ARTIGOS
CIDADE, HISTÓRIA E CULTURA
CIDADE-FROTAGEM
Jean-Louis Cohen*
* New York University, Institute of Fine Arts, Nova Iorque, NY, EUA.
Resumo
A citação é uma operação fundamental de todas as práticas artísticas e literárias,
assim como de todas as formas discursivas da vida cotidiana e tem sido uma
prática amplamente difundida no discurso arquitetônico desde o Renascimento.
O que dizer da citação em produções não verbais? A intertextualidade atua em
várias áreas da teoria e da prática de arquitetura e sua consideração permite
entender a reverberação de ideias e projetos de diferentes autores sobre os
de seus contemporâneos ou sucessores. Intericonicidade, intertectonicidade
e, especialmente, a transurbanidade são categorias relevantes para a
compreensão da circulação local, nacional ou universal de imagens, caracteres
materiais e formas urbanas na constituição do tecido histórico concreto das
cidades.
Palavras-chave
Citação; Intertextualidade; Transurbanidade; Cidade; História; Forma Urbana.
revista brasileira de estudos urbanos e regionais, v.22, e202014, 2020
https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202014
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ARTICLES
CITY, HISTORY AND CULTURE
FROTTAGE CITY
Jean-Louis Cohen*
* New York University, Institute of Fine Arts, New York, NY, USA.
Abstract
Citation is a basic operation among all artistic and literary practices, as well
as among any discursive forms of everyday life. It has also been a widespread
practice within the architectural discourse since the Renaissance. What about
quotations within non-verbal productions? Intertextuality works in several
regions of architectural theory and practice. Taking it into account allows
for the understanding of the ways by which different architects’ ideas and
projects may ressonate in their contemporaries or successors. Intericonicity,
intertectonicity and, above all, transurbanity are relevant categories to the
understanding of local, national or universal circulation of images, material
characters and urban forms in the making of the historical fabric of cities.
Keywords
Citation; Intertextuality; Transurbanity; City; History; Urban Form.
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CIDADE-FROTAGEM1
Jean-Louis Cohen
A citação é uma operação fundamental de todas as práticas artísticas e literárias, assim como de todas as formas discursivas da vida cotidiana. Os francófonos
das gerações passadas preservaram com devoção a memória das “páginas cor-de-rosa” do Petit Larousse, cujas notas eram sempre, e em todas as circunstâncias,
úteis, e para as quais, hoje, os sites especializados talvez venham fornecendo um
substituto. Os anglófonos nunca deixaram de se referir, desde 1855, às Familiar Quotations de John Bartlett, das quais foram impressas mais de vinte edições. Tendo
como ponto de partida essa operação corriqueira, até banal, tanto nas modalidades
eruditas como nas vernaculares, gostaria de abordar as questões relacionadas à
arquitetura e à forma das cidades, o que farei adiante, não sem antes tecer algumas
considerações no campo da literatura.
A citação, de texto a texto
A citação é parte constitutiva de todo o campo literário, como mostraram, de
maneira brilhante, Antoine Compagnon há cerca de quarenta anos, em La Seconde
Main (1979), e Gérard Genette, em Palimpsestes (1982). Mais recentemente, a Quotology, de Willis Goth Regier (2010), e The Words of Others, de Gary Saul Morson
(2011), propuseram suas teorias da citação. Esses estudos recorrem a um grande
número de obras decisivas que assumiram a forma de coletâneas de citações, como
os Adagia de Erasmo ou os Essais de Montaigne, para nos mantermos apenas no
1. Artigo traduzido por Zélie Denis e revisado por Adalberto Retto, Cristina Leme e José Lira.
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século XVI, mas, obviamente, seria possível recuar à Antiguidade e listar todas as
ocorrências de citações de Homero ou de Sócrates.
A reunião de citações é uma componente fundamental da pesquisa e de outras formas de escrita. Walter Benjamin identificou em tal procedimento de coleta
“um fenômeno primevo do estudo” (2009, p. 245) e fez dele o princípio fundamental
do seu Passagen-Werk, alegando ter frequentemente omitido as aspas. Ele reconheceu a força potencial das citações, suscetíveis de desviar ou destruir o texto em que
aparecem, e declarou que “as citações em meu trabalho são como salteadores no
caminho, que irrompem armados e roubam ao flâneur a sua convicção” (BENJAMIN, 1987, p. 61). Assim, Benjamin (2009, p. 509) escreveu que Jules Michelet é um
autor “que, onde quer que seja citado, faz o leitor esquecer o livro no qual aparece a citação”. Por sua vez, é provável que ele próprio tenha sido um dos autores
mais citados nos últimos decênios nos campos das ciências humanas e da história,
incluindo a história da arquitetura. Sua interpretação da aquarela de Paul Klee,
Angelus novus, por ele adquirida em 1921, com cujo título pretendia nomear uma
revista, foi tão marcante que Massimo Cacciari e Cesare De Michelis o usaram para
batizar a revista trimestral que publicaram de 1964 a 1971, em Florença. A literatura
também é composta de autocitação. Paul Valéry observa em seus Cahiers (1958):
“Meu trabalho de escritor consiste apenas em implementar (literalmente) notas,
fragmentos escritos acerca de qualquer coisa e a qualquer momento da minha história. Para mim, tratar de um assunto é levar pedaços existentes a se agruparem no
assunto doravante escolhido ou imposto”.
Desloquemo-nos agora para o campo da arquitetura. A citação textual tem
sido uma prática amplamente difundida no discurso escrito dos arquitetos desde o Renascimento. As maiores figuras da modernidade encheram suas obras de
trechos emprestados de escritores. O interesse de Frank Lloyd Wright por Notre
Dame de Paris de Victor Hugo não é um segredo, assim como o interesse de Auguste Perret pelo diálogo socrático de Valéry em Eupalinos ou O arquiteto. O caso
de Le Corbusier não é menos evidente. Embora nem sempre se preocupasse em
usar aspas, ele inseria fragmentos de Mallarmé ou de Nietzsche em seus artigos e
livros. Além disso, praticou a autocitação, por exemplo, ao publicar fragmentos das
próprias cartas em Le Modulor 2. As citações ocasionalmente alimentam a controvérsia, quando são desviadas ou de alguma forma exageradas. O livro de Robert
Venturi, Complexidade e contradição em Arquitetura (1966), vem à mente a propósito do desvio paródico do “less is more” de Mies van der Rohe em seu “less is a bore”.
É verdade que o próprio Mies havia praticado a anticitação quando substituiu o
aforismo alemão “o diabo está nos detalhes” por “Deus está nos detalhes” – aliás, já
usado por Gustave Flaubert e atribuído a Santo Agostinho.
