School. Ugly body. Ugliness. Resistance. Becoming.
RESUMEN
Este ensayo tiene como objetivo discutir algunas relaciones entre el cuerpo y la fealdad, tratando de evaluar los
cambios que el cuerpo feo provoca en los modelos de aprehensión de subjetividades constituidos
principalmente en referencias de representación e identidad. Se parte de una escena escolar habitual para
problematizar algunos posibles límites entre la fealdad y la forma de producir vida. Utilizando contribuciones de
autores aliados a la filosofía de la diferencia, propone algunas posibilidades de subversión planteadas por el
cuerpo feo para una política de subjetivación que afirme una diferencia radical. Hay, como se dice, escuelas para
personas feas que usan sus cuerpos como marcas para las transformaciones afectivas cosidas en la escuela. El
cuerpo feo insulta la lógica del Capital con voracidad.
PALAVRAS-CLAVE: Escuela. Cuerpo feo. Fealdad. Resistencia. Devenir.
1
Doutorando em Educação - Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, ES - Brasil. Professor da Rede de
Ensino do Município de Cariacica, ES - Brasil. E-mail:
[email protected]
2
Doutora em Educação - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Professora
do Programa de Pós-Graduação em Educação - Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Vitória, ES Brasil. E-mail:
[email protected]
Submetido em: 14/12/2019 - Aceito em: 14/07/2020
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***
1 [escola de gente feia1]
3
Figura1 - Escola de gente feia (acrílica)
Fonte: Os autores.
A escola até que é bonitinha. Padrão de construção sem vida, de prédio sem estilo, de
cores insossas, mas, ainda assim, bonitinha, cuidadinha, limpinha. O entorno? Maravilhoso.
Céu aberto, nenhum prédio. Apenas a escola. Tem um grande portão vermelho numa rua e
um portão encardido em outra, tem uma quadra coberta, tem uma biblioteca grande e vazia,
tem segundo andar e fim. Os porteiros são máquinas-de-olhar-de-cara-feia para o bando de
crianças que entram ali com os pés tudo sujo de lama. Uma vez teve até um caso em que uma
aluna, toda enlameada, foi mandada embora porque iria sujar demais a escola. O caso foi
abafado, é claro, e hoje contam que aquilo foi lorota de adolescente para matar aula. Fora
isso, não tem mais nada. Não tem laboratório de nada, embora existam alguns cacarecos de
computador lá que não funcionam já há alguns anos; não tem horta nem jardim, nem como
3
O artigo apresenta duas pinturas feitas em acrílica que tem como propósito pôr a leitura em indagação. Não
foram tecidos nenhum comentário ou discussão em torno delas, visto que apostamos na lógica de que uma
imagem, por si só, produz os discursos a sua disposição com os quais se articula.
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fazer, porque toda a área da escola foi coberta de concreto em suas variações; não tem
corredores coloridos; não tem nem mesmo pátio aberto, porque o único lugar com céu acima
das cabeças é a área próxima ao portão de saída e fica bem fechada essa área. Tudo naquela
escola contribuir a favor da boa ordem da vizinhança escolar e, justamente por colaborar
tanto, insurge vorazmente contra a ordenança.
Todavia, sabe o que a escola tem de sobra?
Barulho. Feiuras. Vulgaridade. Agitação. Vida.
Eis, justamente, a causa dessa história. Ali, naquela escola, é impossível entrar sem se
defrontar com ataques insultuosos à ordem regulatória e às tentativas embelezantes de
produção de vida regrada. Basta entrar para se deparar com crianças gritando, adolescentes
urrando, professoras e professores fofocando, cozinheiras brigando, serventes rindo,
porteiros cantando, famílias batendo boca... Nada ali é muito digno de uma escola modelo.
Nenhum aluno naquela escola jamais seria reconhecido na televisão ou nos jornais como
alunos-modelo. Nem mesmo seus professores! Não tem como entrar naquela escola, em
qualquer momento do dia ou da vida, e não se deparar com alguma orquestra desarmônica.
Expressões sombrias, zombeteiras, risonhas, debochadas espiam os corredores a todo o
momento.
E, se nos aprazemos com a infinitude da vida, não há lugar melhor para estarmos que
uma escola de gente feia.
Na escola, a cacofonia é tanta, que, para desavisados, a escola é uma baderna sem
fim. Vira e volta, um professor “novo” entra numa escola e sai de lá, pouco tempo depois,
convicto de que escola não é lugar de gente. Num desses episódios – aquela escola ficou
famosa pelo número sem fim de desistências de potenciais professores –, uma professora,
descabelada, entrou na sala dos professores pedindo arrego.
