UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
TECTOS PORTUGUESES DO SEC. XV AO SEC.XIX
João Carlos Sarrazola Martins
(Licenciado)
Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Recuperação e Conservação do Património
Construído
Orientador:
Doutor António Manuel Candeias de Sousa Gago
Presidente:
Júri:
Doutora Ana Paula Patrício Teixeira Ferreira Pinto França de Santana
Vogais:
Doutor José Manuel Marques Amorim de Araújo Faria
Doutor António Manuel Candeias de Sousa Gago
Setembro 2008
Resumo:
O objectivo deste trabalho consiste no estudo da evolução, desde o Século XV até ao
Século XIX, das estruturas de tectos de madeira e estuque, bem como da sua decoração.
São também estudadas as principais patologias nos tectos de madeira e as metodologias
de conservação e restauro mais correntemente aplicadas.
Não tendo sido encontrado na bibliografia consultada outro estudo sobre o tema, foi
feito um levantamento de vários tipos de estruturas de tectos através de desenhos e
fotografias existentes no arquivo da Direcção Geral de Edifícios e Monumentos
Nacionais. Conjugando este levantamento com as informações recolhidas nos antigos
tratados de construção e com a experiência prática e conhecimentos adquiridos pelo
autor em obra, foi possível propor uma classificação para as estruturas de tectos
portugueses do Séc. XV ao Séc. XIX.
Através da informação recolhida estudaram-se as estruturas de tectos mudéjares, a sua
evolução e características construtivas e a sua possível influencia nos tectos posteriores.
Também se abordaram os tectos surgidos na renascença, nomeadamente os de
caixotões, e a difusão de abóbadas, com o surgimento dos tectos decorados com pintura
de perspectiva arquitectónica durante o período barroco e posteriormente os revestidos
por estuque.
Por fim são abordados os factores de degradação, destacadas algumas técnicas de
restauro e formulada uma metodologia de intervenção.
Palavras Chave:
Estruturas de madeira, tectos, restauro, coberturas, história, construção
I
Title : Portuguese ceilings from the XV Century until the XIX Century.
Abstract:
The aim of this work is to study the history and evolution of wood and gypsum plaster ceilings roofing
structures on the period between the fifteenth century and nineteenth century, its decoration, pathologies and
methods of conservation and restoration usually used.
As, on the consulted bibliography, it was not found any previous similar study about this subject, a research
study was carried out over several structures using drawings and photographs belonging to the archive of the
Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais. Comparing them with ancient European construction
manuals and practical experience acquired during conservation and restoration works, it was possible to
propose a classification for Portuguese ceiling structures from the XV Century until The XIX Century.
With this research, existent Mudejar structures had been studied, their evolution and main constructive
characteristics and possible influence on the subsequent ceilings. It was also studied the ceilings that appeared
during the renaissance , especially the coffered ceilings and the diffusion of vaults during the baroque period
decorated with architectonic perspective paintings and later the ones covered by gypsum plaster..
At last the degradation factors are studied, restoration techniques are described and intervention methodologies
are proposed.
Key Words:
Wood structures, ceilings, restoration, roofing structures, history, construction
II
Agradecimentos
Começo por agradecer ao meu orientador, Professor Doutor António Sousa Gago, que apesar de saber que o
tema não era fácil, por ser pioneiro, nunca me deixou desistir, acreditando sempre que deste esforço sairia uma
dissertação.
À minha família pelo apoio prestado, em especial ao meu pai que muito me auxiliou, à minha mulher que
durante este período me aturou e aos meus filhos João e Catarina que prescindiram da minha companhia,
sempre com boa cara, porque o pai “tinha que escrever um livro”
III
ÍNDICE GERAL
RESUMO: ................................................................................................................................................... I
ABSTRACT: ................................................................................................................................................. II
AGRADECIMENTOS.................................................................................................................................. III
ÍNDICE GERAL .......................................................................................................................................... IV
ÍNDICE DO TEXTO ................................................................................................................................. V
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................................. VIII
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1
2. TECTOS EM MADEIRA – EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................... 4
3. ESTRUTURAS DE COBERTURA E TECTOS EM MADEIRA - SISTEMAS CONSTRUTIVOS
.................................................................................................................................................................... 24
4. TECTOS ................................................................................................................................................ 90
5. TÉCNICAS DECORATIVAS ........................................................................................................... 105
6. CAUSAS DE DEGRADAÇÃO.......................................................................................................... 114
7. METODOLOGIAS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE TECTOS ................................... 124
8. CONCLUSÃO E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ................................................................ 155
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 160
IV
ÍNDICE DO TEXTO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1
1.1 JUSTIFICAÇÃO DO TEMA ..................................................................................................................... 1
1.2 OBJECTIVO DO TRABALHO .................................................................................................................. 2
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................................................. 2
2. TECTOS EM MADEIRA – EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................... 4
2.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 4
2.2 O CASO DE PORTUGAL ........................................................................................................................ 8
2.3 OS TRATADOS DE CARPINTARIA ....................................................................................................... 20
3. ESTRUTURAS DE COBERTURA E TECTOS EM MADEIRA - SISTEMAS CONSTRUTIVOS
.................................................................................................................................................................... 24
3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 24
3.2 - ESTRUTURAS DE COBERTURA E DE TECTOS MUDÉJARES ................................................................ 28
3.2.1 Alfarges .................................................................................................................................... 30
Alfarges de uma ordem de vigas .................................................................................................. 30
Alfarges de duas ordens de vigas ................................................................................................. 31
Taujeles ( alfarges ataujerados) .................................................................................................. 32
3.2.2 Armações sobre Arcos Diafragma ........................................................................................... 33
3.2.3 Perna e fileira (Parhilera) ....................................................................................................... 34
3.2.4 Perna e nível (Par y Nudillo) ................................................................................................... 38
Armações de Asna de Nível com Rincão Singelo (Lima bordon)................................................ 48
Armações de Asna de Nível com Rincão Duplo (Limas moamares) ........................................... 50
3.2.5 Tectos de cinco panos .............................................................................................................. 54
3.2.6 Tectos de sete panos................................................................................................................. 55
3.2.7 Resumo / Conclusão ................................................................................................................. 57
3.3 ESTRUTURAS DE COBERTURA A DUAS ÁGUAS COM TECTOS ADOSSADOS .......................................... 60
3.3.1 Estruturas de Cobertura com asna de nível simples ................................................................ 61
3.3.2 Asna de nível com redução do Pé direito ................................................................................. 62
3.3.3 Asna de nível com cinco panos ................................................................................................ 64
3.3.4 Asna de Nível com sete panos .................................................................................................. 64
3.4 ESTRUTURAS SEMELHANTES ÀS DE COBERTURA MAS SEM FUNÇÃO RESISTENTE .............................. 65
3.4.1 Estrutura para tectos de masseira quadrangulares ou a quatro águas ................................... 65
3.4.2 Estrutura para tectos derivadas dos de masseira quadrangulares ou a quatro águas ............ 66
3.4.3 Estruturas para tectos de masseira oitavados ......................................................................... 67
3.5 ABÓBADAS E CÚPULAS ..................................................................................................................... 70
3.5.1 Abóbadas de Berço ou de arco perfeito (180º) ........................................................................ 70
3.5.2 Abóbadas de arco abatido ....................................................................................................... 72
3.5.3 Abóbadas de falso arco abatido ............................................................................................... 72
3.5.4 Abóbadas de aresta .................................................................................................................. 74
3.5.5 Cúpulas .................................................................................................................................... 74
3.6 ESTRUTURAS DE ESTEIRA ................................................................................................................. 77
3.6.1 Esteira Simples......................................................................................................................... 78
3.6.2 Esteira Encabeirada ................................................................................................................ 80
3.6.3 Esteira de Masseira ................................................................................................................. 80
3.6.4 Esteira Sanqueada ................................................................................................................... 81
3.6.5 Esteiras sanqueadas circulares................................................................................................ 84
3.6.6 Estruturas Mistas ..................................................................................................................... 84
4. TECTOS ................................................................................................................................................ 90
4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 90
4.2 MADEIRA .......................................................................................................................................... 91
4.2.1 Tipos de Forros ........................................................................................................................ 91
Forro de junta ............................................................................................................................... 92
Forro chanfrado ............................................................................................................................ 92
Forro de meio-fio ......................................................................................................................... 93
V
Forro de macho e fêmea ............................................................................................................... 93
Forro Sobreposto .......................................................................................................................... 93
4.2.2 Tectos Planos de Esteira Simples ............................................................................................ 94
4.2.3 Tectos Planos Encabeirados .................................................................................................... 95
4.2.4 Tectos moldurados ................................................................................................................... 96
4.2.5 Tectos apainelados................................................................................................................... 97
4.2.6 Tectos de masseira ................................................................................................................... 97
4.2.7 Tectos Sanqueados ................................................................................................................... 99
4.2.7 Tectos Artesoados .................................................................................................................. 100
4.3 ESTUQUE ........................................................................................................................................ 102
4.2.1 Tectos Estucados .................................................................................................................... 103
5. TÉCNICAS DECORATIVAS ........................................................................................................... 105
5.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 105
5.2 TÉCNICAS DECORATIVAS PARA TECTOS DE MADEIRA ..................................................................... 105
5.2.1 Douramento ........................................................................................................................... 105
5.2.2 Pintura ................................................................................................................................... 108
Pintura a Têmpera ...................................................................................................................... 109
Pintura a Óleo............................................................................................................................. 110
5.3 TÉCNICAS DECORATIVAS PARA TECTOS DE ESTUQUE ...................................................................... 111
5.3.1 Pintura a fresco...................................................................................................................... 111
5.3.2 Pintura pela encáustica ......................................................................................................... 112
5.4 MARROUFLAGE .............................................................................................................................. 112
6. CAUSAS DE DEGRADAÇÃO.......................................................................................................... 114
6.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 114
6.2 DEGRADAÇÃO DO SUPORTE DE MADEIRA........................................................................................ 114
6.2 DEGRADAÇÃO DA PINTURA E DO DOURAMENTO ............................................................................. 118
6.3 DEGRADAÇÃO DOS ESTUQUES ........................................................................................................ 120
7. METODOLOGIAS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE TECTOS ................................... 124
7.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 124
7.2 PRINCÍPIOS PARA INTERVENÇÃO NAS MADEIRAS ............................................................................ 127
7.2.1 Reparação e reforço da estrutura .......................................................................................... 127
7.2.2 Reparação de elementos não estruturais ............................................................................... 129
Consolidação através da impregnação por resinas acrílicas ....................................................... 130
Consolidação através da utilização de cola de madeira com serrim ........................................... 131
Reparação por placagem ............................................................................................................ 133
Reparação por placagem e parquetagem .................................................................................... 135
7.2.3 Desinfestação ......................................................................................................................... 135
7.3 PRINCÍPIOS DE INTERVENÇÃO EM DOURAMENTO E POLICROMIA ..................................................... 136
7.3.1 Pré-fixação e limpeza superficial........................................................................................... 138
7.3.2 Aplicação de Facing .............................................................................................................. 139
7.3.3 Limpeza e Fixação ................................................................................................................. 140
7.3.4 Nivelamento de Lacunas ........................................................................................................ 141
7.3.5 Reintegração cromática ......................................................................................................... 142
Retoque por mancha ou neutral .................................................................................................. 143
Retoque a Tratteggio .................................................................................................................. 143
Retoque normal .......................................................................................................................... 145
Retoque Total ............................................................................................................................. 145
Outras Técnicas .......................................................................................................................... 146
Aplicação de camada de protecção ............................................................................................ 148
7.4 PRINCÍPIOS PARA INTERVENÇÃO EM ESTUQUES .............................................................................. 148
7.4.1 Consolidação dos estuques .................................................................................................... 149
7.4.2 Restauro dos estuques ............................................................................................................ 150
8. CONCLUSÃO E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ................................................................ 155
8.1 INTRODUÇÃO – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS TECTOS DE MADEIRA .................................................. 155
8.2 SISTEMAS CONSTRUTIVOS .............................................................................................................. 156
8.3 TÉCNICAS DECORATIVAS ................................................................................................................ 157
VI
8.4 CAUSAS DE DEGRADAÇÃO E METODOLOGIAS DE INTERVENÇÃO ..................................................... 158
8.5 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ...................................................................................................... 158
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 160
VII
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES1
Fig. 1 – Tecto de vigas à vista, Torre da Ucanha (tecto refeito pela DGEMN, fotografia do autor) ............ 4
Fig. 2 – Tecto de viga à vista medieval (desenho de Viollet-le-Duc) ........................................................... 5
Fig. 3 – Tecto de viga à vista do Séc.XIV (desenho de Viollet-le-Duc) ...................................................... 6
Fig. 4 – Tecto de caixotões do Séc. XV (desenho de Viollet-le-Duc) .......................................................... 7
Fig. 5 – Cúpula de caixotões (Le Muet, 1547) ............................................................................................. 7
Fig. 6 – Cobertura sobre arcos diafragma, refeita em 2005, Igreja de Santa Maria do Castelo – Pinhel
(fotografia Tacula) ........................................................................................................................................ 9
Fig. 7 – Estrutura de par y nudillo, capela-mor da Igreja de São Vicente de Castelo Mendo (fotografia
DGEMN, adaptada pelo autor) ................................................................................................................... 10
Fig. 8 – Estribado da Igreja de N. Sra. da Oliveira, Guimarães (fotografia DGEMN, adaptada pelo autor)
.................................................................................................................................................................... 10
Fig. 9 – Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, tecto de estuque (fotografia DGEMN) ............................... 11
Fig. 10 – Estrutura subjacente (fotografia DGEMN) ................................................................................. 11
Fig. 11 – Aspecto da decoração dos tirantes e cachorros, da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira,
Guimarães (fotografia DGEMN) ................................................................................................................ 11
Fig. 12 – Decoração dos aliceres, da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, Guimarães (fotografia
DGEMN) .................................................................................................................................................... 11
Fig. 13 – Tecto da Capela-mor do Palácio da Vila, Sintra (fotografia DGEMN) ....................................... 12
Fig. 14 – Taugel da Sé Velha de Coimbra (1477), actualmente no Museu Machado de Castro (fotografia
Tacula) ........................................................................................................................................................ 13
Fig. 15 – Tecto mudéjar da Igreja de Escarigo (fotografia DGEMN) ........................................................ 13
Fig. 16 – Estrutura da igreja de Santa Leocádia, Chaves (fotografia Tacula) ............................................ 14
Fig. 17 – Pormenor de garganta e decoração graminhada, igreja de Santa Leocádia, Chaves (fotografia
Tacula) ........................................................................................................................................................ 14
Fig. 18 – Cachorro mudéjar da Igreja de Santa Leocádia (fotografia Tacula) ............................................ 15
Fig. 19 – Outro pormenor da viga durante o restauro (fotografia Tacula) .................................................. 15
Fig. 20 – Tecto da Sé do Funchal (fotografia DGEMN) ............................................................................ 15
Fig. 21 – Tecto de caixotões ou artesões (Sérlio, S. 1552) ......................................................................... 17
Fig. 22 – Tecto da Igreja de São Roque (fotografia DGEMN) ................................................................... 17
Fig. 23 – Painel com brutescos, Igreja de São João das Lampas (fotografia Tacula) ................................. 18
Fig. 24 – Painel com brutescos, Igreja de São Miguel de Alfama (fotografia Tacula) ............................... 18
Fig. 25 – Capela-mor da Igreja do Senhor das Barrocas, Aveiro (fotografia Tacula) ................................ 19
Fig. 26 – Pormenor do tecto da Igreja de Nossa Senhora da Esperança, Sátão (fotografia Tacula) ........... 20
Fig. 27 – Abóbada de arestas (desenho de Philibert Delorme, 1561) ......................................................... 21
Fig. 28 – Proposta de classificação das coberturas e tectos mudéjares em Portugal, tendo em conta a sua
evolução em termos de complexidade ........................................................................................................ 27
Fig. 29 – Igreja de Dois Portos, pormenor da estrutura, em que são visíveis as pernas da estrutura
primitiva, serradas (fotografia DGEMN) ................................................................................................... 29
Fig. 30 – Alfarge de uma ordem de vigas (adaptado de El mudéjar en Granada, op.cit.) ......................... 30
Fig. 31 – Tecto da Loggia do Museu Machado de Castro, que não sendo Mudéjar segue a técnica
construtiva de um alfarge (fotografia Tacula) ............................................................................................ 30
Fig. 32 – Alfarge de duas ordens de vigas (adaptado de El mudéjar en Granada, op.cit.) ....................... 31
Fig. 33 – Exemplo da estrutura de um alfarge com duas ordens de vigas, Mosteiro de Santa Clara,
Funchal, (fotografia DGEMN) ................................................................................................................... 31
Fig. 34 – Pormenor do alfarge da Igreja Matriz da Ermida, Castro de Aire (fotografia DGEMN) ............ 31
Fig. 35 – Outro pormenor do mesmo alfarge (fotografia DGEMN) ........................................................... 31
Fig. 36 – Taujel do Convento do Varatojo, Torres Vedras (Fotografia DGEMN) ..................................... 32
Fig. 37 – Taujel da Igreja da Madre de Deus, Lisboa (fotografia do autor) ............................................... 32
Fig. 38 – Taujel do Museu Machado de Castro (fotografia Tacula) ........................................................... 33
Fig. 39 – Armação sobre arcos diafragma, em que as vigas mestras são substituídas por arcos de alvenaria
(Diaz, 2001) ................................................................................................................................................ 34
Fig. 40 – Armação de Parhilera, Igreja de San Cipriano, Oquillas, Espanha (fotografia de Díez, 1999) .. 34
1
Todas as fotografias referenciadas como fotografia Tacula, pertencem ao arquivo da empresa Tacula Marcenaria e Restauro, Lda, da qual o autor é sócio. Referem-se a trabalhos de diagnóstico, projecto,
orçamento e obras de conservação e restauro, em que o autor participou.
Os desenhos sem referência foram executados pelo autor.
VIII
Fig. 41 – Esquema de Asna de perna e fileira (parhilera) (desenho do autor) ............................................ 35
Fig. 42 – Asna de perna e fileira (Arenas, 1633) ........................................................................................ 35
Fig. 43 – Cartabón de 5 ( Desenho de Nuere, 2001) .................................................................................. 37
Fig. 44 – Utilização do cartabón para medir as peças (adaptado de Nuere 2001) ...................................... 37
Fig. 45 – Utilização do cartabón para cortar as peças (Nuere, 2001) ......................................................... 38
Fig. 46 – Corte e planta da armação de par y nudilho ................................................................................ 38
Fig. 47 – Elementos básicos da armação de par y nudillo .......................................................................... 39
Fig. 48 – Níveis e soleira (Nuere 2008)...................................................................................................... 39
Fig. 49 – Montagem dos cachorros e aliceres (Nuere 2008) ...................................................................... 40
Fig. 50 – Construção da Arquitrave (Nuere 2008) ..................................................................................... 40
Fig. 51 – Assentamento dos tirantes e respectivos aliceres (Nuere 2008) ................................................. 41
Fig. 52 – Assentamento do estribo (frechal) (Nuere 2008) ........................................................................ 41
Fig. 53 – Pormenor do estribado de armação mudéjar, Igreja Matriz da Calheta (adaptado de fotografia
DGEMN) .................................................................................................................................................... 42
Fig. 54 – Armação de Asna de Nível, elementos constituintes (adaptado de Diaz, 2001) ......................... 42
Fig. 55 – Armação de asna de nível, (par y nudillo) (desenho de Nuere 2008) .......................................... 43
Fig. 56 – Representação de um nível típico, com respigas para a aplicação de pequenas vigas, os peinazos,
que ligavam os vários níveis, formando decoração de laçaria ( adaptado de Nuere, 1994)........................ 43
Fig. 57 – Pernas (adaptado de de Nuere, 1994) .......................................................................................... 43
Fig. 58 – Montagem da Asna (adaptado de Nuere, 1994) .......................................................................... 44
Fig. 59 – Armação de Perna e Nível, Convento de Santa Clara, Funchal (DGEMN) ................................ 44
Fig. 60 – Exemplo de decoração gramilhada, Igreja de São Miguel, Funchal (fotografia DGEMN) ........ 45
Fig. 61 – Policromia da armação da Igreja de São Vicente de Castelo Mendo (fotografia DGEMN) ....... 45
Fig. 62 – Pormenor de laço apeinazado, Sé do Funchal (fotografia Tacula) ............................................. 46
Fig. 63 – Laços de 8 e de 10 ....................................................................................................................... 47
Fig. 64 – Laços de 12 e de 14 ..................................................................................................................... 47
Fig. 65 – Laços de 16 e de 20 ..................................................................................................................... 47
Fig. 66 – Laço de 8 (fotografia Tacula) ...................................................................................................... 47
Fig. 67 – Pormenor de Roda de 16 (fotografia Tacula) .............................................................................. 47
Fig. 68 – Armação de asna de nível com rincão singelo (desenho de Nuere, 2008) .................................. 48
Fig. 69 – Armação de par y nudillo de base quadrangular, Santa Maria de Castelo Mendo (fotografia
DGEMN) .................................................................................................................................................... 48
Fig. 70 – Armação de par y nudillo de base rectangular, Igreja Matriz de Proença-a-Velha,
intervencionada profundamente nos anos 90 (fotografia DGEMN) ........................................................... 49
Fig. 71 – Tecto oitavado do Convento de Santa Clara (fotografia DGEMN) ............................................ 49
Fig. 72 – Estrutura de cobertura a quatro águas, sobre tecto oitavado (fotografia DGEMN) ..................... 50
Fig. 73 – Armação rectangular de rincão duplo (desenho Nuere, 2008) .................................................... 50
Fig. 74 – Elementos constituintes de armação de par y nudillo de rincão duplo sobre planta rectangular
(adaptado de Diaz 2001) ............................................................................................................................. 51
Fig. 75 – Armação mudéjar lisa, de rincão duplo, Convento de Santa Clara, Funchal (fotografia DGEMN)
.................................................................................................................................................................... 52
Fig. 76 – Armação mudéjar de laço apeinazado de rincão duplo, Escarigo (fotografia DGEMN) ............ 52
Fig. 77 – Armação oitavada de rincão duplo (desenho de Nuere, 2008) .................................................... 53
Fig. 78 – Tecto de laço apeinazado, oitavado, de rincão duplo, com trompas cónicas, Transepto da Sé do
Funchal (fotografia DGEMN) .................................................................................................................... 53
Fig. 79 – Armação a cinco panos, Rodrigo Alvarez (Diaz 2001) ............................................................... 54
Fig. 80 – Tecto a cinco panos (adaptado de El mudéjar en Granada, op.cit.)............................................ 54
Fig. 81 – Representação esquemática ......................................................................................................... 54
Fig. 82 – Tecto da Capela-Mor do Palácio da Vila de Sintra (fotografia extraída de “O Paço de Sintra,
1903)........................................................................................................................................................... 55
Fig. 83 – Planta dos tectos da Capela-Mor do Palácio da Vila de Sintra (adaptado da existente em “O
Paço de Cintra, 1903) ................................................................................................................................. 56
Fig. 84 – Tecto da Sala das Pegas (fotografia DGEMN) ............................................................................ 59
Fig. 85 – Tecto da Igreja de Nossa Senhora do Loureto (fotografia DGEMN) .......................................... 59
Fig. 86 – Tecto da Matriz de Caminha (fotografia DGEMN) .................................................................... 60
Fig. 87 – Cobertura com asna de nível simples .......................................................................................... 61
Fig. 88 – Tecto da Igreja de S. Pedro da Ericeira, Séc. XVIII (fotografia Tacula) ..................................... 61
Fig. 89 – Representação esquemática ......................................................................................................... 62
Fig. 90 – Estrutura do tecto da Capela da Misericórdia de Vila de Rei, reconstruído em 2004 copiado do
anterior (fotografia Tacula) ........................................................................................................................ 62
IX
Fig. 91 – A mesma estrutura durante a construção (fotografia Tacula) ...................................................... 63
Fig. 92 – O tecto após a montagem (fotografia Tacula) ............................................................................. 63
Fig. 93 – Esquema de tecto de cinco panos, Igreja paroquial de Vinhó (fotografia DGEMN) .................. 64
Fig. 94 – Vista do tecto de Vinhó (fotografia DGEMN) ............................................................................ 64
Fig. 95 – Tecto de sete panos, Igreja de São Martinho de Mouros (desenho DGEMN) ............................ 65
Fig. 96 – Estrutura com dupla curvatura, abóbada central e sancas. .......................................................... 66
Fig. 97 – Fotografias da estrutura referida anteriormente (fotografias DGEMN) ...................................... 66
Fig. 98 – Montagem da estrutura de apoio (desenho do autor) .................................................................. 67