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A citação, de edifício a edifício
O que dizer da citação em produções não verbais? O filósofo Nelson Goodman empenhou-se em explorar tais modalidades no campo visual. Ele levantou
questões relevantes em um artigo de 1974, ao observar que “uma pintura somente
cita outra se ao mesmo tempo a ela se refere e a contém. Mas quais são os meios
pelos quais uma pintura se refere a outra que ela contém? Em outras palavras,
qual é o análogo pictórico das aspas?”. As premissas de Goodman foram aplicadas
a uma análise comparativa de edifícios por Remei Capdevila-Werning (2011). Mais
recentemente, um número inteiro da revista Perspecta (2016) foi dedicado à citação
na arquitetura.
Antes de observar alguns fenômenos arquitetônicos concretos, convém submeter o assunto a uma reflexão mais ampla sobre as transferências de um texto
para outro, sobre intertextualidade, conceito proposto em 1969 por Julia Kristeva2.
Ela pretendia então apresentar o fenômeno poiético identificado pelos formalistas
russos já na década de 1920 sob a designação de “dialogismo”3. Posteriormente,
Gérard Genette (1979) introduziu a noção de transtextualidade, definida como “a
presença literal (mais ou menos literal, integral ou não) de um texto em outro”.
Ele observou que “a citação, ou seja, a convocação explícita de um texto, ao mesmo tempo apresentado e distanciado pelas aspas, é o exemplo mais óbvio desse
tipo de função, que inclui muitos outros”. Essas relações estendidas estão inscritas
no registro de Genette chamado “arquitextualidade”, da raiz grega arkhè. Para o
crítico e teórico literário, trata-se “[d]essa relação de inclusão que une cada texto
com os diferentes tipos de discurso a que ele pertence”. Divertindo-se com o que
poderia ser uma “arquitextura” hipotética, Genette (1979, p. 87-88) vê cada um dos
textos utilizados de acordo com uma multiplicidade de figuras de “arquitextos”
anteriores.
Além desse trocadilho quase comovente, as análises de Antoine Compagnon
sobre a “segunda mão” e aquelas iniciadas por Julia Kristeva e Genette são relevantes para a observação das formas da arquitetura e das cidades. Em vez de se
limitarem a localizar citações, entendidas como a transferência de um enunciado
2. Sobre os pontos de vista acerca dessa noção e de sua evolução, ver especialmente as seguintes sínteses:
BIASI, P.-M. Intertextualité (théorie de), Encyclopedia Universalis. Paris, p. 514-516, 1989. PIEGAY-GROS,
N. Introduction à l’intertextualité. Paris: Dunod, 1996; SAMOYAULT, T. L’Intertextualité, mémoire de la
littérature. Paris: Nathan, 2001. RABAU, S. L’Intertextualité. Paris: GF Flammarion, 2002.
3. A esse respeito, ver principalmente, em francês, as seguintes obras: BAKHTIN, M. Esthétique et Théorie
du roman. Paris: Gallimard, 1978; BAKHTIN, M. Esthétique de la création verbale. Paris: Gallimard, 1984.
Ver também: TODOROV, T. (dir.). Théorie de la littérature, textes des formalistes russes. Paris: Seuil, 1965;
TODOROV, T. Mikhaïl Bakhtine – Le Principe dialogique. Paris: Seuil, 1981.
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de um projeto ou de um edifício para outro, as relações intertextuais ou arquitextuais se desenvolvem de acordo com um leque amplo de figuras. Elas variam, entre
outras possibilidades, da inclusão literal – justamente, a citação – à paráfrase, à
condensação e à homologia. Sua transposição para o estudo de formas espaciais
pode ser direta e é possível falar de citações formais, de plágio ou de paródia, como
na literatura. Também se utilizam de estratégias não textuais, como aquelas fornecidas pela geometria, da homotetia à semelhança e à translação. Na escala das
estruturas, os homomorfismos podem ser igualmente identificados.
O caso mais simples de tais relações é o da inclusão, de um edifício que contém outro edifício por inteiro, ou um ou mais fragmentos de edifícios. Um exemplo
impressionante é o do Museu Pergamon, construído em Berlim por Alfred Messel,
em 1909, no qual está exposto o altar arrancado das ruínas da cidade grega de mesmo nome. A forma em U do edifício que o contém, projetando seu frontispício em
direção ao rio Spree, parece ecoar o conteúdo antigo. A poucos passos de distância,
o Altes Museum, construído por Karl Friedrich Schinkel em 1830, abriga atrás de
sua colunata iônica uma rotunda que reproduz em tamanho reduzido o Panteão
de Agripa, mas com seus nichos e caixotões operando a colagem de um continente
inspirado nos templos gregos com o interior de um edifício romano. Quanto aos
fragmentos de edifícios, o Museu de Escultura Comparada, inaugurado em 1882
por Geoffroy-Dechaume no palácio du Trocadéro, que os desdobra segundo um
princípio diacrônico inspirado em Viollet-le-Duc, por certo oferece um caso-limite,
mas muito eloquente. Um programa artístico e científico levou à produção de uma
narrativa didática que tem como protagonistas centenas de réplicas em gesso de
modelos originais (FONT-RÉAUXL, 2001).
No felizmente breve período de ironia pós-moderna, a citação era a regra.
No edifício central da cidade nova de Tsukuba, Arata Isozaki inseriu em 1983 um
espaço que reproduz a praça do Capitólio de Michelangelo, em Roma, com o mesmo padrão no piso, porém sem a estátua equestre de Marco Aurélio. Esse espaço
fechado, em que faltam os três palácios que cercavam a praça original e a vista
deslumbrante de Roma, é uma espécie de sinédoque, ao remeter-se ao Renascimento como um todo, talvez como uma homenagem de Isozaki ao seu mentor Kenzo
Tange, grande admirador de Michelangelo. Charles Moore realizou outra operação
utilizando o repertório romano, incluindo uma paródia da Fonte de Trevi na Piazza
d’Italia, esse grande cenário por ele criado em Nova Orleans em 1978.
Em seu belo texto de 1952, “Kafka e seus precursores”, Jorge Luis Borges (2000)
apresenta um aforismo luminoso ao afirmar: “O fato é que cada escritor cria seus
precursores. Sua contribuição modifica nossa concepção do passado, bem como a
do futuro”. Essas palavras podem amplamente ser transpostas para a arquitetura;
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podem também ser parodiadas com a alegação de que “cada arquiteto cria seus
precursores”. Pelo menos, é o que revela o estudo cuidadoso de muitos projetos
decisivos.
