2
3
4
5
6
ÍNDICE
PARTE I
Vida de São Cipriano (Extraída do Flor Sanctorum ou Vida de Todos
21
os Santos)
Reflexões Doutrinárias
29
PARTE II
C APÍT ULO I
32
Instruções aos Religiosos que vão tratar duma moléstia — Regra que
32
todo religioso deve estudar para saber se as moléstias de que vai
tratar são ou não de feitiçaria ou do diabo
Oração pelos bons espíritos os levar a Deus e deixarem a criatura
34
C APÍT ULO II
35
Novas orações das horas abertas — Para o Meio-Dia
35
Para as Trindades
35
Para a Meia-Noite
36
C APÍT ULO III
37
Arrependimentos de São Cipriano — Suas Virtudes
37
C APÍT ULO IV
41
Sinais de haver malefícios nas criaturas — Oração que se lê ao
41
enfermo para se saber se a moléstia é natural ou sobrenatural, e a
7
qual os religiosos devem ter estudado bem no Capítulo primeiro e
nas Instruções; sem isso não podem prestar bons serviços
Preceito — Ao demônio ou demônios para que não mortifiquem o
42
enfermo durante o tempo em que se esconjura
Primeira esconjuração
46
Segunda esconjuração
47
Terceira esconjuração
48
Fim da Oração de São Cipriano — Oração ao Senhor, ou Louvores
50
por ter livrado o enfermo do poder de Satanás ou de seus aliados a
qual deve-se rezar de joelhos e com devoção
Aviso ao religioso
50
Modo como se há de fechar a morada
50
C APÍT ULO V
53
Sobre os fantasmas que aparecem nas encruzilhadas, ou almas do
53
mundo espiritual, que por missão de Deus vêm a este mundo
corporal buscar orações para serem purificadas dos erros que
cometeram neste mundo contra Deus Nosso Senhor e são mandados
para mortificarem as criaturas e aparecer-lhes em fantasmas para ver
se lhes valem com orações, esconjuram-nas e buscam maldições: um
erro da humanidade; vejam e estudem bem o que segue para
valerem a esses infelizes espíritos
Orações para pedir a Deus pelos bons espíritos que vêm a este
55
mundo buscar orações para serem purificados do mal que fizeram
neste mundo, e restituir alguma dívida ou roubo
Oração útil para curar todas as moléstias ainda que sejam naturais, a
57
qual deve ser lida com muito respeito em Jesus Cristo, com quem
estamos falando
C APÍT ULO VI
61
Exorcismo para expulsar o diabo do corpo
61
C APÍT ULO VII
63
Desencanto dos tesouros
63
8
Oração e esconjuração para se desencantarem os tesouros
64
Ladainha dos Santos
64
Segunda esconjuração
67
PARTE III
Enguerimanços de São Cipriano ou os Prodígios do Diabo
73
PARTE IV
Relação dos 170 tesouros — Tesouros da Galiza (Extraído de um
99
pergaminho achado no Século XIII)
Explicação importante
99
Relação dos tesouros e encantos extraída do pergaminho
100
PARTE V
Oráculo dos 50 Segredos
117
Segredo 1º — Para um homem conhecer se a mulher lhe é infiel ou
117
não
Segredo 2º — Efeitos do vinagre e da urina
117
Segredo 3º — Para tirar as dores de cabeça
117
Segredo 4º — Para aqueles que caminham não sentirem a calma nem
118
o cansaço do caminho
Segredo 5º — Para crianças que têm lombrigas e tosse
118
Segredo 6º — Para os cabelos nunca caírem e se conservarem vetos
118
Segredo 7º — Segredo para quando forem tirar o mel das colmeias
119
não serem mordidos pelas abelhas
Segredo 8º — Para evitar formigas, mosquitos e percevejos
9
119
Segredo 9º — Para conhecer a sarna e o meio de curar
119
Segredo 10º — Para os que costumam enjoar
120
Segredo 11º — Para curar os catarros que costumam nos apoquentar
120
Segredo 12º — Remédio para percevejo, piolhos e pulgas
121
Segredo 13º — Das várias qualidades que há no ovo
121
Segredo 14º — Para em pouco tempo se curar a diarreia e disenteria
121
Segredo 15º — De nossos conhecimentos, da causa e porque os
122
nascidos do oitavo mês não vivem
Segredo 16º — Para sabermos dos meninos, a estatura que virão a ter
123
depois de grandes
Segredo 17º — Como se podem conhecer as enfermidades pela urina
124
Segredo 18º — Para que um cavalo pareça manco, sendo, são
126
Segredo 19º — Para refinar a pólvora
127
Segredo 20º — Para quando uma mulher parir se o parto seguinte, se
127
houver, é macho ou fêmea
Segredo 21º — Para se saber das virtudes da artemísia
127
Segredo 22º — Para azia
128
Segredo 23º — Para os meninos pequenos se criarem, de modo que
128
sejam mais encorpados e mais fortes
Segredo 24º — Causa das nossas enfermidades e com a ajuda de
129
Nosso Senhor as podermos remediar
Segredo 25º — Do tempo que é salutífero cada um dormir segundo a
130
compleição que tiver
Segredo 26º — Para que as mulheres sem postura pareçam melhor e
130
tenham melhor cara com menos custo
Segredo 27º — Para tirar nódoas de azeite e pingos de cera de toda
131
qualidade de panos
Segredo 28º — Para fazer acreditar aos presentes que conhecemos as
131
cartas de jogar pelo cheiro
Segredo 29º — Virtudes da pele que a cobra costuma despir
10
132
Segredo 30º — Para conservar a castidade e reprimir os estímulos da
carne
132
Segredo 31º — Para conservar as camas sem percevejos, os aposentos
133
sem pulgas, as casas sem moscas, e ainda sem mosquitos nem ratos
Segredo 32º — Contra pulgas
133
Segredo 33º — Contra moscas
133
Segredo 34º — Contra mosquitos
134
Segredo 35º — Contra ratos
134
Segredo 36º — Para multiplicar a cera
134
Segredo 37º — Para deixar de beber
135
Segredo 38º — Importante para a memória
135
Segredo 39º— Dos casados que não têm filhos
136
Segredo 40º — Para voz boa e clara
136
Segredo 41º — Para que se coza a carne na panela posta ao lume todo
136
o dia
Segredo 42º — Provado contra o mal dos queixos
136
Segredo 43º — Provado que não nasçam nem cresçam cabelos
137
Segredo 44º — Para que a barba e cabelos se conservem sempre
137
pretos
Segredo 45º — Para conservar a barba e cabelos louros
137
Segredo 46º — Para que a barba e cabelos brancos se tornem negros
138
Segredo 47º — Para que as unhas e cabelos cresçam pouco
138
Segredo 48º — Para que as unhas e cabelos cresçam depressa
138
Segredo 49º — Aviso importante e proveitoso para os lavradores
138
Segredo 50º — Para secar o leite dos peitos das mulheres
139
PARTE VI
Poderes ocultos — Cartomancia, orações e esconjuros
11
143
Nomes dos demônios que atormentam as criaturas e porque Deus
consente que eles as mortifiquem
143
Quantas castas há de demônios ou criaturas viciadas
144
Modo de preparar uma peneira para adivinhar, como fazia São
145
Cipriano depois que virou santo
Para adivinhar, com seis paus de alecrim
145
Modo de deitar as cartas tal qual as deitava São Cipriano
146
Para se saber como se há de ler o que as cartas revelam a quem as
148
consulta
Maneira de dispor as cartas
148
Responso que se deve dizer quando se está a deitar as cartas
150
Primeira mágica — O poder oculto ou meio de obter o amor das
151
mulheres
Segunda mágica — Poder oculto ou segredo da varinha de aveleira
152
Terceira mágica — Os poderes ocultos ou o dinheiro encantado
153
Oração do anjo Custódio
153
Um episódio da vida de São Cipriano
154
Lúcifer e o Anjo
155
Oração para assistir aos enfermos na hora da morte
157
Grande requerimento que fez São Cipriano para castigar Lúcifer, que
159
sempre o tentava nas suas orações
Continua o requerimento com que São Cipriano fez retirar, pela
161
segunda vez, o demônio do inferno, e veio à sua presença, para ser
castigado com a varinha de condão
Como Cipriano começou a requerer o demônio
161
Modo de se preparar a vara boleante para castigar o demônio
164
Modo de se preparar os pregos
164
Oração para por preceitos aos demônios
164
Oração do Justo Juiz
165
12
Cartomancia cruzada — Maneira de deitar cartas, até hoje ignorada,
usada pela Feiticeira de Évora
167
Valor das Cartas
168
1º Exemplo para senhora
169
2º Exemplo (idem)
170
3º Exemplo (para cavalheiro)
171
4º Exemplo (idem)
172
Advertência final
173
PARTE VII
Verdadeiro tesouro da Mágica Preta e Branca ou Segredos da
177
Feitiçaria
Modo de fazer a cruz
177
Modo de usar a cruz
177
Grande mágica das favas
178
Aviso a quem fizer uso desta mágica
178
Mágica do osso da cabeça do gato preto
179
Outra mágica do gato preto
179
Outra mágica do gato preto para fazer mal
180
Advertência
181
Outras mágicas do gato preto e a maneira de gerar um diabinho com
181
olhos de gato
Palavras que se devem dizer junto da pilha de estrume onde está o
182
diabinho
Maneira de obter um diabinho tomando pacto com o demônio —
184
Modo de tomar o pacto
Feitiçaria que se faz com dois bonecos, tal qual fazia São Cipriano
enquanto feiticeiro e mágico
13
185
Encantos e mágicas da semente do feto e suas propriedades
186
Palavras que todos devem dizer com o rosto sobre as sementes do
186
feto
Explicação das virtudes e maravilhas de que é dotada a dita semente
187
Talismã da sorte
187
A mágica do trevo de quatro folhas, cortado na Noite de São João ao
189
dar meia-noite
Mágica ou feitiçaria que se faz com os dois bonecos para fazer mal a
190
qualquer criatura
Mágica de um cão preto e suas propriedades
192
Segunda mágica ou feitiçaria do cão preto
193
Modo de aplicar
193
Mistérios da feitiçaria
201
Receita para obrigar o marido a ser fiel
201
Receita para obrigar as moças solteiras e até mesmo as senhoras
202
casadas a dizerem tudo o que fizeram ou tencionam
Receita para ser feliz, nas coisas que se empreendem
203
Receita para fazer-se amar pelas mulheres
203
Receita para fazer-se amar pelos homens
204
Verdadeira oração para enxotar o demônio do corpo
206
Oração que preserva do raio
207
Mágica das uvas e suas propriedades
207
Explicação das virtudes e propriedades deste azeite e cacho que
208
ficam dentro da garrafa
Com um desengano notável de estimável valor e proveito, acerca de
211
um modo de curar as chagas novas e frescas que hoje usam algumas
pessoas, com vinho, azeite e orações
Segue-se notável desengano, do modo de curar com vinho, azeite e
212
orações
O modo que se há de ter e guardar em curar as chagas novas e
14
214
frescas só com vinho e azeite
Segredo mui necessário peita reprimir o sangue das feridas
215
Como se há de preparar os pós das rãs
215
Unguento preciosíssimo para curar qualquer fístula ou chaga velha e
216
outros males
PARTE VIII
Poderes da Magia Negra — Mágica sobrenatural para se ver em uma
219
bacia de água a pessoa que nos está ausente
Mágica ou bruxaria para obrigar uma pessoa a ceder-nos o que
219
desejamos
Conjuração
220
Outra mágica quase idêntica a que acabamos de indicar, porém, sem
220
ser preciso conjurações, para chamar os espíritos invisíveis, para
virem comunicar-se com os encarnadas
Mágica preta ou feitiçaria para se desmanchar um casamento
222
Mágica ou combinações dos espíritos, os quais se requerem tendo-se
223
uma caveira iluminada com velas de sebo, sendo para fazer mal a
qualquer pessoa
Continuação da mágica preta, ou combinações dos espíritos pelos
224
quais se pode fazer o que muito bem nos aprouver
Primeira conjuração
224
Segunda conjuração
225
Feitiço que se faz a uma pessoa com quem se deseja casar, executado
226
pela preta Quitéria, de Minas
Feitiço ao natural, executado pela preta Lucinda, para que a pessoa
226
com quem se vive seja sempre fiel
Grande conjuração da mágica preta, para se fazer revoltar os tempos,
escurecerem-se os astros, verem-se relâmpagos ouvir grandes
trovões e tempestades, grandes fantasmas e línguas de fogo saírem
15
227
da terra, abrir grandes brechas, que parecem querer tragar o
conjurador! Um espetáculo terrível, igual ao do último dia do
mundo! — Primeira conjuração
Segunda conjuração
228
Mandinga que faz a Mãe Cazuza, Cabinda
230
Feitiço executado pelas pretas do Brasil, quando querem ligar um
230
branco de quem gostam
História de Amândio
231
Clavícula de Salomão
235
O pacto de Salomão
238
Combate entre Salomão e Lúcifer
241
PARTE IX
Os poderes ocultos do magnetismo
247
Modo de magnetizar um indivíduo para adivinhar o que se passa em
247
todo o mundo
Segredo para se magnetizar uma garrafa de água ou segredo de
249
Rachel, salvadora de Salomão
Efeitos da garrafa mágica
249
Poder magnético
250
O réptil magnetizador
251
O amor magnetizador
252
Influência dos planetas
252
Fluido nervoso
253
Fluido moral
253
A força de vontade
254
Mau olhado
254
A mascote
254
16
D. Juan vitorioso
255
Magnetismo experimental — Modo de usar uma pessoa
256
Catalepsia magnética
258
PARTE X
Orações miraculosas de São Cipriano
260
Oração que se lê ao enfermo — Para saber se a moléstia é natural ou
263
sobrenatural
Oração para o demônio não mortificar o enfermo — Por todo tempo
264
do esconjuro
Primeira conjuração
265
Oração para livrar o enfermo do poder de Satanás
267
Como se há de fechar a morada
267
Palavras santíssimas — Que o religioso deve dizer quando estiver a
268
fechar a morada
Salvação do pecador — Oração
268
Oração contra feitiços e malefícios
269
Oração ao Anjo Custódio
271
Oferecimento
274
Oração do Anjo de Guarda
274
Magnificat
275
Cruz de São Bento
275
Sonhas de Nossa Senhora
276
Oração prodigiosa — Composta por Santo Agostinho
276
Oração da Cabra Preta Milagrosa
279
17
18
PARTE I
19
20
VIDA DE SÃO CIPRIANO
EXTRAÍDA
DO
FLOR SANCTORUM
OU VIDA DE TODOS OS
SANTOS
Cipriano (denominado o Feiticeiro para distinguir-se do célebre Cipriano,
bispo de Cartago), nasceu na Antióquia, situada entre a Síria e a Arábia,
pertencente ao governo da Fenícia. Seus pais idólatras, e providos de copiosas
riquezas, vendo que a natureza o dotara dos talentos próprios para conciliar a
estimação dos homens, o destinaram para o serviço das falsas divindades,
fazendo-o instruir em toda a ciência dos sacrifícios que se ofereciam aos ídolos,
de modo que ninguém, como ele, tinha tão profundo conhecimento dos
profanos mistérios do bárbaro gentilismo.
Na idade de trinta anos, fez ele uma viagem ao país da Babilônia para
aprender a astrologia judiciária e os mistérios mais recônditos dos supersticiosos caldeus. E sobre a grave culpa de empregar em tais estudos o
tempo que lhe era concedido para conhecer e seguir a verdade aumentou
Cipriano a sua malícia e a sua iniquidade. Deu-se inteiramente ao estudo da
magia, para conseguir por meio desta arte um estreito comércio com os
demônios; praticando ao mesmo tempo uma vida impura e absolutamente
escandalosa.
E, conquanto um verdadeiro cristão chamado Eusébio, que havia sido seu
companheiro de estudos, lhe fizesse amiudadas vezes vigorosas censuras sobre
a sua má vida, procurando arrancá-lo do abismo profundo em que o via
precipitado, não só desprezava Cipriano as suas exortações e censuras, mas
também ainda se valia do infernal engenho para ridicularizar os sacrossantos
mistérios e virtuosos professores da lei cristã, por ódio à qual chegou a unir-se
com os bárbaros perseguidores para obrigar os cristãos e renunciarem ao
Evangelho e renegarem a Jesus Cristo.
Tinha chegado a este estado a vida de Cipriano, quando a infinita
misericórdia de Deus se dignou iluminar e converter este infeliz vaso de
21
contumélias e ignomínias em vaso de eleição e de honra; valendo-se e servindose da sua divina graça para obrar no coração de Cipriano este prodigioso
milagre da sua onipotência, do meio exterior que vamos historiar.
Vivia em Antióquia uma donzela por nome Justina, não menos rica do que
bela, a quem seu pai Edeso e sua mãe Cledônia educaram com muito cuidado
nas superstições do paganismo. Porém Justina, dotada, como era, de um claro
engenho, assim que ouviu as pregações de Prailo, diácono de Antióquia,
abandonou as extravagâncias gentílicas e, abraçando a fé católica, conseguiu
converter dali a pouco os seus próprios pais.
Constituída cristã, a ditosa virgem tornou-se ao mesmo tempo uma das
mais perfeitas esposas de Jesus Cristo, consagrando-lhe a sua virgindade e
procurando adquirir todos os meios de conservar esta delicada virtude, para
cujo efeito observava cuidadosamente a modéstia entregando-se às orações e ao
retiro. Não obstante isto, vendo-a, um pobre mancebo, de nome Aglaide, lhe
captou tanto os agrados, que logo a pediu aos seus pais para esposa, ao que eles
anuíram; e só não pôde, por mais diligência que fez o tal pretendente, obter o
consenso da mesma Justina.
Valeu-se então Aglaide das indústrias de Cipriano, o qual, com efeito,
empregou todos os meios mais eficazes da sua diabólica arte para satisfazer ao
namorado amigo. Ofereceu aos demônios muitos abomináveis sacrifícios e eles
lhe prometeram o desejado sucesso, investindo logo a santa com terríveis
tentações e horríveis fantasmas. Porém ela, fortalecida pela graça de Deus, que
tinha merecido com orações contínuas, rigorosas austeridades e, sobretudo com
o patrocínio da Santíssima Virgem (a quem ela chamava sua mãe amantíssima),
ficou sempre vitoriosa.
Indignado Cipriano por não poder vencê-la, se levantou contra o
demônio, que estava presente, e lhe falou desta maneira: “Pérfido, já vejo a tua
fraqueza, quando não podes vencer a uma delicada donzela, tu, que tanto te
jactas do teu poder e de obrar prodigiosas maravilhas! Dize-me logo de onde
procede esta mudança, e com que armas se defende aquela virgem para deixar
inúteis os teus esforços?”
Então o demônio, obrigado por uma divina virtude, lhe confessou a
verdade, dizendo-lhe que o Deus dos cristãos era o supremo Senhor do Céu, da
Terra e dos infernos; e que nenhum demônio podia obrar contra o sinal-da-cruz
com que Jus- tina continuamente se armava. De maneira que por este mesmo
22
sinal, logo que ele lhe aparecia para tentar, era obrigado a fugir.
— “Pois se isso assim é, replicou Cipriano, eu sou bem louco em me não
dar ao serviço de um senhor mais poderoso do que tu. E assim, se o sinal-dacruz, em que morreu o Deus dos cristãos, te faz fugir, não quero já servir-me
dos teus prestígios, antes renuncio inteiramente a todos os teus sortilégios,
esperando a bondade de Deus de Justina que haja de me admitir por seu servo.”
Irritado então o demônio de perder aquele por meio do qual fizera tantas
conquistas, se apoderou do seu corpo. Porém, (diz São Gregório) foi logo
obrigado a sair, pela graça de Jesus Cristo, que estava senhor do seu coração.
Teve, pois, Cipriano de manter vigorosos combates contra os inimigos de sua
alma; mas o Deus de Justina, a quem ele sempre invocava, lhe valeu com o seu
auxílio e o fez ficar vitorioso.
Concorreu também muito para este efeito o seu amigo Eusébio, a quem
Cipriano procurou logo, e disse com muitas lágrimas: “Meu grande amigo,
chegou para mim o ditoso tempo de reconhecer meus erros e abomináveis
desordens, e espero que o teu Deus, que já confesso ser o único e verdadeiro,
me admitirá no grêmio dos seus íntimos servos, para maior triunfo da sua benigna misericórdia.”
Muito satisfeito Eusébio por uma tão prodigiosa mudança abraçou
afetuosamente o seu amigo, e lhe deu muitos parabéns pela sua heroica resolução, animando-o a confiar sempre na infalível verdade do puríssimo Deus,
que nunca desampara os que sinceramente o procuram. E assim fortificado, o
venturoso Cipriano pôde resistir com valor a todas as tentações diabólicas.
Para este efeito, fazia ele, sem cessar, o sinal-da-cruz, e tendo sempre nos
lábios e no coração o sacrossanto nome de Jesus, não cessava de invocar a
assistência da Santíssima Virgem. Vendo, pois, os demônios inteiramente
frustrados todos os seus artifícios, aplicaram o seu esforço maior em tentá-lo de
desesperação, propondo-lhe com viveza de espírito estes e outros tais discursos
e reflexões:
“Que o Deus dos cristãos era sem dúvida o único Deus verdadeiro, mas
que era um Deus de pureza, um Deus que punia com severidade extrema ainda
os menores crimes, de que a maior prova eram eles mesmos, que por um só
pecado de soberba foram condenados a uma pena extrema.
Como haveria perdão para eles, que pelo número de gravidade das suas
culpas tinha já um lugar preparado no mais profundo do inferno? E que,
23
portanto, não tendo misericórdia que esperar, cuidasse Unicamente em se
divertir, satisfazendo à rédea larga todas as paixões da sua vida.”
Na verdade esta tentação veemente pôs em grande perigo a salvação de
Cipriano. Mas o amigo Eusébio, a quem ele se referiu, o animou e consolou,
propondo-lhe em eficácia a benigna misericórdia, com que Deus recebe e
generosamente perdoa aos pecadores arrependidos, por maiores que sejam os
seus pecados. Depois o mesmo Eusébio o conduziu à assembleia dos fiéis, onde
se admitiam as pessoas que desejavam instruir-se em tão luminosos mistérios.
Afirma o próprio São Cipriano, no livro da sua Confissão, que à vista do
respeito e piedade de que estavam penetrados os fiéis, adorando o verdadeiro
Deus, o tocou vivamente no coração. Diz ele: “Eu vi cantar naquele coro os
louvores de Deus e terminar cada verso dos salmos com a palavra hebraica
Aleluia; tudo com atenção tão respeitosa e com tão suave harmonia, que me parecia estar entre os anjos ou entre os homens. celestes.”
No fim da função admiraram-se os assistentes de que um tal presbítero,
como era Eusébio, introduzisse a Cipriano naquele sagrado congresso. E o
mesmo bispo, que estava presidindo, muito mais o estranhou, porque não
julgava sincera a conversão de Cipriano. Porém, ele dissipou logo essas
dúvidas, queimando, na presença de todos, os seus livros de mágica, e
introduzindo-se no número dos catecúmenos, depois de haver distribuído
todos os seus bens aos pobres.
Instruído, pois Cipriano, e com suficiente disposição, o bispo o batizou, e
juntamente a Aglaide, apaixonado de Justina, que, arrependido da sua loucura,
quis emendar a vida e seguir a fé verdadeira. Tocada Justina destes dois
exemplos da divina misericórdia, cortou os seus cabelos em sinal de sacrifício
que fazia a Deus da sua virgindade, e repartiu também pelos pobres todos os
bens que possuía.
Cipriano, depois disto, fez maravilhosos progressos nos caminhos do
Senhor; e sua vida ordinária foi um perene exercício na mais rigorosa
penitencia. Via-se muitas vezes na igreja, prostrado por terra, com a cabeça
coberta de cinza, rogando a todos os fiéis que implorassem para ele a divina
misericórdia. E para mais se humilhar e suprimir a sua antiga soberba, obteve, à
força de muitos rogos, que se lhe desse o emprego de varredor da igreja.
Ele morava em companhia do presbítero Eusébio, a quem venerou sempre
como a seu pai espiritual. E o divino Senhor que se digna ostentar os tesouros
24
da sua clemência sobre as almas humildes e sobre os grandes pecadores
verdadeiramente convertidos, lhe concedeu a graça de obrar milagres. Isto
junto à sua natural eloquência concorreu muito para converter à fé um grande
número de idólatras, servindo-se para isso do famoso escrito da sua Confissão,
na qual, fazendo públicos os seus crimes e enormes excessos, animava a
confiança, não só dos fiéis, mas a dos maiores pecadores.
Entretanto, o nome de São Cipriano o seu zelo e as numerosas conquistas
que fazia para o reino de Jesus Cristo não podiam ser ignorados dos
imperadores. Diocleciano, que então se achava em Nicomédia, informado das maravilhas que obrava São Cipriano, e da perfeita santidade da virgem Justina,
passou ordem para serem presos, o que logo executou o Juiz Eutolmo,
governador da Fenícia.
Conduzidos, pois à presença desse juiz, responderam com tanta
generosidade e confessaram, com tanta eficácia, a fé em Jesus Cristo que pouco
faltou para converterem o ímpio bárbaro. Mas, para que não se julgasse que ele
favorecia os cristãos, mandou logo açoitar, com duras cordas, a Santa Justina, e
despedaçar com pentes de ferro as carnes de São Cipriano tudo com tamanha
crueldade que até aos mesmos pagãos causou horror! Vendo então o tirano que
nem promessas nem ameaças, nem aquele rigoroso suplício, nada abatia a firme
constância dos generosos mártires, mandou lançar a cada um em uma grande
caldeira cheia de pês, de banha e cera a ferver. Mas o prazer e satisfação, que se
admirava no rosto e nas palavras dos mártires, davam bem a conhecer que nada
padeciam com aquele tormento. E o caso é que até se percebia que o mesmo
fogo, que estava debaixo das caldeiras, não tinha o mínimo calor.
O que visto por um sacerdote dos ídolos, grande feiticeiro, chamado
Athanásio (que algum tempo fora discípulo do mesmo Cipriano), julgando que
todos aqueles prodígios procediam dos sortilégios do seu antigo mestre e,
querendo ganhar nome e reputação maior entre o povo, invocou os demônios
com as suas cerimônias mágicas e se lançou deliberadamente na mesma caldeira donde Cipriano foi extraído. Porém, logo perdeu a vida, e se lhe despegou
a carne do osso.
Produziu este fato um novo resplendor às maravilhas do nosso santo, e
esteve para haver naquela cidade um grande motivo em seu favor. Intimado,
pois, o juiz tomou o partido de enviar os mártires a Diocleciano, que estava por
esse tempo em Nicomédia, informando-o, por escrito, de tudo o que se havia
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passado. Lida que foi a carta do governador, mandou Diocleciano que, sem
mais formalidades dos processos dos costumes fossem degolados Cipriano e
Justina; o que se executou no dia 26 de setembro nas margens do Rio Galo, que
passa pelo meio da referida cidade.
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E chegando naquela ocasião um bom cristão chamado Teotisto a falar em
segredo a São Cipriano, foi Teotisto condenado logo a ser também degolado.
Era esse venturoso homem um marinheiro que, vindo das costas da Toscana,
desembarcara próximo a Mitínia. Os seus companheiros, que eram todos
cristãos, tendo notícia daquele sucesso, vieram de noite apreender os corpos
dos três mártires e os conduziram a Roma onde estiveram ocultos em casa de
uma pia senhora, até que no tempo de Constantino, o magno, foram transladados para a Basílica de São João de Latrão.
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REFLEXÕES DOUTRINÁRIAS
O grande padre da igreja, São Gregório Naziazeno, elogiando em uma das
suas melhores orações os dois santos mártires, Cipriano e Justina, convida não
só as virgens, senão também as casadas, a que imitem aquela santa no glorioso
esforço que observou nos seus combates. Diz o santo doutor: “Vendo ela
furiosamente acometido o candor da sua pureza pelos impulsos dos homens
lascivos e sugestões dos demônios impuros, recorreu às armas da oração e
mortificação, macerando o corpo, com jejuns, e invocando, com fervor e
humildade, o auxílio do seu esposo, e o poderoso patrocínio da Santíssima
Virgem.”
Valham-se, pois das mesmas armas, quando se virem tentadas pelo poder
das trevas. E o Senhor certamente as defenderá, para que não só não fiquem
vencidas senão ainda com maior mérito e com a prometida coroa a quem se
porte com valor na batalha. E, por fim, conclui o santo doutor propondo a
conversão admirável de São Cipriano, extraído do profundo abismo da
iniquidade, para que anime e sirva de conforto aos pecadores (por mais
oprimidos que se vejam de inumeráveis e enormes culpas), para confiarem
sempre na divina misericórdia que excede infinitamente a todos os pecados dos
homens e pode, por virtude da sua graça, abrandar os corações mais duros; e
reduzindo-os logo ao exercício de uma sincera penitencia, elevá-los depois a um
eminentíssimo grau de eterna glória.
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PARTE II
LIVRO DE SÃO CIPRIANO
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CAPÍTULO I
INSTRUÇÕES AOS RELIGIOSOS QUE VÃO
TRATAR DE UMA MOLÉSTIA — REGRA QUE
T O D O R E L I G I O S O D E V E E S T U D A R P A R A S A B ER
SE AS MOLÉSTIAS DE QUE VAI TRATAR S ÃO
OU NÃO DE FEITIÇARIA OU DO DIABO
Não devemos facilmente crer que todas as moléstias são feitiços ou arte do
demônio, pois estamos a ver a cada passo pessoas que padecem moléstias
naturais; mas quando a doença se prolonga e não tem cura, atribuem-na a
feitiços, quando é o contrário.
Costumam ir a casas de certas mulheres e certos homens que pouco sabem
conhecer o que é natural ou sobrenatural, que começam a fazer esconjurações e
às vezes a amaldiçoarem espíritos que em nada são culpados. Essas impostoras
esses impostores ficam sendo amaldiçoados por Deus, como diz São Cipriano.
Rogo, pois de todo o meu coração, aos religiosos que estudem com
atenção estas instruções para não se exporem à maldição do Cristo, isto porque
havemos de notar que tudo quanto fizermos é em nome de Jesus Cristo, e por
esse motivo não o devemos ofender, mas sim invocar o seu Santo Nome para
que nos assista à hora em que estivermos a orar pelo enfermo para não sermos
enganados se a moléstia é ou não obra do feitiço ou dos espíritos infernais. No
fim destas instruções citarei urna oração em latim para ser lida junto ao
enfermo por três vezes, porque se for feitiço ou espíritos benignos ou malignos
eles falarão, declarando que estão dentro da criatura, pois logo ela principia a
afligir-se convulsivamente. Dado este caso tendes a certeza de que a moléstia é
sobrenatural e não natural, e, portanto, logo devereis dizer:
“Eu te rogo, espírito, em nome de Deus Todo-Poderoso, que me declares
por que é que andas a molestar este corpo (aqui se pronuncia o nome do
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enfermo), pois eu te conjuro para que me digas o que pretendes do mundo
corporal? Aqui está o protetor que vai rogar ao Senhor por ti para que sejas
purificado no reino da Glória.”
No fim desta invocação o religioso logo compreende se o espírito anda no
mundo à procura de caridade, porque logo que lhe digam: “vou rogar por ti”, o
doente sossega e fica tranquilo. Se assim acontecer, devem todos pôr-se de
joelhos e dizer em coro a seguinte oração:
ORAÇÃO PELOS BONS ESPÍRITOS OS
LEVAR A DEUS E DEIXAREM A CRIATURA
Quando se diz ao espírito: “Tu sossegas que eu oro a Deus por ti”, afligese a pessoa ainda mais; e isto denota que o espírito que tem dentro é mau.
Faça-se então a esconjuração de São Cipriano.
Mas, meu bom leitor, rogo-te, em nome de Deus, que não trates de
nenhuma moléstia sem que primeiro tenhas estudado bem estas regras. É
preciso notar que cada uma das orações, que contém este livro, tem a sua
aplicação, e a que serve para uma coisa não serve para outra. São cinco as
orações que se encontram neste bom livro:
1ª) Para rogar a Deus pelos espíritos bons.
2ª) Para esconjurar os espíritos maus.
3ª) Para curar moléstias mesmo naturais, sem que sejam obra de feitiço ou
diabrura.
4ª) Para esconjurar os encantos ou tesouros encantados.
5ª) Para se fechar uma morada em um corpo aberto, para que os espíritos
não tornem a entrar naquele corpo.
São estas as principais orações, mas, além disto, este livro encerra
muitíssimas coisas curiosas, com que o leitor certamente se recreará.
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CAPÍTULO II
NOVAS ORAÇÕES DAS HORAS ABERTAS
PARA O MEIO-DIA
Oh Virgem dos céus sagrados,
Mãe do nosso Redentor,
Que entre as mulheres tens a palma,
Traze alegria à minha alma
Que geme cheia de dor;
E vem depor nos meus lábios
Palavras de puro amor.
Em nome de Deus dos mundos
E também do Filho amado
Onde existe o sumo bem,
Seja para sempre louvado
Nesta hora bendita.
Amém.
PARA AS TRINDADES
A Santíssima Trindade
Me acompanhe toda a vida,
Sempre ela me de guarida,
De mim tenha piedade;
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O Padre Eterno me ajude,
O Filho a bênção me lance,
O Espírito Santo me alcance
Proteção, honra e virtude;
Nunca a soberba me inveje,
Em vez do mal faça o bem,
A Santíssima Trindade,
Me acompanhe sempre.
Amém.
PARA A MEIA-NOITE
Oh anjo da minha guarda,
Nesta hora de terror,
Me livre das más visões
Do diabo aterrador;
Deus me ponha a alma em guarda
Dos perigos da tentação,
De mim aparte os meus sonhos
E opressões do coração:
anjo da minha guarda,
Por mim pede à Virgem-Mãe
Que me preserve dos perigos
Enquanto for vivo.
Amém.