Fig. 99 – Pormenor da união (desenho do autor) ........................................................................................ 67
Fig. 100 – Estrutura de apoio completa (desenho do autor) ....................................................................... 67
Fig. 101 – Esquema de estrutura de tecto de masseira oitavado (desenho do autor) .................................. 68
Fig. 102 – Fotografia de estrutura de tecto de masseira oitavado (fotografia Tacula) ................................ 68
Fig. 103 – Pormenor do topo da estrutura (fotografia Tacula) ................................................................... 69
Fig. 104 – Pormenor dos quadrais duplos e frechais (fotografia Tacula) ................................................... 69
Fig. 105 – Representação esquemática de abóbada de berço (desenho do autor) ....................................... 70
Fig. 106 – Tecto em abóbada de berço com forro de tábua corrida. Neste tecto, são visíveis dois tirantes
mudéjares, o que parece indiciar a existência de uma estrutura subjacente não referenciada anteriormente,
Igreja de Seixo Amarelo (fotografia Tacula) .............................................................................................. 71
Fig. 107 – Esquema da cobertura de Santo António de Penamacor (C.M. de Penamacor) ........................ 71
Fig. 108 – Tecto de Santo António de Penamacor (fotografia Tacula) ...................................................... 71
Fig. 109 – Abóbada de arco abatido, Igreja de N. Senhora da Esperança, Sátão (fotografia Tacula) ........ 72
Fig. 110 – Esquema de abóbada de falso arco abatido (90º) (desenho do autor)........................................ 73
Fig. 111 – Abóbada de falso arco abatido, Matriz de Sortelha (fotografia DGEMN) ................................ 73
Fig. 112 – Ligação das pernas à extremidade das vigas curvas (fotografia DGEMN) ............................... 73
Fig. 113 – Ligação das vigas curvas aos níveis (fotografia DGEMN) ....................................................... 73
Fig. 114 – Pormenor do empalme à meia madeira das vigas curvas (fotografia DGEMN) ....................... 73
Fig. 115 – Abóbada de arestas, Igreja Matriz de Ponte da Barca (DGEMN) ............................................. 74
Fig. 116 – Cúpula circular de arco perfeito (Rondelet) .............................................................................. 75
Fig. 117 – Cúpula circular de arco abatido (Rondelet) ............................................................................... 75
Fig. 118 – Cúpula octogonal, palácio de Monserrate, Sintra (fotografia do autor) .................................... 75
Fig. 119 – Cúpula hexagonal do Santuário do Senhor da Pedra, Óbidos (fotografia do autor) .................. 76
Fig. 120 – Cúpula octogonal com lanternim, Palácio de Monserrate, Sintra (fotografia do autor) ............ 76
Fig. 121 – Pormenor das pernas do tecto anterior (fotografia do autor) ..................................................... 77
Fig. 122 – Lanternim da mesma estrutura (fotografia do autor) ................................................................. 77
Fig. 123 – Pormenor das vigas de sustentação do lanternim (fotografia do autor) ..................................... 77
Fig. 124 – Esteira Simples (P. da Costa) .................................................................................................... 78
Fig. 125 – Tecto com tarugos cruzados (fotografia do autor) ..................................................................... 78
Fig. 126 – Fotografia de estrutura de esteira simples, Convento do Sacramento, Lisboa (fotografia do
autor) .......................................................................................................................................................... 79
Fig. 127 – Esteira Encabeirada (Pereira da Costa 1955) ............................................................................ 80
Fig. 128 – Cortes da estrutura de esteira para tectos de masseira (Pereira da Costa 1955) ........................ 81
Fig. 129 – Esquema de esteira para tecto sanqueado (Pereira da Costa 1955) ........................................... 81
Fig. 130 – Uniões entre as três peças da cambota, Palácio Nacional da Ajuda ( adaptado de fotografia de
Arq. Luís Marreiros) ................................................................................................................................... 82
Fig. 131 – Pormenor das cambotas secundárias (Fotografia de Arq. Luís Marreiros) ............................... 82
Fig. 132 – Esboço da estrutura do tecto, com os elementos constituintes (desenho do autor) ................... 83
Fig. 133 – Esteira para tecto sanqueado (Rondelet) ................................................................................... 83
Fig. 134 – Tecto circular segundo Rondelet ............................................................................................... 84
Fig. 135 – Corte do tecto (desenho do autor) ............................................................................................. 85
Fig. 136 – Construção do vigamento para a esteira plana (desenho do autor) ............................................ 85
Fig. 137 – Aplicação do forro (desenho do autor) ...................................................................................... 86
Fig. 138 – Construção das asnas para suporte da esteira superior (desenho do autor) ............................... 86
Fig. 139 – Aplicação das cambotas (desenho do autor) ............................................................................. 87
Fig. 140 – Tecto completo (desenho do autor) ........................................................................................... 87
Fig. 141 – Cambotas e esteira plana inferior (fotografia Tacula) ............................................................... 88
Fig. 142 – Pormenor da esteira superior (fotografia Tacula) ...................................................................... 88
Fig. 143 – Vista das cambotas e fixação das asnas (fotografia Tacula)...................................................... 89
Fig. 144 - Pormenor do sistema de asnas (fotografia Tacula) .................................................................... 89
Fig. 145 – Corte de forro de junta .............................................................................................................. 92
Fig. 146 – Corte de forro chanfrado com tábuas a encher .......................................................................... 92
X
Fig. 147 – Corte de forro chanfrado com tábuas de espera e de cobrir ...................................................... 92
Fig. 148 – Corte de forro de meio-fio com tábuas a encher ....................................................................... 93
Fig. 149 – Corte de forro meio-fio com tábuas de espera e de cobrir ......................................................... 93
Fig. 150 – Corte de Forro de macho e fêmea ............................................................................................. 93
Fig. 151 – Corte de forro de tábuas sobrepostas (Pereira da Costa 1955) .................................................. 94
Fig. 152 – Tecto plano de esteira simples com forro sobreposto (Pereira da Costa 1955) ......................... 94
Fig. 153 – Tecto encabeirado, sacristia da Capela de Nª Sra. de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula) 95
Fig. 154 – Tecto encabeirado, sendo na zona central forrado com tábuas sobrepostas (Pereira da Costa
1955)........................................................................................................................................................... 95
Fig. 155 – Corte do tecto anterior (Pereira da Costa 1955) ........................................................................ 96
Fig. 156 – Tecto moldurado (Pereira da Costa 1955) ................................................................................. 96
Fig. 157 – Tecto encabeirado apainelado (Pereira da Costa 1955) ............................................................. 97
Fig. 158 – Tecto de masseira rectangular, apainelado, com forro sobreposto, Convento do Sacramento,
Lisboa (fotografia do autor) ........................................................................................................................ 98
Fig. 159 – Tecto de masseira oitavado, apainelado, com forro sobreposto e painéis separados por
molduras de grande espessura, Paços do Concelho, Góis (fotografia Tacula) ........................................... 98
Fig. 160 – Tecto sanqueado, apainelado com forro a encher, Igreja de São Miguel de Alfama (fotografia
Tacula) ........................................................................................................................................................ 99
Fig. 161 – Tectos de caixotões, aplicado usando o vigamento do piso superior e independente, isto é, um
tecto falso ( Pereira da Costa) ................................................................................................................... 100
Fig. 162 – Tecto de caixotões, sacristia da Capela de Nª. Sra. da Esperança, Sátão (fotografia Tacula) . 101
Fig. 163 – Tecto de caixotões em abóbada de berço, capela-mor da Capela de Nª. Sra. da Esperança,
Sátão (fotografia Tacula) .......................................................................................................................... 101
Fig. 164 – Estuques da Charola do Convento de Cristo em Tomar (fotografia Tacula) ........................... 102
Fig. 165 – Tecto estucado antes e após a aplicação do estuque, cortes transversal e longitudinal (P.da
Costa) ....................................................................................................................................................... 103
Fig. 166 – Pormenor de Taugel do Museu Machado de Castro com douramento (fotografia Tacula) ..... 106
Fig. 167 – Pormenor da pintura a têmpera da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, Guimarães (fotografia
DGEMN) .................................................................................................................................................. 108
Fig. 168 – Tecto pintado a óleo, Paços do Concelho, Góis (fotografia Tacula) ....................................... 110
Fig. 169 – Abóbada da capela-mor da Igreja Matriz de Beja (fotografia Tacula) .................................... 111
Fig. 170 – Tecto marrouflado da sala anexa ao coro-alto da capela do Colégio do Bom Sucesso
(fotografia Tacula) .................................................................................................................................... 112
Fig. 171 – Pormenor de juntas forradas com tiras de tecido (em destacamento), Igreja de São Pedro da
Ericeira (fotografia Tacula) ...................................................................................................................... 113
Fig. 172 – Tecto revestido a papel de parede, Palácio de Monserrate, Sintra (fotografia Tacula) ........... 113
Fig. 173 – Fenda de retracção em painel decorativo (fotografia Tacula) ................................................. 115
Fig. 174 – Acumulação de lixo (fotografia Tacula).................................................................................. 115
Fig. 175 – Apodrecimento generalizado (fotografia Tacula).................................................................... 116
Fig. 176 – Pormenor de podridão cubicular associada a ataque de caruncho (fotografia Tacula) ............ 116
Fig. 177 – Reaproveitamento de tecto policromo para execução de guarda-pó, Igreja de Santa Maria do
Castelo, Pinhel (fotografia Tacula) ........................................................................................................... 117
Fig. 178 – Construção de novo tecto ocultando o anterior, de que ainda são visíveis os tirantes mudéjares,
Igreja de Marmeleiro (fotografiaDGEMN) .............................................................................................. 118
Fig. 179 – Perda de painéis decorativos, Igreja Matriz de Loures (fotografia Tacula) ............................. 118
Fig. 180 – Pormenor de várias patologias: destacamento da camada cromática, escorridos devido a
infiltrações, apodrecimento da madeira e fendas provocadas pela oxidação dos cravos (fotografia Tacula)
.................................................................................................................................................................. 119
Fig. 181 – Perda do douramento por degradação do mordente (fotografia Tacula) ................................. 120
Fig. 182 – Perda de estuque por apodrecimento do fasquiado. É também observável a perda de elementos
decorativos (fotografia Tacula) ................................................................................................................ 121
Fig. 183 – Queda de estuque por perda de coesão entre camadas, causada por sais. É visível, do lado
esquerdo da imagem o desaparecimento da policromia pela mesma causa (fotografia Manuela Rocha) 121
Fig. 184 – Fissuração do estuque (fotografia Tacula) .............................................................................. 122
Fig. 185 – Destacamento da policromia por efeito de sais (fotografia Tacula) ........................................ 123
Fig. 186 – Pulverulência da superfície por efeito de sais, conduzindo à perda de policromia e elementos
decorativos (fotografia Tacula) ................................................................................................................ 123
Fig. 187 – Reparação da entrega à parede de uma viga através de enxertos de madeira sã (fotografia
Tacula) ...................................................................................................................................................... 128
Fig. 188 – Colagem de viga, Coro da Igreja de Santa Leocádia, Chaves (fotografia Tacula) .................. 128
XI
Fig. 189 – Reparação de viga através de enxertos de madeira nas zonas apodrecidas. É visível um enxerto
para prolongamento e dois para reposição da secção (fotografia Tacula) ................................................ 129
Fig. 190 – Tábuas consolidadas através da impregnação de resinas acrílicas (fotografia Tacula) ........... 130
Fig. 191 – Madeira consolidada com cola de marceneiro e serrim, as lacunas de grande dimensão,
encontram-se preenchidas com madeira nova (fotografia Tacula) ........................................................... 131
Fig. 192 – Aplicação de resina epóxida para reconstituição de volumes no tardoz das tábuas (fotografia
Tacula) ...................................................................................................................................................... 132
Fig. 193 – Várias tábuas durante o processo de restauro (fotografia Tacula) ........................................... 133
Fig. 194 – Pormenor da colagem das placas (fotografia Tacula) ............................................................. 134
Fig. 195 – Vista geral do painel em reparação (fotografia Tacula) .......................................................... 134
Fig. 196 – Painel reforçado com placagem e parquetagem (fotografia Tacula) ....................................... 135
Fig. 197 – Exemplo de zona em que por falta de referência, se optou por não efectuar a integração,
capela-mor da Igreja Matriz de Beja (fotografia Tacula) ......................................................................... 137
Fig. 198 – Painel com facing sobre a policromia para permitir a desmontagem, capela-mor da Igreja
Matriz de Trevões (fotografia Tacula) ...................................................................................................... 139
Fig. 199 – Limpeza química, tecto da Sacristia da Capela de Nossa Senhora de Monserrate, Óbidos
(fotografia Tacula) .................................................................................................................................... 140
Fig. 200 – Aplicação de preparação nas zonas de lacunas, tecto da Sacristia da Capela de Nossa Senhora
de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula) .............................................................................................. 141
Fig. 201 – Painel completo após o preenchimento de lacunas (fotografia Tacula) .................................. 142
Fig. 202 – Reserva reconstituída por mancha. Na ausência de referência, só foram reconstituídas as
formas das figuras humanas e não os seus pormenores. Capela-mor da Igreja Matriz de Bucelas
(fotografia Tacula) .................................................................................................................................... 143
Fig. 203 – Pormenor de integração a tratteggio (fotografia Tacula) ......................................................... 144
Fig. 204 – Lançamento do desenho a carvão (fotografia Tacula) ............................................................. 144
Fig. 205 – Inicio da reintegração a tratteggio (fotografia Tacula) ............................................................ 144
Fig. 206 – Aspecto final da tela (fotografia Tacula) ................................................................................. 145
Fig. 207 – Lançamento do desenho com bases de aguarela em tecto de madeira, tecto da Sacristia da
Capela de Nossa Senhora de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula) ..................................................... 146
Fig. 208 – Aspecto final, sendo visíveis as zonas refeitas em tom mais claro, tecto da Sacristia da Capela
de Nossa Senhora de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula) ................................................................. 146
Fig. 209 – Lançamento do desenho a carvão em tecto de estuque, capela-mor da Igreja matriz de Beja
(fotografia Tacula) .................................................................................................................................... 147
Fig. 210 – Pormenor do tecto anterior, com as zonas figurativas novas com tom mais claro (fotografia
Tacula) ...................................................................................................................................................... 147
Fig. 211 – Aplicação de linhadas para consolidação os estuques, tecto da biblioteca do Palácio de
Monserrate (fotografia Tacula) ................................................................................................................. 149
Fig. 212 – Zona consolidada com injecção de caldas, sendo ainda visíveis os orifícios de injecção, tecto
da biblioteca do Palácio de Monserrate (fotografia Tacula) ..................................................................... 150
Fig. 213 – Reposição de fasquiado, tecto da biblioteca do Palácio de Monserrate (fotografia Tacula) ... 150
Fig. 214 – A lacuna anterior após a aplicação do reboco (fotografia Tacula) .......................................... 151
Fig. 215 – Molde, contra-molde e peça decorativa (fotografia Tacula) ................................................... 151
Fig. 216 – Ferramenta para correr moldados (fotografia Tacula) ............................................................. 152
Fig. 217 – Aplicação de gesso sobre a mesa (fotografia Tacula) ............................................................. 152
Fig. 218 – Estucador a correr o molde (fotografia Tacula)....................................................................... 153
Fig. 219 – Moldado pronto ( fotografia Tacula) ....................................................................................... 153
Fig. 220 – Aplicação dos moldados e peças decorativas (fotografia Tacula) ........................................... 154
Fig. 221 – Zona de lacuna após a reconstituição dos estuques (fotografia Tacula) .................................. 154
XII
1. Introdução
1. INTRODUÇÃO
1.1 Justificação do Tema
Com a evolução dos critérios que definem o que se deve considerar como património,
tem-se vindo a observar um maior interesse pelas técnicas construtivas ancestrais e pela
sua preservação.
As estruturas e os elementos estruturais das construções, quer se trate de grandes
elementos das construções em alvenaria ou de pequenos sistemas de apoio e suporte de
elementos decorativos, como é o caso dos tectos, são hoje considerados como partes da
construção a preservar. De facto, segundo os critérios gerais de restauro de estruturas de
património arquitectónico definidas pelo comité cientifico internacional do ICOMOS,
para análise e restauro de estruturas, “ o valor de cada construção histórica, não está
apenas na aparência dos elementos isolados, mas também na integridade de todos os
seus componentes como um produto único da tecnologia de construção específica do
seu tempo e do seu local. Desta forma, a remoção das estruturas internas mantendo
apenas as fachadas não se adequa aos critérios de conservação”.
Estas recomendações surgem na sequência da Carta de Cracóvia de 2000, em que se
define que “ a intenção de conservação de edifícios históricos e monumentos, estando
estes em contextos rurais ou urbanos, é manter a sua autenticidade e integridade,
incluindo os espaços internos, o mobiliário e a decoração de acordo com a sua
configuração original”… “as obras em edifícios históricos devem prestar total atenção a
todos os períodos históricos presentes” e também que “ a decoração arquitectónica,
esculturas e elementos artísticos, que são uma parte integrante do património
construído, devem ser preservados mediante um projecto específico vinculado ao
projecto geral. Isto supõe que o restaurador tem conhecimento e formação adequados,
para além da capacidade cultural, técnica e prática, para interpretar as diferentes análises
dos campos artísticos específicos. O projecto de restauro deve garantir uma relação
correcta com o conjunto do que está em redor e do ambiente, da decoração e da
escultura, respeitando as artes e os ofícios tradicionais do edifício e a sua necessária
integração como uma parte substancial do património construído”.
Isto só é possível através do estudo das técnicas utilizadas, o que atendendo a que as
mesmas passavam normalmente de pais para filhos, ou de mestre para aprendiz, torna
extremamente difícil o estudo das mesmas.
1
1. Introdução
Em Portugal, não foi até agora feito qualquer estudo que documentasse a evolução dos
sistemas construtivos de tectos em madeira e estruturas de cobertura mudéjares, a sua
inventariação, técnicas decorativas, patologias e técnicas de conservação e restauro.
No caso dos tectos, este estudo é de fundamental importância, pois peças
simultaneamente da construção civil, enquanto estrutura, e da arte, enquanto peça
decorativa, acabam por cair na terra de ninguém. Se por um lado, os seus sistemas de
apoio não comprometem nem melhoram a segurança estrutural dos edifícios, não sendo
por isso alvo de estudos por parte da engenharia de estruturas, por outro, os estudos
levados a cabo por historiadores de arte e conservadores-restauradores apenas têm em
conta os seus aspectos decorativos.
Perante esta lacuna, o presente estudo pretende ser uma primeira tentativa, em Portugal,
de levar o tema das estruturas de tectos a ser encarado com a relevância que merece.
Com o incremento da utilização da internet, começou também a digitalização de
tratados de construção antigos, que se encontravam ao dispor de alguns, e que agora
começam a ficar disponíveis para todos. Com isto, pode-se agora conseguir aceder a
inúmeros documentos que se encontravam dispersos e reconstituir as antigas técnicas da
construção civil. Dentro dos modernos conceitos éticos e técnicos do restauro, esta
disponibilização de conhecimento é de primordial importância, pois permite o estudo de
técnicas construtivas ancestrais e da sua influência na história da construção, que com o
advento do betão se perderam.
1.2 Objectivo do trabalho
Dentro do espírito enunciado no ponto anterior, pretende-se com este trabalho, dar uma
panorâmica geral da construção de tectos de madeira em Portugal, abordando a sua
evolução histórica, a sua estrutura, os vários tipos de forros e as técnicas usadas para a
sua decoração. Abordam-se também as suas causas de degradação, no intuito de
conseguir estabelecer uma metodologia e técnicas de intervenção adequadas para a
preservação deste património, respeitando os princípios éticos actualmente aceites.
1.3 Estrutura do trabalho
Este trabalho encontra-se dividido em duas partes independentes, mas que se
complementam: uma primeira parte, do capitulo 2 ao capitulo 5, e a segunda parte,
2
1. Introdução
composta pelos capítulos 6 e 7. Juntam-se a estes um primeiro capítulo introdutório e
um oitavo de conclusões.
Na primeira parte, começa-se por analisar a evolução histórica dos tectos de madeira em
Portugal (capitulo 2). Esta abordagem, embora apoiada na história da arte, não a segue
linearmente. De facto, sendo o objectivo do trabalho o estudo dos sistemas construtivos
(e não o estilístico em termos decorativos), considera-se, por exemplo, que um tecto
plano com decoração maneirista é semelhante a um outro construído numa época
posterior, com decoração barroca, caso a sua técnica de construção seja idêntica.
Inclui-se também neste 2º capítulo de estudo da evolução histórica de tectos e suas
estruturas, um subcapítulo sobre os tratados de carpintaria ao longo dos tempos, como
meio auxiliar de estudo desta temática.
Seguidamente, nos capítulos 3 e 4, é apresentada uma descrição dos vários sistemas
construtivos de estruturas para tectos de madeira (capitulo 3) e dos tectos propriamente
ditos, isto é, da sua face visível (capitulo 4). A opção de dividir este tema em dois
capítulos independentes, deriva da organização proposta para a classificação das
estruturas por tipos construtivos.
Para finalizar a parte da dissertação centrada na construção, abordam-se ainda as várias
técnicas decorativas usualmente empregues nos tectos tradicionais.
A segunda parte do trabalho consiste numa breve abordagem às causas de degradação
dos tectos (capitulo 6) e numa proposta de metodologia para a intervenção neles
(capitulo 7). Nesta parte, são também enunciadas algumas técnicas de conservação e
restauro utilizadas em obra, que permitem a manutenção do máximo possível de
substância e autenticidade históricas.
3
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
2. TECTOS EM MADEIRA – EVOLUÇÃO HISTÓRICA
2.1 Introdução
A madeira é um dos mais antigos materiais de construção, utilizado há já milhares de
anos. Com a evolução dos sistemas construtivos das coberturas dos edifícios, cedo se
começaram a fazer tectos, tendo provavelmente os mais antigos sido, os de vigas à vista
(Fig. 1).
Fig. 1 – Tecto de vigas à vista, Torre da Ucanha (tecto refeito pela DGEMN, fotografia do autor)
Infelizmente, em virtude de a madeira ser um material perecível, não nos chegaram
quaisquer exemplares destes antigos tectos.
Já nos tratados Romanos de arquitectura e construção, eram mencionados tectos em
madeiras preciosas e ricamente decorados, sendo o do pórtico do Panteão em Roma
decorado com embutidos de madeiras coloridas, de marfim, de madrepérola e utilizando
também lâminas de bronze2.
2
Enciclopédia de Diedrot & Alembert, citando Vitruvio, Vol 12, pág.677, op.cit.
4
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Após o período romano, muito pouco se sabe acerca destas estruturas, uma vez que aos
nossos dias, só chegaram exemplares construídos a partir do Séc. XIII/XIV. De acordo
com Viollet-le-Duc, no seu Dictionnaire raisonné de l’architecture française du XIe au
XVIe siècle, no período medieval, os tectos como os conhecemos hoje não existiam.
Confundiam-se com a própria estrutura de cobertura ou dos pavimentos, tendo todo o
vigamento à vista.
Eram assim constituídos por vigas mestras, sobre as quais se assentavam vigas
secundárias perpendiculares e sobre esse vigamento era aplicado o soalho do piso
superior (Fig. 2). Este tipo construtivo, é muito semelhante ao que na Península Ibérica
foi utilizado na carpintaria mudéjar com a denominação de alfarge.
Fig. 2 – Tecto de viga à vista medieval (desenho de Viollet-le-Duc)
Posteriormente, esta solução evoluiu para outra mais elaborada, em que o vigamento é
constituído por vigas mestras, mas deixando de existir o segundo nível de vigas, que é
substituído por vigas pequenas que encaixam nas principais através da abertura de
5
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
caixas nas vigas mestras por meio de respigas (Fig. 3). Estas pequenas vigas,
denominam-se tarugos ou chincareis, e destinam-se a manter a estabilidade dimensional
do conjunto, evitando movimentos horizontais e empenos.
Fig. 3 – Tecto de viga à vista do Séc.XIV (desenho de Viollet-le-Duc)
Com o surgimento do movimento renascentista e o gosto pela arquitectura clássica, foi
adaptada a estrutura anterior à construção de tectos de caixotões, artesoados ou
artesonados. A grande diferença para o anterior, é a de que o espaço entre as vigas,
passou a ser preenchido com painéis decorativos (Fig. 4).
6
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Fig. 4 – Tecto de caixotões do Séc. XV (desenho de Viollet-le-Duc)
Passaram a ser utilizadas as formas curvas, arcos e abóbadas, também artesoadas, como
é visível na ilustração seguinte (Fig. 5), extraída do tratado de Le Muet, Maniere de bien
bastir pour tutes sortes de personnes, editado em Paris em 1547
Fig. 5 – Cúpula de caixotões (Le Muet, 1547)
7
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Este tipo de estrutura perdurou até ao Século XIX, tendo sofrido alterações ao nível
decorativo, em que com o surgimento do barroco, os caixotões vão sendo
progressivamente abandonados, dando lugar a decorações de perspectiva arquitectónica
e, posteriormente, aos tectos estucados. Surgiram também os tectos sanqueados, que
serão abordados em pormenor nos capítulos seguintes.
A Península Ibérica, surge como um caso especial dentro do panorama europeu. Se por
um lado, absorveu todas estas influências, por outro a ocupação árabe, de vários
séculos, deixou marcas profundas no modo de construir e na decoração.
Os tectos de viga à vista, medievais, derivaram para os alfarges mudéjares, construídos
com madeira perfeitamente esquadrilhada3 e de menor secção. Destes tectos, numerosos
apresentam decoração gótica ou renascentista, pelo que são em Espanha classificados
como gótico-mudejares ou no segundo caso como mudéjares renascentistas.
Também as armações de cobertura sofreram alterações construtivas tão profundas, que
podem ser consideradas como completamente independentes das restantes correntes
europeias.
Este tipo de estruturas ibéricas, atingiu o seu apogeu a nível decorativo após a
reconquista, em que a carpintaria ibérica, incorporou a decoração geométrica
tipicamente árabe, produzindo autênticas obras-primas.
Este tipo construtivo, influenciou de forma decisiva o gosto em termos de forma dos
tectos, tendo sido o precursor dos tão típicos tectos de masseira e dos tectos de três
panos que forram asnas de nível e que se constroem até hoje
2.2 O caso de Portugal
Em Portugal, é de supor que durante o período em que vigoraram os estilos
arquitectónicos românico e gótico, em que a maioria dos edifícios tinha coberturas de
madeira, se utilizassem estruturas de cobertura, que pelas características dos edifícios,
seriam sobretudo a duas águas. As mais antigas estruturas que chegaram aos nossos
dias, são exemplares datáveis do início do Século XV, durante o reinado de D. João I.
3
Esquadrilhada – cortada à esquadria.
8
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Estes, encontram-se já imbuídos de características da carpintaria mudéjar, seguindo as
técnicas empregues à data na península Ibérica, e denotando uma construção bastante
sofisticada.
É possível, por analogia com os exemplares existentes em Espanha, que os primeiros
fossem constituídos apenas por uma fileira com as pernas entre esta e os paramentos
laterais do edifício assentes em frechais, o que se designa na carpintaria mudéjar como
armações de perna e fileira (par hilera); ou por uma questão de economia de madeira,
coberturas sobre arcos-diafragma (Fig. 6), sendo estes uma variação dos alfarges, isto é,
dois tectos planos, assentes sobre planos inclinados. Será também possível que fossem
utilizadas estruturas de cobertura de tesoura. Qualquer destes tipos constituía tectos de
viga à vista, uma vez que eram forrados pelo extradorso.
Fig. 6 – Cobertura sobre arcos diafragma, refeita em 2005, Igreja de Santa Maria do Castelo – Pinhel
(fotografia Tacula)
Posteriormente, estas armações vieram a sofrer uma evolução, com a introdução de uma
peça a dois terços da altura da asna, o nudilho ou nível, que travava as pernas, reduzindo
a transmissão de impulsos horizontais às paredes de apoio (Fig. 7). Em simultâneo,
desenvolveu-se um sistema de assentamento da cobertura, denominado estribado, de
estribo, frechal em espanhol, em que passam a existir tirantes que travam os frechais e
que vão reduzir a zero os impulsos horizontais transmitidos às paredes. Esta importante
característica da carpintaria mudéjar, fez com que as linhas, até então parte integrante
das asnas, deixassem de existir.
9
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Nudillhos
ou níveis
Fileira
Pernas ou
Pares
Fig. 7 – Estrutura de par y nudillo, capela-mor da Igreja de São Vicente de Castelo Mendo (fotografia
DGEMN, adaptada pelo autor)
Em 1967, foi descoberto o mais antigo estribado4 (Fig. 8), até agora conhecido em
Portugal, que se encontrava oculto por um tecto de estuque do século XIX (Fig. 9 e Fig.
10). Este achado, deu-se na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira em Guimarães, sendo a
sua decoração datável de acordo com o relatório do Instituto José de Figueiredo,
publicado do boletim da DGEMN de 1981, como pertencendo á campanha de obras
feita por D. João I (1402/1420).
Tirante
Estribo ou frechal
Tirantes duplos
Cachorros
Fig. 8 – Estribado da Igreja de N. Sra. da Oliveira, Guimarães (fotografia DGEMN, adaptada pelo autor)
4
O estribado, é a estrutura de apoio sobre a qual assenta a armação de cobertura, o seu nome deriva da
palavra estribo, frechal em espanhol.
10
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Fig. 9 – Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, tecto
de estuque (fotografia DGEMN)
Fig. 10 – Estrutura subjacente (fotografia
DGEMN)
Todo o estribado, que se encontrava integralmente pintado (Fig. 11 e Fig. 12) a
têmpera5, no que constitui o exemplo mais antigo desta técnica aplicado à decoração de
tectos6, apresenta decorativamente características góticas, sendo no entanto, a nível
construtivo, um excelente exemplo de carpintaria mudéjar.
Fig. 11 – Aspecto da decoração dos tirantes e
cachorros, da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira,
Guimarães (fotografia DGEMN)
Fig. 12 – Decoração dos aliceres7, da Igreja de
Nossa Senhora da Oliveira, Guimarães (fotografia
DGEMN)
Refere Alexandre Herculano, na revista Panorama, em 1893, o seguinte: «A Igreja da
Colegiada de Guimarães, alevantada por D. João I, era um dos mais belos monumentos
da arquitectura gótica. O seu tecto de grossas vigas, lavradas primorosamente,
5
Pintura a têmpera, é uma técnica decorativa em que os pigmentos são aglutinados com um ligante
orgânico, normalmente ovo ou cola animal.
6
In Boletim da DGEMN de 1981
7
Aliceres, são as tábuas aplicadas na parede entre os cachorros e os tirantes, que escondem a estrutura
subjacente. No caso de não existirem tirantes e cachorros, deixam de ter este nome, sendo utilizado um
friso contínuo, o arrocabe.
11
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
constituía, com a Sé do Funchal, todas as riquezas por nós conhecidas e que Portugal
possuía, deste género de tectos»8.
Alexandre Herculano, afirma assim haver semelhanças entre o tecto desta igreja e o da
Sé do Funchal, o que parece indiciar, estarmos na presença dos restos do mais antigo
tecto mudéjar português conhecido, talvez anterior aos do palácio da Vila, em Sintra.
Podendo assim ser considerado como um exemplar gótico-mudéjar.