Intericonicidade e intertectonicidade4
A intertextualidade arquitetônica atua em várias áreas da teoria e da prática.
Sua consideração permite entender as formas de pensar na base da produção de
determinado arquiteto ou a reverberação de projetos de diferentes autores sobre
aqueles de seus contemporâneos ou sucessores. O paradigma do intertexto fornece uma estrutura na qual todas as relações observadas podem ser pensadas, quer
elas operem na ordem sintagmática da arquitetura – o que, convencionalmente, é
chamado composição –, quer o façam na ordem lexical. Assim consideradas, essas
formas de pensar podem ser estudadas escapando da noção duvidosa e notoriamente obsoleta de “influência”. Encorajado por Gérard Genette, que me mostrou o
caminho nesse assunto, me arriscarei a sugerir alguns neologismos.
A primeira relação é a intericonicidade, que sugere a circulação de imagens
de um projeto ou de um edifício para outro. Nessa operação, as projeções, como
plantas, elevações ou cortes, são preservadas. A École des Beaux-Arts de Paris notabilizou-se por esse tipo de transferência com base em uma arqui-imagem, por
assim dizer, em analogia à noção sugerida por Genette, frequentemente chamada
de “tubard”5, termo-chave da gíria escolar. Antes da era da fotocópia, a transferência era feita algumas vezes através do “poncif”6, um decalque do desenho original
reproduzido após este ter sido revestido com grafite e esfregado sobre a folha do
novo desenho.
Além da mediação pelo desenho, pela gravura e pela fotografia, a disseminação de formas se concretizou como resultado de experiência material direta
durante as viagens de formação de arquitetos. Brunelleschi e Palladio haviam visitado Roma; este último chegou mesmo a restituir edifícios antigos, como as Termas
de Caracalla, das quais ele fará uma reconstituição hipotética em 1540. O jovem
Le Corbusier desenharia o mesmo conjunto em 1911 em seu caderno de desenho
romano, enquanto tirava fotografias e comprava outras em estúdios como o Alinari. Ele jamais deixaria de usar esses materiais em suas obras, editando-os como
4. Neologismos sugeridos pelo autor. “Intericonicidade”, formado a partir da palavra “icônico”, qualifica
interações de imagens, e “intertectonicidade”, formado a partir da palavra “tectônica”, qualifica a transferência das características tectônicas entre edifícios. [NdT.]
5. Gíria da Escola de Belas Artes de Paris para designar uma construção, um projeto ou um desenho
que é copiado em dado projeto; uma espécie de modelo oculto, ainda que reconhecível pelos iniciados.
6. Outra gíria da Escola explicada no próprio texto. Poncif significa “desenho”. [NdT.]
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recurso de demonstração, como fez com a imagem da basílica de Santa Maria em
Cosmedin, publicada em 1923, em Por uma arquitetura, despojada, graças à tinta
preta, dos ornamentos que contradiziam a imagem de modernidade que pretendia
nela acentuar (COHEN, 2007, p. 5-82 e p. 308-330). Foi justamente com relação a
Le Corbusier que as aplicações mais estimulantes das teorias da intertextualidade
foram sugeridas (JOURNEL; REICHLIN, 2007).
Voltando rapidamente a esse grande momento dos empréstimos historicistas
que foi o pós-moderno, as imagens cumpriram um papel determinante na apropriação de certos projetos anteriores. Assim, as arqui-imagens da sede dos Walt
Disney Studios, projetada por Michael Graves em Burbank, em 1988, são a Casa dos
Círculos e a Barreira de La Villette, de Claude-Nicolas Ledoux, ambas ilustradas
em seu livro de 1804, L’Architecture considérée sous le rapport des lois, des mœurs
et de la législation7. Mas os modernos também usaram métodos comparáveis. Se
observarmos a ala de serviço da grande casa comunal, construída em 1930 por
Ivan Nikolaev para os alunos do Instituto Têxtil de Moscou, veremos uma citação
literal da fachada para o jardim da villa Stein-de-Monzie, construída em 1926 em
Garches, por Le Corbusier, publicada pela SA, a principal revista construtivista
russa, no ano seguinte. A citação pode se tornar paródica quando um parâmetro
fundamental da arqui-imagem é modificado ou invertido. É o caso da Villa Savoye
de Le Corbusier, concluída em 1931 em Poissy, metade da qual foi reconstruída em
preto, e não em branco, como a original, em 2001, por Ashton Raggatt McDougall,
em Camberra, para hospedar o Instituto Australiano de Estudos sobre Aborígenes e
Ilhas do Estreito de Torres. O ponto subjacente a essa inversão cromática é a crítica
ao apagamento da componente aborígene da história australiana.
A segunda relação é a da intertectonicidade, que remete à transferência de
caracteres tectônicos de um edifício para outro, seja literal, seja como efeito de inflexões e transformações, das quais um exemplo histórico é o maneirismo. Surgida
no início do século XVI, essa abordagem reciclou as formas do primeiro Renascimento, repetindo-as e distorcendo-as ou modificando sua escala. Encontro, em
determinados projetos do século XX, um eco desse maneirismo. Assim, o arquiteto
petersburguês Alexandre Gegello imaginou em 1923, para o concurso para a sede
da ARCOS em Moscou, uma ordem dórica um tanto inflada, de modo que parecesse
mais musculosa e “proletária”. De novo, foi a ordem dórica que inspirou Robert
Venturi na caricatura de um templo instalado na Strada Novissima da Bienal de
Veneza de 1980, com todas as suas licenças, começando pelas colunas agrupadas a
7. A arquitetura vista pelo viés das leis, dos costumes e da legislação, por Claude-Nicolas Ledoux, 1804.
[NdT.]
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três, uma das quais no eixo. Esses dois projetos, entre outros tantos, são o indício do
duplo status das ordens, operadores da composição de conjunto dos edifícios, tanto
quanto sistemas decorativos.
Em busca de determinadas figuras clássicas em uma arquitetura redefinida
pelo uso de concreto armado, Auguste Perret também soube repensar as ordens,
como as do seu Museu de Obras Públicas, de 1937, cujos capitéis revelam, na sua
modelagem, a presença das estruturas de aço que revestem. As soluções usadas
por Perret para deixar transparecer a estrutura dos edifícios em suas fachadas,
diferenciando a sua superfície, foram adotadas por seus seguidores diretos, antes
de cruzar os Alpes e serem desenvolvidas pelo escritório de Lodovico Belgiojoso,
Enrico Peressutti e Ernesto Rogers. Este último, em 1955, dedicou uma breve monografia ao mestre falecido no ano anterior (ROGERS, 1955). A tectônica de Perret
afloraria em 1957 na Torre Velasca, em Milão, e em 1959 no imóvel do Corso Francia,
em Turim.
