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2006 ARAUJO Capoeira e Mercadoria

iii Palavras-chave: Capoeira, Mercadoria e Prática Pedagógica Superadora. 1 A princípio a capoeira era prática de vadios, inclusive denominada de vadiação, ou vadiagem. Incluída no código penal de 1890 da República dos Estados Unidos do Brasil, no capitulo XVIII capoeiras e vadios. iv SUMÁRIO AGRADECIMENTOS vi INTRODUÇÃO 01 1 MARCO TEÓRICO-METODOLÓGICO 05 2 O PROCESSO DE MERCADORIZAÇÃO DA CAPOEIRA 11 2.1 Brasil: nova forma produtiva 11 2.2 Capoeira Mercantil: base de análise da capoeira moderna 15 2.3 Inserção do 'Capoeira' na sociedade de classes 21 3.CAPOEIRA E EDUCAÇÃO 27 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 38 5 REFERÊNCIAS 42 ANEXO v AGRADECIMENTOS Aos capoeiras que construíram esse legado, de tanta importância, que me liga ao meu passado, meu momento e minhas projeções, e de tão importante, são deles as respostas que mais me interessam; Aos colegas de Especialização, que com esse feito, deixam os nomes na história, os tijolinhos; Ao Movimento Estudantil de Educação Física, por me mostrar o caminho, ainda em tempo, do sentido das coisas; Ao Batukegê, em especial a Zé Miguel de Jesus Monteiro, amizade, compreensão e lealdade; Ao Grupo de Estudos, Festas Anticapitalista (GEFA), o apoio para enfrentar monstros, Para além do Capital; A Confraria Catarinense de Capoeira, por manter a esperança e o chão desse trabalho; Aos Libórios e os Caires que enchem esse mundo, minha ligação ancestral; Magnólio (Cássio Adriano Barros da Silva), Arapá (Daniel Ramos Moreira), Sande (Érick Menezes Sande), Jacaré (Abdon), Gildásio, Tom, André Cazuza Vinagre, Reginaldo Loupinho, amigos eternos de uma infância diferente; Tchon -Vitor Neves Gomes -e Grace -Graciano Régis Nogueira, os anos dizem: -O que é pra sempre? Que seja eterno; A José Antonio de Souza Neto, Zequinha de Abreu Chibata, ou Zézo. A insanidade que faz sentido, aquele que se importa com todos, quando tudo conspira contra; Ao meu compadre, João Marcos Araújo Silva (Alemão), a minha comadre Susana Pinto (Sussuca), a Nandinha e a minha amada afilhada que no corrido mundo dos estudos sempre ficam na lembrança; A Roseane Soares Almeida, no exemplo da grandeza -sua fibra, sua fibra, sua fibra; Cláudio Lira Santos Jr., Mona, na sagacidade da estratégia me ensinou muito, muito mais do que imagina; A Érika Suru(ru)agy, sua força, a força e di com força, imensa na luta sempre; A Adriana D'AGOSTIni, a calma, a serenidade e a paciência. A água; A MAUro Titton a rigidez, a solidez e a sustentação. A pedra; A Amália e Cristina, síntese dos contrários; A Romão, Neto de Paula e Dorea: o universal, o particular; e o singular; Raquel e Silvana na superação das contradições, os saltos qualitativos; A Justina Franchi Galina, 15 minutos de "Surpresa!"; A Melissa Michelotti Veras, a mão, ação, criação; A Carol Jaques Cubas, o sorriso, o choro, sempre o sorriso, nunca o choro; A Fátima Moraes (Bagé) Garcia e ao Super Leon Trotsky Aranha Vermelho Triangulo, sem alusão às "competências", aprendi a aprender com vocês; vi A CarolZINHA, felicidade, maternidade, fraternidade, dignidade, sagacidade, fragilidade, maturidade... idade Fernando Pereira Candido, RÓsangêla, Ademirrrrr Quintilio Lazarini Billylico Cianorte, nesta ordem... a busca, a consistência e a sabedoria,. Indissociáveis; A Paulo Sérgio Tumolo, por nos dar o melhor de sua força de trabalho. Algumas passagens são para você, PILHAaaDO; Ao batedor Frederico ZÉ Abreu, que com seus trabalhos, a surpresa do companheiro, a visão e seu legado, importantes nas nossas divergências no futebol baiano. "NÊGO!!!"; Ao melhor orientador que alguém poderia ter, nosso Rei, Fleuri, a aparência dos fenômenos sempre nos engana. Aos imprescindíveis: Drauzio Penzzoni Annunciato (beligerante como um cavaquinho), Márcio Penna Corte Real (Um lorde, é ninhuma, pai), Bruno Emmanuel Santana (Meu Tio, a confiança, eterno carinho, "Hahai, Adeildo") Marcos Cordeiro -de Deus -Bueno (Canguru, o exemplo de dignidade), cientistas, amigos e companheiros TERRÍVEIS, que alegram e estimulam o melhor espaço de Santa Catarina, o Núcleo MOVER. A super Lia, a maravilhosa Ivanete, o Ibérico, além Tejo, ouvido questionador de muitas conversas Mário Jorge Cardoso Coelho de Freitas. A Zélia e Natalia, na confusão do mundo contemporâneo, a certeza de que as relações se humanizam; A minha amiga Alessandra Libório, um passado, para um futuro, nossa eterna ligação; A Carlos Emilio Libório, a capoeira, a infância, as nossas vidas, mesmo quando não sabemos bem o que fazer com elas; As cinco "Donas" do meu destino: Micheli, meu desafio; Hassiba, minha força; Celi, minha gratidão; Socorro, minha vida; Bartira, se não tudo, meu coração;

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO III – EDUCAÇÃO FÍSICA ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO E DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE E LAZER CAPOEIRA E MERCADORIA: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS SUPERADORAS BENEDITO CARLOS LIBÓRIO CAIRES ARAÚJO Salvador 2006 BENEDITO CARLOS LIBÓRIO CAIRES ARAÚJO CAPOEIRA E MERCADORIA: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS SUPERADORAS Monografia apresentada ao Departamento III – Educação Física, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de especialista em Educação Física. Orientadora: Dra. Micheli Ortega Escobar Salvador 2006 ii Termo de aprovação Benedito Carlos Libório Caires Araújo CAPOEIRA E MERCADORIA: POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS SUPERADORAS Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista no curso em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer do Departamento III – Educação Física da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, banca formada pelos professores: Orientadora Doutora Micheli Ortega Escobar Examinadora Mestra Adriana D’Agostini Examinador Pesquisador Frederico José de Abreu Salvador, 16 de setembro de 2006 iii RESUMO O presente estudo tem como objeto de investigação o processo de mercadorização da capoeira e as possibilidades de articulá-la a uma proposta pedagógica socialista. A questão que tentaremos responder é: como ocorreu o processo de mercadorização da capoeira nas décadas de 1930 e 1940, e quais elementos presentes nesta prática social que permitem articulá-la a uma proposta pedagógica socialista? A hipótese que defendemos é que através da apreensão do processo de produção de mercadorias poderemos explicar a capoeira em seu desenvolvimento histórico, o que propicia a identificação de possibilidades de articulá-la a uma proposta pedagógica socialista. Buscamos compreender a capoeira como produto cultural que contém em si características das relações mais gerais da sociedade capitalista, no contexto de constituição do mercado mundial. Para tanto, utilizamos o método materialista histórico dialético, que nos da possibilidade de compreender em essência este objeto de estudo. Nesta perspectiva, a capoeira é vista como uma manifestação humana não estando deslocada de sua base material. Em suma, buscaremos compreender como a capoeira, de mera atividade de vadios 1 transforma-se, no interior deste tão disputado jogo de interesses, em uma mercadoria. Palavras-chave: Capoeira, Mercadoria e Prática Pedagógica Superadora. 1 A princípio a capoeira era prática de vadios, inclusive denominada de vadiação, ou vadiagem. Incluída no código penal de 1890 da República dos Estados Unidos do Brasil, no capitulo XVIII capoeiras e vadios. iv SUMÁRIO AGRADECIMENTOS vi INTRODUÇÃO 01 1 MARCO TEÓRICO-METODOLÓGICO 05 2 O PROCESSO DE MERCADORIZAÇÃO DA CAPOEIRA 11 2.1 Brasil: nova forma produtiva 11 2.2 Capoeira Mercantil: base de análise da capoeira moderna 15 2.3 Inserção do ‘Capoeira’ na sociedade de classes 21 3.CAPOEIRA E EDUCAÇÃO 27 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 38 5 REFERÊNCIAS 42 ANEXO v AGRADECIMENTOS Aos capoeiras que construíram esse legado, de tanta importância, que me liga ao meu passado, meu momento e minhas projeções, e de tão importante, são deles as respostas que mais me interessam; Aos colegas de Especialização, que com esse feito, deixam os nomes na história, os tijolinhos; Ao Movimento Estudantil de Educação Física, por me mostrar o caminho, ainda em tempo, do sentido das coisas; Ao Batukegê, em especial a Zé Miguel de Jesus Monteiro, amizade, compreensão e lealdade; Ao Grupo de Estudos, Festas Anticapitalista (GEFA), o apoio para enfrentar monstros, Para além do Capital; A Confraria Catarinense de Capoeira, por manter a esperança e o chão desse trabalho; Aos Libórios e os Caires que enchem esse mundo, minha ligação ancestral; Magnólio (Cássio Adriano Barros da Silva), Arapá (Daniel Ramos Moreira), Sande (Érick Menezes Sande), Jacaré (Abdon), Gildásio, Tom, André Cazuza Vinagre, Reginaldo Loupinho, amigos eternos de uma infância diferente; Tchon - Vitor Neves Gomes – e Grace – Graciano Régis Nogueira, os anos dizem: - O que é pra sempre? Que seja eterno; A José Antonio de Souza Neto, Zequinha de Abreu Chibata, ou Zézo. A insanidade que faz sentido, aquele que se importa com todos, quando tudo conspira contra; Ao meu compadre, João Marcos Araújo Silva (Alemão), a minha comadre Susana Pinto (Sussuca), a Nandinha e a minha amada afilhada que no corrido mundo dos estudos sempre ficam na lembrança; A Roseane Soares Almeida, no exemplo da grandeza - sua fibra, sua fibra, sua fibra; Cláudio Lira Santos Jr., Mona, na sagacidade da estratégia me ensinou muito, muito mais do que imagina; A Érika Suru(ru)agy, sua força, a força e di com força, imensa na luta sempre; A Adriana D’AGOSTIni, a calma, a serenidade e a paciência. A água; A MAUro Titton a rigidez, a solidez e a sustentação. A pedra; A Amália e Cristina, síntese dos contrários; A Romão, Neto de Paula e Dorea: o universal, o particular; e o singular; Raquel e Silvana na superação das contradições, os saltos qualitativos; A Justina Franchi Galina, 15 minutos de “Surpresa!”; A Melissa Michelotti Veras, a mão, ação, criação; A Carol Jaques Cubas, o sorriso, o choro, sempre o sorriso, nunca o choro; A Fátima Moraes (Bagé) Garcia e ao Super Leon Trotsky Aranha Vermelho Triangulo, sem alusão às “competências”, aprendi a aprender com vocês; vi A CarolZINHA, felicidade, maternidade, fraternidade, dignidade, sagacidade, fragilidade, maturidade... idade Fernando Pereira Candido, RÓsangêla, Ademirrrrr Quintilio Lazarini Billylico Cianorte, nesta ordem... a busca, a consistência e a sabedoria,. Indissociáveis; A Paulo Sérgio Tumolo, por nos dar o melhor de sua força de trabalho. Algumas passagens são para você, PILHAaaDO; Ao batedor Frederico ZÉ Abreu, que com seus trabalhos, a surpresa do companheiro, a visão e seu legado, importantes nas nossas divergências no futebol baiano. “NÊGO!!!”; Ao melhor orientador que alguém poderia ter, nosso Rei, Fleuri, a aparência dos fenômenos sempre nos engana. Aos imprescindíveis: Drauzio Penzzoni Annunciato (beligerante como um cavaquinho), Márcio Penna Corte Real (Um lorde, é ninhuma, pai), Bruno Emmanuel Santana (Meu Tio, a confiança, eterno carinho, “Hahai, Adeildo”) Marcos Cordeiro - de Deus - Bueno (Canguru, o exemplo de dignidade), cientistas, amigos e companheiros TERRÍVEIS, que alegram e estimulam o melhor espaço de Santa Catarina, o Núcleo MOVER. A super Lia, a maravilhosa Ivanete, o Ibérico, além Tejo, ouvido questionador de muitas conversas Mário Jorge Cardoso Coelho de Freitas. A