Em Portugal, os tectos mais antigos, conservando as características construtivas
originais, e que subsistem até aos nossos dias, são os da Sala das Pêgas, da Sala dos
Cisnes e os mudéjares da Capela, no Palácio da Vila de Sintra, os dois primeiros, tectos
de masseira9 a quatro águas, atribuídos como a estrutura anteriormente referida, ao
período de D. João I, na primeira metade do Séc. XV, e os da capela de datação incerta,
mas que poderão ser deste período, havendo referência ao seu restauro em 150810. A
existência destes exemplares em época tão recuada, demonstra já nesta época um grande
desenvolvimento das técnicas da carpintaria mudéjar e inclusivamente já algumas
alterações. Os dois primeiros podem ser considerados variações de madeiramentos de
par y nudillo, isto é, constituídos por asnas em que a dois terços da altura é aplicado um
nível, com rincões, evolução dos anteriores a duas águas, forrados pelo intradorso, o que
os torna já tectos de masseira apainelados. Quanto aos tectos da capela, são tectos a sete
panos (Fig. 13), formando uma falsa abóbada de berço, variação já bastante sofisticada
das armaduras de par y nudilho.
Fig. 13
– Tecto da Capela-mor do Palácio da Vila, Sintra (fotografia DGEMN)
8
In Boletim da DGEMN de 1981
Tecto de masseira, é aquele em que existe um plano horizontal central, rodeado por quatro ou oito
planos oblíquos. Aparentemente o nome deriva das masseiras, recipientes em que se amassava o pão, daí
também serem referidos por vezes como tectos de gamela.
10
Livro Truncado da Receita e Despeza de André de Gonçalves, transcrito em “O Paço de Sintra” op.cit.
9
12
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Deste século, mas já posteriores, existem dois tectos planos e um fragmento de outro,
que fazem parte do espólio do Museu Machado de Castro, ambos Mudéjares datados de
1473, os dois provenientes do sub-coro da Sé Velha de Coimbra e o fragmento do
próprio museu, antigo paço episcopal. Estes são exemplares de alfarges cobertos com
painéis revestidos de laço (Fig. 14), Taujeles, escondendo a estrutura de sustentação
subjacente.
Fig. 14 – Taugel da Sé Velha de Coimbra (1477)11, actualmente no Museu Machado de Castro (fotografia
Tacula)
Surgem no final do Século XV, inicio do XVI outros tectos mudéjares de que restam
alguns exemplares, sobretudo no distritos da Guarda e Castelo Branco, como por
exemplo os de Escarigo (Fig. 15), Sortelha, Vilar Formoso, Castelo Mendo, etc. que
deverão ter surgido por influência espanhola, dada a sua relativa proximidade com a
fronteira.
Fig. 15 – Tecto mudéjar da Igreja de Escarigo (fotografia DGEMN)
11
http://museumwnf.com/database_item.php?id=object;ISL;pt;Mus01_C;43;pt
13
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
No entanto, verifica-se a existência de uma tão grande diversidade de estruturas de
cobertura mudéjar, par y nudilho a duas águas, par y nudilho a quatro águas sobre planta
rectangular e quadrada, rincão singelo (limabordon), rincão duplo (limas moamares)12,
com laço13, com policromia, etc. que é extremamente provável que esta técnica
construtiva tenha sido vulgar e que tenham existido outras, dos quais estão
documentadas nesta região, por exemplo as de Almofala e Castelo Bom.
Para além destes existem seguramente outros, como por exemplo o da capela-mor da
Igreja de Santa Leocádia em Chaves, posto a descoberto durante os trabalhos de
restauro de 1998 (Fig. 16), que se encontra coberto por outro, datado de 1799. A
estrutura mudéjar, embora tenha sido alterada para sustentar o novo tecto através da
alteração dos níveis (nudilhos) mantém todos os encaixes das pernas, sendo ainda
visível, alguma decoração graminhada14 (Fig. 17). Em 2004, durante a intervenção de
conservação e restauro do coro desta igreja, foi encontrada a primitiva estrutura, em que
as pontas de algumas vigas tinham cachorros mudéjares entalhados (Fig. 18 e Fig. 19).
Fig. 16 – Estrutura da igreja de Santa Leocádia,
Chaves (fotografia Tacula)
Fig. 17 – Pormenor de garganta e decoração
graminhada, igreja de Santa Leocádia, Chaves
(fotografia Tacula)
12
O rincão singelo, ou limabordom, ainda hoje utilizado, é a viga obliqua que liga a fileira aos cantos das
divisões, permitindo a construção de telhados a quatro águas. Na carpintaria mudéjar, grande parte do
trabalho era feito em oficina, isto levou a que as águas da estrutura de cobertura fossem feitas
separadamente. Na montagem surgiu assim uma duplicação de rincões, os rincões duplos ou limas
moamares.
13
O laço, laçaria ou decoração de laço, é um dos elementos característicos da decoração mudéjar. É
constituído por figuras geométricas que formam um padrão de estrelas ou rodas.
14
Decoração graminhada ou gramillada, consiste no entalhe de linhas paralelas no sentido longitudinal
das vigas. O nome deriva da ferramenta com que era feita, o graminho ou gramillo, uma ferramenta de
marcar, ainda hoje utilizada em marcenaria.
14
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Fig. 18 – Cachorro mudéjar da Igreja de Santa
Leocádia (fotografia Tacula)
Fig. 19 – Outro pormenor da viga durante o
restauro (fotografia Tacula)
Nesta região, distrito de Vila Real, existe também documentado o da Igreja de Nossa
Senhora de Guadalupe em Mouçós, que ruiu.15 Existem também fotografias antigas16 da
Igreja de Nossa Senhora da Azinheira em Outeiro Seco, que aparentam também ser de
uma estrutura mudéjar. Estas evidências denotam a existência de uma outra zona em
que este tipo de cobertura foi aplicado em igrejas românicas.
Fig. 20 – Tecto da Sé do Funchal (fotografia DGEMN)
15
16
Informação de www.monumentos.pt
Idem
15
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Com o período Manuelino, assistiu-se em Portugal, a um incremento do gosto pelo
exótico, nomeadamente pela arquitectura mudéjar, com várias aplicações, ao nível
arquitectónico, na azulejaria e também ao nível dos tectos, datando desse período os
tectos da Matriz de Caminha, da Sé do Funchal (Fig. 20), da antiga Alfandega do
Funchal, actual parlamento, etc. Ocorreu nesta altura um grande desenvolvimento das
técnicas decorativas, nomeadamente na elaboração da pintura e da decoração de laço.
Começam a ser também utilizados os tirantes em ferro, que substituem a construção dos
estribados com tirantes de madeira.
Data desta época, a primeira utilização documentada da técnica de pintura a óleo17, para
decorar a estrutura primitiva do coro da Igreja do Salvador em Coimbra, um alfarge18,
de acordo com análises efectuadas pelo Departamento de Conservación y Restauración
da Universidad Politécnica de Valência19. Esta estrutura, construtivamente um alfarge
de duas ordens de vigas, foi descoberta em 1999.
Em 1435 é publicado o tratado de pintura de Leon Baptista Alberti e em 1452 o seu
tratado de arquitectura, que se tornaram populares no espaço europeu. Em 1488 (Serrão.
V 2002) o Bispo D. Jorge da Costa trouxe para Portugal o primeiro exemplar de
Vitruvio e, posteriormente em 1552 é publicado o tratado de Sebastiano Serlio20. Com
estas publicações, começa a surgir em Portugal o conhecimento da arquitectura clássica,
o que também terá influenciado a construção de tectos, em virtude da divulgação dos
desenhos de Sérlio dos tectos de caixotões ou artesões à italiana (Fig. 21).
O renascimento, irá dar início à utilização de tectos de caixotões, tipo que perdurará
durante vários séculos, e em vários formatos (planos, abóbadas, etc.).
A construção do tecto plano da nave da Igreja de São Roque (Fig. 22), terminado em
1584, constituiu uma inovação a nível construtivo, devido a ser feita com a utilização de
peças de madeira pequenas, interligadas, em vez dos travejamento unitário com grandes
17
Pintura a óleo, é uma técnica decorativa em que os pigmentos são aglutinados com um óleo, sendo o
mais frequentemente utilizado, o óleo de linhaça, extraído das sementes do linho.
18
No âmbito deste trabalho, foram analisados três alfarges (eventualmente Manuelinos) dos coros das
seguintes igrejas: Igreja da Ermida em Castro de Aire, Igreja do Salvador em Coimbra e Igreja de Santa
Leocádia em Chaves. Os dois últimos, estruturas primitivas, actualmente parcialmente ocultas.
19
O resultado das análises foi consultado no caderno de encargos do concurso lançado pela DREMC.
20
A grande maioria destes tratados de construção, encontra-se hoje facilmente disponível aos
investigadores, conforme bibliografia anexa.
16
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
vigas que se usava anteriormente21. Infelizmente em virtude das campanhas de restauro
efectuadas, já não é possível actualmente saber como foi feita.
Fig. 21 – Tecto de caixotões ou artesões (Sérlio, S. 1552)
Fig. 22 – Tecto da Igreja de São Roque (fotografia DGEMN)
21
Em O tecto da Igreja de São Roque - História, Conservação e Restauro, op.Cit.
17
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Durante os Séculos XVII e XVIII, a nível decorativo, dá-se uma explosão da decoração
com brutescos (Fig. 23 e Fig. 24), em virtude do baixo custo da mão-de-obra pouco
qualificada, que eram os brutescadores que pintavam a têmpera. A pintura a óleo, era
sobretudo utilizada para pintura figurativa que tirou grande partido dos espaços
delimitados pelos tectos de caixotões.
Fig. 23 – Painel com brutescos, Igreja de São João das Lampas (fotografia Tacula)
Fig. 24 – Painel com brutescos, Igreja de São Miguel de Alfama (fotografia Tacula)
18
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Com o advento do período barroco assiste-se a incremento da utilização da talha com
grande difusão, surgindo igrejas completamente decoradas com esta técnica, os tectos
foram uma manifestação desta tendência, apresentando molduras e motivos decorativos
de grande dimensão e exuberância (Fig. 25).
Fig. 25 – Capela-mor da Igreja do Senhor das Barrocas, Aveiro (fotografia Tacula)
Entre 1702 e 1718, Vincenzo Bacchereli, permaneceu em Portugal, tendo dado inicio à
pintura de perspectiva arquitectónica de tectos (Fig. 26), que veio finalmente acabar
com a hegemonia da pintura de brutescos em caixotões, que durava já desde seiscentos.
Este novo estilo, necessitava de grandes superfícies, que eram obtidas principalmente
com a construção de abóbadas de berço22 ou arco abatido23, ou então por tectos
sanqueados24.
22
Abóbada de berço, é a abobada gerada por uma semicircunferência.
19
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Fig. 26 – Pormenor do tecto da Igreja de Nossa Senhora da Esperança, Sátão (fotografia Tacula)
É durante o século dezoito, que o marquês de Pombal institui a aula do risco e do
estuque, dirigida pelo milanês Giovanni Grossi. Isto vai, em pleno período barroco, dar
origem a uma explosão na produção de tectos de estuque. No entanto, esta nova técnica
vai aproveitar os sistemas construtivos existentes, alterando apenas o tipo de forro.
Nesta época, já todos os sistemas construtivos que perduraram até ao início do século
XX, estavam definidos. Excepção apenas, para tectos do Palácio Nacional de Queluz,
nomeadamente da sala do trono e de musica, que aparentam ter importado técnicas
francesas, análogas às utilizadas em Versailles, que representam variações construtivas
dos tectos sanqueados, e que tiveram muito pouca difusão entre nós.
2.3 Os Tratados de Carpintaria
Até ao Século XVI, a tradição construtiva, era passada oralmente, não tendo chegado
até nós qualquer tratado específico sobre este tema. Só em 1561, surge o primeiro
23
Abóbadas de arco abatido surgem em dois tipos fundamentais, as de falso arco abatido, quando são
geradas por um arco inferior a 180º e as verdadeiras quando são geradas com um arco abatido,
normalmente de três centros.
24
Tecto sanqueado, é o tecto com uma esteira central plana e em que a ligação desta é feita para as
paredes através de superfícies curvas, as sancas.
20
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
livro25 sobre este tema da autoria de Philibert Delorme, Nouvelles inventions pour bien
bastir et à petits fraiz, que na realidade não era uma compilação dos conhecimentos de
carpintaria da época, mas sim a explicação de como construir madeiramentos de
cobertura e abóbadas através da união de pequenos elementos de madeira interligados
(Fig. 27).
Fig. 27 – Abóbada de arestas (desenho de Philibert Delorme, 1561)
A partir de 1613, Diego Lopes de Arenas, mestre carpinteiro em Sevilha começa a
compilar as regras do seu oficio, que em 1619, já tinham capa e introdução, sendo
chamadas, Primera y segunda parte de las reglas de carpinteria, que tomam forma de
livro e são publicadas em Sevilha em 1633, denominando-se o seu compendio, Breve
Compendio de la Carpintería de lo Blanco y Tratado de Alarifes,con la conclusión de la
regla de Nicolas Tartaglia, y otras cosas tocantes a la iometría y puntas del compás.
Neste compêndio, Lopes de Arenas, sistematiza e explica a construção das armações
mudéjares, assim como a elaboração da decoração de laço.
25
Diaz, 2001
21
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Na primeira metade do Século XVII, Fray Andrés de San Miguel, monge Carmelita,
escreve no México um tratado de arquitectura em que dedica um capítulo à construção
de armações mudéjares. Não sendo carpinteiro, este tratado parece demonstrar que
poderiam existir manuscritos anteriores sobre o tema, hoje perdidos.
Em 1699, Rodrigo Alvarez, escreve um tratado em Salamanca, Breve compendio de la
carpinteria y tra(ta)do de lo Blanco, con Algunas cosas tocantes a la Iometría y Puntas
del compas, em que copia grande parte do manuscrito de Lopes de Arenas,
acrescentando no entanto as instruções de como fazer o estribado, isto é, a estrutura em
que assentam as armações e a construção de armações de cinco panos.
Mathurin Jousse, edita em 1702 o seu tratado L´Art de Charpenterie de Mathurin
Jousse, que se pode considerar o primeiro, dedicado à construção em madeira, de raiz
europeia.
Em 1747, Juan GarciaBerruguilla, no seu tratado Verdadera Practica de la
geometria…, dedica todo o seu quinto capítulo à construção de armações.
Inicia-se em 1802 a publicação do tratado de Jean Rondelet, – Traité Theorique et
Pratique de L´Art de Bâtir. Esta obra em sete volumes, constitui uma monumental
compilação sobre a arte de construir, nesta época, abarcando todas as suas vertentes.
Rondelt dedica um volume às técnicas de construção em madeira, compilando os
métodos descritos por autores anteriores, nomeadamente franceses incluindo Delorme e
Jousse.
Também no Século XIX, surge o compêndio Carpinteria Antigua y Moderna – Tratado
General Teórico-Prático para uso de Carpinteros, Ingenieros, Arquitectos, Maestros de
Obras, Dibujantes, Pintores, Constructores, Alumnos de Escuelas y Academias
Especiales, etc, etc. Redactado en vista de las obras de Adhemar, Diego Lopez de
Arenas, Cabanié, Douliot, Emy, Fourneaux, Frezier, Hassenfratz, Krafft, Merly, Riddel
y otros, comprendiendo los trabajos y conocimientos más modernos sobre el arte, de D.
Federico de Árias y Scala, editado em Barcelona. Este tratado, composto de dois
volumes de texto (1893 e 1895) e dois de atlas de ilustrações (1895), totalizando um
total de 1294 páginas, é provavelmente o mais importante e completo estudo editado na
22
2. Tectos em Madeira – Evolução Histórica
Península Ibérica. Abrangendo a carpintaria desde a idade média até ao final do século
XIX, estuda-a também nas suas três vertentes, a carpintaria de armar ou carpinteria de
lo blanco, usada na construção de edifícios, a carpintaria de oficina, como por exemplo
a construção de escadas e portas e a ebanisteria, usada para a decoração.
Em Espanha, assiste-se durante o Século XX a um aumento do interesse sobre a
carpintaria de inspiração árabe, tendo, em 1904, Prieto Vives escrito um estudo
denominado, l arte de la lacer a, que abordava o tema do traçado geométrico e do laço
na carpintaria mudéjar. Outros autores se dedicaram a este tema.
Em 1975, realiza-se em Teruel o 1ª Simpósio Internacional de Mudejarismo, que teve
posteriormente outras edições, em que foram apresentadas bastantes comunicações com
estudos sobre esta área.
Não pode deixar de ser referido o trabalho de Enrique Nuere Matauco, que escreve em
1989 o tratado La carpinter a de armar espa ola, que tem vindo a ser actualizado,
sendo a ultima edição de Janeiro de 2008, em que efectua um levantamento exaustivo
da carpintaria de armar espanhola, especialmente a construção de estruturas de
cobertura e tectos. Destacam-se também deste autor dois livros em que são explicados
os tratados de Lopez de Arenas e de Fray Andrés de San Miguel, denominados a
carpinter a de lo lanco, lectura di ujada del primer manuscrito de Diego
pe de
Arenas de 1985, actualizado em 2001 com o nome de Nuevo Tratado de la Carpinteria
de lo Blanco e a carpinter a de la o, lectura di ujada del manuscrito de ra
de San Miguel de 1990. De referir ainda o livro
ndrés
os carta ones como instrumento
e clusivo para el tra ado de lacer as la reali aci n de sistemas decorativos geométricos
hispano-musulmanes de 1982.
Em Portugal, no âmbito deste tema quase nada foi encontrado, exceptuando-se os livros
Trabalhos de Carpintaria Civil de João Emílio dos Santos Segurado e da Enciclopédia
Prática da Construção Civil de F. Pereira da Costa. Ambos abordam a construção de
tectos, e no caso de Pereira da Costa um dos fascículos é dedicado a este tema. No
entanto neste fascículo, só são estudados os tipos ainda utilizados no século XX.
23
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3. ESTRUTURAS DE COBERTURA E TECTOS EM MADEIRA - SISTEMAS
CONSTRUTIVOS
3.1 Introdução
No âmbito deste trabalho, importa começar por conseguir sistematizar a classificação
dos tectos existentes quanto aos seus sistemas estruturais e construtivos. Normalmente,
apenas se classificam os tectos através da forma, surgindo as seguintes denominações:
Tectos planos, os que apenas se desenvolvem num plano horizontal;
Tectos de masseira, os que apresentam uma zona plana central e panos
inclinados a fazerem a ligação às paredes;
Tectos sanqueados, com a zona central plana e curvas a fazerem a ligação para
as paredes;
Tectos em abóbada ou abobadados, os que são gerados por uma curva;
Quanto à estrutura, surge a diferenciação entre tectos de esteira, aqueles em que se
constrói um vigamento próprio para os sustentar e tectos sob sobrados, os que partilham
a estrutura com a do piso superior.
É também dada uma classificação, levando em conta o tipo de construção do forro,
surgindo assim os tectos apainelados, encabeirados, de caixotões, etc.
Afiguram-se, no âmbito deste trabalho, estas classificações como demasiado vagas e por
vezes contraditórias entre si, quando o que se pretende é fazer a integração do sistema
construtivo e obter uma sistematização compreensível do mesmo. Assim, tenta-se neste
capítulo, sistematizar uma classificação, com a correspondente descrição de cada tipo de
estrutura, e no capítulo seguinte será efectuada a sua classificação através da forma e
tipo de forro. Pelo que, como primeira tentativa de sistematização, se propõe a seguinte
classificação tendo em conta o tipo construtivo da estrutura:
a) Estruturas de Cobertura e Tectos Mudéjares;
b) Outros tipos de tectos, nomeadamente:
24
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Tectos com estrutura resistente: aqueles que partilham a estrutura
com a armação da cobertura ou são construídos sob sobrados, usando
a sua estrutura;
Tectos com estrutura própria, semelhante a uma estrutura de
cobertura, mas apenas com função de suporte do tecto;
Abóbadas e cúpulas;
Tectos de esteira, que são os que têm uma estrutura de vigas
própria;
Em virtude da sua especificidade, serão abordados em primeiro lugar as estruturas de
cobertura e os tectos mudéjares, e só depois os restantes.
Em Novembro de 1981, na Mesa Redonda sobre restauro de estruturas de cobertura
mudéjares, que decorreu no âmbito do II Simpósio Internacional de Mudéjarismo, em
Teruel, a historiadora Martínez Caviró, usando os critérios da história de arte, e o
arquitecto Enrique Nuere Matauco, usando critérios estruturais, propuseram para
Espanha a seguinte classificação26:
I. Estruturas Resistentes
I.1 Alfarges
I.2 Coberturas a duas águas
I.2.1 Sobre Arcos Diafragma
I.2.2 Par hillera
I.2.3 Par y nudillho
I.3 Coberturas a quatro águas
I.3.1 Lima bordón (rincão singelo)
I.3.2 Limas moamares (rincão duplo)
* Com relação à sua planta: Rectas ou Rectangulares
Quadradas
* Com relação ao numero de panos interiores:
Normal ou de três panos
26
TODA, 2004, (61-62), Tese de doutoramento citada
25
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Cinco panos
Oitavadas
I.4 Coberturas de planta poligonal
I.4.1 Lima bordón (rincão singelo)
I.4.2 Limas moamares (rincão duplo)
* Com relação à sua planta: hexagonais ou oitavadas
II Estruturas não resistentes
* Com relação à sua planta: Rectangulares
Quadradas
Poligonais (oitavadas, etc.)
Circulares
* Com relação ao numero de panos interiores:
Normal ou de três panos
Cinco panos
Sete panos
De mocárabes27
III Derivações Renascentistas
No caso português, não foram encontradas todas estas tipologias, pelo que a
classificação tem naturalmente que ser adaptada. Acresce, que o tipo de levantamento
efectuado, sobretudo baseado em fotografias, não permite estabelecer para muitos dos
exemplares, se estes mantêm funções resistentes, se foram alterados ou se na sua
concepção já não teriam este fim.
Do descrito no parágrafo anterior, para as estruturas de cobertura mudéjares, serão
incluídas todas as que pertençam a este tipo, independentemente de estarem a cumprir
essa função ou não.
Adaptando e simplificando a classificação de Nuere e Caviró, às tipologias encontradas
em Portugal, retirando os tipos não encontrados no nosso território (durante este
estudo), poderemos fazer a seguinte classificação, tendo em conta a evolução de
complexidade dos sistemas construtivos:
27
Os mocárabes são peças decorativas, feitas com pequenas peças de madeira coladas entre si ou então de
gesso, que formam elementos decorativos.
26
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Alfarges
(tectos planos horizontais de uma e duas ordens de vigas)
Armações sobre arcos diafragma (duas águas)
Armações de perna e fileira (duas águas)
Armações de asna de nível (duas águas)
Armações de asna de nível a quatro águas
Armações de Asna de nível de rincão singelo
Armações de Asna de nível de rincão duplo
(quadradas, rectangulares e oitavadas)
(quadradas, rectangulares e oitavadas)
Tectos de cinco e sete panos (estas estruturas não
desempenham função resistente)
Fig. 28 – Proposta de classificação das coberturas e tectos mudéjares em Portugal, tendo em conta a sua
evolução em termos de complexidade
As restantes estruturas, das quais os dois primeiros grupos se podem considerar como
uma evolução das armações e tectos mudéjares e o terceiro e quarto como de influência
europeia, serão classificadas da seguinte forma:
Estruturas de cobertura a duas águas com tectos adossados:
o Asna de nível simples;
o Asna de nível com redução de pé direito;
o Asna de nível com cinco panos;
o Asna de nível com sete panos;
Estruturas semelhantes às de cobertura sem função resistente:
27
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
o Estruturas para tectos de masseira quadrangulares;
o Estruturas para tectos de masseira oitavados;
Abóbadas e Cúpulas:
o
Abóbada de berço;
o
Abóbada de arco abatido,
o
Abóbada de falso arco abatido;
o
Cúpulas;
Estruturas de esteira (possuem um vigamento horizontal de sustentação):
o
Esteira Simples;
o
Esteira Encabeirada;
o
Esteira de Masseira;
o
Esteira Sanqueada;
o
Esteira Sanqueada circular
o
Esteiras Mistas.
3.2 - Estruturas de cobertura e de tectos Mudéjares
Estas estruturas de cobertura e de tectos, merecem um subcapítulo especial, em virtude
da sua especificidade, técnica e temporal, tendo na sua maioria, pelo menos os que
subsistem até hoje, sido executados entre os Séculos XV e XVI. Existem ainda
exemplares mais tardios, como o da Igreja de S. Bento em Bragança, já do Século XVII,
e mesmo XVIII, embora só nas ilhas (Madeira e Açores).
Na realidade, na sua grande maioria trata-se de madeiramentos de cobertura decorados,
armações com função resistente, e não apenas tectos no sentido estrito. Verifica-se no
entanto que ao longo dos tempos foram sendo desvirtuados da sua função inicial, tendo
sido mutilados e transformados (Fig. 29), construindo-se uma nova estrutura de
cobertura, passando assim a terem apenas função decorativa.
28
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Pernas mudéjares serradas
Fig. 29 – Igreja de Dois Portos, pormenor da estrutura, em que são visíveis as pernas da estrutura
primitiva, serradas (fotografia DGEMN)
Em Portugal, costumam ser referidos indiferentemente como tectos mudéjares ou de
alfarge, seguindo a nomenclatura dada por exemplo, por Eduardo Mariátegui, que
define alfarge como:
ALFARJE. Techumbre hecha de maderas labradas y colocadas en obra formando
labores y lazos siguiendo el estilo de la arquitectura árabe ó Cristiano-Ulahometana.
Cuando como generalmente sucede acusa en el interior de las estancias la forma de la
armadura que las cubre, toma congran propiedad el nombre de ARTESONADO que se
aplica tambien á los techos de madera adornados con casetones ó artesones á la
italiana aunque sean planos. || Cada una delas piezas que le forman. Del árabe al-farx,
tapiz;' alfombra,todo lo que se extiende para cubrir ú ornar algo.-« y lo mismo
al'acuesto de las tabicas de los suelos y alfarxes.» (L. Arenas. Carpint., cap. 16.)
ALFARJE. Armação feita de madeiras trabalhadas e colocadas em obra formando
trabalhos e laços seguindo o estilo da arquitectura árabe ou Cristiano-Maometana.
Quando como geralmente sucede mostra no interior das salas a forma da armação que
as cobre, toma com grande propriedade o nome de ARTESOADO que se aplica também
aos tectos de madeira adornados com caixotões ou artesões à italiana mesmo que
sejam planos. || Cada uma das peças que o formam. Do árabe al-farx, tapeçaria,
carpete, tudo o que se estende para cobrir ou ornar algo. « y lo mismo al'acuesto de las
tabicas de los suelos y alfarxes.» (L. Arenas. Carpint., cap. 16.).
29
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
No entanto, mais recentemente, passou a adoptar-se o termo alfarge para definir apenas
aqueles que sejam planos e dando aos outros as denominações estabelecidas nos
tratados antigos, nomeadamente no de Diego Lopes de Arenas em 1633.
3.2.1 Alfarges
Os alfarges são tectos planos de viga à vista, ou mais exactamente chama-se alfarge ao
vigamento do tecto, sem decoração de laço28, podendo ser de uma ordem de vigas ou de
duas ordens de vigas. Quando são recobertos com painéis com decoração de laço,
denominam-se Taujeles. São tectos bastante simples a nível construtivo e que foram
sobretudo usados para a construção de coros de igreja e coberturas horizontais para
sustentação de pavimentos.
Alfarges de uma ordem de vigas
São considerados de uma ordem de vigas quando são apenas constituídos por um
conjunto de vigas mestras, as jacenas, sobre as quais são pregadas as tábuas de sobrado
do pavimento superior (Fig. 30 e Fig. 31). As vigas mestras, podem assentar sobre
cachorros, ser encastradas na parede ou assentar sobre frechais que se encontram
embutidos na parede.
Fig. 31 – Tecto da Loggia do Museu Machado de
Castro, que não sendo Mudéjar segue a técnica
construtiva de um alfarge (fotografia Tacula)
Fig. 30 – Alfarge de uma ordem de vigas
(adaptado de El mudéjar en Granada, op.cit.)