Ainda operando com o concreto armado e sua superfície, a transmutação do
método de construção utilizando fôrmas de madeira para fins estéticos, tal como
propôs Le Corbusier com o concreto bruto na Unidade de Habitação de Marselha
ou no convento de La Tourette, foi objeto de uma interpretação incontestavelmente
maneirista por parte de Jean François Zevaco, em 1953, no prédio dos correios da
cidade reconstruída de Agadir (GARGIANI; ROSELLINI, 2011). Daquilo que originalmente era uma necessidade e se tornou virtude, ele criou um princípio estético ao
levar ao extremo a busca pelo contraste plástico. Ainda no Marrocos, outra transferência tectônica foi levada a efeito pela equipe do ATBAT-África – Georges Candilis,
Shadrach Woods e Vladimir Bodiansky –, ao construírem em Casablanca, em 1952,
conjuntos habitacionais para os trabalhadores muçulmanos. Como Alison e Peter
Smithson (1955) demonstraram, seus pátios suspensos evocam um arquitexto vernacular – as casbás do sul do Marrocos. Essa transferência diferencia-se daqueles
que no passado viram os ornamentos pré-coloniais migrarem para as fachadas nos
edifícios especulativos dos europeus.
As migrações intertectônicas às vezes são iterativas, como mostra o projeto de
Le Corbusier para o Palácio dos Sovietes em Moscou, em 1932. O arco que sustenta
a cobertura do grande salão é uma referência híbrida a duas obras do engenheiro Eugène Freyssinet: sua ponte estaiada em 1922, em Saint-Etienne du Vauvray, e
as abóbadas parabólicas de seus hangares para dirigíveis em Orly, construídas ao
mesmo tempo e reproduzidas em Por uma arquitetura. O projeto estudado para
Moscou foi retomado quase literalmente em 1937 por Lucio Costa e Oscar Niemeyer
no projeto do anfiteatro da Cidade Universitária do Rio de Janeiro. Trinta anos depois, Walter Gropius lhe daria outra interpretação em seu estudo para o anfiteatro
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da Universidade Estadual da Flórida, em Tallahassee, associando a citação corbusieriana às cascas em concreto de conotações brasileiras. Proveniente da arte do
engenheiro, o arco usado por Le Corbusier continuou suas migrações, por exemplo,
no projeto não realizado de Marcello Piacentini que teria dominado a exposição
planejada em 1942, em Roma, e no Gateway Arch de Eero Saarinen, concluído em
1965 em St. Louis, em forma de catenária e construído em aço inoxidável.
Transurbanidade e espaços nacionais
A essas duas noções, eu acrescentaria a de interurbanidade, ou melhor, de
transurbanidade, à qual gostaria de dedicar a maior parte das minhas observações, deslocando o olhar para as formas urbanas e suas relações, apoiando-me na
hipótese de que as cidades podem ser pensadas como grandes artefatos aos quais
se aplicam princípios comparáveis àqueles válidos para os textos e os edifícios. Se
observarmos a criação e o desenvolvimento das cidades desde o Renascimento,
veremos que a translação dos traçados viários, da forma dos espaços abertos e das
composições monumentais de um lugar para outro são operações recorrentes, cujo
levantamento nos permite ultrapassar visões redutoras de sua história. Em vez de
pensar as cidades individualmente em sua diacronia, em uma crônica limitada a
um espaço local ou estendida a uma escala regional ou nacional, é útil perceber a
inscrição de cada quadro nacional em determinantes mais amplos. Essa inscrição
pode ser pensada de acordo com três modelos diferentes, como já tive a oportunidade de explicar (COHEN, 2017, p. 150-157).
O primeiro modelo, e o mais comum, opõe o espaço local ou nacional ao espaço
universal. Esse modelo privilegiou o estudo de dispositivos como o dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, ou de organizações comprometidas
com a reforma urbana, as cidades-jardins e a habitação social, para oferecer uma
visão demasiado homogênea das transformações ligadas à modernização. Exemplos extremos desse posicionamento são o discurso sobre o “estilo internacional”,
desenvolvido em Nova York na década de 1930, e, no caso da Europa, o discurso
datado de historiadores como Leonardo Benevolo (1960). Jacques Gubler (1975)
ficou bastante isolado em suas observações mais sutis sobre nacionalismo e internacionalismo na arquitetura moderna na Suíça. A teoria do “regionalismo crítico”,
desenvolvida por Kenneth Frampton, na esteira de Alex Tzonis e de Liane Lefaivre,
mas de fato já sugerida por Lewis Mumford, pretendia opor uma “arquitetura de
resistência” ao universalismo (BENEVOLO, 1960). Uma formulação unilateral dessa
dialética foi proposta por Rem Koolhaas em 2014, na Bienal de Arquitetura de Veneza, ao sugerir que cada pavilhão nacional expusesse as modalidades segundo as
quais a modernidade havia sido “absorvida” em cada país.
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O segundo modelo ressalta as relações bilaterais entre cenas nacionais e
cidades. Conceitos relevantes para o primeiro modelo, como “dominação” ou “hegemonia”, aplicam-se quando os dois parceiros de um relacionamento são desiguais.
Assim, a preeminência dos Estados Unidos gerou o fenômeno do americanismo,
que afetou a Europa, inclusive a Rússia, desde o início do século XX. A modernidade
foi, portanto, amplamente identificada com a América, que parecia representar o
futuro, rumo ao qual cidades e edifícios deveriam se aproximar (COHEN; DAMISCH, 1993; COHEN, 1995). Relação desigual por excelência, a colonização é outro caso
explícito que associa dominação e hegemonia, no sentido que Antônio Gramsci
atribui a esse termo, mas por vias bem distantes de serem exclusivamente no sentido norte-sul, da metrópole à colônia. As cenas coloniais às vezes estabeleceram
comunicação por meio de circuitos sul-sul. E certas soluções espaciais e estéticas de
ultramar também migraram para as metrópoles, fossem experiências urbanísticas
ou puramente formais, como no art déco, nas quais colônias e protetorados funcionaram como laboratórios.
Os conceitos convocados para o estudo desse modelo foram o de “influência”
ou aquele, ainda mais rico, de “recepção”, proposto no meio do século XX pela Escola de Constança8. Ambos têm o defeito de terem sido fundados sobre o pressuposto
de uma relação unilateral do emissor ao receptor. A noção de relações cruzadas ou
recíprocas tem sido amplamente utilizada no estudo de dispositivos binacionais,
para as quais Michel Espagne (1999) também propôs a noção de “transferência
cultural”, que se mostrou muito produtiva. Sugeri, com Hartmut Frank, recorrer
à noção de “interferência”, emprestada do campo da física, para explicar as perturbações que a arquitetura alemã e a arquitetura francesa causaram alternada ou
simultaneamente uma à outra (COHEN; FRANK, 2013).