– Aquilo não é humano, não!
Alguns professores trocaram olhares entre si e, não tão discretamente, sorriram.
– Sétimo A?
– Sétimo A – respondeu a coordenadora, também dando vazão ao sorriso.
A professora continuou sua marcha.
– Eu não consigo dar aula para eles. Eles não querem que eu dê aula – ela falava
rapidamente – Não que eu achasse que fosse ser um sonho dar aula aqui... mas eu esperava,
ao menos, que alguém fosse querer aprender algo... uns dez! Uns cinco... DOIS, PELO MENOS
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DOIS! – Em dado ponto, a professora já quase vociferava – Tudo o que eu consegui foi que
um deles ameaçasse dar um soco no outro...
– Carlos e Enderson...
– E que uma aluna me chamasse na mesa dela para começar a me dar dicas... DE
APARÊNCIA!
– Idril...
A cena, já recorrente para alguns dos professores ali reunidos, durou mais uns 20
minutos. A coordenadora, paciente, ouviu a história toda e pontuou, de modo bem eficaz, a
saída daquela professora da escola:
– Menina, você esperava o quê? – a voz dela era bem calma, e, na verdade, até
consoladora – Já olhou ao redor por aqui? Esses meninos aprendem a viver escola com
Malhação e com filmes. Para eles, escola é vadiação, putaria, arquibancada e salão de beleza.
E nem tô dizendo por maldade não... Olhe ao redor! Minha querida, isso daqui é escola de
gente feia... crianças que vêm para bagunçar e fazer o inferno aqui, meninas que acham que
vão ganhar algum concurso de beleza se passarem um quilo de maquiagem por dia; meninos
que acham que bater laje é fazer academia... sou professora aqui há muitos anos, adoro essa
escola, mas que só tem gente feia nesse lugar, só tem gente feia. Até os professores desse
lugar são uma desgraça aos olhos ou à boa moral. Acha que eu tô aqui há tanto tempo por
quê?
No dia seguinte, a professora não apareceu mais. Ninguém soube dizer se era por ter
aversão a gente feia, indisciplinada e pobre ou se era por medo de se tornar, também ela,
tudo isso. A maior parte dos professores que estavam lá jura, de pés juntos, que é a segunda
causa. Uma professora alega ter visto que ela não estava estarrecida ouvindo a coordenadora
falar. Na versão dessa professora, a professora-em-potencial-já-em-declínio estava era se
olhando no espelho atrás da coordenadora.
A professora, aparentemente, travestiu-se de modo impotente e estéril. Deveras, a
professora saiu correndo por ter visto rugas já se formando ou qualquer coisa do tipo.
– Nem todo mundo admite sua gostosura, né? – brincou a coordenadora por um bom
tempo com as colegas – Eu me dou superbém com a minha, obrigada.
– Você se dá até bem demais, Ismeli – alguns respondiam.
É. Decididamente, há vida pulsando numa escola de gente feia.
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2 [insultar nas feiuras]
A afirmação de escola de gente feia, antes de implicar valores somente estéticos
(pessoas gordas ou magras demais, dentuças, esquisitas, fedorentas ou quaisquer outros
atributos que escapolem minimamente aos perfis de beleza traçados costumeiramente), diz
de escolas que não se limitam a tentar controlar os insultos da feiura. Logicamente, não
dizemos com isso não haver nenhuma maquinação capitalística – largos investimentos
histórico-socioeconômico-culturais na produção dos corpos ideais – ou sequer que, dentro
desses espaços, a vida não encontra empecilhos para a ampliação de sua potência (DELEUZE;
GUATTARI, 2012). Não é questão de apontar a escola como um deleite, na qual tudo ocorreria
às mil maravilhas, sem entraves nem desafios próprios.
Não, a questão é mais se reconhecer como espaço de luta, pois as escolas nunca são
pontos de passividade.
O transbordamento de um corpo feio e estranho, visto que foge de um padrão de
normalidade cultural, social e pedagogicamente aceito, ultrapassa o conteúdo representado
e está para além de sua origem e de sua causa. O corpo feio é, ao mesmo tempo,
absolutamente transparente e totalmente opaco.