28
TODA 1994 (pág.168)
30
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Alfarges de duas ordens de vigas
Quando sobre essas vigas mestras são aplicadas outras perpendiculares, as jaldetas, a
que o pavimento é em seguida fixo, recebem o nome de alfarges de duas ordens de
vigas (Fig. 32 e Fig. 33).
Fig. 32 – Alfarge de duas ordens de
vigas (adaptado de El mudéjar en
Granada, op.cit.)
Fig. 33 – Exemplo da estrutura de um alfarge com duas
ordens de vigas, Mosteiro de Santa Clara, Funchal,
(fotografia DGEMN)
Em Portugal, poucos são os tectos deste tipo que ainda sejam originais e datáveis deste
período. No entanto podem ser apontados, pelo menos, três exemplares Manuelinos, os
sub-coros da Igreja do Salvador em Coimbra, da Igreja Matriz da Ermida (Fig. 34 e Fig.
35), em Castro de Aire e o de Santa Leocádia, já referido.
Fig. 34 – Pormenor do alfarge da Igreja
Matriz da Ermida, Castro de Aire
(fotografia DGEMN)
Fig. 35 – Outro pormenor do mesmo alfarge (fotografia
DGEMN)
31
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Taujeles ( alfarges ataujerados)
O nome taujel deriva provavelmente da palavra Taugih, acto de apoiar. Neste tipo de
tecto, as vigas são forradas por painéis de madeira com a aplicação de decoração de
laço. Restam ainda três exemplares, bem conservados. No entanto, só o do Convento do
Varatojo, em Torres Vedras (Fig. 36) e o da Igreja da Madre de Deus em Lisboa29 (Fig.
37), este já bastante intervencionado, ainda se encontram no seu local original. Estes
exemplares, executado no período Manuelino30, apresentam decoração baseada em laço
de oito, policromada e dourada.
Fig. 36 – Taujel do Convento do Varatojo, Torres Vedras (Fotografia DGEMN)
Fig. 37 – Taujel da Igreja da Madre de Deus, Lisboa (fotografia do autor)
29
30
De acordo com Pedro Dias, o Taujel da Igreja da Madre de Deus poderá ser um exemplar mais tardio.
Fonte : www.monumentos.pt
32
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Para além destes, pertencem ao Museu Machado de Castro em Coimbra outros três
exemplares, dois completos provenientes do sub-coro da Sé Velha de Coimbra (Fig. 14
e Fig. 38) e um fragmento de outro, proveniente do sub-coro do antigo paço episcopal,
actual museu.
Fig. 38 – Taujel do Museu Machado de Castro (fotografia Tacula)
3.2.2 Armações sobre Arcos Diafragma
As armações sobre arcos diafragma (Fig. 39), surgem como um modo de conseguir
fazer estruturas de cobertura com vigas mais curtas e de menor secção.
De acordo com Nuere, neste tipo de construção, que consiste em dois alfarges
inclinados, a inclusão dos arcos substitui uma das ordens de vigas, as vigas mestras ou
jacenas, dos alfarges.
33
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 39 – Armação sobre arcos diafragma, em que as vigas mestras são substituídas por arcos de alvenaria
(Diaz, 2001)
3.2.3 Perna e fileira (Parhilera)
Fig. 40 – Armação de Parhilera, Igreja de San Cipriano, Oquillas, Espanha (fotografia de Díez, 1999)
34
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
As armações a duas águas eram já utilizadas nos edifícios românicos, pelo que não são
uma invenção da carpintaria muçulmana, nem mudéjar. Em Espanha, foram estudadas
armações de tesoura (tijera), até ao século XII, sendo estas as precursoras das mudéjares
na Península Ibérica. Mas, a procura de soluções, mais simples e leves, conduziu ao
aparecimento das de parhillera e seguidamente à evolução para as de par y nudillo.
As armaduras de parhilera (Fig. 40), ou perna e fileira, caracterizam-se por, entre as
cabeças das pernas, no ângulo obtuso superior dos elementos triangulares, se interpor,
ao longo de toda a armadura, um barrote de pequena esquadria, chamado fileira.
As pernas ou alfardas, apoiam-se no estribo ou frechal, que por sua vez está apoiado
sobre os tirantes (Fig. 41). A zona em que a perna se encontra com o tirante, está oculta
por tábuas, geralmente decoradas, que formam um friso. Por sua vez, os tirantes
apoiam-se sobre cachorros.
Fig. 41 – Esquema de Asna de perna e fileira (parhilera) (desenho do autor)
Fig. 42 – Asna de perna e fileira (Arenas, 1633)
35
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
A figura anterior (Fig. 42), extraída do tratado de Diego Lopes de Arenas de 1633,
ilustra uma asna típica para a construção de uma armação de cobertura de perna e
fileira. Embora em Portugal, aparentemente, já não existam destas estruturas mudéjares,
continuaram a ser feitas estruturas deste tipo até data muito recente, existindo vários
exemplares da autoria da DGEMN, como por exemplo as Igreja Matrizes de Azurara e
Barcelos.
Para a execução destas armações, eram construídas, conforme descrito por Lopez de
Arenas, peças de madeira designadas por cartabones. Estes objectos eram esquadros em
madeira, que representavam todo o madeiramento, à escala. Utilizando-os, era possível
medir as peças e efectuar os cortes correctos.
Para a armação de Parhillera, Arenas indicava que se deveria dividir o vão da
dependência a cobrir em doze partes, sendo esta a medida que se utilizaria para raio da
cambija, um molde semicircular.
Para o traçado das armações usa-se o cartabón. Esta ferramenta marca a inclinação da
cobertura e os cortes. O esquadro (cartabón) faz-se a partir da cambija. Os cartabones
eram nomeados com números, sendo que quanto menor o numero, maior era a
inclinação da cobertura. O cartabón de 4 obtinha-se partindo em quatro partes a
circunferência, isto é dividindo em duas partes a cambija, obtendo-se assim um ângulo
de 45º. Este, praticamente não era utilizado devido à sua grande inclinação.
Os mais utilizados seriam os de cinco (inclinação de 36º) e os de seis. Para traçar um
cartabón de cinco, divide-se o raio da cambija em três partes, e a partir da que se
encontra mais perto do centro, levanta-se uma vertical cortando a cambija num ponto N,
traçam-se as uniões com os arranques da cambija nos extremos do semicírculo A e B,
encontrando que o tramo desde N até ao arranque mais perto é a quinta parte da
circunferência.
Outra forma de o fazer, é uma vez obtida a cambija ou semicírculo, tomam-se como
centros os extremos B e C, com o raio igual ao semicírculo, obtendo-se os pontos D e
E, e a partir destes pontos traçam-se novos arcos com igual raio que se cruzam em F. A
partir deste ponto traça-se um novo arco que corta a linha AF no ponto G. Para finalizar,
traça-se a recta com origem em C e que passa por G. Unindo o ponto H com B obtem-se
o cartabón de 5. Na realidade, o triângulo que se usa é o AGC, que é proporcional à
armação que se pretende construir., conforme se demonstra na figura seguinte (Fig. 43).
36
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 43 – Cartabón de 5 ( Desenho de Nuere, 2001)
O cartabón de seis faz-se facilmente, usando o raio da cambija ou semicírculo, desde o
centro e aplicando-o num extremo do semicírculo A ou B, obtendo assim a sexta parte
da circunferência. Também se pode fazer partindo o raio em dois e levantando uma
vertical, que cortará no mesmo ponto.
Para a execução da armação, Arenas diz que se procedia do seguinte modo (Fig. 44 e
Fig. 45):
Uma vez obtida o comprimento da cambija, com um compasso marcava-se o
comprimento das pernas, que seria de seis vezes o da cambija, seguidamente cortava-se
com o ângulo certo o topo da perna, retirando-se em seguida metade da espessura da
fileira. Para a extremidade que assentava sobre o frechal, era feito um encaixe em boca
de lobo, denominado em espanhol de barbilha e patilla, em que a barbilha, isto é, o
corte vertical tem 1/3 da secção da perna e o corte horizontal, a patilla, tem dois terços.
Fig. 44 – Utilização do cartabón para medir as peças (adaptado de Nuere 2001)
37
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 45 – Utilização do cartabón para cortar as peças (Nuere, 2001)
3.2.4 Perna e nível (Par y Nudillo)
As armações de asna de nível, ou traduzindo literalmente dos tratados da carpinteria de
lo blanco, armações de perna e nível (par y nudillo), surgem como uma evolução das de
perna e fileira.
Surge uma nova peça, o nível, que colocado a dois terços da altura da armação, vai
travar as duas pernas, impedindo a sua deformação. Com esta nova construção
consegue-se uma grande redução das forças horizontais aplicadas aos frechais.
A sucessão dos níveis com o tabuado que o recobre forma um plano, o almizate, que
visto do interior do edifício transforma o perfil triangular num perfil trapezoidal (Fig.
46), típico deste sistema construtivo.
Fig. 46 – Corte e planta da armação de par y nudilho31
31
Imagem de
http://w3.cnice.mec.es/eos/MaterialesEducativos/bachillerato/arte/arte/arquitec/armadura.htm
38
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Existe uma grande evolução neste esquema construtivo (Fig. 47), uma vez que as forças
horizontais são grandemente reduzidas. Em simultâneo, implementa-se a construção de
um novo sistema em que assenta a estrutura, que impede a transmissão de forças
horizontais às paredes, possibilitando que estas possam ser construídas de forma mais
esbelta.
Fig. 47 – Elementos básicos da armação de par y nudillo32
O novo sistema, denominado estribado, de estribo, (frechal em espanhol, é descrito da
seguinte maneira pelo texto de Fray Andrés de San Miguel33:
1. Sobre a coroação das paredes encastram-se níveis com as suas faces superiores bem
niveladas, onde se assenta e prega a soleira com as molduras mais convenientes
(Fig. 48).
Fig. 48 – Níveis e soleira (Nuere 2008)
32
Imagem de
http://w3.cnice.mec.es/eos/MaterialesEducativos/bachillerato/arte/arte/arquitec/armadura.htm
33
Citada por Diaz 2001
39
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
2. Sobre a soleira assentam-se os cachorros, e entre os cachorros põem-se umas tábuas
limpas, em forma de tapumes, chamadas aliceres, encaixadas nos cachorros (Fig.
49).
Fig. 49 – Montagem dos cachorros e aliceres (Nuere 2008)
3. Sobre os cachorros e os aliceres coloca-se uma moldura pequena, que segure toda a
obra. Esta parte serve de arquitrave (Fig. 50).
Fig. 50 – Construção da Arquitrave (Nuere 2008)
40
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
4. Sobre os cachorros assentam-se os tirantes, e entre eles os seus aliceres (Fig. 51).
Fig. 51 – Assentamento dos tirantes e respectivos aliceres (Nuere 2008)
5. Guarnece-se a parte superior dos aliceres dos cachorros com outra moldura
pequena, até ao friso. Sobre os tirantes, em caixas realizadas perto do extremo da
sua face superior, coloca-se o frechal (estribo) sobre o qual apoia a armação (Fig.
52).
Fig. 52 – Assentamento do estribo (frechal) (Nuere 2008)
41
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Na fotografia seguinte (Fig. 53), ilustra-se este tipo de sistema, usado neste caso na
Igreja Matriz da Calheta, na Ilha da Madeira. Quando não existem tirantes, em vez dos
aliceres há um friso contínuo que adquire a denominação de arrocabe.
Tirante
Argeute
Molduras
Aliceres
Cachorros
Fig. 53 – Pormenor do estribado de armação mudéjar, Igreja Matriz da Calheta (adaptado de fotografia
DGEMN)
Este esquema construtivo, foi largamente utilizado em Portugal, nomeadamente, nas
seguintes igrejas: Matriz de Caminha (nave central), Dois Portos (nave), Sé do Funchal
(nave central), São Vicente de Castelo Mendo (nave e capela-mor), Santa Leocádia
(capela-mor), Igreja Matriz da Calheta (nave) e Convento de Santa Clara do Funchal
(coro-alto).
Os esquemas seguintes (Fig. 54 e Fig. 55), ilustram os elementos constituintes da
construção das armações de par y nudillo.
Fig. 54 – Armação de Asna de Nível, elementos constituintes (adaptado de Diaz, 2001)
42
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 55 – Armação de asna de nível, (par y nudillo) (desenho de Nuere 2008)
Nos níveis, é feito um corte a 45º, no qual é aberta uma caixa na sua zona central. A este
tipo de corte que vai originar duas respigas, dá-se o nome de cornezuelos (Fig. 56).
Estes irão fazer a ligação noutro entalhe nas pernas, denominado garganta (Fig. 57).
Cornezuelos
Fig. 56 – Representação de um nível típico, com respigas para a aplicação de pequenas vigas, os peinazos,
que ligavam os vários níveis, formando decoração de laçaria ( adaptado de Nuere, 1994)
garganta
Barbilha
e patilla
Fig. 57 – Pernas (adaptado de de Nuere, 1994)
43
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
A figura seguinte (Fig. 58) ilustra a forma de montagem das asnas, sendo ilustrada uma
estrutura deste tipo no Convento de Santa Clara (Fig. 59), no Funchal.
Fig. 58 – Montagem da Asna (adaptado de Nuere, 1994)
Fig. 59 – Armação de Perna e Nível, Convento de Santa Clara, Funchal (DGEMN)
A Sé do Funchal e Matriz de Caminha, apresentam uma alteração nos tirantes, que são
de aço. Estes, de acordo com Miguel Tomé34, começaram a ser utilizados em Portugal
no Século XV.
Decorativamente, são estas estruturas bastante variadas. No mínimo, apresentam uma
decoração singela, constituída por entalhes ao longo das pernas e dos níveis, o
34
Obra citada
44
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
gramillado (Fig. 60), nome que deriva da ferramenta com que eram feitas, o gramillo,
graminho em português, ferramenta de marcar, ainda hoje utilizada.
Fig. 60 – Exemplo de decoração gramilhada, Igreja de São Miguel, Funchal (fotografia DGEMN)
Para além desta, a grande maioria, é policroma (Fig. 61), podendo apresentar desde
decoração geométrica, vegetalista e até figurativa. Esta pintura era normalmente feita a
têmpera, isto é, tinta cujo aglutinante é proteico (normalmente ovo ou cola animal).
Fig. 61 – Policromia da armação da Igreja de São Vicente de Castelo Mendo (fotografia DGEMN)
Na ilustração anterior (Fig. 61), a estrutura é travada através do tabuado (pequenas
tábuas denominadas tabicas) pregado pelo seu tardoz, apresentando pequenas molduras
entre cada tábua e a fazerem o remate para as pernas, denominadas cinta e saetino.
No entanto, existem armações mais elaboradas denominadas de laço apeinazado (Fig.
62). Nestas a decoração de laço é fixa através de samblagens às pernas, sendo feita com
45
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
peças de secção idêntica à das pernas, os peinazos, adquirindo todo o conjunto valor
estrutural.
Fig. 62 – Pormenor de laço apeinazado, Sé do Funchal (fotografia Tacula)
Quando a decoração de laço é aplicada em painéis que cobrem a totalidade do
vigamento denomina-se laço ataujerado, como foi já referido para os alfarges.
O tipo de laço, determina o nome que se lhe dá, existindo vários tipos dos quais os mais
vulgares em Portugal são os de oito, embora também existam exemplos de doze e
dezasseis.
46
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
O laço de oito é o mais simples bastando para o obter utilizar dois quadrados rodados de
45º um em relação ao outro.
Fig. 63 – Laços de 8 e de 10
Fig. 64 – Laços de 12 e de 14
Fig. 65 – Laços de 16 e de 20
As figuras desta página, extraídas do tratado de Lopes de Arenas (Fig.63 a 65), ilustram
os vários tipos de laço utilizados na decoração de armações. São estes os tipos básicos
que dão origem à multiplicidade de padrões, que têm sempre o nome do laço que os
origina (Fig. 66). Através do prolongamento destes motivos básicos, obtêm-se as rodas
de laço (Fig. 67).
Fig. 67 – Pormenor de Roda de 16 (fotografia
Tacula)
Fig. 66 – Laço de 8 (fotografia Tacula)
47
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Armações de Asna de Nível com Rincão Singelo (Lima bordon)
As armações de rincão singelo (Fig. 68), constituem uma variação das anteriores de
asna de nível, com a introdução de mais um elemento estrutural, o rincão, que permite a
construção de coberturas de quatro águas.
Fig. 68 – Armação de asna de nível com rincão singelo (desenho de Nuere, 2008)
Nestas, frequentemente são acrescentados tirantes oblíquos a 45º, os quadrais, com o
objectivo de garantir a indeformabilidade da estrutura.
Este tipo de armação a quatro águas, pode ser usado para cobrir divisões de base
quadrada (Fig. 69) ou rectangular (Fig. 70). No caso da quadrada, os quatro rincões
convergem num mesmo ponto.
Fig. 69 – Armação de par y nudillo de base quadrangular, Santa Maria de Castelo Mendo (fotografia
DGEMN)
48
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Já no caso das de base quadrada, os rincões convergem nos extremos da fileira.
Fig. 70 – Armação de par y nudillo de base rectangular, Igreja Matriz de Proença-a-Velha,
intervencionada profundamente nos anos 90 (fotografia DGEMN)
Para a execução destas estruturas, era utilizado o mesmo sistema de esquadros para
efectuar a medição das peças e os seus cortes, sendo que era necessário usar um
segundo esquadro, o cartabon de coz de limas, o esquadro de rincões, que fazia o
rebatimento da armação, de maneira a que fossem executados nos rincões os cortes
correspondentes aos das pernas.
Surge em seguida uma nova variação, a das armações oitavadas, de que foi encontrado
um exemplar35, em muito mau estado, no convento de Santa Clara no Funchal (Fig. 71),
apresentando vestígios de decoração policroma e com uma estrela de oito no centro.
Fig. 71 – Tecto oitavado do Convento de Santa Clara (fotografia DGEMN)
35
Apesar da decoração, este exemplar poderá ser mais tardio.
49
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Este tipo de tecto oitavado, dos mais complexos da carpintaria mudéjar, por uma
questão de facilidade construtiva, era elaborado em duas fases. Em primeiro lugar era
construída uma armação oitavada, em que quatro dos oito panos eram apoiados sobre os
quadrais, em seguida era construída, a quatro águas, sobre a primeira. Tratava-se
portanto de uma estrutura dupla, oitavada quando vista da parte inferior e a quatro águas
quando vista do exterior (Fig. 72). O remate para a parede, era feito com peças
triangulares denominadas trompas planas ou quadrantes.
Fig. 72 – Estrutura de cobertura a quatro águas, sobre tecto oitavado (fotografia DGEMN)
Armações de Asna de Nível com Rincão Duplo (Limas moamares)
Com o incremento da construção deste tipo de estruturas, e sobretudo pelo
desenvolvimento da decoração de laço, foi desenvolvido um novo método, o da
utilização de rincões duplos (Fig. 73). Este sistema, permitiu que os vários panos
fossem executados em oficina, e montados depois no local definitivo.
Fig. 73 – Armação rectangular de rincão duplo (desenho Nuere, 2008)
50
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 74 – Elementos constituintes de armação de par y nudillo de rincão duplo sobre planta rectangular
(adaptado de Diaz 2001)
51
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
O esquema anterior (Fig. 74), ilustra os elementos constituintes típicos de uma armação
de planta rectangular, de rincão duplo. Na sua legendagem, é feita uma primeira
tentativa de traduzir alguns dos termos para português. A constituição de um glossário
técnico para estas estruturas, é um tema que se reveste de grande importância, mas que
só será possível através do estudo de documentos contemporâneos destas estruturas.
As duas fotografias seguintes (Fig. 75 e Fig. 76), pretendem ilustrar armações existentes
deste tipo.
Fig. 75 – Armação mudéjar lisa, de rincão duplo, Convento de Santa Clara, Funchal (fotografia DGEMN)
Fig. 76 – Armação mudéjar de laço apeinazado de rincão duplo, Escarigo (fotografia DGEMN)
52
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Como exemplo de estruturas de rincão duplo, oitavadas, mostram-se as ilustrações
seguintes (Fig. 77 e Fig. 78). Das armações de rincão duplo ainda hoje existentes, as
oitavadas constituem a sua maioria.
Fig. 77 – Armação oitavada de rincão duplo (desenho de Nuere, 2008)
Fig. 78 – Tecto de laço apeinazado, oitavado, de rincão duplo, com trompas cónicas, Transepto da Sé do
Funchal (fotografia DGEMN)
53
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.2.5 Tectos de cinco panos
Fig. 79 – Armação a cinco panos, Rodrigo Alvarez (Diaz 2001)
As armações a cinco panos, foram pela primeira vez descritas por Rodrigo Alvarez, em
1674. Este tipo construtivo, também derivado das armações de par y nudillo, acrescenta
duas novas peças obliquas, ligando as pernas á parede. São estas ligadas às pernas
através de samblagens com garganta e cornezuelos.
A posição desta ligação é cuidadosamente marcada, de maneira a que todos os panos
sejam proporcionais.
Em Portugal apenas foi encontrado um exemplar desses tectos, que é oitavado, o da
Sala dos Brasões, do Palácio Nacional da Vila, em Sintra.
Fig. 81 – Representação esquemática36
Fig. 80 – Tecto a cinco panos (adaptado de El mudéjar
en Granada, op.cit.)
36
Imagem de
http://w3.cnice.mec.es/eos/MaterialesEducativos/bachillerato/arte/arte/arquitec/armadura.htm
54
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.2.6 Tectos de sete panos
Como tecto mudéjar de sete panos, apenas foram encontrados dois exemplares, os da
Capela do Palácio Nacional da Vila em Sintra (Fig. 82), não tendo sido possível
efectuar qualquer levantamento do sistema construtivo em virtude da falta de acesso à
estrutura.
Fig. 82 – Tecto da Capela-Mor do Palácio da Vila de Sintra (fotografia extraída de “O Paço de Sintra,
1903)
Estes tectos, ataujerados, construídos no início do Séc.XV, apresentam uma decoração
baseada em laço de 8 na capela-mor e em laço de 8 e de 12 na nave, bastante elaborada.
O grau de sofisticação, patente pela análise das plantas (Fig. 83), denota a perícia que os
carpinteiros mudéjares tinham já atingido nesta época, na resolução dos problemas
geométricos inerentes à concordância da decoração de laço exigida pela existência de
sete planos, principalmente na capela-mor.
55
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 83 – Planta dos tectos da Capela-Mor do Palácio da Vila de Sintra (adaptado da existente em “O
Paço de Cintra, 1903)
56
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.2.7 Resumo / Conclusão
A carpintaria mudéjar, influenciou muito a forma de construir estruturas e de cobertura,
tendo tido, aparentemente, uma grande difusão entre nós37, no período que decorreu
pelo menos entre o início do século XV e final do século XVI, encontrando-se no
entanto manifestações mais tardias na Madeira e Açores, nomeadamente o tecto da
Igreja Matriz da Calheta, construído cerca de 160938 e o do palratório do convento de S.
Gonçalo em Angra do Heroísmo de cerca de 170039.
Neste subcapítulo, as estruturas de cobertura e de tectos mudéjares foram divididas
quanto à sua forma construtiva nos seguintes tipos:
Alfarges – Tectos planos, de viga à vista, normalmente utilizados
com função resistente de sustentação de pavimentos, podendo ser
de uma ou duas ordens de vigas. As vigas mestras denominam-se
jacenas e as secundárias, jaldetas. Não apresentam decoração de
laço. Quando as vigas são cobertas com painéis de madeira com
decoração
de
laço,
denominam-se
Taujeles
ou
alfarges
ataujerados.
Coberturas sobre arcos-diafragma – São estruturas de cobertura a
duas águas apoiadas sobre arcos-diafragma. A sua construção é
bastante simples, apoiando as vigas de sustentação sobre arcos de
alvenaria que substituem a primeira ordem de vigas dos alfarges,
isto é, surgem da montagem de dois alfarges inclinados.
Armações de perna e fileira (par hilera) – Caracterizam-se pelo seu
perfil triangular quando vistas pelo interior.
Armações de asna de nível (par y nudillho) - Nestas armações, é
introduzida uma terceira peça que as distingue das anteriores, o
37
De acordo cópia de parte do Regimento dos Oficiais mecânico de 1572, cedida pela Dra. Lina Marrafa
Oliveira, em que estão descritos os requisitos para exame de carpinteiros, era obrigatório saber executar
decoração de laço, o que demonstra um conhecimento generalizado destas técnicas no nosso país.
38
Informação recolhida em www.arquipelagos.pt, acedido em 15 de Dezembro de 2007.
39
Idem. Existem ainda referências verbais a tectos deste tipo construídos até ao século XIX, mas que não
foram passíveis de confirmação neste trabalho.
57
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
nível
ou
nudillo. Obtém-se
assim
um
perfil
trapezoidal
característico, quando vistas do interior. Ao plano constituído pela
sucessão de níveis dá-se o nome de almizate, que corresponderá à
esteira plana central dos tectos de masseira.
Armações de asna de nível com rincão singelo (par y nudillo com
limabordon) – As coberturas a quatro águas, foram conseguidas
com a adição de mais uma peça, o rincão, peça que é aplicada entre
o extremo da fileira e os vértices das dependências a cobrir,
fazendo a ligação entre as águas mestras e as tancaniças.
Nos casos estudados, todas estas estruturas são a quatro águas,
sendo que para as estruturas oitavadas, são acrescentados panos
interiores, falsos, que apoiam nos quadrais, não tendo qualquer
relação com a forma exterior da cobertura. A ligação entre a forma
poligonal do interior com a forma rectangular (ou quadrada) das
salas, é feita através da utilização de trompas planas ou cónicas.
Armações de asna de nível com rincão duplo (par y nudillo com
limas moamares) – A divulgação das estruturas de cobertura
mudéjares com o consequente aumento da procura, levou a um
incremento do trabalho em oficina, chegando as várias águas já
feitas à obra, o que fez com que os rincões fossem duplicados. O
trabalho em oficina, possibilitou também um aumento da
complexidade da decoração de laço.
No caso das armações a quatro águas, os rincões passam a ir apenas
até aos níveis e já não até á fileira (Fig. 74), o que faz com que a
tancaniça seja mais baixa.
Armações a cinco e sete panos – Contrariamente às anteriores, que
poderiam ter função estrutural de sustentação da cobertura, ou
apenas decorativa como tecto, este tipo de armação, nunca tem
função resistente.
58
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Quanto à decoração, podemos dividir as armações mudéjares em três tipos
fundamentais, embora possam surgir combinações entre eles.
Armações lisas – As que não têm qualquer decoração de laço.
Armações de laço apeinazado – Aquelas em que existem elementos
que têm função estrutural, ligando as pernas ou os níveis, com a
mesma secção destes elementos e formando decoração de laço. A
estas peças de ligação dá-se o nome de peinazos40, daí a
denominação de laço apeinazado.
Armações de laço ataujerado – São forradas no intradorso por
painéis que escondem o vigamento, e sobre os quais é aplicada a
decoração de laço.
As armações de laço ataujerado, tiveram variações sem este tipo de decoração, isto é,
em que o intradorso era forrado, mas não eram decoradas com laço, como por exemplo
o caso do tecto da Sala das Pegas (Fig. 84), no Palácio Nacional da Vila em Sintra ou o
da igreja de Nossa Senhora do Loureto (Fig. 85), na Ilha da Madeira, com muito pouco
laço, mas com duas cúpulas e algumas pinhas de mocárabes. Este tipo de cúpulas surge
também, por exemplo, na Sé do Funchal.
Fig. 85 – Tecto da Igreja de Nossa Senhora do
Loureto (fotografia DGEMN)
Fig. 84 – Tecto da Sala das Pegas (fotografia
DGEMN)
40
A inexistência de um vocabulário específico para estas estruturas, leva à utilização dos termos
espanhóis, no entanto, a função estrutural dos peinazos que é a de efectuar a estabilização de toda a
estrutura, pode permitir eventualmente a sua tradução por tarugos.