A escala nacional não é necessariamente a única digna de atenção. As relações entre metrópoles no campo da arte, da literatura e da arquitetura vêm sendo
consideradas desde a década de 1970, sobretudo durante as exposições inaugurais
organizadas entre 1977 e 1979 por K. G. Pontus Hultén no Centro Georges Pompidou
– Paris-Nova York, Paris-Berlim e Paris-Moscou. Esse princípio binário foi adotado
por vários outros curadores, como na exposição Berlim-Moscou no Martin-Gropius-Bau, em 2003, na Berlim-Tóquio, da Nationalgalerie, em 2006, ou na Paris-Barcelona,
do Grand Palais, em 20019.
8. Ligada à Universidade de Constança, na Alemanha, e à estética da recepção desenvolvida por Hans
Robert Jauss e Wolfgang Iser. (NdR.)
9. Ver os catálogos respectivos: Paris-Nova York, Paris, Centro Georges Pompidou, 1977. Paris-Berlim,
Paris, Centro Georges Pompidou, 1978. Paris-Moscou, Paris, Centro Georges Pompidou, 1979. Berlin-Moskau: Metropolen im Wandel, Berlim, Jovis, 2003. Berlin-Tokyo, Tokyo-Berlin: die Kunst zweier Städte,
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Transurbanidade e migração das formas
O terceiro modelo permite considerar as relações entre duas cenas ou duas
formas urbanas em sua diversidade e suas semelhanças e remete à teoria literária.
Assim, baseando-me em Genette, proponho tomar a transtextualidade como arquitexto para construir a noção de transurbanidade, cuja definição, um tanto paródica,
poderia simplesmente ser “a presença literal (mais ou menos literal, integral ou
não) de uma forma urbana em outra”. A transurbanidade pressupõe a existência
de um arquitexto urbano que também se poderia chamar de arquiforma.
Em escala menor, a transurbanidade pode atuar sobre uma forma isolada,
como o exemplo das praças com arcadas, cuja origem remete às ágoras helenísticas
e aos fóruns romanos. Elas se multiplicaram nas cidades novas da Idade Média,
como as cidadelas ou vilas fortificadas, criadas no século XIII nas fronteiras entre
os reinos da França e da Inglaterra, e que assumiram nova forma durante o Renascimento. Por vezes centrada na estátua de um soberano ou na de uma figura
do poder, a praça de ordenanças com suas arcadas migra de Libourne para Charleville, e depois para Paris no início do século XIII, onde a praça Royale estabelece
um modelo posteriormente declinado em Paris e nas outras cidades do reino. Esse
modelo atravessou o canal da Mancha com o Covent Garden de Inigo Jones, antes
de ser transformado, na Londres georgiana, com a inclusão de um jardim em seu
centro.
Um dos exemplos mais evidentes dessa presença é evocado por Italo Calvino (1996, p. 82) em As cidades invisíveis, quando ele toma de empréstimo a Marco
Polo essa confissão feita a Kublai Khan: “Todas as vezes que descrevo uma cidade
digo algo a respeito de Veneza”. O comerciante veneziano parece quase dominar
o conceito de arquitexto, quando diz ao seu nobre interlocutor: “Para distinguir as
qualidades das outras cidades, devo partir de uma primeira que permanece implícita. No meu caso, trata-se de Veneza”. Essa Veneza que Polo lembra fornecerá,
alguns séculos depois, o prisma através do qual Canaletto retratará Londres em
suas pinturas, como se o Tâmisa fosse apenas um Canal Grande mais amplo. Sem
contar as inúmeras cidades, cujos canais as qualificaram como “Veneza do Norte”,
casos de Bruges, Amsterdã e São Petersburgo, ou uma “Veneza Americana”, como
o Recife. Dentre outras cidades que podem ser qualificadas como “emissoras”, por
gerarem formas transponíveis, destaca-se Roma, cujas formas urbanas produzirão
ecos, próximos ou distantes. A primeira arquiforma que vem à mente a esse respeito
é o tridente traçado no século XVI da Via del Babuino, do Corso, e da Via di Ripetta,
Ostfildern: Hatje Cantz; Berlim, Nationalgalerie, 2006. Paris-Barcelone: de Gaudí à Miró, Paris, Réunion
des Musées nationaux, 2001.
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que têm como origem comum a Piazza del Popolo. Esse tridente é a arquiforma da
cidade de Versalhes, onde o sistema romano é aplicado às três rotas originárias do
castelo real – as avenidas de Sceaux, de Paris e de Saint Cloud (CASTEX, 1980).
No caso de São Petersburgo, cuja fundação segue a de Versalhes algumas
décadas depois, a topografia é mais complexa, uma vez que a nova capital é implantada no delta do Neva, de cada lado da ilha de Vassiliev, de um lado Vyborg e
do outro Petersburgo, ao sul, no qual é desenhado um tridente. Sua origem não é o
palácio do soberano, como em Versalhes, mas a flecha do Almirantado, um indício
da aspiração da Rússia ao poderio militar. Ele é composto de três perspectivas:
a avenida Nevsky, via nova aberta em 1712 para o sudeste, e Novgorod, que leva
a uma parte mais residencial e menos monumental da cidade, a avenida Voznesensky, para o sudoeste, e a rua Gorokhovaya, no centro (COHEN, 1997, p. 53-63;
EGOROV, 1969).
Também é possível detectar processos de inclusão, paralelos ou cruzados,
com a sobreposição de figuras que variam da citação à alusão, e cujo deslocamento
pode ser acompanhado por alterações de escala e deformações. Desse ponto de
vista, São Petersburgo hesita, na primeira metade do século XVIII, entre o princípio
obsoleto de uma cidade ideal e fortificada, completamente centralizada no palácio
do czar, como Jean-Baptiste-Alexandre Le Blond a imagina, e aquele de uma cidade
comercial regulada por uma rede de canais, como Amsterdã, tal como proposto por
Johann Baptist Homann, antes de ela vir a optar pragmaticamente por um sistema
híbrido. Com os canais fechados, “a nova Amsterdã sonhada por Pierre Le Grand
acabou se tornando um novo Versalhes”, observou Louis Réau (1924, p. 87) sem
nuances.