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CAPÍTULO III
ARREPENDIMENTOS DE SÃO
CIPRIANO — SUAS VIRTUDES
(RESUMO
DA SUA VIDA)
Cipriano, denominado o feiticeiro (porque Cipriano desde a sua infância
até a idade de 30 anos teve pacto com o diabo ou relações com todos os espíritos
infernais), nasceu em Antióquia, situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao
governo da Fenícia. Seus pais idólatras e providos de grandes riquezas, vendo
que a natureza o dotara dos talentos próprios para conciliar a estimação dos
homens, o destinaram para serviço das falsas divindades, fazendo-o instruir em
toda a ciência dos sacrifícios, que se ofereciam aos ídolos; de modo que
ninguém, como ele, tinha tão profundo conhecimento dos profanos mistérios do
bárbaro gentilismo; finalmente na idade de 30 anos fez uma viagem aonde um
religioso por nome Eusébio, que fora seu condiscípulo e que nos primeiros
estudos lhe fazia de tempo em tempo rigorosas censuras sobre a sua má vida,
procurou afastá-lo do abismo profundo em que o via. Cipriano não só o
desprezava, senão ainda se valia do seu engenho para metê-lo a ridículo.
Porém, um dia, Eusébio tanto orou a Deus que as suas orações foram
ouvidas no Céu.
A misericórdia de Deus dignou-se iluminar e converter essa infeliz vítima
da astúcia ignominiosa de Satanás em uma criatura devota à religião, valendose ou servindo-se da sua divina graça para obrar no coração de Cipriano este
grande prodígio de onipotência, pelo meio eficaz que vamos dizer.
Achava-se em Antióquia uma donzela chamada Justina, não menos rica
do que bela, a quem seu pai Edeso e sua mãe Cledônia educaram com grandes
cuidados nas superstições do paganismo. Porém Justina (dotada como era dum
claro engenho) assim que ouviu as pregações de Prailo, diácono de Antióquia,
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renunciou às extravagâncias gentílicas e, abraçando a fé católica, converteu
pouco depois seus próprios pais.
Constituída cristã, a ditosa Justina fez-se ao mesmo tempo uma das mais
perfeitas filhas de Jesus Cristo, consagrando-lhe a sua virtude e virgindade, e
procurando adquirir por todos os meios esta delicada virtude, para cujo efeito
observa com particular cuidado a modéstia e o retiro. O que não obstante,
vendo-a um pobre mancebo, por nome Aglaide, lhe conciliou tanto os agrados,
que a pediu logo a seus pais para esposa no que eles não puseram dúvida; e só
não pôde, por mais instancias que fez, o tal pretendente obter o consenso da
mesma Justina. Foi então ter-se com Cipriano, o qual aplicou todos os meios
mais eficazes da sua diabólica arte para satisfazer ao empenho do amigo.
Porém, de nada serviram os feitiços de Cipriano.
Então
Cipriano,
desesperado,
ofereceu
aos
demônios
muitos
e
abomináveis sacrifícios e eles lhe prometeram tudo o que pretendia investindoa então de grandes tentações e fantasmas; porém ela, fortalecida com os auxílios
da graça, que soube merecer, com orações contínuas e rigorosa austeridade e,
sobretudo, com o patrocínio da Santíssima Virgem (a quem ela apelidava sua
amada mãe) ficou sempre vitoriosa. Agitado, pois, Cipriano pelo furor da sua
paixão, voltou-se para o demônio, que estava presente, e disse-lhe desta forma:
— “Maldito e pérfido, já vejo a tua fraqueza, que não podes vencer uma
delicada donzela; tu, que tanto te jactas do teu poder, de obrar prodigiosas
maravilhas, dize-me com que armas se defendeu aquela santa virgem para
deixar inúteis os teus esforços.”
Então o demônio, obrigado por uma divina virtude, lhe confessou a
verdade, dizendo-lhe que o Deus dos cristãos era o supremo Senhor do Céu, da
Terra e dos infernos, e que nenhum demônio podia obrar contra o sinal da santa
cruz † com que Justina se armava, de maneira que por este mesmo sinal, logo
que ele lhe aparecia para atentar, era obrigado imediatamente a fugir.
Disse Cipriano: — “Pois se assim é, o Senhor é mais poderoso do que tu, e
se o sinal-da-cruz te afugenta, eu te esconjuro em nome de Deus dos cristãos...”
Nessa ocasião Cipriano pôs os braços em cruz em sinal da cruz de Cristo. O
diabo, irritado com isto, lançou mão de Cipriano e levou-o para o inferno.
Porém, em pouco tempo foi o diabo obrigado por São Gregório a apresentar
Cipriano no seu antigo estado, o que não custou poucas orações.
Cipriano, daí para o futuro, foi-lhe muito difícil o viver porque o diabo
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sempre lhe aparecia para o tentar; porém, Cipriano punha logo os braços em
cruz, e desta maneira afugentava-o sempre.
São Gregório disse a Cipriano que só teria a salvação quando desligasse
tudo quanto tinha ligado. Cipriano revestiu-se da graça de Deus e alugou uma
pobre caserna para chamar ali todas as prestidigitações do demônio. Daí a
pouco foi Cipriano elevado pela graça de Deus ao reino dos justos.
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CAPÍTULO IV
SINAIS DE HAVER MALEFÍCIOS NAS
CRIATURAS ― ORAÇÃO QUE SE LÊ AO
ENFERMO PARA SE SABER SE A MOLÉSTIA É
NATURAL OU SOBRENATURAL, E A QUAL OS
RELIGIOSOS DEVEM TER ESTUDADO BEM NO
CAP Í T U L O P R I M E I R O E N A S I N S T R U Ç Õ E S ; S E M
ISSO NÃO PODEM PRESTAR BONS SERVIÇOS
Esta oração diz-se em latim para que o enfermo não possa usar de
impostura; porque não entendendo o enfermo quando se há de mover ou estar
quieto, desta forma não pode enganar o religioso.
Em seguida vai urna oração em português para o mesmo fim.
Sinais de haver malefícios:
Se o religioso entender que é demônio ou alma perdida diga a ladainha;
no fim da ladainha ponha-lhe o Preceito que está adiante em português.
“Præcipitur in Nomine Jesus, ut desinat nocere ægroto, statim cesse delirium, et
illuo ordinate discurrat. Si cadat, ut mortuus, et sine mora surget ad præceptu
Exorcistæ factu in Nomine Jesus. Si in aliqua parte corporis si dolor, vel tumor, et ad
signo Crucis, vel imposito præcepto in Nomine Jesus. Quando Sacramenta, Reliquias, et
res sase præcipite dure. Quando imaginationi, se præsentat res inhonestæ contra
Imagines Christi, et Sanctorum, et si eodem tempre sentiant in capite, ut plumbum ut
aguam frigidam vel ferrum ignitem, et hoc fugit ad signum Crucis vel invocato Nomine
Jesus. Quando Sacramenta, Reliquias, et res sacros odit; quando, nulla præcedente
tribulatione desderat se dilacerat. Quando subito patenti lumen aufertur et subito
restitutur; quando diurno tempore nihil vidit, et nocturno bene vidit et sine luce lugit
epistolam; si subito siat surdus, te postea bene audiat, non solum materialia sed
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spiritualis. Si per septem, vel novem dies nishil, vel param comedens tortis est pinguis
sicuto antea. Si loquitur de Mysteris ultra suam capacitatem quando non custat de illus
sanctitate. Quando ventus vehemens discurrit per totum corpus ad mudum
formicarum; quando elevatur corpus contra volutatem patienves, e non apparet a
quolevetur. Clamores, scissio tiumtes, arrotationes dentium, quando patiens non est
stultus; vel quando homo natura debilis non potest teneri a multis. Quando habet
linguam tumidam et nigram, quando guttur instatur, quando audiuntur rugitus
ovium, latratus canum, porcorum grumitus, et similium. Si varie præter naturam
vident, et audiunt, si homines maximo odio perseuntur; si precipitis se exponunt si
oculos horribiles habent, remanent sensibus destituti. Quando corpus tali pondere
assicitur, ut a multis hominibus elevaret non benedictit, quando ab Eclesias fugit, et
aguam benedictam non consetit; quando iratos se ostendunt contra Ministros
superdonentes Reliquias capiti (eti occulte). Quando imagines Christi, et Virginis
Mariæ nolunt inspicere sede conspaunt, quando verba sacra nolunt proferre, vel si
proferant, ila corrumpunt et balba, cientes student proferre. Cum superposita capiti
manu sacra ad lectionem. Evangeliorum conturbatur agrotus, cum plusquam solitum
palpitaverit sensus occupantur, gattæ sudoris destuumt, anvietates sentit; stridores
usque ad Cælum mittit, ser posternit, vel similia facit.”
PRECEITO
AO DEMÔNIO OU DEMÔNIOS PARA QUE
NÃO MORTIFIQUEM O ENFERMO DURANTE
O TEMPO EM QUE SE ESCONJURA
Deve-se repetir muitas vezes, principalmente às mulheres grávidas, para
que não aconteça algum vomito com os fortes ataques que os demônios causam
nessa ocasião.
PRECEITO
Eu, como criatura de Deus feita à sua semelhança e remida com o seu
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santíssimo sangue, vos ponho preceito, demônio ou demônios, para que cessem
os vossos delírios, para que esta criatura não seja jamais por vós atormentada
com as vossas fúrias infernais.
Pois o nome do Senhor é forte e poderoso, por quem eu vos cito e notifico
que vos ausenteis deste lugar para fora. Eu vos ligo eternamente no lugar que
Deus Nosso Senhor vos destina; porque com o nome de Jesus vos piso e rebato
e vos aborreço mesmo do meu pensamento para fora. O senhor seja comigo e
com todos nós, ausentes e presentes, para que tu, demônio não possas jamais
atormentar as criaturas do Senhor. Fugi, fugi, partes contrárias, que venceu o
leão de Judá e a raça de David.
Amarro-vos com as cadeias de São Paulo e com a toalha que limpou o
santo rosto de Jesus Cristo para que jamais possais atormentar os viventes.
(Faça-se o ato de contrição).
Em seguida deve dizer-se a oração de São Cipriano para desfazer toda a
qualidade de feitiçaria e esconjurações dos demônios, espíritos malignos ou
ligações que tenham feito homens ou mulheres, ou para rezar em uma casa que
se desconfie estar possessa de espíritos malignos, ou finalmente, para tudo que
diz respeito a moléstias sobrenaturais.
Nesta oração diz-se muitas vezes — “Eu, Cipriano, servo de Deus, desligo
tudo quanto tenho ligado.” — Mas o religioso não deve pronunciar o nome do
santo, e só falar em seu nome, dizendo: — “Eu desligo tudo quanto está
ligado.” Fala-se no nome do santo porque neste livrinho só vai a vida de São
Cipriano tal qual no santo livro escrito por ele mesmo, e o leitor não me
censurará por isso.
ORAÇÃO
Eu, Cipriano, servo de Deus a quem amo de todo o meu coração, corpo e
alma, e pesa-me por vos não amar desde o dia em que me destes o ser. Porém,
vós, meu Deus e meu Senhor, sempre vos lembrastes, um dia, deste vosso servo
Cipriano.
Agradeço-vos, meu Deus e meu Senhor, de todo o meu coração, os
benefícios que de vós estou recebendo, pois agora, ó Deus das alturas, dai-me
força e fé para que eu possa desligar tudo quanto tenho ligado para o que
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invocarei sempre o vosso santíssimo nome. Em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Amém.
Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém. É certo,
Nosso Deus, que agora sou vosso servo Cipriano, agora dizendo-vos: Deus forte
e poderoso, que morais no grande cume que é o Céu onde existe o Deus forte e
santo, louvado sejais para sempre.
Vós que vistes as malícias deste vosso servo Cipriano! E tais malícias pelas
quais eu fui metido debaixo do poder do diabo! Mas eu não conhecia o vosso
nome, ligava as mulheres, ligava as nuvens do céu, ligava as águas do mar para
que os pescadores não pudessem navegar para não pescarem o peixe para
sustento dos homens! Pois eu pelas minhas malícias, minhas grandes maldades,
ligava as mulheres prenhes para que não pudessem parir, e todas estas coisas
eu fazia em nome do demônio. Agora, meu Deus e meu Senhor, conheço o
vosso nome e o invoco e torno a invocar para que sejam desfeitas e desligadas
as bruxarias e feitiçarias da máquina ou do corpo desta criatura (fulano). Pois
vos chamo, ó Deus poderoso, para que rompais todos os ligamentos dos
homens e mulheres. Caia a chuva sobre a face da Terra para que de seu fruto
as mulheres tenham seus filhos; livre de qualquer ligamento que lhe tenha feito,
desligue o mar para que os pescadores possam pescar. Livre de qualquer perigo, desligue tudo quanto está ligado nesta criatura do Senhor; seja destacada,
desligada de qualquer forma que o esteja: eu a desligo, desalfineto, rasgo e
desfaço tudo, monecro ou monecra que esteja em algum poço ou levada, para
secar esta criatura (fulana), pois todo o maldito diaba e tudo seja livre do mal e
de todos os males ou malfeitos feitiços, encantamentos ou superstições, artes
diabólicas. O Senhor tudo destruiu e aniquilou o Deus dos altos Céus seja
glorificado no Céu e na Terra, assim como por Emanuel, que é o nome do Deus
poderoso. Assim como a pedra seca se abriu e lançou água de que beberam os
filhos de Israel, assim o Senhor muito poderoso com a mão cheia de graça, livrai
este vosso servo (fulano) de todos os malefícios, feitiços, ligamentos e encantos
em parte e em tudo que seja feito pelo diabo ou seus servos, e assim que tiver
esta oração sobre si e a trouxer consigo ou tiver em casa, seja com ela diante do
paraíso terreal do qual saíram quatro rios, cinquenta e seis Tigres e Eufrates,
pelos quais mandastes deitar água a todo o mundo pelos quais vos suplico.
Senhor meu Jesus Cristo Filho de Maria Santíssima, a quem entristecer ou
maltratar pelo maldito maligno espírito, nenhum encantamento nem maus
feitos não façam nem movam coisa alguma má contra este vosso servo (fulano),
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mas todas as coisas aqui mencionadas sejam obtidas e anuladas para o qual eu
invoco as setenta e duas línguas que estão repartidas por todo o mundo e
quaisquer dos seus contrários sejam aniquiladas as suas pesquisas, pelos anjos
seja absoluto este vosso servo (fulano) com toda a sua casa e coisas que nela
estão, sejam todos livres de todos os malefícios e feitiços pelo nome de Deus
Padre que nasceu sobre Jerusalém, por todos os mais anjos e santos e por todos
os que servem diante do paraíso ou na presença do alto Deus Padre TodoPoderoso, para que o maldito diabo não tenha poder de empecer a pessoa
alguma. Qualquer pessoa que esta oração trouxer consigo ou lhe for lida ou
onde estiver algum sinal do diabo de dia ou de noite por Deus, Jacques e Jacob,
inimigo maldito seja expulso para fora: invoco a comunhão dos santos
Apóstolos, de Nosso Senhor Jesus Cristo, São Paulo, pelas orações desreligiosas,
pela limpeza e formosura de Eva, pelo sacrifício de Abel, por Deus unido a
Jesus, seu eterno Pai, pela castidade dos fiéis, pela bondade deles pela fé em
Abraão pela obediência de Nossa Senhora quando Ela livrou a Deus, pela
oração de Madalena, pela paciência de Moisés, sirva a oração de São José para
desfazer os encantamentos. Santos e Anjos valei-me; pelo sacrifício de Jonas,
pelas lágrimas de Jeremias, pela oração de Zacarias, pela profecia por aqueles
que não dormem de noite e estão sonhando com Deus Nosso Senhor Jesus
Cristo, pelo profeta Daniel, pelas palavras dos Evangelistas, pela coroa que deu
a Moisés em língua de fogo, pelos sermões que fizeram os Apóstolos, pelo
nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo pelo Seu santo batismo, pela voz que
foi ouvida do Padre Eterno, dizendo: “Este é meu filho escolhido e meu amado,
deve-me muito apreço porque toda a gente o teme e porque faz abrandar o mar
e faz dar frutos à terra”, pelos milagres dos anjos que juntos a Ele estão, pelas
virtudes dos Apóstolos, pela vinda do Espírito Santo que baixou sobre eles,
pelas virtudes e nomes que nesta oração estão pelo louvor de Deus que fez
todas as coisas pelo Pai , pelo Filho pelo Espírito Santo , (fulano), se te está
feita alguma feitiçaria nos cabelos da cabeça, roupa do corpo, ou da cama, ou no
calçado ou em algodão, seda, linha ou lã, ou em cabelos de cristãos, ou de
mouro ou de hereges ou em ossos de criatura humana, de aves ou de outro
qualquer animal; ou em madeira, ou em livros, ou em sepulturas de mouros ou
em frente a ponte, ou altar, ou rio, ou em casa, ou em paredes de cal, ou em
campo, ou em lugares solitários, ou dentro de igrejas, ou repartimentos de rios,
em casa feita de cera ou mármore, ou em figuras feitas de fazenda ou em sapo
ou saramantiga, ou bicha ou em bicho do mar ou do rio ou do lamenho, ou em
comidas ou bebidas, ou em terra do pé esquerdo ou direito, ou em outra
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qualquer coisa que se possa fazer feitiços...
Todas estas coisas sejam desfeitas e desligadas deste servo (fulano) do
Senhor tanto as que eu, Cipriano, tenha feito, como as que têm feito essas
bruxas servas do demônio; isto tudo seja tornado ao seu próprio ser que dantes
tinha, ou em sua própria figura, ou em que Deus o criou.
Santo Agostinho e todos os santos e santas, por santos nomes, que façam
que todas as criaturas sejam livres do mal do demônio. Amém.
PRIMEIRA ESCONJURAÇÃO
Esta esconjuração deve ser feita pelo religioso com todo o respeito e fé, e
quando veja que o enfermo está aflito e o demônio ou mau espírito não quer
sair, deve-lhe tornar a ler o preceito que está no capítulo IV, no fim da ladainha,
ou a que está em latim.
“Eu, Cipriano, digo em (fulano), da parte de Deus Nosso Senhor Jesus
Cristo, absolvo o corpo de (fulano), de todos os maus feitiços, encantos,
encantos, empates que fazem e requerem homens ou mulheres em nome de
Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de Abraão, Deus muito grande e
poderoso! glorificado seja, para sempre sejam em seu Santíssimo Nome
destruídos, desfeitos, desligados, reduzidos ao nada, todos os males de que
padece este vosso servo (fulano); venha Deus com seus bons auxílios por amor
de misericórdia que tais homens ou mulheres que são causadores destes males
que sejam já tocados no coração para que não continuem com esta maldita vida!
Sejam comigo os anjos do Céu, principalmente São Miguel, São Gabriel,
São Rafael, e todos os santos, santas e anjos do Senhor, e os Apóstolos do
Senhor. São João Batista, São Pedro, Santo André, São Tiago, São Matias, São
Lucas, São Filipe, São Marcos, São Simão, São Anastácio, Santo Agostinho e por
todas as ordens dos santos Evangelistas, João, Lucas, Marcos, Mateus, e por
obra e graça do divino Espírito. Pelas setenta e duas línguas que estão
repartidas pelo mundo e por esta absolvição e pela voz que deu quando
chamou Lázaro do sepulcro, por todas estas virtudes seja tornado tudo ao seu
próprio ser que dantes tinha ou à sua própria saúde que gozava antes de ser
arrebatado pelos demônios, pois eu, em nome do Todo-Poderoso, mando que
tudo cesse do seu desconcerto sobrenatural.
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Ainda mais pela virtude daquelas santíssimas palavras porque Jesus
Cristo chamou: Adão, Adão, onde estás? Por estas santíssimas palavras
absolvamos, por esta virtude de quando Jesus Cristo disse a um enfermo:
“Levanta-te e vai para tua casa e não queiras mais pecar”, de cuja enfermidade
havia de estar três anos, pois absolvo-te. Deus que criou o Céu e a Terra e Ele
tenha compaixão de ti, criatura, (fulano), pelo profeta Daniel, pela santidade de
Israel, e por todos os santos e santas de Deus, absolvei este vosso servo ou serva
(fulano) e abençoai toda a sua casa e todas as mais coisas sejam livres do
poder dos demônios por Emanuel, por Deus seja com todos nós. Amém.
Pelo santíssimo nome de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo e todas as coisas
aqui nomeadas sejam desligadas, desenfeitiçadas, desalfinetadas de todos os
empates que sejam formados por parte do demônio ou seus companheiros, seja
tudo destruído: que o mando eu da parte do Onipotente, para que já, sem
apelação, sejam desligados e se desliguem todos os maus feitiços e ligamentos e
toda a má ventura por Cristo Senhor Nosso. Amém.
SEGUNDA ESCONJURAÇÃO
Esconjuro-vos, demônios excomungados, ou maus espíritos batizados, se
com os laços maus, feitiços, encantamentos do diabo, da inveja, ou seja, feita em
ouro, ou prata ou chumbo ou em árvores solitárias seja tudo destruído e
desapegado e não prenda coisa ao corpo de (fulano) ou acaso, pois daqui em
diante, se o feitiço ou encantamento está em algum ídolo celeste ou terrestre,
seja tudo destruído da parte de Deus, pois todo o infernorium ou toda a
linguagem eu confio em Jesus Cristo, nome deleitável! Assim com Jesus Cristo
aparta e expulsa da Terra o demônio e todos os seus feitiços, assim por estes
deliciosíssimos nomes de Nosso Senhor Jesus Cristo fujam todos os demônios,
fantasmas e todos os espíritos malignos em companhia de Satanás e de seus
companheiros para as suas moradas, que são nos infernos e onde estarão
perpetuamente em companhia de todos os feiticeiros e feiticeiras que fizeram a
feitiçaria a esta criatura (fulano) ou nesta casa e a tudo quanto a mesma casa
encerra fica desfeito e anulado, esconjurado quebrado e abjurado debaixo do
poder da Santíssima Obediência pelo poder do Creio em Deus Padre e das Três
Pessoas da Santíssima Trindade e do Santíssimo Sacramento do Altar. Amém.
Com toda a santidade eu vos esconjuro e degredo, demônios malditos,
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espíritos malignos, rebeldes ao meu e vosso Criador.
Pois eu, vos ligo e torno a ligar e prendo e amarro às ondas do mar, e que
vos levem para as areias do mar coalhado, onde não canta galinha nem galo, ou
para o vosso destino, ou lugares que Deus Nosso Senhor Jesus Cristo vos
destinar.
Levanto, quebro, abjuro e esconjuro todos os requerimentos, empates,
preceitos e obrigas que fizestes a este corpo de (fulano). Desde já ficais citados,
notificados e obrigados, vós e os vossos companheiros para seguirdes o
caminho que Jesus vos destinar isto sem apelação nem agravo pelo poder de
Deus Nosso Senhor Jesus Cristo e de Maria Santíssima e do Espírito Santo e as
Três Pessoas da Santíssima Trindade, e que é um só Deus verdadeiro em quem
eu firmemente creio e por quem eu levanto pragas e raivas, vinganças e medos,
ódios e maus vistas; quebro e abjuro todos os requerimentos, embargos,
empates, preceitos e obrigas pelo poder do Santo Verbo Encarnado e pela
virtude de Maria Santíssima e de todos os santos e santas e anjos e querubins e
serafins, criados por obra e graça do Espírito Santo. Amém.
―――――
Quando o religioso acaba o que acima fica escrito, o demônio grita e diz:
— “Eu não sou Satanás, mas sim uma alma perdida; porém, ainda tenho
salvação!”
O religioso pergunta-lhe: “Queres que ore por ti?” Responde a alma: “Sim,
quero.” Após esta resposta ponham-se todos de joelhos e digam a Oração pelos
bons espíritos que neste livro vai mencionada, pois que muitas vezes sucede
estar-se a esconjurar uma alma que precisa de orações e não de esconjurações.
Estude bem o leitor nas instruções do capítulo 1 para que não cometa um
absurdo dos que acabo de mencionar: pois este serviço não é uma brincadeira,
mas sim uma obra tanto para Deus como para os bons espíritos.
TERCEIRA ESCONJURAÇÃO
Eis a cruz do Senhor; fugi, fugi, ausentai-vos inimigos da natureza
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humana.
Eu vos esconjuro em nome de Jesus, Maria, José, Jesus de Nazaré, Rei dos
Judeus. Eis aqui a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fugi, partes inimigas,
venceu o leão da tribo de Judá e a raça de David.
Aleluia, Aleluia, Aleluia, exaltado seja o Senhor, nos abençoe, nos guarde e
nos mostre a sua divina face, se vire para nós com o seu divino rosto e se
compadeça de nós. O Rei David veio em paz, assim como Jesus se fez homem e
habitou entre nós e nasceu de Santa Maria Virgem pela sua bendita
misericórdia.
Santos Apóstolos, bem-aventurados do Senhor, rogai ao Senhor que me
valha a mim Cipriano, para que eu possa destruir tudo quanto tenho feito.
São João, São Mateus, São Marcos e São Lucas, eu vos rogo que vos
digneis livrar-nos de todos os acontecimentos dos demônios.
Tudo esperamos de quem vive e reina com o Padre e Espírito Santo, por
todos os séculos dos séculos. Amém.
A bênção de Deus Onipotente, Padre, Filho e Espírito Santo, desça sobre
nós e nos abençoe continuamente.
Jesus, Jesus, a vossa virtude e Paixão, o sinal da cruz, a inteireza da BemAventurada Maria Virgem, e dos santos anjos, Apóstolos, mártires, confessores
e das virgens, pois o Senhor seja contigo para que te defenda e esteja dentro de
ti para que te conserve e te conduza e acompanhe e guarde e esteja sobre ti para
que te abençoe, o qual vive e reina em uma perfeita unidade com o Padre e o
Espírito pelos séculos dos séculos. Amém.
A bênção de Deus Onipotente, Padre, Filho e Espírito Santo, desça sobre
nós e permaneça continuamente.
Virgem Santíssima Nossa Senhora do Amparo, eu o maior dos pecadores,
vos peço que rogueis a vosso amado Filho que quebre todas as forças aos
demônios para que jamais possam atormentar esta criatura.
Dou fim a esta santa oração e darão fim às moléstias nesta casa pela
bichação dos espíritos malignos.
FIM
DA
ORAÇÃO
DE
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SÃO CIPRIANO
ORAÇÃO AO SENHOR, OU LOUVORES POR
TER LIVRADO O ENFERMO DO PODER DE
SATANÁS OU DE SEUS ALIADOS A QUAL SE
DEVE REZAR DE JOELHOS E COM DEVOÇÃO
Senhor
meu
Jesus
Cristo,
dou-vos
infinitas
graças,
pois,
pelos
merecimentos de vossa paixão santíssima, de vosso precioso sangue, e por
vossa bondade infinita, vos dignastes livrar-me do demônio, ou feitiços e de
seus malefícios; e assim vos peço e suplico agora, vos digneis de preservar-me e
guardar-me para que o demônio daqui por diante não possa jamais molestarme de modo algum: porque eu pretendo e quero viver e morrer debaixo da
proteção do Vosso santíssimo nome. Amém.
P.N. e A.M.
AVISO AO RELIGIOSO
Quando no fim de todas estas orações o enfermo não fica de todo livre, o
religioso, no fim de três dias, deve ir perguntar pelas melhoras do enfermo:
quando veja que ainda está possesso do demônio, e para saber, deve tornar-lhe
a ler os sinais que estão em latim, certo de haver malefícios. Então neste caso é
uma morada aberta, e deve logo tratar de fechar da forma que se segue, depois
de lhe tornar a ler a oração de São Cipriano.
MODO COMO SE HÁ DE FECHAR A MORADA
Tome-se uma chave de aço, em ponto pequeno e deite-se-lhe a bênção da
forma seguinte:
“O Senhor lance sobre ti a sua santíssima bênção e o seu santíssimo poder
para que te de a virtude eficaz, para que toda a morada ou porta por onde entra
Satanás por ti seja fechada, jamais o demônio ou seus aliados por ela possam
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entrar, pois, abençoada seja em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo.
Amém. Jesus seja contigo.”
(Deita-se água benta em cruz sobre a chave)
P
ALAVRA
S
ANTÍSSIMA QUE O RELIGIOSO DEVE
DIZER QUANDO ESTIVER A FECHAR A MORADA
(A chave deve estar sobre o peito do enfermo, como se estivessem a fechar uma porta)
Oh Deus Onipotente, que do seio do eterno Pai viestes ao mundo para
salvação dos homens dignai-vos, pois, Senhor, de por preceito ao demônio ou
demônios, para que eles não tenham mais o poder e atrevimento de entrar nesta
morada. Seja fechada a sua porta, assim como Pedro fecha as portas do céu às
almas que lá querem entrar sem que primeiro expiem as suas faltas.
(O religioso finge que está a fechar uma porta no peito do enfermo)
Dignai-vos, Senhor, permitir que Pedro venha do Céu à Terra fechar a
morada onde os malditos demônios querem entrar quando muito bem lhes
parece.
Pois eu (fulano), em vosso santíssimo nome, ponho preceito a esses
espíritos do mal, para que desde hoje para o futuro não possam mais fazer
morada no corpo de (fulano), que lhe será fechada esta porta perpetuamente,
assim como lhe é fechada a do reino dos espíritos puros. Amém.
No fim da oração que fica dita, escrevam em um papel o nome de Satanás
e queimem-no, dizendo: “Vai-te, Satanás, desaparece assim como o fumo da
chaminé.”
No fim de tudo que fica dito, se o enfermo ainda não estiver curado,
tornem a dizer-lhe a oração de São Cipriano.
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52
CAPÍTULO V
SOBRE OS FANTASMAS QUE APARECEM NAS
ENCRUZILHADAS, OU ALMAS
DO
M U N D OE
S P I R I T U A L , Q U E P O R M I S S Ã O D E D E U S V E M AE
S T E M U N D O C O R P O R A L B U S C A R O R A Ç Õ E SP
A R A S E R E M P U R I F I C A D O S D O S E R R O S Q U EC
O M E T E R A M N E S T E M U N D O C O N T R A D E U SN
O S S O S E N H O R E S Ã O M A N D A D O S P A R AM
O R T I F I C A R E M A S C R I A T U R A S E A P A R E C E R -L H
E S E M F A N T A S M A S P A R A V E R S E L H E SV A
L E M C O M O R A Ç Õ E S , E S C O N J U R A M - N A S EB U S
CAM
MALDIÇÕES:
UM
ERRO
D AH U M
A N I D A D E : V E J A M E E S T U D E M B E M O Q U ES E S E
G U E P A R A V A L E R E M A E S S E S I N F E L I Z E SE S P Í R
ITOS
O que são fantasmas?
São visões que aparecem a certos indivíduos fracos de espírito e crentes de
que vêm a este mundo almas daqueles que já deixaram de existir. Pois os
fantasmas aparecem só aos crentes nos seres espirituais, porque nisso nada
aproveitam ou antes pelo contrário, recebem maldições.
Ah! que será daquele que assim obrar, infeliz neste mundo, que não tratou
senão de escarnecer dos servos do Senhor, que vêm a este mundo buscar alívio
e encontram penas? Dobram-se-lhes os tormentos!
Ah! que será de vós no dia em que fordes sentenciado? Se não tiverdes
bons amigos que tenham pedido por vós ao Juiz Supremo, se não tiverdes
amigos, sereis punidos com todo o rigor da justiça.
Pois cultivai bons amigos para que naquele dia tremendo haja bons
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amigos a rogarem ao Criador por vós; fazei como faz o lavrador que, para
colher no São Miguel muito fruto, deita na terra bons elementos.
Notai bem, irmãos, estas palavras que não são obra do bico da pena, mas
sim inspiradas do fundo do coração! Quando vos aparecer uma visão, não a
esconjureis, porque então ela vos amaldiçoará, vos empecerá em todos os
vossos negócios, e tudo vos correrá torto; porém, quando sentirdes uma visão,
recorrei à oração que neste livro vai mencionada com o título — Oração pelos
bons espíritos — porque logo aliviareis aquele mendigo, que busca esmolas pelas
pessoas caritativas.
Olhai, irmãos; o diabo poucas vezes aparece em fantasma, porque os
demônios eram anjos e não têm corpos, para se revestir; por isso vos recomendo
que, quando virdes um fantasma em figura de animal, então é certo ser
demônio, e deveis esconjurá-lo e fazer-lhe uma cruz. Mas se o fantasma for em
figura humana, não é o demônio mas sim uma alma que vai neste livrinho,
porque não perdeis nada com isso, pois que aquela alma, que vós livrastes, é
convosco sempre que a chamardes. Não vos fieis em mim; fazei a experiência e
depois vereis.
Orai, orai por esses desgraçados espíritos e invocai-os em todos os vossos
negócios e em tudo que vos aprouver, que sois bem sucedidos; eu o juro.
Feliz da criatura que é perseguida pelos espíritos, porque é certo essa
pessoa ser boa criatura, que os espíritos a perseguem para que ela ore ao Senhor
por eles, que é digna de ser ouvida do Criador. É por esta razão que uns são
mais perseguidos de fantasmas. Ora, há muitos espíritos que não adotam o
sistema de aparecer em fantasmas, mas aparecem nas casas dos seus parentes,
fazendo de noite barulho, arrastando cadeiras, mesas e tudo quanto há na casa;
um dia matam- um porco, outro dia uma vaca, e assim corre tudo para trás
naquela casa por falta de inteligência dos habitantes, porque se recorressem
logo às orações, eram livres do espírito e cometeriam uma obra de caridade, e
no último dia da sua vida lhe seriam abertas as portas do Céu. Notai, irmãos,
estas palavras e consagrai-as no vosso coração, que eu pretendo que por causa
desta obra se salvem muitas almas, e não pretendo que se cometam absurdos.
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ORAÇÕES PARA PEDIR A DEUS PELOS
BONS ESPÍRITOS QUE VEM A ESTE MUNDO
BUSCAR ORAÇÕES PARA SEREM PURIFICADOS
DO MAL QUE FIZERAM NESTE MUNDO, E
RESTITUIR ALGUMA DÍVIDA OU ROUBO
“Sai, alma cristã, deste mundo em nome de Deus Padre Todo-Poderoso,
que te criou; em nome de Jesus, Espírito Filho de Deus vivo, que por ti padeceu;
em nome do Espírito Santo, que copiosamente se te comunicou. Aparta-te deste
corpo ou lugar em que estás, porque o Senhor te recebe no seu reino; Jesus,
ouve a minha oração e se meu amparo como és amparo dos santos, anjos e
arcanjos; dos tronos e dominações; dos querubins e serafins; dos Profetas, dos
santos Apóstolos e dos Evangelistas; dos Santos Mártires, Confessores, Monges,
Religiosos e Eremitas; das Santas Virgens e esposas de Jesus Cristo e de todos os
Santos e Santas de Deus, o qual se digne dar-te lugar de descanso, e goze da paz
eterna na cidade santa da celestial Sião, onde o louves por todos os séculos.