Zélia e Natalia, na confusão do mundo contemporâneo, a certeza de que as relações se humanizam; A minha amiga Alessandra Libório, um passado, para um futuro, nossa eterna ligação; A Carlos Emilio Libório, a capoeira, a infância, as nossas vidas, mesmo quando não sabemos bem o que fazer com elas; As cinco “Donas” do meu destino: Micheli, meu desafio; Hassiba, minha força; Celi, minha gratidão; Socorro, minha vida; Bartira, se não tudo, meu coração; À Antonio Carlos Caires Araújo, o meu espelho, sempre a contradição. De Dom Basílio a Paris, de Benedito a Lacan, o mundo é nosso... “Bem aventurados sejam os homens de boa fé...” vii INTRODUÇÃO Lá no céu vai quem merece, na terra vale quem tem [...] (D.P. apud in CD WALDEMAR E CANJIQUINHA, faixa 11, 1997) Buscamos, na monografia, ora apresentada, compreender a capoeira como produto cultural que contém em si características das relações mais gerais da sociedade capitalista em formação, e suas especificidades no próprio desenvolvimento do Brasil e em particular no Recôncavo Baiano do século XX. Alguns esclarecimentos se fazem necessários na introdução do tema: a capoeira é uma manifestação humana, e, por isto, encontra-se submetida à forma como a sociedade se desenvolve. Dai a necessidade no contexto desta monografia de compreender a sociedade brasileira nos decênios de 1930 e 1940, momento emblemático representado pela consolidação do projeto de oficialização da Luta Regional Baiana. Nessa direção, a forma como a sociedade capitalista se estrutura é a chave para compreender o desenvolvimento da capoeira, nas décadas de 1930, 1940. Assim, situamos historicamente o fenômeno, analisando-o a partir do que entendemos como essencial para desvelar sua forma atual, entendido enquanto processo de mercadorização. Em suma, buscamos compreender como a capoeira, de mera atividade de vadios transforma-se, no interior deste tão disputado jogo de interesses, em uma mercadoria. A questão a ser respondida portanto é: A compreensão da capoeira enquanto mercadoria possibilita articulá-la às teorias pedagógicas críticas do campo da Educação e da Educação Física? 1 Nestes termos, consideramos como objetivo mais geral formular, partindo da investigação do processo de mercadorização da capoeira, uma ação superadora, subsidiada pelas proposições pedagógicas 1 das teorias da Educação e Educação Física, vinculadas ao projeto histórico de sociedade socialista. É necessário situar que neste contexto de análise a capoeira deve ser entendida por uma determinada reflexão pedagógica “Nessa perspectiva de entendimento, a reflexão pedagógica tem algumas características específicas: é ‘diagnóstica, judicativa e teleológica’ (Souza, 1987: 178-83)” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 25). São por essas determinações que propomos esse trabalho numa esfera de relações que estejam em sintonia com a superação do atual projeto de sociedade. Dada a relevância do Materialista Histórico Dialético, para analisar, compreender e explicar a vida social em sua totalidade, este método nos permite conhecer a realidade em essência, percebendo as mediações ocorridas entre os fenômenos e suas determinações mais gerais e específicas. Motivo que buscamos orientação neste método, para compreendermos a essência do objeto de estudo em questão. Sendo que, nesta perspectiva, a capoeira é vista como uma manifestação humana que se encontra em total relação com sua base material. Para compreender a estrutura da capoeira enquanto mercadoria, utilizamos como referência os capítulos I, II, III, IV e V de O Capital, de Karl 1 Pensamos que “A teoria pedagógica é a explicação elucidativa sobre o que se entende por pedagógico e didático para daí se abordar o conhecimento [...] O programa específico, por sua vez, significa uma dada organização e sistematização do conhecimento selecionado. [...] (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 23) 2 Marx, a fim de entender o desenvolvimento da mercadoria (forma mercantil 2 ) no seio da sociedade capitalista 3 , compreendendo a capoeira inserida no contexto histórico social de como o homem produz a vida, em especial o entendimento da relação da produção dos bens culturais e de mercadorias na cidade de Salvador nas décadas de 1930 e 1940. Assim, discutimos as relações do trabalho abstrato e a unidade do valor, já presentes na capoeira denominada Regional (década de 1930, em Salvador, Bahia) e Angola (decênio de 1940 da Cidade da Bahia 4 ), que no nosso entendimento, representam as matrizes para a capoeira na forma capital, presente nos dias de hoje em todos os Estados da federação e mais 132 paises. No primeiro capítulo, tratamos das questões de ordem teóricometodológicas. Para tanto, nos fundamentamos nas explicações sobre a realidade com base no pensamento marxiano. Estas explicações são originadas por um método que permite extrair propostas para a produção de conhecimento científico. Sobretudo, um conhecimento científico capaz de desvelar aparências e mostrar em essência a realidade, em prol de uma transformação. No segundo capítulo destacamos dados que nos levaram à compreensão da relação da capoeira com a conjuntura global do capital e seus 2 Forma mercantil é a forma que as relações humanas assumem uma nova forma de produzir e trocar seus produtos do trabalho útil com outros homens, constituindo pela primeira vez a unidade interna da mercadoria (valor de uso e valor de troca = valor) e unidade interna do trabalho (trabalho útil e trabalho abstrato). 3 Sociedade alicerçada na forma capital, forma socialmente construída historicamente partindo da forma natural de produzir a vida, o trabalho. Trabalho útil gera valor útil, que posteriormente assume a forma mercantil (M-M) – trabalho abstrato e trabalho útil gerando valor (valor de uso e valor de troca) e finalmente, a forma do trabalho produtivo, que gera mais valia, a forma capital(D-M-D’). 4 Cidade de Salvador na forma como os antigos moradores do Estado da Bahia se referiam a ela nos inicio do século XX. 3 desdobramentos históricos e apresentamos dados sobre a sociedade brasileira nos períodos das décadas de 1930 e 1940. Neste particular, buscamos explicitar as matrizes do processo de mercadorização em que se encontra a capoeira nos dias atuais. No capítulo terceiro, partindo da contribuição das teorias pedagógicas críticas do campo da Educação e da Educação Física (COLETIVO DE AUTORES, 1992), buscamos identificar elementos da capoeira que possibilitem a construção de uma proposição que atenda os interesses históricos da classe revolucionária. A hipótese que defendemos é que através da apreensão do processo de produção de mercadorias poderemos explicar a capoeira em seu desenvolvimento histórico. Nesta perspectiva, o entendimento da essência da capoeira propicia a identificação de possibilidades de articulá-la as propostas pedagógicas ligados aos interesses históricos da classe revolucionária. Assim, indicamos que, os estudos acerca da temática que tomamos por base, embora mostrem que a capoeira está subsumida à lógica do capital, ou seja, dentro de um processo de mercadorização, ainda assim, acreditamos na possibilidade de encontrar elementos nesta prática social, que associados a uma teoria pedagógica vinculadas ao projeto socialista, possam servir para uma proposta de formação humana na capoeira, que ascendam as consciências de seus praticantes para além do capital. 4 1. MARCO TEÓRICO-METODOLÓGICO O estudo delineou-se a partir da abordagem do materialismo histórico dialético. As explicações sobre a realidade no pensamento de Marx, são direcionadas por um método que nos permite extrair uma proposta para a produção de conhecimento científico. A sua preocupação consiste em diferenciar o que aparece enquanto essência ou aparência na realidade, o real concreto. Michel Löwy explicita o porquê de nossas opções teóricas para o tratamento desse objeto de estudo. O marxismo foi o primeiro a colocar o problema do condicionamento histórico e social do pensamento e a (desmascarar) as ideologias de classe por detrás do discurso pretensamente neutro e objetivo dos economistas e outros cientistas sociais. (LÖWY, 1994, p.99) A busca da essência da capoeira, parte do entendimento, de que os fenômenos constituem-se em movimentos contraditórios, e a capoeiragem 5 não é diferente. A compreensão histórica da origem e desenvolvimento dos fenômenos permite, por sua vez, o entendimento de totalidade, que os constitui e por eles é constituída através de suas relações. Assim, contradição, historicidade e totalidade são categorias essenciais para a análise da capoeira, pois são categorias metodológicas que articuladas à categorias empíricas permitem apreender o real concreto, ou seja, apreender as múltiplas determinações que compõem uma dada formação. Ou, nas 5 Termo utilizado entre os capoeiras para designar a cultura da capoeira compreendida enquanto complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelos capoeiras. Com isso não desconsideramos as determinações mais gerais que condicionam a vida no modo de produção capitalista. Neste trabalho utilizaremos os termos: a capoeira, prática social; o capoeira, o praticante da capoeira; capoeiragem, ambiente social dos capoeiras; capoeirista, praticante de movimentos de capoeira, sem envolvimento com o ambiente social dos capoeiras. 5 palavras de Andery, Se o real é em si contraditório e seu eterno movimento, eterno fazer-se e refazer-se, é dado por esse movimento de antagonismos, o pensamento, a ciência devem buscar desvendar esse movimento que é a chave da compreensão, seja da economia, da história, de qualquer outra ciência. Dado que o movimento é a manifestação da contradição, esta necessita ser desvendada para que se compreenda o fenômeno, o que implica compreender seu movimento (ANDERY et all, 1996, p.410). Dando continuidade, observemos como Andery, apoiada em Marx, ao apresentar as ações humanas de forma contraditória, nega o caráter imutável, pronto e harmônico das relações sociais: Nessa perspectiva, os fenômenos não existem de maneira isolada ou simplesmente somados. Os fenômenos no seu movimento constituem-se a partir de múltiplas determinações. Desta forma, o fenômeno faz parte da totalidade, que o direciona, ao mesmo tempo que este a determina. “No corpo da sociedade todas as relações coexistem simultaneamente” (MARX apud ANDERY et al, 1996, p.412). Assim, tomamos com base no concreto as possibilidades de entender onde se aplicam as categorias universais e as categorias empíricas necessárias ao exercício de desvelar o fenômeno da capoeira, estas nos indicam a melhor forma de enxergar, no limite deste trabalho, as relações que compreendem o objeto em causa. [...] a realidade não se apresenta aos homens à primeira vista, sob o aspecto de um objeto que cumpre intuir, analisar e compreender teoricamente, cujo pólo oposto e complementar seja justamente o abstrato sujeito cognoscente, que existe fora do mundo e apartado do mundo [...] (KOSIK, 2002, p. 13-14) 6 Nesse sentido, Começamos o nosso exercício compreendendo o que é o capital em essência. Ele é uma relação social, uma contradição em processo, a valorização do valor, síntese de múltiplas e complexas determinações. No bojo destes pressupostos decorre o entendimento de que na sociedade das mercadorias a capoeira na forma mercantil além do valor de uso passa a ter também ‘valor de troca’ 6 , constituindo uma unidade em contradição, distanciado-se daquilo que