Se a terceira, e última, capital dos Estados Unidos pode ser igualmente descrita como “francesa”, o que André Corboz (2003) percebeu com tanta acuidade, é
em Londres que se encontram algumas das arquiformas utilizadas na primeira:
Nova York. Durante o período “federal”, após a Independência, os quarteirões de
Manhattan anteriores ao plano dos Comissários de 1811 eram compostos de casas
geminadas que reproduziam o alinhamento dos bairros georgianos, como Bloomsbury. A semelhança entre a Vandam Street nova-iorquina e as ruas do Bedford
Estate londrino é perturbadora, em especial nas imagens em preto e branco, pois
o tijolo preto original mudou para vermelho. Napoleão III também pensou intensamente em Londres ao planejar as transformações de Paris, o que se reflete nos
espaços vazios com a interpretação parisiense dos squares londrinos, espaços privados do outro lado do canal da Mancha, onde contribuem para a regulação das
propriedades georgianas, e que se tornam espaços públicos nos passeios da Paris
haussmaniana, onde são delimitados por edifícios tão variados quanto é permitido
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pelo regulamento de alinhamento. É o que mostra, por exemplo, o square des Arts
et Métiers, criado em 1858. No entanto, a rue de l’Elysée, em frente ao palácio de
mesmo nome, é uma verdadeira rua londrina que foi reconstituída, com a hierarquia vertical dos seus andares e seus pátios ingleses (PINON, 2015, p. 225-227).
Durante e após o Segundo Império, Paris almeja tornar-se a “capital do
mundo” (HIGONNET, 2001). As formas da cidade haussmaniana migram por toda
a esfera de influência francesa. Renascendo de suas cinzas depois do incêndio de
1871, Chicago sonha em tornar-se a “Paris on the lake”, sobretudo quando Daniel H.
Burnham e Edward H. Bennett esboçam o seu plano diretor em 1909. Em Nova York,
os reformadores eleitos e alguns arquitetos formados na École de Beaux-Arts de Paris denunciam a monotonia do tabuleiro de xadrez de 1811, que eles recortam com
diagonais para criar ângulos agudos capazes de acomodar edifícios monumentais
(LEITNER, 2009). A figura do boulevard parisiense, regulado por linhas horizontais
contínuas e pontuado por cúpulas, espalha-se pelos Bálcãs, com a avenida Queen
Elisabeth, em Bucareste, e na América do Sul, com a avenida Central, atual Rio
Branco, no Rio de Janeiro, e a avenida de Mayo, em Buenos Aires.
Além da citação dessa forma urbana longitudinal e simétrica que é o bulevar, os homomorfismos – ou analogias de estrutura – podem ser observados na
transferência e na adaptação das formas parisienses. Em Argel, visitantes da França continental, como o escritor Pierre Loti (1897, p. 35), diante dos “alinhamentos
de belas casas regulares”, só podiam sentir “uma impressão de uma Paris muito
quente”, o que, de modo algum, era fruto de sua imaginação. De fato, o alinhamento da rue de Rivoli foi ali reproduzido em 1860, quando da criação do bulevar de
l’Impératrice, cujas arcadas repetitivas se voltam para o Mediterrâneo, tal como os
da via parisiense beiram o Jardim das Tulherias (CRESTI, 2003). As situações coloniais são favoráveis a esse tipo de relação estrutural. Sessenta anos depois, quando
Henri Prost, um urbanista cuja família é originária da Lorena, criou para o general
residente Hubert Lyautey, nascido em Nancy, uma grande praça administrativa, é
daquela cidade que ele empresta a sua arquiforma – a praça Stanislas e a praça de
la Carrière, cujo espaço urbano marroquino é isomórfico. A segunda praça projetada por Prost é imediatamente apresentada por ele como um eco da Canebière de
Marselha, uma vez que ela também conduz do centro da cidade até o porto. Mas, se
considerarmos o projeto de 1917 para a capital econômica do Protetorado francês,
desponta uma relação triangular com Paris e Chicago. A “Canebière de Casablanca”
é inserida no sistema geral de um plano radioconcêntrico com a implantação de
bulevares de inspiração parisiense atravessados por um bulevar circular, como no
plano de Burnham, a costa reduzindo, em ambos os casos, a figura potencialmente
circular a uma meia-lua. Portanto, neste caso, há uma complexa trança de citações
de formas simples – as praças e as avenidas – e de homomorfismos.
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Transurbanidade e urbanismo moderno
Sem se restringir a ser um receptáculo de formas europeias, Chicago também
é constitutiva de arquiformas urbanas. Na origem da teoria da cidade-jardim, elaborada pelo britânico Ebenezer Howard em 1898, encontra-se o subúrbio-jardim de
Riverside, projetado em 1869 pelo arquiteto paisagista Frederick Law Olmsted com
base no parcelamento parisiense de Vésinet e de certas extensões de Londres. Foi
numa cidade qualificada, no final do século XIX, como “urbs in horto” ou “Nature’s
Metropolis”, que Howard concebeu um sistema cuja irradiação será considerável
por meio das edições sucessivas do seu manifesto de 1898, To-morrow, a Peaceful
Path to Real Reform, reeditado em 1902 com o título de Garden Cities of To-morrow. O
livro foi publicado em alemão em 1907, em russo em 1912 e em francês em 1916 – por
um belga estabelecido em Tianjin –, enquanto as associações nacionais militantes
para a cidade-jardim se multiplicavam. O diagrama espacial publicado por Howard
em 1898 sofreu distorções significativas quando aplicado a situações territoriais
específicas, que podem ser classificadas na ordem da anamorfose, figura cujas
características não se deixam revelar senão a partir de determinado ângulo de
visão ou em um espelho. No geral, sua estrutura topológica permanece invariável
conforme os lugares, mas as proporções dos seus diferentes componentes variam
muito entre a primeira cidade-jardim britânica, implantada em Letchworth, e as
que a seguem na Alemanha, em Hellerau e em Estrasburgo, bem como na Rússia,
em Prozorovskoe, e, ao término da Primeira Guerra Mundial, nos arredores de Paris e em Radburn, em Nova Jersey, onde o modelo howardiano é transformado pelo
uso do automóvel (WARD, 1992; HALL; WARD, 1998).
A invenção e a disseminação das parkways, ou avenidas-passeios, oferece outro caso de transurbanidade iterativa. Na origem da Eastern Parkway, traçada por
Olmsted no Brooklyn em 1871, encontramos a avenida de l’Impératrice, conectando
a place de l’Étoile no Bois de Boulogne, que ele tinha conhecido em Paris em 1867.