Amém.”
OREMOS
Deus misericordioso, Deus clemente, Deus que segundo a grandeza de
vossa infinita misericórdia perdoais os pecados deste espírito que tem dor de
havê-los cometido, e lhe dais liberal absolvição das culpas e ofensas passadas;
ponde os olhos da vossa piedade neste vosso servo que anda neste mundo a
penar; abri-lhe, Senhor, as portas do Céu, ouvi-o propício e concedei-lhe o
perdão de todos os seus pecados, pois de todo o coração vo-lo pede por meio de
sua humilde confissão. Renovai e reparti, ó Pai piedosíssimo, as quebras e
ruínas desta alma, e os pecados que fez e contraiu, ou por sua fraqueza, ou pela
astúcia e engano do demônio. Admiti-o e incorporai-o no corpo de vossa Igreja
Triunfante. Como membro vivo dela, remida com o sangue precioso de vosso
Filho, compadecei-vos, Senhor, dos seus gemidos; que as suas lágrimas e os
seus soluços vos movam; que as suas súplicas vos enterneçam. Amparai e
socorrei a quem não tem posto sua esperança senão na vossa 'misericórdia, e
admiti-o em vossa amizade e graça, pelo amor que tendes a Jesus Cristo, vosso
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amado Filho, que convosco vive e reina por todos os séculos dos séculos.
Amém.
Oh alma, que andas a espiar tuas faltas, te encomendo a Deus TodoPoderoso, irmão meu caríssimo, a quem peço te ampare e favoreça como a
criatura sua, para que, acabando de pagar com a morte a punição desta vida,
chegues a ver o Senhor todo soberano artífice que do pó da terra te formou;
quando tua alma sair do corpo, te saia a receber o exercício luzido dos santos
anjos para acompanhar-te, defender-te e festejar-te; o glorioso colégio dos
santos Apóstolos te favoreça, sendo juízes defensores da tua causa; as
triunfadoras legiões dos invencíveis mártires te amparem, a nobilíssima
companhia dos ilustres confessores te recolha no meio, e com a suave fragrância
dos lírios e açucenas que trazem nas mãos, símbolos da fragrante suavidade de
suas virtudes, te confortem; os coros das santas virgens, e contentes, te recebam;
toda aquela bem-aventurada companhia celestial e cortesãos com estreitos
abraços de verdadeira amizade te deem entrada no seio glorioso dos Patriarcas;
a face do teu Redentor Jesus Cristo se te represente piedosa e aprazível e Ele te
de lugar entre os que para sempre assistem em sua presença. Nunca chegues a
experimentar o horror das trevas eternas, nem os estalos de suas chamas, nem
as penas que atormentam os condenados. Renda-se o maldito Satanás com
todos os seus aliados, e ao passardes por diante deles, acompanhado de anjos,
trema o miserável, e retire-se temerosa às espessas trevas de sua escura morada.
Vai, alma; acabe-se o teu martírio, que já não pertences a este mundo
corporal, mas sim ao celestial! Livra-te se Deus é em teu favor e desbarate todos
os inimigos que o aborrecem; fujam da sua presença; desfaçam-se, como o fumo
no ar e como a cera no fogo, os rebeldes e malditos demônios; e os justos alegres
e contentes contigo se assentem seguramente à mesa de seu Deus.
Confundam-se e retirem-se afrontados os exércitos infernais, e os
ministros de Satanás não se atrevam a impedir o teu caminho para o Céu. Livrete Cristo do inferno, que por ti crucificado, livre-te desses tormentos em que
andas neste mundo a atormentares e a seres atormentado.
Cristo, que por ti deu a vida, ponha-te Cristo, Filho de Deus vivo, entre os
prados e florestas do Paraíso, que nunca se secam nem se murcham e como
verdadeiro pastor te reconheça pecados, e te assente à sua mão direita entre os
escolhidos e predestinados, faça-te tão ditoso que, assistindo sempre em sua
presença, conheças com bem-aventurados olhos a verdade manifesta da sua
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divindade, e em companhia dos cortesãos do Céu gozes da doçura da sua
eterna contemplação por todos os séculos. Amém.
ORAÇÃO ÚTIL PARA CURAR
TODAS AS MOLÉSTIAS AINDA QUE
SEJAM NATURAIS, A QUAL DEVE SER
LIDACOMMUITO RESPEITO EM JESUS
CRISTO, COM QUEM ESTAMOS FALANDO
(Faça-se o Sinal da Cruz)
Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo. Amém Jesus, Maria e
José.
Eu (fulano), como criatura de Deus, feito à sua semelhança e remido com o
seu sangue, ponho preceito aos teus padecimentos, assim como Jesus Cristo aos
enfermos da Terra Santa e aos paralíticos de Sidônia; pois assim eu (fulano) vos
peço, vosso servo (fulano), não o deixeis, Senhor, sofrer mais as tribulações da
vida! Lançai antes sobre este vosso servo a vossa santíssima bênção e eu
(fulano) direi com autorização do teu e meu Senhor que cessem os seus
padecimentos. Amabilíssimo Senhor Jesus, verdadeiro Deus, que do seio do
Eterno Pai Onipotente fostes mandado ao mundo para absolver os pecados,
absolvei, Senhor, os que esta miserável criatura tem cometido; vós, que fostes
mandado ao mundo para remir os aflitos, soltar os encarcerados, congregar
vagabundos, conduzir para sua pátria os peregrinos; pois eu (fulano) vos
suplico, Senhor, que conduzais este enfermo ao caminho da salvação e da saúde, porque ele está verdadeiramente arrependido, consolai, consolai, Senhor, os
oprimidos e atribulados; dignai-vos livrar este servo desta moléstia de que está
padecendo, da aflição e atribulação em que o vejo, porque vós recebestes de
Deus Padre Todo-Poderoso o gênero humano para o amparardes; e feito
homem prodigiosamente, nos comprastes o Paraíso com o vosso precioso
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sangue, estabelecendo uma inteira paz entre os Anjos e os homens. Assim, pois,
dignai-vos, Senhor, estabelecer uma paz entre meus humores e a alma; para que
(fulano) e todos nós vivamos com alegria; livres de moléstias, tanto do corpo
como da alma. Sim, meu Deus, e meu Senhor, resplandeça, pois, a vossa paz a
vossa misericórdia sobre mim e todos nós; assim como praticastes com Isaías
tirando-lhe toda a aversão que tinha contra seu irmão Jacó, estendei, Senhor
Jesus Cristo, sobre (fulano), criatura vossa, o vosso braço e a vossa graça, e
dignai-vos livrá-lo de todos os que lhe têm ódio como livrastes Abraão das
mãos dos Caldeus; seu filho Isaac, da consciência do sacrifício; José, da tirania
de seus irmãos; Noé, do dilúvio universal; Ló, do incêndio de Sodoma; Moisés e
Aarão, vossos servos, e ao povo de Israel, do poder do Faraó e da escravidão do
Egito; David, das mãos de Saul e do gigante Golias; Susana do crime e
testemunho falso; Judite, do soberbo e impuro Holofernes; Daniel, da cova g
dos leões; os três mancebos Sidrá, Misach e Abdemago da fornalha do fogo
ardente; Jonas, do ventre da baleia; a filha da Cananéia, da vexação do
demônio; Adão, da pena do inferno; Pedro, das ondas do mar e Paulo, das
prisões dos cárceres; assim, pois, amabilíssimo Senhor Jesus Cristo Filho de
Deus Vivo, atendei também a mim (fulano) criatura vossa e vinde com presteza
em meu socorro, pela vossa Encarnação e nascimento; pela fome, pela sede,
pelo frio, pelo calor, pelos trabalhos e aflições, pelas salivas e bofetadas pelos
açoites e coroa de espinhos; pelos cravos, fel e vinagre, e pela cruel morte que
por nós padecestes; pela lança que traspassou vosso peito e pelas sete palavras
que na cruz dissestes, em primeiro lugar a Deus Padre Onipotente: “Perdoailhes, Senhor, porque não sabem o que fazem.” Depois ao bom ladrão, que
estava convosco crucificado: “Digo-te na verdade que hoje estarás comigo no
Paraíso”. Depois ao Pai: “Hell, Heli, lamma samactani?” Que vem a dizer: “Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” Depois à vossa mãe: “Mulher, eis
aqui o teu Filho.” Depois ao discípulo: “Eis aqui a tua mãe” (mostrando que
cuidáveis de vossos amigos). Depois dissestes: “Tenho sede”, porque desejáveis
a nossa salvação e das almas santas que estavam no Limbo.
Dissestes depois a vosso Pai: “Nas vossas mãos encomendo o meu
espírito.” E por último exclamastes, dizendo: “Está tudo consumado.” Porque
estavam concluídos todos os vossos trabalhos e dores. Dignai-vos, pois, Senhor,
que desde esta hora por diante jamais esta criatura (fulano) sofra desta moléstia,
que tanto a mortifica, pois vos rogo por todas estas coisas, e pela vossa descida
ao Limbo, pela vossa ressurreição gloriosa, pelas frequentes consolações que
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destes aos vossos discípulos, pela vossa admirável ascensão, pela vinda do
espírito, pelo tremendo dia do juízo como também por todos os benefícios que
tenho recebido da vossa bondade (porque vós me criastes do nada, e vós me
concedestes a vossa santa fé); pois por tudo isto, meu Redentor, meu Senhor Jesus Cristo, humildemente vos peço que lanceis a Vossa Bênção sobre esta
criatura enferma.
Sim, meu Deus e meu Senhor, compadecei-vos dela. Oh Deus de Abraão,
ó Deus de Isaac e Deus de Jacó, compadecei-vos desta criatura vossa (fulana)
mandai para seu socorro o vosso São Miguel Arcanjo, que lhe de saúde e a
defenda desta miséria da carne e do espírito. E vós, Miguel Santo, Santo
Arcanjo do Cristo, defendei e curai esta serva ou servo do Senhor, que vós
merecestes do Senhor ser bem-aventurado e livrar as criaturas de todo o perigo.
Eis aqui a cruz do Senhor, que vence e reina.
Salvador do mundo, salvai-o; Salvador do mundo, ajudai-me vós que pelo
sangue e pela vossa cruz me remistes, salvai-me e curai-nos de todas as
moléstias tanto do corpo como da alma; eu (fulano) vos peço tudo isto por
quantos milagres e passadas destes sobre a Terra enquanto homem.
(Digam de joelhos o Credo e uma Salve-Rainha a Nossa Senhora e deitem água
benta na moléstia do enfermo)
AVISO
Esta oração pode dizer-se a quem padecer de qualquer moléstia: seja pelo
padecimento que for, principalmente erisipela, fogo, bichas ou bicho:
finalmente para todas as misérias da vida.
N.B.: Quando um religioso entender que qualquer moléstia não é feitiço
nem diabrura, é bom também ler a oração de São Cipriano, porque assim o
enfermo fica mais satisfeito e a fé, de que fica possuído, ajuda muito a cura.
Assim o diz São Cipriano no seu livro.
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CAPÍTULO VI
EXORCISMO PARA EXPULSAR
O DIABO DO CORPO
Este exorcismo foi encontrado em um livro muito antigo, escrito por Frei
Bento do Rosário, religioso descalço da Ordem de Santo Agostinho.
“Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo. Em nome de São
Bartolomeu, de Santo Agostinho, de São Caetano, de Santo André Avelino, eu
te arrenego, anjo mau, que pretendes introduzir-te em mim e perverter-me. Pelo
poder da cruz de Cristo, pelo poder das suas divinas chagas, eu te esconjuro,
maldito, para que não possas tentar a minha alma sossegada. Amém.
(Deve ser dita três vezes, e outras fazer-se o sinal-da-cruz sobre o peito)
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CAPÍTULO VII
DESE NCAN TO D OS TE SO U RO S
TRIÂNGULO
Todas as pessoas que assistirem ao desencanto do tesouro, metam-se
dentro de um triângulo, como representa a gravura acima, que deve ser riscado
no chão, pois que, estando dentro, não lhe acontece mal algum.
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ORAÇÃO E ESCONJURAÇÃO PARA
SE DESENCANTAREM OS TESOUROS
Rezem primeiro a Ladainha dos Santos em voz alta. Podendo ser rezada
de joelhos melhor será.
P RIMEIRAE SCONJURAÇÃO
DESLIGAMENTO DA
E
TERRA
“Terra tudo darás e tudo comerás” — disse o Senhor meu Deus.
LADAINHA DOS SANTOS
Kirie eleison
Christe eleison.
Sancta Maria. Ora pro nobis.
Sancta Dei Genitrix. Ora pro nobis.
Sancta Virgo Virginum. Ora pro nobis.
Sancte Michael. Ora pro nobis.
Sancte Gabriel. Ora pro nobis.
Sancte Raphael. Ora pro nobis.
Omnes Sancte Angeli et Archangeli. Ora pro nobis.
Omnes Sancti Beatorum Spiritum Ordins. Ora pro nobis.
Sancte Joanne Baptista. Ora pro nobis.
Omnes Sancti Patriarcha et Prophatae. Ora pro nobis.
Sancte Jacob. Ora pro nobis.
Sancte Paule. Ora pro nobis.
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Sancte Andrea. Ora pro nobis.
Sancte Jacob. Ora pro nobis.
Sancte Joannes. Ora pro nobis.
Sancte Thomaz. Ora pro nobis.
Sancte Philippe. Ora pro nobis.
Sancte Bartholomae. Ora pro nobis.
Sancte Simon. Ora pro nobis.
Sancte Thadeu. Ora pro nobis.
Sancte Mathie. Ora pro nobis.
Sancte Barnabé. Ora pro nobis.
Sancte Lucas. Ora pro nobis.
Sancte Marce. Ora pro nobis.
Sancte Fabiane ea Sebastiane. Ora pro nobis.
Omnes Sancti Discipuli Domini. Ora pro nobis.
Omnes Santi Innocentes. Ora pro nobis.
Sancte Stephane. Ora pro nobis.
Sancte Laurente. Ora pro nobis.
Sancte Vicenti. Ora pro nobis.
Sancte Fabiane ea Sebastiane. Ora pro nobis.
Sancti Joannes de Paule. Ora pro nobis.
Sancte Cosme et Damione. Ora pro nobis.
Sancti Gervasi et Protosi. Ora pro nobis.
Omnes Sylvester. Ora pro nobis.
Sancte Gregori. Ora pro nobis.
Sancte Ambrose. Ora pro nobis.
Sancte Augustine.Ora pro nobis.
Sancte Hieronyme. Ora pro nobis.
Sancte Martine. Ora pro nobis.
Sancte Nicolae. Ora pro nobis.
Omnes Sancti Pontif ices et Confessores. Ora pro nobis.
Omnes Sancti Doctores. Ora pro nobis.
Sancte Antoni. Ora pro nobis.
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Sancte Benedicte. Ora pro nobis.
Sancte Bernarde. Ora pro nobis.
Sancte Pater Dominice. Ora pro nobis.
Sancte Pater Franciscae. Ora pro nobis.
Omnes Sancti Monachi et Eremtiae. Ora pro nobis.
Sancta Maria Magdalena. Ora pro nobis.
Sancta Agatha. Ora pro nobis.
Sancta Lucia. Ora pro nobis.
Sancta Agnes. Ora pro nobis.
Sancta Ceciliae. Ora pro nobis.
Sancta Catarina. Ora pro nobis.
Sancta Anastacia. Ora pro nobis.
Omnes Sanctae Virgines et Viduae. Ora pro nobis.
Omnes Sancti et Sactae Dei, Intendicedite. Ora pro nobis.
Propitius esto. Parce. Domine.
Ab omni paccato. Libera nos.
Ab ira tua. Libera nos.
Ab ira tua. Libera nos.
A subitanea et improvisa morte. Libera nos.
Ab insidis diaboli. Libera nos.
Ab ira, odio, et omni mala voluntate. Libera nos.
A spiritu fornications. Libera nos.
A morte perpetua. Libera nos.
Per Mysterium Sanctae Incarnations tuae. Libera nos
Per adventum tuum. Libera nos.
Per Nativitatem tuum. Libera nos.
Per Baptismun et sanctum jejunium tuum Libera nos.
Per crucem et Passionem tuam. Libera nos.
Per mortem et supulturam tuam. Libera nos.
Per sanctam Ressurrectionem tuam. Libera nos.
Per admirabilem Ascentionem tuam. Libera nos.
Per adventum spiritus sancti Paraclite. Libera nos.
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In die juditil. Libera nos.
Peccatores. Te rogamus audi nos.
Ut ei indulgeas. Te rogamus audi nos.
Ut hanc creaturam tuam a crucia tibus doemonum liberare digneris. Te rogamus.
Ut hanc creaturam tuam pretioso tuo sanguine redemptam ab infestatione
doemonum liberare digneris. Te rogamus.
Ut hanc creaturam tuam a protestate roemonum liberare benedicere, et conservare
digeris. Te rogamus.
Fili Dei. Te rogamus audi nos.
Christe audi nos.
Christe exaudi nos.
Christe exaudi nos.
Anthiphona — Ne reminescaris, Domine, delicat nostra, vel parentum
nostrorum, negue cindictam sumas de peccatis nostris proper nomem tuum, Pater
noster, etc. V. Et ne nos indicas in tentacionem. R. Sed. libera nos a maio. Amém.
SEGUNDA ESCONJURAÇÃO
Ecce crucem Domine viest seu Radix do vielin nomine Jesu omne genus tutantur
cœlestrum infernarum it omnis Lingua Confititur quia dœmonus Jesus Christus in
gloria est Dei patri viest Deus ille crucem Domine te tribu Jubá Radix David fugite
partes adversa viribilium in nomine Jesu Omne genus tutantur cœlestum terrestrum
infernorum omnia Lingua Confititur quia Dominus Jesu Christus in gloria est Pater,
amen. O Senhor seja comigo e com todos nós. Amém.
Jesus, Maria, José em nome de Deus Padre, Deus Filho e Deus Espírito
Santo. Amém.
“Em virtude de Deus Padre Santo, três pessoas distintas e um só Deus
verdadeiro, por virtude da Virgem Maria e de todos os santos Apóstolos
Evangelistas, patriarcas, profetas mártires e confessores, por virtude de Santo
Ubalde Francisco, eu, criatura de Nosso Senhor Jesus Cristo, remido com o seu
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santíssimo sangue e feito a vossa semelhança, em vosso santíssimo nome
desencanto este tesouro que está diante de mim enterrado; eu te mando debaixo
do santo poder de obediência, que se abra já esta terra onde está depositado um
tesouro que os mouros aqui enterraram; eu, pela vista destas luzes, mando que
já me sejam entregues todos os tesouros que aqui estão debaixo desta terra em
poder de Lúcifer e seus companheiros, mandando já em nome de São Cipriano
que me sejam entregues debaixo do poder de Nosso Senhor Jesus Cristo, Jesus,
Jesus, Jesus, sede comigo, vinde em meu socorro. Jesus, Jesus, ouvi minha
oração, e cheguem a vossos ouvidos os rogos deste grande pecador. Jesus, valeime; Jesus, acudi-me! Jesus sede comigo Jesus, sem vós nada posso fazer, Jesus,
eu com o vosso santíssimo poder mando que já seja aberto este tesouro.
Mando em nome de todos os Santos, do Deus de Abraão, do Deus de Jacó
e do Deus de Isaac, e em virtude de todos, sejam desatadas e desligadas todas
as coisas deste mundo para que eu encontre o que procuro. Amem.”
Quem ler esta oração ou a fazer ler toda, lhe aparece Deus pelas portas da
misericórdia acompanhado pelo anjo Rafael e todos os mais santos e arranjos,
Principados e Virtudes dos céus; e as ordens de Deus os bem-aventurados São
João Batista, São Tomé, São Filipe, São Marcos, São Mateus, São Simão, São
Judas, São Martinho e todos os Santos que no Céu estão; todas as Ordens dos
mártires São Sebastião, São Damião, São Cosme, São Cipriano, sejam comigo
São Dionísio com seus companheiros por todas as ordens das Virgens mártires,
confessores de Deus e pela coroação do Rei David e pelos quatro evangelistas
João, Marcos, Mateus e Lucas, pelas quatro colunas do céu, que lhe não impede
nada, e pelas 72 línguas que estão repartidas pelo mundo, e por esta absolvição,
e pela que deu Nosso Senhor quando chamou Adão dizendo: “Onde estais?” e
por esta virtude e pela qual se levantou Adão quando lhe disse:
“Levanta-te e toma o hábito, vai-te daqui e não tornes mais a pecar”, e
daquela enfermidade 28 anos doente e paralítico salvo por Nosso Senhor que
todos os santos louvaram, porque todos recebiam caridosamente do seu fruto
pela mão de Jeremias Profeta e pela humanidade de José, e pela paciência de Jó,
e pela graça de Deus, de todas as coisas mais, e seja louvado Emanuel, por ser
Deus convosco e pelo santíssimo nome de Deus e de todas as coisas que estão
aqui nomeadas e são desatadas e desligadas deste para se ver, e aparte-se da má
ventura e de todos os mais males feitos pelos mouros ou pelo demônio; retirate, Satanás, daqui para fora, que te mando todo o poder que tenho, de quem é
mais do que tu.
68
“Vai já para as profundas do inferno! Abrase a terra já; Jesus, Jesus,
defendei-me destes fantasmas que me estão a rodear, para que eu possa
conseguir. Retira-te, Satanás, que estás vencido.
“Quebrei as tuas astúcias com o santo poder de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Retirai-vos, fantasmas inimigos da natureza humana; eu vos esconjuro em
nome do milagroso São Cipriano e pelo Santo Lenho da Cruz em que Nosso
Senhor Jesus Cristo foi crucificado; por esta mesma Cruz eu te mando: Retira-te,
Satanás, fantasma inimigo de Deus e dos homens.”
69
70
PARTE III
ENGUERIMANÇOS DE
SÃO CIPRIANO OU OS
PRODÍGIOS DO DIABO
71
72
I
De um livro muito estimado em França, intitulado As Ciências Ocultas, por
Mr. Zalotte, extraímos a história que se vai ler:
Victor Siderol era lavrador na aldeia de Cort desviada cinco léguas de
Paris. Esse homem tinha grande inteligência, e entendendo que as terras de sua
aldeia não eram dignas de um arroteador tão instruído, começou por deixar
parte delas sem cultivo, resultando daí ter sempre diminuta colheita.
Os agricultores seus vizinhos, que reconheciam São Miguel aviltado,
faziam-lhe negaças e chamavam-lhe calanceiro, epíteto que, dia a dia, o
desgostava mais.
Uma tarde sentindo um grande mal-estar indizível, ao concluir uma
sementeira, soltou os bois, deixou o jugo atravessado em cima do timão do
arado e disse.
— Aqui te deixo para sempre, meu velho arado. Que te leve o diabo, assim
como todos os mais apetrechos de lavoura que tenho em casa.
Quando Siderol acabou de proferir essas imprecações, ouviu reboar pelo
espaço estas palavras, que lhe pareceram saída da entrada da terra:
— Tira-lhe o jugo, que eu não quero nada com a cruz.
O lavrador, tremendo de susto, colocou o jugo sobre o cachaço dos bois,
enxugou-os e fugiu para casa com os cabelos em pé, quase sem fala.
No dia seguinte, logo ao romper da aurora, levantou-se e indo ao alpendre
de sua casa viu que todos os utensílios da lavoura tinham desaparecido como
por encanto. Dirigiu-se então ao local onde deixara o arado, e nem sombra dele
apareceu.
Poucos dias depois vendeu a casa rústica e todas as suas terras. Terminado
isto, dirigiu-se a Paris, alugou um quarto de soalho para esconder o pouco
dinheiro que levava, encontrou entre duas traves um pequeno livro de
enguerimanços, de que já tinha ouvido falar muito na aldeia, mas que era
inteiramente desconhecido.
Eram os Enguerimanços de São Cipriano.
73
II
Neste livro surpreendente viu Siderol que se podia por em relações
estreitas e amigas com o Espírito Imundo.
— Este comércio oculto — disse Victor — nada tem de satisfatório para
um homem de bons sentimentos, mas também não deslustra a nobreza de
pessoa alguma, e por isso talvez eu faça a minha fortuna pactuando com
Lúcifer. O rei do Inferno deve ser meu amigo visto que tão liberalmente lhe dei
arado e a coleção de ferramentas.
Depois de estudar bem o livro desceu ao pátio da sua morada onde uma
velha criava galinhas que lhe produziam excelentes ovos frescos, lançou mão de
uma galinha preta, inteiramente própria para as esconjurações diabólicas,
levou- a pela porta afora, apesar de seus cacarejos desesperados, e marchou sem
demora ao lugar em que se cruzam os caminhos da revolta em Neuilly; porque
o diabo infesta singularmente as cruzes formadas pelos quatro caminhos.
Nesse sítio parou, riscou um círculo com uma vara de aveleira, em torno
de si, pôs a galinha no centro e à meia-noite em ponto pronunciou três palavras,
que não ensinarei neste lugar, porque bastante espíritos tentadores temos entre
nós, e não quero promover-vos já no princípio da história a fantasia de lhes
aumentardes o número.
Apenas pronunciadas as três palavras, começou a galinha a estrebuchar e
morreu cantando harmoniosamente os louvores de Deus.
Nestes somenos tremeu a terra, e, logo depois dessa convulsão, a lua, toda
manchada de sangue, desceu rapidamente, sobre a encruzilhada de Neuilly, e
apenas tornou a subir para o seu lugar a virtude das palavras mágicas lhe
vedava a entrada.
O corpulento Senhor, mais alto do que Siderol por toda a grandeza do
barrete de Sganarello, tinha grandes e revoltados chifres de carneiro sobre a
cabeça, um enorme rabo de macaco, que graciosamente movia por entre as
pernas, pés de bode e em cima de tudo isso uma cabeleira de bolsa e um vestido
de escarlate agaloado de ouro, porque é sempre nesse aparato que o diabo
costuma aparecer às criaturas.
Se alguma vez chamardes por ele, vereis, cheios de horror, a figura que
74
vos acabo de descrever.
Assim que o aldeão viu esse grande senhor, sentiu-se acometido de um
frio extraordinário, e ao certo nenhum homem, por mais afoito que se julgue,
terá coragem suficiente para encarar de face o Rei dos Avantesmas. Assim que o
grande senhor falou, aumentou-lhe mais o susto, pois que o diabo tem muito de
aterrador no metal da voz.
Logo que o grande senhor se calou, o aldeão ficou todo atordoado e sentiu
fortes embaraços para lhe responder, pois em virtude não tinha o âmbito
preparado para conversar com tão estranha figura.
Todavia, a pergunta dirigida a Siderol era tão simples como curta, e por
isso ninguém teria nada que lhe cortar.
— Que queres tu de mim?...
É isso que o demônio costuma perguntar aos que o obrigam a aparecer.
Siderol hesitou muito tempo antes de se resolver a pedir, porque tinha
muitas coisas na imaginação, que desejava possuir, e em tais circunstâncias
queria escolher um objeto que o fizesse venturoso, visto que é de regra que o
demônio só concede uma coisa de cada vez, criaturas que o chamam.
III
O francês tão depressa pendia para uma coisa como para outra. E não se
decidia. E o grande senhor esperava com ar submisso e reverente, que ele se
resolvesse finalmente e lhe dissesse o que pretendia.
O aldeão recordou-se afinal de que o “futuro” para ele tão rico, belo e
sedutor, tinha abusado da sua boa fé, e que dependia da sua vontade ler nele
tão facilmente como na cartilha de doutrina que, em criança, decorara na escola.
Pensou que o dom de adivinhar tinha vantagens que se estendiam a tudo,
e por esse sistema regularia seguramente a sua conduta e os seus atos, e
conseguiria, portanto, levar a cabo a posse de todos os bens que imaginasse.
É por essa forma, depois de reflexões e combates titânicos, que conseguem
os homens assentar definitivamente as suas predileções.
75
Um homem de campo, pediria a neve sobre todos os campos vizinhos do
seu; um pobre sacerdote, pediria o restabelecimento dos bens do clero; um
déspota a restauração do antigo regime; uma velha enrugada, o regresso dos
seus perdidos atrativos; um libertino estragado, o retorno de seu vigor antigo;
um fornecedor do exército, a eternidade da guerra; e um visionário, a
imortalidade — coisa que nenhum demônio lhe podia dar.
Victor ordenou, pois, ao grande senhor, que lhe descortinasse o futuro ao
ouvido, todas as vezes que ele lhe exigisse, no que o demônio concordou de
muito boa vontade e com muito boas maneiras.
Tirou, pois, da algibeira, um quarto de papel marcado, sobre o qual estava
escrita uma doação, em forma, da alma do doador. Picou com o seu esporão o
dedo mínimo do lavrador que com o próprio sangue assinou aquela escrita e o
diabo desapareceu-lhe da vista, depois de lhe fazer uma larga cortesia.
Mas o lavrador, antes de se resolver a por em prática a arte que acabava de
comprar, em troca da alma, sentiu que estava sem comer, e não se lembrara de
trazer dinheiro de casa.
Perguntou, pois, ao seu demônio familiar onde encontraria àquela hora
uma refeição que a ninguém pertencesse, pois embora tivesse animo de se dar
ao diabo, faltavam-lhe as forças para roubar qualquer coisa, por insignificante
que fosse.
O espírito respondeu-lhe:
— A esta hora fatídica para a humanidade, não convém que enchas o
estômago. As quatro horas, da manhã, disse-lhe o espírito em voz muito
baixinha, “sai de tua casa, marcha ao levantar do sol e encontrarás um montão
de pedra. Uma delas é talhada em pilastra. Ergue-a e toma conta do que lá
achares”.
IV
O ex-lavrador não podia convencer-se de que debaixo de um monte de
pedras, poderia encontrar uma refeição preparada que não pertencesse a pessoa
alguma.
76
Porém, como tinha certeza de que o diabo não falta nunca aos
prometimentos que faz a quem lhe entrega a alma, e um estômago vazio ordena
fé, praticou exatamente o mandado do seu oráculo.
Chegada a hora aprazada, dirigiu-se ao local e andou muito tempo sem
encontrar o montão de pedras, e já meio desesperado, chamou novamente o seu
diabo.
O espírito mau segredou-lhe ao ouvido:
— Tens ainda pouca fé no meu poder, e é por isso que não achas as pedras
de que te falei: vês aquele palácio ao longe e aquelas pedras amontoadas ao
canto?
— Vejo.
— Pois é ali mesmo. Vai e come à tua vontade.
De fato, o aldeão achou ali o que o seu estômago precisava.
Depois de ter feito alguns giros encontrou a pilastra, ao pé da qual
estavam três bocados de tábuas. Levantou-as e encontrou um buraco onde se
deparou um enorme prato, tendo dentro um peru, duas galinhas e seis
codornizes assadas. Ao lado da porta estavam dois grandes queijos, um pão e
dois biscoitos de Saboya, asseadamente embrulhados numa rica toalha, e duas
garrafas de vinho das Canárias.
O faminto aldeão, extasiado diante de tão belas coisas, tirou da algibeira
um lenço, no qual embrulhou, como pôde, parte do conteúdo que estava no
bem-aventurado buraco e a passos precipitados tomou o seu caminho.
Chegando a casa, comeu com grande apetite as codornizes, parte das
galinhas e parte do peru, e bebeu também as duas deliciosas garrafas de vinho.
Mas, embora o estômago já não reclamasse alimento, Siderol não queria
limitar-se tão somente àquele gozo.
Para adquirir o resto, chamou o seu demônio perguntou-lhe se sabia onde
pairava algum tesouro escondido, que não pertencesse a ninguém.
— Nas entranhas do monte Cardalho, há uma mina de ouro desconhecida.
— E como poderei explorá-la?
— Com a cabalística dos mouros.
— E onde existe ela?
77
— Eu te darei brevemente. Mas, diz-me, gostas de dar esmolas aos pobres?
— Gosto.
— Pois então dar-lhe-ás todo o dinheiro que tens, pois enquanto possuires
um cêntimo que seja, a terra não se abrirá para te dar a riqueza que se esconde
nas suas entranhas.
— Bem — disse o aldeão — amanhã farei sair de casa tudo quanto possuo.
Mas, meu amigo Belzebu, dize-me, onde haverá mais algum tesouro.
— Na aldeia de Meirol há uma falha de diamantes, que se abrirá com duas
palavras da minha cabalística.
— Oh meu senhor, dize-as já...
— Espera; — disse o diabo — primeiro saberás onde os tesouros existem,
depois te entregarei a chave para os abrir.
— Vá, amigo Lúcifer, por quem és, dize-me já onde paira um tesouro que
possa explorar hoje mesmo e eu te prometo ser fiel por toda a vida e ainda
depois da morte.
— Não te disse já alma vencida, que primeiro tens que dar tudo que
possuis aos pobres?
— Ah! sim, sim! Perdoa, meu bom amigo, meu bondoso Satanás.
— Pois bem, um onzeneiro de Bayone, que é o dono de tudo que há em
três léguas para aquém daquelas ilhas, enterra todos os anos muitos centos de
dobrões, de ouro, no interior de uma louça que tem em Baigreza. Por isso já vês
que ali haverá um rico tesouro de que poderás apropriar- te facilmente, sem
teres de usar palavras minhas.
— Mas esse dinheiro é de seu dono e não o quero eu. A mim só me pode
servir dinheiro que já não tenha possuidor.
— Que te importam os meus desígnios? Tu hoje és completamente
propriedade minha, e posso ordenar-te que faças o que me aprouver.
E nosso Lúcifer começou a murmurar palavras ininteligíveis, o que fez o
aldeão cair de joelhos e implorar o perdão.
— Sossega — lhe disse Lúcifer — bem sei o que me convém fazer em teu
benefício. Esse velho usuário deve morrer na noite que vem, de repente, e como
ele se esconde dos seus colaterais, de quem tem medo, pois que o não tratam
78
bem, eles não têm nem nunca terão conhecimento desse tesouro, tesouro que
esta mesma noite ficará debaixo do meu poder, assim como a alma do velho de
Bayone.
— Mas onde fica essa terra que guarda tal riqueza?