Ao exibir a sua “deformidade”, a sua “anormalidade” oferece ao olhar a sua aberração
para que todos a vejam. Uma professora entra em sua primeira aula na escola de gente feia
e, logo de cara, é impelida a algo que ainda desconhece. Não sabe como reagir diante do
contato nada harmonioso com as forças de vida em polvorosa de uma sala de aula. Seja na
ameaça explícita de uma violência física – que poderia ou não realmente ocorrer –, seja no
modo quase amigável de um corpo feio se aproximar e ensinar à professora seus truques de
fealdade, essas escolas exigem da vida nada menos que sua força desejante. Manifesta-se,
portanto, como um corpo social que difere do corpo considerado normal na medida em que,
fugindo dos padrões, revela o oculto, algo de disforme, de visceral, de “interior”, uma espécie
de obscenidade a-orgânica.
Tal obscenidade ele não apenas a exibe, mas também a desdobra, virando a pele pelo
avesso e desfraldando-a, sem se preocupar com o olhar do outro, para fasciná-lo. Se a beleza
está nos olhos de quem vê, a feiura está na pele de quem vive em explosões de intensidade.
Para Gil (2006), o que fascina é que o interior se corporifique e não seja realmente um
corpo, porque é sua alma abortada que exibe: seu corpo é o reverso de um corpo com alma.
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Nesses termos, estamos na presença de um corpo não codificado, que prolifera num
processo de absorção dos signos e assim se transforma em uma espécie de signo delirante,
parasitando todos os outros signos da linguagem. Trata-se, portanto, da irrupção no espaço
social de um corpo assignificante que, devorando os signos, amedronta e provoca angústia
em nosso ser cultural-social.
A escola nunca é ponto de passividades.
Carvalho e Roseiro (2015), nesse sentido, provocam o pensar de quanto os corpos
estudantis invadem os dispositivos de controle. Na escrita dos autores, enxerga-se uma vida
fugidia, e não apenas uma vida nua, com vivacidade o suficiente para fazer os operários do
controle disfarçarem sorrisos e fazerem vista grossa às interrupções maquínicas operadas
pelos alunos e alunas – alvo dos poderosos espaços estriados. Isto é, ainda que lhes peçam
sossego, que lhes exijam uma vida alunada, também professoras e professores se dão conta
da própria maquinaria que os abarca e os consome.
Por mais controladora que se deseje, a vida dá conta de escapar justamente pela
baderna, precisamente em pequenos atos insurrectos.
Ferdinand Deligny (2018) e seus vagabundos transeuntes fazem-nos encontrar essa
mesma premissa: o diretor do centro, ao invés de preferir professores bem-formados,
instruídos nas mais finas artes, optava pelos operários, pelos jovens que nada tinham a
oferecer, pelos indigentes refugiados de guerra. No prefácio escrito em 1970 para o livro do
Deligny, Émile Copfermann (2018, p. 133) anunciava:
Nossos educadores não eram educadores de verdade. Fugidos dos esgotos
do gueto de Varsóvia, judeus alemães e intelectuais sem identidade, como
nós esperavam o retorno à normalidade para se misturar com os outros.
Quanto a nós, gostávamos muito deles. Não nos ensinavam nada ou bem
pouco.
Há algo que apenas o contato visceral com a vida pode efetivamente suscitar. Para
infortúnio de uns, os corpos demasiado controlados tendem a evitar expor suas vísceras, a
fazer de sua vida uma exposição de suas feiuras. Nas escolas, topamos sempre com alunos
que disputam por boas notas. Vira e volta, algum novo programa ou concurso são lançados
pelas Secretarias de Educação para premiar os bons alunos, professores, gestores etc. E,
quando premiados, pedem-lhes suas histórias de sucesso. A fealdade – as desconquistas, as
brincadeiras, a vitalidade de tudo aquilo que não segue o ritmo propriamente capitalístico da
concentração e produção da vida regrada – é deixada de lado.
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A questão, como Deleuze e Guattari (2012) lembram, não é nos livrarmos das
organelas – professoras e professores demasiado diplomados bem-intencionados –, mas do
organismo, dessa máquina que envia códigos às máquinas menores, exigindo-lhes cortes,
fluxos. Não seja possível nem sequer desejável uma vida em que tudo foge loucamente, em
que nenhum tipo de organização se cria, em que não há mínima possibilidade de conversação
entre os corpos e as forças. É preciso fazer a paranoia controladora cacarejar anunciado seus
ovos, mas, ao mesmo tempo, dar-lhe o golpe de não ter nenhum ovo sob suas penas.
E, por isso mesmo, a própria escola, vendo-se girar sem muito controle, abre mão –
em parte – dos controles que se esperam dela.