a identifica como produto do trabalho humano. A realização desse fenômeno é reforçado pelo caráter fetichista construído pelo arcabouço cultural da capoeira construídos a partir de sua forma mercantil como: hierarquização (titulação-graduação), caráter pedagógico, potencialidade de inserção social entre outras. Destarte, as relações de produção da vida que decorrem da subordinação do trabalho ao capital perpassam todas as dimensões da vida humana. Em outras palavras, para entender a capoeira é necessário compreender a sociedade em que ela foi desenvolvida e suas formas especificas de desdobramento. Por sua vez, a gênese da sociedade capitalista se encontra na figura da mercadoria, e não é por acaso que, a capoeira a partir de determinado momento histórico, assume esse caráter com características singulares, mas determinada pela forma social do capital. Consideramos assim que por mais que existam diferenciações pontuais na forma capitalista brasileira, as leis gerais de produção da vida nesse 6 Uma parte dos componentes internos do valor da mercadoria. Valor de troca é a forma de expressão do valor, não é particularidade do valor, ou seja, não compõe junto com o valor de uso a mercadoria, valor de uso e valor de trocas são componentes da mercadoria, mas não do seu VALOR. Manifestada na sociedade mercantil no momento efêmero da troca entre produtos do trabalho humano. Nesse caso fazendo alusão a mercadoria dinheiro, que seu ‘valor útil’ é ser o equivalente geral de outras mercadorias, puro valor de troca. VALOR é o quantum de tempo socialmente necessário para produzir uma mercadoria, só pode haver valor se houver mercadoria. Por isso, o entendimento da mercadoria, na sua concreticidade, é a chave para o entendimento do capital 7 sistema, se aplicam a ela e determinam a cultura produzida em seu interior, inclusive a prática da capoeira. As mediações entre a forma geral e a forma capoeira 7 , é a tarefa que nos propomos a realizar. Nesta direção, as especificidades da conjuntura histórico-espacial que definem as práticas culturais são desveladas quando apreendemos a essência de seu movimento, ela nos indica a forma inicial e como historicamente chegamos a sua estrutura atual. Assim compreendemos, quando afirma Marx que “[...] Mesmo quando uma sociedade descobriu a pista da lei natural do seu desenvolvimento, [...] ela não pode saltar nem suprimir por decreto as suas fases naturais de desenvolvimento [...]” (MARX, 1988, p. 19). Como foram os 70 anos, da década de 1930 até o século XXI, a esteira em que se desenvolveu a capoeira do Recôncavo Baiano na forma mercantil, em sua forma capital, enquanto mercadoria inserida no estágio mais avançado da economia global. Alguns documentos apresentados para análise estão presentes nos sítios de internet, que demonstram a adequação dessa manifestação aos interesses do capital, os principais sítios consultados foram: ABADA-Capoeira 8 , Capoeira Brasil 9 , Muzenza 10 , etc. Destacando essa pequena amostra de detalhes públicos, fica claro que: o desenvolvimento da capoeira expressa-se tal qual as forças produtivas do grande capital; a expansão e a organização dos capoeiras atende a lógica 7 Características especificas da capoeira na sociedade capitalistas, sendo apreendida pelas categorias empíricas do objetos capoeira. 8 www.abadacapoeira.com.br, esse é o endereço do portal, mas existem diversas páginas do grupo no mundo. Instituição centrada na figura de José Tadeu Cardoso – Mestre Camisa. 9 www.capoeirabrasil.com , portal de Los Angeles, Mestre Boneco – Beto Simas. Nesse caso existem mais dois Mestres: Paulinho Sabiá – Paulo César da Silva Sousa; Paulão – Paulo Sales Neto. 10 www.muzenza.com . Site do “Mestre Burguês” – Antonio Carlos Menezes 8 burguesa atual; e, a chave da compreensão da capoeira no seu estágio atual encontra-se na forma celular da capoeira de 1930. Neste sentido, Marx nos indica o caminho a ser tomado através da metáfora do microscópio 11 e dos “reagentes”, que para o trato com o conhecimento social devem ser substituídos por ferramentas de pensamento. [...] A forma do valor, cuja figura acabada é a forma do dinheiro, é muito simples e vazia de conteúdo. Mesmo assim, o espírito humano tem procurado fundamentá-la em vão há mais de 2000 anos [...] Por quê? Porque o corpo desenvolvido é mais fácil de estudar do que a célula do corpo. [...] (MARX, 1988, p. 17-18) Assim, gostaríamos de chamar a atenção para uma questão fundamental relacionada ao nosso esforço por melhor compreender a capoeira nos anos de 1930 e 1940: o que é capoeira enquanto mercadoria? Mediante a análise de conteúdo de obras sobre a temática capoeira, identificamos que os escritos partem daquilo que deveriam explicar, “[...] por outro lado, teve êxito, ao menos aproximado, a análise de formas muito mais complicadas e replenas de conteúdo [...]” (MARX, 1988, p. 18), ou seja, do corpo desenvolvido da capoeira, de modo que chamamos atenção para a necessidade de melhor compreender a gênese da mesma, em conhecer sua célula no interior da sociedade de classes. Nos próximos capítulos, buscamos apresentar uma análise inicial desta temática, para tanto, nos referenciamos em estudos: da Sociologia Brasileira Moderna 12 , afim de melhor compreender a composição estrutural histórica do 11 Termo usado por Marx no prefácio da 1ª edição em Alemão “[...] na análise das formas econômicas não podem servir nem o microscópio nem reagentes químicos. A faculdade de abstrair deve substituir ambos.” (MARX, 1988, p. 18) 12 Termo utilizado por Antonio Candido, no prefácio de Raízes do Brasil, nomeando, assim, a fase inicial dos estudos científicos brasileiros no campo da sociologia da década de 1930. Mas centralmente nas obras: Casa Grande Senzala, Gilberto Freyre; Raízes do Brasil, Sérgio 9 Brasil; da Educação (autores que reivindicam o projeto socialista como horizonte social); da Educação Física, especificamente, a cultura corporal 13 (COLETIVO DE AUTORES, 1992) e de pesquisadores que versam sobre a capoeira e trazem mais elementos de análise na compreensão desse fenômeno. Buarque de Holanda; Formação do Brasil Contemporâneo; Revolução Burguesa no Brasil, Florestan Fernandes. 13 Termo desenvolvido no COLETIVO DE AUTORES, que conceitua o movimento humano, que se consiste na ação reflexiva entre homem e ambiente. A partir desse termo, esse livro traz para o campo da Educação Física o referencial do Materialismo Histórico Dialético como método de análise do objeto da Educação Física, no qual aprofundaremos em capítulos posteriores. 10 2. O PROCESSO DE MERCADORIZAÇÃO DA CAPOEIRA 2.1 – BRASIL: NOVA FORMA PRODUTIVA Nesta seção realizamos uma breve digressão histórica focada na prática social da capoeira nas décadas de 30 e 40 do século XX, quando acontecem as transições estruturais dessa manifestação, a fim de explicitar o que, a nosso ver, representa a transformação desta de bem cultural, entendida aqui enquanto prática social cujo produto restringe-se ao seu valor de uso, à mercadoria, quando, vê-se negado o seu valor de uso a fim de constituir-se enquanto valor de troca. Chamamos a atenção que para compreender a ascensão do movimento da capoeira, partiremos do movimento social que a gerou, a fim de entender as transições mais gerais da sociedade brasileira, fruto de um capitalismo tardio situado na periferia do mercado mundial. De acordo com Fernandes, 2006, podemos identificar como “espírito revolucionário” no Brasil o rompimento com a lógica estrutural que o caracterizava desde os tempos de colônia, que só haveria de acontecer no final do século XIX, na constituição de uma elite nacional com relativa autonomia nos setores econômicos, capaz de promover as mudanças estruturais que se concretizariam nos anos 1920 a 1930. Nesse sentido buscamos evidenciar o que denominamos de “coincidências” históricas entre a ascensão social da capoeira e a constituição do “Estado Burguês brasileiro”. 11 Antes de avançarmos no debate acima citado, gostaríamos de explicitar a ampla variedade de significações para a acepção sobre capoeira em estudos anteriores: São diversas as acepções e proveniências para o termo “capoeira”. Marinho (1945) é um dos primeiros autores a reunir os estudos dos principais dicionaristas em língua portuguesa sobre “capoeira” até sua época, verificando “uma discordância quanto à origem da palavra capoeira” e requerendo esclarecimento para o assunto (p.11-13). Posteriormente, Rego (1968, p.17) compreende em seu trabalho mais de trinta significações para “capoeira” e seus derivados, desde “cesto” de aves ou “capões” – provindo do Português - até “mato que foi cortado” - atribuído ao Tupi autóctone, constatando a divergência presente em Marinho (1945) sobre a proveniência do vocábulo. Rego (1968) encontra o registro do vocábulo em Portugal em 1712 e afirma seu conhecimento em todo território colonial brasileiro em diversas acepções (p.25), do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Araújo (1997, p.76) indica a existência já no século XVI, tanto no Brasil quanto em Portugal, com pelo menos cinco significados distintos entre si, sendo sua acepção principal relacionada ao “local apropriado para guardar galináceos de capão de qualquer espécie. (ANNUNCIATO, 2006, p. 7) A primeira menção oficial à prática de capoeira data de 25 de Abril de 1789, neste contexto a capoeira era vista enquanto prática criminal, de acordo com Nireu Cavalcante, o registro policial cita a prisão de Adão, pardo, escravo, acusado de ser “capoeira” (“O Capoeira”, Jornal do Brasil, 15/11/1789, citando do códice 24, Tribunal da Relação, livro 10, Arquivo Nacional, Rio de Janeiro). É mister na história da capoeira dos séculos XVIII e XIX essa relação entre marginalidade e sua prática, traço que é confirmado por historiadores, que versam sobre essa temática. Segundo Soares (1994), a transição da situação social dos capoeiras, ligados às práticas pouco respeitáveis da sociedade é o que constrói o argumento de que os capoeiras de outrora, estavam engajados no “mercado de 12 trabalho” como seguranças, leões de chácara e outras funções que utilizavam das valências “beligerantes” dos capoeiras do século XIX e inicio de XX. Neste sentido faz-se necessário chamar atenção para as diferenças entre categorias fundamentais da tradição marxista: força de trabalho, meios de produção e mercadoria. O argumento que levantamos é que a capoeira só passa a se estruturar na forma como conhecemos, graças as transformações sociais desencadeadas por uma elite com características burguesas 14 Assim, o burguês e a burguesia, termos tratados com tanto cuidado por Florestan Fernandes, se organizam de forma a superar as antigas classes dominantes (Igreja e Aristocracia Rural) nos séculos XIX e XX. É preciso não se enganar quanto a isso. Assim como, no século XVIII, a Guerra da Independência americana tocou o sino de alarme para a classe média européia, no século XIX a Guerra Civil norteamericana tocou-o para a classe operária européia. [...] Uma nação deve e pode aprender das outras. Mesmo quando uma sociedade descobriu a pista da lei natural do seu desenvolvimento [...] (MARX, 1988, p. 19) Feito este parêntese, acentuamos que no final do século XIX e início do século XX a capoeira ainda não se constituía como uma mercadoria, mas, como uma qualificação que habilitava os capoeiras a ingressarem no mercado de trabalho. Acreditamos que o período histórico de maior proeminência para esta expressão do fenômeno ocorre no final do século XIX. Segundo Abreu (2005, p.10) iniciada pelos, “[...] capoeiras baianos [...] que formaram a tradição do jogo da capoeira baiana, hoje universalizada como o jogo da capoeira”. 