— Fica próximo da estrada de Santiago, muito ao norte, lá para as bandas
do mar.
— Meu amigo Satanás, pergunto como se chama esse país.
— É na planície hispânica, no último extremo do norte...
— Então nunca lá chegarei, porque morrerei de fome antes do meio do
caminho.
— Não sejas louco. Em chegando aos Pirineus senta-te na estrada a espera
que passem peregrinos que vêm de Roma para Compostella, aqueles vis cães
danados que nunca quiseram vender a alma em troca do meu condão. Podes
assim acompanhá-los, e acharás o tesouro do moribundo. Anda, marcha sem
demora.
— Não; vai-me tudo antes descobrir — disse-lhe o ex-lavrador, com
humildade.
— Eu, não! — respondeu o diabo. Não convencionamos que eu obrasse.
Pediste-me o dom de adivinhar, já o tens; acabaram aqui os meus
compromissos.
— Diabo! Diabo! Farei o que me ordenas! Mas não conheceis mais tesouro
algum?
— Conheço. Naquele reino longínquo há mais ouro enterrado do que em
todos os outros departamentos onde se fala a língua dos árabes e dos mouros.
— Nomeia-me os locais, meu bondoso Belzebu.
— Se lá chegares com vida, indaga dos povos que te vou nomear:
“Rubióz, Outeirello, Taboeja, Lanas, Indiesta, Hija Boena, Guillade,
Sobroso, Pojeros, Budinhedo, Aranzo, Guinza, Cariel, Mondim, Fraguedo,
Celleiros, Façára, Borbem, Mondarize...”
— Tantos, meu senhor! — interrompeu Victor Siderol espantado de
tamanha cópia de haveres.
— Muito mais! Há naquele país a riqueza de mais de seis reinos. Vai, pois,
79
ao teu destino, chama-me quando precisares do meu auxílio. Já que me deste a
alma, hei de fazer-te feliz.
— Mas como farei abrir a terra para lhe extrair todo esse ouro?
— Transporta-te aos lugares que te indiquei e aqui tens esta lanterna.
Acende-a sempre que desejares alguma coisa, e serás imediatamente servido.
O ex-lavrador despediu-se de Lúcifer e foi distribuir pelos pobres todo o
dinheiro que possuía. Depois de não ter nem um cêntimo, saiu e atravessou
uma larga praça. Apesar de distraído, a pensar no diabo, reparou para uma loja
onde havia o seguinte letreiro: “Extrai-se amanhã a loteria gaulesa.”
Victor lembrou-se de arranjar fortuna por meio de um bilhete de loteria,
mas não tinha dinheiro nem donde lhe viesse.
Entregue a esse pensamento, continuou a passear pelas ruas ao acaso e
como naquele dia findava o arrendamento da sua morada, à noite, recolheu-se
às ruínas de uma casa velha no arrabalde de São Martinho.
Como a noite estava escura acendeu a sua lanterna. De repente, viu ao pé
de uma couceira da porta carcomida pelo tempo, uma moeda de ouro da época
de Clóvis I.
Siderol ficou grandemente surpreendido, porque já se olvidara das
virtudes que o demônio lhe disse estarem conglobados na lanterna.
Guardou o dinheiro e de manhã, muito cedo, chamou logo o demônio em
seu auxílio e perguntou-lhe com certo ar de humildade.
— Meu amigo, quais os números que vão ser mais premiados no jogo de
hoje?
— Os cinco prêmios maiores — disse-lhe o demônio — saem hoje nos
números 7, 2, 49, 5 e 861.
— E os outros prêmios? Não sabes em que números devem sair?
— Sei; mas esses os deixai para os pobres. Não sejas ambicioso e não
queiras tudo para ti.
Conformou-se o aldeão com a resposta de Lúcifer e foi comprar um
bilhete. Deram-lhe o nº 7. O lojista, quando Victor pagou começou a rir-se para
ele com uma cara de grande velhacaria.
— Porque está o senhor rindo dessa maneira.
80
— É porque esse número sai branco — respondeu o cambista, rindo cada
vez mais.
— Sim?... Pois logo, verá!...
E Victor Siderol saiu da loja cumprimentando o cambista com toda
urbanidade.
De fato, ao meio-dia extraíram-se os prêmios e a deusa Fortuna cumpriu
os seus decretos porque o diabo usou de toda fidelidade no cumprimento dos
seus deveres.
V
Aquele afortunado bilhete assegurou-lhe setenta e cinco mil cunhos de
ouro, que correspondem a duzentos e quarenta mil cruzeiros.
Quando Siderol, de tarde voltou ao cambista, já esse não se riu; ofereceulhe uma cadeira para se sentar e pagou-lhe o premio.
A primeira coisa que Victor fez foi comer em um dos melhores
restaurantes. Depois de jantar como um príncipe, dirigiu-se ao alfaiate, vestiuse com o melhor fato que encontrou, barbeou-se, e, estabelecendo residência em
um bom hotel, chamou o seu protetor Lúcifer.
— Que desejas de mim? — perguntou o demônio.
— Meu amigo, onde encontrarei uma donzela nova bonita e amante?
— No Teatro Grego, onde representa hoje uma tragédia de Ésquilo —
respondeu o seu interlocutor.
O querido filho da Fortuna encheu as algibeiras de ouro e foi ao lugar
indicado.
Era o primeiro teatro que tiveram os franceses.
Entre grande número de pessoas, pela maior parte nobre, encontrou ali
duas mulheres, uma já idosa e outra no esplendor da mocidade, cujo composto
pareceu ao enamorado aldeão o que no mundo se podia imaginar de mais
sedutor.
81
Aproximou-se delas, com o desembaraço que inspira a opulência. A jovem
recebeu-o com grande timidez, fingiu cara de ingênua e com algum esforço
conseguiu corar.
Victor ficou satisfeitíssimo ao vê-la assim com um todo tão honesto.
Declarou-lhe as suas intenções e ela respondeu-lhe com excessiva conduta.
A velha, que se intitulava mãe abeirou-se dele, e disse a Siderol que levava
muito em gosto a união da menina com tão distinto cavalheiro.
Acabada que foi a representação, Siderol vendo-se tão bem acolhido pelas
duas mulheres, ofereceu o braço à rapariga, que aceitou sem a menor hesitação.
Uma liteira rica esperava-os no vestíbulo do teatro. Logo que chegaram à
casa, elas convidaram-no para cear, e serviram-no com toda a cortesia e
urbanidade.
Durante a ceia, soube Siderol que as duas senhoras eram provincianas
estavam em Roma tratando do processo de uma herança, e deram- lhe a
entender que o juiz não recusaria receber dois mil cunhos de ouro para resolver
o pleito em favor delas.
Victor ofereceu-lhe bizarramente aquela quantia.
Elas, porém, recusaram com certa reserva, que o fez suspeitar que o não
julgava capaz de fazer aquele negócio com dinheiro à vista.
Siderol, como tinha a algibeira recheada, insistiu e apresentou dinheiro.
Acederam, mas com a cláusula de que receberia uma declaração em
forma. Ele concordou.
A mãe passou ao seu gabinete para escrever a declaração e deixou o nosso
homem com a encantadora jovem.
Siderol pensou que após um empréstimo de dois mil cunhos de ouro,
podia tomar algumas liberdades, e foi o que fez.
A rapariga resistiu-lhe com firmeza, mas ao mesmo tempo sem azedume.
A virtude é sempre assas forte para se impor às expansões do vício.
Todavia, o amor e o vinho fizeram-no empreendedor e atrevido.
Rosa, incapaz desses espalhafatos que prejudicam sempre uma mulher,
contentava-se em opor mãos muito ativas aos muitos ataques do temerário
conquistador.
82
Defendendo-se daquela insistência recuou insensivelmente sobre a cauda
do vestido e tropeçou. Siderol aproveitou o ensejo e empurrou-a suavemente.
Ela, com esse impulso, foi cair sobre o sofá, e depois... Eles é que podiam
confessar o que sucedeu.
A pobre pequena chorou. Ele correu a enxugar-lhe as lágrimas e,
prometendo casar com ela pediu que nada dissesse à mãe.
Rosa encolheu os ombros em sinal de assentimento.
A velha voltou pouco depois e de nada desconfiou.
Se ela é de tão boa fé!...
Entabularam nova conversa, e Siderol convidou-as para irem jantar, no dia
seguinte, em sua companhia, no salão que tinha alugado no hotel.
Foram.
Ele tinha ajustado com o tabelião para que estivesse lá à noite e foi
comprar um cofre de joias para oferecer à sua noiva, no que foi tão pródigo, que
ao voltar para casa só lhe restavam uns quinhentos cunhos de ouro.
Entregou o cofre a Rosa e foi procurar o tabelião, que se demorava, para
lavrar a escritura que o devia ligar àquela que tanto lhe enlouquecera os
sentidos.
Mãe e filha despediram-se dele com toda cordialidade e pediram-lhe que
não se demorasse.
VI
Victor, só no fim de uma hora é que voltou acompanhado do tabelião.
Entrou muito jovial no salão do hotel e, nem vivalma! Percorreu a casa,
chamou o dono do hotel, perguntou lhe pelas duas senhoras e soube que
haviam saído.
Siderol teve um pressentimento.
Foi ao armário. O seu cofre tinha partido com as senhoras, e em lugar das
joias e dinheiro encontrou um bilhete concebido nestes termos: “Quando uma
83
rapariga esperta encontra um asno, um palpavo, prega-lhe o mono. É esta a
regra. De futuro, antes de se meter nestes assuntos, estude-os primeiro.
Desejamos que a lição lhe seja profícua.”
O infeliz começou a vociferar contra o diabo. Satanás apareceu e
perguntou-lhe.
— Fui eu, por acaso, que te inclinou essa mulher?
— Não – respondeu Siderol.
— Então não tens que te queixar de mim. Para um homem ser feliz e gozar
da minha estima, é preciso que não se meta com mulheres dessa qualidade. Dizme: Já te constou que eu fosse namorador?
— Não – respondeu Victor.
— É por esse motivo que consigo tudo quanto desejo. Se metesse mulheres
nos meus negócios de certo não dariam bom resultado os meus trabalhos.
— Mas como tornarei a reaver os diamantes: e o dinheiro que me levou
aquela rapariga?
— De forma alguma. Dinheiro que caiu em mão de aventureiras, é o
mesmo que ficar encantado dentro da terra, sem se conhecerem as palavras
para o desencanto.
Mas com todo teu poder, não farás com que eu recupere as minhas jóias?
— Não, porque ainda agora te disse que nada quero em que entre mulher.
E, demais, não me comprometi a obrar e sim a aconselhar-te.
— Some-te da minha vista, maldito? Some-te, já que o teu poder é tão
limitado!
E Victor fez uma cruz no chão. De repente o demônio desapareceu.
Victor ficou cismado, e no fim de alguns minutos lembrou-se da sua
lanterna, para tornar a adquirir dinheiro. Quando a procurou, porém, não a
encontrou. O demônio tinha-a levado consigo.
84
VII
Siderol, vendo-se exaurido e com pouco dinheiro e tendo aprendido a
prever o futuro nos Enguerimanços de São Cipriano, resolveu escrever e
publicar o Feiticeiro Gaulês, em Paris, no local onde hoje é a rua de São Jacques.
Um astrólogo afiançou-lhe que venderia muitos exemplares por quantias
avultadas, se o recheasse de coisas diabólicas.
Siderol tratou, pois, de escrever adivinhações de futuro, predições, dias
em que haviam de morrer alguns altos personagens da igreja e o bispo
resolveu-se a mandá-lo prender por feiticeiro, e preparou-lhe uma grelha para
fazê-lo assar, pelo amor de Deus.
Victor, transido de susto, chamou novamente a Lúcifer, depois de lhe
pedir perdão das suas culpas, implorou que o salvasse daquele perigo, ao que o
diabo se negou.
— Então, de que me serve, espírito infernal, como tu és, a arte de
adivinhar, se não posso fugir às perseguições que me fazem?!
— E dizendo-te eu onde há rios de dinheiro, para que te envolvas com
mulheres, e para que escrevas predições, em vez de ir desenterrar os tesouros?
Quem te mandou jogar na loteria?
E quem foi que a inventou, assim como todos os jogos?
— Fui eu – respondeu o diabo.
— Para que?
— Para mortificar as almas viciosas, porque desta forma acabam os dias
mais depressa e mais depressa tomo conta delas.
— Neste caso, és tu que impulsiona ao homicídio, ao parricídio, ao roubo?
— Que! Não conheces ainda a inimiga e poderosa mão que arrasta o
gênero humano a todos os excessos! O jogo nunca deu felicidade a ninguém!
Vai, vai escavar as terras que te indiquei, toma conta desses tesouros que são
teus. Mas para que eles te sejam úteis, não jogueis nunca. Anda, marcha! Para lá
da velha Toletum (Toledo) acharás ouro sobre ouro e dirás que bem te valeu
fazer pacto comigo.
E o diabo abriu-lhe a porta da cadeia.
85
Victor partiu. Atravessou os Pirineus e levou 52 dias para chegar a
Barjcavoa. Na passagem da província de Valladolid para o reino da Galícia,
sentiu-se muito cansado, e reparou que já os sapatos não tinham solas.
Chamou o seu espírito e disse-lhe:
Estou descalço, e tenho fome; dá-me calçado e de comer...
O diabo apareceu-lhe em figura, e apontando ao longe o seu dedo
indicador, perguntou-lhe:
— Vês, acolá, ao longe, aquela povoação entre arvoredos?
— Vejo.
— Chama-se Santiguoso; entra no caminho e verás comida sobre um
lascão de pedra. Enche o estômago e caminha para o norte, onde está a fortuna
à tua espera.
— Mas é que não posso andar, meu Lúcifer; dá-me uns sapatos.
— Não.
— Por que, espírito infernal? Não tens poder para arranjar coisa de tão
pouca valia?
— Tenho.
— Então?...
— Ouve-me com atenção – disse o diabo. – O Deus que adoravas, antes de
te entregares a mim, não disse ao gênero humano “que havia de ganhar o pão
com o suor do seu rosto?”
— Disse, mas assim não quero eu ganhar o meu. Antes quero ir
desencantar os tesouros que me apontaste.
— Muito bem! O teu Deus antigo é o Rei dos Céus e eu sou o Rei dos
Infernos. Ele dá leis aos seus vassalos e eu dou-as aos meus. Para que gozes a
minha proteção é necessário que faças alguns sacrifícios. Vai ao teu destino e
para conseguires a ventura vale bem o martírio de trilhar descalço o teu
caminho.
— Pois bem, deita-me a tua bênção.
O diabo abençoou-o, e o aldeão partiu descalço.
86
VIII
Marchando na direção do norte, alguns dias depois chegou a Bemdibre.
Até aí encontrou sempre que comer, invocando o nome do demônio, o
possuidor da sua alma.
Nessa povoação, porém, por mais que o chamasse, o diabo não apareceu, e
de fome torturava Siderol. Foi andando na direção do rio Camba e deparou com
uma alta cruz † de pedra coberta de musgo e erva.
Ao ver aquele símbolo do sofrimento de Cristo, parou e tremeu. Depois
chamou de novo o diabo, e pediu-lhe de comer. Não recebendo resposta, ia já
ajoelhar-se aos pés da cruz, quando sentiu no rosto uma lufada de fogo.
Victor, com o peso daquela grande dor, caiu por terra desamparadamente.
Ergueu-se, passados alguns minutos; olhou em roda e não viu ninguém.
— É o castigo de me quereres abandonar – disse-lhe o diabo. Maldito! É
com essa contradição que queres chegar aos lugares dos tesouros e desencantálos?
— Perdão, perdão, deus Lúcifer, eu tinha e tenho fome!
— Não te disse já, falso amigo, que na minha lei também é preciso ter
paciência? Não te dei de comer para experimentar a tua coragem. Vai, pois ao
teu destino e não me tornes mais a atraiçoar, senão...
O diabo desapareceu e o ex-lavrador seguiu o seu caminho a encomendarse ao seu infernal protetor.
Perto da meia-noite tropeçou com uma mesa à beira do caminho,
abastecida de iguarias, e tomou o seu repasto.
Acabada a refeição, encomendou-se de novo ao diabo contritamente e
disse:
— Não ter eu outra alma, que a dava de boa mente àquele senhor dos
infernos!
O grande Lúcifer apareceu-lhe vestido e em pessoa, como em Neuilly na
ocasião em que tinha imolado a galinha preta, e dando-lhe em seguida um
abraço, disse-lhe:
— Já que és tão meu amigo, não quero que te fatigues mais. Dize-me, és
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muito ambicioso?
— Não; o que desejo é um tesouro que me de para viver sem trabalhar, e
nada mais.
— Vês aquele povoado, naquela clareira, e que se estende até um
outeirinho? – perguntou- lhe o demônio.
— Vejo perfeitamente.
— Então não precisas ir mais longe. Aquele povoado chama-se Ababides.
Vai lá, procura pousada e amanhã, por esta hora sobe ao monte do morro e
acende a tua lanterna. A essa hora picarás o dedo mindinho com este esporão
córneo que aqui te entrego.
E Lúcifer arrancou o seu esporão, entregando-o a Siderol!
— E depois? – perguntou este.
— Depois assinarás o papel com teu próprio sangue.
— Mas eu já doei a alma. Que mais existe, pois em mim que possa agradar
e ser útil ao meu bondoso protetor?
— Ouve com atenção: neste papel está declarada a venda da alma dos teus
filhos, que nascerem logo que sejas rico. Porque hás de casar com uma moça
muito disposta a procriação.
— Mas...
— Hesitas? Assina ou não?
— Assinarei. Mas... Depois?...
— A meia-noite, como te disse, pousará um corvo sobre a montanha. No
sítio em que ele esgravatar, é que está o primeiro tesouro.
— Mas com que palavras farei abrir o seio da terra?
— Não te as direi ainda, porque temo que se abra a terra contigo. Anda,
marcha!
88
IX
Victor praticou tudo quanto o diabo, seu senhor ordenara.
Chegando ao monte de Ababides, a meia-noite do dia seguinte, esperou, e
poucos minutos depois viu pousar sobre o rochedo o corvo. Esgravatou, picou
o chão três vezes com o bico, mas a terra ficou conforme estava. Nem o mais
leve movimento.
Victor acendeu a lanterna e tudo conservou o
mesmo
estado.
Desesperado, marchou lentamente na direção da ave. Esta vendo-o aproximarse, levantou o vôo e sumiu-se.
O nosso homem começou a apostrofar contra o diabo, requerer-lhe que ou
lhe desse o dom de abrir a terra, ou lhe entregasse a alma.
O diabo apareceu-lhe na figura de corvo e disse-lhe:
— Que foi que combinamos? Não ficou assentado que assinarias a esta
hora a doação da alma dos teus filhos futuros com o teu próprio sangue?
— Perdoa, grande senhor! – implorou Siderol. – Perdoa, que de tudo me
olvidei
E ato contínuo, picou o dedo mindinho e assinou a escritura com sangue.
O diabo, cheio de satisfação, disse:
— Aqui te deixo. Toma todo o ouro que desejares – e dando um voo,
desapareceu.
Victor ficou imóvel, sem saber o que faria, olhando a direção por onde a
ave se perdera na tenebrosa escuridão da noite.
De repente ouviu ecoar naquela solidão estas palavras:
“Aurea Hispania! Hiscere Galloecos Amano!”
Nesse momento tremeu a montanha, abriu uma enorme boca e deixou ver
a Siderol urna grande adufa de moedas de ouro romanas.
Tomado de resolução espontânea, desceu àquela fragua, que se fechou
após ele.
Despiu o casaco para enchê-lo de dinheiro, mas de repente viu um grande
caixote de latão aberto e cheio do mesmo metal. Tomou-o aos ombros para sair
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e viu então que a montanha se tinha fechado. Ficara preso.
— Meu diabo, meu rei poderoso, dono da minha alma e das dos meus
filhos que hão de nascer, tira-me deste cárcere! – disse ele entre lágrimas.
Subitamente, sentiu tremer de novo a terra, em grandes convulsões, e
ouviu soar na cova as seguintes palavras:
“Hispania! Fegicitar in publicium lunual”.
A grande cova tornou a abrir-se imediatamente e o venturoso achou-se em
plena montanha com o seu caixote de ouro em moeda.
Andou o resto da noite, e ao romper da aurora achou-se na povoaçãozinha
de Damil, que ficava para as bandas do norte.
Tomou hospedagem num pobre albergue por oito dias, e conservou-se
descalço e mal enroupado, para não despertar suspeitas, e evitar que lhe'
roubassem o seu tesouro.
No fim dos oito dias constou-lhe que havia nos subúrbios daquele povo
uma casa para vender.
Chamou o diabo e consultou-o:
— Que te parece esta terra? Gosto destes vizinhos, e era capaz de ficar por
aqui.
— É muito justo — respondeu o diabo — nem eu, nem os espíritos
encantados consentiríamos que levasse todo esse ouro para país estranho...
— Por quê? — interrogou Siderol.
— Da Espanha o recebeste, na Espanha o gozarás. Há nesta região
mulheres bonitas e virtuosas muito capazes de dar lições de moralidade às
francesas, dos sentimentos da Rosinha, que encontraste no Teatro Grego. E
então fica-te aqui.
— Pois ficarei — respondeu Siderol.
— Então eu te abençoo, e serás feliz.
Siderol, tomando algumas moedas de ouro, partiu logo para a vila de
Albariz, em procura de um sacerdote que trocava dinheiro antigo. Voltando no
dia imediato foi comprar a casa que estava pra vender e aí fixou residência.
90
X
Victor Siderol começou então a compreender o que era a felicidade vinda
por intervenção do dinheiro porque principiou a gozar de tudo quanto lhe
apetecia, e, como logo correra por aqueles arredores a fama de sua riqueza, viuse alvo das atenções, tanto dos homens como das mulheres.
Como as mulheres haviam sido sempre o seu enlevo, começou a olhar
para todas com grande atenção e o caso é que, passados poucos meses, estava
casado com uma formosa donzela de Podentes.
Chamava-se Manuela, a interessante camponesa.
Decorrido um ano, havia ela dado à luz uma menina, cuja alma o demônio
contou logo por sua.
Os pais reviam-se naquele anjinho, e cada vez se amavam mais. Mas como
a fortuna não é sempre verdadeiramente completa na vida, o francês achou-se
um dia gravemente enfermo de febre violenta, acompanhado de delírio, que
nem deu para consultar o diabo.
Seu sogro mandou chamar dois médicos e pôs-lhe aos pés do leito o
enfermeiro de maior fama que havia naqueles arredores.
Talvez fosse por esse cuidado que a febre diminuiu extraordinariamente, e
Victor recuperou em breve todos os sentidos.
Ele então aproveitou essa circunstancia para conhecer sua sorte, e
consultou o diabo.
— Meu Lúcifer, como tomaram os médicos a minha doença?
— A avessas.
— É mortal?
— Não.
— Que devo fazer para curá-la?
— Despedir os médicos e deixar obrar a natureza, pois é a única que
dispõe da vida de toda a humanidade.
Assim se fez. A natureza sarou-o, mas a convalescença foi longa. Durante
ela, porém, Siderol teve ocasião de conhecer o excelente coração da linda
91
Manuela, cuja solicitude não afrouxara nunca à sua cabeceira.
XI
Manuela era uma mulher muito bem educada, feita como as graças e
folgazã como elas. Era uma rapariga muito sensível, franca e alegre, e urna
mulher, enfim, como ele precisava, pois que um homem honrado e rico dá-se
muito com uma esposa recatada e sensível...
Siderol,
depois de
completamente
restabelecido
da enfermidade,
perguntou ao diabo como pagar à esposa tantos desvelos.
— Não lhe deste a tua mão? – perguntou o demônio.
— Dei.
— Não a amas muito?
— Amo.
— Então já lhe pagaste bem.
Passaram-se dez anos em harmonia nunca interrompida, e Manuela havia
dado à luz ao seu oitavo filho.
Victor, embalado pelas comodidades da riqueza e encantos sedutores das
suas três meninas e cinco meninos, andava encantado com a sua sorte e chegou
quase a esquecer-se das doações que fizera ao diabo.
Mas um dia, sentindo estalar por sobre a cabeça uma enorme trovoada,
por entre o fuzilar de relâmpagos, passaram-lhe pela ideia lembranças negras
que lhe encheram a imaginação e lhe envenenaram todos os prazeres.
Dali em diante começou a andar triste e pensativo. Manuela sentia muito
mais as penas do marido pelo fato de não saber a causa delas.
As mais ternas carícias, os mais fervorosos rogos dela não conseguiram
arrancar-lhe o segredo daquela tristeza.
Siderol tinha vontade de saber se a eterna fogueira se acenderia para ele só
no extremo da velhice, ou se a Morte estaria perto.
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Ia perguntar ao diabo quando lhe estava destinado morrer, porque,
perdida a alma, embora não fosse ambicioso, queria ao menos gozar a satisfação
de ir desencantar os tesouros que o demônio lhe tinha indigitado.
XII
Estava Siderol com essas considerações, quando inopinadamente se lhe
apresentou Manuela, com as lágrimas nos olhos e o queixume nos lábios,
acusando-o de que lhe não tinha amor, porque lhe não confiava os seus
segredos.
Calar-se-ia ele, acaso se o segredo fosse de outra fazenda? Não o
depositaria no seio da sua esposa, que lhe adoçaria as amarguras?...
Decerto que não.
Manuela, não se podia conformar com aquele silêncio, e continuou a
explorá-lo com tal instancia que Siderol se viu na dura necessidade de lhe
confessar cheio de arrependimento, que tinha feito pacto com o demônio.
Manuela, que tinha sido educada cristãmente, estremeceu e largou a fugir,
dizendo que não queria mais viver com um condenado. Ela receava que a
reprovação fosse um mal contagioso que se pegasse com a coabitação.
Nova e ingênua como era, sem experiência das coisas do mundo, foi logo
participá-la à sua mãe, em quem seu confessor lhe havia recomendado que
depositasse confiança sem limites.
A mãe, que não se assustava com qualquer coisa, exclamou que não cabia
no possível que tão bondoso homem fosse danado, e que não podia acreditar
que ele o estivesse.
A boa Manuela insistiu no seu propósito e a velha galega disse que, a ser
verdade quanto a filha afiançava, tudo desmancharia.
Dito isso, resolveu que o Santo Cura de Campo de Moura, que era dali
distante lhe viesse por a sua estola sobre a cabeça e recitasse o Evangelho de São
João, porque a ponta de uma estola tem prodigioso poder. Que se lhe juntasse
três ou quatro exorcismos, e que por vontade ou sem ela o demônio entregaria
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infalivelmente as criaturas.
A velha mandou logo um criado a cavalo chamar o antigo cura, que vivia
em Cabelo, o qual veio no dia imediato para fazer as esconjurações a Siderol.
Mas o diabo, que está sempre alerta, não despreza interesses de tanta
importância, e por isso não lhe escapa facilmente qualquer alma.
Ao ver os preparos para o desapossarem do que lhe pertencia, disse a
Siderol que se para a Igreja ele voltasse, o despenharia no fundo dos Infernos!
A essa ameaça, Victor desatou em altos gritos, aos quais acudiu a sogra e
lhe meteu em uma algibeira das calças um pequeno vidro de água benta, com
expressas ordens de não se desabotoar.
Manuela observou, com a sua conhecida sinceridade, que conviria se lesse
no mesmo instante o Evangelho, pois que seria deveras incomodo para o
marido passar a noite vestido.
XIII
Partiram para a Igreja. O diabo, furioso, por se ver em perigo de perder
aquela alma, girava em torno de Siderol, de que a mágica virtude da água benta
o afastava, e a sogra ria-se de sua impotente cólera.
Chegados à Igreja do povoado, o cura opôs encantos e encantos, e o
condenado Sideral começou a escumar e retorcer os braços e as pernas,
aproximou um tanto a boca das orelhas e após essas usuais contorções de
músculos, o diabo deixou cair as escrituras ao pé do altar.
Foi porque o anjo da guarda de Victor aparecera nessa ocasião, por cima
da cabeça do exorcizado, com os seus cabelos louros, azuladas asas e vestes
brancas.
O padre, no fim, confessou Victor por que já tinha licença para absolvê-lo,
pelo motivo de tê-lo arrancado às garras de Satanás.
Acabada a cerimônia voltaram para casa, Siderol, a sogra e Manuela. Esta,
à noite, já não temia o contágio do seu marido e quis dormir com ele no leito
onde sempre haviam descansado.
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Continuaram vivendo riquíssimos, graças ao tesouro que Siderol havia
desencantado, com o poder do diabo a quem, por fim, enganou, com a proteção
da Santa Igreja.
Siderol, ao cabo de uma existência feliz, deu a alma ao Criador numa
vivenda que comprara em Sabujares, aos 109 anos de idade, deixando a esposa
com sete filhos onze netos e três bisnetos.
XIV
A gente da aldeia, sabendo o meio por que Siderol se fizera rico, e
querendo imitá-lo, dizia às vezes à Manuela:
— Ah, se eu pudesse adivinhar isto, prever aqui, como seria feliz!...
— Tudo isso é bem fácil, fazendo o que fez meu marido, mas acautelai-vos
contra as astúcias do demônio.
— Mas ele tem muitos tesouros debaixo de seu grande poder! –
retorquiam várias pessoas com curiosidade.
— Tem, é certo — respondia Manuela. Não vos digo que não façais pacto
com ele, mas, logo que tenhais conseguido vosso intento, armai-vos com água
benta, e lançai-vos nos braços da Santa Igreja, para entrardes no reino da glória.
— Mas, por que não desencantou seu marido os outros tesouros? –
perguntavam.
— Porque não precisava deles. Diziam que neste país havia muita gente
pobre que os podia desencantar. E então, se alguém tomar conta desses haveres
que Deus lhe perdoe o pecado de fazer pacto com Satanás. Amém.
Manuela, não podendo resistir às saudades do marido, expirou três meses
depois, no dia imediato àquele em que completara 94 anos.
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96
PARTE IV
TESOUROS DA GALIZA
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98
RELAÇÃO DOS 170 TESOUROS
(EXTRAÍDO
DE UM PERGAMINHO ACHADO DO
SÉCULO XII)
O precioso pergaminho que vamos publicar pela primeira vez, foi
encontrado nos alicerces do castelo mourisco de D. Gutierrez de Altamira, no
ano de 1606, época em que D. Fernando, o Grande, rei de Leão, entregou os
domínios da Galiza a seu filho Garcia.
Existente atualmente em Barcelona, na Biblioteca Acadêmica Peninsular
Catalani, de D. Gumercindo Rui Castillejo y Moreno, estante nº 74-A, onde
pode ser visto pelos curiosos, que o reclamarem. Damos aqui a cópia fiel do
original, traduzido para o nosso idioma.
EXPLICAÇÃO IMPORTANTE
Todos os tesouros e encantamentos do antigo reino da Galiza acham-se
depositados pelos mouros e romanos em esconderijos subterrâneos. A maior
parte deles, seguindo nascentes d'água, que conservam sua afluência mesmo
durante os calores mais rigorosos.
Esta prevenção de mouros e romanos dá a entender que sendo expulsos
daqueles territórios depois de guerras porfiadas, levaram a esperança de voltar
a estabelecer-se ali, mais tarde, e foi por isso que deixaram parte dos haveres escondidos, temendo que lhes fossem saqueados pelas legiões invasoras.
O pergaminho citado tem partes carcomidas pelos séculos e em alguns
sítios não se entende bem; mas o leitor inteligente deve compreender as
significações e traduzir o que a nós foi impossível, pela razão da linguagem ser
muito antiga.
N OTA : Embora á lenda que se acaba de ler, figurada entre Siderol e o
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diabo, pareça ter uma certa relação com a cópia dos tesouros, que vamos
publicar, não afiançamos a veracidade, porque não possuímos a virtude de
adivinhar.
Que há muitos tesouros escondidos é fato averiguado, porque o acaso os
tem descoberto em grande quantidade; mas lembramos aos nossos leitores que
essas coisas tanto podem proceder de fatos consumados, como de ociosidade
visionária.
Fazemos estas declarações porque, como incrédulos discípulos de Cristo,
temos por divisa.
“Ver, para crer”
O Copista.
As orações, esconjurações, ladainhas e mais regras para se desencantarem
os tesouros estão na primeira parte desta obra.
É por este motivo que não as repetimos neste lugar.
RELAÇÃO DOS TESOUROS E ENCANTOS
EXTRAÍDA DO PERGAMINHO
1. Na encruzilhada dos Lobos, a trinta e dois passos ao Nasc., debaixo de
um regueiro de pouca influencia, fica um covo de pedra com a abada de ouro.
2. A trinta e dois homens de Louros, riba dentro da rocha, a vinte e duas
mãos de fundo, depositamos 500 cunhos no ano 812.
3. No Louredo ficam muitas barras de prata, dos candinhos de Vimaraens.
4. Na revolta de Três Cotovelos, da estrada de Sabaiares a três homens,
100
estão as jóias da família de Numa Cáspio, e o corpo de um sueco sem cabeça.
5. Há um haver de 70 faquires de ouro na levada do rio, ao poente de
Poderoso.
6. Na tapada do Conde Mora, cerca de Padram, no sul, dentro de um
penedo brocado, ficam dois tesouros de grandes riquezas, profundezas de dois
homens.
7. Na Portella, no coto de outeirinho, está um azado de prata e ouro.
8. No refogo de Theba, residência de Frei Temudo, largamos um haver de
prata e ouro.
9. Em Mardian, testa da casa de D. Sisenando de Logrolho, está um boi de
ouro, sem armas, a dois homens de profundeza.
10. No limiar da Cruz, em Padréda, entre dois troncos de pinheiro, ficam
doze palmas de mão de ouro em laminas.
11. Pela banda da sombra, em Oroso, dorme escondido o dinheiro de
grande Homem da Altamira.
12. Em Longoares, debaixo da ponte, entre as passadeiras de pedra, um
tinteiro de prata maciça.
13. No nascedouro alto da Riba da Via, batendo na cobertura ouvireis som
de metal de boa voz e quebrando a pedra o vereis.
14. Na Rocha Negra de Otero, depositamos em 704, três cestas de prata,
sacadas a um general.
15. A 46 passos de São Bento, ao pé de Portella do Inso, um cavalo de
prata, roto do lado direito, cheio de moedas velhas.