A campanha eleitoral dos presidenciáveis em 2018 evidenciou, de modo peculiar, a
força política da escola como nenhum outro presidente fez antes. A escola – e a educação em
geral – sempre foi bem “visada” por nossos governantes. Todavia, foi durante esse processo
que o obscurantismo se voltou, sem piedade, para a escola, envolvendo a todos os corpos
transeuntes daquele espaço. Ao final de 28 de outubro, data do segundo turno, uma
deputada do PSL (Partido Social Liberal) incitou alunos de todo o país a gravar as aulas de seus
professores porque aquele seria o momento de provar a doutrinação realizada nas escolas.
“Amanhã é o dia em que os professores e doutrinadores estarão inconformados e
revoltados”, dizia ela em seu convite (ESTADÃO, 2018). Mais recentemente, a “[...] ministra
dos Direitos Humanos, Damares Alves, afirmou, em Belo Horizonte, que o governo federal vai
criar um canal para que pais de alunos possam reclamar de professores”, alegando ser
necessário o combate ao comunismo das docências que agem “contra a moral, a religião e a
ética da família” (VEJA, 2019).
Todo esse processo persecutório e de criminalização dos docentes busca engendrar
um novo princípio da realidade em que, envoltos pelo medo do constrangimento, da
judicialização, inclusive da demissão, resultaria na impossibilidade de garantir a sua
sobrevivência, consolidando um estado de passividade diante das problemáticas sociais e das
opressões mais corriqueiras.
Na lógica atual, todos os corpos precisam ser normalizados e regularizados seguindo
fluxos aceitáveis à lógica capitalística. Pouco importa se os fluxos são conservadores
fundamentalistas, neoliberais “simpáticos” ou humanistas – importa apenas estar de acordo
com a regra da manutenção infinita da vida, de sua submissão às mudanças de fluxo e da
competição exasperada.
Tornamo-nos o alvo de estratégias que precisam desmoralizar nossos corpos para
funcionarem. As feiuras, em muitos momentos, são alvo de ataques irracionais
estranhamente bem arquitetadas. A estratégia história mais corriqueira foi sempre a de se
investir na monstruosidade dos corpos demasiado perigosos à ordem para que possam se
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unir, d’algum modo, contra todos nós, sem criar grandes desordens. A diferença é que, dessa
vez, foram as escolas públicas que se tornaram o alvo dos ataques públicos; foram os
professores e alunos das instituições públicas de ensino que passaram a ocupar os holofotes
da ameaça à sociedade.4 Aos poucos, nós mesmos aprendemos a temer e a desconfiar uns
dos outros.
A ameaça comunista lança-nos, como Eduardo Galeano (2013) lembra, a uma era de
procura da própria sombra. Desconfiamos de todos! Todos fomos enfeados em graus
infinitos.
Figura2 - A ameaça comunista (acrílica)
Fonte: Os autores.
4
Cabe destacar, entretanto, que os professores têm sido atacados há muitas gerações de governo e o governo
petista não foi uma exceção a isso. Seja com a redução do quadro de professores permanentes nas redes de
ensino, com os cortes nos investimentos ou com a criação de empecilhos à progressão no plano de carreira, a
educação pública sofre ataques estratégicos sempre que desponta nela a força insurrecional. Os ataques à
educação foram sempre evidentes a quem atua nesse lugar, todavia, no governo de Jair Messias Bolsonaro, foi
uma das primeiras vezes em que vimos o próprio discurso político nos atacar e tentar tornar-nos inimigos da
sociedade.
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E, se aprendemos com as vivências nas escolas de gente feia, não nos envergonhamos
dessa nossa repentina fealdade. Ao contrário, optamos por expô-la felizes.
Uma vez que nos tornamos ameaças, damo-nos conta de nossas aberturas às feiuras.
Rimos descaradamente dos tolos que acreditam terem doutrinado alguém em salas
de aula. A direita conservadora ainda não entendeu que há sempre resistências. Não
doutrinamos nossas alunas e alunos, e, todavia, algo é inegável: os afetos produzidos dentro
de uma escola carregam a força da vida.