14 A burguesia possui um processo histórico diferenciado no seu aspecto fenomênico, mas as características essenciais a definem como presentes no Estado nação Brasil pelos espíritos liberais crescentes nas capitais e nas suas representações sociais como o movimento abolicionista e republicano defendido pelos políticos liberais 13 Entretanto, a luta pela sobrevivência no novo sistema social atribui características distintas para capoeira em diferentes locais. As documentações presentes nos estudos de PIRES (2001) e SOARES (1994; 2001) nos trazem um panorama carioca da capoeira no Império e primeira República. No caso da Bahia, ABREU (2003; 2005) trouxe os elementos dessa manifestação que se apresentava de forma diversa. No caso de Pernambuco, SILVA (2006, p.44) descreve a capoeira deste período como prática de valentões: “[...] os capoeiras de Pernambuco mais especificamente de Recife, [...] ficaram conhecidos como os Brabos”. Apesar de considerarmos neste estudo as expressões da capoeira nestas três localidades, estamos cientes de que houve práticas semelhantes em diversas regiões do Brasil. No Rio de Janeiro do século XIX, os capoeiras assumiram uma perspectiva mais beligerante e organizativa, como ANNUNCIATO descreve, ao contrário da Bahia, que trazia aspectos mais lúdicos em sua prática: Os registros policiais baianos não fazem menção à “capoeira”. Mesmo a partir do código penal de 1890, o enquadramento legal não se dava pelo artigo 402, mas, por exemplo, pelo artigo 303 por “lesões corporais”. Pires (2004, p.161) alude à “possibilidade de existência de uma intensidade lúdica maior entre praticantes baianos”, afirmando que “alguns aspectos lúdicos se revelaram muito mais pelos indícios orais do que pelos contidos nos registros jurídicos e policiais” (ANNUNCIATO, 2006, p. 09). Os registros relativos à prática da capoeira no século XIX, no geral, referem-se a: prática de valentões, atividade lúdico-recreativa, manifestação criminal, dentre outras. A explicação sobre este primeiro período histórico, 1888 à 1941, responde, assim, a finalidade de contextualizar o terreno sob o qual se 14 edificaria, a partir da década de 1930, uma nova forma de manifestação da capoeira. Nesta direção, iniciamos um segundo momento do debate, neste buscamos analisar a adaptação da capoeira aos valores sociais burgueses, a nosso ver, a origem da pseudo-dualidade 15 fundamental da capoeira mercantil 16 , se origina nas décadas de 1930 e 1940. Neste sentido, articular o desenvolvimento da capoeira com seus respectivos contextos históricos nos séculos XIX e XX, na região do Recôncavo Baiano 17 , constitui a chave para o entendimento da relação da capoeira no mundo capitalista 18 . 2.2 – CAPOEIRA MERCANTIL: BASE DE ANÁLISE DA CAPOEIRA MODERNA Para compreender melhor essa relação, iniciamos nossa investigação, a partir da análise sobre a essência da sociedade capitalista, como aludido por Marx (1988, p. 45): “como uma ‘imensa coleção de mercadorias’ [...]”. O ponto de partida, neste sentido, será a identificação de um momento histórico em um lugar específico: a cidade de Salvador da década de 1930. Neste contexto acentuamos que do encontro entre José Cisnando Lima e Manoel dos Reis 15 Essa expressão por nós cunhada, representa o restrito espaço das perspectivas de mercado, presentes na manifestação da Luta Regional Baiana e no Centro Esportivo de Capoeira Angola (posteriormente definidas nesse trabalho), as duas máximas referências de trato comercial do ritual da capoeira. 16 Essa expressão por nós cunhada, representa o restrito espaço das perspectivas de mercado, presentes na manifestação da Luta Regional Baiana e no Centro Esportivo de Capoeira Angola (posteriormente definidas nesse trabalho), as duas máximas referências de trato comercial do ritual da capoeira. 17 Cabe aqui uma ressalva. Segundo Florestan Fernandes, o Brasil viveu um capitalismo específico de periferia do mercado mundial, assumindo características do modo de produção agrária de monocultura extrativista. Isso reflete toda composição social da Bahia até meados do século XX, onde se inicia, pelo menos nas capitais brasileiras, uma urbanização burguesa aos moldes europeus do século XIX. 18 Mesmo que de forma atrasada, o Brasil possui uma aceleração em pólos industriais para se alinhar a concorrência mundial e entrar não como produtor de matérias primas, mas como produtor de mercadorias industriais. 15 Machado surge os elementos essenciais para a mundialização dessa manifestação sete décadas depois. Alguns esclarecimentos sobre essas duas personalidades se fazem necessários. Manoel dos Reis Machado, Mestre Bimba, a maior personalidade da capoeira moderna 19 . O nome mais festejado da historia da capoeira de todos os tempos. José Cisnando Lima é o responsável pela formação da primeira turma de capoeira composta por estudantes de medicina, além de ter dado uma nova forma a elementos tradicionais da capoeira. O detalhe é que eram quase todos cearenses, incluindo ele. Naquela época a Faculdade de Medicina da Bahia (primeira do Brasil) era uma referência nacional, em ensino superior, onde estudavam os filhos da elite do Nordeste do Brasil. As referências consultadas sobre a história da capoeira 20 coincidem em relação à importância desse encontro. Acreditamos que esta passagem histórica representa a crisálida da expansão da capoeira quatro decênios após a década de 30, do século passado, ademais, corresponde ao dado histórico sobre capoeira mais documentado até os dias atuais. Note a interpretação dada ao encontro pelo aluno mais velho do mestre Bimba, ainda vivo, Dr. Decânio, “Cisnando trazia no bolso uma senha... [sic] o acesso ao Palácio e ao Interventor da Bahia, o Ten. Juracy Magalhães” (DECÂNIO FILHO, 1996-B). A citação reflete a importância desse momento que, em suma, possibilitou: a permissão oficial da prática da Luta Regional Baiana, do registro oficial do Centro de Cultura Física Regional e do título de professor de Educação Física a Manoel dos Reis Machado. 19 Termo designado à prática da capoeira que se inicia nos anos 1930 até os dias atuais. DECÂNIO FILHO (1996-A; 1996-B), ABREU (1999), VIERA (1990), ALMEIDA (1982) e outros. 20 16 O mundo na década de 1930, já havia passado por uma revolução socialista, uma guerra mundial e pela expansão do mercado mundial de forma gigantesca, dadas as contribuições do modelo taylorista-fordista 21 de produção. A necessidade de novos mercados obrigavam as políticas internacionais a apoiar, em várias esferas de influência, progressos em países 22 que vivem a margem do mercado. No bojo destas transformações, Juracy Magalhães 23 , aos 26 anos assume o cargo de interventor do Estado da Bahia, contrariando a tradicional elite baiana. Iniciando ações políticas que romperam com a lógica das elites agrárias ligadas ao passado do ciclo do açúcar e tabaco, responsáveis pela institucionalização da prática da capoeira. Assim, a emergência da capoeira enquanto uma prática oficializada apresenta-se em um cenário de ampla efervescência política e cultural. A oficialização da capoeira, no bojo das reivindicações estéticas da Semana de 21 Modo de organização da produção no início do século XX, onde Taylor sistematiza os métodos de produção fabril. Ele consegue, mediante o estudo científico dos gestos dos trabalhadores, um grau elevado de controle sobre seus movimentos. Acontece a divisão exacerbada dos momentos da produção, levando a implementação das linhas de montagem, que permitem diminuir o tempo de produção de mercadorias. Esse modelo teve finalidade de construir bens de consumo, como automóveis, a preços muito mais baixos e elevando os salários de seus funcionários, possibilitando o consumo em larga escala de seus produtos. 22 O que os pensadores marxianos chamam de inicio da tranformação do capitalismo dependente 23 Juracy Magalhães, natural do Ceará (outra coincidência?), representante do movimento Tenentista*1, insere-se neste contexto, pela via do Estado populista*2 da era Vargas*3. *1 – Movimento dentro das forças armadas brasileiras, liderada por jovens oficiais, que desejava o fim da política do café com leite e sintonizava com idéias democráticas de influência liberal, pregadas por Vargas nos anos de 1930. *2 – Historicamente, no entanto, o termo populismo acabou por ser identificado com certos fenômenos políticos típicos da América Latina, principalmente a partir dos anos 1930, estando associado à industrialização, à urbanização e à dissolução das estruturas políticas oligárquicas em que o poder político encontra-se firmemente na mão de aristocracias rurais. *3 – Um mecanismo de integração das massas populares à vida política, mas realizou tal incorporação de forma “subordinada”, colocando a figura de um líder carismático e autoritário como interlocutor entre as massas e o aparelho de Estado, favorecendo o desenvolvimento econômico e social, mas dentro de uma moldura estritamente burguesa. 17 Arte Moderna de 22 24 , respondia, neste contexto, a necessidade do Estado Getulista para a construção de uma política pautada no nacionalismo. Neste contexto, o Estado brasileiro apresentava-se em transição de uma elite aristocrática de influência Ibérica 25 , de base econômica agrária, a uma elite industrial burguesa, com uma identidade construída à luz de países como França, Inglaterra e Estados Unidos. Vejamos como Marx trata o desenvolvimento tardio no interior do ciclo de desenvolvimento econômico mundial: [...] não se trata do grau mais elevado ou mais baixo de desenvolvimento dos antagonismos sociais que decorrem das leis naturais da produção capitalista. [...] dessas tendências que atuam e se impõem com necessidade férrea. O país industrialmente mais desenvolvido mostra ao menos desenvolvido tão somente a imagem do próprio futuro (MARX, 1988, p. 18). Essa assertiva é situada no Brasil por Florestan Fernandes, quando afirma a vulgaridade da utilização do termo burguesia, situando no tempo econômico com relação à conjuntura da revolução burguesa no Brasil: [...] existe ou não uma "Revolução Burguesa" no Brasil? Há uma tendência, bastante forte e generalizada, no sentido de negá-la, como se admiti-la implicasse pensar a história brasileira segundo esquemas repetitivos da história de outros povos, em particular da Europa moderna. A questão estaria mal colocada, de fato, se se pretendesse que a história do Brasil teria de ser uma repetição deformada e anacrônica da história daqueles povos. Mas não se trata disso. Trata-se, ao contrário, de determinar como se processou a absorção de um padrão estrutural e dinâmico de organização da economia, da sociedade e da 24 Semana que inaugura a fase modernista dos artistas brasileiros (mais restrito a capital do Estado de São Paulo, centro econômico do país), rompendo com os padrões estéticos importados da Europa. 25 Termo com o que HOLANDA (1995), refere-se a Espanha e Portugal, que possuem semelhanças em suas composições sociais e como expandiram sua cultura para as suas colônias americanas. 