59
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Também na Igreja Matriz de Caminha (Fig. 86), existe uma interessante variação, com a
aplicação de molduras sobre uma armação de laço apeinazado, em que se assiste já a
uma evolução renascentista, pois estas molduras simulam caixotões.
Fig. 86 – Tecto da Matriz de Caminha (fotografia DGEMN)
3.3 Estruturas de cobertura a duas águas com tectos adossados
Neste subcapítulo, pretende-se inventariar os vários tipos de estrutura de sustentação de
tectos baseados em armações de cobertura com asnas de nível. Estas já tinham sido
abordadas na carpintaria mudéjar, mas continuaram a ser utilizadas até épocas muito
recentes. Na asna, um dos pontos que as distingue das mudéjares, é o sistema de ligação
do nível com as pernas, em que já não existem os cornezuelos e gargantas a efectuar as
ligações, tornando-se a união muito mais rudimentar, normalmente uma união a topo
com pregagem do nível à perna. Outra das características que distingue os tectos não
mudéjares, é a aplicação do forro pelo intradorso da estrutura e não pelo extradorso, não
ficando assim os tectos com a viga à vista.
60
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.3.1 Estruturas de Cobertura com asna de nível simples
Estas coberturas são, aparentemente, o seguimento das coberturas de par y nudillo
mudéjares, no entanto, apresentam uma degenerescência ou simplificação destas, uma
vez que o nível é simplesmente pregado a topo ou de par (Fig. 87).
Deixou-se nesta altura de efectuar a samblagem através de gargantas nas pernas e os
cornezuelos nos níveis, passando a samblagem a ser feita por pregagem simples.
Esta evolução, ou mais exactamente degeneração, não é feita de imediato, existindo
alguns exemplos ainda em que a samblagem é feita com garganta de um dos lados da
perna mas já não de ambos.
Também o estribado mudéjar deixa de existir, passando a utilizar-se apenas o frechal,
sendo este atirantado, por tirantes de aço e já não de madeira.
Fig. 87 – Cobertura com asna de nível simples
O forro destes tectos passa a ser efectuado pelo intra-dorso, atingindo por vezes grande
complexidade, com forros apainelados imitando caixotões de grande dimensão (Fig.
88).
Fig. 88 – Tecto da Igreja de S. Pedro da Ericeira, Séc. XVIII (fotografia Tacula)
61
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.3.2 Asna de nível com redução do Pé direito
Este tipo de tectos segue em linhas gerais o que foi descrito anteriormente, apresentando
no entanto uma variação significativa: são fixas aos níveis, pernas falsas que são
pregadas de par, e fixas sobre uma sanca na parede (Fig. 89 e Fig. 90).
Estas pernas, permitem, para além de uma variação da inclinação dos panos laterais,
uma redução aparente do pé direito do espaço a cobrir.
Fig. 89 – Representação esquemática
Fig. 90 – Estrutura do tecto da Capela da Misericórdia de Vila de Rei, reconstruído em 2004 copiado do
anterior (fotografia Tacula)
62
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 91 – A mesma estrutura durante a construção (fotografia Tacula)
Com este sistema (Fig. 91), e através da introdução destas pernas falsas, consegue-se a
elaboração de esteiras bastante complexas que possibilitam a construção de diversos
tipos de tectos, como por exemplo os de tábua corrida, os apainelados e os encabeirados
e apainelados (Fig. 92).
Fig. 92 – O tecto após a montagem (fotografia Tacula)
63
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.3.3 Asna de nível com cinco panos
Através da adição de duas peças à asna, ligando o nível às pernas falsas, obtém-se um
tecto, com semelhanças aos antigos tectos mudéjares de cinco panos (Fig. 93), que foi
vulgarmente utilizado para a elaboração de tectos apainelados simulando tectos de
caixotões. Estas peças vão constituir cinco planos que constituem, quando vistos, uma
primeira aproximação a uma abóbada de berço (Fig. 94).
Fig. 93 – Esquema de tecto de cinco panos, Igreja paroquial
de Vinhó (fotografia DGEMN)
Fig. 94 – Vista do tecto de Vinhó
(fotografia DGEMN)
3.3.4 Asna de Nível com sete panos
O exemplo que a seguir se mostra (Fig. 95), demonstra a construção de um tecto que
pela sua face visível é um tecto de caixotões a sete panos, sendo que na realidade em
termos construtivos, é apenas um tecto de asna de nível, com uma estrutura de caixotões
adossada, que simula um tecto a sete panos.
Com a alteração da flecha, fazendo com que esta seja igual a metade da largura da sala a
cobrir, obter-se-ia visualmente, uma abóbada de berço falsa41, semelhante às que eram
feitas com as armações de par y nudillo mudéjares, como a existente na capela do
palácio da vila.
41
Abóbada de berço falsa, uma vez que é gerada por vários segmentos de recta e não por uma semicircunferência.
64
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 95 – Tecto de sete panos, Igreja de São Martinho de Mouros (desenho DGEMN)
3.4 Estruturas semelhantes às de cobertura mas sem função resistente
3.4.1 Estrutura para tectos de masseira quadrangulares ou a quatro águas
Estas estruturas, podem ser no nosso país consideradas como sucessoras das estruturas
mudéjares de rincão singelo, tendo no entanto várias simplificações, pois não se
destinavam a ter qualquer função resistente, mas apenas função decorativa. Isto levou a
que todas as uniões e mesmo o nível de acabamento da estrutura se tornassem bastante
mais rudimentares.
São construídas, de forma semelhante às mudéjares de quatro águas e rincão singelo,
aplicando frechais sobre os lados mais longos da divisão, travados por outros, com
juntas à meia madeira no sentido mais estreito. Seguidamente montam-se sobre estes
frechais as asnas de nível, com encaixes de boca de lobo. Sendo a distância da primeira
asna ao canto da sala dada por metade da largura da sala.
65
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
A partir do topo da primeira asna, são pregados rincões até ao vértice dos frechais. São
em seguida pregadas pernas secundárias dos rincões para o frechal, sempre
perpendiculares a este.
3.4.2 Estrutura para tectos derivadas dos de masseira quadrangulares ou a quatro
águas
A estrutura que a seguir se ilustra (Fig. 96 e Fig. 97) é uma derivação do tecto anterior.
Aqui, é construída uma estrutura semelhante à anterior, mas que leva na sua parte
inferior, uma segunda estrutura composta por pernas com dupla curvatura.
Fig. 96 – Estrutura com dupla curvatura, abóbada central e sancas.
Fig. 97 – Fotografias da estrutura referida anteriormente (fotografias DGEMN)
66
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.4.3 Estruturas para tectos de masseira oitavados
Os tectos de masseira oitavados, caracterizam-se por, ao contrário dos normais,
(quadrados ou rectangulares), possuírem oito águas.
Construtivamente, apresentam semelhanças com as armações oitavadas mudéjares,
embora a sua construção seja bastante mais rudimentar.
Para a sua elaboração, são assentes frechais no topo das paredes da sala a cobrir.
Colocam-se em primeiro lugar os frechais correspondentes às paredes mais longas e em
seguida os das paredes mais curtas, fazendo a ligação entre eles com encaixes à meiamadeira a 90º (Fig. 98 e Fig. 99). Estes actuam como tirantes.
Fig. 98 – Montagem da estrutura de apoio
(desenho do autor)
Fig. 99 – Pormenor da união (desenho do autor)
Seguidamente, são colocados tirantes a 45º nos quatro cantos, os quadrais, que para
alem de estabilizarem a estrutura, servirão de base para a construção da estrutura
oitavada (Fig. 100). Os seus encaixes são também à meia madeira, mas neste caso a 45º
Fig. 100 – Estrutura de apoio completa (desenho do autor)
67
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Assumindo que a divisão é rectangular, para estabelecer as proporções, e considerando
o método clássico que já vinha da carpintaria mudéjar, divide-se a largura da sala por
três, obtendo-se dessa maneira os pontos de intersecção dos quadrais. Será também essa
a medida dos níveis que sustentarão a parte superior do tecto.
A posição da primeira asna a assentar no lado mais longo, situar-se-á a metade da
largura da sala. Com este método consegue-se que quer as asnas quer os rincões tenham
o mesmo comprimento e inclinação.
Estes tectos constroem-se com qualquer inclinação, sendo no entanto, normalmente até
45º. Ilustra-se em seguida, por desenho e fotografias, este tipo de estrutura (Fig.101 a
104).
Fig. 101 – Esquema de estrutura de tecto de masseira oitavado (desenho do autor)
Fig. 102 – Fotografia de estrutura de tecto de masseira oitavado (fotografia Tacula)
68
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 103 – Pormenor do topo da estrutura (fotografia Tacula)
Fig. 104 – Pormenor dos quadrais duplos e frechais (fotografia Tacula)
69
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.5 Abóbadas e Cúpulas
3.5.1 Abóbadas de Berço ou de arco perfeito (180º)
O tipo de abóbadas analisadas, denominado abóbadas falsas, abrange apenas aquelas
que sustentam apenas o seu peso, não tendo qualquer função estrutural no edifício.
As abóbadas de berço, são normalmente autoportantes, sendo possível após a sua
construção, se necessário, reparar ou mesmo remover a estrutura de cobertura.
Na sua construção são utilizadas vigas curvas, constituídas por vários elementos ligados
a topo entre si, com uniões à meia-madeira. Estas vigas são assentes em sancas de
madeira ou pedra que se encontram adossadas às paredes laterais do espaço a cobrir.
Para assegurar a estabilidade, basta normalmente o forro que lhes é fixo pelo intradorso,
embora frequentemente sejam aplicadas escoras (Fig. 105), normalmente pregadas de
par das vigas curvas para as pernas das asnas e para os níveis. Estas escoras, só
desempenham um papel estrutural determinante durante a fase de montagem.
Posteriormente, destinam-se apenas a evitar movimentos do tecto.
Quando se pretende uma estrutura mais resistente, são aplicados tarugos entre as vigas,
com encaixes à meia madeira nos seus topos, que são pregados às vigas curvas,
assegurando que as suas faces no intradorso da abóbada se encontram perfeitamente
niveladas de modo a receberem o forro.
Fig. 105 – Representação esquemática de abóbada de berço (desenho do autor)
Este tipo de estruturas, na sua maioria, aproveitou estruturas pré-existentes (Fig. 106) de
asna de nível, que surgem quase intactas durante os restauros. Podem também surgir
abóbadas de caixotões, com esquemas construtivos mais complexos (Fig. 107 e Fig.
108)
70
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 106 – Tecto em abóbada de berço com forro de tábua corrida. Neste tecto, são visíveis dois tirantes
mudéjares, o que parece indiciar a existência de uma estrutura subjacente não referenciada anteriormente,
Igreja de Seixo Amarelo (fotografia Tacula)
Fig. 108 – Tecto de Santo António de Penamacor
(fotografia Tacula)
Fig. 107 – Esquema da cobertura de Santo
António de Penamacor (C.M. de Penamacor)
71
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.5.2 Abóbadas de arco abatido
Este tipo (Fig. 109), segue a mesma técnica construtiva das anteriores, variando apenas
o tipo de arco, que é normalmente um arco abatido de três centros.
Fig. 109 – Abóbada de arco abatido, Igreja de N. Senhora da Esperança, Sátão (fotografia Tacula)
3.5.3 Abóbadas de falso arco abatido
Os tectos com abóbadas de falso arco abatido, caracterizam-se por serem feitos com
arcos de curva perfeita, mas menores do que 180º. Este arco é traçado com o centro a
uma altura inferior à de arranque da abóbada (Fig. 110).
Contrariamente aos dois anteriores, as vigas curvas encontram-se adossadas à parte
inferior das pernas e dos níveis, sendo as suas extremidades fixas às pernas através de
peças de madeira pregadas de par. É também com peças semelhantes que se fixam as
vigas às asnas (Figs. 111 a 114).
72
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 110 – Esquema de abóbada de falso arco abatido (90º) (desenho do autor)
Fig. 111 – Abóbada de falso arco abatido, Matriz
de Sortelha (fotografia DGEMN)
Fig. 113 – Ligação das vigas curvas aos níveis
(fotografia DGEMN)
73
Fig. 112 – Ligação das pernas à extremidade das
vigas curvas (fotografia DGEMN)
Fig. 114 – Pormenor do empalme à meia
madeira das vigas curvas (fotografia DGEMN)
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.5.4 Abóbadas de aresta
Fig. 115 – Abóbada de arestas, Igreja Matriz de Ponte da Barca (DGEMN)
As abóbadas de aresta (Fig. 115), resultam da intersecção de duas abóbadas de berço, no
entanto, a situação que se encontra com mais frequência é uma variação destas, em que
as abóbadas são geradas por falsos arcos abatidos, isto é, arcos de circulo com menos de
180º.
Para a construção destas estruturas, são aplicadas vigas curvas nas paredes, que apoiam
em mísulas. Estas vigas funcionam como frechais apoiando o resto da estrutura. Para a
cobertura do vão são aplicadas em seguida vigas curvas, descarregando alternadamente
nas mísulas e no topo dos arcos adossados à parede. A estabilidade longitudinal do
conjunto é obtida com um terceiro conjunto de vigas curvas que se juntam no centro da
estrutura.
3.5.5 Cúpulas
As cúpulas surgem como uma variação construtiva das abóbadas, mas aplicadas
normalmente sobre divisões circulares, hexagonais, octogonais, etc. Isto é, plantas que
tem por base um círculo.
A sua construção, numa dependência circular, tem por base quatro vigas curvas que se
apoiam em frechais e que convergem para um ponto no centro da divisão a cobrir,
juntando-se num pendural. São em seguida aplicadas varas com a mesma curvatura mas
74
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
de menor secção entre as pernas. As peças curvas horizontais que ligam as varas e as
pernas, denominam-se madres, à semelhança das empregues nas estruturas de cobertura.
Quanto maior for o número de varas, melhor será a perfeição da superfície hemisférica
que se obtém no intradorso da estrutura.
Este sistema construtivo encontra-se ilustrado nas duas figuras seguintes retiradas do
tratado de Rondelet (Fig. 116 e Fig. 117).
Fig. 117 – Cúpula circular de arco abatido
(Rondelet)
Fig. 116 – Cúpula circular de arco perfeito
(Rondelet)
Em dependências hexagonais (Fig. 119), octogonais (Fig. 118), etc., este esquema é
simplificado, utilizando-se apenas as pernas curvas, cada uma apoiada num vértice da
dependência. A ligação entre elas é efectuada por madres rectas.
Madres
Pernas
Fig. 118 – Cúpula octogonal, palácio de Monserrate, Sintra (fotografia do autor)
75
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 119 – Cúpula hexagonal do Santuário do Senhor da Pedra, Óbidos (fotografia do autor)
Para as cúpulas, existe ainda uma outra variação, as cúpulas com lanternim (Fig. 120),
aqui as pernas vão ligar na estrutura do lanternim e não num frechal. Para evitar
esforços, o lanternim é sustentado por vigas encastradas nas paredes (Fig. 121 a 123).
Fig. 120 – Cúpula octogonal com lanternim, Palácio de Monserrate, Sintra (fotografia do autor)
76
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 121 – Pormenor das pernas do tecto anterior
(fotografia do autor)
Fig. 122 – Lanternim da mesma estrutura
(fotografia do autor)
Fig. 123 – Pormenor das vigas de sustentação do lanternim (fotografia do autor)
3.6 Estruturas de Esteira42
Quando os tectos possuem uma estrutura própria sustentada por vigas horizontais, dá-se
a essa estrutura o nome de esteira, vigamentos de esteira ou esteira de tectos (Pereira da
Costa, F. 1955).
Estas estruturas, ao contrário dos anteriores, são montadas, encastrando vigas
horizontais nas paredes da divisão a cobrir. Isto implica uma diminuição do pé-direito a
usar, que fica limitado ao pé direito da sala.
42
Para a descrição deste tipo de estruturas, segue-se em termos gerais o fascículo 7 da Enciclopédia da
Construção Civil, de Pereira da Costa.
77
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Apesar desta limitação, podem ainda assim ser elaboradas esteiras para quatro tipos de
tecto que serão analisadas em seguida.
3.6.1 Esteira Simples
Fig. 124 – Esteira Simples (P. da Costa)
Para a elaboração de uma esteira simples (Fig. 124 e Fig. 126), são aplicadas vigas no
sentido mais estreito da parede a cobrir. Utilizando esta direcção, consegue-se uma
economia de madeira, uma vez que as vigas são mais curtas e para além disso, sendo
mais curtas serão menos afectadas por deformações dimensionais.
Seguidamente, aplicam-se no sentido perpendicular a estas, tarugos, que têm como
função impedir os movimentos e vibrações da estrutura, o que é de primordial
importância, sobretudo quando são forrados com estuque que poderá abrir fendas. Estes
tarugos, são normalmente pequenas vigas com a mesma secção das vigas principais. No
entanto surgem variações, como por exemplo, os tarugos cruzados, que se ilustram na
figura seguinte (Fig. 125).
Fig. 125 – Tecto com tarugos cruzados (fotografia do autor)
78
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
De acordo com F. Pereira da Costa (obra citada) em tectos vulgares, de madeira ou
estucados, é suficiente um afastamento de 0,40 m entre o eixo das vigas ou 0,30 m entre
elas, sendo que para outro tipo de tectos este afastamento é diferente. Também de
acordo com este autor, as secções da madeira a utilizar serão de 0,10 x 0,06m.
Fig. 126 – Fotografia de estrutura de esteira simples, Convento do Sacramento, Lisboa (fotografia do
autor)
79
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.6.2 Esteira Encabeirada
Fig. 127 – Esteira Encabeirada (Pereira da Costa 1955)
Para a construção de uma esteira encabeirada (Fig. 127), constrói-se uma esteira
semelhante à esteira simples, já descrita, com a aplicação do vigamento e respectiva
tarugagem. Os tarugos mais próximos de cada um dos lados mais longos da
dependência a cobrir, deverão ser colocados a uma distância da parede igual à largura
da cabeira pretendida, passando-se o mesmo com a primeira viga de cada lado.
Nos lados mais estreitos são colocadas vigotas, pregadas às últimas vigas de cada lado e
encastradas na parede.
3.6.3 Esteira de Masseira
As esteiras para os tectos de masseira ou amasseirados, seguem em linhas gerais a
descrição feita anteriormente.
São primeiramente colocadas as vigas, tendo o cuidado de que as primeiras de cada lado
fiquem à distância correcta da parede, com o objectivo de centrar a esteira horizontal de
acordo com a dimensão e inclinação pretendida dos panos inclinados.
Seguidamente assentam-se as vigotas de masseira, que no sentido das vigas são
pregadas de par, fixas por meio de orelha e dente. As que ficam perpendiculares às
vigas são fixas por boca de lobo e pregadas. Em ambos os casos as extremidades
inferiores são encastradas na parede (Fig. 128).
80
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Quando a masseira é executada com madeiras pesadas e muito ornamentadas que a
sobrecarregam, faz-se o assentamento de chinchareis em todo o sentido transversal da
esteira, a fim de neles serem assentes as vigotas respectivas.
Quando não seja conveniente fixar as vigotas às linhas de viga, caso por exemplo do
que se passa com certos tectos apainelados 43 em que as dimensões dos painéis não
coincidem com o espaçamento entre vigas, deve-se fazer a aplicação de chincareis e
será a estes que as vigotas serão fixas.
Fig. 128 – Cortes da estrutura de esteira para tectos de masseira (Pereira da Costa 1955)
3.6.4 Esteira Sanqueada
As esteiras sanqueadas, denominam-se assim em virtude de terem uma sanca, isto é,
uma superfície curva a toda a volta da divisão (Fig. 129). Esta curva é obtida através de
peças denominadas cambotas.
Fig. 129 – Esquema de esteira para tecto sanqueado (Pereira da Costa 1955)
Nestas esteiras, como se pode verificar, a única alteração com relação aos de masseira é
o formato das vigotas, aqui denominadas cambotas, seguindo todo o resto o mesmo
sistema.
43
Os tectos apainelados que serão abordados no capitulo seguinte, são tectos em que utilizando tábuas em
mais do que um sentido, se conseguem obter painéis decorativos.
81
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Quando o tecto é de grande dimensões, para evitar usar tábuas muito largas, era costume
construir as sancas através de várias tábuas unidas à meia madeira (Fig. 130), de modo a
formarem ângulos que constituíssem uma aproximação ao raio de curvatura pretendido.
Só então, era a curva recortada.
Uniões entre as três peças da
cambota
Fig. 130 – Uniões entre as três peças da cambota, Palácio Nacional da Ajuda (adaptado de fotografia de
Arq. Luís Marreiros)
Estes tectos, apresentam também a particularidade de terem pequenas cambotas a partir
da cambota, que liga dos vértices da zona plana aos cantos da sala, com o objectivo de
manter o apoio do forro (Fig. 131). No desenho seguinte, ilustram-se as principais peças
de um tecto deste tipo (Fig. 132).
Fig. 131 – Pormenor das cambotas secundárias (Fotografia de Arq. Luís Marreiros)
82
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Tarugos
Vigas
Cambotas
Fig. 132 – Esboço da estrutura do tecto, com os elementos constituintes (desenho do autor)
Rondelet, no seu tratado, Traité Theorique et Pratique de L´Art de Bâtir, apresenta uma
variação deste tipo de tectos (Fig. 133). Esta variação, que ele afirma serem os tectos
adequados para salas e aposentos de príncipes, usada em Versailles, é uma forma mais
sofisticada de construção de esteiras sanqueadas, em que se parte de duas estruturas de
vigas, uma a esteira semelhante à já estudada e outra um conjunto de frechais que
aparentemente apoiam no topo das paredes da sala a cobrir. Sobre os frechais apoiam as
cambotas que vão ligar ao vigamento de esteira. Nos cantos da dependência, são
colocadas peças obliquas com o objectivo de ajudar a suportar o peso do tecto. Todos os
encaixes nesta estrutura são feitos à meia madeira.
Fig. 133 – Esteira para tecto sanqueado (Rondelet)44
44
Imagem da tradução italiana, de 1881, disponível em http://rondelet.biblio.polimi.it/cd/index2.htm
83
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
3.6.5 Esteiras sanqueadas circulares
Este esquema (Fig. 134), também de Rondelet, destina-se a cobrir salas circulares,
apresentando como únicas alterações, o frechal em que a estrutura assenta, assim como
as vigas que circundam a esteira plana, que apresentam a forma circular.
Fig. 134 – Tecto circular segundo Rondelet
3.6.6 Estruturas Mistas
Os sistemas construtivos apresentados anteriormente, possibilitam através da sua
combinação, inúmeras possibilidades de concepção de novas estruturas para tectos.
Analisa-se em seguida o caso concreto do tecto do teatro Lethes em Faro. Este constitui
uma excelente combinação de vários sistemas: Tecto plano, sanqueado e circular (estes
dois uma adaptação do esquema de Rondelet), utilizando para suporte do conjunto asnas
e não as escoras inclinadas descritas por este autor (Fig. 135). Por razões de
simplificação, só no esquema final, é apresentado todo o sistema de asnas, que
complicaria a compreensão dos esquemas.
84
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 135 – Corte do tecto (desenho do autor)
O sistema de construção provável seria o seguinte:
Em primeiro lugar, sobre as colunas da galeria superior, foi aplicado um frechal curvo,
com vigas de esteira, que unindo-o à parede seriam encaixadas à meia madeira no
frechal e encastradas na parede. Por cima da galeria as vigas atravessavam a sala de um
lado ao outro, o mesmo se fez junto à parede do palco (
Fig. 136).
Fig. 136 – Construção do vigamento para a esteira plana (desenho do autor)
Seguidamente aplicou-se, pela face inferior da esteira o forro em tábua corrida (Fig.
137).
85
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 137 – Aplicação do forro (desenho do autor)
O passo seguinte, foi a construção de um sistema de asnas, que iria dar apoio ao frechal
que apoia a esteira plana superior. Neste esquema não é mostrado todo o madeiramento
de apoio, para simplificação.
Fig. 138 – Construção das asnas para suporte da esteira superior (desenho do autor)
86
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
A fase seguinte, encontra-se ilustrada nos dois esquemas seguintes. É montada a esteira
superior, através da sua pregagem às asnas e às vigas curvas circundantes, assim como a
sanca através da montagem de cambotas.
Fig. 139 – Aplicação das cambotas (desenho do autor)
A fase final é a da aplicação do forro, que neste caso, é constituído na sanca por réguas
bastante estreitas, com o objectivo de conseguir um intradorso com uma curva o mais
perfeita possível, uma vez que a decoração final foi a pintura de uma tela que recobre o
tecto todo, pelo intradorso.
Fig. 140 – Tecto completo (desenho do autor)
87
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 141 – Cambotas e esteira plana inferior (fotografia Tacula)
Fig. 142 – Pormenor da esteira superior (fotografia Tacula)
88
3. Estrutura de Cobertura e Tectos em Madeira – Sistemas Construtivos
Fig. 143 – Vista das cambotas e fixação das asnas (fotografia Tacula)
Fig. 144 - Pormenor do sistema de asnas (fotografia Tacula)
89
4. Tectos
4. TECTOS
4.1 Introdução
Ao revestimento das estruturas já descritas, dá-se o nome de forro, o qual, pode ser de
dois tipos, consoante o material empregue: em madeira ou em estuque. Mais
recentemente passaram a ser utilizados outros materiais, como por exemplo o estafe,
constituído por placas prefabricadas de estuque armado com sisal. No entanto, este tipo
de forros não será analisado no presente trabalho, pois não se insere no período histórico
em estudo.
A descrição dos forros, que se apresenta de seguida, será efectuada partindo dos mais
simples, até chegar aos mais complexos. Começa-se assim, por abordar os tipos de
forros de madeira, que são, os seguintes:
Forro de junta;
Forro de meio-fio;
Forro chanfrado;
Forro de macho e fêmea;
Forro Sobreposto.
Estes cinco tipos de forro, cuja denominação tem a ver com o tipo de encaixe entre as
tábuas, podem ser usados em qualquer tipo de tectos: simples, moldurados, etc.
Os forros podem classificar-se quanto à forma de aplicação das tábuas. Denominam-se
forros a encher, quando as tábuas são aplicadas de forma consecutiva, isto é, começando
a forrar de um lado, encaixando uma tábua na anterior até se terminar o forro; Forros
com tábuas de espera e tábuas de cobrir, quando são aplicadas em primeiro lugar as
tábuas de espera, deixando entre elas o espaço que será seguidamente ocupado pelas
tábuas de cobrir.
Os tectos são normalmente classificados em função de dois factores: a conjugação dos
tipos de forro e molduras aplicadas, e a forma. Quanto ao primeiro factor podem
encontrar-se:
90
4. Tectos
Tectos Simples;
Tectos Moldurados;
Tectos Apainelados;
E quanto ao segundo factor:
Tectos planos
Esteira simples;
Encabeirados;
Tectos de Masseira;
Tectos Sanqueados;
Como seguidamente se verá é da combinação destes vários factores que surgirá a
denominação completa, podendo existir, por exemplo, um tecto plano encabeirado
moldurado ou um tecto sanqueado apainelado.
Os tectos de estuque, seguem, a nível estrutural, tudo o que se disse para os de madeira,
com uma única diferença, o forro ser executado com estuque.
4.2 Madeira
4.2.1 Tipos de Forros
Os forros para revestimento dos vigamentos de esteira denominam-se esteiras, sendo os
mais simples os de tábuas simplesmente encostadas e os mais complexos os de forro
sobreposto.
As tábuas são pregadas às vigas ou serrafões, com pregos de cabeça achatada, caso se
destinem a ser pintados e com pregos redondos de cabeça atarracada, se são para ficar à
vista.
Para acabamento todos os pregos eram rebatidos, sendo recobertos com cera caso a
madeira fosse para ficar á vista ou então sendo para pintar, eram betumados com massa
de vidraceiro também denominada massa de óleo, constituída por óleo de linhaça e cré.
Este betume era preparado misturando um quilo de cré com cerca de 200 gramas de
óleo de linhaça.
91
4. Tectos
Para finalizar rematava-se o tecto com uma aba, pregada à parede, que podia ser apenas
uma tábua lisa ou em tectos de melhor qualidade um moldado ou tábua moldurada.