Não fomos capazes de criar um exército comunista. Rimos dessa premissa! Mas os
afetos estão ali, os corpos preparados para lutar. Nessa cena, ganhamos todos um par extra
de mãos, de abraços, de laços. Diante da ameaça tão declarada às esquerdas, lembramos de
ver o marxista, o negriano, o foucaultiano, o savianista, o freiriano e todos os outros como
aliados, como corpos tão insultuosos quanto os nossos. “Ninguém solta a mão de ninguém”
– lema que se multiplicou após o aumento de ataques fascistas aos corpos menos normativos
– virou um princípio autocrítico, um lembrete de outros corpos que se colocam conosco em
batalha.
Uma escola de gente feia requer esse mínimo cuidado autocrítico.
Em escolas reais, professoras e professores entram em contato com as feiuras
continuamente. Professoras rigorosas encontram alunos insultuosos e nem sempre o
confronto é injusto. Há, em muitos casos, uma mútua alimentação da vontade de viver. Ismeli,
coordenadora, comumente é associada à imagem do controle, ao poder quase militar atuante
em escolas. Espera-se de uma coordenadora que ela possa acalmar uma guerra. E, todavia,
quando diante da feiura de um corpo, não se comporta como uma figura militar, antes, avivase com fulgor e responde às implicâncias, vê a vida transitar como quem quer lembrar-se
jovem novamente.
No contato com as feiuras, o corpo, muitas vezes, aproxima-se por vontade de viver
mais que por vontade de competir. Se Nancy Etcoff (1999) evidencia que a beleza impele o
instinto de sobrevivência a partir da perspectiva darwinista – isto é, demonstrando que a
beleza corpórea esteve sempre atrelada à manutenção da espécie humana, garantindo-lhe
maior destaque na competição pelas condições básicas de sobrevivência –, pensamos, por
outro lado, que a feiura se associa à vida por multiplicação das possibilidades de
sobrevivência. Maurizio Lazzarato (2011) sugere que a competição é o motor do Capital;
Deleuze e Guattari (2011), não muito longe disso, lembram que a maquinaria capitalística se
alimenta de nossa vitalidade. Por sua vez, entretanto, a feiura foge a essa lógica. Antes de
competir, ela chama os próprios corpos a se multiplicarem. Ou, como sugeriria Massumi
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(2017), a feiura é, talvez, o traço de uma multiplicidade de vida já derivada, de um corpo que
ampliou a própria noção de corpo.
Talvez, retornando à pequena cena que abre este texto, víssemos naquela professoraque-foge justamente a reação de quem não sabe como lidar com as feiuras. Nos espaços onde
a vida se multiplica de modo demasiado ramificado, os corpos diferentes não são expelidos,
antes são atraídos e colocados em conversação com os outros. Paul Preciado (2018) contanos alegremente que, por baixo da aparente regularidade de um convento, ele/ela conseguia
encantar quem lhe apetecesse mesmo dada a sua fealdade.
A feiura invade as relações normatizadas em demasia para, no lugar, exigir articulação
com a vida em sua potência. Não se trata, como o senso comum espera, de causar repulsa.
Pouco se teme ou se tem asco da feiura. Antes, ela atrai por implicar uma variação afirmativa
da vida.
Antes de uma destruição indiferente do outro, nessa escola de gente feia “está latente
a necessidade de construção de uma vida comum” (CARVALHO, 2009, p. 146), isto é, um
comum que “seja entendido como proliferação de atividades criativas, relações ou formas
associativas diferentes” (ibidem, p. 162).
Se Eduardo Galeano (2013) evoca um mundo avesso para fazerem sentido as
atrocidades anunciadas nos jornais do fim do século XX, evocar um plano de imanência na
qual o comum se faça o desejo primeiro é nada menos que apostar nos corpos como força de
vida. Se a escola do mundo avesso “nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformála, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo”
(GALEANO, 2013, p. 8), na escola de gente feia, fazemos tudo errado apenas por implicância.
Talvez, se nos aproximássemos mais de Ismeli, do Anael, da Josélia ou de quaisquer
outras figuras temidas por uma lógica de controle, acabássemos percebendo certas
politizações nem sempre com tomadas à direita e aos conservadorismos. Por vezes, essas
professoras pegam no pé de suas turmas para que eles tomem dianteira nos movimentos
estudantis, nas manifestações, na afirmação e explicação de suas decisões.
Ela pode ser velha e, decididamente, pode ser brava. Sua braveza, entretanto, talvez
não seja sinal de quem segue ordens militarmente. Quiçá vemos nela a braveza de quem está
acostumada a lutar pela sobrevivência. Afinal, anos numa mesma escola que afirma,
desavergonhadamente, ser uma escola de gente feia não é um compromisso fajuto.