18 cultura. Sem a universalização do trabalho assalariado e a expansão da ordem social competitiva, como iríamos organizar uma economia de mercado de bases monetárias e capitalistas? É dessa perspectiva que o "burguês" e a "Revolução Burguesa" aparecem no horizonte da análise sociológica. Não tivemos todo o passado da Europa mas reproduzimos de forma peculiar o seu passado recente, pois este era parte do próprio processo de implantação e desenvolvimento da civilização ocidental moderna no Brasil. Falar em Revolução Burguesa, nesse sentido, consiste em procurar os agentes humanos das grandes transformações histórico-sociais que estão por trás da desagregação do regime escravocrata-senhorial e da formação de uma sociedade de classes no Brasil (FERNANDES, 2006, p. 37). Neste contexto, buscava-se nas manifestações populares, a exemplo da capoeira, as referências para uma construção forçosa e muitas vezes equivocada de conceitos relacionados a elementos da cultura corporal 26 : esporte 27 , ginástica 28 , arte marcial 29 , etc. Esses equívocos conceituais, que ainda povoam o senso comum e alguns escritos, deram a base do entendimento da prática da capoeira. Enquanto luta 30 , forma de sua gênese, seus elementos podem ser associados a diversos seguimentos que a potencializam enquanto: jogo (esporte), ginástica, e elementos que traduzem a forma como os homens se relacionam no momento histórico e na forma comercial destes aspectos citados. Acentuamos, assim, que a amplitude de 26 Termo desenvolvido no coletivo de autores de 1992 para designar ação corporal humana, ação consciente de transformação da natureza, transformando-se simultaneamente. 27 Segundo Bracht, 2003, esporte é a fase avançada do jogo, que assume características espetacularizantes e generalizantes, traduzido por regras, expansão e seleção. Todo esporte é jogo, mas nem todo jogo é esporte. 28 Segundo Langlade & Langlade (1970), o termo significa “exercitar o corpo nu” (gimnus). Prática surgida na Grécia Antiga (mais específico na Cidade-Estado Atenas), numa sociedade escravista e tinha o sentido da exercitar do corpo, com o objetivo do mantê-lo belo e prepará-lo para as atividades de guerra. Por conta da divisão social do trabalho, os gregos atenienses tinham longos períodos de ócio 29 As Artes Marciais – em homenagem ao deus da mitologia greaco-romana (Marte – Ares) – são técnicas e práticas de combate militares, desenvolvidas para guerra (luta com sentido da guerra). Toda arte marcial é luta, mas nem toda luta é arte marcial. Nesse caso são lutas desenvolvidas para essa finalidade no corpo militar: pugilato (boxe), esgrima, entre outras. 30 Luta é caracterizada pela idéia agonista, de sobrepujar o outro (física, ideológica, política entre outras formas de luta). 19 usos para a capoeira demonstra sua capacidade enquanto elemento da cultura corporal, de ser explorada em diversas formas e espaços ideológicos. Note. A idéia de Estado nacional, segundo Chauí, é desenvolvida pelo movimento do Romantismo, “[...] Em outras palavras, com o Romantismo surgiram as idéias de arte popular e cultura popular como manifestações da tradição ou espírito de um povo [...] (CHAUÍ, 2003, p. 288). No Brasil esse movimento encontra nos índios a inspiração que precisava, só incluindo os negros na terceira fase do Romantismo brasileiro, Castro Alves (Condor) 31 , poeta abolicionista (político liberal), utiliza a figura do negro, enquanto escravo, como tema de seus poemas. Portanto, somente no Modernismo evidencia-se um modo de vida representativo da identidade da nação brasileira, visto que os intelectuais brasileiros, à moda dos “Intelectuais e artistas europeus consideravam que a nacionalidade constituíra o espírito de um povo, o qual se exprimia na língua, nos costumes, na religião, nas artes e nas tradições nacionais” (Idem, ibidem, p. 288). É mister notar que essa idéia de representação de brasilidade acompanha a capoeira desde antes de sua inserção na sociedade civil, nos meados da década de 30, do século passado, até os dias de hoje. [...] essa corrente artística coincide com uma situação histórico [sic] determinada, qual seja, a consolidação e o fortalecimento dos Estados nacionais, que passaram a ser definidos pela unidade de língua e religião e pela unidade territorial ou política. Surge a idéia política de nação e, com ela, o fenômeno do nacionalismo (ibidem, p. 288) 31 Alusão a 3ª geração do Romantismo brasileiro, chamado de condoreirismo. Destaca-se Castro Alves por uma posição política liberal, em favor do fim da escravidão 20 Mas como, neste contexto, a capoeira se transforma em mercadoria 32 ? E ainda: Qual era a necessidade do Mestre Bimba, e dos estudantes de medicina no decênio de 1930? Inicialmente consideramos que a capoeira se constitui como elemento da cultura corporal do ambiente da classe proletária, que assume a lógica social (capital) da Cidade da Bahia 33 do inicio do século XX. Na próxima questão damos continuidade a análise. 2.3 – INSERÇÃO DO ‘CAPOEIRA’ NA SOCIEDADE DE CLASSES 34 Percebam, após a abolição da escravidão (13 de maio de 1888) as frentes de trabalho menos qualificadas passam a ser ocupadas pelos exescravos, dada às novas condições das forças produtivas e nível técnico que eram necessários para outros postos. Neste contexto, os capoeiras eram absorvidos no mercado de trabalho por uma qualificação beligerante, característica dos praticantes desse momento histórico. A escola, por sua vez, era um privilégio para um segmento muito restrito da sociedade, no qual, certamente, não estavam incluídos os ex escravos. A capoeira, nesse contexto, apresenta-se como um instrumento a serviço dos Aparelhos Repressores do Estado, da Burguesia e da Aristocracia. A força de trabalho 35 do leão de chácara ou do malandro do cais do porto que constituíram a capoeira dos anos 10, 20 e 30 do século XX no Recôncavo Baiano, ainda não se realiza sob a forma ritual da capoeira. Marx, 32 “A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie.” (MARX, 1988, p. 45). 33 Termo utilizado por Antonio Risério, 2003, para designar como os mais antigos chamavam a cidade de Salvador, ainda alcançando no interior por esse mesmo termo. 34 Utilizamos esse subtítulo fazendo uma alusão ao livro do Florestan Fernandes, intitulado A inclusão do Negro na sociedade de Classes. 35 Em O Capital, Marx define a força de trabalho como um dos elementos mais importantes da forma capital, D-M-D’, que é conseguido pela forma da mais valia. Trabalho produtor de maisvalor. 21 (1988) no capítulo I – A Mercadoria – nos mostra que a forma social da força de trabalho depende de sua relação e forma com os donos da propriedade privada. A capoeira assumirá o seu valor mercantil, quando o Mestre Bimba e seus alunos instituem a capoeira enquanto um conhecimento a ser comprado sob a materialização da “luta” 36 . Valor de uso para os alunos e valor de troca para o Mestre Bimba. Vejam. A capoeira em seu conjunto de valores constitui um arcabouço gestual, que do nosso ponto de vista, se constrói através das relações dos capoeiras. Partindo dos escritos de Abreu (2003 e 2005), a introdução de instrumentos musicais (berimbaus e outros instrumentos percussivos 37 ), normas e regras de jogo, foram introduzidos no final do século XIX e começo do século XX, o que indica essa enorme divergência entre as estruturas e lógicas das rodas de diferentes espaços. Como é possível constatar através dos Relatórios Técnicos Científicos (2002, 2003-A e 2003-B) da disciplina Ensino e Pesquisa na Roda de Capoeira (Atividade Curricular em Comunidade – EDC 464). Essa relação é desenvolvida principalmente no processo de ensinoaprendizagem, elemento notoriamente privilegiado no mundo dos capoeiras. E é sob esse signo de um conhecimento materializado em luta, que a capoeira encontra na contradição interna entre produção e consumo sua forma de mercadoria. 36 Luta que por relações sociais que a determina, assume o caráter de jogo, um jogo que se estrutura pela luta com finalidades lúdicas. 37 A introdução de instrumentos como atabaque só acontecem nos anos de 1940 e 1950, o Mestre Canjiquinha (Washigton Bruno da Silva – 1925-1994) em Rêgo (1968) introduz o instrumento por conta dos shows folclóricos. Mestre Bimba considerava um instrumento sagrado, por isso não o colocava no seu ritual da Regional. 22 Assim, a capoeira se constitui enquanto mercadoria quando passa a ter possibilidade de troca. O Capoeira deve possuir alguma coisa para ser trocada, seu conhecimento materializado no ensino-aprendizagem da capoeira, passa a ter valor de uso para os que vão consumi-la. Esse valor de uso consiste, nesse momento histórico, em apreensão de um bem cultural em forma de luta-ritual, a única genuinamente brasileira 38 Por sua vez, a capoeira passa a ter valor, quando suas relações são regidas pelos desígnios do desejo da troca. A vontade daquele que consome institui os movimentos mais ligados a uma estética herdada da ginástica militar, o sistema de ensino se adapta, nestes termos, a lógica capital 39 . A necessidade de legitimação da capoeira frente às instituições escolares de educação; educação física surge na exigência de métodos ginásticos sistematizados; apoiados nas ciências naturais, especialmente médicas, a fim de atribuir um caráter de cientificidade as práticas da capoeira; no horizonte das necessidades mais gerais a que estavam submetidas as práticas corporais: formar o novo trabalhador, organizado, respeitando a hierarquia da fábrica, refletindo os mesmo padrões de patentes militares. Em outras palavras, a capoeira precisava se adequar às normas sociais, incorporando assim, via instituições militares, do positivismo, a idéia de ordem e progresso. No bojo dessas transformações acentuamos que um dos elementos mais significativos da época é que as atividades da capoeira passaram a ser executadas em ambientes fechados e em horários pré38 Argumento utilizado com muita freqüência nas literaturas que endossam as idéias de estado nação brasileiro, que desde o inicio do século XX, conclamam a capoeira como: método de ginástica nacional, luta genuinamente brasileira, prática ludo-revreativa do ‘povo brasileiro’ entre outras. O que está longe daquilo que defendemos como cultura humana universal. 39 As oito seqüências do Mestre Bimba do ensino da Luta Regional. Subdivididas com o objetivo de aprendizado do movimento em períodos mais curtos (produção), 6 meses e completo domínio da seqüência de ensino 23 determinados. Essa forma de organização do trato com a capoeira é, então, difundida para resto do Brasil e na atualidade, nos mais de 132 países em que se pratica capoeira, como nos mostram os dados organizados por (FALCÃO, 2004). Isso tudo não seria possível sem que o valor de uso da capoeira fosse socialmente reconhecido nas décadas de 1920 e 1930. A forma capital 40 da capoeira se inicia na ruptura interna entre seu valor de uso (cultura corporal socialmente construída pela classe trabalhadora) e o valor de troca (mercadoria socialmente vendida como objeto da indústria cultural de massa). Vejam como isso ilustra o momento dos Estudantes de medicina e sua relação mercantil com o Mestre Bimba, o que evidência, em nossa opinião, a necessidade dos estudantes de se relacionar com a capoeira como um “[...] objeto de consumo” (MARX, 1988, p. 45) ao se apropriarem de uma prática da capoeira, enquanto atividade formal, na esfera da circulação de mercadorias, já eivada de uma áurea mística, ela se apresentava como produto que para ser consumido pelos alunos, via-se negado de seu valor de uso pelo seu produtor, “[...] Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social desta. [...]” (MARX, 1988, p. 45). A necessidade do Mestre Bimba, por sua vez, era o que Marx denomina “[...] meio de subsistência” (MARX, 1988, p. 45), necessitava, em outras palavras, trocar o produto da sua força de trabalho por outras mercadorias, ali materializada enquanto um conhecimento prático da ‘Luta Regional Baiana’. 40 Segundo os estudos sobre O Capital, a forma capital é Dinheiro – Mercadoria – mais Dinheiro (D-M-D’), construindo a formula síntese do capitalismo. A estrutura ampliada pela mais valia. 24 Por sua vez, surgia em 23 de fevereiro de 1941 (DECÂNIO FILHO, 1996-B), um pólo de aglutinação dos tradicionais capoeiras 41 que se colocavam em oposição ao movimento da ‘Regional Baiana’. Com o apoio dos intelectuais e algumas figuras de força política, Vicente Ferreira Pastinha, Mestre Pastinha, inaugura o Centro Esportivo de Capoeira Angola 42 da mesma forma que a Regional, assume elementos como: uniformes, sistema de ensino formal, etc. Pastinha, e seus alunos outorgavam os guardiões das tradições da capoeira, ou melhor, os donos da tradição 43 . Assim – tanto no movimento da Regional Baiana, quanto no Centro Esportivo Angola – eram necessárias transformações na forma da capoeira para ela ter valor 44 , ser socialmente reconhecida, mas quando subsumida a relação da mercadoria ocorre um distanciamento daquele que a produz, ou seja, um estranhamento do homem com produto de seu trabalho. Só podemos encontrar a forma capital, se analisarmos a capoeira a partir da forma mercantil, ou seja, para produzir mais valor, ela teria que produzir valor, e só existe valor se existir valor útil fruto de trabalho concreto. Daí a importância do nosso trabalho. Nos parágrafos anteriores tratamos de elementos, mesmo que de forma inicial, em que buscamos explicar a capoeira em seu desenvolvimento 41 Após as alterações da prática da capoeira realizadas pêlo grupo de Mestre Bimba, por uma relação de antagonismo, surge o grupo dos praticantes que defendem a tradição da capoeira 42 Os termos utilizados para denominação da manifestação dessa escola de capoeira, são a clara expressão de: Esporte numa conceituação equivocada de jogo; Capoeira como prática permitida legalmente; e Angola como referencia a uma africanidade, que está ligado a uma ancestralidade dos escravos vindos nos séculos XVI à XVIII denominados Bantos, segundo Risério (2004, pp. 158-171) 43 Trataremos desse conceito em trabalhos que desdobraram o conceito de cultura, tratados por EAGLETON (2005) e AHMAD (1999-A, 1999-B e 2002). 44 A Forma mercantil de produção. Trabalho abstrato é o componente do valor, ou seja, quantidade de horas de gelatina de trabalho [uma abstração para equalizar os diversos tipos de trabalhos (qualitativamente e quantitativamente diferentes) possibilitando a troca] a unidade do valor é “hora de trabalho”. 25 histórico, propiciando a identificação de possibilidades de articulá-la a uma proposta pedagógica socialista. A Regional e a Angola construíram no espaço da capoeira, metodologias eivadas de elementos que dizem mais respeito a lógica burguesa, do que a lógica do trabalhador. Mestre Bimba considerava essa ação como uma evolução, tirando a capoeira “[...] debaixo da pata do boi [...]” (BIMBA, apud DECÂNIO FILHO, 1996-B). Dedicaremos a próxima seção à identificação de elementos da capoeira que permitam articulá-la a uma proposta pedagógica socialista, com base teórica no Materialismo Histórico Dialético. Faremos tal abordagem inicialmente a partir dos apontamentos de alguns estudiosos da perspectiva da teoria crítico superadora, que indicam procedimentos metodológicos no trato do conhecimento da cultura corporal, em específico da capoeira. 26 3. CAPOEIRA E EDUCAÇÃO Nesse capítulo a referência principal da análise é a organização do trabalho pedagógico e sua relação com a capoeira. Concebemos como trabalho pedagógico a organização global do trabalho humano. Utilizamos o termo organização do trabalho pedagógico como exemplo ilustrativo da institucionalização pela qual a capoeira vem passando, ademais, expressa nossa preocupação com o que aponta FALCÃO (1996), ABIB (2004) e REIS (2000) sobre a inserção da cultura popular na escola, mais especificamente, a capoeira na escola capitalista. As transformações da capoeira, em particular, no que se refere à mudança de bem cultural à bem de consumo, tem como cerne a relação pedagógica. A necessidade de adaptação a lógica de mercado, por sua vez, traz para esse universo questões tais como: alterações nas relações de poder: mestre – aluno, grupo de capoeira, comunidade da capoeira e, reforço do fetiche da graduação – titulação, associado a lógica da hierarquia militar, como ilustrado por Annunciato, 2006 e Silva, 2006. As práticas docentes da capoeira na atualidade refletem a grande influência da Educação Física Militar e Tecnicista. No Brasil, especificamente nas quatro primeiras décadas do século XX, foi marcante no sistema educacional a influência dos Métodos Ginásticos e da Instituição Militar. Ressalta-se que o auge da militarização da escola corresponde à execução do projeto de sociedade idealizado pela ditadura do Estado Novo. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 53). Aulas subdivididas em aquecimento, alongamento, exercícios específicos de ginástica, demonstram a concepção de ensino predominante na área, e 27 possivelmente suas tendências. Este foi um processo iniciado na capoeira com Mestre Bimba, difundido e ampliado nos anos de 1960 e 1970, nas grandes metrópoles nacionais, em que as necessidades de expansão e disseminação pelos grandes grupos do Brasil 45 adequaram-se ao modelo burguês de sociedade, assumindo características de grandes corporações capitalistas. Esse referencial também é responsável, em grande parte pela expansão da capoeira no mundo. A necessidade da crítica radical, como postura intelectual, emana, nessas condições, do reconhecimento da impossibilidade de uma mudança estrutural na capoeira, sem o enfrentamento das contradições reais sob as quais se materializam os problemas da educação/capoeira, isto por que, o trabalho pedagógico é uma prática que não existe isoladamente da prática social coletiva, consequentemente as formas que o trabalho pedagógico assume na capoeira têm íntima relação com as formas de organização social. É preciso que cada educador tenha bem claro: qual o projeto de sociedade e de homem que persegue? Quais os interesses de classe que defende? Quais os valores, a ética e a moral que elege para consolidar através de sua prática? Como articula suas aulas com este projeto maior de homem e de sociedade? (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 26) A concepção de capoeira que iremos adotar nesta análise relaciona-se com a perspectiva difundida na obra do Coletivo de Autores(1992). O conceito de cultura corporal, segundo o Coletivo de Autores (1992), tem como base a história das atividades corporais, buscando desenvolver uma reflexão pedagógica, a partir da compreensão de que o ser humano, conceito 45 Grandes organizações de capoeira iniciada nos anos 1960 e 1970 que a partir da forma mercantil, constroem nos anos subseqüentes as relações de adequação da capoeira ao modelo capital expansionista transnacional. 28 ontológico, produz, materialmente, sua existência pelo trabalho, considerando esse elemento como exclusivo da ação 46 humana e pelas condições econômicas que o caracterizam, que lhe dão sentido, sob condições determinadas. Neste contexto, as atividades da cultura corporal, em especifico a capoeira, desenvolveram-se a partir das atividades produtivas inerentes a existência humana, inseridas assim, nos processos de produção e das relações de classes sociais decorrentes. Visto sob esse prisma, o acúmulo de conhecimento, acerca da capoeira, foi historicamente construído e produzido socialmente. A visão de historicidade possibilita uma outra lógica para o trato com os conhecimentos da cultura corporal, pois permite compreender os elementos, neste caso os elementos da capoeira, como fruto da ação humana, na relação com a natureza e entre os próprios seres humanos, entendendo-os enquanto sujeitos históricos e sociais, capazes de interferir, tanto no plano individual, quanto no plano social, caracterizando o conhecimento humano como produto da sua ação. Assim, a capoeira é produto da atividade humana, cujas categorias, princípios e leis emergem da interação do lógico e do histórico, do meio social, econômico, político e nos embates gerados pelos diferentes interesses de classes sociais decorrentes. Neste sentido, como vimos, o desenvolvimento da capoeira ocorreu no seio da luta de classes. E na sociedade capitalista, os interesses da classe detentora da força de trabalho são diferentes e antagônicos da classe 46 Ação consciente de intervenção no espaço que o circunda, alterando, articulando e projetando ações futuras, que diferencia o homem de qualquer outra atividade existente na natureza – aptidão física? Prática corporal? 29 proprietária dos meios de produção, expressando a necessidade de “uma ação prática, no sentido de transformar a sociedade de forma que os trabalhadores possam usufruir do resultado do seu trabalho” (COLETIVO DE AUTORES, 1992 p. 24), consequentemente, usufruir dos elementos da cultura corporal produzida pela humanidade, que são conhecimentos que ligam o homem ao que lhe é mais essencial, sua corporalidade, sua existência. Os fundamentos do referencial marxista de educação tem como principais elementos: consciência e a formação multilateral e politécnica do homem e a unidade entre atividade e a inserção da educação na prática social. Dando continuidade à analise dos fundamentos observamos que o conceito de trabalho na educação construído e defendido por Demerval Saviani tem como pressupostos que “A natureza humana não é dada ao homem, mas é por ele produzida sobre a base da natureza biofísica. [...] (ibid, 2005, p. 7), assumindo assim o principio da ação transformadora do trabalho. Desta forma, considerado o fato de que o trabalho está ligado diretamente a todas as formas de produzir a vida, a educação, a educação física (cultura corporal) e a capoeira se sustenta mediante a relação dos homens com outros homens (sociedade) e com a natureza. Assim, destacamos que o trabalho na forma capital ou na forma mercantil carrega em essência a forma “trabalho útil” transformadora da natureza. Temos consciência que na sociedade em que acontece a luta de classes (mercantil – nobreza, clero, servos e escravos, capital – burgueses e proletários) as contradições se expressam em todas as esferas, na capoeira não poderia ser diferente, defendemos, pois, referenciados em Gadotti seu elemento revolucionário: 30 Se, amanhã uma educação transformadora for possível é porque, hoje, no interior de uma educação conservadora, os elementos de uma educação, de uma outra educação, libertadora, formam-se dentro dessa educação. (GADOTTI, 2004, p.77) Nesse sentido, dando continuidade a citação de Gadotti, afirmamos que: como vimos é verdade que não será a educação, quiçá a capoeira, que possibilitará à superação da ordem atual, ou seja, que a superação do projeto histórico capitalista não se decidirá com o advento da capoeira como veículo de superação, entretanto, estamos convencidos da importância de sua vinculação como mecanismo de luta, no campo da disputa, da valorização da capoeira como mais uma possibilidade de formação das classes populares. É preciso que cada educador tenha bem claro: qual o projeto de sociedade e de homem que