16. No outeiro de Fraga, depois de três passagens da sombra, acharão um
jugo de bois, feito de ouro e rendado com jóias.
17. No socado da Fonte Fria, mesmo no meio, um pote cheio de ouro sem
formas.
18. Em Bouças, atrás da Igreja, no pino do sol, deixamos um haver mestiço
de peças de ouro.
19. Em Molone, dentro do veio na nascente do norte, a dois homens,
encontrareis um cortiço de sobreiro com haveres fidalgos.
20. Na trepa do Leirado, cerca das águas achereis uma grade de gradar
101
terra, feita de ouro.
21. No caminho subterrâneo do Castelo de Mandarim, a 20 passos para o
nascente, dois homens de fundo, um balde de cobre cheio de medalhas do
tempo dos Celtas.
22. No Galinho, frente da Lusa, há dois cogulos de ouro sem fogo, debaixo
da cruz que fica na estrada em frente do sol dado.
23. No solar dos Nobres, em Angade, ao pé do torneio, fica uma doma de
ouro destampada.
24. No caminho do monte, ao sair de Barbattinho, para leste, a treze
passadas do canto do paredão, deixamos pouco enterrados os anéis de D.
Ramiro.
25. Depois de Milananha, 28 homens para o lado do sol deixamos um alçar
de grande preço, ao pé da poldra baixa, a 13 mãos de terra.
26. Sobre o pico da Portella estão num fojo estreito 243 maravelas de ouro
aletrade em Toledo.
27. Na fontinha de Alariz, estão 25 azados da Lusitânia numa cama de
barro, amassados com óleo de azeitona verde.
28. Debaixo da pia da Igreja de Segalvo, enterramos, a 3 homens de fundo,
as custódias feitas de ouro e com diamantes.
29. No souto de Moniz Paio, à rateira de cima, no escuro por do sol,
guardamos uma chave de carro de Sertorius, feita de ouro de Betica, por
Alvares Sorga.
30. No cancelo de Bertraces, ao pé de Rendo Perdilho, estão duas lançadas
de ouro com perdiz sem asas.
31. Em pouca altura do nascedouro do rio de Monte do Ramo, ao bater do
sol, à hora sexta de Maio, fica um esconderijo com 17 pinhas de prata lascadas,
que foram tiradas ao rico Verino Gutierrez del Pinar.
32. No refogo de Prato, entre as quatro penedas redondas, deixamos 900
besteiros de Sant' Iago, feitos de prata.
33. Na cordilheira de San Mamede, na pontinha do Norte ao descer, está
uma herança dos fidalgos do Chrisus.
34. No castelo de Sobogido, nas defesas de sombra fica um cântaro de
102
chumbo com recheado de ouro em pó.
35. Na camba lata de Manure, debaixo do descanso da fonte, largamos o
haver do rei mouro Hulley Serjano.
36. Em Farcadella, vizinha da Lusitânia, vinte e dois homens para o sul da
fonte, estão 107 dobrados de ouro de Granada.
37. Junto de Quintão, na fraga terceira leste, ao pé da nascente do povo,
fica um depósito de ouro do rico homem Abduzil de Córdova.
38. Na estrada de Sobroso a Cabelo deixamos à flor da terra um vulto de
prata, lavrado em Leão.
39. Na testa da mesquita de Confúcio enterramos palagranas do nosso rei,
em ouro, cozidas em barro negro.
40. No miradouro da fonte de Camoz pusemos um labrusco de ferro com
moedas romanas, sem conta certa, na fugida.
41. Na painçal de Torneios, a 303 passos de Mirandela, fica um sarilho de
ouro com seis homens de corda traçado no mesmo metal.
42. Ao cruzeiro de Castro Mango à direita, ao poente, dentro do chão,
entre a pedra branca, deitamos uma armadura de ouro com 12 malhas.
43. No nascente do Larôa, temos um estreito de ouro em pranchas, um
homem de longo.
44. Na encosta de Vilarinho, olhando para o sol, nascente na cruzeira no
rego, enterramos os haveres dos nossos vizinhos dentro de três lapas de pedra,
por baixo do rego.
45. Depositamos um braçado de ouro por trabalhar, no rasgado de Flariz,
a doze homens do cóto.
46. No chão da Igreja de Pinoe, a 71 passos para o sol, debaixo da oliveira,
devem estar dois almanzares de ouro com cravados de diamantes.
47. No lugar de Orilha, na brecha dos três caminhos, metemos um altar de
ouro com todos os paramentos e um ídolo de prata dos reis mouros de
Granada.
48. Na saída estreita de Podentes, pela banda do sol, dentro da raiz do
chão, juncamos a cova com 25 pesadas de ouro em obra delgada.
49. No esgaravinho curto de Meã, para o lado das covas, depositamos, a 3
103
homens de fundo, as alfaias do bispo negro.
50. No tapado do Amorim fica a prata de Ataulfo Cerdo, solta na raiz de
um cedrinho.
51. Na fontacarda, entre a parede, a 5 lançadas guardamos um haver de
brilhantes de sacerdotisa negra.
52. No soalho da torre Villaca temos um aduar de cainças de ouro
cunhadas em Logranho.
53. Aos pés do cipreste pequeno de Ninho de la Aguila, a 2 homens,
enterramos uma canela de ouro, que servia na porta de Pelagio.
54. Nos Infantes Novos, no leito das areias pretas, fica um tamboril de
latão cheio de falenas de prata.
55. No Intrimo de Ababides, descansa o haver de 10 ajuntamentos mouros
com ossos de 3 mortas pelos invasores do sul.
56. Em Marmontelhos, a 21 passos do penedo espalmo, fica um gigante
com selim e fio de ouro e ferraduras cravadas a brilhantes.
57. Na ponta aguda de Vila-Rei, ao pé do poço redondo, lançamos um
taboado de cepilho e enchemos a cova de prata, com efígies de fosco.
58. No meio do castelo de Pazos, muito fundo, fica uma mina de ouro
guardada por um bezerro. Se quereis o haver não toqueis no bezerro.
59. Na nascente de Tebra, na direção da sombra, fica encantado o
mourenim de um guerreiro e 7 pares de apagas de ouro.
60. Na fraga de Entre Vidas, ao pé do olivedo do Sotocabo, ficam os
dotados da moura Zulama, esposa do rei Trafil.
61. Nos dois penedos do Reiril, ao descer para a ribanceira, a 104 passos
do castanheiro, enterramos um berço de prata, burilado de ouro, com fumos de
cortineira.
62. Na revolta de Banhos, na corrente do ribeiro, pouco fundo, ficou o
grande haver dos reis de Segovia e seus vassalos misturados em sangue.
63. Em Becerroz, ao sudoeste, com 22 homens de longo para a norte, achase um valioso encanto de ouro e homens de guerra com armaduras ricas do
tempo de Prudêncio.
64. Na infesta de São Torquato, abaixo da ponte, pequena fica o ídolo
104
Calmar, feito de ouro de Rigo, com andrajos de diamantes.
65. Na levada de Cruzaens, metemos debaixo de uma arca de pedra
branca um dote fidalgo e gravamos na coberta um braço de homem.
66. Ao saltar fora de Monterey, pelo nascente no torcer de uma corrente
d'água, deixamos as valias do temível de Calatrava, dentro de um bezerro de
prata, oco com a perna sinistra quebrada.
67. Em Trás da Espada, por baixo da ponta do cabeço alto, onde está a
mina com água, fica uma grande valia de ouro e prata.
68. No rio Bibey, ao pé de um cachorro de rocha negra, depositamos em
caixa fechada os diamantes do Selva, morto na saída de Soutomós para
Arenoso.
69. No concho de Rende, cerca da ilha onde estala a água nas pedras à
hora 11 do nascer do sol, há um grande haver entre duas grandes pedras.
70. No altinho de Enteza, junto ao paredão do sul, em frente de um
cortelho, há o haver de um mouro.
71. Descendo a carreira estreita da Coutada, para Martinhão, acha-se entre
quatro carvalhos, a 62 passos para o norte, uma dobra de ferro, tendo no
interior uma cabeça de ginete aberto.
72. Entre a parede do piso de ebordano, junto a uma cruz aberta na pedra
larga, temos muito na flor os valores mobiles de 114 vizinhos fugidos para as
Astilhas em 1709.
73. Na praça Teiroso, a 276 passos do ermideiro novo para o nascedouro
do sol, fica um azado de ouro em matucos, dentro de uma gamela de pedra sem
veios.
74. Ao cabo de Torneiros, trinta passos para o sol ao meio-dia, temos uma
abóboda de doze braças quadradas em que depositamos as deixas de todo o
povo fugido.
75. No regueiro pequeno de Amerim, por cima das prezas de pedra negra,
fica um carro de duas rodas com as espaldas de latão, cheio de moedas em
ouro. Neste gabeto está encantado um homem com uma vara apontada; não o
mateis se desejais sair com os valores. Dizei: “Pelo poder do ouro mourisco, te
rogo que te vás juntar aos mouros teus parentes, e deixa-me feliz”.
76. Na banda do sol do rezatório de Ouega, a 14 passos do pontal, ficou
105
uma partida de ouro sem contato.
77. Na reborinha baixa de Peneira, no âmago de um castanheiro furado,
atamos 300 dobras de ouro com duas faces iguais.
78. Ao sul de Franqueiro, 11 homens de largo, no pico do Altinho, está
encantado num sonho o mouro Bisnarem; deitado sobre ouro e com sapatos
refletidos de brilhantes da coroa de um rei godo.
79. Na fronteira de Chamusinhos, dentro da areia enterramos um
emborque de prata lavrada que vale 3.000 dobras. Esse emborque tem seis
quinas menores e quatro maiores cravadas de metal pouco valioso. Tem mais
no fundo uma astorga de metal branco.
80. Entre os penedos brandos da alta Louresso deixamos um caldeirão
cheio de ouro com as fezes, tapado com pedra calcarola.
81. Em Uma, onde fazem cruzes dois caminhos de carro, está a 4 homens
de fundo, o recheio da rainha, a mulher de Bemço II.
82. A 110 passadas de Mixos no atalho, para a infesta, ficou soterrada, com
um marco em cima, uma caixa de regravias romanas.
83. Ao fundo de Requias deixamos um coberto de barro cozido, meio de
histalos de prata e ouro.
84. Em Tozendo, no calço do monte onde rebenta água em Dezembro,
ficou a riqueza de um domínio de Compostela.
85. Na trinca de Montecel, no caminho de Gironda, em parede com muita
hera, tiramos cinco pedras e metemos no fundo os escapins de maior valor que
havia no ajuntamento.
86. Em Osono, debaixo da fonte rúbia, se depositou, a 2 homens, debaixo
das ervas, o valor de moeda do Harim de Lugo, na quantidade de seis mil
dobras de ouro de grande preço, em caixa de tilão.
87. Na caminhada de Freitas, a 12 homens de longo da pedra quadrada,
deixamos um dónin com 2.000 calvos de Lôbo Banas.
88. No prumo de Viler da Velha, no direito de Canda, a 25 passos, fica o
usuário dos ricos de Lanhezes em prata fundida.
89. No fogo de Cadabos, a 20 homens do vale, para a serra temos a deixa
de Zupelino Castelan.
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90. Em Santegoso, 3 braços a fundo no aparte da fontela, estão o ouro e as
pratas do rei Pampe Rabâ.
91. No Freixo Luviano, a 3 mãos das urzes, temos um lasco de peranhos
com 104 salas de ouro, sem fogo.
92. No rotrazo de Pias, para o sol poente, ficou mal enterrado com pedra
em cima um garbo mouro com haveres de 3 companhias com santiguados na
tampa.
93. No calcante de Xaguasoso, beira rio entre dois riachinhos, ficou o haver
de Lemrum IV, composto de ouro em forte com “mentingas rupicans de bazano
sin cuestas austaas, por la quantia si nó à mandado con las manos, â si quedo
fusco de prudência estranha. Teneêmos ademas sinetos de nonas ouraes con
blagas embaranese de lo monasterio con gran toso à ruso”. (Pedimos desculpas
ao leitor da má interpretação desta passagem, porque não entendemos a
significação de alguns termos.)
94. No curto de Lobanços, ao sul, dentro da parede do musgo passa o
ribeirinho para as ervas molares, a 3 mãos de fundo, fica uma cerda de ouro
com bacorilhos.
95. No encorredouro de Hermezendo temos uma caixa de adereços de
diamantes, valor de quatro povos.
96. Em Fontes, ao passar para a província de Brácara, deixamos o legado
do Restaurador, todo de ouro, sem cunho e sem fábrica. Está no cascalho ao
bater do sol à hora sétima.
97. No povo de Paramoz, na cruz do caminho de mil fontes, enterraram os
nossos um grande haver de prata dentro de um pipo arcado de loureiro.
98. Em Parada, 28 passos depois da Igreja, para o sol, ficou o haver de um
dinheiro de Bayona.
99. Em Julião, na seguida do Oia, ternos o todo de um fidalgo que tudo
mandava, e morreu afogado em Panion.
100. No servolo de Navia, na retorta da pedra firme, montamos um haver
a um homem de fundo, e deitamos-lhe em cima canas de milho a terra.
101. Ao meio da cruz de Ganhado está uma azevan de ouro e duas
partazanas debaixo do uma pedra que tem riscado um pé cavado.
102. Debaixo do cruzeiro de Curul está uma sepultura de pedra cheia de
107
ouro, e a coroa do rei Zalito VI.
103. Na Descida Grande, 25 homens ao longo do muro de Souto Maior,
ficou uma grande deixa de ouro.
104. No remoinho de Caldelas fica um atalho com 270 azuares de ouro
com duas faces.
105. Em Intrimo, ao passar do castanhar a oito, da corrente forte, está
encantado um mouro em pé, tendo aos pés o seu valor de ouro. Deixai vivo o
espírito para que tomeis o encanto.
106. Em São Pedro Martir, ficou um avanço de prata na testada que olha
para o nascente.
107. Na restinga de Gondomar, ao pé do penedo, de dois bicos,
enterramos o sangue dos guerreiros celtas, mortos em Antenoz.
108. No alto de Freis, na direção do mar, no cruzamento, ficam as valias de
uma igreja rica.
109. A 23 homens de lonjura da casa de Phebeus, em Amou, para o norte,
no meio das penhascas, estão oito telhas de ouro.
110. Às portas de Teste, oito homens de grande pedra com letras célticas,
com alizar de mármaros, fica a haver de um rei e um livro árabe dos tesouros de
Tolosa e Castela.
111. No baixo da Ramalhosa, entre os limeiros amarelos abrigamos o
possuído de Senapio, cinco dias depois de ser queimado esse bárbaro.
112. Entre Rubião e Manini, terceiro lanço, ao pé de um arco de pedras e
barro, fica o haver de um lusitano de Gerez em ouro de cendra.
113. No oratório de Gironda, a 15 homens para a deveza menor, fica um
pequeno valor.
114. Em Fomaguelos, nos três penedos, há uma geira de barro escuro com
faianças de valia.
115. Ao fincado de Lorris, entre dois marcos de pequena grandeza,
deixamos um banco de ouro com quatro pés.
116. Em Valgeras, debaixo do escoamento, ficou uma espada com sabre de
prata e paga- douro de brilhantes.
117. Em Tabagon, ao correr da terceira escada, a três homens de fundo,
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fica uma tábua Cheia de moedas de ouro, dentro de um calháo de sete braças.
118. No estreito dos Solados, ao cunhal de baixo, olhando para o norte,
ficou um barquinho enterrado com a concha coberta de dinheiro.
119. No cerquinho de Gondorem, sobre a congosta, a 3 homens para a
sombra, metemos os haveres dos nossos de Tolho.
120. No benzedouro de Sendolho, na esquina do paredão baixo, ficou um
caixão de moedas coberto de pedernas.
121. No adro de Cheleiros, no cantadouro da fonte, ao pé do cipreste do
norte, desterramos riqueza numerosa.
122. Em o quinço de Pedorne, a 10 homens da nascente das areias, está um
menino mouro encantado entre francas de diamantes de Lerida.
123. Na lampa da Arzua, em frente do tojadeiro à meia volta, ficou um...
no... pa... ast... em... bras securas (Neste ponto o pergaminho está ilegível.)
124. Na cerca de Corcubião, na vertente abaixo do sítio em que há barro
pegàjento, está no chão, a quatro homens, uma cozinha de prata e cobre.
125. Na Saboadela, muito baixo, em uma mina com duas lapas de
mármore branco, está o haver rico da princesa Urraca.
126. No couto, em Ortigana, na sobrefinca, temos as alfaias da Renegada
das Astúrias, no terceiro arco, e há no chão som oco quando chove.
127. Em Eunai, ao saltar o portelinho, que vai para a fonte, ficou um
tesouro muito esperançoso.
128. Na regueirada, em Cela, ficou um pequeno valor em ouro com
ribanços por fora, a três homens para a sobreda.
129. Na capa, em Gomerzim, ao sair para os marcos, metemos 25 espadas
com rebaixos em ouro.
130. No caminho que vai a Meaus, junto a um ergante de lages, ficou o
haver de cinco homens guerreiros, mortos em Cantaria.
131. Deixamos na vertente em Faces o nosso haver na terra branca e
semeamos em um taleiro de landras.
132. No vale de Muzalvos, dois homens debaixo entre os cinco penedos,
fica o possuído dos Cabardos.
133. Entre Moriscos e Castreto, no xanguar de duas subidas a par, a cinco
109
homens do carvalho pequeno, pusemos as joias ricas do marquês de Orrios.
134. No chão da Fonte do Rei, vindo de Mairos, a 100 passos para o sol
nascido e 5 homens de profundo, está uma lapa com tranças de ferro, com os
tesouros da mesquita do Rosal.
135. Na revira de Cendalha, entre os penedos do meio, onde sai uma
nascente de água com gosto de ferro ficou um cendrilho de muita soma em
moedas.
136. No recanto de Salto Real, na encharca, a 4 homens por baixo das
cadeiras, está urna caixa com os impostos em moedas pequenas.
137. No fuso de Guilhade, 60 passos da carreira nova, para a sombra dos
cavados, achareis um pequeno haver.
138. Na subida de Piconha, sobre a sinistra mão num rego de areia, ficou
um todo em prata escorralha com dois cadinhos de ouro.
139. No batedouro do rio Arucia, 2 homens abaixo, metemos em cova
Amenil Zets com sua mulher e o havido de ambos.
140. Na baixa de Coomiar, fica a valia de 300 dobras num caixão preto.
141. Deixamos um haver de pouco preço na quebra de Gandarras. As
pedras que o cercam, cheiram a enxofre.
142. Dentro de Bouças Brancas mandamos ocultar cinco haveres. Não
sabemos se lá ficaram.
143. Em Cangas, nos quatro carvalhos, ficou um valor de cem dobras de
prata. Ao partir do dia bate-lhe o sol por sobre uma pedra aguda.
144. Na brecha de Anceu enterramos um haver com um pouco de ouro.
Tem muita prata, armas brancas e louça pintada.
145. Tomamos a buraca de Freixo para guardar uma... ta... e... para... bo...
um... gal... d'ou... (Está o pergaminho muito miúdo, algumas letras desapareceram totalmente. O leitor com um pouco de meditação deve resolver a
significação das palavras que lhe faltam.).
146. Para o poente de Outeirello num poço de sete caleiras, defronte do
penedo, ao canto, está o haver de Abdel.
147. Picamos a terra ao pé das escadas de Eiroz, em Forçará, e metemos ao
sul o saque de São Lourenço.
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148. Temos a herdade da Moura Thebinka nos entornos de Moscoso.
Ficam na várzea do norte, ao pé de uma oliveira pequena, um castanho macho.
149. Nos cursos de Gulanes, junto da pedra loira desterramos em fundo a
valia do padre Atalfo, de Vigo.
150. Na lapinha de Arente, ao meio sol do monte, nas duas paredes, fica
uma caixa valiosa.
151. Cavai no refoio de tentão e achareis riquezas que nós largamos.
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152. Nos dois caminhos fica um bom haver. Não vos importe o ferro que
está em volta.
153. Nos paços nobres de Lira, ficou o haver do amoncel Zeniga. Deixai
uma cruz que está no topo e levai o ouro sobrante.
154. À esquerda dos bicos de pedra, ao subir o outeiro de Lanchas, por
baixo de uma furna abrigante, achareis o haver dos Lamazos. Rezai algumas
orações pelas almas deles.
155. No encosto de Ortigueira, entregamos terra, com veias brancas, um
pequeno valor em prata.
156. Sobre o termeiro de Canedo, fica o haver de Gonçalo Viegas e armas
de seu filho.
157. No relevo da peneda, cerca do Tapado, entre paredes com seixos finos
na raiz do sobreiro, está o ouro do matador Zilano, que fugiu.
158. No tempo de Moureira, ficou soterrado um marco de ouro, com
maxilas em relevo.
159. Na frágua de Bôrbem, fica ao norte, entre a pedreira a sete homens de
longo, um haver.
160. Em Cieruos, temos uma tulha de pratas numerosas para três vidas.
161. Por encanto mau, enterramos um haver em requeijo. Não busqueis
achá-lo sem o auxílio de espírito do inferno. Vendemos a nossa alma e não a
vossa.
162. Na raiz da Mesquinha, em Fresmo, há dois encantos com grandes
haveres. Se o quereis antes do esconjuro, fazei três vezes o sinal da cruz. †
163. Na topa central do Cerejal, pousa o sabino dos fugidos do ano
colvido. Olha para o norte na fralda do cerro.
164. A doze passadas da fonte de Caniça, fica... lhe larej ... nela d... va..., à
flor da terra (Está obliterado o pergaminho).
165. Tocai no centro do encalado de Vide, e logo ouvireis som de ouro. Há
ali o haver dos nossos d'além serra.
166. Na teva do Canso ficam... duas... cremento... Não está cincado.
(Ininteligível.)
167. No vale de Manceda, a fugir para a Lusitânia, entre os três marcos da
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esquerda enterramos o haver de um órfão.
168. Descemos a Vilinha, e já sem armas enterramos o nosso na vala dos
enxarados.
169. Nos entrecampos de Regamão, está o haver dos mortos de Padernosa.
170. Na cumieira... Amori... vinte estalos romanos. (Daqui até o fim é
impossível conhecer nem mais uma palavra. Por este motivo ficamos privados
de satisfazer mais a curiosidade dos nossos leitores.)
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PARTE V
ORÁCULO DOS
50 SEGREDOS
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SEGREDO 1º — PARA UM HOMEM CONHECER
SE A MULHER LHE É INFIEL OU NÃO
A qualquer hora da noite, quando observarem que a mulher está
dormindo e sonhando, põe-se-lhe devagarinho uma mão sobre o coração, que
dessa maneira conhecem logo se é sonho; se o for, ela por sua própria boca vos
começará a descobrir tudo o que for verdade, e o homem vai observando o que
ela lhe diz e vai tirando a mão de pouco a pouco porque esta operação não pode
durar mais que 10 minutos, para não acontecer que a mulher acorde e observe o
que se está fazendo.
Sendo assim, tudo descobrirá, e ela nada fica sabendo do que disse.
Depois de feito isto devem guardar segredo para evitar questões.
SEGREDO 2º — EFEITOS DO VINAGRE E DA URINA
Logo que uma pessoa de qualquer cortadela e queira ver-se sã em 8 horas,
botem-lhe em cima vinagre ou urina. Este remédio é aprovado, assim o tenho
experimentado e sempre com bom resultado.
SEGREDO 3º — PARA TIRAR AS DORES DE CABEÇA
Se alguns dos meus leitores tiverem dores de cabeça e se em pouco tempo
quiserem aliviar, façam o remédio seguinte: urna cabeça de alho, tirar as cascas
aos dentes, botá-los em um almofariz e moê-los bem moídos, pegar em um
bocadinho da massa e esfregar a testa e fontes bem esfregadas que depois, em
pouco tempo, passará a dor.
Se no fim da esfregação o paciente puder deitar, melhor verá que depois
de se levantar nada há de sentir.
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SEGREDO 4º — PARA AQUELES QUE CAMINHAM NÃO
SENTIREM A CALMA NEM O CANSAÇO DO CAMINHO
Saindo eu, de Alcoy para São Tiago, à porta de uma aldeia, encontrei três
peregrinos, com os quais acompanhei até ao seu destino, e segundo o que neles,
observei, deviam ser virtuosos, e aos mesmos vi que levavam pendurado no
cinto, um pequeno raminho de bela-luz. Perguntei-lhe o que aquilo
representava e tive de resposta: “Pois vós ainda não sabeis o segredo?” Tiraram
do seio cada um sua mancheia da artemísia, dizendo-me que com aquilo pouco
se sentia o calor e o cansaço do caminho. Daí por diante me aproveitei disso, e
achei ser verdade o segredo que me ensinaram.
SEGREDO 5º — PARA CRIANÇAS
QUE TÊM LOMBRIGAS E TOSSE
Provável remédio para quem tem crianças com essa doença. Se for tosse,
lancem-lhe uma esponja ao pescoço, que logo lhes abrandarão, e se forem
lombrigas, botem uma pequena mancheia de farinha centeia em um pouco
d'água, que fique tingida com soro de leite, assim dada a beber em jejum, todas
as manhãs, mata as lombrigas.
SE G R E D O 6 º — S E G R E D O P A R A O S C A B E L O S
NUNCA CAÍREM E SE CONSERVAREM PRETOS
Tomarão folhas de azinheiro, e cascas de pepino secas, depois de
misturados em partes iguais, bem pisados e espremidos, botar-se-á o sumo em
meio quartilho de aguardente canforada e bem mexida, se porá ao orvalho na
noite por espaço de 8 dias. Com esta mistura lavarão a cabeça pelo menos de
três em três anos, que o cabelo não cairá.
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SE G R E D O 7 º — S E G R E D O P A R A Q U A N D O
FOREM TIRAR O MEL DAS COLMEIAS
NÃO SEREM MORDIDOS PELAS ABELHAS
Tomem o malvarísco, e untem bem as mãos e rosto com o sumo dessa
planta, depois untem-se com azeite que tenha servido já nas candeias, com que
se alumiam, que indo bem untado podem fazer o serviço sem receio, que elas
não farão mal algum. E se por acaso picarem alguma vez, untem bem a parte
com azeite que brevemente passará o efeito da picada.
SEG R E D O 8 º — P A R A E V I T A R
FORMIGAS, MOSQUITOS E PERCEVEJOS
Aquela parte onde quisermos que não entrem nela formigas, cercaremos
com um risco de carvão grosso; ou com cinza, ou com salmoura, ou com sal
molhado, que não passarão esse limite para dentro. E se puserem estas coisas
todas misturadas melhor será.
E para mosquitos não virem de noite à cama dependurarão à cabeceira
uns poucos de pregos, que não chegarão ali. E para percevejos, tome-se um
pouco de palha estrangeira, cozida num tacho, e botem-lhe uma quarta de
pedra-ume, e em fervendo tudo depois de a água estar fria lavem a barra da
cama, ou a quantidade que lhe pertença com a dita água. Na cama, ou casa se
criam percevejos, tomando um pimentão em um fogareiro que se queime posto
debaixo da cama todos os percevejos que houver onde chegar o fumo do
braseiro morrerão.
SEGREDO 9º — PARA SE CONHECER
A SARNA E O MEIO DE CURAR
Para se conhecer a doença da sarna, basta ver entre os dedos das mãos
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umas bolinhas, que estão quase constantemente, com comichões; mas com este
segredo, cura-se facilmente, dentro em pouco tempo: basta deitar sobre a parte
doente umas gotas de petróleo. Mas não se deve esfregar.
Deixe-se o óleo na parte durante uma hora. Continua-se no dia seguinte e
mesmo nos outros enquanto não sarar. Este remédio, que está ao alcance de
todos, é muito aprovado, e seu emprego tem sido adotado em imensos casos.
Um outro consiste em lavar com licor concentrado de alcatrão, porque
produz muito bom efeito.
SEGREDO 10º — PARA OS QUE COSTUMAM ENJOAR
Um verdadeiro serviço, que com este segredo presto aos viajantes,
principalmente aos embarcadiços. Dou-lhes a saber este segredo que de tanto
lhes pode servir: logo que o mal se começa a sentir e quando a cabeça anda à
roda e estômago enfraquecido, devem-se tomar 2 até 5 pérolas de clorofórmio,
que o mal desaparece logo. E não havendo as ditas pérolas, tomarão pérolas de
éter, que fazem o mesmo efeito. Tanto umas, como as outras vendem-se em
quase todas as farmácias, e o viajante se remunirá delas antes do embarcar
porque o enjoo é um mal que causa sempre a criatura que vai ao mar.
SEGREDO 11º — PARA CURAR OS CATARROS
QUE COSTUMAM NOS APOQUENTAR
Tenho observado já muitas vezes que este segredo dá sempre bom
resultado, nesta doença tão massadora, e custosa de sofrer. Para essa cura
tomem: essência de terebentina, que dá bom resultado; com um gosto
detestável é impossível o poder tomá-lo pura ou em mistura. Mas tomai em
forma de pérolas. As pérolas de terebentina tomam-se de 6 até 12 na ocasião da
comida. Dentro em pouco tempo, os catarros, mesmo os antigos melhoram e
curam-se. Por muito que explique, nunca são muitas as explicações, dignas do
elogio deste segredo.
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SEGREDO l2º — REMÉDIO PARA
PERCEVEJO, PIOLHOS E PULGAS
Para percevejos, tomem-se umas poucas de brasas em um testo, botam-selhe duas ou três pimentas vermelhas; posto o testo no meio da casa onde os
houver, ou morrerão ou se ausentarão.
Para os piolhos, basta o sumo da erva-santa, untar com ela três noites a
parte onde eles se criarem, que desaparecerão.
E para pulgas, na casa onde andarem, se botará um pouco de hortelã pela
casa, logo morrerão ou se ausentarão.
SEGREDO 13º — DAS VÁRIAS
QUALIDADES QUE HÁ NO OVO
A primeira propriedade que tem é ser a gema fresca e substancial, a clara
cálida e reimosa; cura humores viscosos.
O ovo é natural, porque se uma pessoa comê-lo, estando colérica e
agastada converte-se- lhe em outra tanta alegria. E tanto é assim, que escreve
um autor grave, que se um furioso continuar dois meses pela manhã, e à noite,
comendo duas gemas de ovos crus, tornará ao seu juízo; a razão é porque o
furioso é tão contente de si que imagina que tudo é seu.
Para mais, o ovo que é cozido, de modo que fique duro ou forte, é cálido;
em cru e frio, tão frio, que o bebendo pela manhã, no verão, vale contra a calma,
e contra a enfermidade do fígado.
SEG R E D O 1 4 º — P A R A E M P O U C O T E M P O
SE CURAR A DIARREIA E DISENTERIA
Contra esta terrível doença, tenho um segredo que vou dizer aos meus
121
leitores: as pessoas que depois de serem apoquentadas por este mal, fazem
remédios que de nada valem, por isso, se quiserem ver esse mal fora do corpo,
existe um meio de fazer que é aprovado: é o carvão do Doutor Belloc; tomar
cada dia de três a seis colheres de sopa deste carvão, que em pouco tempo
estarão livres do mal que os apoquentava.
A princípio, parece impossível que o carvão possa curar a diarréia, mas
por muitos está experimentado, e sempre com bom efeito, por isso vos
recomendo este segredo.
S E G R E D O 15 º — D E N O S S O S
CONHECIMENTOS, DA CAUSA E POR QUE
O S N A S C I D O S D O O I T A V O M Ê S NÃO V I V E M
O primeiro planeta, chamado Saturno, é de sua natureza frio, seco,
melancólico, terreno; por isso os Astrônomos o chamam infortuna maior porque
a qualidade, frio e seco, é contrária à criação de todas as coisas, suposto que seja
por esta razão inimigo da natureza humana enquanto terreno; acharam os
filósofos o primeiro mês de nossos concebimentos ser do domínio de Saturno, o
qual não prejudica o geral, porque ainda a matéria não tem vida, a qual nos
possa empecer.
O segundo mês é dedicado a Júpiter, que por ser de compleição sanguínea
e clima quente e úmido, o qual sendo bom, e que convém à criação das coisas
chamaram-lhe os Astrônomos fortuna maior; assim em seu mês a matéria se une,
incorpora e orna de espíritos vitais.
O terceiro mês é dedicado a Marte, que é de compleição colérica, quente e
seco; porque como a quentura é conveniente à criação das coisas, e por outra
parte a secura a impediria, chamaram-lhe os Astrônomos infortuna; assim no
terceiro mês a mãe sempre padece achaques porque a criatura os padece.
O quarto mês é dedicado ao Sol, que suposto que seja cálido e seco,
contudo é luminar maior; enquanto luminária, cria, aumenta a corrobora.
O quinto mês é dedicado a Vênus, que suposto seja de por si úmido,
fleumático e frio, tem de certa participação de quentura, com a qual favorece à
122
humanidade; por isso os Astrônomos a chamaram fortuna menor; porque ainda
que não seja favorável como Júpiter, é, contudo, ajudadora da criação de todas
as coisas, por isso em seu mês, a mãe e a criação estão livres de achaques.
O sexto mês é dedicado a Mercúrio, que é planeta natural, participante de
todas as complicações, pelo qual em seu mês suposto que a criatura está
perfeita, capaz de vida, contudo se neste mês nascer, morrerá logo, porque
como Mercúrio seja natural acomoda-se ao princípio que é Saturno, assim —
mata.
O sétimo mês é dedicado à Lua, que suposto que seja planeta- frio, úmido,
fleumático, e arenático, contudo enquanto luminaria é conveniente à criação de
todas as coisas, assim vemos que os nascidos de sete meses vivem.
O oitavo mês torna a dominar Saturno o qual, como temos dito, é
contrário a natureza humana; assim não temos visto até hoje que o nascido até
ao oitavo mês resista.
Ao nono mês torna a entrar Júpiter, o qual como temos dito é bom planeta;
em geral todos que nascem neste mês vivem.