Forro de junta
Este é o mais simples dos forros, no qual as tábuas são simplesmente encostadas umas
às outras e pregadas às vigas (Fig. 145). Consoante a sua largura, varia número de
pregos a utilizar (dois ou três).
Fig. 145 – Corte de forro de junta
O remate para a parede é efectuado com a aplicação das abas que são pregadas a tacos
embebidos nas paredes. Estas abas, podem ser tábuas lisas ou molduradas.
Para obter um forro regular com todas as tábuas do mesmo tamanho, estas deverão ser
galgadas (cortadas à esquadria ou esquadrilhadas) com a medida correcta.
Forro chanfrado
Os forros chanfrados, são obtidos galgando as tábuas cuidadosamente e posteriormente
chanfrando ambos os lados. Caso os chanfros se façam em direcções opostas, o tecto será
montado a encher, isto é, vão-se assentando as tábuas começando por um dos lados da divisão
até se atingir o outro (Fig. 146).
Fig. 146 – Corte de forro chanfrado com tábuas a
encher
Fig. 147 – Corte de forro chanfrado com tábuas de
espera e de cobrir
92
4. Tectos
Quando os chanfros são simétricos, são primeiramente aplicadas as tábuas de espera, com a
distância entre elas cuidadosamente medida. Em seguida aplicam-se as tábuas de cobrir (Fig.
147).
Forro de meio-fio
Nestas esteiras, as tábuas têm um meio-fio, semelhante ao utilizado nas tábuas de solho. Tal
como nos forros chanfrados, podem ser feitos de dois modos, a encher ou com tábuas de espera
e tábuas de cobrir. Quando são feios a encher, as tábuas aplicam-se uma a seguir à outra (Fig.
148), no segundo caso, pregam-se primeiro as tábuas de espera com um prego a meio e
seguidamente as de e cobrir com um prego de cada lado (Fig. 149).
Fig. 148 – Corte de forro de meio-fio com tábuas
a encher
Fig. 149 – Corte de forro meio-fio com tábuas de
espera e de cobrir
Forro de macho e fêmea
Este sistema já bastante antigo, aplicado por exemplo na Igreja de São Roque em
Lisboa, no Século XVI, é aquele que permite um acabamento de melhor qualidade.
Aqui as tábuas que possuem um macho de um dos lados e uma fêmea do outro, são
aplicadas a encher (Fig. 150), sendo fixas através de um prego para as vigas no encaixe
macho, o que faz com que após a montagem fiquem invisíveis. É frequente encontrar
estas tábuas com uma pequena moldura do lado do macho.
Fig. 150 – Corte de Forro de macho e fêmea
Forro Sobreposto
O último tipo de forros é o forro sobreposto, também denominado forro de saia e camisa
(Fig. 151).
93
4. Tectos
As tábuas de espera são simplesmente aplainadas. Já as de cobrir são desgastadas de
ambos os lados pelo tardoz, de modo a encaixarem sobre as de espera.
Os cantos das tábuas de cobrir são em geral moldurados com fêmea ou com qualquer
outro perfil muito simples.
Este forro tem com relação ao processo de montagem semelhanças com os anteriores
que tinham tábuas de espera e de cobrir. Em primeiro lugar são pregadas as de espera
com um prego ao centro, tendo o cuidado que fique com o espaçamento correcto, para
que as de cobrir, as camisas, sobre elas assentem perfeitamente.
Como em todos os anteriores, o remate para a parede é feito com uma aba.
Fig. 151 – Corte de forro de tábuas sobrepostas (Pereira da Costa 1955)
4.2.2 Tectos Planos de Esteira Simples
Estes são os tectos mais simples, em que apenas se forra a esteira simples com qualquer
um dos tipos de forro descritos anteriormente (Fig. 152).
Fig. 152 – Tecto plano de esteira simples com forro sobreposto (Pereira da Costa 1955)
94
4. Tectos
4.2.3 Tectos Planos Encabeirados
Os tectos encabeirados têm como base estrutural uma esteira encabeirada, já descrita. O forro
leva a toda a volta as tábuas de cabeira, sendo a parte central feita com qualquer dos sistemas já
descritos (Fig. 153).
Nos cantos, o mais usual era que a ligação entre tábuas fosse feita à meia esquadria (Fig. 154).
Para efectuar a junção das tábuas da esteira central com as de cabeira é utilizada uma moldura
também conhecida por mata-juntas (Fig. 155).
Fig. 153 – Tecto encabeirado, sacristia da Capela de Nª Sra. de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula)
Tábuas de Cabeira
Fig. 154 – Tecto encabeirado, sendo na zona central forrado com tábuas sobrepostas (Pereira da Costa
1955)
95
4. Tectos
Fig. 155 – Corte do tecto anterior (Pereira da Costa 1955)
4.2.4 Tectos moldurados
Os tectos moldurados, são uma variação, com objectivos decorativos, dos tectos
anteriores, em que com um esquema construtivo simples, se pretende conseguir o efeito
dos tectos apainelados (Fig. 156).
Neste forro, o vigamento de esteira é forrado com um dos sistemas descritos
anteriormente, exceptuando o de tábuas sobrepostas. Após o tecto estar forrado, são
aplicadas molduras pregadas, que simulam a existência de painéis.
Fig. 156 – Tecto moldurado (Pereira da Costa 1955)
96
4. Tectos
4.2.5 Tectos apainelados
Para executar este tipo de forros, tem que se colocar chincareis em todos os locais
necessários, isto é, onde se façam as junções entre os vários painéis, de modo a que os
topos das tábuas tenham apoio.
Nos tectos de forro apainelado também se costuma fazer o encabeiramento, que às
vezes conta três ou mais tábuas (Fig. 157).
O método para a execução é, de acordo com P. da Costa, o seguinte “O traçado para os
apainelados é obtido dividindo a superfície a cobrir, no número de partes iguais, que
fique de acordo com a planta do tecto. A sua marcação no vigamento da esteira é feita
com cordéis fixados em pregos apontadas.
Para a boa execução destes tectos constituídos por painéis, é da maior conveniência
desenhar-se a planta pormenorizada da esteira, mesmo que se estude o tecto
propriamente dito. É segundo a planta, que se faz a construção da estrutura do tecto”.
Fig. 157 – Tecto encabeirado apainelado (Pereira da Costa 1955)
4.2.6 Tectos de masseira
Os tectos de masseira, caracterizam-se por terem uma zona plana central e panos
inclinados para as paredes. Quatro se forem de planta quadrada ou rectangular (Fig.
158) e oito se forem oitavados (Fig. 159). Neste caso, o remate para a parede nos cantos
faz-se através de peças triangulares, as trompas planas. Usam-se em Portugal desde,
pelo menos, o início do Século XV, e continuam a ser feitos actualmente. Esta
designação usa-se independentemente da estrutura construtiva que se encontra
subjacente.
97
4. Tectos
Fig. 158 – Tecto de masseira rectangular, apainelado, com forro sobreposto, Convento do Sacramento,
Lisboa (fotografia do autor)
Fig. 159 – Tecto de masseira oitavado, apainelado, com forro sobreposto e painéis separados por
molduras de grande espessura, Paços do Concelho, Góis (fotografia Tacula)
Para o revestimento da masseira podem ser usados quaisquer dos forros já vistos
anteriormente para os tectos planos, nomeadamente com tábuas largas ou estreitas,
sobrepostas, encostadas, de meio-fio e de macho e fêmea (Costa, Pereira da, 1955).
No entanto, por questões decorativas, são normalmente apainelados com forro de
tábuas sobrepostas.
98
4. Tectos
A união entre as masseiras (os planos inclinados) e entre estas e a esteira central é
rematada através da aplicação de molduras que funcionam como tapa juntas. A aba é
frequentemente moldurada.
4.2.7 Tectos Sanqueados
Designam-se por tectos sanqueados aqueles que fazem a sua ligação com as
paredes por grandes círculos, que são as sancas (Costa, Pereira da1995) (Fig. 160)
Fig. 160 – Tecto sanqueado, apainelado com forro a encher, Igreja de São Miguel de Alfama (fotografia
Tacula)
Se o tecto é de forro a encher, também se enche a sanca, no entanto esta enche-se com
réguas mais estreitas, que o são tanto mais, quanto menor for o raio de curvatura, para
poder dar-se a volta sem prejudicar a perfeição do arco. O forro mais indicado para este
caso é o de macho e fêmea45.
O afagamento deste sanqueado, era feito com a plaina de volta ou de curvas e com o
raspador de curvas.
Algumas vezes o tecto liga com a sanca sem qualquer interrupção, outras vezes fica
separado por fasquias, ou réguas molduradas ou lisas.
45
De acordo com P. da Costa
99
4. Tectos
4.2.7 Tectos Artesoados
Chamam-se de artezões ou de caixotões os tectos de vigamento à vista, que providos de
chinchareis formam como que umas caixas decoradas, em que por vezes predomina a
talha (Pereira da Costa 1955) (Fig. 162 e Fig. 163).
Como a estrutura se destina a ficar visível, o vigamento é todo ele aplainado e as suas
arestas inferiores são molduradas.
Construtivamente são semelhantes aos tectos de esteira simples, sendo que o
assentamento dos chinchareis, que é logo feito a seguir à esteira, fica regulado de
maneira que as molduras das suas arestas e das vigas liguem bem, à meia-esquadria,
sem deixarem fendas e imperfeições de montagens.
Em seguida assentam-se os caixotões, que são previamente preparados fora do seu
lugar.
Quando o tecto fica no vigamento dos pavimentos, os caixotões pregam-se em todos os
lados das caixas constituídas pelas vigas e chinchareis, para depois se fixarem neles os
tectos dos caixotões (Fig. 161).
Quando o tecto é feito numa esteira livre de pavimentos, os caixotões podem ser
metidos por cima e assim fixados.
Os tectos dos caixotões propriamente ditos, são constituídos por uns tampos engradados
e almofadados, com molduras que se fixam para os serrafões, que previamente se
pregaram nas vigas, para esse fim.
Por debaixo desses tectos, são pregados para as vigas umas guarnições ou fasquias
molduradas que os sustém.
Fig. 161 – Tectos de caixotões, aplicado usando o vigamento do piso superior e independente, isto é, um
tecto falso ( Pereira da Costa)
100
4. Tectos
Fig. 162 – Tecto de caixotões, sacristia da Capela de Nª. Sra. da Esperança, Sátão (fotografia Tacula)
Fig. 163 – Tecto de caixotões em abóbada de berço, capela-mor da Capela de Nª. Sra. da Esperança,
Sátão (fotografia Tacula)
101
4. Tectos
4.3 Estuque
O estuque foi utilizado em Portugal desde pelo menos a ocupação romana, conforme
atestado por fragmentos encontrados em sítios arqueológicos. O revestimento mais
antigo ainda existente, datado do período Manuelino, encontra-se no deambulatório da
Charola do Convento de Cristo em Tomar (Fig. 164).
Contrariamente ao reboco utilizado anteriormente em trabalhos de pintura mural a
fresco, de que existem variadíssimos exemplares, que era elaborado através de misturas
de cal e areia, o estuque obtém-se misturando cal e gesso. Por vezes, era adicionado
também um agregado, como por exemplo, o pó de pedra.
Só a partir do Século XVIII, é que esta técnica se difundiu em Portugal, ainda em pleno
período Barroco, continuando sempre presente até ao início do século XX.
Fig. 164 – Estuques da Charola do Convento de Cristo em Tomar (fotografia Tacula)
Construtivamente, as estruturas que suportam os tectos estucados, seguem o que já foi
descrito para os tectos de madeira. A grande diferença surge ao nível do forro.
Para segurar o estuque, é aplicado um fasquiado na face inferior do tecto, constituído por
fasquias de madeira de secção trapezoidal, que servem para aplicar o estuque.
102
4. Tectos
4.2.1 Tectos Estucados
Para a aplicação das fasquias, pregadas à esteira, o fasquiador separava-as de cerca de
15 mm, o que em termos práticos era dado pela espessura do seu polegar. Aplicando-as
no sentido perpendicular ao do vigamento de esteira. As fasquias tinham de espessura
cerca de 15 mm e a sua largura máxima era de 20mm.
Eram aplicadas com a face mais estreita para cima, o que permitia que a primeira
camada de reboco, o pardo não caísse (Fig. 165).
Fig. 165 – Tecto estucado antes e após a aplicação do estuque, cortes transversal e longitudinal (P.da
Costa)
Para permitir um nivelamento perfeito do fasquiado, todos os defeitos das vigas tinham
que ser corrigidos. Se houvesse excesso de madeira esta era desbastada, caso o
problema fosse falta de madeira, era calçada com uma fasquia com a espessura
necessária ao nivelamento da reentrância existente.
O prolongamento das fasquias era feito sempre sobre uma viga de modo a conferir a
necessária robustez à união, que era efectuada através de chanfro.
As fasquias eram originalmente feitas de casquinha, tendo posteriormente passado a ser
feitas de pinho. Para este não rachar ao ser pregado, era molhado, o que provocava
problemas de fracturas no estuque em virtude da contracção durante a secagem,
problemas que também surgiam com a própria humidade do estuque.
O enchimento era efectuado com uma argamassa denominada pardo, camada de
enchimento ou reboco, constituído por cal aérea e areia, ao traço de 1 : 2. A sua
espessura abaixo do fasquiado era de cerca de 5 mm.
103
4. Tectos
Após a secagem do reboco, aplicava-se o esboço ou camada de preparação, que era feito
com pasta de cal, gesso e areia, aplicada sobre a camada precedente com uma espessura
de 3 a 5 mm.
Só no final era aplicado o estuque ou camada de acabamento sobre o esboço após a sua
secagem, constituída por pasta de cal e gesso, tendo uma espessura de cerca de 3 mm.
Todas as molduras e peças decorativas frequentemente aplicadas como decoração, são
apenas elaboradas com gesso.
104
5. Técnicas Decorativas
5. TÉCNICAS DECORATIVAS
5.1 Introdução
Exceptuando casos de tectos muito simples, sem qualquer função decorativa, todos os
outros apresentam algum tipo de decoração. Pretende-se aqui, apresentar as mais
importantes técnicas utilizadas para a decoração, através dum levantamento
exemplificativo, mas não exaustivo, devido às inúmeras variações de técnicas que
ocorreram ao longo do tempo e às adaptações que foram feitas localmente.
Como referido, existe quase sempre alguma forma de decoração nos tectos. Nos casos
mais simples de tectos em madeira, em que a estrutura ficava à vista, como por exemplo
nos alfarges, as vigas apresentavam em geral, entalhes formando riscos no sentido
longitudinal, a decoração gramillada. Em tectos mais “ricos”, estas davam lugar a
motivos decorativos entalhados, por vezes bastante complexos. Destes sistemas simples,
evoluiu-se para tectos com molduras de talha bastante complexas, até se chegar a tectos
em que todos os elementos são entalhados.
No entanto, a grande maioria dos tectos apresentava outros tipos de decoração, através
do recurso a várias técnicas, nomeadamente o douramento, a pintura a têmpera, a óleo e
a fresco (esta só usada para os tectos de estuque). No final do capitulo refere-se, ainda, a
marrouflage, isto é o revestimento com telas ou papel de parede.
5.2 Técnicas decorativas para tectos de madeira
5.2.1 Douramento
O douramento, é uma técnica antiquíssima, já largamente difundida ente os egípcios.
Em tectos, nos exemplares existentes, aplica-se pelo menos desde o Séc. XV, como se
pode apreciar nos exemplares mudéjares existentes no museu Machado de Castro (Fig.
166), em que esta forma decorativa é aplicada.
105
5. Técnicas Decorativas
Fig. 166 – Pormenor de Taugel do Museu Machado de Castro com douramento (fotografia Tacula)
O douramento, consiste na aplicação de folha de ouro a um suporte, utilizando um de
dois métodos: o douramento a água ou brunido e o douramento a mordente ou a fosco.
O material essencial para o douramento, é a folha de ouro, que se pode fabricar com
graus de pureza entre os 18 e os 24 kilates. No entanto, na prática, para se obter folhas
com as condições necessárias de trabalhabilidade, este intervalo reduz-se para entre 18 a
23,75K. Verificou-se através de um estudo efectuado entre o Departamento de Materiais
do Instituto Superior Técnico e a DGEMN46, para análise da composição destas folhas,
que na época barroca, as ligas teriam uma percentagem de ouro (Au) na ordem dos 96,6
a 98,9% , sendo o restante constituído por prata (Ag) e cobre (Cu) em percentagens
variáveis. Esta variação altera a tonalidade da liga, sendo que a uma maior concentração
de prata corresponde um tom mais amarelo e a uma maior de cobre corresponde um tom
mais vermelho.
O ouro era martelado manualmente até se obter uma espessura de folha da ordem dos
125 nm.
Para a aplicação do douramento a água, a superfície de madeira necessitava de estar
limpa e desengordurada. Em seguida, era aplicada uma camada de cola animal, diluída
em água e aquecida a cerca de 70º C, a pincel para isolar a madeira.
A camada seguinte, a preparação, era obtida, diluindo cola animal em água, até obter a
consistência conveniente, observada de forma empírica pelos douradores, sendo esta
mistura denominada cola base. As proporções variavam consoante a qualidade da cola
usada, no entanto em termos médios, seria na ordem de uma parte de cola para sete de
água (em volume).
46
Marques, Maria Teresa – Análise do Revestimento Metálico de Talha dourada Barroca por MET/EDS
106
5. Técnicas Decorativas
Seguidamente adicionava-se cré, com a solução de água e cola, a 70º, lentamente e
mexendo vagarosamente com um pincel, sem que este saísse da mistura, uma vez que a
introdução de bolhas de ar, que ficariam retidas na mistura, iriam surgir depois da
aplicação à superfície. Esta pasta estaria pronta, quando se atingisse a saturação, isto é
quando não fosse capaz de diluir mais cré.
Esta preparação, era seguidamente aplicada com pincéis muito macios, os pitoás,
actualmente feitos com pelo de marta. Este tipo de pelo, é utilizado, uma vez que por ser
extremamente macio, quase não deixa marcas.
A superfície é lixada entre cada aplicação. Tradicionalmente, o número de aplicações
era de sete, quantidade que os douradores consideravam a ideal para obter um
acabamento perfeitamente liso.
Sobre esta camada era então aplicada uma outra, colorida, composta por uma mistura de
argila da Arménia e cola animal, o bolus ou bolo. Era também aplicada em várias
camadas até se obter a espessura correcta.
Nesta superfície, após humedecimento com água de cola, isto é água com uma pequena
quantidade de cola diluída, aplicava-se o ouro em folha com a ajuda de um pincel.
Para acabamento, brunia-se então o ouro com os brunidores de ágata, obtendo-se assim
um efeito de laminagem a frio, que para além de conferir um grande brilho ao ouro,
assegurava uma grande durabilidade.
O processo de douramento a mordente, era mais simples. Efectuavam-se os dois
primeiros passos como para o douramento a água, isto é, a madeira era isolada com uma
cola base e era aplicada em seguida a preparação de gesso cré e cola. Em seguida a
preparação era isolada com verniz, usualmente goma laca diluída em etanol. Este
envernizamento, para além de funcionar como tapa-poros, tornava também a superfície
mais polida com a aplicação de várias demãos. Finalmente aplicava-se o mordente,
constituído primordialmente por óleo de linhaça, que actuava como cola para a folha de
ouro.
Embora os douramentos em princípio não necessitassem de camada de protecção, a cola
animal era por vezes aplicada para variar o brilho, por motivos estéticos, mais brilhante
ou mais mate.
Foram também utilizadas camadas de protecção baseadas em goma-laca, goma dammar
ou cera de abelhas.
Existiram outros tipos de douramento, baseados por exemplo na utilização de clara de
ovo como cola, sendo os passos a efectuar semelhantes aos do douramento a mordente.
107
5. Técnicas Decorativas
Em Portugal, em épocas mais recentes, eventualmente a partir do século XVIII, passouse a dourar com prata, isto é a pratear. A causa desta alteração no procedimento deveuse provavelmente a uma cada vez maior dificuldade em aceder com facilidade ao ouro
que até aí era facilmente acessível, vindo do Brasil. As técnicas de aplicação eram
idênticas às do ouro, mas para conseguir a cor dourada aplicava-se um verniz final,
sobre a folha metálica, constituído por goma-laca diluída em etanol a que era adicionado
ácido pícrico e anilina solúvel em álcool. Esta técnica denomina-se prateamento com
douradura.
O douramento a ouro falso, também conhecido por ouro alemão, é feito com a aplicação
de folhas de latão (ligas de cobre e zinco), e é normalmente aplicado a mordente. Estas
folhas oxidam com relativa rapidez, razão pela qual não eram frequentemente aplicadas
surgindo quase sempre em restauros posteriores. Com este tipo de folha metálica é
sempre necessária a aplicação de um verniz de acabamento para tentar retardar a sua
degradação
5.2.2 Pintura
A pintura é um dos mais antigos métodos decorativos aplicados aos tectos, sendo o mais
antigo tecto pintado a têmpera existente, o da nave da Igreja de Nossa Senhora da
Oliveira em Guimarães (Fig. 167), atribuído ao inicio do século XV e o mais antigo a
óleo o do sub-coro da Igreja do Salvador em Coimbra, atribuído ao inicio do século
XVI.
Fig. 167 – Pormenor da pintura a têmpera da Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, Guimarães (fotografia
DGEMN)
108
5. Técnicas Decorativas
Pintura a Têmpera
A pintura a têmpera, é uma técnica em que se utilizam ligantes proteicos, para aglutinar
os pigmentos. Apresenta algumas vantagens em relação às tintas de óleo, uma vez que
as cores se alteram menos e o processo de secagem ocorre por evaporação, o que não
origina os problemas de craclet, característico do envelhecimento das pinturas a óleo.
O veículo para pintar a têmpera, é composto por uma emulsão estável, aquosa com uma
substância oleosa, gorda, cerosa ou resinosa.
Um dos mais antigos ligantes utilizados é a gema de ovo pura, que contem uma
substância não secante, a lecitina, misturada com outra de secagem rápida, a albumina.
A albumina pertence a uma classe de proteínas que coagula com o calor, o que se
observa quando se coze um ovo. Esta propriedade manifesta-se também quando é
aplicada em películas finas.
Após a secagem, estas tintas tornam-se resistentes e insolúveis, o que lhes confere uma
grande durabilidade em condições normais.
Para a preparação da têmpera de gema de ovo, separa-se a gema da clara
cuidadosamente, de maneira a que não fiquem restos de clara (água e albumina pura),
uma vez que a gema é uma emulsão equilibrada, deixando de o ser se se aumentar a
quantidade de albumina. O problema de aumentar a percentagem desta substância não
surge no produto final, mas sim no aumento da velocidade de secagem que dificulta a
trabalhabilidade do produto.
Em seguida, seca-se a gema fazendo-a rolar sobre um tecido, de modo a retirar os
vestígios de clara ainda existentes. Para finalizar, segurando a gema com os dedos,
perfura-se, deixando a gema verter para um recipiente.
Os pigmentos, moem-se num almofariz adicionando água destilada, sendo depois esta
pasta conservada em frascos hermeticamente fechados.
Para a preparação da tinta, misturam-se partes iguais em volume, de pasta de pigmento
com a gema, sendo que alguns autores aconselham a que se misture um pouco de água,
entre 1/6 a 1/8 do volume para tornar a tinta mais fluida.
Utilizou-se também pintura a têmpera, em que o aglutinante era a cola animal, neste
caso, a tinta era preparada com cola, água, cré e os pigmentos necessários.
A pintura a têmpera, era normalmente aplicada sobre uma preparação de gesso cré com
cola animal, semelhante à utilizada para o douramento. Esta preparação podia ser
109
5. Técnicas Decorativas
isolada com cola de gelatina, goma laca, cola de caseína ou água de ovo, esta ultima
feita diluindo uma pequena colher de gema de ovo num copo de água.
Foram utilizadas têmperas com emulsões de gema de ovo e óleos, no entanto estas tintas
já não têm as características da têmpera pura de gema, aproximando-se mais da pintura
a óleo.
Pintura a Óleo
A pintura a óleo (Fig. 168), uma técnica usada desde a idade média, consiste
fundamentalmente na aglutinação de pigmentos com um óleo vegetal, normalmente o
óleo de linhaça, prensado a frio, com um índice de acidez alto. A preparação da madeira
era feita de forma semelhante à da utilizada para a têmpera, uma mistura de cola animal
com carbonato de cálcio a que se adicionava por vezes alvaiade de chumbo (carbonato
de chumbo) ou alvaiade de zinco (óxido de zinco).
Fig. 168 – Tecto pintado a óleo, Paços do Concelho, Góis (fotografia Tacula)
.
110
5. Técnicas Decorativas
5.3 Técnicas decorativas para tectos de estuque
As técnicas para decoração dos tectos de estuque, são semelhantes às usadas para os de
madeira. Utiliza-se assim também o douramento, embora só a mordente, a pintura a
seco com têmperas por vezes de cal, isto é, o pigmento dissolvido em água de cal e a
pintura a óleo. No entanto, há algumas técnicas que são exclusivas dos tectos de
estuque, e das quais se destacam a pintura a fresco e a pintura pela encáustica.
5.3.1 Pintura a fresco
A pintura a fresco (Fig. 169) foi utilizada frequentemente entre nós até ao final da
segunda metade do século XIX, tendo sido abandonada a partir daí.
Consiste na aplicação de pigmentos diluídos em água, aplicados sobre o estuque ainda
fresco. Este método, obriga a que o artista só possa estucar a área que consegue pintar
nesse dia, caso não o faça terá que demolir a área não pintada e recomeçar com estuque
novo no dia seguinte. Cada uma das zonas estucadas diariamente denomina-se giornate.
Fig. 169 – Abóbada da capela-mor da Igreja Matriz de Beja (fotografia Tacula)
111
5. Técnicas Decorativas
5.3.2 Pintura pela encáustica
A encáustica é uma técnica que aparentemente não foi difundida em Portugal, e
consiste, de acordo com a receita do conde de Caylus de 1753 47, em encerar a superfície
a pintar, esfregando-a seguidamente com cré e pintando-a depois com as tintas desfeitas
em água. Para finalizar, as superfícies eram aquecidas, o que levava à fusão da cera que
aglutinava os pigmentos. Obtinha-se deste modo uma pintura extremamente brilhante.
5.4 Marrouflage
A marrouflage, não é na realidade uma técnica decorativa, mas sim a adição de um
novo suporte para a pintura. Nesta técnica, aplica-se tela a cobrir a madeira ou o estuque
e é nela, após lhe ser aplicada uma camada de preparação, normalmente de cré ou
caulino aglutinado com cola animal, que é efectuada a pintura (Fig. 170).
A fixação da tela ao suporte é normalmente feita por colagem com colas de amido de
trigo, sendo que também se encontram exemplos em que a mesma é feita por pregagem,
através de tachas metálicas.
Fig. 170 – Tecto marrouflado da sala anexa ao coro-alto da capela do Colégio do Bom Sucesso
(fotografia Tacula)
47
Telles de Castro, “Pintura Simples”, pág.102, op.cit.
112
5. Técnicas Decorativas
A aplicação desta técnica, foi também utilizada para o fecho de juntas entre as tábuas do
forro (Fig. 171). Neste caso, eram coladas tiras estreitas de tecido, que faziam a união
entre as tábuas, sendo aplicada em seguida uma camada de preparação de carbonato de
cálcio e cola animal para uniformizar toda a superfície. Esta era então pintada. Com este
método conseguiam-se obter superfícies completamente lisas, sem juntas.
Fig. 171 – Pormenor de juntas forradas com tiras de tecido (em destacamento), Igreja de São Pedro da
Ericeira (fotografia Tacula)
Dentro deste tipo de técnica, pode-se ainda incluir a decoração com papel de parede
(Fig. 172). Esta técnica vulgarizou-se durante o século XIX, em ambientes Românticos.
Segue a técnica da marrouflage, alterando-se apenas o material de revestimento.