persegue? Quais os interesses de classe que defende? Quais os valores, a ética e a moral que elege para consolidar através de sua prática? Como articula suas aulas com este projeto maior de homem e de sociedade? (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 26) Na citação acima, dizemos ‘SIM’ a todas as questões. Dar as costas a uma manifestação que é considerada crime, pelo código penal dos Estados Unidos do Brasil de 1890, e que se transformou, tornando-se hoje em uma atividade praticada oficialmente em quase todos os países do mundo. É negar o conhecimento produzido pelos trabalhadores. Se tomarmos as informações fornecidas pelo presidente da Confederação Brasileira de Capoeira (CBC), Sérgio Luiz de Souza Vieira, a capoeira começa o novo milênio com presença comprovada em 132 países. Se tomarmos apenas a referência esportiva, ainda que haja mudanças freqüentes, o fato é que existem hoje no Brasil, 78 Ligas Regionais e Municipais, 24 Federações Estaduais, 01 Confederação Brasileira, 01 Associação Brasileira de Árbitros, 01 Associação Brasileira de Capoeira Especial e Adaptada. No âmbito internacional existe a Federação Internacional de Capoeira (FICA), que coordena os trabalhos das Federações Nacionais de Capoeira 31 existentes no Canadá, Portugal, Argentina, França, além da Confederação Brasileira de Capoeira. A FICA está organizando também Federações Nacionais nos EUA, Espanha, Noruega, Japão, Israel, Colômbia, Inglaterra, Bélgica, Singapura, Estônia, Rússia, Alemanha, Itália e Suíça (FALCÃO, 2004, p. 03) Dando continuidade: No Brasil, a partir da década de 1970, a capoeira vem sendo disseminada no contexto educacional, desde o ensino fundamental até as universidades, tanto públicas quanto particulares. Nesse complexo movimento, às vezes como disciplina curricular, às vezes como projeto de extensão, ou simplesmente como atividade extraclasse, ela vem despertando interesse jamais verificado anteriormente, por parte da comunidade educacional institucionalizada. Nos últimos anos, ela tem encontrado, nas universidades, um ambiente fértil para se disseminar e tem sido bastante utilizada como objeto de pesquisa pelas mais diversas áreas do conhecimento. Ademais, já se encontra presente, na condição de componente curricular, em cerca de vinte universidades brasileiras, dentre elas, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Gama Filho (UGF), Universidade Católica de Salvador (UCSAL), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). (FALCÃO, 2004, p. 05) Com esses dados, Falcão destaca a relevância de estudos que exploram esse tema, numa perspectiva diferenciada, a partir de marcos teóricos que nos permitam apreender esse movimento, explicando-o de forma que possa ser apropriado pelos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e do mundo. Dada à importância da Escola do Trabalho, buscamos nos referenciar nos seus pressupostos, em prol de uma educação em sintonia com a transformação ideológica da forma produtiva capitalista. O contexto histórico em que se edifica o pensamento de Pistrak é o da ascensão das massas na Revolução Russa (1917), o que chamaremos de 32 experiência do socialismo real. Nessa circunstância, a pedagogia dos oratórios associada ao ‘Antigo Regime’, passava a ser inadequada ao novo momento histórico. A Revolução de 1917 47 ao criar novas relações entre os homens, exigia deles novas posturas (formação de homens e mulheres vinculados ao presente, desalienados, cuja base do bem comum superasse o individualismo e o egoísmo), daí a importância da renovação dos métodos de ensino. Fazia-se necessário superar as formas de educação tradicional em direção a uma teoria pedagógica revolucionária, sem a qual, não seria possível uma prática pedagógica revolucionária. Ao abordar esta problemática, PISTRAK (2003) nos diz que: A essência destes objetivos é a formação de um homem que se considere como membro da coletividade internacional constituída pela classe operária em luta contra o regime agonizante e por uma vida nova, por um novo regime social em que as classes sociais não existam mais. Em termos mais concretos, é preciso que a nova geração compreenda em primeiro lugar, qual é a natureza da luta travada atualmente pela humanidade; em segundo lugar, qual o espaço ocupado pela classe explorada nesta luta; em terceiro lugar, qual o espaço que deve ser ocupado por cada adolescente; e, finalmente, é que cada um saiba, em seus respectivos espaços, travar a luta pela destruição das formas inúteis, substituindo-as por um novo edifício.(Ibidem, p.31) E complementa: A educação comunista deve orientar a escola em função destes objetivos colocando-os na base do seu trabalho pedagógico. (Ibidem, p. 31) 47 Estamos aqui, nos referindo a revolução de outubro de 1917, conhecida como revolução Bolchevik. Esta ocorreu após a revolução de fevereiro do mesmo ano 33 Buscamos com a análise da experiência da escola Lepechinsky compreender Pistrak como um educador vinculado às classes populares, enquanto pensador revolucionário e militante em seu próprio tempo. Para efeito dessa interlocução destacaremos sinteticamente, sob a forma de proposições, os fundamentos da escola do trabalho e assim faremos as devidas alusões ao movimento da capoeira: 1. Pensar e fazer uma escola que seja educadora do povo. Pensamento segundo o qual a escolarização do povo constituía a base das transformações culturais necessárias ao processo de construção coletiva da nova sociedade. A escola do trabalho visava, sobretudo, atender a demandas de educação do sujeito social da revolução. 2. Educação é mais que ensino. Reivindica a necessidade de superar uma concepção de escola reduzida a ‘ensino’; ao passo que fizessem parte de um mesmo programa de formação os diversos aspectos da vida das pessoas – trabalho, estudo, atividades culturais, políticas. 3. A vida escolar deve estar centrada na vida produtiva. De acordo com o autor a partir do momento em que a escola passasse a assumir a lógica da vida, seria imprescindível romper com a pedagogia da palavra e construir uma pedagogia da ação. À escola caberia a própria vida e não a preparação teórica para a vida. 4. A escola precisa vincular-se ao movimento social e ao mundo do trabalho. Exemplifica o argumento supra citado. De acordo com o autor uma escola do trabalho deveria refletir a realidade palpitante da vida. Daí a inclusão como atividades pedagógicas: o trabalho social da escola, o envolvimento dos adolescentes em atividades sociais produtivas da comunidade, a preocupação 34 com a apropriação da ciência, do trabalho e de sua organização e, por fim, o vínculo entre auto-organização dos educandos e movimentos sociais mais gerais. 5. A auto-organização dos educandos como base do processo pedagógico da escola. Argumento segundo o qual a participação autônoma, ativa e criativa dos educandos, de acordo com as condições de desenvolvimento de cada idade, nos processos de estudo de trabalho e de gestão dos problemas da escola deve realizar-se como uma necessidade. Assim, buscava-se instituir práticas que favorecessem a participação social igualmente consciente e ativa. 6. Pensar em um jeito de desenvolver o ensino que seja coerente com o método dialético de interpretação da realidade. Trata da organização do trabalho pedagógico a partir dos sistemas dos complexos temáticos 48 , segundo o qual o ensino deve ser organizado a partir de temas socialmente significativos, através dos quais os educandos analisariam a dinâmica e as relações existentes entre aspectos diferentes de uma mesma realidade. 7. Sem teoria pedagógica revolucionária não há prática pedagógica revolucionária. De acordo com Pistrak a nova escola seria construída coletivamente, para isso, os educadores deveriam dominar as teorias pedagógicas em direção à ampliação da autonomia. Com base nesses fundamentos passamos a pensar a capoeira e o trato pedagógico, tendo como ponto de partida a compreensão do seu processo de mercadorização, identificando possibilidades de contribuir para a construção de uma teoria pedagógica revolucionária. 48 Tema abordado em outros estudos vinculados a LEPEL/FACED/UFBA, que incluem determinados elementos da cultura humana, no nosso caso especifico, a cultura corporal e em particular a capoeira 35 Para tanto abordamos a capoeira na concepção de cultura corporal sistematizada no livro Metodologia do Ensino de Educação Física 49 (1992). Na apresentação do livro encontram-se traçadas as finalidades e compromissos a que se propõe a nova abordagem: Um livro de metodologia da Educação Física não pode ser um mero receituário de atividades, uma lista de novos exercícios e de novos jogos. Mais do que isso, deve fornecer elementos teóricos para a assimilação consciente do conhecimento, de modo que possa auxiliar o professor a pensar autonomamente. A apropriação ativa e consciente do conhecimento é uma das formas de emancipação humana. Por isso mesmo, o domínio do conhecimento permite ao professor tomar consciência de que não é um livro que o ajudará a enfrentar os problemas da sala de aula, mas a própria re-elaboração dos conhecimentos e de suas experiências cotidianas (Coletivo de Autores, 1992 pág. 17-18). Pensar a capoeira no bojo das contradições sociais, como ferramenta capaz de favorecer “[...] A apropriação ativa e consciente do conhecimento é uma das formas de emancipação humana. [...] conhecimentos permitem ao professor tomar consciência [...] sua própria reelaboração dos conhecimentos e de suas experiências cotidianas.” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 17-18) no sentido formulado por Saviani (2002) “Tornar o homem cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela transformando-a no sentido de uma ampliação da liberdade, da comunicação e colaboração entre eles”(p. 39) é ação cotidiana recente na capoeira, e é necessário sobre quem é esse novo homem que se deseja formar, e para que sociedade. Neste contexto, a história constitui-se no complexo da sociedade como âmbito de libertação do homem, na medida em que este se apropria do 49 Celi Taffarel (PE), Micheli Ortega (PE), Carmem Soares (SP), Lino Castellani (SP), Valter Bracht (PR), Elizabeth Varjal (PE) 36 conjunto das objetivações do gênero humano. A negação da formação humana, entretanto, a cisão entre os interesses presentes na produção da vida vêem se constituído como base da formação do homem na sociedade capitalista. Todavia, para que ocorra a emancipação dos sujeitos, é mister que o indivíduo, pela via da luta de classes, possa apropriar-se das possibilidades de objetivação consciente, social, livre e universal. Nessa perspectiva, entendemos que compreender a formação da individualidade humana (DO CAPOEIRA) é fundamental para o exercício da tarefa pedagógica, “[...] o homem pode controlar seu próprio destino, se ele pode ‘se fazer’, se ele pode criar sua própria vida.” (GRAMSCI, 1978, p. 38). Por conseguinte, a prática educativa da capoeira deve possibilitar “O confronto do saber popular (senso comum) com o conhecimento científico universal [...] instiga(r) o aluno a ultrapassar o senso comum e construir formas mais elaboradas de pensamento.” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 32). Incluindo nesse item o desvelamento histórico da própria manifestação do senso comum. A nossa posição sobre o trato pedagógico do conhecimento da capoeira relaciona-se com a defesa do aprofundamento da sua história, considerando as suas múltiplas determinações, pois estamos certos de que a essência da mesma se manifesta no desenvolvimento histórico do seu fenômeno “[...] Compreender o fenômeno é atingir a essência.” (KOSIK, 2002, p 16). Por conta desta relação, que a história da capoeira passa a ser o elemento primordial da prática educativa da capoeira. 