Olmsted estica excessivamente o seu comprimento e multiplica a sua largura, com
o propósito de acomodar nela diversos modos de transporte. Em sua brochura de
1870, Public Parks and the Enlargement of Towns, transformou essa via com calçadas
justapostas em um dispositivo generalizado entre os grandes parques. Ele mesmo o
implementará com o “colar de esmeraldas” em torno de Boston, o primeiro anel de
um conjunto estendido à escala da metrópole estadunidense. Coube a Jean-Claude
Nicolas Forestier (1997), guardião das promenades de Paris e grande admirador do
sistema de parques de Boston, por ele retratado em 1906 em um de seus livros,
repatriar o sistema Olmsted para Paris, ao estudar as promenades exteriores da
cidade na perspectiva de sua extensão, e deslocá-lo mais tarde para a América do
Sul, quando elabora um plano para as promenades de Buenos Aires em 1924.
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Em uma conjuntura favorável, marcada pelo surgimento do urbanismo como
disciplina, o que se manifesta em publicações, congressos e concursos (SUTCLIFFE,
1981), emergem transurbanidades diacrônicas. Entre as mais originais, está o projeto do francês Donat-Alfred Agache, em 1912, no concurso para o plano da nova
capital australiana de Camberra, que reproduz as estranhas figuras que Giambattista Piranesi havia implantado, exatos 150 anos antes, nas pranchas do seu Campo
Marzio dell’antica Roma. Em sentido oposto, de leste a oeste, o Stadtkrone, publicado pelo berlinense Bruno Taut em 1919, idealiza os templos orientais e extrai do
passado exótico e distante das cidades da Indonésia e da China formas consideradas válidas para o centro cívico das metrópoles europeias. Leitor da Frühlicht, uma
revista fundada e editada por Taut, Le Corbusier adotou esse princípio em 1922 em
sua “Cidade Contemporânea para 3 milhões de habitantes”, um projeto ainda mais
transurbano ao responder às reflexões berlinenses sobre Nova York. Espiritual
para Taut, a coroa de arranha-céus se tornou com Le Corbusier uma metonímia da
preeminência da organização.
Um olhar mais atento sobre esse projeto instaurador revelaria muitas outras
arquiformas além do Stadtkrone. Le Corbusier apoia-se no seu conhecimento dos
edifícios em redente de Eugène Hénard, que ele copiou em 1915 na Biblioteca Nacional, no projeto das “Villes-tours”, estudado por Perret desde 1922, assim como
em precedentes estadunidenses, como a Grand Central Station de Nova York, fonte
do nó ferroviário sobreposto por uma pista de aterrissagem localizada no centro
da “Cidade Contemporânea”. A transurbanidade sincrônica compõe-se com a diacronia. O espaço central da cidade pode ser comparado ao Palácio Real de Paris e
ao parque de Versalhes, e seu traçado geral é justificado por uma alusão explícita
à planta de Beijing, reproduzida com comentários lisonjeiros em 1925 nas páginas
de Urbanisme, onde a “Cidade Contemporânea” é a grande atração (LE CORBUSIER,
1925, p. 81). As estratégias de persuasão de Le Corbusier também passam pelo que
eu chamaria de transurbanidade negativa, baseada na oposição entre uma forma
urbana que opera por repulsa e a que a ela se opõe. Em Urbanisme, é denunciada a
“confusão” de Manhattan para sublinhar, por contraste, a ordem da “Cidade Contemporânea” (LE CORBUSIER, 1925, p. 164).
Outro caso de transurbanidade, desta vez sedimentar, é aquele que vê Nikolai
Milioutin, burocrata soviético apaixonado pelo urbanismo, aplicando o sistema da
cidade linear desenvolvido em 1894 por Arturo Soria y Mata às cidades industriais
construídas no âmbito do primeiro Plano Quinquenal. Não é baseado na experiência concreta da Ciudad Lineal de Madri que ele desenvolve seus projetos, mas sim
na publicação dos desenhos de Soria por El Lissitzky, que o retira ele mesmo de
um texto que o teórico da cooperação Charles Gide havia publicado – portanto, por
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meio de um mecanismo de transmissão bastante complexo. A rede de infraestruturas lineares assim formada é associada a uma transposição da linha de montagem
de Ford, e foi dessa estranha conexão que nasceu o Sotsgorod de Miliutin (2002),
apresentado em 1930 em um livro marcante. Suas propostas são lidas e traduzidas
na Alemanha, onde inspiram Ernst May e Otto Ernst Schweizer, que desenvolvem
um plano linear para a região de Karlsruhe, antes de serem citadas literalmente
por Le Corbusier em seus Trois établissements humains, de 1945, este último tendo
o cuidado de reintroduzir, no princípio traçado por Miliutin, alguns elementos gráficos de Soria. Finalmente, em sua visão de um “combinat” linear paralelo à costa
de Casablanca, associando uma sucessão de fábricas e respectivas vilas operárias,
Michel Écochard explorou, em 1950, o sistema que Le Corbusier codificou, o que
não deixa de ser bastante irônico, considerando que o Marrocos espanhol foi uma
das áreas em que Soria tentou desenvolver o seu projeto no início do século XX, ao
imaginar uma cidade linear paralela à costa entre Ceuta e Tetuã (MATA, 1926).
Poderíamos de fato considerar todos os projetos de cidades de Le Corbusier
sob o ângulo da transurbanidade. Esses projetos encontram suas arquiformas em
suas viagens de juventude, suas leituras e seus desenhos realizados na Biblioteca
Nacional, que fundamentam transurbanidades retrospectivas. Como mostrei, é na
representação da Roma antiga, gravada em 1561 por Pirro Ligorio, com seus monumentos descolados de qualquer tecido contínuo, que ele acredita ter descoberto
“o protótipo de cidade moderna nas árvores” (COHEN, 2013, p. 112)10. É no projeto
do Capitólio de Chandigarh que é transposta essa visão de uma cidade composta
de entidades autônomas, enquanto o resto da cidade deriva do plano anterior do
urbanista estadunidense Albert Mayer, e que toda a sua abordagem é confrontada
com a grande composição de Edwin Lutyens para Nova Délhi.