Ali, como diria Judith Butler (2014), os corpos são produzidos a partir de resquícios de
guerras, de imagens de uma precariedade que parece ser a única alternativa. Permanecer em
uma escola e afirmar a potência da feiura, mesmo quando o quadro diante de si tende a
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adoecer, é, sem dúvida, posicionar-se politicamente a favor da produção de uma vida muito
mais ativa que qualquer estratégia política pode sonhar.
As docências não apenas devem carregar traços geneticamente feios. Devem existir
feiuras imanentes a elas em seu andar, seu olhar, seus afetos. No mínimo, é preciso partilhar
aí de alguns conluios.
Os graus de feiura de um corpo variam infinitamente.
Talvez seja justamente por esse excesso de atividade afetiva, por esse excesso de vida
é que as lógicas embelezantes, por serem destruidoras de mundos, fazem cafetinagem com
os corpos. Precisam seduzir-nos, precisam que fiquemos sob o feitiço da seguridade e, ao
mesmo tempo, sob o torpor da paranoia (ROLNIK, 2018).
Querem que desconfiemos de tudo e de todos, para que, de algum modo, vejamos
nesse outro – o belo corpo – a estabilidade de uma vida justa. Eis o motivo de, em plena era
das tentativas de controle total de nossas capacidades cognitivas, a beleza, a aparência e o
autocuidado estético emergirem até mesmo em documentos reguladores das práticas
educacionais5.
Essa perspectiva quase cômica de pensar o corpo não nos diz de forças intoleráveis ou
de um regime estético reinante. É claro, segundo salientam Denise Bernuzzi Sant’Anna (2014),
Georges Vigarello (2006) e a própria Virginie Despentes (2016), vivemos, sim, uma época em
que todas as imagens que circulam na sociedade nos intimam à vida, de modo a pagar com
nosso próprio embelezamento. “Só é feio quem quer”, dizia uma propaganda analisada por
Denise Sant’Anna (2014). Ou, ainda, só é feio quem é muito burro! Afinal, há um
barateamento escancarado dos produtos cosméticos, há um enriquecimento estético dos
produtos diários da vida, há um alargamento amplo das redes médico-estéticas (VIGARELLO,
2006; SANT’ANNA, 2014). A moça bela serve, conforme Despentes viu no filme King Kong,
como a armadilha da feiura, a armadilha da monstruosidade.
Ainda assim, antes de vermos as políticas intoleráveis da beleza cafetina, vemos o
medo delas.
Os dispositivos de governança temem as escolas por sermos esse espaço em que os
mais infinitos corpos entram em contato uns com os outros. Na escola entram o pobre, o
preto, a gorda, a lésbica, a macumbeira, o viado, o bi, o ateu, a travesti, a menina certinha, o
vagabundo, a professora entusiástica, a professora secular... tudo é imagem de escola, todos
5
No documento curricular homologado em 2017, Base Nacional Comum Curricular, a educação passa a ser
também impulsionada por valores estéticos corporais, de autocuidado e de higiene, em muito retomando
questões vivenciadas no período de eugenização da educação da década de 1930 (VIDAL, 2000).
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os corpos compõem esse plano de imanência. E, se não nos restarem a sede competitiva e
uma fastuosa paixão por nós, vemos e veremos noutros corpos pontos de contágio, forças
insultuosas.
Querem-nos competindo uns com os outros, querem que temamos os outros
justamente porque, do contrário, aprenderíamos a compartilhar redes de comum,
aprenderíamos a explorar afetos para além do estritamente necessário.
Porque a feiura, decerto, faz isso.
Se Roseiro, Rodrigues e Alvim (2018) diziam que a beleza se torna um grande
agenciamento maquínico de servidão imensurável, dizemos, antes, haver uma infinidade de
forças que deslocam os corpos em direção ao incomparável. Embelezar-se implica, sob a
lógica do controle, saltar aos olhos do outro de modo a lhe amortecer os juízos.
Insultar, então, o Capital é trabalho dos corpos.
Ao contrário do que dizia o Foucault da disciplina, não somos corpos dóceis. Como
Davis Alvim (2018) vocifera em um auditório, as filosofias da educação raramente dão conta
de pensar a educação porque, enfaticamente, elas tendem a ignorar os clamores estudantis,
tendem a ignorar os corpos e os afetos dos estudantes.