37 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todo educador deve ter definido o seu projeto político-pedagógico. Essa definição orienta a sua prática [...] a relação que estabelece com os seus alunos, o conteúdo que seleciona para ensinar e como o trata científica e metodologicamente, bem como os valores e a lógica que desenvolve nos alunos. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 26) Reafirmamos a necessidade de que para a formação dos CAPOEIRAS, admitidas às restrições impostas pelo momento histórico atual, os processos de formação assumam a tarefa estratégica imediata de promover o “despertar das consciências” mediante uma revolução cultural radical, restabelecendo os vínculos entre capital e trabalho 50 de modo a contribuir para a construção objetiva de uma ordem social qualitativamente diferente da ordem social na qual nos encontramos. Com a análise da forma mercantil da capoeira sedimentamos o caminho para futuras análises em que buscaremos compreender a forma capital da capoeira e a sua inserção na indústria cultural. Nesse horizonte chamamos atenção para a necessidade de aprofundamento teórico nas análises sobre a expansão da capoeira como expressão do movimento da contracultura, tendo em vista que: [...]A denominada moderna cultura de massa não pode ser de maneira alguma separada dos processos de produção em massa, marketing, especulação com vistas a lucros extraordinários, sistemas de comunicação de massa etc. [...]. (AHMAD, 1999-A, p.107). Ademais, acreditamos que há no Brasil experiências que nos levam a questionar as diferentes influências, práticas e de organização que 50 O trabalho ao qual nos referimos é o trabalho socialmente útil (natural), não a sua forma social capitalista (trabalho produtivo – produtor da mais valia). 38 caracterizam o universo cultural da capoeira e que precisam ser sistematizadas e socializadas, a saber: ACC: Pesquisa e o Ensino na Roda de Capoeira LEPEL/FACEDUFBA, PERI–Capoeira 51 – MOVER/CED/UFSC e Confraria Catarinense de Capoeira 52 . Essas experiências apontam uma possibilidade de construção da prática pedagógica superadora da capoeira. A experiência da Confraria Catarinense de Capoeira como entidade organizativa geral da capoeira enquanto movimento, nos inspira a dizer que essa é uma tentativa, mesmo que carregada de contradições, que encontra-se em um grau avançado de desenvolvimento, no que tange a organização dos capoeiristas e numa perspectiva política. Os espaços de formação seriam fundamentais para a construção desta prática pedagógica superadora. Portanto, a construção desses espaços, relacionando práticas de capoeira, ensino, pesquisa e extensão é essencial para a consolidação de uma capoeira que se contraponha ao atual e hegemônico sistema mercadológico. Outro ponto de análise é a experiência do PERI-Capoeira, que aconteceu no período de abril de 2005 até dezembro do mesmo ano. Essas experiências indicam a necessidade de melhor analisar o conhecimento produzido culturalmente nas atividades fora da Universidade, visto que estes, apresentam-se de forma dinâmica e criativa podendo ser potencializado através da articulação ensino, pesquisa e extensão. A iniciativa do PERI-Capoeira se deu em conjunto com o Triplo ‘C’ e com a linha de pesquisa Educação Intercultural e Movimentos Sociais (MOVER), localizada no Centro de Ciências da Educação (CED), da Universidade Federal 51 Programa de formação de Educadores Populares de Capoeira, promovido pelo MOVER/CED/UFSC. 52 Organização denominada de triplo C, que congrega os capoeiristas de Santa Catarina independente do estilo, do grupo, ou de qualquer questão segregacionista no universo da capoeira. 39 de Santa Catarina (UFSC), acima citado, e desenvolveu junto aos capoeiristas a formação para compreensão dos fenômenos sociais que cercam a capoeira e toda rede de relações humanas. O contato entre universidade e comunidade gerou no espaço acadêmico e da capoeira uma demanda para um novo curso dirigido por teorias cientificas que promovam avanços no trato do conhecimento da capoeira. O êxito da experiência do PERI-Capoeira I deu origem a outra edição do programa, que se inicia com a coordenação mista entre capoeiristas e acadêmicos, sendo estes, alunos da iniciação cientifica, mestrado e doutorado. Essa atividade foi iniciada por um coletivo de pesquisadores do Núcleo de Educação Intercultural e Movimentos Sociais, a frente da demanda organizativa dos capoeiristas no Estado de Santa Catarina. Ademais, atualmente, na Universidade Federal de Santa Catarina, concentra-se uma das maiores produções acadêmicas de trabalhos científicos em capoeira e educação no País. A construção do PERI-Capoeira se torna uma importante ferramenta de pesquisa que culmina com sete dissertações 53 53 Profª Ms. Adriana D’Agostini – defendida em 2004, pelo programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina. Título: O jogo da capoeira no contexto antropológico e biomecânico (Doutoranda – Educação – UFBA) Profº Ms. Christian Muleka Mwewa – defendida em 2005, pelo programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Título: Indústria cultural e educação do corpo no jogo de capoeira: Estudos sobre a presença da capoeira na sociedade administrada (Doutorando – Educação – UFSC) Profº Ms. Valmir Ari Brito – defendida em 2005, pelo programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Título: (In)Visibilidade da contribuição negra nos grupos de Capoeira em Florianópolis Profº Ms. Bruno Emmanuel Santana da Silva – defendida em 2006, pelo programa de PósGraduação em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina. Título: Menino qual é teu Mestre? A Capoeira Pernambucana e as Representações Sociais de Seus Mestres Profº Ms. Dráuzio Pezzoni Annunciato – defendida em2006, pelo programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Título; Liberdade disciplinada: relações de confronto, poder e saber entre capoeiristas em Santa Catarina. Mestranda Joana de Paula Filgueiras – aluna da Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, desde 2004 Profº Mestrando Benedito Carlos Libório Caires Araújo – aluno da Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, desde 2006. 40 de mestrado (cinco concluídas e duas em andamento) e uma tese de doutorado 54 . A guisa de conclusão, inspirados pelo Coletivo de Autores, e nos debates acumulados nas edições dos ACC’s e PERI’s, iniciamos diversas alterações nas relações instituídas na Associação Batukegê Capoeira 55 . Cujo resultado, mais imediato, é a modificação do sistema de graduação (ANEXO) a luz da lógica dos ciclos e a crítica ao desenvolvimento alienado e etapista de formação do capoeira. 54 Profº Doutor Márcio Penna Corte Real – defendida em 2006, pelo programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina. Título; As musicalidades das Rodas de Capoeira(s): diálogos intercultural, campo e atuação de educadores. 55 Associação Batukegê Capoeira é uma agremiação de capoeiras sediada em Salvador-Bahia, no bairro de Pituaçú, fundada em 2004, que tem objetivos de alteração do trato pedagógico nos espaços de capoeira. 41 REFERÊNCIAS ABIB, P. R. J. .Capoeira Angola: Cultura Popular e o Jogo dos Saberes na Roda. [tese]. 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A Opção por diferenciar a graduação infantil da adulta, está vinculada a nossa preocupação em desenvolver um trabalho mais condizente com as possibilidades de uma intervenção pedagógica na capoeira, sem com isso, provocar um esvaziamento da riqueza cultural e das tradições dessa manifestação. As cores são utilizadas para sinalizar as fases e ciclos de desenvolvimento do estudante no espaço de formação da capoeira. Articularemos esse método a partir de elementos que acontecem simultaneamente na roda de capoeira: musicalidade (instrumentos e canto), ritual (tradições e articulação dos elementos da roda), o jogo (movimentos e estrutura do jogo), todos eles explicitados a partir da história social de desenvolvimento dessa manifestação. Optamos por teorias pedagógicas que condizem com nossa opção política, para isso utilizaremos a referência do livro Metodologia do Ensino da Educação Física no 2º Grau (Coletivo de Autores, 1992). Entre 02 até 06 anos: Fase Elementar 1ªi Crua-Verde Claro 2ªi Crua-Amarelo Claro 1ª Fase Elementar 3ªi Crua-Azul Claro 4ªi Crua-Marrom Claro 5ªi Crua-Vermelho Claro Entre de 07 até 11 anos: Fase Suplementar 6ªi Crua-Verde 7ªi Crua-Laranja 8ªi Crua-Azul 2ª Fase Suplementar 9ªi Crua-Marrom 10ªi Crua-Vermelho 50 Graduação Adulta A partir de 12 anos 1ª Crua-Verde Cana 2ª Verde Cana 3ª Verde Cana-Verde Iniciação Técnica Iniciação 1ª Fase 4ª Verde 5ª Verde-Amarelo 6ª Amarelo 7ª Amarelo-Azul Domínio da Técnica Licenciatura 2ª Fase 8ª Azul 9ª Marrom-Verde 10ª Marrom-Amarelo 11ª Marrom-Azul Socialização Especialização 3ª Fase 12ª Marrom 13ª Vermelho-Amarelo Produção 14ª Vermelho-Azul Mestrado 15ª Vermelho-Marrom 4ª Fase 16ª Vermelho 17ª Branco-Azul 18ª Branco-Marrom 19ª Branco-Vermelho Cátedra Doutorado 5ª Fase 20ª Branco *21ª Verde – Azul * Estagiário Adaptação 51 Todas as fases passam por quatro ciclos, porque seguindo as orientações do Coletivo de autores, representam uma articulação entre a antiga seriação e a possibilidade de desenvolver diversos conhecimentos de forma variada. 1ª FASE (INICIAÇÃO) 1ª Crua -Verde Claro 2ª Verde Claro 3ª Verde Claro -Verde 4ª Verde Esta fase inicia-se com o batismo e dura até chegar a corda verde. A fase de iniciação serve para a apreensão da técnica: tocar, cantar e jogar (apreender os movimentos corporais). 2ª FASE (LICENCIATURA) 5ª Verde-Amarelo 6ª Amarelo (Monitor) 7ª Azul-Amarelo (Instrutor) 8ª Azul (Formado) Fase de transição da iniciação para a complexificação, conceitos mais elaborados que aprimoram a técnica e desenvolvem a capacidade docente. Busca-se nessa fase uma maior interação com espaços externos de prática da capoeira. *ESTAGIARIO* *22ª Azul-Verde* Casos Extraordinários – Pessoas que veio de outra entidade de ensino e tem um reconhecimento como docente de capoeira, passa por estágio de adaptação até assumir uma graduação de acordo com o seu desenvolvimento: ideológico, técnico e social (relação com outros capoeiras. 52 3ª FASE (PROFESSOR-ESPECIALIZAÇÃO) 9ª Marrom-Verde (P. Iniciante) 10ª Marrom-Amarelo (P. Monitor) 11ª Marrom-Azul (P. Instrutor) 12ª Marrom (P. Formado) Inicia o processo de aprimoramento no que se enquadra como envolvimento maior com a capoeiragem, que envolvem produções em prol da capoeira como: pesquisas, eventos, formando turmas e reconhecimento da comunidade. 4ª FASE (CONTRAMESTRE-MESTRADO) 13ª Vermelho-Amarelo (C. Iniciante) 14ª Vermelho-Azul (C. Monitor) 15ª Vermelho-Marrom (C. Instrutor) 16ª Vermelho (C. Formado) Fase de transição entre o mestre e o professor, significa dedicação para se tornar mestre. Amadurecimento necessário para assumir a responsabilidade do título. 5ª FASE (MESTRE-DOUTORADO) 17ª Branco-Azul (M. Iniciante) 18ª Branco-Marrom (M. Monitor) 19ª Branco-Vermelho (M. Instrutor) 20ª Branco (M. Formado) Fase de desenvolvimento técnico completo, com um envolvimento no universo da capoeira que o outorga como conhecedor dessa arte. 53