Transurbanidade, idealização e representação
Ecoando esses projetos, é tentador propor uma tipologia das relações transurbanas. Por analogia com as relações da transtextualidade, é possível distinguir
semelhanças, paráfrases, paródias, plágio, condensação, para falar dos casos mais
evidentes. A produção urbana posterior a 1945, por exemplo, apresenta vários casos de semelhança – a transferência de uma forma acompanhada de uma mudança
de escala. No bloco soviético anterior a 1954, as vias radiais do projeto stalinista de
Moscou de 1935 foram reproduzidas na Stalinallee, em Berlim oriental, e na nova
Marszałkowska, em Varsóvia. Na periferia de Paris, o bairro empresarial de La
Défense foi projetado primeiro em torno de um eixo que reproduz a Park Avenue,
10. Fundação Le Corbusier, Paris, desenho B2-20-655.
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mas dilatando a largura da avenida nova-iorquina, antes que o plano definitivo,
de 1964, recorresse a figuras de outra operação estadunidense – o plano de Victor
Gruen para o centro de Fort Worth, cujo contorno em forma de pera e lajes elevadas são repetidos. Se esses exemplos associam claramente duas formas, outros
se utilizam de múltiplas arquiformas. Assim, o projeto de Rem Koolhaas para o
concurso Parc de la Villette, em 1982, atua em duas ordens. O plano em faixas paralelas provém do rebaixamento do corte do Downtown Athletic Club, que ele havia
publicado anteriormente em Delirious New York (1978, p. 154), em uma espécie de
autotransurbanidade. Além disso, no tratamento gráfico das pranchas do concurso, são reproduzidos os códigos do projeto elaborado em 1930 para Magnitogorsk
por Ivan Leonidov – um dos modelos de referência de Koolhaas.
Mais amplamente, as manifestações da transurbanidade decorrem de processos de idealização, de identificações com arquiformas por vezes ocultas e com
outras, claramente reivindicadas. Entre suas manifestações mais evidentes, mencionarei o projeto elaborado por Albert Speer para a Berlim de Hitler, pensado em
uma relação clara com Roma – que não esconde seu Volkshalle, concebido como
uma praça de São Pedro hipertrofiada, com seu arco triunfal agigantado – e com os
bulevares da Paris haussmaniana. Hitler estava tão familiarizado com eles que não
parou de corrigir as informações fornecidas pelo guia durante sua visita relâmpago
numa manhã de junho de 1940, numa Paris esvaziada de seus habitantes (GRUAT,
2010). Seu conhecimento era puramente livresco e baseava-se, como algumas das
análises de Walter Benjamin, nos best-sellers da literatura turística alemã, como
as obras de Karl Scheffler (1908) e Fritz Stahl (1928), em que se celebra Paris como
“obra de arte”.
Uma das formas mais originais de transurbanidade é a cristalização da
relação de inveja da Rússia czarista e soviética em relação aos Estados Unidos, e
cujo desdobramento é duplo. No nível sincrônico, ela conduziu não apenas à transferência do tipo de arranha-céu isolado, o que levou às “sete irmãs” moscovitas,
mas também a sua atribuição programática e implantação multipolar, derivada
da proposta de Hugh Ferriss, em 1929, em sua Metropolis of Tomorrow, uma obra
recebida com elogios pelos arquitetos soviéticos (SCUSEV; ZAGORSKIJ, 1934). No
nível diacrônico, esse empréstimo da América foi negado, e mesmo reprimido,
pelo apelo à silhueta da Moscou medieval, cujos campanários foram apresentados
como precedentes das novas torres. A referência à cidade capitalista, que se tornou
algo vergonhoso, levou à busca por arquiformas legítimas na história russa. Tanto
em Berlim como em Moscou, formaram-se relações especulares pelas quais essas
capitais se moldavam a outras cidades, apesar de tudo o que as distanciava, em
uma tentativa deliberada de capturar sua aura. Em tais casos, a transurbanidade
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torna-se muito mais do que uma questão de desenho, porque à arquiforma concreta se sobrepõe um arquitexto simbólico.
Uma observação final é de extrema importância com relação à maneira pela
qual as formas transurbanas são montadas para constituir o tecido concreto das
cidades. Em seu memorável trabalho Collage City, Colin Rowe e Fred Koetter situaram, em 1977, a montagem de morfologias heterogêneas que constituem a maioria
das cidades por meio da justaposição de fragmentos autônomos. No lugar da colagem, que era uma prática constitutiva da modernidade artística e arquitetônica,
ousarei convocar uma estratégia nascida alguns anos mais tarde, que vê fragmentos de objetos existentes serem interpretados, atenuados ou acentuados em seu
relevo, por um jogo de frotagem. Max Ernst revela que inventou essa técnica “num
dia chuvoso” do verão de 1925, aplicando um papel no assoalho de madeira de um
quarto de hotel na Côte d’Azur e depois o esfregando, ou o frotando, com um lápis preto para reproduzir as nervuras (SPIES, 1986, p. 6-7). No ano seguinte, ele
apresentou os primeiros exemplos tão surpreendentes quanto enigmáticos dessas
assemblages de texturas em sua coleção Histoire naturelle, da qual mais de uma
prancha se assemelha à vista vertical de um território (ERNST, 1926). Mais próximos
dos mecanismos concretos de produção dos conjuntos urbanos do que as colagens
com suas bordas vivas, as frottages11 exibem as sobreposições de trama e os palimpsestos. Tal como essas obras sedimentadas, com suas bordas desgastadas e incertas
– que terei a oportunidade de estudar mais de perto em sua relação com os tecidos
urbanos das cidades –, o artefato coletivo resultante da transurbanidade poderia
ser decifrado e designado, parodiando Rowe, pelo termo Frottage City, Cidade-Frotagem em português.
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Jean-Louis Cohen
Arquiteto, historiador, com doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, foi professor da Escola de Arquitetura Paris-Villemin (1983-1996) e do Institut
Français d’Urbanisme da Universidade de Paris (1996-2004). Idealizador da Cité de l’Architecture et du Patrimoine em Paris, é professor desde 1994 do Institute of Fine Arts da
Universidade de Nova Iorque. Entre suas publicações, destacam-se: Des fortifs au périf,
Paris: les seuils de la ville (1992), Scenes of the World to Come; European Architecture and
the American Challenge 1893-1960 (1995), Casablanca, Colonial Myths and Architectural
Ventures (2002, com Monique Eleb), Le Corbusier, la planète comme chantier (Textuel,
2005), Architecture in Uniform: designing and building for the Second World War (2011), The
Future of Architecture Since 1889 (Phaidon, 2012), Architecture, modernité, modernisation
(2017).
ORCID: 0000-0002-8420-3598
Submissão: 16 de março de 2020.
Aprovação: 11 de maio de 2020.
Como citar: COHEN, J.-L. Cidade-Frotagem. Revista brasileira de estudos urbanos e regionais. v. 22, E202014, 2020. DOI 10.22296/2317-1529.rbeur.202014
Artigo licenciado sob Licença Creative Commons CC BY-NC 4.0.
https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.pt_BR
revista brasileira de estudos urbanos e regionais, v.22, e202014, 2020
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