SEGREDO 16º — PARA SABERMOS DOS MENINOS,
A ESTATURA QUE VIRÃO A TER DEPOIS DE GRANDES
O Sol divide os outros seis planetas em duas partes: três acima, três
abaixo; os três de cima chamam-se tardos, por serem mais vagarosos em seu
movimento, assim também são chamados masculinos. Os três debaixo são
chamados femininos-velozes, porque em seu movimento são mais ligeiros;
suposto que Mercúrio, que está abaixo por ser masculino, planeta natural e aplica-se com quem se acha, por fica entre a Lua e Vênus que são planetas
femininos, se conte também feminino como eles; assim pois, a Lua, Mercúrio,
Vênus, que estão abaixo do Sol, por serem velozes, representam os três anos
primeiros de nossa vida, também Marte, Júpiter e Saturno por serem masculinostardos, e estarem acima do Sol, representam o resto da nossa vida, pelo que,
quem quiser saber a estatura que qualquer criança virá a ter depois de grande,
na idade de três anos perfeitos, tomem-lhe a medida com uma fita que tiver da
ponta da cabeça até aos pés dobra-se, o que se achar, que faz a dita fita dobrada,
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será a estatura que a criança virá a ter depois de grande.
S E G R E D O 17 º — C O M O S E P O D E M
CONHECER AS ENFERMIDADES PELA URINA
Todos os que na Medicina têm escrito, fazem mais dúvida em saber
conhecer doenças, do que em aplicar os remédios, e a razão é que mal se pode
aplicar medicamentos salutíferos, à doença que não é conhecida. É porque nem
todos os médicos sabem este grande fundamento. Dos mesmos autores de Vila
Nova tiramos a receita seguinte, que é tão boa, como nela se verá.
A urina de cor rosada demonstra saúde, estado de corpo são e boa
digestão.
Se a urina for menos rosada suposto que demonstra saúde, com tudo isto
não é tão perfeita como se propriamente fora rosada.
A urina de cor de cidra, quando o círculo dela é da mesma cor, é boa.
Também o é, ainda que não seja de todo cor de cidra.
A urina de cor vermelha significa febre simples que dura 24 horas; salvo se
o doente cuja tal urina for urinar amiúde, que é sinal de febre continuada.
A urina acesa de cor de sangue demonstra sangue sobejo; logo é bom
sangrar-se, salvo se estiver a Lua em signo Feminis, que domina nos braços, pois
será prejudicial a sangria.
A urina de cor verde quando sai depois de vermelha, demonstra
inflamação; é perigosa e quase mortal.
A urina de cor vermelha escura demonstra declinação na doença.
A urina vermelha, misturada com algum pouco de negro, demonstra
esfalfamento e outros vícios do fígado.
A urina de cor amarela demonstra fraqueza de estômago, impedimento de
segunda digestão.
A urina branca de cor da água da fonte demonstra aos sãos ter tumores
crus: nas febres agudas é sinal de morte.
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A urina cor de leite com á substância espessa, se for de mulher não é tão
perigosa como a do homem pela indisposição da madre. E se acontecer em
febres agudas é sinal de morte.
A urina de cor azulada demonstra multidão de humores corruptos no
flagmático e hidrópico.
A urina negra pode acontecer algumas vezes que a natureza é gasta ao
doente, o calor natural neste caso é mortal, em outra maneira pode acontecer
expulsão de matéria venenosa que sai pelas vias urinárias.
A urina que traz luz como lanterna, denota indisposição no que tiver
quartas.
A urina cor de açafrão, quando está espessa, meio negra, que tem mau
cheiro e alguma espuma, demonstra icterícia.
A urina rosada, ou meio rosada, que na região inferior traz umas
resoluções redondas, brancas em cima, e um tanto grossas, é sinal de febre
héctica.
A urina clara no fundo do urinol até ao meio dela, e a de cima espessa,
demonstra dor e inchação nos peitos.
A urina escumosa-clara, quase meio vermelha, demonstra maior dor da
parte direita do que da esquerda. Porém, se a urina for escumosa-branca,
demonstra maior dor na parte esquerda que na direita.
Se o círculo da urina, não bolindo com ela, parecer que bole de si mesmo,
demonstra decurso de fleuma, nos outros membros.
A urina espessa de cor de chumbo, negra da região do meio, demonstra
paralisia.
A urina espessa de cor de leite, pouca em quantidade, grossa com algumas
espumas na parte inferior do urinol demonstra dor de pedra, se for sem espuma
espessa de cor de leite podre, demonstra ventosidade.
A urina espessa de cor de leite, em muita quantidade, demonstra gota nas
partes inferiores.
A urina amarela, na parte inferior, demonstra nos homens dor de rins, e
nas mulheres dor da madre.
Na urina em que aparecem alguns pedaços de leite, se for pouco turbada,
demonstra ruptura da veia junto aos rins e da bexiga.
125
A urina que no fundo do urinol mostra sangue podre demonstra podridão
dos rins e bexiga; se juntamente toda a urina estiver tal, demonstra podridão de
todo o corpo.
A urina aonde se vêm pedaços estreitos compridos, demonstra
desolamento da bexiga..
A urina que sai devagar, cheia de argueiro como faz o Sol, demonstra
pedra nos rins.
A urina branca sem febre demonstra nos homens dor de rins, nas
mulheres estarem prenhes.
A urina de mulher prenhe de um mês até três, deve ser muito clara,
branca; se for de quatro meses há de ser parda, branca e grossa no fundo.
A urina espumosa nas mulheres demonstra ventosidade no estômago,
ardor no ventre até à garganta.
E devem entender que as significações das urinas são mais válidas vistas
logo, do que depois que arrefecem, porque mudam a substância, mormente no
tempo de inverno, que com o frio se coalharão.
SE G R E D O 1 8 º — P A R A Q U E U M
CAVALO PAREÇA MANSO, SENDO SÃO
Secretamente arrancar-lhe-á uma seda do rabo dobrada, atá-la-á entre o
casco e os cabelos onde chamam os machinhos, ficando metido entre a seda e os
machinhos um grão ou dois de cevada estando bem apertada, farão andar o
cavalo que ele irá a mancar de um pé ou de uma mão, porque o grão de cevada
causa-lhe incomodo nas juntas das pernas e o animal mancará porque não pode
deixar de fazer. Depois deste segredo assim feito, tirarão o grão de cevada que o
cavalo tem, que ficará andando direito e causará admiração a quem o viu
manco e em pouco tempo andar são.
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SEGREDO 19º — PARA REFINAR PÓLVORA
Muitos costumam refinar a pólvora com limão e outras coisas, mas em vez
de refinar quase que a estragam porque à prova disto, tenho visto fazer uso de
pólvora ordinária; o melhor segredo para a refinar é, tanto de verão como de
inverno, borrifá-la com aguardente muito fina, secando-a depois, que este
espírito dá-lhe toda a força precisa para que ela produza bom efeito. Sei isto
porque a experimentei e tirei bom resultado.
SEGREDO 20º — PARA QUANDO UMA
MULHER PARIR SE O PARTO SEGUINTE,
SE HOUVER, É MACHO OU FÊMEA
Quando uma mulher parir, se quiserem saber o que a mesma mulher
parirá no parto seguinte, pela criança que teve o podem conhecer; nada mais é
preciso do que ver a coroa do nascido se o redemoinho que traz de cabelos
estiver bem no meio da cabeça, sendo um só redemoinho, o parto que se seguir
será macho, e sendo dois os redemoinhos, ou sendo um só e declinar para
qualquer dos lados, o parto que seguir será fêmea.
SEGREDO 21º — PARA SE SABER
DAS VIRTUDES DA ARTEMÍSIA
A artemísia é urna erva, que quem fizer um molhinho dela e a trouxer ao
pescoço, junto ao coração terá mais ânimos e maiores forças. E esta erva, moída
e bem desfeita, deitada em um pouco de vinho e bebida para a pessoa que
estiver cansada dá-lhe logo muito mais forças por ser uma bebida muito
substancial; qualquer caminhante que fizer uma jornada a levará também
consigo porque tem a virtude de não se cansar tanto e andar mais caminhos,
que essa virtude é um dos astros que a concede a esta erva, assim como também
127
serve para espantar as moscas de qualquer casa, se a cozerem com leite de
cabras, e depois de bem cozidas untarão as paredes com esse leite, que elas por
causa do cheiro fugirão.
SEGREDO 22º — PARA AZIA
A azia, além de ser uma moléstia pouco impertinente quando ataca a
criatura, causa-lhe um pouco de desarranjo na garganta, e é o que basta para
nos incomodar, e como não há quem goste de incômodos, temos um segredo
pelo qual em um instante fiquemos aliviados da garganta; é o segredo
econômico, barato, pois se algum de vós tiver azia é só pegar umas pérolas de
aniz ou alcaçuz e caso não goste deste objeto dou-lhe também por aprovado:
comerão amêndoas amargosas que também ficam livre desse mal.
Assim tenho feito sempre e encontrei bom resultado, por isso destes dois
segredos o que primeiro me aparece, é desse que eu faço uso.
SEGREDO 23º — PARA OS MENINOS
P E Q U E NO S S E C R I A R E M , D E M O D O Q U E
SEJAM MAIS ENCORPADOS E MAIS FORTES
Muitos homens ficam pequenos de corpo e de pouca força, porque as
mães e amas lhes tiram os braços de fora antes do tempo, e assim como são
tenros bolinhos, com os braços se relaxam os membros e assim ficam mais
fracos e debilitados, por isso quem quiser criar a criança, de modo que fique
largo das espáduas e com muita força nos braços não lhes deve tirar fora, quero
dizer vestidos, senão de três meses por diante, assim ficarão sendo mais
corpulentos e fortes porque se vão criando com todas as forças da sua natureza.
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S E G R E D O 24 º — C A U S A D A S N O S S A S
ENFERMIDADES E COM A AJUDA DE
NOSSO SENHOR AS PODEMOS REMEDIAR
As quatro compleições de que fomos formados conosco, assim como uma
mesa com quatro pés, que sendo todos iguais e direitos, em plano, está quieta e
segura, porém, se algum deles se levanta ou quebra e é mais comprido, isto só é
bastante para que os outros três com a mesa venham ao chão, da mesma
maneira a cólera, sangue, composto estão iguais conforme à saúde do corpo,
porém, tanto que se alguma delas se altera ou sobrepuja às outras; causa no
corpo a doença conforme sua qualidade. Porque da cólera se causam
taberdilhos, frenesis malignos e outras enfermidades semelhantes.
E do sangue se geram dores de costas, de cabeça, pontadas e outras
semelhantes da fleuma, dores de tripas, umidades no estômago, dores de
madre, cólicas, apostemas e outras semelhantes. E da melancolia se geram
tristezas, humores viscosos, trêmulos, gotas e outros semelhantes.
É suposto que, segundo nossa santa fé aos sonhos, não se pode dar
crédito, por não terem razão nem fundamento algum, são somente fantasmas
que se representam no entendimento, estando uma pessoa dormindo.
Todavia, se alguma das quatro compleições se altera do corpo, causa que
os tais fantasmas tenham alguma correspondência e qualidade da dita
compleição, assim sabendo que seja se pode remediar com defensivos, que a tal
compleição alterada aplicam.
Pelo que se a pessoa sonhar com o fogo ou arma e outras coisas que
incitam a cólera, é sinal que a cólera predomina, segundo ela se lhe pode dar
remédio.
E se o sonho for de pescaria ou embarcações, coisas que pertençam à água,
predomina a fleuma.
E se sonhar com prisões, mortes, ou outras coisas que incitem tristezas,
predomina melancolia conforme ela se lhe aplicará remédio.
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SEGREDO 25º — DO TEMPO QUE É SALUTÍFERO CADA
UM DORMIR SEGUNDO A COMPLEIÇÃO QUE TIVER
Temos a notar que as compleições atrás declaradas têm aqueles efeitos
enquanto distintas, mas pela mistura delas formam outras quatro compleições,
que são as do temperamento, coléricos, sanguíneo, fleumático, melancólico. Da
do temperamento não trataremos, porque não é possível havê-la, que onde há
temperamento não há alteração e não pode haver doença. Assim também se há
de notar que o dormir parte mui essencial para o cozimento do estômago;
porém, convém a cada um para sua saúde tomar o sono conforme a qualidade
de sua compleição. Porque os puramente coléricos pela muita quentura que
tem, basta-lhes cinco a seis horas; os coléricos sanguíneos bastam-lhes cinco e
meia a seis e meia; os puramente sanguíneos bastam-lhes seis e sete; os
fleumáticos, bastam-lhes sete e meia a oito e meia; os fleumáticos melancólicos
bastam-lhe oito a nove.
E tudo o que passa desta regra é prejudicial à saúde, porque tanto se pode
por carta de menos, porque assim como não dormir inquieta o corpo, dói e
debilita, assim o dormir muito causa gota e outras enfermidades. Note-se
também que os coléricos pela muita quentura que têm, lhes é prejudicial à
saúde sofrer fome; mais ou menos, comer é melhor.
S E G R E D O 26 º — P A R A Q U E A S M U L H E R E S
SEM POSTURA PAREÇAM MELHOR E
TENHAM MELHOR CARA COM MENOS CUSTO
Entre outras coisas que entre nós há malfeitas são duas, as quais nos dão
notável prejuízo à saúde; a primeira é quererem os homens mostrar que calçam
pequeno pé, mandando fazer menor sapato do que o pé, assim continuando
vem a ser gostoso; por conseguinte as mulheres que usam posturas perdem os
dentes, mais depressa se rugam e outras muitas desgraças se seguem daqui.
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S E G R E D O 27 º — P A R A T I R A R N Ó D O A S D E A Z E I T E E
PINGOS DE CERA DE TODA QUALIDADE DE PANOS
Para tirar nódoas de azeite amassarão um bocado de barro vermelho, que
não fique muito espesso, e da parte do avesso que quiserem tirar as nódoas,
cubra-se toda a nódoa com este barro, e da parte direita se ponha sobre a nódoa
uma folha de papel alinhavada, de modo que se chegue o papel ao pano, e
posto a enxugar até o barro estar bem seco, logo se esfrega, e, tirando-se-lhe o
papel, ficará a nódoa fora. Este remédio é bom principalmente para pano de cor;
é bom lavar em água de pescada.
E também para tirar a nódoa do pano se cobrirá a nódoa com sabão e por
cima do sabão botar um pouco de sal pondo ao sol por espaço de um quarto de
hora e lavando a nódoa, logo se retirará.
Para tirar pingos de cera, estando em seda, tosta-se uma fatia de pão trigo,
e assim quente se põe em cima da cera que a atrairá a si.
Se for em pano de cor, bota-se um testinho no lume, e estando bem quente
se tira, embrulha-se esta à cera, e assim logo sairá e o pano ficará limpo.
SEGREDO 28º — PARA FAZER ACREDITAR
AOS PRESENTES QUE CONHECEMOS AS
CARTAS DE JOGAR PELO CHEIRO
Há de vir a terceira pessoa, a quem tenhamos dado conta disto, logo
faremos por a mesa e diremos que nos tapem os olhos, e nos sentaremos, e
defronte de nós a pessoa em quem nos fiamos, e logo pediremos cartas,
perguntando que é o que querem que ali se tire, se a primeira de quatro ou o
que quiserem, logo indo tirando carta, e cheirando cada uma delas pelas costas
de modo que o que há de avisar veja que cartas são, assim tirando-as iremos
pondo uma por uma na mesa entanto que nos tem pedido, a pessoa a que temos
comunicado o segredo, porá a pé sobre o nosso, assim poremos aquela carta de
parte e iremos continuando até tirar todas as pedidas, da mesma sorte que
acima fica dito, e quem estiver fazendo este segredo acautelar-se-á para os
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assistentes não darem fé do que se está fazendo por baixo da mesa.
SEGREDO 29º — VIRTUDES DA PELE
QUE A COBRA COSTUMA DESPIR
A pele da cobra queimada e posta em cima de alguma ferida, a deixa sã; e
se houver bico, ou ferro metido dentro da carne costuma atraí-lo a si, até o tirar
fora.
Notem uma e outra vez, advirtam, que quem trouxer consigo os pós desta
pele de cobra será preservado de lepra, e de qualquer peçonha. E saibam que os
ditos pós têm grandes virtudes e muitas propriedades: porém, há de se queimar
a dita pele, estando o Sol no signo de Aires que é de 12 de março até 26 de abril.
SEGREDO 30º — PARA CONSERVAR A CASTIDADE
E REPRIMIR OS ESTÍMULOS DA CARNE
Escreve Macênico, que o sumo da erva chamada sagunta, bebido em
jejum, reprime os estímulos da carne, e as suas folhas sobre os genitais, diz que
têm virtude de aplacar os incentivos da luxúria.
Avicena escreve que a arruda comida, mitiga os ardores da carne no
homem; e a mulher pelo contrário, porque os aviva com excesso.
O mestre João diz que o orjavão tem mui grandes virtudes e eficácia para
reprimir a luxúria, porque aplicado aos ombros mitiga e aplaca grandemente os
estímulos da carne. Diz mais o mesmo autor que o sumo do orjavão bebido
causa impotência a quem o toma, por espaço de sete dias. Escreve Dioscórides
que a fruta que produz o cedro, pisada, ou o sumo de suas folhas postos nos
genitais, desterra a apetência de atos venéreos. Michael Escoto diz com muito
fundamento que todas as cousas agras, frias e azedas se acomodam bem com as
castidades, conservando-as; e pelo contrário as coisas doces, quentes e doríferas
as destroem e estragam de todo. Porém, falando espiritual e catolicamente, o
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que mais conserva e defende a castidade é o jejum, a disciplina e a oração
frequente e com muita devoção.
S E G R E D O 31 º — P A R A C O N S E R V A R A S C A M A S S E M
PERCEVEJOS, OS APOSENTOS SEM PULGAS, AS CASAS
SEM MOSCAS, E AINDA SEM MOSQUITOS NEM RATOS
Tomarão cola feita de retalhos de couro, e desfeita em água ao fogo, que
fique bem clara e rala, lhe misturem azeite, e assim quente, molharão e
esfregarão as tábuas e pés do leito, de sorte que toda a madeira fique lavada
com este cozimento, e resultarão dois efeitos muito bons. O primeiro será que o
leito todo parecerá de nogueira. E o segundo, que não se criarão nele percevejos, como tenho bem experimentado.
SEGREDO 32º — CONTRA PULGAS
Ponham uma panela de água ao lume, e lançar-lhe-ão dois vinténs de
solimão, e deixando-a ferver bem, borrifarão o aposento depois de bem varrido,
e também por certo que morrerão, e se não criarão outras. Mas isto se há de
fazer duas vezes na semana.
SEGREDO 33º — CONTRA MOSCAS
Tomem um pouco de mel e farinha, mexida com um pouco de água clara,
lhe lancem arsênico ou rosalgar, e ponham esta mistura em caqueiros, aonde
cheguem as moscas, e ver-se-á quantas vão caindo, porque, em provando, ficam
mortas. O mesmo efeito faz o louro e pimenta moída e desfeitos em água e
posto em algumas vasilhas pela casa; mas vigiem que não chegue cão ou
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galinha a provar, porque morrerão.
SEGREDO 34º — CONTRA MOSQUITOS
Queimarão raminhos rústicos no aposento onde houver mosquitos, e logo
cairão mortos ou não lhe hão de chegar os mosquitos ao rosto, na qual
estiverem raminhos rústicos de infusão
Em outro lugar se dirão outros segredos mais acerca disto mui notáveis e
dificultosos de crer e, portanto cito ali os autores que o dizem.
SEGREDO 35º — CONTRA RATOS
Façam por apanhar um rato vivo, já grande ou mediano e façam uma das
duas coisas. Ou lhe esfolem a cabeça e lhe ponham na abertura da pele um
pouco de sal moído e deixem-no vivo, que ele com o ardor da raiva afugentará
os outros; ou façam outra coisa, se lhes parecer mais fácil, e é atar ao pescoço do
rato uma cascavel pequena, que tenha o tinido muito vivo, com o que fará fugir
os outros; e assim ficarão livres desses inimigos caseiros, poupando gastos e
moléstias. Outro segredo melhor e mais fácil. Tomarão gesso novo, e passando
por peneira o misturarão com queijo ralado sutilmente, e misturado tudo o ponham em diversas partes da casa, e será coisa entretida ver os ratos que comem
da iguaria andarem inchados pela sala, e se tiverem água que beber, morrerão
mas depressa, pague o gesso tanto que chega à água ou coisa úmida, logo se
torna em massa, e é o segredo sem perigo.
SEGREDO 36º — PARA MULTIPLICAR A CERA
Tomarão uma arroba de sebo de bode e uma dúzia de ovos de ema, só as
gemas, meio cozidas, desfeitas e bem batidas, se lancem no sebo com outra
134
arroba, e tudo posto ao fogo se mexerá, até que fique derretido e bem
misturado; e ficará tudo convertido em cera muito amarela para se fazer dela
toda a obra que quiserem.
SEGREDO 37º — PARA DEIXAR DE BEBER
Diz Filônio, que, para se não embebedar, são bons os bofes de ovelhas
assados e comidos antes de jantar, ou que, antes que bebam vinho, comam
verças com vinagre; e deste modo lhe não fará mal o vinho, posto que bebam
mais do ordinário. Porém, o melhor remédio para se não embebedar é o que eu
uso há setenta e três anos, que hoje faço de idade, e nunca bebi vinho, e acho
tanto regalo na água, que é para mim a melhor iguaria que vejo na mais
esplêndida mesa: e oxalá se praticará isto que digo, que o vinho se havia de
vender na botica e usar por medicina. Se alguém reconhecer o descrédito que
causa o vício da destemperança no beber, e quiser livrar-se de se embebedar
aborrecê-lo de todo, note o que escreveu Plínio, e é que metam duas enguias
vivas e grossas dentro em um cântaro de vinho, e que depois de estarem
afogadas, deem este vinho aos que se costumam embebedar, e virão a aborrecer
o vinho de todo; porque causa um raro tédio e aversão. Para o mesmo, serve a
bretônica feita em pó e bebida.
SEGREDO 38º — IMPORTANTE PARA A MEMÓRIA
Se quiserem aumentar a memória, tomarão a banha do urso e cera branca,
e derreterão a cera com a banha, sendo esta dois tantos de cera; tomarão a erva
que se chama Valeriana, e outra que chama Eufrágia, frescas ou secas, picadas
muito bem, as misturem com a banha e cera derretida, e tornando ao fogo,
deixarão ferver até que fique grosso, mexendo com um pau, e com este
unguento untarão o toutiço e testa, de quando em quando, e se aumentará
notavelmente a memória, e é provado.
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SEGREDO 39º — DOS CASADOS QUE NÃO TÊM FILHOS
Para saber de dois casados que não têm filhos, em qual dos dois está o
defeito natural, tomem a urina de ambos, marido e mulher, cada uma em
vasilha, e em cada qual delas lançarão um pouco de farelo de trigo, e naquela
urina em que se criarem bichos, está o defeito de não poder procriar ou
conceber.
SEGREDO 40º — PARA VOZ BOA E CLARA
Tomarão a flor do sabugueiro, secando-a ao sol, moído, lançarão os pés
em vinho branco e os tomarão em jejum e causará voz boa e clara.
O sumo do aipo e orvajão bebido aclara a voz; mas advirtam que o sumo
do orvajão resfria os genitais.
SEGREDO 41º — PARA QUE SE COZA A CARNE
NA PANELA POSTA AO LUME EM TODO O DIA
Tomem uma pasta de chumbo delgado, pondo-a no fundo da panela, não
se cozerá a carne por mais fogo que tenha em todo o dia, e é provado.
SEGREDO 42º — PROVADO
CONTRA O MAL DOS QUEIXOS
Tomem duas dúzias de folhas de hera, outras tantas de sabugo e outros
grãos de pimenta, e ponham tudo a ferver em vinho bem tinto e velho, com um
pouco de sal, e depois de ferver bem, tirado do fogo, tomarão bochechos de
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vinho quente, fazendo-se três ou quatro se tirará a dor sem falta.
SEGREDO 43º — PROVADO QUE NÃO
NASÇAM NEM CRESÇAM CABELOS
Rasparão muito bem com uma navalha os cabelos que quiserem, e untarão
aquele lugar com goma arábica, desfeita com o sumo de erva molerinha ou
sangue de morcego, que é melhor e não lhe crescerão mais. O mesmo efeito fará
o esterco de gato desfeito com vinagre.
SEGREDO 44º — PARA QUE A BARBA E
CABELOS SE CONSERVEM SEMPRE NEGROS
Mandarão fazer um pente de chumbo muito vasto, com o qual pentearão a
barba e cabelos amiúdes e sempre se conservarão negros.
SEGREDO 45º — PARA CONSERVAR
A BARBA E CABELOS LOUROS
Tomarão folhas de nogueira e casca de romã, destilado tudo por
alambique de vidro, e com esta água lavarão muito bem, por quinze dias, a
barba e cabelos, conservar-se-ão louros.
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SEGREDO 46º — PARA QUE A BARBA E
CABELOS BRANCOS SE TORNEM NEGROS
Tomem folhas de figueira negra bem secas e feitas em pó misture-as com
azeite de macela galega, e com isto untarão os cabelos e barbas muitas vezes e
se farão negros.
SEGREDO 47º — PARA QUE AS
UNHAS E CABELOS CRESÇAM POUCO
Cortarão as unhas e cabelos em minguante da Lua, conta que se ache a
Lua no signo de Câncer, Peixes ou Escorpião, e crescerão muito pouco.
SEGREDO48º — PARA QUE AS UNHAS
E CABELOS CRESÇAM DEPRESSA
Cortarão as unhas e cabelos em crescente de Lua no signo de Touro,
Virgem ou Libra, e verão, como tornam a crescer depressa.
S E G R E D O 4 9 º — AVI S O I M P O R T A N T E
E PROVEITOSO PARA OS LAVRADORES
Para que as sementeiras saiam boas, e a colheita melhor observará o
lavrador, quando semear, que seja em Lua nova, e que se ache no Signo de
Touro, Câncer, Virgem, Libra ou Capricórnio, e achará uma grande e rara
diferença na seara e na colheita.
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SE G R E D O 5 0 º — P A R A S E C A R O
LEITE DOS PEITOS DAS MULHERES
Notem este segredo: as mulheres para se lhes secar o leite dos peitos, por
mais cheios e duros que os tenham, tomarão as folhas de sabugueiro e as
ponham estendidas e enxutas sobre os peitos, e logo se irão abrandando e
secando; e é provado muitas vezes. Outro segredo muito importante para o
mesmo, e é que tomem uma erva que se chama melcoraje, e pondo-a ao fogo em
uma tigela com um pouco de azeite rosado, assim que estiver quente a ponham
nos peitos cobrindo-os bem com panos em cima, e aos três dias não sentirão
leite nem moléstia alguma; e também é provado e experimentado muitas vezes.
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140
PARTE VI
PODERES OCULTOS
141
142
CARTOMANCIA, ORAÇÕES
E ESCONJUROS
I
COMO DEUS PERMITE QUE O
DEMÔNIO ATORMENTE AS CRIATURAS
1º) É para que um homem, obstinado em culpas, sirva de terror e exemplo
aos outros homens.
2º) É para que os que não são obstinados, sejam só castigados neste mundo
pelas suas culpas.
3º) É para que o homem, vendo-se castigado pelo demônio, fuja de
ofender a Deus.
4º) É para castigar alguma culpa leve, da qual se quer satisfazer logo a
justiça de Deus.
5º) É para que os que estão em graça não descaiam dela.
6º) É para que se arrependam os pecadores vendo com seus olhos o açoite
da justiça divina.
7º) É para manifestar o poder de Deus.
8º) É para mostrar a santidade de algumas criaturas.
9º) É para aumentar os merecimentos às criaturas viciadas.
10º) É para purificar mais os seus escolhidos.
11º) É para que as criaturas tenham o purgatório neste mundo, e se
confundam, vendo que dos seus males resultam às criaturas tantos bens.
143
II
NO M E S D O S D E M Ô N I O S Q U E
ATORMENTAMASCRIATURAS E POR
Q U E D E U S L H E C O N S E N T E Q U E E L E S AS
MORTIFIQUEM — QUANTAS CASTAS HÁ DE
DEMÔNIOS OU CRIATURAS VICIADAS
Há obsessos, possessos e malfisiados. Destes, uns são malfisiados e
possessos, outros são malfisiados, possessos reptícios fitônicos, lunáticos e
fascinados.
Os obsessos são aqueles que o demônio atormenta, estando da parte de
fora.
Os possessos são aqueles que têm o demônio dentro do corpo.
Os malfisiados são aqueles que o demônio apoquenta ou molesta com
dores e moléstias, por concurso de alguma feitiçaria.
Os malfisiados possessos são os que estão enfeitiçados e juntamente
possuídos do demônio. Os malfisiados obsessos são aqueles a quem o demônio
persegue de fora.
Os reptícios são os que o demônio suspende ou arrebata pelo ar, que são
os que têm pacto. Os fitônicos são os que têm espírito que adivinha.
Os lunáticos são os que nos crescentes ou minguantes de lua são
atormentados.
Os fascinados são aqueles a quem o demônio move a obra ou falam sem
que saibam o que dizem.
144
III
MO D O D E P R E P A R A R U M A P E N E I R A
PARA ADIVINHAR, COMO FAZIA SÃO
CIPRIANO DEPOIS QUE VIROU SANTO
Pegue-se numa peneira, crava-se-lhe uma tesoura no arco, que fique
bastante aberta, depois Pegue-se com os dedos (isto é, um de cada lado, cada
um com seu dedo), em seguida reze-se o credo-em-cruz sobre ela, ambos os que
querem adivinhar, dizendo depois: “Peneira, que generais todo o pão da
humanidade, peço-vos eu, Senhor, pelas três pessoas distintas da Santíssima
Trindade, que me não falteis à verdade, para gelão, matão, vais de pauto a
chião, a molitão, possa esperar para entregar ao príncipe Lúcifer.”
Depois de ter dito estas palavras, falai para a peneira deste modo: “Quero
que me digas se isto é verdade ou se eu tenho de ser casado: se tenho, vira-te
para acolá se não tenho, vira-te para ali.” Enfim, perguntai o que desejais saber;
só não adivinha o que não está para acontecer.
IV
PARA ADIVINHAR, COM
SEIS PAUS DE ALECRIM
Pegais em seis pauzinhos de alecrim, e, à noite, ao deitar, fazei tiras de
papel; embrulhai-os nas ditas tiras, de maneira que se juntem as pontas do
papel, depois dobrai-os para trás, de maneira que fique o pauzinho bem
embrulhado; em seguida pedi a São Cipriano desta forma:
“Meu milagroso São Cipriano, eu vos peço, por aquela hora em que
tivestes o arrependimento, que fizestes logo com que o demônio vos entregasse
a escritura que lhe tínheis feito da vossa alma, pois eu vos peço, meu milagroso
145
São Cipriano, que me declareis se eu tenho de fazer isto ou aquilo.”
O segredo deste mistério só São Cipriano o sabe: se os paus saírem de
dentro da dobra e se mudarem sem que se rompa o papel, é verdade o que se
lhe pediu; deve-se, porém, deixar ficar até pela manhã.
Note-se que os paus devem ser pequenos.
V
MO D O D E D E I T A R A S C A R T A S T A L
QUAL AS DEITAVA SÃO CIPRIANO
SIGNIFICAÇÃO DAS CARTAS
O UROS :
O às, uma prenda.
O dois, brevemente.
O três, com alegria.
O quatro, igreja.
O cinco, novidade.
O seis, dinheiros pequenos.
O sete, dinheiros grandes.
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E SPAD AS :
O ás, afirma.
O dois, cortando.
O três, más palavras.
O quatro, na cama.
O cinco, doença.
O seis, desvio.
O sete, paixão d'alma.
C OPAS :
O ás, fandango.
O dois, uma carta.
O três, boas palavras.
O quatro, por à porta da rua.
O cinco, lágrimas.
O seis, por caminhos.
O sete, às horas de comidas e bebidas.
P AUS :
O ás, por noite.
O dois, a caminhos vagarosos.
O três, a caminhos breves.
O quatro, nesta casa.
O seis, zelos.
O sete, com muito gosto.
147
PARA SE SABER COMO SE HÁ DE LER O QUE
AS CARTAS REVELAM A QUEM AS CONSULTA
A dama de espadas é uma mulher de fama ou de mau signo. O rei e valete de
espadas são o corpo e pensamento de um homem de justiça. Se uma mulher quer
consultar as cartas deve ser representada pela dama de ouros, e o rei e valete do
mesmo naipe representam o cargo e pensamento do indivíduo a quem a
consulente quer saber. Se é homem, deve ser representado pelo rei e pelo valete
de ouros, e a pessoa consultada deve ser representada pela dama do mesmo
naipe. As outras figuras servem para marcar qualquer pessoa que tenha de
figurar nesta nigromancia, entendendo-se que os valetes representam os
pensamentos dos indivíduos marcados nos reis do mesmo naipe.
MANEIRA DE DISPOR AS CARTAS
Depois das cartas baralhadas e partidas em cruz, devem estas ficar em
cinco porções iguais, em linhas, de três porções, ficando por esta forma em cruz,
e será a operação acompanhada do responso, tal qual como São Cipriano fazia
para que elas não lhe falhassem no que desejava saber.
Suponhamos que é uma namorada que consulta as cartas, e que elas,
depois de baralhadas e espalhadas, saem da forma seguinte:
1.ª linha — As, 7 de paus, valete de ouros, dama de ouros, às de copas, 2
de paus, 5 de ouros e de espadas.
2ª linha — Rei de paus, valete de espadas, 2 de espadas, rei de espadas, 7
de espadas, dama de copas, rei de copas e 6 de paus.
3ª linha — 5 de ouros, 5 de copas, 2 de paus, 7 de copas, 5 de espadas, 4 de
paus, ás de paus e ás de espadas.
4ª linha — Valete de paus, 4 de espadas, rei de espadas, 3 de espadas,
dama de paus, rei de copas, 6 de espadas e 6 de copas.
5ª linha — 6 de ouros, 5 de paus, 4 de ouros, 2 de ouros, ás de copas, rei de
ouros, 3 de copas.
148
Se as cartas saírem conforme vos acabamos de ensinar, deveis lê-las desta
forma; mas se elas não representarem assim, deveis estudar como se hão de ler,
porque sem que vós saibais o que elas significam, não podereis tirar delas fruto
algum.
Começaremos agora a tomar as cartas das duas carreiras dos lados, em
forma de cruz, pelo três de copas, e ás de ouros, e tomando verdadeiro sentido
nelas, vê-se que nos dizem estas duas palavras: uma prenda com alegria e noite de
gosto. “Este senhor com o pensamento nesta senhora e com idéias que traz para
ela, com um papel por igreja a caminhos breves, com cinco sentidos em
dinheiros grandes e dinheiros pequenos, vem pela porta da rua.