Fig. 172 – Tecto revestido a papel de parede, Palácio de Monserrate, Sintra (fotografia Tacula)
113
6. Causas de Degradação
6. CAUSAS DE DEGRADAÇÃO
6.1 Introdução
Neste capítulo, pretende-se dar uma perspectiva geral das causas de degradação dos
tectos, sem ser exaustiva, uma vez que a vastidão do tema, seria por si só suficiente para
justificar uma nova dissertação. O conhecimento e compreensão destes factores, ajudará
a estabelecer as medidas correctivas a aplicar ao edifício, contribuindo para uma melhor
politica de conservação preventiva, o que poderá evitar intervenções profundas, sempre
complexas e onerosas.
Devido à sua construção, em que são utilizados vários materiais, os tectos sofrem ao
longo da sua “vida” várias agressões, que poderão levar em último caso ao seu
desaparecimento. Estas poderão ser de natureza intrínseca aos materiais e técnicas
empregues, ou de natureza extrínseca, isto é, relacionadas com factores externos que
provocam a sua alteração e degradação.
Dos factores intrínsecos, pode-se salientar defeitos dos materiais com que foram
construídos, incompatibilidades entre os vários materiais e técnicas construtivas
utilizadas.
Nos extrínsecos predominam os de carácter ambiental, no qual se destaca a humidade,
desencadeando graves factores de degradação, como os ataques de ordem biológica.
Surgem neste campo também os acidentais, como terramotos, incêndios, etc.
Por último, a acção humana revela-se como um factor extremamente danoso. O homem
é uma das maiores causas de destruição deste património, com intervenções incorrectas,
negligência, e sobretudo por alterações dos critérios estéticos que levam à destruição e
substituição de estruturas por outras, simplesmente pela alteração da moda ao longo dos
tempos.
6.2 Degradação do suporte de madeira
A principal causa de degradação dos tectos, é a presença de água, esta ocorre devido
sobretudo, à falta de estanquidade das coberturas. Embora a água, por si só, não altere
grandemente a madeira, o fenómeno de secagem e molhagem, provoca fendas de
retracção que causam grandes danos na estrutura, e também na parte decorativa (Fig.
173), levando à queda de peças, à separação dos painéis decorativos, etc.
114
6. Causas de Degradação
Fig. 173 – Fenda de retracção em painel decorativo (fotografia Tacula)
A presença continuada de água, provocando uma humidade constante na madeira
superior a 20%, propicía as condições ideais para o desenvolvimento de fungos de
podridão e para o ataque por térmitas. Os fungos de podridão degradam a estrutura
interna da madeira, ao consumirem a lenhina ou a celulose, (conforme a sua espécie), o
que causa a degradação das estruturas, com a consequente perda da sua resistência
mecânica (Fig. 176).
Acresce a este factor o facto de o extradorso dos tectos ser normalmente uma área de
difícil acesso, o que leva a que quando se detectam anomalias na face visível, seja já um
indício de problemas graves. A acumulação de lixo de variadíssimas proveniências no
extradorso dos tectos, potencia a degradação ao funcionar como reservatório de
humidade (Fig. 174).
Fig. 174 – Acumulação de lixo (fotografia Tacula)
115
6. Causas de Degradação
Ao nível estrutural, a podridão, embora possa ocorrer em qualquer ponto da estrutura, é
mais frequente na zona de contacto das vigas com as paredes, levando à destruição das
pontas destas e ao desaparecimento dos frechais (Fig. 175), desequilibrando o tecto.
Fig. 175 – Apodrecimento generalizado (fotografia Tacula)
Fig. 176 – Pormenor de podridão cubicular associada a ataque de caruncho (fotografia Tacula)
116
6. Causas de Degradação
As térmitas, que infestam madeiras húmidas, encontram também neste ambiente
condições propícias ao seu desenvolvimento, causando a nível estrutural problemas
semelhantes aos dos fungos, isto é a destruição da estrutura interna da madeira.
Os carunchos, não necessitando de ambientes húmidos, são uma das causas de
deterioração mais graves, pois atacam a estrutura mesmo que as condições de
conservação preventiva se tenham mantido. Estes insectos, depositam os seus ovos em
zonas de madeira limpa, isto é de madeira à vista, não o fazendo em locais em que esta
esteja protegida, quer por ceras, tintas ou douramento. Assim, constata-se em obra que
quando se observam orifícios de eclosão nessas zonas protegidas é de suspeitar que
exista uma infestação generalizada pelo reverso.
As madeiras mais vulgares na construção de tectos são o carvalho e o castanho, bastante
resistentes a estes ataques, embora também surjam exemplares de pinho, casquinha e
por vazes nogueira. No entanto, o restauro ao longo dos tempos com madeiras menos
duráveis como é o caso do pinho, leva a que estas peças de restauro actuem como focos
de infestação e degradação.
O homem, é outra das causas do desaparecimento de tectos, quer por negligência, por
moda ou simples vandalismo. Com relação à negligência, os factores apontados
anteriormente, evidenciando a falta de manutenção a que estas estruturas são sujeitas,
são desde logo suficientes para ilustrar o pouco cuidado posto na preservação deste
espólio patrimonial.
Fig. 177 – Reaproveitamento de tecto policromo para execução de guarda-pó, Igreja de Santa Maria do
Castelo, Pinhel (fotografia Tacula)
117
6. Causas de Degradação
Para além deste factor, a alteração do gosto estético leva a que tectos sejam travestidos
ou simplesmente destruídos. É frequente, a descoberta de tectos anteriores ocultos por
novos (Fig. 178), o reaproveitamento de peças de tectos para outras funções (Fig. 177),
ou mesmo a adição de novos elementos que descaracterizam o tecto primitivo, dando
como exemplo os dois casos ilustrados a seguir.
Fig. 178 – Construção de novo tecto ocultando o anterior, de que ainda são visíveis os tirantes mudéjares,
Igreja de Marmeleiro (fotografiaDGEMN)
6.2 Degradação da pintura e do douramento
Em tectos, as causas de degradação da policromia e do douramento, são indissociáveis
das já referidas anteriormente e que afectam o suporte. Assim, a presença de água com a
consequente degradação do suporte de madeira, constitui a principal causa de
degradação da camada decorativa.
Esta degradação, provoca a desagregação da decoração, com a sua perda.
Fig. 179 – Perda de painéis decorativos, Igreja Matriz de Loures (fotografia Tacula)
118
6. Causas de Degradação
Os ciclos de secagem/molhagem do suporte com as consequentes dilatações e
contracções provocam o aparecimento de bolsas de destacamento ao nível da camada de
preparação da pintura/douramento, que com o tempo tendem a cair e perderem-se
irremediavelmente.
Fig. 180 – Pormenor de várias patologias: destacamento da camada cromática, escorridos devido a
infiltrações, apodrecimento da madeira e fendas provocadas pela oxidação dos cravos (fotografia Tacula)
Simultaneamente, a presença da água, propicia as condições necessárias para o
desenvolvimento de fungos e bactérias que vão destruindo o ligante, normalmente de
natureza orgânica, quer da preparação, quer da policromia, provocando a sua
desagregação, que se manifesta através de uma pulverulência generalizada das zonas
afectadas.
Com relação a este fenómeno, o ouro, enquanto metal estável, não é afectado, mas
destaca-se uma vez que a camada preparatória deixou de exercer a sua função (Fig.
181).
Para além dos factores já enunciados, a radiação ultra-violeta produz alterações nos
pigmentos que vão alterar a coloração da superfície decorativa.
É também de realçar na camada de protecção (geralmente verniz), frequentemente
aplicada sobre a pintura, a ocorrência de vários fenómenos de oxidação, que provocam
119
6. Causas de Degradação
quer o escurecimento, quer o embaciamento (chansis), que prejudicam a
perceptibilidade da composição. Este fenómeno, é potenciado dentro das igrejas pelo
acumular de fuligem proveniente das velas.
Fig. 181 – Perda do douramento por degradação do mordente (fotografia Tacula)
6.3 Degradação dos estuques
Os estuques, sofrem de todas as patologias descritas anteriormente, uma vez que o
material estrutural é o mesmo, a madeira e se pode considerar o estuque em si o
equivalente á fina camada de preparação aplicada sobre os forros em madeira.
Também ao nível de decoração as patologias são semelhantes.
No entanto, sendo as camadas de argamassa mais espessas do que as de preparação
abordadas anteriormente, surgem alguns problemas com uma amplitude diferente.
Os estuques são mais afectados pela degradação das estruturas e do fasquiado, pois
tendo maior peso e rigidez, não suportam tão bem variações dimensionais como os
forros de madeira, tendo maior tendência a fissurar. O seu maior peso, causa também
uma maior probabilidade de se destacarem quando existem problemas de apodrecimento
do fasquiado (Fig. 182). São também mais susceptíveis a vibrações.
120
6. Causas de Degradação
Fig. 182 – Perda de estuque por apodrecimento do fasquiado. É também observável a perda de elementos
decorativos (fotografia Tacula)
Além disto, a presença de água pode provocar a desagregação do estuque através do
surgimento de sais com eflorescências superficiais (Fig. 185 e Fig. 186) ou
criptoflorescências entre as camadas. As últimas causam por vezes a separação entre as
várias camadas, levando à sua queda. (Fig. 183)
Fig. 183 – Queda de estuque por perda de coesão entre camadas, causada por sais. É visível, do lado
esquerdo da imagem o desaparecimento da policromia pela mesma causa (fotografia Manuela Rocha)
121
6. Causas de Degradação
Em síntese, as principais anomalias que se registam nos estuques dos tectos, bem como
as causas responsáveis, encontram-se sistematizadas por J. e N. Ashurst (1988),
conforme indicado em seguida48:
a) Descaimentos, devido à corrosão dos elementos de fixação do fasquiado ou à
degradação das madeiras, por acção de fungos, bolores e ataque de insectos;
b) Fissuração contínua, devido a cedência do vigamento, com deslocação nas zonas de
apoio e nos entalhes, e à perda de fixação do estuque ao fasquiado, originada por má
execução inicial;
c) Fissuração irregular (Fig. 184), de configuração aleatória, devida às variações
térmicas do suporte (neste caso, desde que não existam desnivelamentos entre as duas
superfícies, a fissuração não é crítica para a estabilidade do tecto);
d) Apodrecimento dos topos das vigas de madeira, inseridas nas paredes, por falta de
ventilação;
e) Descoloração de áreas pintadas ou manchas, em resultado da humidade.
O quadro patológico apresentado, resultante da combinação de uma série de deficiências
construtivas com diferentes efeitos, comprova a importância e necessidade de
verificação das condições das zonas ocultas do tecto antes de qualquer intervenção, com
vista a avaliar a extensão e as condições das anomalias.
Fig. 184 – Fissuração do estuque (fotografia Tacula)
48
Citado por Cotrim, Hélder et al. 2005
122
6. Causas de Degradação
Fig. 185 – Destacamento da policromia por efeito de sais (fotografia Tacula)
Fig. 186 – Pulverulência da superfície por efeito de sais, conduzindo à perda de policromia e elementos
decorativos (fotografia Tacula)
123
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
7. METODOLOGIAS DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE TECTOS
7.1 Introdução
As intervenções de conservação e restauro de tectos, revelam-se bastante complexas,
pois é necessário equacionar todo o sistema construtivo. Começando pela estrutura de
suporte, passando para o forro, de madeira ou estuque e terminando no revestimento
decorativo que, quer nos casos de tectos de madeira ou de estuque, pode ser
douramento, pintura ou pintura sobre tela.
Para intervir nos tectos, deverá ser seguida uma metodologia concordante com os
princípios, das convenções, cartas, normas e regulamentos aceites internacionalmente,
(ratificadas por Portugal, enquanto membro da UNESCO, do ICCROM, do ICOMOS e
da Comissão Europeia), sendo à partida, estabelecidas várias condicionantes no que se
refere à técnica e ética a seguir.
Podem-se definir os seguintes princípios orientadores das intervenções de conservação e
restauro de tectos, os quais são generalizáveis para diversas situações de intervenção em
património arquitectónico:
1) Intervenção mínima e preservação da autenticidade a nível histórico e
construtivo;
2) Utilização de um número limitado de produtos, materiais e técnicas, tendo e
conta a sua estabilidade, compatibilidade e sobretudo a sua reversibilidade e/ou a
retratabilidade, (considerando retratabilidade o conceito, de que após o fim da
vida útil do tratamento ou produto, será possível, ainda que este não seja
reversível, efectuar um novo tratamento);
3) Não utilização de materiais ou técnicas que modifiquem definitivamente os
materiais originais, quer ao nível da sua constituição, quer ao nível da sua
aparência estética;
4) Dentro dos princípios que regem a conservação preventiva, dever-se-á preservar
sempre a integridade físico-química do objecto a tratar.
124
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
De acordo com os princípios éticos definidos, propõe-se neste capítulo uma
metodologia de intervenção em tectos, que deverá ser adaptada de acordo com o estado
de conservação das peças.
Para além das cartas, convenções e recomendações referentes à preservação de
património, para a intervenção em tectos e nas suas estruturas, deverão seguir-se ainda
as recomendações do ICOMOS relativas à conservação e restauro de estruturas49,
nomeadamente as seguintes, retiradas da Parte I – Princípios – nº 3 Medidas de
Consolidação e Controlo:
3.4 – Nenhuma acção deve ser empreendida sem se demonstrar que é
indispensável.
3.12 - Qualquer intervenção deve, até onde for possível, respeitar a concepção e
as técnicas de construção originais, bem como o valor histórico da estrutura e da
evidência histórica que representa.
3.15 – A reparação é sempre preferível à substituição.
3.16 - Quando as imperfeições e alterações se tornaram parte da história da
estrutura, estas devem ser mantidas, desde que não comprometam as exigências de
segurança.
3.17 – O desmonte e a reconstrução só devem ser efectuados quando exigidos
pela natureza dos materiais e da estrutura, e/ou quando a conservação por outros meios
resulte mais danosa.
Assim, tendo em conta estes aspectos e o critério da intervenção mínima e da
preservação da autenticidade histórica, recomendam-se os cuidados nas intervenções:
A intervenção deve iniciar-se com um levantamento rigoroso de patologias, para
aferição concreta do estado de conservação destas peças arquitectónicas,
recorrendo a desmontes parciais para acesso e diagnóstico, utilizando as zonas
em que se produza menor dano à policromia e douramento;
Recomendações para a análise, conservação e restauro estrutural do património arquitectónico –
ICOMOS – edição portuguesa traduzida por Paulo B. Lourenço e Daniel V.Oliveira – Universidade do
Minho
49
125
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Só após um rigoroso estudo do estado de conservação, deverá ser estabelecido o
critério de intervenção, procurando, sempre que possível, optar por tratamentos
in situ, sem desmontagem total;
Caso se decida por desmontagem parcial, esta deverá ser efectuada de modo a
que se possa efectuar a limpeza, consolidação e desinfestação pelo tardoz das
peças.
Do princípio da conservação preventiva, com o objectivo de assegurar a estabilidade
físico-química dos objectos, recomenda-se que se mantenham no seu espaço original
todas as peças, uma vez que as variações ambientais bruscas, especialmente as de
humidade e temperatura, provocam variações dimensionais nas peças de madeira com
consequências graves para a policromia e douramento. É normalmente considerada
como a variação limite máxima de humidade relativa do ar a que uma peça está exposta,
os 5% por mês, de modo a que se minimizem os danos. Só se deverá retirar peças para
tratamento em oficina, no caso de se possuírem oficinas climatizadas com controlo
contínuo de humidade e temperatura, que não permitam variações para além deste
limite.
A abordagem da intervenção em estruturas de madeira, é obviamente condicionada
pelas camadas sobrepostas, forro de madeira, de estuque e existência ou não de pintura
sobre madeira, pintura sobre tela ou douramento.
No entanto, existem alguns procedimentos que se podem considerar válidos para
qualquer sistema construtivo.
a) Levantamento o mais exaustivo possível do sistema construtivo e a sua análise
histórica;
b) Mapeamento de patologias e levantamento das causas de degradação;
c) Correcção das causas de degradação antes do inicio da intervenção no tecto;
d) Estabelecimento de uma metodologia de trabalho, de acordo com os princípios
da
intervenção
mínima,
da
reversibilidade,
da
retratabilidade
e
da
compatibilidade de materiais.
Só após a execução destes passos, em especial da alínea d), será possível definir a
metodologia de execução e o respectivo caderno de encargos.
126
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Os tectos, são constituídos pelos seus componentes, e deverá ter-se em conta que a sua
desmontagem implica, em geral, a perda de estabilidade da estrutura e danos
irreversíveis na sua parte decorativa. Assim, só deve ser contemplada a sua
desmontagem como último recurso, nomeadamente quando esta desmontagem for
menos danosa do que o tratamento in situ.
Caso o tecto seja policromado ou dourado (ou com ambas as técnicas), para além dos
itens enunciados anteriormente deverão ser previstas ainda análises complementares aos
ligantes, cargas e pigmentos ou estudos da composição da folha metálica.
Tal como se recomenda para as intervenções sobre as estruturas dos tectos, o tratamento
da policromia e/ou douramento deverá ser preferencialmente realizado no local de
origem, para evitar desmontagens, sempre danosas, e alterações dos factores ambientais.
Para os tectos em estuque a metodologia de diagnóstico e de intervenção, segue
sensivelmente a metodologia enunciada.
7.2 Princípios para intervenção nas madeiras
Os princípios enunciados anteriormente, limitam substancialmente as técnicas a utilizar,
uma vez que se preconiza a manutenção do máximo de elementos existentes, intervindo
com uma intensidade mínima.
Pelo exposto, descriminar-se-ão a seguir as técnicas que, através da experiência do autor
em obra, melhor cumprem estes critérios.
7.2.1 Reparação e reforço da estrutura
Para evitar a desmontagem, deve-se optar por técnicas pouco intrusivas, sendo a
aplicação de próteses (Fig. 187) e de reforços, aquelas que melhor cumprem os
princípios da intervenção mínima e da de manutenção da autenticidade histórica.
No caso de vigas e no caso de perda total de segmentos das mesmas, é recomendável
que estas lacunas sejam preenchidas com próteses, preferencialmente de madeira. Para a
aplicação destas próteses, deverá ser retirada a madeira danificada, até se atingir a parte
sã e colada uma nova secção com a execução de empalmes. Esta colagem, para garantir
uma boa resistência mecânica é (actualmente) feita com resinas epóxidas (Fig. 188).
Caso exista um esforço significativo na zona a reparar, poderá esta ser reforçada com
varões de aço inoxidável, fibra de carbono ou fibra de vidro.
127
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
No caso de não ter havido uma perda total da viga, mas apenas redução de secção, esta
poderá ser reforçada com a aplicação de madeira ou de contraplacado, de ambos os
lados, unidos com varão roscado e porcas. Caso a perda de secção não tenha sido
significativa, basta remover as zonas danificadas e aplicar madeira nova simplesmente
colada (Fig. 189).
Fig. 187 – Reparação da entrega à parede de uma viga através de enxertos de madeira sã (fotografia
Tacula)
Fig. 188 – Colagem de viga, Coro da Igreja de Santa Leocádia, Chaves (fotografia Tacula)
128
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 189 – Reparação de viga através de enxertos de madeira nas zonas apodrecidas. É visível um enxerto
para prolongamento e dois para reposição da secção (fotografia Tacula)
A forma de intervenção altera-se substancialmente se a peça que se encontra deteriorada
é decorada, pois torna-se necessário preservar a peça e a sua função decorativa. Restam
nestas circunstâncias, normalmente, duas hipóteses de reparação:
a) Consolidação com resinas acrílicas;
b) Consolidação com resinas epóxidas.
A primeira solução é em termos teórico-éticos mais aceitável, pois em princípio estes
produtos são reversíveis. Na realidade e de acordo com o que vem a ser publicado
ultimamente, começam a obter-se dados que contestam esta pretensa reversibilidade.
A segunda, é reconhecidamente irreversível, mas apresenta a vantagem de proporcionar
a restituição das características de resistência mecânica idênticas, e por vezes
superiores, às da madeira sã.
7.2.2 Reparação de elementos não estruturais
Os elementos abordados neste parágrafo correspondem a elementos não estruturais, mas
com função decorativa, sendo necessário proceder com os cuidados inerentes à
superfície decorada. Neste parágrafo, apenas são abordadas algumas opções de
129
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
tratamento do suporte, sem grande aprofundamento de cada uma dessas técnicas, por
estar fora do âmbito deste trabalho a descrição e análise de todas as técnicas de
intervenção em elementos não estruturais.
As várias técnicas, são vulgarmente escolhidas pela relação qualidade-preço, desde as
mais simples e económicas, até às mais sofisticadas e trabalhosas, raramente utilizadas,
excepto em peças de grande valor artístico.
Deste modo, e considerando para esta descrição de técnicas o tratamento de painéis
policromos, enunciam-se em seguida as técnicas possíveis, desde a mais simples e
básica até à mais complexa.
Consolidação através da impregnação por resinas acrílicas
É a técnica mais em voga actualmente, a mais económica e a de mais fácil aplicação.
Pelo reverso das peças é aplicada uma resina acrílica, diluída num solvente (Fig. 190).
A resina mais utilizada actualmente para este fim, é a que se designa por Paraloid B-72,
fabricada pela Rohm & Haas, um co-polímero de etil-metacrilato, e, ocasionalmente o
Paraloid-B -67, co-polímero de isobutil-metacrilato.
Estas resinas são diluídas em solventes, preferencialmente com uma velocidade de
evaporação lenta, com o objectivo de garantir uma penetração em profundidade. O
solvente mais frequentemente utilizado para este fim é o Xilol para o B-72 e o White
Spirit para o B-67.
Fig. 190 – Tábuas consolidadas através da impregnação de resinas acrílicas (fotografia Tacula)
130
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
A diluição, é efectuada a cerca de 4% de resina, calculada em peso molecular, e
aplicada em várias demãos até se obter o grau de consolidação necessário. É habitual
subir esta concentração para 8, 12 e até 16% nas últimas demãos, para obter um
isolamento superficial.
A utilização de solventes mais voláteis, provoca uma secagem mais rápida com uma
consequente penetração a menor profundidade, conduzindo à formação de uma camada
superficial de grande rigidez mecânica, que poderá produzir danos com o movimento
induzido através das alterações de humidade na madeira.
Outro dos factores a ter em conta na selecção do solvente, é que este não actue como
solvente da camada cromática, pelo que antecipadamente terão que ser efectuados
testes.
Consolidação através da utilização de cola de madeira com serrim
Uma das técnicas tradicionais, é a aplicação de uma mistura de cola de marceneiro, com
serradura. A cola, é constituída por PVA (álcool polivinílico) com gesso cré, sendo
amassada com o serrim até se obter a consistência desejada.
Fig. 191 – Madeira consolidada com cola de marceneiro e serrim, as lacunas de grande dimensão,
encontram-se preenchidas com madeira nova (fotografia Tacula)
131
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Para a utilização deste produto, é retirada a parte lenhosa que se encontra desagregada,
até encontrar uma superfície consistente. Seguidamente aplica-se a mistura, que irá
secar por evaporação, reduzindo grandemente o volume. Repete-se o processo até se
conseguir a espessura definitiva (Fig. 191).
Consolidação através da impregnação por resinas epóxidas
A utilização de resinas epóxidas tem vindo a tornar-se uma técnica cada vez mais
utilizada, embora relativamente contestada, uma vez que após a sua aplicação só pode
ser removida mecanicamente.
Apresenta, no entanto, algumas vantagens ao nível de resistência mecânica, quando
comparada com as acrílicas. O facto de durante o período de cura não haver qualquer
retracção, faz com que todos os vazios sejam preenchidos, conseguindo-se assim uma
resistência tão boa como a da peça sã.
Normalmente, a consolidação com estas resinas a dois componentes, faz-se através da
impregnação com resina líquida para reparar o lenho debilitado, sendo depois aplicada
resina em pasta para preenchimento dos volumes perdidos (Fig. 192 e Fig. 193).
Fig. 192 – Aplicação de resina epóxida para reconstituição de volumes no tardoz das tábuas (fotografia
Tacula)
132
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 193 – Várias tábuas durante o processo de restauro (fotografia Tacula)
Reparação por placagem
A placagem é um dos métodos tradicionais de reparação de suportes em madeira que
requer mão-de-obra mais especializada, e com custos mais elevados.
No reverso do painel a intervir, é desgastado todo o lenho debilitado, até se atingir uma
camada sã. Caso toda a madeira esteja destruída até à superfície policroma, conserva-se
apenas uma pequena espessura, que se consolida com um dos processos anteriores, por
exemplo as resinas acrílicas.
Seguidamente, são preparadas réguas de pequena espessura que são cortadas em
pedaços de forma trapezoidal, e que vão sendo sucessivamente colados até se revestir
toda a superfície danificada. Estas peças são coladas apenas nas faces, mantendo os
topos livres, de modo a permitir algum movimento longitudinal.
São aplicadas em camadas sucessivas até se obter a espessura desejada, conforme
representado nas fotografias seguintes (Fig. 194 e Fig. 195), que ilustram uma reparação
por placagem. Nesse exemplo, a peça não pertence a um tecto, mas sim a um painel
originalmente pertencente a um retábulo, cuja pintura é atribuída a Garcia Fernandes
(Sec. XVI), actualmente em exposição no Museu Municipal de Óbidos.
133
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 194 – Pormenor da colagem das placas (fotografia Tacula)
Fig. 195 – Vista geral do painel em reparação (fotografia Tacula)
134
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Reparação por placagem e parquetagem
Esta é a técnica de reparação mais complexa, normalmente só aplicada em peças de
grande valor (especialmente em pintura de cavalete), em que o suporte atingiu um
estado de grande degradação e que ao mesmo tempo apresenta tendência a empenar.
Após a placagem descrita anteriormente, são coladas peças em “U”, nos sítios
considerados necessários para evitar novos empenos. Estas peças seguram ripas, que
permanecem móveis e que irão dar o apoio necessário, permitindo os movimentos
naturais da madeira, impedindo apenas o empeno. O exemplo ilustrado (Fig. 196), é o
mesmo painel, já referido na placagem (Fig. 194 e Fig. 195).
Fig. 196 – Painel reforçado com placagem e parquetagem (fotografia Tacula)
7.2.3 Desinfestação
No âmbito da recuperação de estruturas de madeira, existe uma operação de primordial
importância, a desinfestação, quer como acção curativa quer como preventiva.
135
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Os tectos, em virtude de muitas vezes se encontrarem por baixo de estruturas de
cobertura ou soalhos, são muito susceptíveis a infiltrações e à acumulação de detritos
diversos com grande capacidade higroscópica, o que os torna alvo de ataques por fungos
e insectos xilófagos. Acresce a este factor a habitual fraca ventilação e dificuldade de
acesso aos tectos.
Torna-se assim necessário, em qualquer intervenção, proceder à aplicação de produtos
imunizadores, de preferência com capacidades térmicidas, anti-caruncho e fungicida.
Para levar a cabo esta operação, é necessário conseguir aceder à estrutura, o que deverá
sempre que possível ser feito pelo reverso, levantando soalhos ou telhados e guarda-pós,
quando não exista um acesso mais fácil. Como último recurso, pode-se proceder à
desmontagem parcial do tecto, situação que se deve evitar para não causar danos ao
forro decorativo.
A desinfestação é sempre antecedida por uma limpeza cuidadosa de todos os detritos
acumulados no reverso, para permitir aceder a madeira limpa, conseguindo assim uma
boa impregnação. A limpeza constitui também um acto de conservação preventiva ao
reduzir o peso sobre a estrutura e possibilitar a ventilação e secagem da madeira.
A técnica de desinfestação mais vulgar é a impregnação de toda a estrutura por
pincelagem ou pulverização. Devido às progressivas restrições impostas pela legislação
comunitária, esta impregnação, ou pelo menos a inspecção para verificar se não existem
ataque activos de insectos xilófagos, deverá ser efectuada com uma periodicidade anual,
uma vez que o índice de retenção dos produtos dentro da madeira e a sua capacidade
insecticida não excede esse limite. Também por recomendações comunitárias se tem
vindo a abandonar os métodos de fumigação.