O feio – anômalo, outsider, estranho – tem muitas funções: ele não apenas tangencia
cada multiplicidade, mas também constitui a condição da aliança necessária ao devir, às
mudanças, levando cada vez mais longe, na linha de fuga, as passagens de multiplicidades ou
transformações dos corpos e dos afetos (PEIXOTO JR., 2010).
A desterritorialização presente nessa dimensão implica a instauração de um
agenciamento, uma circulação de afetos impessoais, uma corrente alternativa, a qual,
atuando como uma máquina de guerra que anula diferentes tentativas de reterritorialização,
tumultua os projetos significantes das estratégias de controle. Trata-se, assim, da instauração
de uma individuação impessoal, a partir da qual a escola feia, no seu devir, põe em questão o
conceito de sujeito e a primazia do simbólico no campo da produção de subjetividades.
Segundo Brian Massumi (1992), existiria no devir uma tensão entre dois modos de
desejo, um de ordem molar e o outro de ordem molecular, o primeiro remetendo à
identidade e o segundo à diferença. Se, com certa frequência, o ponto de partida dos devires
diz respeito a uma situação molar, em cujos confins algumas alternativas tendem a se
apresentar como escolhas entre seres molares, “uma molaridade, diferente daquela
normalmente atribuída ao corpo que foge da coerção, sugere a si mesma como uma imagem
de ‘liberdade” (MASSUMI, 1992, p. 94). Assim, ainda que a escolha pelo devir esteja assentada
em termos molares, o processo posto em ação não é, ele próprio, molar, pois envolve vetor
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de transformação que permite traçar uma trajetória mutante que arrasta as normalidades
molares para o reino do monstruoso e do molecular.
As feiuras nunca estão só. Ismeli as vê espreitarem-se para todos os lados e por uma
boa razão: elas criam relações imprevistas, desmoronam certas estéticas e inventam novas
liberdades.
Nos últimos anos, somos lembrados de escolas com muito mais vida que o controle
gostaria de admitir. E a tudo fazem para tornar o corpo insultuoso das escolas um corpo de
alto grau de periculosidade social. Em 2013, nas Jornadas de Junho, os corpos escolares
tornaram-se vândalos; em 2016, nas Ocupações, fomos preguiçosos e vândalos novamente;
em 2018, tornamo-nos doutrinadores; agora, em 2020, somos um risco viral em época
pandêmica. Curiosamente, não se trata de dizer que não se deve estudar, mas de dizer que,
quando próximos corpórea e afetivamente, nos tornamos um risco ao biológico da vida.6 Nos
termos de Galeano (2013), há uma democratização do delito. Curiosamente, o delito cai,
sempre, sobre o pobre, o politizado, o feio, o desocupado.
Em muitos períodos da história da arte, o bom era o belo, e o feio era ruim. No mundo
artístico, isso vem sendo quebrado em frangalhos desde a industrialização do mundo (ECO,
2007). A história da feiura, à sombra de Umberto Eco, é hoje a da transformação ínfima da
vida contra os próprios limites. A feiura borra os cantos de todas as imagens que fazemos das
coisas, justamente por localizar-se, com mais força, nas bordas.
Apesar de nossa insistência até aqui em delegar ao feio um lugar não estético, é
também possível falar da feiura ligada aos valores estéticos. Todavia, corpos indisciplinados
irrevogavelmente caem também no lugar de uma feiura moral-patológica. A delinquência
democratizada cai, quase majoritariamente, sobre o corpo feio. Não mais acreditamos na
lógica que imperava com Oscar Wilde em Dorian Gray: que a feiura da alma deixa no corpo
traços de sua brutalidade, porém, a qualquer sinal estético de feiura, desconfiamos piamente.
Na coordenação, um dos discursos mais rasteiros é a alegação da beleza que, por algum
motivo, deveria acalmar alunas e alunos. “Minha linda” e “meu lindo” viram tentativas de
desarmar a postura combativa no interior das escolas.
A feiura insultuosa é real, mas não fechada aos afetos, ao sensível.
Aí, talvez pudesse jazer nosso olhar enviesado para as lógicas curriculares.
6
É evidente que, com isso, não dizemos serem desnecessárias as precauções tomadas para evitar que se espalhe
o novo coronavírus. Todavia, é curioso observar que, em instituições privadas, o isolamento social foi
automaticamente prosseguido de aulas digitais. Logo após, alguns órgãos públicos seguiram a deixa das
instituições privadas e também estabeleceram alianças com softwares e plataformas digitais, para que as aulas
fossem realizadas. Uma vez mais, valoriza-se o cognitivo em detrimento das relações afetivas.