Já se vê que tem de casar breve com o indivíduo acerca do qual consultou,
provindo desse consórcio boa fortuna, tendo de receber antes uma renda que
ele lhe oferece. Principiaremos com a mesma operação e pelo mesmo modo nas
outras mesmas carreiras, colhendo delas o mesmo sentido que nos dão;
chegando à carreira do meio vemos que há uma novidade, porque não tem
figura; quando isto acontece, podemos pedir a esta novidade qualquer cousa, por
exemplo: a senhora, com fidelidade; passará então as 32 cartas já consultadas e
baralhadas.
No fim disto, deixai estar as cartas na mão até que digais o responso de
São Cipriano; depois de acabardes, estendereis em seguida 21 cartas com as
costas para cima sobre as 8 de carreira do meio, e põe-se ao lado desta carreira 8
cartas a duas em cruz, de modo que fiqueis com 3 cartas na mão; se estas duas
não dizem nada, começai a tirar as 8 dos lados em cruz e a ler o que elas dizem:
depois passai à carreira das 21, tirando uma de cada extremidade, e assim até
acabar. É preciso saber-se que se sair o 4 de ouros é um anúncio de alegria, que a
pessoa brevemente saberá.
Consta-nos que há por aí muitas pessoas que deitam cartas; mas de que
serve isto, se elas não possuem o livro que li, intitulado O Manual da Cartomante
escrito por Yllema Hormazabal, a maior cartomante que já houve no reino da
Galícia, para estudarem e decorarem o responso que devem dizer; tal qual
como dizia São Cipriano?
Eis como São Cipriano inventou as cartas: Este santo, depois de se
arrepender da má vida que tinha, foi para longe da sua pátria e por lá andou
sete anos. Como esse santo tinha muito amor à sua querida esposa e filhos e não
sabia o que seria feito de seus pais, resolveu-se a inventar as cartas. Dizia o
149
santo: “Eu, quando era senhor das astúcias de Satanás, deitava as cartas pelo
poder do meu senhor que era Lúcifer, porém, agora não sei o que hei de fazer.”
Ficou pensativo e à noite foi-se deitar. Apareceu-lhe um Anjo do Senhor e
disse:
— Cipriano, que andas tu a pensar? Porventura esse maldito que tu
deixaste, tem mais poder do que teu Deus, que manda sobre tudo sob o Sol? A
tua fé ainda não é verdadeira? – E o anjo fugiu.
São Cipriano acordou e disse: Esta noite tive um sonho muito agradável;
pois quem é que tem mais poder do que Deus? Ainda me lembro quando um
dia eu mandei cair fogo do céu à terra pelo poder de Lúcifer.
E uma mulher só com dizer – Jesus! Cessou o fogo de cair. Grande é o
poder de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Estava pensando nisto e disse: Pois vou deitas as cartas em nome de Nosso
Senhor Jesus Cristo; e assim fez.
São Cipriano, de grandes virtudes, fez as cartas para que elas lhe
adivinhassem tudo que queria; por isso todo aquele que assim não fizer, não lhe
valerá nada o deitar as cartas. Se o fizer é por impostura.
Cipriano pegou no baralho das cartas e foi passá-las por sete pias de água
benta, cada uma na sua igreja, depois disto disse sobre elas o credo-em-cruz,
isto é, fez nas cartas cruzes com a mão direita, em seguida passou-as pelas
ondas do mar, sete vezes embrulhadas, e não se molharam.
Depois disto adivinhava como passava a sua família, e muitas outras
coisas que ele desejava.
IV
RE S P O N S O Q U E S E D E V E D I Z E R
QUANDO SE ESTA A DEITAR AS CARTAS
Oh meu amantíssimo Senhor, vós, que sois o Deus do universo, permiti
150
que estas cartas me declarem o que eu quero saber, porque, Senhor, não tenho
mais a quem pedir: “O Senhor seja Comigo e me ajude e me socorra. Maria
Santíssima, minha mãe, socorrei-me por intervenção do vosso amado Filho,
Senhor meu, a quem com uma vivíssima fé amo de todo o meu coração e corpo
e alma e vida; cartas, vós me haveis de falar a isto pelo sangue derramado de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Amem.” Se o não fizer, não obterá bom resultado.
VII
PRIMEIRA MÁGICA
O PODER OCULTO OU MEIO DE
OBTER O AMOR DAS MULHERES
Na vida de São Cipriano, assim como nos “Milagres de São Bartolomeu”,
conta-se que para um homem se fazer amar pelas mulheres, sejam quais forem,
necessita pegar no coração dum pombo virgem e fazê-lo engolia a uma cobra, e
conservar esta presa por espaço de quinze dias. A cobra, como se vê, não resiste
por muito tempo.
Logo que ela morra, corte-se-lhe a cabeça e ponha-se a secar numa brasa
ou borralho e lancem-se-lhe em cima 30 gotas de láudano hanoveriano: em
seguida, pise-se tudo e deite-se num frasco de vidro novo. Enquanto isto se
conservar assim, o dono do frasco pode ter a certeza que será amado por
quantas mulheres quiser.
MODO
DE SE USAR
Esfreguem-se as mãos com uma pequena porção dizendo as seguintes
palavras:
“Izolino Belzebu, canta-galen-se-chando-quinha, é o próprio xime, é
goloto.”
151
É tão forte esta mágica, que para se atrair uma criatura a outra é mais que
admirável.
O leitor ou leitora pode usá-la sem escrúpulo, que aqui não entra pecado,
pois o mesmo São Cipriano a ensinava a seus servos, a quem livrara do poder
de Satanás, que com as suas malditas prestidigitações desgraçou uma cidade
inteira.
Na segunda parte deste livro, mostra-se claramente a razão dos poderes
ocultos.
VIII
SEGUNDA MÁGICA
PODER OCULTO OU SEGREDO
DA VARINHA DE AVELEIRA
Deve ser admirabilíssima esta mágica: pois tão admiráveis maravilhas
deve obrar, que se me gela o sangue nas veias em publicar, não por ofender ao
Todo-Poderoso, mas sim com receio de que algum estouvado use dela sem que
primeiro se revista de coragem.
Sim, dizemos coragem, porque com medo lhe podem acontecer muitas
consequências graves. Por causa do medo e nada mais; porque aqui não entra o
poder do demônio com a criatura, pois neste santo livrinho não se trata de ter
comunicação com os demônios, mais sim livrar-nos deles com a nossa bondade.
É por isso que não revelamos esse segredo.
152
IX
TERCEIRA MÁGICA
OS PODERES OCULTOS OU DINHEIRO ENCANTADO
Uma moeda de Cr$ 0,50, posta debaixo de pedra d'ara por espaço de três
dias, de modo que se digam três missas, em cima, sem que o padre saiba (só
pode saber o depositante da moeda, e mais ninguém), pode trocar-se no bolso; é
tal o encanto, que será bom que o leitor não experimente; só se for por
brincadeira.
Os meses mais favoráveis são: fevereiro, abril, junho, setembro e
dezembro.
O leitor que estiver a fazer a operação, não tema, veja o que vir, e mande
que se faça o que lhe parecer, segundo as suas ideias, e quando acabar diga com
olhos levantados ao céu: Fica-te em paz! Amém!
X
ORAÇÃO DO ANJO CUSTÓDIO
A oração do Anjo Custódio foi ensinada a São Cipriano por São Gregório,
seu companheiro, virtuoso varão que tanto pregou por esses templos,
anunciando a virtude e o procedimento de São Cipriano, e o seu
arrependimento daquela vida cheia de iniquidades. Diz São Gregório: Olhai,
meus irmãos, foi chegado o dia feliz em que eu com minhas orações venci
Satanás e salvei Cipriano, que há três dias é escravo do Senhor Nosso Deus, o
tenho toda a certeza de que não torna a ser escravo do demônio.
— Como se poderia salvar Cipriano? – dizia o povo.
Ide ao monte Samão, ao lugar de Ermida, lá vereis o sítio donde o
153
demônio, tomando o corpo de Cipriano, o precipitou nas profundas do inferno;
e a virtude daquela donzela a quem ele com seus feitiços tentou repudiar ou
convencê-la por um seu amigo!
Mas a virtude dessa donzela não se perdeu, e não só perdoou a Cipriano,
como pediu a Deus que o não castigasse, e que lhe perdoasse também.
Pois a oração do Anjo Custódio é tão eficaz que toda a criatura, que a
disser uma vez por dia, não só se livra do poder e astúcia de Satanás, como lhe
forma um obstáculo que à distancia de doze léguas não pode entrar em criatura
alguma. Por isso, todo o fiel cristão a deve aprender de cor, para melhor a dizer
quando quiser, e que o leitor encontrará nesta obra.
XI
UM EPISÓDIO DA VIDA DE SÃO CIPRIANO
Diz São Cipriano, num capítulo de seu livro, que numa sexta-feira,
passando por um lugar deserto, viu tantos fantasmas em volta de si, que tremeu
de susto e perdeu todas as forças para lhes poder resistir; porém os fantasmas
eram bruxas que se queriam salvar. Logo se chegou uma delas a Cipriano e
disse:
— Salva-nos, se entendes que depois desta vida temos outra.
— Como vos hei de salvar – perguntou Cipriano.
— Como te salvaste tu, infame?
— Sim... Sou escravo do Senhor. Sou escravo do Se...
Não acabou a palavra.
Caiu num profundo sono.
....................................................................................................................................
Sonhou que a oração do Anjo Custódio o livraria daquele grande perigo.
Acordou e viu-se em frente dum anjo que imediatamente desapareceu. Era
Custódio!
154
Cipriano lembrou-se da oração e disse: “Eu, Cipriano, requeiro e conjuro
os fantasmas que me apareçam, debaixo da pena da obediência a preceitos
superiores.”
Um grande trovão se fez ouvir no céu.
De repente Cipriano viu diante dele quatorze bruxas.
— Quem sois? – perguntou-lhes Cipriano.
— Maria e Gilberta, ambas irmãs – responderam duas delas.
— E o resto dos fantasmas? – replicou Cipriano.
— São minhas filhas, e, como eu, todas escravas de Lúcifer – disse Maria.
— Que desejas? – perguntou Cipriano.
— Queremos salvar-nos e ser, como tu, escravas do Senhor – responderam
elas em coro.
Cipriano salvou todas essas bruxas, e com a oração do Anjo Custódio
ligou todos os demônios, para que nunca mais as apoquentassem.
Diz São Cipriano que esta oração não só serve para o bem como para o
mal, porém, para o mal e preciso não se acabar.
XII
LÚCIFER E O ANJO
— Anjo Custódio, amigo meu, queres salvar-te?
— Sim, quero; é... Sou o Anjo Custódio, teu amigo, não sou...
— Queres ter salvação?
— Sim, quero.
— E quais são as principais virtudes do céu que te podem salvar?
— São:
155
1ª) O Sol mais claro do que a Lua;
2ª) As duas tábuas de Moisés, onde Nosso Senhor pôs os seus sagrados
pés;
3ª) As três pessoas da Santíssima Trindade e toda a família da cristandade;
4ª) São os quatro evangelistas: João, Marcos, Mateus e Lucas;
5ª) São as cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, que tanto sofreu
para quebrar as tuas forças, Lúcifer!
6ª) São os seus círios bentos que iluminaram em torno da sepultura de
Nosso Senhor Jesus Cristo, e me iluminam a mim para me livrar das astúcias de
Lúcifer, o deus dos infernos.
7ª) São os sete Sacramentos da Eucaristia, porque sem eles ninguém tem
salvação;
8ª) São as bem-aventuranças;
9ª) São os nove meses em que a Virgem Maria trouxe no ventre o seu
amado Filho Cristo, e por esta virtude somos livre do teu poder, Satanás;
10ª) São os dez mandamentos da Lei de Deus, porque quem neles crer não
entra nas profundezas infernais;
11ª) São as onze mil virgens que pedem incessantemente ao Senhor por
todos nós;
12ª) São os doze Apóstolos que acompanharam sempre Nosso Senhor
Jesus Cristo até à hora da sua morte e depois da sua eterna redenção;
13ª) São os treze raios do Sol que eternamente te esconjuram a ti, Satanás!
Nesta ocasião, Satanás submergiu-se, acompanhado dum trovão e
relâmpago enviado por Deus Nosso Senhor.
Prevenimos que esta oração é dita toda, e, sendo necessário, repete-se três
vezes.
156
XIII
OR A Ç Ã O P A R A A S S I S T I R A O S
ENFERMOS NA HORA DA MORTE
Esta oração é tão eficaz, diz São Cipriano, que nenhuma alma se perde,
quando esta oração é dita com devoção e fé em Jesus Cristo.
Diz Cipriano, no seu manuscrito que há tanta virtude nesta oração, que de
todos os enfermos a quem a lia tirava um cabelo da cabeça e o lançava dentro
de um vidro d'água, para com esta água lavar as chagas dos doentes, cujas
moléstias eram incuráveis pela Medicina; lançando-lhe uma gota e dizendo: —
Eu, Cipriano, te curo em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo. Amém!
(Deita-se água benta.)
ORAÇÃO
Jesus, meu Redentor, em vossas mãos, Senhor, encomendo a alma deste
servo, para que vós Salvador do mundo, a leveis para o Céu na companhia dos
anjos.
Jesus, Jesus, Jesus seja contigo para que te defenda, Jesus esteja na tua
alma, para que te assente; Jesus esteja diante de ti para que te guie;
Jesus esteja na tua presença para que te guarde; Jesus, reina, Jesus domina,
Jesus de todo o mal te defenda. Esta é a cruz do Divino Redentor; fugi, fugi,
ausentai-vos, inimigos das almas remidas com o sangue preciosíssimo de Jesus
Cristo.
Jesus, Jesus, Jesus: Maria, Mãe de Graça, Mãe de Misericórdia, defendeime do inimigo e amparai-me nesta hora. Não me desampareis, Senhora, rogai
por este vosso servo (fulano) a vosso Amado Filho, para que com vossa
intercessão saia livre do perigo de seus inimigos e das suas tentações.
Jesus, Jesus, Jesus; recebei a alma deste vosso servo (fulano); olhai com os
olhos de compaixão; abri-lhe esses braços; amparai-o, Senhor, com a vossa
157
misericórdia, pois a feitura de vossas mãos é a calma imagem vossa.
Jesus, Jesus, Jesus; de vós, meu Deus, lhe há de vir até o remédio; não lhe
negueis a vossa graça nesta hora, pois eu (fulano) vos chamo, ó Deus Poderoso,
para que venhais sem demora receber esta alma nos vossos santíssimos braços;
vinde, Senhor, vinde em socorro, assim como viestes em socorro de Cipriano
quando andava em batalha com Lúcifer.
Jesus, Jesus, Jesus! Creio, Senhor, firmemente em tudo quanto manda crer
a Igreja Católica Apostólica Romana; fortalecei, pois, a alma deste vosso servo
(fulano). Vinde, Jesus, ó vida verdadeira de todas as almas! Livrai-o, Senhor, de
seus inimigos; como médico soberano, curai todas as suas enfermidades;
purificai-o, meu Jesus, com vosso precioso sangue, pois prostrado a vossos pés
clamo pela vossa misericórdia.
Jesus, Jesus, Jesus! Oh Maria Santíssima, Mãe de Nosso Senhor; agora,
Senhora, é tempo que mostreis que sois mãe sua e de todos nós. Socorrei-o nesta
tão arriscada hora, pois em vossas mãos temos posto o importante negócio da
nossa salvação.
Tirai-o deste conflito e agonia em que se vê, pondo-lhe a sua alma na
presença de vosso amado Filho.
Jesus, salvai-a; Jesus, socorrei-a; Jesus, amparai-a; ó meu Deus, meu
Senhor, tende compaixão de todos nós; livrai-nos águas, vos deseja minha alma
a vós, meu Jesus. Quando chamareis por mim Oh! ouçam já meus ouvidos de
vossa sagrada boca aquelas palavras: — “Entra e vem, alma minha, no gozo do
teu Senhor!”
Jesus, Jesus, em vossas mãos, Deus meu, ofereço e ponho o meu espírito;
que justo é que torne a vós o que de vós recebi; sede, pois, por nossa alma, e
salvai-a das trevas.
Defendei-a, Senhor, de todos os combates, para que eternamente vá ao céu
as vossas infinitas misericórdias.
Misericórdia,
dulcíssimo
Jesus;
misericórdia,
amabilíssimo
Jesus;
misericórdia e perdão para todos os vossos filhos pelos quais sofrestes na cruz.
É, pois, justo que nos salvemos. Amém.
158
XIV
GRANDE REQUERIMENTO QUE FEZ SÃO
C I P R I A N O PA R A C A S T I G A R L Ú C I F E R , Q U E
SEMPRE O TENTAVA NAS SUAS ORAÇÕES
Quando São Cipriano viu o bem que ia gozar no Céu e o que lhe
sobrevinha se não deixasse a Lúcifer, resolveu-se a ir castigá-lo para um deserto
medonho.
SÃO CIPRIANO SAIU DE SEU
PALÁCIO PARA CASTIGAR A LÚCIFER
Eis aqui como São Cipriano requereu o demônio:
“Eu, Cipriano, servo de Deus, a quem amo de todo o meu coração há dez
anos, me pesa, Senhor, de vos não ter amado desde o dia em que nasci.
Levanta-te, Lúcifer, lá desses infernos, vem já à minha presença, traidor e falso
deus a quem eu amava tanto por ignorância.
Mas agora que estou desenganado, que o Deus que adoro é um Deus
verdadeiro, poderoso e cheio de bondade, por quem eu te abrigo, Lúcifer, que
me apareças sob pena de desobediência; quando me não queiras obedecer serás
castigado mil vezes mais do que eu tenciono. Aparece prontamente, Lúcifer,
que te obrigo da parte de Deus (de Maria Santíssima e do Padre Eterno) eu te
esconjuro pela força do Céu e pela Graça de Deus, que está nas alturas com os
braços abertos pronto para receber aqueles seus filhos que deixam de adorar os
ídolos e os falsos deuses, a quem eu, Cipriano, amava já há trinta anos, porém
agora, com a ajuda de Jesus Cristo, já deixei essas falsas divindades e adoro a
um Deus poderoso que está no Céu, com quem eu agora tenho todo o pacto e o
terei até a morte; é por este mesmo pacto que eu te cito e te obrigo, Lúcifer, que
me apareças prontamente.
“Abram-se já as portas do inferno. Vem, Satanás, à minha presença. Vem
da parte do Oriente, em figura de criatura humana.”
159
Dito isto apareceu Lúcifer cercado de todos os demônios do inferno, como
diz São Cipriano no seu livro.
“Cheguei a contar três mil demônios em volta de mim, porém, debalde os
demônios tentaram iludir-me, e vendo eles que nada podiam fazer, revoltaramse contra mim, a tal ponto que fizeram cair fogo lá dos astros, e com tanta
abundancia que parecia que ardia todo o mundo. Tudo isto para ver se podiam
sepultar-me entre as chamas de fogo, porém, eu invocava o nome de Jesus
Cristo e nunca o fogo me pôde chegar, nem molestar.
160
Vendo o demônio que Cipriano já tinha grande poder debaixo de Deus,
resolveu-se a desobedecer-lhe a retirar-se para o inferno e não obedecer a Deus,
nem a Cipriano, porém, antes tal não o fizesse o demônio, porque mil vezes
mais foi castigado por São Cipriano.
No fim deste requerimento ensinaremos como se prepara a vara com que
São Cipriano castigou o demônio.
Continua o requerimento com que São Cipriano fez retirar, pela segunda vez, o
demônio do inferno, e veio à sua presença, para ser castigado com a varinha de condão.
São Cipriano, vendo que o demônio se tinha retirado para o inferno e
fechado as portas, pensou um instante no que havia de fazer ou na maneira
como havia de principiar a requerer a Lúcifer e castigá-lo como merecia.
XV
COMO CIPRIANO COMEÇOU
A REQUERER O DEMÔNIO
“Eu, Cipriano, prceciptur in nomine Jesus”.
“Vós que estais na glória de Deus Padre, de Deus Filho e Deus Espírito
Santo e no poder e virtude de Maria Santíssima, e do Verbo Divino Encarnado,
e no poder dos anjos do Céu e dos querubins e Miguéis, cercados por obra e
graça do Divino Espírito Santo, e por toda esta santidade, mando sem apelação
nem agravo sejam já abertas as portas do inferno, e que venha já Lúcifer à
minha presença, para que seja cumprida e executada a minha ordem, conforme
eu lhe ordenei.
Apareça prontamente Lúcifer em figura de pessoa humana, sem estrépito
nem mau cheiro.
Sejam já abertas as portas do inferno, assim como se abriram as portas do
cárcere onde estavam presos alguns dos Apóstolos, quando lhes apareceu um
161
anjo que foi ao mando de Deus, e logo que o anjo chegou ao cárcere foram abertas as portas e fugiram os Apóstolos, e o anjo foi levado ao Céu, como Jesus
Cristo lhe tinha determinado.
Jesus Cristo, eu peço-vos e mando em vosso Santíssimo Nome, ao
demônio, que venha já à minha presença, sem que ofenda a minha pessoa nem
meu corpo, nem minha alma.
Apareça prontamente Lúcifer, que eu te requeiro pelo poder do grande
Adônis, e pelo poder e virtude daquelas santas palavras que disse Jesus Cristo,
quando estava a dar o último suspiro na cruz: inclinando os olhos ao céu,
exclamou angustiosamente: — “Meu Deus, meu Deus, perdoai aos que me
crucificaram, que não sabem o que fazem”.
Por estas santas palavras te esconjuro e requeiro, Lúcifer, imperador do
inferno; vem à minha presença sem apelação nem agravo, que eu te obrigo em
nome de Jesus, Maria e José e te mando em virtude de Santo Ubaldo Francisco,
por estas santas palavras, pela virtude dos doze Apóstolos e por todos os Santos
de Deus de Abraão, de Jacó e de Isaac, em virtude do anjo São Rafael, de todos
os mais santos e virtudes dos Céus e ordens dos bem-aventurados: eu te requeiro Lúcifer, pela virtude do bem-aventurado São João Batista, São Tomé, São
Filipe, São Marcos, São Mateus, São Simão, São Judas, São Martinho e por todas
as ordens dos mártires São Sebastião, São Fabião, São Cosme, São Damião, São
Dionísio com todos os seus companheiros, confessores de Deus e pela adoração
do Rei David, e pelos quatro Evangelistas João, Lucas, Marcos e Mateus.
Eu te requeiro que me apareças, Lúcifer, sem apelação nem agravo, que te
obrigo pelas quatro colunas do Céu que não me faltes a obediência.
Eu criatura de Deus, te obrigo pelas setenta e duas línguas que estão
repartidas pelo mundo e por todos estes poderes e virtudes. Aparece
prontamente, desviando de mim quatro passos. Se não apareceres neste
momento, serás já castigado com maldições.”
Neste momento aparece Lúcifer, de repente, e diz:
— Que é que queres, Cipriano?
— Quero castigar-te como mereces – respondeu Cipriano.
— Então, Cipriano, não te lembras do bem que te fiz? Não te lembras das
donzelas a quem profanaste a honra, e que tudo isso foi por mim arranjado? –
Esqueces o bem que fiz! Eu que arranjei com que fosses senhor de todo o rei162
no!...
— Infame! O culpado de tudo isso sou eu! Se fosse menos generoso para
contigo...
— Desça já, já, fogo contra esse homem, e seja reduzido a cinzas. Eis aqui a
escritura do pacto que fizeste comigo; eis aqui o trabalho que nós fizemos, e que
não cumpriste: Infame és tu! Caia fogo sobre ti! – disse Lúcifer.
No momento em que Lúcifer disse estas palavras, eram tantos os raios, os
coriscos e os trovões, que faziam tremer a terra.
Porém São Cipriano de nada teve medo, porque o seu poder era forte
contra Lúcifer. Cipriano disse a Lúcifer:
— Sossega e suspende esses trovões e esses raios que estão caindo das
alturas.
Lúcifer mandou cessar logo toda a trovoada.
— Vais ser castigado com três varadas dadas com a vara boleante — disse
Cipriano a Lúcifer.
— Perdoa, perdoa, Cipriano, não me castigues – disse Lúcifer.
Cipriano não lhe obedeceu.
Cipriano prendeu Lúcifer com uma cadeia feita de chifres ou cornos de
carneiro virgem, e depois de tê-lo bem amarrado disse-lhe:
— Estás preso, maldito, traidor! Tentaste roubar a minha alma, pela qual
Jesus Cristo tantos tormentos passou: porém Jesus, como bom, perdoou os
meus pecados, e por isso vou castigar-te com três mil varadas, por seres o
culpado de eu ofender ao meu bom Jesus.
Cipriano castigou Lúcifer, e no fim de castigá-lo pôs-lhe preceito dele
nunca mais fazer pacto com pessoa alguma.
É este preceito que não deixa o demônio aparecer-nos, só sendo obrigado
por Deus ou por todos os santos.
163
MODO COMO SE HÁ DE PREPARAR A VARA
BOLEANTE PARA CASTIGAR O DEMÔNIO
Cortai uma vara de aveleira, que tenha grossura suficiente que possa
aguentar com três pregos do comprimento de um centímetro, depois de
preparada a dita vara, isto é, sem que tenha os pregos.
MODO
DE PREPARAR OS PREGOS
Matai um carneirinho virgem com uma faca de aço, e logo que esteja
morto o carneirinho, levai a faca a um ferreiro que vos faça dela três pregos, e
cravai-os na vara, um no pé e dois na ponta, todos os três no meio, e desta
forma podeis castigar o demônio facilmente.
Declaramos que a faca deve meter-se no fogo com o sangue do carneiro.
As cadeias para prender o demônio podem ser os chifres de carneiro, ou
melhor, será um cordão de São Francisco benzido, ou uma estola com que um
padre tenha dito missa pelo menos dezoito vezes.
ORAÇÃO PARA POR PRECEITOS AOS DEMÔNIOS
Esta oração faz-se quando se esconjura uma mulher grávida, porque pode
acontecer-lhe algum mal com as grandes convulsões. É também bom por este
preceito a qualquer pessoa que esteja atacada de moléstia, para que ela não
continue:
“Mando, em virtude do Santíssimo nome de Jesus, ao demônio ou
demônios, que me causam tal ou tal enfermidade ou aflição ou dor (nomeia-se), que
não a movam mais, que dela desistam, deixando-me os humores, que de
qualquer parte movem, ou têm movido, em sua igualdade, com todas as mais
operações livres, para servir a meu bom Deus. E se a tal aflição é movida por
qualquer humor, ainda que natural ou elementar, em virtude do Santíssimo
164
nome de Jesus, com toda a fé, lhe mando se componha e cesse seu desconcerto,
para que assim sem esta aflição e dor, possa mais servir e louvar, com todo o
coração a meu Deus e Senhor Jesus Cristo, por cujo amor Só vivo, e quero saúde
como de meu Redentor.
V. Omnis, qui invocavit nomen Jesus.
R. Hic in tribulation salvus erit.
ORAÇÃO DO JUSTO JUIZ
1
Justo Juiz de Nazaré, Filho da Virgem Maria, que em Belém fostes nascido
entre as idolatrias, eu vos peço, Senhor, pelo vosso sexto dia; vinde nas mãos da
justiça envolto. Pax Tecum Pax Tecum, Pax Tecum. Cristo assim disse aos seus
Discípulos. Se os meus inimigos vieram para me prender, terão olhos, não me
verão; terão ouvido, não me ouvirão; terão boca, não me falarão; com as armas
de São Jorge, serei armado; com a espada de Abraão, serei coberto; com o leite
da Virgem Maria, serei borrificado; com o sangue de meu Senhor Jesus Cristo,
serei batizado, na arca de Noé, serei arrecadado, com as chaves de São Pedro
serei fechado onde não me possam ver, nem ferir, nem matar, nem sangue do
meu corpo tirar. Também vos peço, Senhor, por aqueles três Cálices bentos, por
aqueles três Padres revestidos, por aquelas três Hóstias consagradas, que
consagrastes, ao terceiro dia desde as portas de Belém até Jerusalém, que com
prazer e alegria eu seja também guardado de noite, como de dia, assim como
andou Jesus Cristo no ventre da Virgem Maria, Deus diante, paz na guia, Deus
te dê a companhia que deu à sempre Virgem Maria desde a casa santa de Belém
a Jerusalém, Deus é teu Pai, a Virgem Santa Maria tua Mãe, com as armas de
São Jorge serás armado, com a espada de São Tiago serás guardado para
sempre. Amém.
1
Apesar de esta oração não ser de São Cipriano, publicamo-la aqui por ser muito milagrosa.
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CARTOMANCIA CRUZADA
(E X T R A Í D A
DE
DO LIVRO
O MANUAL
YLLEMA HORMAZABAL,
DA
CARTOMANTE,
A CIGANA DA
GALÍCIA)
MANEIRA DE DEITAR AS CARTAS,
ATÉ HOJE IGNORADA, USADA
PELA FEITICEIRA DE ÉVORA
Na misérrima choça que albergava a bruxa, sua última morada antes da
condenação, e num falso do compartimento que lhe servia de dormitório, foi
achado um manuscrito com esta nova arte de deitar as cartas, a. que demos o
nome de cartomancia cruzada, e é que, parece, a feiticeira começou a fazer uso
depois de se ter indisposto com Satanás.
Bastante anos depois da morte de Lagarrona, foi este manuscrito
descoberto e levado para Roma, onde foi condenado a ser queimado, depois de
com ele se ter feito a experiência da sua verdadeira autoridade em matéria de
adivinhação. Foi tal a importância que lhe descobriram, que receosos o
quiseram inutilizar pelo fogo.
Não tinha felizmente de ser assim, talvez devido à vontade da velha, cuja
alma já tinha voado para junto de Lúcifer. O fâmulo encarregado de inutilizar o
manuscrito substituiu-o por outro, que lançou no fogo, à vista dos
circunstantes, guardando, porém, o verdadeiro. Mais tarde apareceu o
manuscrito na biblioteca de Roma, ignorando-se quem lá o deixou. Supôs-se
que seu guardador ou parentes ali o foram depositar. Nada, porém, se pode
precisar ao certo. Que é o verdadeiro, não resta a menor dúvida, porque está
junto a ele o auto de sua condenação. Devido à amabilidade de um amigo, que
visitou ultimamente a cidade santa, e que a curiosidade levou à biblioteca onde
existe o precioso manuscrito que ele copiou, pudemos nesta edição dá-lo a
conhecer ao leitor.
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O baralho, composto de 40 cartas, deve ter sido passado pelas águas do
mar, ao meio-dia de sexta-feira, proferindo-se nessa ocasião as seguinte
palavras: “Que os espíritos celestes vos ponham a virtude”.
VALOR DAS CARTAS
O UROS
E SPADAS
Ás — Promessas.
Ás — Paixão.
Dois — Matrimónio.
Dois — Correspondência.
Três — Mimo de amor.
Três — Lealdade.
Quatro — Apartamento.
Quatro — Na habitação.
Cinco — Sedução.
Cinco — Enredo.
Seis — Fraca fortuna.
Seis — Brevidade.
Sete — Riqueza.
Sete — Desgosto.
C OPAS
P AUS
Ás — Constrangimento.
Ás — Vicio.
Dois — Reconciliação.
Dois — Traição.
Três — Simpatia.
Três — Desordem.
Quatro — Banquete.
Quatro — Leviandade.
Cinco — Ciúmes.
Cinco — Fora de casa.
Seis — Demora.
Seis — Cativeiro.
Sete — Surpresa.
Sete — Obstáculo.
Os ases e os setes têm o nome de — Tentações.
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FIGURAS
São quatro as indispensáveis: a dama de ouros, que representa a consulente;
o rei de ouros, o namorado (ou marido); a dama de espadas, um rival; e o valete de
copas, uma pessoa intermediária, que tanto pode ser uma mulher como um
homem.
As figuras restantes só servem quando tenham de representar outras
pessoas, de quem a consulente, porventura, possa suspeitar.
Qualquer das damas será indicada pelas palavras: esta mulher, e um rei ou
um valete pelas palavras: este homem, — exceto o valete de copas, que será
denominado: esta pessoa.
Deve compreender-se que é necessário trocar as figuras, se é um homem
que faz a consulta. Isto é, o consulente será representado pelo rei de ouros, a
amante (ou esposa) pela dama de ouros; o valete de espadas será um rival, e só não
é substituído o valete de copas, que significará sempre uma pessoa intermediária,
sem nunca se lhe definir o sexo.
Temos, pois, que ordinariamente só servem 4 figuras, que, com as outras
28 cartas, perfazem 32; mas neste caso, as que se deitam são apenas 24, como
indica o Santo.
1 º E XEMPLO :
PARA SENHORA
Uma jovem não tem recebido notícias de seu amante, e deseja saber o que
a este respeito dizem as cartas. Suponhamos que saíram estas:
— Quatro de paus (leviandade).
— Seis de copas (demora).
— Dois de espadas (correspondências).
— Rei de ouros (este homem).
— Quatro de espadas (na habitação).
— Três de copas (simpatia).
— Cinco de ouros (sedução).
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— Quatro de copas (banquete).
— Ás de espadas (paixão).
Coordenada a significação das cartas, saberá pouco mais ou menos:
— Por Leviandade, demora a correspondência este homem, porque se entretem
na habitação de alguém com quem tem simpatia (isto é: a rival da consulente), e
tem sedução em banquete (quer dizer: come e bebe com a dita rival), sendo isto
devido a uma paixão.
Se deseja saber se essa paixão é por parte dele ou por parte dela, continua
levantando as cartas (mas desta vez não inclui as tentações), seguindo a mesma
ordem, até a dama de ouros ou a dama de espadas: se for a primeira, a paixão é da
parte da rival; se for a segunda, é ele o apaixonado.
2 º E XEMPLO : ( IDEM )
Agora suponhamos que já tenham saído às duas damas. Isto é, façamos de
conta que nas primeiras nove cartas tenha havido esta diferença:
— Rei de ouros (este homem).
— Seis de copas (demora).
— Dois de espadas (correspondência).
— Dama de ouros (esta mulher).
— Três de copas (simpatia).