Surge actualmente como promissor o método Thermo Lignum , em que os edifícios são
completamente isolados, sendo em seguida injectados com ar aquecido a cerca de 70ºC,
e tendo como objectivo atingir no interior das peças estruturais, mais de 50ºC,
temperatura a que estes organismos não resistem. No entanto este método, actua apenas
a nível curativo, necessitando em seguida de ser aplicado um imunizador para evitar
reinfestações.
7.3 Princípios de intervenção em douramento e policromia
Em conformidade com o que já foi enunciado anteriormente, também para a intervenção
no douramento e na policromia, se devem utilizar as técnicas mais inócuas possíveis,
136
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
isto é, aquelas que garantam a compatibilidade e a reversibilidade, contemplando o
princípio da intervenção mínima. No entanto, em termos éticos, acresce uma
dificuldade, a integração de lacunas, em especial quando não existe referência ao
motivo decorativo original (Fig. 197). Para que a intervenção de restauro seja
discernível do original, vários métodos podem ser usados como por exemplo: o
tratteggio50, a integração com uma tonalidade diferente, etc. A escolha do melhor
método, ou combinação de vários, é normalmente decidida caso a caso, em obra,
conforme a situação específica.
Fig. 197 – Exemplo de zona em que por falta de referência, se optou por não efectuar a integração,
capela-mor da Igreja Matriz de Beja (fotografia Tacula)
Pode-se, no entanto, constatar pela simples observação de inúmeras intervenções
efectuadas no nosso país, que a escolha em Portugal, tem sido, na sua grande maioria,
de restauro restituitivo de todas as figuras repetitivas ou que possam ser obtidas por
simetria. Só em pintura figurativa se têm usado técnicas mais complexas como a do
tratteggio.
Quanto às lacunas de douramento, raramente têm sido reintegradas com folha de ouro,
sobretudo por motivos económicos. No entanto, actualmente, começam a surgir
cadernos de encargos requerendo a utilização desta técnica.
50
O tratteggio ou rigatino, é um processo de reintegração cromática, em que se reconstituem as formas a
partir da execução de linhas paralelas de várias cores.
137
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Como já foi referido, também no restauro do douramento e da policromia, a intervenção
deverá ser precedida do estudo histórico, artístico e técnico, bem como de um
levantamento fotográfico, gráfico e de um mapeamento das patologias.
Embora cada situação seja diferente, há várias fases que se podem considerar comuns a
qualquer intervenção em policromia e douramento, e que são:
Pré fixação da superfície dourada e policroma;
Limpeza superficial;
Protecção da superfície dourada e policroma através de aplicação de facing de
protecção (esta operação é recomendável na maioria dos casos e obrigatória em
caso de desmontagem);
Acondicionamento dos elementos desmontados;
Fixação geral;
Integração cromática das lacunas;
Desmontagem, parcial ou total (caso seja necessária) de elementos a restaurar;
Limpeza cuidada e em profundidade;
Nivelamento das lacunas;
Aplicação de camada de protecção final (se necessário);
Aplicação de filme de protecção.
Consoante o estado de conservação da policromia, douramento e suporte lenhoso,
poderão não ser efectuadas algumas destas operações. A montagem não se encontra
referida, uma vez que, dependendo do estado de conservação do suporte e da
profundidade de intervenção nele efectuada, esta poderá ocorrer entre algumas das fases
enunciadas.
As técnicas para execução do restauro, são descritas nos pontos seguintes.
7.3.1 Pré-fixação e limpeza superficial
A pré-fixação, é normalmente a primeira operação a ser realizada e destina-se a fixar o
douramento ou policromia, que se encontre em risco de perda iminente, impedindo
qualquer das operações subsequentes. É efectuada através da introdução de um adesivo
(cola animal ou resina acrílica), no reverso da película em destacamento, por meio de
138
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
seringas ou pequenos pincéis. Estas “escamas” ou bolsas são em seguida pressionadas
contra o suporte, para que voltem a aderir.
Só após a conclusão desta operação se poderá efectuar a primeira limpeza superficial,
com trinchas e pincéis muito macios, sem correr o risco de perder douramento e
policromia.
A limpeza superficial, destina-se apenas a remover poeiras e outros detritos pouco
agregados.
7.3.2 Aplicação de Facing
A aplicação de facing, operação por vezes denominada pelo neologismo faceamento,
consiste na colagem de folhas de papel japonês (de muito baixa gramagem, 9 a 11
gr/m2) sobre a superfície pictórica ou dourada (Fig. 198). A cola normalmente utilizada
é a de coelho, diluída em água e aplicada a quente.
Fig. 198 – Painel com facing sobre a policromia para permitir a desmontagem, capela-mor da Igreja
Matriz de Trevões (fotografia Tacula)
Para o aplicar, o papel é aplicado seco, contra a superfície cromática, e em seguida
pincelado com a cola. Esta operação inicia-se normalmente do centro para os extremos
do papel, para evitar a formação de bolhas, técnica normalmente chamada em “bandeira
inglesa”.
139
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Com o facing, obtêm-se vários objectivos de uma só vez. Em primeiro lugar, a
protecção da policromia ou douramento que com esta aplicação já não se perde, o que
permite efectuar desmontagens e movimentação das peças sem risco; Em segundo lugar
a cola aplicada, irá penetrar contribuindo para a fixação dos estratos; Por último, quando
for removido, o que se faz com algodão ou esponjas húmidas, uma vez que a cola e o
papel são solúveis em água, é retirada em simultâneo uma grande parte da sujidade
aderente.
7.3.3 Limpeza e Fixação
Após a remoção do facing, procede-se à limpeza em profundidade, para remoção de
sujidade mais resistente e vernizes oxidados, recorrendo a limpeza química com recurso
a solventes ou mesmo mecânica, a bisturi, para zonas pontuais mais resistentes, como
por exemplo, excrementos de insectos.
A limpeza química, é feita a cotonete (Fig. 199), escolhendo criteriosamente o tipo de
produto a utilizar, que tem que cumprir duas condições fundamentais: dissolver aquilo
que se pretende limpar, não sendo em simultâneo solvente das tintas utilizadas, para não
causar danos.
Fig. 199 – Limpeza química, tecto da Sacristia da Capela de Nossa Senhora de Monserrate, Óbidos
(fotografia Tacula)
140
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
É considerada uma norma da conservação e restauro, que quando se procede à remoção
de vernizes de acabamento, estes não deverão ser retirados na totalidade, para evitar
danos na patine ou em velaturas subjacentes.
Durante o processo de limpeza, é rectificada a fixação, feita da mesma maneira que já
foi definida para a pré-fixação
7.3.4 Nivelamento de Lacunas
O nivelamento de lacunas é, em termos de técnica, efectuado do modo já descrito no
capítulo dedicado às técnicas decorativas. Caso se trate de lacunas em ouro brunido ou
aplicado a mordente, são reconstituídas as preparações nas áreas em falta pelos métodos
já descritos. Para a policromia, na zona de lacuna, é reconstituída a preparação até se
atingir o nível das preparações existentes, sendo isolado com verniz antes da
reintegração cromática.
Fig. 200 – Aplicação de preparação nas zonas de lacunas, tecto da Sacristia da Capela de Nossa Senhora
de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula)
141
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 201 – Painel completo após o preenchimento de lacunas (fotografia Tacula)
7.3.5 Reintegração cromática
Como já foi referido, a integração cromática das lacunas põe vários problemas de nível
ético, uma vez que não se devem reconstituir áreas de lacuna das quais não haja
referência precisa. Tenta-se assim, efectuar uma integração que resulte esteticamente
agradável e que seja, ao mesmo tempo, identificável aos olhos de um especialista a curta
distância, isto é, que seja discernível do original. O material preferido para a
reintegração, é normalmente a aguarela, devido a ser facilmente removível. Usam-se, no
entanto, outros materiais como por exemplo as tintas a óleo, têmperas, sobretudo de ovo
e mais recentemente as tintas acrílicas, que, no entanto, começam a dar problemas
devido a possuírem um envelhecimento diferencial a nível cromático muito distinto dos
antigos materiais. Sem se pretender ser exaustivo, descrevem-se em seguida algumas
das técnicas de retoque para reintegração mais comuns51, sendo as duas primeiras
normalmente utilizadas para lacunas de maior dimensão.
51
A nomenclatura adoptada é a proposta por Knut Nicolaus, 1999, op.cit.
142
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Retoque por mancha ou neutral
Este processo, pouco utilizado em tectos, resume-se a tonalizar a lacuna com uma cor
neutra com relação ao conjunto, de modo a que um observador colocado a uma certa
distância, se abstraia da lacuna, conseguindo obter uma boa leitura do conjunto (Fig.
202).
Fig. 202 – Reserva reconstituída por mancha. Na ausência de referência, só foram reconstituídas as
formas das figuras humanas e não os seus pormenores. Capela-mor da Igreja Matriz de Bucelas
(fotografia Tacula)
Retoque a Tratteggio
O tratteggio, é uma técnica de retoque em que as lacunas são preenchidas com traços
finos de várias cores, e que a certa distância se confundem, podendo através da
combinação das cores dos traços formar desenhos complexos.
Uma vez que esta técnica se distingue perfeitamente da original, permite que se refaçam
desenhos perdidos, pois a área intervencionada será sempre facilmente diferenciada,
possibilitando a reversibilidade da intervenção a qualquer momento.
As fotografias que se apresentam em seguida, embora sejam referentes a restauros de
pintura de cavalete, ilustram a técnica (Fig. 203 a Fig. 206).
143
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 203 – Pormenor de integração a tratteggio (fotografia Tacula)
Fig. 204 – Lançamento do desenho a carvão (fotografia Tacula)
Fig. 205 – Inicio da reintegração a tratteggio (fotografia Tacula)
144
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 206 – Aspecto final da tela (fotografia Tacula)
Retoque normal
Neste tipo de retoque, as lacunas são reintegradas com riscas e pontos muito finos. À
distância normal de observação da peça, é impossível reconhecer a intervenção. É
eventualmente o melhor método, sendo no entanto necessária uma grande capacidade
técnica do restaurador para o conseguir executar correctamente.
Neste método, todo o desenho que seja eticamente passível de ser executado, é
completado. Em zonas de pintura figurativa em que seja manifestamente impossível
completar o desenho por falta da referência, integra-se por mancha.
No douramento, é também bastante usada esta técnica, quando não se recorre à
aplicação de folha de ouro.
Retoque Total
O retoque total é semelhante ao normal, só que efectuado com linhas e pontos de tal
forma pequenos, que a intervenção só é reconhecida através de instrumentos ópticos,
como por exemplo, lupas binoculares.
145
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Outras Técnicas
Por facilidade de execução, são frequentemente usadas técnicas mais simples,
nomeadamente a de quando se efectua o nivelamento de lacunas, deixar a camada de
preparação mais baixa, de modo a que se distinga a área restaurada ou efectuar o
retoque com um tom ligeiramente mais baixo (Fig. 207 a Fig. 210), o que permite a
diferenciação.
Fig. 207 – Lançamento do desenho com bases de aguarela em tecto de madeira, tecto da Sacristia da
Capela de Nossa Senhora de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula)
Fig. 208 – Aspecto final, sendo visíveis as zonas refeitas em tom mais claro, tecto da Sacristia da Capela
de Nossa Senhora de Monserrate, Óbidos (fotografia Tacula)
146
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 209 – Lançamento do desenho a carvão em tecto de estuque, capela-mor da Igreja matriz de Beja
(fotografia Tacula)
Fig. 210 – Pormenor do tecto anterior, com as zonas figurativas novas com tom mais claro (fotografia
Tacula)
147
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Aplicação de camada de protecção
É actualmente, por força das condições técnicas dos cadernos de encargos, quase
sempre obrigatória a aplicação de uma camada de protecção sobre as superfícies
douradas ou policromas. No entanto, de acordo com Colina Tejada, na sua tese
mencionada na bibliografia, a folha de ouro é mais durável do que qualquer camada de
protecção, isto é, não é necessário aplicar qualquer protecção sobre a folha de ouro.
Aparentemente a aplicação da camada de protecção requerida pelos actuais cadernos de
encargos, destina-se unicamente a realçar o brilho perdido do ouro. Há referências
históricas a aplicações de cola animal sobre o ouro, cujo objectivo era proporcionar uma
diferenciação entre duas áreas, uma brilhante e outra mate, técnica ainda hoje utilizada
pelos bons douradores. Existem também referências à aplicação de verniz dammar. É no
entanto, considerada prática corrente e solicitada nos cadernos de encargos, a aplicação
de vernizes, nomeadamente acrílicos (Paraloid B-72), como camada de protecção para
douramento, sem que haja qualquer estudo cientifico que justifique tal prática, nem por
que razão foi abandonada a utilização de misturas cera-resina (Cera de abelha+resina
dammar e por vezes carnauba), considerada como irreversível, sem que existam estudos
exaustivos que suportem tal conclusão.
Quanto à policromia, a pintura a óleo era normalmente protegida por vernizes, pelo que
ao retirar-se a camada de protecção (verniz) existente, esta normalmente é reposta. Já
nas pinturas a têmpera, em tectos, não existe na maioria dos casos qualquer verniz,
sendo, no entanto, solicitada a sua aplicação na maioria dos actuais cadernos de
encargos. Esta questão, sujeita a alguma controvérsia, deveria no futuro ser alvo de
análises para que se estabelecesse uma metodologia correcta de intervenção.
7.4 Princípios para intervenção em estuques
A intervenção em tectos estucados segue, no que se refere ao cumprimento das normas
para restauro de estruturas arquitectónicas o que já foi enunciado nos critérios gerais.
Ao nível da estrutura de madeira e da policromia, os métodos de restauro são os que
foram referidos nos pontos anteriores. Em relação à reintegração cromática das pinturas
a fresco, surge a diferença de que no restauro, esta será efectuado a seco.
148
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
A intervenção em estuques desenvolve-se em quatro fases: Reparação da estrutura,
consolidação dos estuques, reposição de lacunas do estuque e moldados e reintegração
cromática.
7.4.1 Consolidação dos estuques
Caso o estuque ou mesmo todo o tecto esteja em risco de queda, a primeira operação a
realizar é a de proceder ao seu escoramento pela face inferior. Após esta operação,
deverá ser efectuada uma limpeza, consolidação/reparação e desinfestação da estrutura.
Para consolidar os estuques, fixando-os ao fasquiado, (após a reparação deste onde seja
necessário), são utilizadas várias técnicas, sendo a mais vulgar a consolidação com
linhadas de sisal engessado (Fig. 211). Estas são aplicadas nas zonas em que o estuque
se esteja a destacar do fasquiado, sendo necessário, como trabalho preliminar, retirar do
reverso todas as áreas em desagregação.
Em situações mais graves poderá ser contemplado o recurso a fibra de vidro e resinas
époxidas ou à suspensão através de arames à estrutura de cobertura.
Para consolidar tectos em destacamento, existe ainda uma técnica tradicional pouco
usada, que consiste em fixar pares de cordas de sisal à estrutura de cobertura e tecto, que
são posteriormente torcidas para criar tensão. Quando se obtém a tensão necessária para
manter o tecto na posição correcta, estas cordas são engessadas, criando-se um sistema
de estalactites que mantém o tecto na posição correcta.
Fig. 211 – Aplicação de linhadas para consolidação os estuques, tecto da biblioteca do Palácio de
Monserrate (fotografia Tacula)
149
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
No caso de existirem bolsas de destacamento, estas são consolidadas com a injecção de
caldas (Fig. 212).
Fig. 212 – Zona consolidada com injecção de caldas, sendo ainda visíveis os orifícios de injecção, tecto
da biblioteca do Palácio de Monserrate (fotografia Tacula)
7.4.2 Restauro dos estuques
Após a consolidação do tecto, e o restauro das estruturas de madeira incluindo a
reconstituição do fasquiado (Fig. 213) onde seja necessário, as lacunas do estuque são
refeitas como se se tratasse de um tecto novo. Para isso, é reaplicado reboco novo ao
fasquiado (Fig. 214) e em seguida aplica-se o estuque.
Fig. 213 – Reposição de fasquiado, tecto da biblioteca do Palácio de Monserrate (fotografia Tacula)
150
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 214 – A lacuna anterior após a aplicação do reboco (fotografia Tacula)
O mesmo se aplica às peças decorativas e moldados, ambos executados com gesso.
Actualmente, para a execução das peças decorativas, é retirado um molde de silicone de
uma peça existente, sendo em seguida, após a secagem deste, executado um contramolde, que se destina a conferir rigidez ao conjunto (Fig. 215). O molde é em seguida
cheio com gesso. Após a sua secagem, retira-se do molde e cola-se com gesso no seu
local de destino (Fig. 220). Caso a peça seja pesada, a colagem pode ser reforçada com
a ajuda de elementos metálicos.
Fig. 215 – Molde, contra-molde e peça decorativa (fotografia Tacula)
151
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
No caso dos moldados (frisos decorativos contínuos e lisos), a técnica de execução, é
diferente. Faz-se um molde metálico com o perfil da peça a obter, que é fixo a uma
estrutura de madeira (Fig. 216). Corre-se então esta ferramenta sobre uma superfície
plana, em que se encontra gesso (Fig. 217 e Fig. 218), as vezes que forem necessárias
até obter o perfil com a forma desejada (Fig. 219). Entre cada passagem é acrescentado
sobre o perfil, mais gesso.
Para finalizar, os perfis e as peças moldadas são colados ao tecto (Fig. 220), obtendo-se
no final uma reconstituição total dos estuques (Fig. 221).
Fig. 216 – Ferramenta para correr moldados (fotografia Tacula)
Fig. 217 – Aplicação de gesso sobre a mesa (fotografia Tacula)
152
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 218 – Estucador a correr o molde (fotografia Tacula)
Fig. 219 – Moldado pronto (fotografia Tacula)
153
7. Metodologias de Conservação e Restauro de Tectos
Fig. 220 – Aplicação dos moldados e peças decorativas (fotografia Tacula)
Fig. 221 – Zona de lacuna após a reconstituição dos estuques (fotografia Tacula)
154
8. Conclusão e Desenvolvimentos Futuros
8. CONCLUSÃO E DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
8.1 Introdução – Evolução histórica dos tectos de madeira
Em Portugal, não tendo sido encontradas quaisquer estruturas de tectos, datáveis de
épocas anteriores ao período de D. João I, nada se pode concluir acerca das
características construtivas e decorativas de tectos anteriores ao Séc. XV.
Constata-se porém que neste reinado era já visível uma forte influência da carpinteria
de lo blanco, com a introdução de motivos decorativos de influência árabe,
eventualmente praticada pelos carpinteiros de ascendência muçulmana que tinham
permanecido no país após a reconquista e/ou da importação de mão de obra e técnicas
dos reinos que vieram a ser mais tarde a Espanha. Através dos exemplares existentes no
Palácio Nacional da Vila e do estribado descoberto na Igreja de Nossa Senhora da
Oliveira, em Guimarães, conclui-se que não só as técnicas existiam em Portugal nesta
época, como tinham atingido já um ponto de evolução bastante avançado. Isto é visível
na variedade existente de armações a duas águas, a quatro águas e os tectos de sete
panos. Como é patente na Capela do Palácio da Vila de Sintra, estava também já
bastante desenvolvida a técnica de decoração de laço ou laçaria.
Durante todo o Século XV e durante a primeira metade do Século XVI, continua-se a
notar esta influência árabe, que atingiu o seu apogeu no período Manuelino, em que se
destacam as armações decoradas da Matriz de Caminha e da Sé do Funchal. Nesta
época, a maioria das estruturas de cariz mudéjar, eram já efectuadas por carpinteiros
portugueses cristãos, o que demonstra a sua incorporação nas técnicas construtivas
nacionais
Surge, também, um segundo núcleo deste tipo de estruturas que, sem mais investigação,
não se poderá ainda afirmar se vem da influência Manuelina ou se por influência da
proximidade da fronteira espanhola, o núcleo raiano, que se estende pelo Minho, Trásos-Montes e Beiras, subsistindo também alguns exemplares na região de Viseu e
Lamego. Estas técnicas construtivas, embora simplificadas, dariam origem aos tectos de
masseira que persistiram até ao Século XIX.
155
8. Conclusão e Desenvolvimentos Futuros
O Renascimento e o Maneirismo, levaram a alteração dos critérios estéticos, com a
redescoberta da arquitectura clássica, o que conduziu à proliferação dos tectos em
caixotões e apainelados, que predominaram até ao Século XVIII. Aí, em plena época
Barroca, assistiu-se ao predomínio da talha dourada, até que surgiu o gosto pelos tectos
com pintura arquitectónica, que veio a implementar a construção de abóbadas e de
tectos sanqueados, que permitiam a existência de grandes superfícies necessárias a este
tipo de decoração.
Estavam nesta altura praticamente definidos os tipos construtivos que prevaleceriam até
ao Século XIX, sendo só de destacar a introdução do estuque, que alterou o tipo de forro
predominante, utilizando no entanto as estruturas e formas pré existentes.
8.2 Sistemas Construtivos
Quanto aos sistemas construtivos, é mais difícil tirar conclusões, especialmente pelas
alterações a que a maioria dos tectos foi sujeita ao longo dos séculos, em que estruturas
são reaproveitadas, sendo substituído o forro e a decoração, ou são alteradas,
reaproveitando peças para as adaptar aos novos gostos artísticos.
Pode-se, porém, tentar através da consulta dos tratados antigos, da extrapolação do caso
espanhol já estudado e muito documentado e da análise dos tectos existentes em
Portugal, sistematizar os sistemas construtivos através da sua crescente complexidade.
Temos assim como mais primitivos e simples a nível estrutural os alfarges, tectos
planos de viga à vista, utilizados sobretudo em coros de Igrejas e as suas variações
inclinadas para coberturas sobre arcos diafragma e naves laterais de igrejas, como por
exemplo a Matriz de Caminha.
Seguiu-se a evolução para as coberturas de parhillera, que com os seus tirantes e
frechais reduzem as forças laterais exercidas sobre as paredes, permitindo que estas
sejam construídas de forma mais esbelta. É também com estas estruturas que é
introduzido o rincão, surgindo as coberturas a três e quatro águas.
Estas derivaram para as de par y nudillo, com a introdução do nudillo, um nível
aplicado a dois terços da altura das pernas e que reduz ainda mais as forças horizontais,
e caracterizam-se pelo perfil trapezoidal visível do interior do edifício. Podem-se
156
8. Conclusão e Desenvolvimentos Futuros
classificar como lisas, ataujeradas ou apeinazada, conforme a decoração. Caso as
pernas e os níveis se encontram á vista, sendo revestidas com tábuas por trás são
classificáveis como lisas, como são, por exemplo, as de São Vicente de Castelo Mendo.
No segundo caso, as ataujeradas, são revestidas por painéis em que é aplicada a
decoração de laço, e por último, as apeinazadas são aquelas em que a decoração de laço
faz parte da estrutura sendo as peças encaixadas entre as pernas e níveis e não pregadas.
As estruturas de par y nudilho, através da utilização de rincões, foram em seguida
utilizadas para a construção de madeiramentos a quatro, cinco e oito águas.
A evolução seguinte deu-se com a introdução do rincão duplo, que surge da evolução da
decoração de laço e que levou a que os vários panos fossem feitos em oficina, tendo de
cada lado um rincão, o que levava à sua duplicação na altura da montagem.
Com a evolução e o abandono da carpintaria mudéjar, deixaram-se, praticamente, de
fazer este tipo de armaduras, deixando as vigas de estar à vista. A perda da função
estrutural e o forro pelo intradorso, provocaram uma degeneração ao nível construtivo,
passando a prevalecer a qualidade da decoração, sendo a estrutura constituída por
madeira toscamente aparelhada. Continuam no entanto a construir-se, mantendo as
formas mudéjares, sendo os denominados tectos de masseira.
O gosto pelas formas clássicas veio a ditar o aparecimento das abóbadas e dos tectos
planos, embora se tenham mantido os tectos baseados em asnas de nível, com vários
panos, reminiscência dos mudéjares de vários panos, não constituindo verdadeiras
abóbadas de berço, uma vez que são constituídos por vários segmentos de recta e não
por linhas curvas.
Ao nível da carpintaria, só nos séculos XVIII e XIX é que começaram a ressurgir
estruturas mais elaboradas, com a proliferação dos tectos sanqueados e mistos.
8.3 Técnicas decorativas
Quanto às técnicas decorativas, a talha e a pintura a têmpera constituem as mais antigas,
sendo já usadas no Século XV, assim como o douramento, tendo a pintura a óleo
surgido no início do século XVI. Só no Século XVIII, é que o estuque surge em grande
escala, quase substituindo os forros de madeira. Nestes, como técnicas decorativas,
157
8. Conclusão e Desenvolvimentos Futuros
predomina a pintura, quer a fresco, quer a seco e a aplicação de elementos decorativos
em gesso.
8.4 Causas de degradação e metodologias de intervenção
Nos últimos dois capítulos, com base na experiência de obra do autor, foram abordadas
algumas patologias e causas de degradação em tectos e técnicas de intervenção no
restauro de tectos, pretendendo-se iniciar uma compilação de metodologias de
intervenção neste tipo de estruturas. Longe de se pretender um levantamento exaustivo,
no presente trabalho, procurou-se, criar condições para o desenvolvimento de futuras
investigações nesta área de reparação e restauro de tectos.
A metodologia de intervenção proposta neste trabalho, pode resumir-se nos seguintes
pontos:
Levantamento o mais exaustivo possível do sistema construtivo e a sua análise
histórica;
Correcção das causas de degradação antes do inicio da intervenção no tecto;
Mapeamento de patologias e levantamento das causas de degradação;
Estabelecimento de uma metodologia de trabalho, de acordo com os princípios
da intervenção
mínima, da
reversibilidade,
da retratabilidade e
da
compatibilidade de materiais.
Para que estes objectivos sejam atingidos, com a manutenção da autenticidade histórica
e construtiva, será sempre preferível a reparação das estruturas existentes, através de
reforços e não de substituições. Deverá ser também evitada a desmontagem sempre que
tal seja possível para não provocar danos às peças e à sua decoração e proceder às
reparações no local de origem para evitar variações ambientais.
8.5 Desenvolvimentos futuros
A dificuldade de obtenção de informação sentida pelo autor, sobretudo a nível nacional,
reflecte a necessidade de que este património, os tectos, seja inventariado com a
caracterização das suas técnicas construtivas e decorativas. A elaboração deste
inventário seguramente levará muito tempo a realizar, a avaliar pelo o exemplo de
Espanha, em que este estudo se desenvolve há cerca de trinta anos, principalmente pelos
158
8. Conclusão e Desenvolvimentos Futuros
trabalhos pioneiros de Enrique Nuere, que têm vindo a ser complementados com
diversas teses de mestrado e doutoramento em várias áreas. Nuere, no seu livro
Carpinteria de Armar Española, menciona a necessidade de estudar a carpintaria de
armar portuguesa, de modo a que se possam complementar os conhecimentos já
adquiridos no seu país, uma vez que existem bastantes similaridades nos sistemas
construtivos.
Esta dissertação, pretende ser apenas um ponto de partida para o inventário de técnicas
construtivas, havendo seguramente outras que deverão ser acrescentadas, aprofundando
os conhecimentos aqui referidos. O mesmo se pode dizer com relação às técnicas de
conservação e restauro
Para complementar o presente trabalho, terão que ser feitos estudos interdisciplinares
em virtude da complexidade do tema, que envolve a engenharia, a conservação e
restauro, a arquitectura, a história, a química, etc. Para que este objectivo seja atingido,
é necessário o envolvimento das universidades ao nível da investigação, e
simultaneamente, da recuperação de saberes ancestrais. Deverá também ser compilada a
informação recolhida durante obras de restauro, pelas entidades públicas responsáveis
pelo património, que actualmente é de difícil consulta.
Deverão também ser estabelecidas metodologias de intervenção no restauro de tectos e
das suas estruturas, tendo em conta aspectos de nível construtivo, artísticos e históricos,
que definam os critérios gerais de tratamento e preservação deste espólio. Só com uma
uniformização destes critérios, será possível evitar mais danos neste património, que de
outra forma será irremediavelmente perdido.
159
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