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As feiuras, sempre presentes na escola, não se aquiescem. Latente em afetos, e
comungando com outros corpos, o corpo das feiuras transita por entre a escola sempre
pronto insultar as lógicas reguladoras abertamente admiradas. A simpática Idril, que logo
assusta a professora com seu inesperado convite à beleza às avessas, nada faz além de
oferecer ao corpo já perfeitamente enquadrado a possibilidade de transitar entre óticas. Dálhe, minimamente, uma possibilidade de fuga, ainda que breve. Convida-o a sair de um lugar
já confortável.
Nos jogos curriculares, as tentativas de banimento vindas de professoras e professores
não são poucas. Todavia, ainda assim, o corpo das feiuras transita indecoroso com todos os
olhares rancorosos que lhe deitam. As docências podem responder-lhe entrecortadamente.
Ismeli, vez por outra, dá às feiuras uma resposta sempre tão indevida quanto a própria feiura.
Justamente esses pequenos cortes é que a fazem viva.
A coordenação não é apenas lugar de poder.
Nos jogos curriculares, a vida das feiuras evoca também a feiura para os jogos de
controle. E, mediante essas trocas, o controle pode também fraquejar, colocar-se em pausa
e descobrir-se aberto à comunalidade dos corpos.
3 [escola de gente feia 2]
Nas escolas de gente feia, há sempre uma Idril, uma Ismeli, um Anael, um Aristeves,
um João, uma Carolina. Essas são escolas reais, escolas que criam lutas continuamente. Lutas
por vida, por passagem de afetos. E, ao mesmo tempo, elas só existem quando as evocamos
em conversas com os outros.
O corpo feio provoca pequenas rupturas em suas passagens. Por vezes, irrita um
professor aqui, outro acolá. Frequentemente, esses corpos se desentendem com a gestão de
uma escola, mas, ao invés de sangue, aumentam-se os afetos entre eles e ao redor. Cada vez
que um corpo feio invade uma sala, o risco de uma derrota curricular para as docências é
grande e, ainda que isso aconteça, feiuras e docências bicam-se, entrosam-se, dão
continuidade às lógicas curriculares não controladoras. Ali é que as bordas vão
verdadeiramente ser borradas.
Assim, produzimos conhecimentos a partir de nossos corpos, pois corpos estranhos
fogem da estética da beleza, do padrão cultural europeu e da prática da perfeição. As feiuras
vivem em fuga às pedagogias da perfeição que não dialogam com os corpos reais (FARIA;
BESSA-OLIVEIRA, 2010). Transitam, tão livres quanto podem, por entre as tentativas de
controle e, quando conseguem, debocham livremente delas. Conforme brincam Roseiro e
Carvalho (2020, p. 13): “Ante qualquer cara de asco ou desgosto, talvez fosse necessário
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experimentar a feiura para dar-se conta do longo gozo que esses corpos produzem, das
relações possíveis para além da competição e da desavença”.
Ainda que cheia de problemas, uma escola de gente feia pergunta-se, continuamente,
pelas vidas que têm produzido, pelas relações que seus corpos estabelecem. Ainda que os
padrões sociais, econômicos e culturais atravessem continuamente seus espaços, essas
escolas geram vidas inconformadas e recusam a lógica dos corpos dóceis. Brota, entre seus
transeuntes, um comunismo do desejo curricular (CARVALHO, 2015) que rompe com códigos
relativamente estáveis.
Traça-se, entre as feiuras dessas escolas, um conceito demasiado caro à filosofia da
diferença: o comum, isto é, a zona de compartilhamento de afetos, ações, pensamentos,
amizades, ideias, carinhos, cuidados. Quando as práticas curriculares de uma escola
verdadeiramente se abrem às feiuras, criam-se zonas de comunalidade (CARVALHO, 2009),
na qual o que muda é o próprio modo de um corpo se relacionar com a vida ao seu redor. Ali,
no lugar de enxergar o outro como um risco à vida, enxerga-se o outro como parte da própria
possibilidade de ampliar a vitalidade de seu corpo.
Ali, a lei do mais belo ou a do mais forte não perduram.
Ao viverem ativamente os corredores das escolas, os espaços de uma sala de aula, as
implicâncias juvenis e os desejos aprendentes, as escolas de gente feia convocam os corpos a
explodir o eu em feiuras infinitas. Quando se multiplicam em afetividades, as feiuras são um
insulto às lógicas do Capital.
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Revisão gramatical realizada por: Francisco Peixoto
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