— Dama de copas (esta outra mulher).
— Quatro de copas (banquete).
— Seis de paus (cativeiro).
— Ás de espadas (paixão).
Este homem demora a correspondência a esta mulher (consulente) por simpatia
com esta mulher (rival) com quem tem banquete e cativeiro (ou está cativo) por
causa duma paixão.
Neste caso, se ainda a consulente quiser saber de qual dos dois parte a
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paixão (e visto já terem saído a dama de ouros e a dama de espadas), junta de
novo as vinte e quatro cartas, baralha- se, torna a deitá-las e a levantá-la a uma e
uma (sempre da mesma forma, estendendo a mão antes que as levante, e
rezando a oração), até que saia uma das mencionadas damas; e conforme à
primeira que sair, dirá qual dos dois é o apaixonado, segundo já explicamos.
Como esta operação tem por fim procurar uma das damas, por isso é
desnecessário continuar a levantar as tentações.
Advirta-se mais que — se as duas damas estiverem juntas, que estão
ambas igualmente apaixonadas pelo mesmo homem.
3 º E XEMPLO : ( PARA
CAVALHEI RO )
Um mancebo deseja saber o comportamento da sua amante. Saíram as
seguintes cartas:
— Dama de ouros (esta mulher).
— Quatro de paus (leviandade).
— Dois de espadas (correspondência).
— Valete de espadas (este homem).
— Cinco de ouros (sedução).
— Três de ouros (mimo de amor).
— Quatro de copas (banquete).
— Cinco de paus (fora de casa).
— Sete de espadas (desgosto).
Esta mulher teve a leviandade de se corresponder com este homem, por que é
seduzida com mimo de amor, em banquete fora de casa.
E se levantar nona carta (que é uma tentação), saberá:
Que se continuar a dar atenção a tal mulher, arrisca-se a sofrer algum
desgosto.
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4 º E XEMPLO : ( IDEM )
A consulta é de um sujeito abandonado pela esposa. Suponhamos que
saíram estas cartas:
— Dama de ouros (esta mulher).
— Quatro de copas (apartamento).
— Cinco de copas (ciúmes).
— Cinco de espadas (enredo).
— Valete de copas (esta pessoa).
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— Seis de espadas (brevidade).
— Dois de copas (reconciliação).
— Rei de copas (surpresa).
Querem dizer as cartas:
Esta mulher teve apartamento por causa de ciúmes, movidos por enredo desta
pessoa, mas com brevidade virá reconciliar-se com este homem, apresentando-lhe
uma surpresa.
ADVERTÊNCIA FINAL
O três de ouros (mimo de amor) pode significar carinhos e afagos, ou então
uma prenda; o ás de copas (constrangimento) pode às vezes significar violência
(uma mulher violenta, por exemplo); o dois de espadas (correspondência) pode
representar uma carta; e o ás de paus (cativeiro) quer dizer prisão de amor, ou
representa a prisão da cadeia civil, num calabouço, etc., tudo conforme as
circunstâncias da consulta.
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PARTE VII
VERDADEIRO TESOURO
DA MÁGICA PRETA E
BRANCA OU SEGREDOS
DA FEITIÇARIA
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176
A C R U Z D E SÃO B A R T O L O M E U E S Ã O C I P R I A N O
Num livro, muito estimado e muito desconhecido até da maior parte das
pessoas estudiosas, que tem por título Vida e Milagres de São Bartolomeu,
achamos a maneira de fazer a cruz deste santo, assim como a forma de usá-la.
As explicações que vamos dar aos nossos leitores merecem toda a fé, não
só por serem extraídas dum livro cheio de unção mística, mas por terem já sido
praticados por pessoas do nosso conhecimento com os resultados mais satisfatórios.
M ODO
CRUZ
DE FAZER A
Cortem-se três pedaços de pau de cedro, um mais comprido e dois mais
curtos, para formarem os braços com alecrim, arruda e aipo, e coloque- se em
cada braço, em cima e embaixo da parte mais comprida, uma massa pequena de
cipreste; deixe-se em água benta por três dias seguidos e retire-se da mesma
água ao dar a meia-noite, dizendo as seguintes palavras:
“Cruz de São Bartolomeu, a virtude da água em que estiveste, e das
plantas e madeiras de que és formada, que me livre das tentações do espírito do
Mal, e traga sobre mim as graças de que gozam os bem-aventurados. Em nome
do Padre e do Filho e do Espírito Santo. Amém.”
Estas palavras devem ser ditas quase imperceptivelmente, e hão de
repetir-se quatro vezes.
MODO
DE USAR A
C RUZ
Esta cruz pode trazer-se dentro dum saquinho de seda preta benzida, ou
mesmo andar unida ao corpo, suspensa ao pescoço por um cordão de retrós
preto. A pessoa que a trouxer, deve fazer o mais possível por ocultá-la a toda a
gente; e, quando desconfiar que alguém lhe lançou mau-olhado, deve, na ocasião
em que se deitar, beijar três vezes a cruz e dizer a espécie de oração que já
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deixamos indicada no modo de fazer a cruz.
Ao levantar, deve também beijar três vezes a cruz e rezar em seguida um
Padre-Nosso e uma Ave-Maria.
GRANDE MÁGICA DAS FAVAS
Matai um gato preto, enterrai-o no vosso quintal, metei-lhe uma fava em
cada olho, outra debaixo da cauda e outra em cada ouvido. Depois de tudo isso
feito cobri-lo de terra e ide regá-lo todas as noite, ao dar meia-noite, com muito
pouca água, até que as favas, que devem ter rebentado, estejam maduras, e
quando virdes que assim estão, cortai-as pelo pé.
Depois de cortadas, levai-as para casa e metei uma por cada vez na boca.
Quando, porém, vos parecer que estais invisível, é porque a fava que tendes na
boca é que está invisível, é porque a fava que tendes na boca é que tem a força
da mágica, e assim se vos apetecer entrar em qualquer parte sem que ninguém
vos veja, metei primeiro a dita fava na boca.
Isso obra por uma virtude oculta sem ser necessário fazer pacto com o
demônio, como fazem as bruxas.
AVISO
A QUEM FIZER USO DESTA MÁGICA
Quando fordes regar as favas, hão de aparecer-vos muitos fantasmas com
o fim de vos assustarem para não conseguirdes o vosso intento. A razão disto é
muito simples. É porque o demônio tem inveja de quem vai usar desta mágica,
sem que primeiro se entregue a ele em corpo e alma, como fazem as bruxas, a
que chamam mulheres de virtude. Porém, não vos assusteis, que ele não vos faz
mal algum, e para isso deveis fazer primeiro que tudo o sinal-da-cruz, e dizer
ao mesmo tempo o Credo.
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II
MÁGICA DO OSSO DA CABEÇA DO GATO PRETO
Fazei ferver uma panela d'água com pevides brancas e com lenha de
salgueiro, e logo que a água esteja a ferver, metei-lhe dentro um gato e deixai-o
cozer até que se lhe apartem os ossos da carne. Depois de tudo isso estar
pronto, coai todos os ossos por um pano de linho e colocai-os diante dum
espelho; metei depois um osso por cada vez na boca, não sendo necessário
introduzi-lo todo, mas pô-lo só entre os dentes, de maneira que, quando
desaparecerdes de diante do espelho, guardai o osso que tendes entre os dentes,
porque é esse que tem a mágica. Quando quiserdes ir para qualquer parte sem
serdes visto, metei o citado osso na boca e dizei desta maneira:
“Quero já estar em tal parte pelo poder da mágica preta liberal.”
III
OUTRA MÁGICA DO GATO PRETO
Quando um gato preto estiver com uma gata da mesma cor, isto é, quando
ligados pela cópula carnal, deveis ter logo uma tesoura pronta e cortar um
bocado do pelo do gato e outro da gata. Misturai depois esses cabelos, e
queimai-os com alecrim-do-norte, pegai na sua cinza, deitai-a dentro de um
vidro para conservar-se este espírito sempre muito forte.
Depois de tudo isso estar pronto, devereis pegar no vidro com a vossa
mão direita e dizer então as seguintes palavras:
“Cinza, com a minha própria mão fostes queimada, com uma tesoura de
aço foste do gato e da gata cortada, toda a pessoa que te cheirar, comigo se há
de encontrar. Isto pelo poder de Deus e de Maria Santíssima. Quando Deus deixar de ser Deus é que tudo isso me há de faltar; e para folão, traga matão, cais
do pauto chião a molião.”
179
Logo que tudo isso esteja cumprido, fica o vidro com uma força de feitiço,
mágica e encanto, que quando tiverdes desejo de que qualquer rapariga vos
tenha amizade, basta desarrolhar o vidro e sob qualquer pretexto dar-lhe a
cheirar.
Suponhamos que um indivíduo deseja que uma sua namorada tome o
cheiro do dito vidro, mas não encontra maneira própria para o levar a efeito.
Neste caso começa a conversar sobre qualquer assunto, de maneira que faça
qualquer alusão à água de Colônia. Feito isto, tira o vidro da algibeira e diz com
toda a seriedade:
— Quer ver que cheiro tão agradável, menina?
Ora, como em geral as mulheres são muito curiosas, ela cheira
imediatamente o conteúdo do vidro e podeis contar com o seu amor. Desta
forma podereis cativar todas as pessoas que vos aprouver. Nota-se que este
encanto tanta virtude encerra fazendo o homem à mulher, como a mulher ao
homem.
IV
OUTRA MÁGICA DO GATO
PRETO PARA FAZER MAL
Ponhamos na nossa ideia que uma pessoa qualquer deseja vingar-se de
um seu inimigo, mas não quer que ele seja sabedor da vingança que lhe arma.
Vinga-se facilmente, fazendo da seguinte forma:
Pega-se num gato preto que não tenha nem um só cabelo branco,
amarram-se-lhe as pernas e as mãos com uma corda de esparto (daquelas com
que se fazem tapetes). Depois desta operação executada, levai-o a uma
encruzilhada de noite e logo que chegueis ali dizei da maneira seguinte:
“Eu, fulano (deve dizer-se o nome da pessoa), da parte de Deus
Onipotente, mando ao demônio que me apareça aqui já debaixo da santa pena
de obediência e preceitos superiores. Lúcifer, ou Satanás ou Barrabás, que te
180
metas no corpo desta pessoa a quem eu desejo mal e de lá não te retires
enquanto eu não te mandar, e me faças tudo aquilo que eu te propuser durante
a minha vida.”
(Aqui diz-se o que se deseja que ele faça à criatura).
“O grande Lúcifer, imperador de- tudo que é inferno, eu te prendo e
amarro no corpo de (fulano) assim como tenho preso este gato. No fim de me
fazeres tudo aquilo que eu quiser, ofereço-te este gato preto; trago-te aqui
quando tudo estiver pronto.”
ADVERTÊNCIA
Quando o demônio se desempenhar da obrigação que lhe impusestes, ide
ao lugar onde o requerestes e dizei duas vezes: “Lúcifer, Lúcifer, aqui tens o
que te prometi”, e, ditas que sejam estas palavras, soltai o gato.
V
OUTRAS MÁGICAS DO GATO
PRETO E A MANEIRA DE GERAR UM
DIABINHO COM OLHO DE GATO
Matai um gato preto e depois de morto tirai-lhe os olhos e metei-os dentro
de um ovo de galinha preta, mas notando-se que cada olho deve ficar separado
em cada ovo. Depois de feita esta operação, metei-os entre uma pilha de
estrume de cavalo, e torna-se preciso que o estrume esteia bem quente para ali
ser gerado o diabinho.
Diz São Cipriano que se deve ir todos os dias junto da dita pilha de
estrume, isto por espaço de um mês, tempo que leva a nascer o diabinho.
181
P ALAVRAS
QUE SE DEVEM DIZER JUNTO DA
PILHA DE ESTRUME ONDE ESTÁ O DIABINHO
“Oh grande Lúcifer, eu te entrego estes dois olhos de gato preto, para que
tu, meu grande amigo Lúcifer, me sejas favorável nesta apelação que faço a teus
pés. Meu grande ministro e amigo Satanás e Barrabás, eu vos entrego a mágica
preta para que vós ponhais todo o vosso poder, virtude e astúcia que vos foram
dadas por Jesus Cristo; pois eu vos entrego estes dois olhos dum gato preto
para deles nascer um diabo para ser minha companhia eternamente. Minha
mágica preta, eu te entrego a Maria Padilha, a toda a sua família e a todos os
diabos do inferno, mancos, catacegos, aleijados e a tudo quanto for infernal,
para que daqui nasçam dois diabos para me dai dinheiro porque não quero
dinheiro pelo poder de Lúcifer, meu amigo e companheiro doravante.”
Fazei tudo isto que vos acabamos de indicar e no fim de um mês, mais
dias menos dias, nascer-vos-ão dois diabinhos com a figura dum lagarto
pequeno. Logo que esteja nascido o diabinho, metei-o dentro de um canudinho
de marfim ou buxo e dai-lhe de comer ferro ou aço moído...
Quando estiverdes senhor dos dois diabinhos podeis fazer tudo quanto
vos agradar; por exemplo: desejais dinheiro? Basta abrir o canudo e dizer assim.
“Eu quero já aqui dinheiro, que imediatamente vos aparece, com a condição
única de que não podeis dar esmolas aos pobres nem com ele mandar dizer
missas, por ser dinheiro dado pelo demônio.”
Leitor ou leitora! Não é possível descrever nesta nova edição do Antigo e
Verdadeiro Livro Gigante de São Cipriano, todos os fatos acontecidos a este santo,
pois para isso teríamos de fazer um grande volume, que não poderia ser
comprado por todas as classes, em conseqüência do elevado preço em que
devia importar.
Limitamo-nos, pois, a ensinar-vos todas as mágicas que usou São Cipriano
durante a sua vida de feiticeiro, e vós, leitores, bem haveis de compreender o
que uma criatura poderá conseguir tendo o maravilhoso poder da arte mágica.
182
183
VI
MANEIRA DE OBTER UM DIABINHO
TOMANDO, PACTO COM O DEMÔNIO
MODO
DE TOMAR PACTO
Tomai um pergaminho virgem, depois fazei escritura da vossa alma ao
demônio com o vosso próprio sangue.
Deveis dizer da seguinte maneira:
“Eu, com o próprio sangue do meu mindinho, faço escritura a Lúcifer,
imperador do inferno, para que ele me faça tudo quanto eu desejar nesta vida,
e, se isto me faltar, lhe deixarei de pertencer. — Fulano.
Depois de escreverdes tudo isso no dito pergaminho, pegai no ovo duma
galinha preta castiçada dum galo da mesma cor, e escrevei no dito ovo a
escritura que fizerdes no pergaminho.
Depois de tudo estar pronto, abri um pequeno buraco no ovo e deita-lhe
dentro uma gota de sangue do dedo mindinho da mão direita, depois
embrulhai o ovo em algodão em rama e metei-o entre uma pilha de estrume ou
debaixo duma galinha preta. Deste ovo, nascerá um diabinho que depois
guardareis dentro de uma caixa de prata com pó da mesma prata, e introduzireis todos os sábados, dentro da caixa o dedo mindinho para ele mamar.
Depois de o possuirdes, podeis ter tudo quanto quiserdes deste mundo.
Mas sobre esta prática diz São Cipriano no seu manuscrito:
“Todo o filho de Deus que entregar a sua alma ao demônio será na mesma
hora amaldiçoado por que o criou e lhe deu o ser, que foi Nosso Senhor Jesus
Cristo.
É preciso declarar que não expomos estas receitas diabólicas para que os
leitores as pratiquem, deixamo-las aqui, porque entendemos ser de utilidade
saber-se de tudo quanto é bom e mau, para que aqueles que tomarem mau
caminho se desviem dele a tempo, e nos agradeçam a intervenção boa que
184
fazemos transparecer nas páginas deste bom livro, e também alimentamos a
esperança de que Deus abençoará a nossa obra.”
VII
FEITIÇARIA QUE SE FAZ COM DOIS
B O N E C O S , TAL Q U A L F A Z I A S Ã O C I P R I A N O
ENQUANTO FEITICEIRO E MÁGICO
Preparai um boneco e uma boneca, feitos com panos de linho ou algodão;
depois de estarem prontos, deveis uni-los um ao outro e muito abraçados.
Em seguida a esta operação, pegai em um novelo de linha branca e
começai a enroscá-la em volta dos ditos bonecos dizendo o que se segue, dando
primeiro o nome da pessoa que se quer enfeitiçar:
“Eu te prendo e te amarro em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Padre,
Filho e Espírito Santo, para que debaixo deste santo poder não possas comer
nem beber, nem estar em parte alguma do mundo sem que estejas na minha
companhia, fulano. Eu (fulano) aqui te prendo e amarro, assim como
prenderam Nosso Senhor Jesus Cristo no madeiro da cruz; e o descanso que tu
terás enquanto para mim te não virares, é como o que têm as almas no fogo do
purgatório penando continuamente pelos pecados deste mundo, e como o que
em o vento no ar, ondas no mar sempre em contínuo movimento, a maré a subir
e a descer, o sol que nasce na serra e que vai por-se no mar. Será esse o descanso
que eu te dou enquanto para mim te não virares com todo o teu coração, corpo,
alma e vida; debaixo da santa pena de obediência e preceitos superiores, ficas
preso e amarrado a mim, assim como ficam estes dois bonecos amarrados um
ao outro.”
Estas palavras devem ser repetidas nove vezes à hora do meio-dia, depois
de se rezar a oração das “Horas Abertas”, que está na primeira parte desta obra.
185
VIII
ENCANTOS E MÁGICAS DA SEMENTE
DO FETO E SUAS PROPRIEDADES
Eis aqui o que se há de fazer para se apanhar a semente do feto na noite de
São João:
Na noite de São João, ao bater da meia-noite, em ponto, poreis uma toalha
debaixo de um feto onde deveis já ter um signo-Salomão, riscado debaixo do
feto, o qual deveis abençoar em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo,
para que o demônio não possa lá entrar dentro do dito risco.
Depois de feita a mesma operação, metereis dentro do risco, o qual deve
ser da largura precisa, as pessoas que assistirem a essa cerimônia.
Adverte-se que as pessoas que pretenderem a dita semente devem dizer a
Ladainha dos Santos, que está publicada na 1ª parte desta obra. A ladainha
deve ser dita em voz alta, para fazerem retirar o demônio, que virá assustar-vos,
para que não consigais o que desejais; mas cantando a ladainha toda, todos os
demônios se retirarão. No fim desta operação reparti a dita semente sem que
haja soberba nem contendas, do contrário fica a semente sem virtude alguma.
PALAVRAS
QUE TODOS DEVEM DIZER
COM O ROSTO SOBRE A SEMENTE DO FETO
“Semente do feto, que na noite de São João foste colhida a meia-noite em
ponto. Foste obtida e caíste em cima de um signo-Salomão, assim me servirás
para toda a qualidade de encantos; e assim com Deus e em ponto divino de São
João o Pai e em ponto humano de São João o Primo, assim toda a pessoa por
quem tu fores tocada se encante comigo.
Tudo isto será cumprido pelo poder do grande Deus Onipotente, porque
eu (fulano) te cito e notifico que não me faltarás a isto pelo sangue derramado
do Nosso Senhor Jesus Cristo e o poder e virtude de Maria Santíssima sejam
comigo e contigo. Amém.
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No fim destas palavras diz-se um Credo-em-cruz sobre a semente, isto é,
fazendo cruzes com a mão direita sobre a dita semente. Desta forma fica a
semente com todo o poder e virtude. Passa-se depois por uma pia de água
benta.
Depois de tudo isto, metei-a em um vidro, mas que fique muito bem
tapado.
EXPLICAÇÃO
DAS VIRTUDES E MARAVILHAS
DE QUE É DOTADA A DITA SEMENTE
1º) Toda a criatura que obtiver esta semente, se tocar com ela uma outra
pessoa com má intenção, pecará mortalmente pelo motivo de se servir de um
mistério divino para contrair ofensas contra a humanidade, como tocar uma
qualquer mulher casada, ou solteira, para a levar para qualquer parte com má
intenção.
2º) Incorre na pena de excomunhão qualquer pessoa que toca com essa
semente uma outra criatura para lhe azangar os seus negócios ou encantar-lhe
os seus trabalhos para não lhe correrem bem.
187
3º) A semente tem virtude para qualquer espírito mau, do qual uma
criatura esteja possuída, tocando a dita criatura com um grão de semente, com
viva fé em Jesus Cristo.
4º) A semente tem virtude de curar qualquer enfermidade, tocando-a com
a dita semente, mas com vivíssima fé em Jesus Cristo.
5º) A semente tem virtude de nos defender do inimigo ou de suas astúcias,
trazendo-a conosco.
6º) A semente tem virtude oculta e por obra por um poder quase divino, e
vem a ser da maneira seguinte: suponhamos que há uma menina com a qual
um qualquer indivíduo simpatiza, mas a interessante menina não sente por ele
afeição alguma. É muito fácil fazer com que a sobredita menina se apaixone por
ele. Faça da seguinte maneira.
Quando estiver a conversar com ela, tire-lhe com três grãos de semente do
feto, e verá que essa menina jamais se negará a fazer-lhe muitas meiguices e a
obedecer-lhe em tudo.
7º) A semente do feto tem uma virtude oculta que só lhe pode dar crédito
quem experimentar e que vem a ser o seguinte:
Quando passardes por qualquer pessoa, tocai-a com a dita semente que a
mesma pessoa que se toca vos segue, e quando quiserdes que deixe de vos
seguir, tornai-a a tocar.
8º) A semente do feto tem tantas propriedades que não se podem explicar.
Só quem possuir a dita semente é que pode dar informações.
E por agora, amáveis leitores, achamos razoável parar com as explicações
sobre a semente do feto, e diremos concludentemente:
Esta maravilhosa semente encerra virtude para tudo que o possuidor
deseja conseguir.
188
IX
A MÁGICA DO TREVO DE QUATRO
FOLHAS, CORTADO NA NOITE DE
SÃO JOÃO AO DAR MEIA-NOITE
Leitores, o trevo de quatro folhas tem as mesmas virtudes que a semente
do feto; por isso, será escusado estar a enfadar-vos mais sobre esta matéria.
Entendemos que isto será bastante para ficarem convictos e sabedores das
virtudes do trevo de quatro folhas.
Para obterdes o trevo fazei da maneira seguinte:
Na véspera de São João, procurai pelos campos uma febra de trevo que
tenha quatro folhas.
Logo que a encontrardes, fazei um signo-salomão em volta dele e deixai-a
ficar até à noite. Quando, porém, os sinos tocarem à Santíssima Trindade, voltai
junto dele e dizei a oração seguinte:
Começai por fazer o Credo-em-cruz sobre o trevo, isto é, a dizer o Credo e
a fazer cruzes com a mão sobre o dito trevo.
ORAÇÃO
“Eu, criatura do Senhor, remida com o seu Santíssimo Sangue, que Jesus
Cristo derramou na Cruz para nos livrar das fúrias de Satanás, tenho uma
vivíssima fé nos poderes edificantes de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mando ao
demônio que se retire deste lugar para fora, e o prendo e amarro no mar
coalhado, não perpetuamente, mas sim até que eu colha este trevo; e logo eu o
tenha colhido te desamarro da tua prisão. Tudo isto pelo poder e virtude de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.”
189
OBSERVAÇÃO
Quando se estiver a prender o demônio no coalhado, se ele vos aparecer
naquele momento e vos disser: “Criatura vivente, filho de Deus, peço-te que
não me prendas, vê lá o que queres de recompensa” então respondei-lhe:
“Retira-te, Satanás, dez passos ao largo e ausenta-te de mim.”
O demônio logo se ausenta, e depois pedi-lhe aquilo que quiserdes, que
ele tudo vos fará para não ir preso. Depois de lhe disserdes o que quereis que
vos faça, obrigai-o a fazer um juramento, do contrário ficais enganado, porque o
demônio é o pai e mãe das mentiras; porém, fazendo-vos o juramento não vos
pode faltar, porque Deus não consente que ele engane uma criatura batizada e
remida com o seu Santíssimo Sangue.
No fim de tudo isto bem executado, apossai-vos do trevo, com que podeis
fazer tudo quanto desejardes, porque assim está escrito por São Cipriano.
X
M Á GI C A O U F E I T I Ç A R I A Q U E S E F A Z
COM DOIS BONECOS PARA FAZER
MAL A QUALQUER CRIATURA
Observai com atenção o que vos vamos ensinar, para esta mágica ser bem
feita.
Fazei dois bonecos; um deles significa a criatura a quem se vai fazer o
feitiço, e outro significa o que vai enfeitiçar.
Depois que os ditos bonecos estejam prontos, deveis uni-los um ao outro,
de maneira que fiquem muito abraçados. Depois de tudo pronto, atai-lhes
ambos uma linha em volta do pescoço como quem os está a esganar, e depois
de feita a operação pregai-lhe cinco pregos, nas partes indicadas:
1º) Na cabeça que vare um e outro.
190
2º) No peito, da mesma maneira.
3º) No ventre, que vare de um lado ao outro.
4º) Nas pernas, que as vare de um lado ao outro.
5º) Nos pés, de modo que lhes fure de um lado ao outro.
Desta sorte fica aquela criatura sofrendo as mesmas dores, como se tivesse
os pregos espetados nos seu próprio corpo.
Há ainda uma condição, e é que os ditos pregos devem ser empregados
com acompanhamento das seguintes invocações nos diferentes sítios em que se
espetam:
1º prego: Fulano, ou fulana, eu, fulano, te prego e amarro e espeto o teu
corpo, tal qual espeto, amarro e prego a tua figura.
2º prego: Fulano ou fulana, eu te juro, debaixo do poder de Lúcifer e
Satanás que de hoje para o futuro não hás de ter nem uma hora de saúde.
3º prego: Fulano ou fulana, eu, fulano, te juro, debaixo do poder da mágica
malquerença, que não hás de hoje para o futuro ter uma hora de sossego.
4º prego: Fulano ou fulana, eu fulano, te juro, debaixo do poder de Maria
Padilha, que de hoje para o futuro ficarás possesso de todo o feitiço.
5º prego: Fulano ou fulana, eu, fulano, te prendo e amarro dos pés à
cabeça pelo poder da mágica feiticeira.
Desta forma a criatura enfeitiçada nunca mais pode ter uma hora de
saúde.
Leitores! Não vos assusteis com isto, porque Deus, assim como deu ao
homem poder e sabedoria para fazer os feitiços, também deu remédio para se
combater contra elas como se explica na 1ª parte desta obra, que ensina a
desfazer toda a sorte de feitiçaria — que vem a ser a vida de São Cipriano
enquanto santo, e é por isso que recomendamos a todos os cristãos que não
deixem de possuir este livro.
191
DECLARAÇÃO
Para que não duvideis deste feitiço que acabais de ler, será bom dar-vos
uma explicação, que consiste no seguinte:
Precisam ser dois bonecos unidos um ao outro, tanto o que vai ser
enfeitiçado como o que enfeitiça; significando, o que enfeitiça, que está
abraçado ao enfeitiçado a querer matá-lo ou espetá-lo com pregos.
XI
MÁGICA DE UM CÃO PRETO
E SUAS PROPRIEDADES
Um cão preto tem muita força de mágica; assim o diz Cipriano no seu
manuscrito. Ora, há muitas pessoas que dizem que a mágica se faz com
palavras mágicas, porém, isso é falso; não há mágicas que obre por palavras, o
que se pode dizer é que sem palavras nada se pode fazer mas nem as palavras
valem sem certas coisas que têm força de mágica, nem tampouco as mesmas
valem sem nada mais.
Eis aqui a primeira mágica do cão preto:
Principiaremos pelos olhos do cão: Quando um cão estiver morto, tirai-lhe
o olho direito sem que o esmigalheis; depois colocai-o dentro de urna caixinha e
trazei-o no bolso, e quando passardes por um cão tirai-o do bolso e mostrai-o,
que o dito cão segue-vos para toda parte que fordes, ainda que o dono não
queira. Quando vós quiserdes que o cão se retire, fazei-lhe três acenos com a
dita caixinha.
192
XII
SEGUNDA MÁGICA OU
FEITIÇARIA DO CÃO PRETO
Com um cão preto pode-se fazer uma feitiçaria das mais fortes; assim o
assevera Athanásio em O Livro do Feiticeiro.
Faça-se da maneira seguinte:
Cortem-se as pestanas do cão preto, cortem-se-lhe as unhas, corte-se-lhe
um bocado do pelo do rabo, juntem-se estas três coisas e queimam-se com
alecrim-do-norte.
Depois de tudo isso reduzido a cinzas, recolham-nas dentro de um vidro
bem tapado, com uma rolha de cortiça por espaço de nove dias, no fim dos
quais está pronto o feitiço.
MODO
DE APLICAR
Suponhamos que é uma criatura, homem ou mulher, que deseja amar uma
outra criatura com bom ou mau sentido, e não pode conseguir por qualquer
motivo. Facilmente satisfaz o seu intento.
Pegue nos três objetos já ditos e misture uma pequena porção com tabaco
e faça um cigarro, o qual deve ser dos mais fortes; quando estiver falando para
a dita pessoa a quem deseja enfeitiçar, deite-lhe umas fumaças, e verá que essa
pessoa fica logo enfeitiçada; isto deve-se fazer por três vezes, ou cinco, ou sete,
ou nove ou mais, porém, deve a conta ficar sempre ímpar.
Declaramos mais, se for mulher e não possa fazer o feitiço por não fumar,
faça da seguinte maneira:
Pegue em um sinal qualquer da pessoa a quem deseja enfeitiçar e
embrulhe as tais espécies de que já falamos dentro do sinal, depois com um fio
de retrós verde comece a enrolá-lo em volta do dito sinal, dizendo as seguintes
palavras:
(Primeiro dá-se o nome da pessoa a quem se está a enfeitiçar).
193
“Eu te prendo e te amarro com as cadeias de São Pedro e de São Paulo
para que tu não tenhas sossego, nem descanso, em parte alguma do mundo
debaixo de pena de obediência e preceitos superiores.”
Depois destas palavras ditas nove vezes, está a pessoa enfeitiçada; porém,
se este feitiço, que nós vos acabamos de ensinar, não for bastante para obterdes
o que desejais, não vos assusteis com isso nem tampouco deveis perder a fé,
porque muitas coisas não se fazem por falta de uma vivíssima fé.
Bem deveis saber, leitores, que em muitas criaturas não entra a feitiçaria,
por causa de alguma oração que digam todos os dias ao deitar e ao levantar da
cama.
Eis a história de São Cipriano e Clotilde:
No dia 15 de janeiro do ano 1009, estando São Cipriano a conversar com o
príncipe Satanás, disse-lhe São Cipriano:
— Oh meu amigo Satanás, tu que ceia me dás hoje, em paga de eu ser tão
fiel? Respondeu Satanás:
— Vou hoje dar-te uma ceia, ou antes, um gosto de que tu, Cipriano, vais
gozar.
Mostrou-se Cipriano com um semblante de alegria e de prazer, e disse a
Satanás:
— Meu amigo e senhor, a quem eu amo há dez anos com tanta fidelidade
e com tanto prazer, que me parece que não estou contente se não quando estou
junto de ti...
Sorriu-se Satanás e disse:
— Pois já que tu me amas e me és fiel, hei de amar-te da mesma sorte; e
com isto mete a tua fava na boca e segue-me.
Desaparecendo logo Satanás e Cipriano.
Oito minutos depois estavam sobre o palácio do rei da Prússia.
Satanás abriu um buraco ao lado direito do quarto da princesa Clotilde,
depois voltou-se para Cipriano e disse-lhe:
— Tu vês aquela princesa tão bela? Respondeu-lhe Cipriano:
— Creio que não haverá menina tão formosa que se lhe possa assemelhar.
— Pois já vês, Cipriano, meu servo, que eu sou teu amigo, e que amo de
194
todo o coração.
Cipriano, ouvindo estas palavras, prostrou-se aos seus pés.
— Meu amigo e senhor, a quem eu amo de todo o meu coração, corpo,
alma e vida, se vós podeis fazer com que eu goze daquela donzela dou-vos um
juramento de vos amar ainda mais do que até aqui.
Satanás respondeu:
— Deixo-a ao teu alcance. Convence-a com as tuas astúcias e artes, que eu
aqui estou pronto para tudo quando quiseres.
Depois disso, Cipriano tratou logo de lhe fazer uma feitiçaria para fazer
com que a princesa o seguisse ou o mandasse chamar; porém, Cipriano nem
com todos os seus feitiços pôde convencer a princesa.
Vendo-se desesperado, encontrou-se um dia no palácio, foi ao gabinete do
rei e não o encontrou.
Irritado com isto, pensou meia hora o que havia de fazer.
De repente, entrou o rei pela porta do gabinete e bradou em voz alta:
— Acudam-me! Acudam-me!
Nisto Cipriano mete a mão na algibeira direita para tirar a fava e fugir,
porém baldado esforço; não a encontrou. Meteu a mão na algibeira esquerda e
tirou um canudinho de prata onde tinha um diabinho (dos que já falei).
— Que é que quer? — respondeu o diabinho. De repente disse-lhe
Cipriano:
— Quero já quatro castelos em volta de mim.
— Executarei as suas ordens num momento.
No mesmo instante chegaram cavalaria e escolta de soldados, porém, nada
fizeram. Foi tão forte o combate que o palácio ficou completamente destruído.
O rei prostrou-se aos pés de Cipriano, e lhe suplicou que lhe perdoasse
pelo amor daquele a quem Cipriano mais quisesse.
Cipriano disse-lhe:
— Saberás que eu sou um bispo, e além de ser um bispo, tenho arte
diabólica. Tu vês este palácio esta em nada; que me dás tu, que eu torno a pô-lo
tal qual estava, e isto num instante?
195
Depois Cipriano disse as palavras seguintes:
“Eu mando já pelo poder da mágica preta liberal, que tudo faz, mando já,
já, que este palácio seja levantado e fique no seu próprio natural e para golão
traga matão vais de pauto a molitão, pexela ispera regra retragarão, onite, prontual
fines”!
No fim de Cipriano dizer estas palavras, ficou o palácio tal qual como
estava; o rei que viu Cipriano fazer tantas maravilhas, assustado cada vez mais,
se lançou pela segunda vez aos pés de Cipriano e lhe disse:
— Eu te peço, te rogo, senhor, que me perdoes, se achas que estás
ofendido pela minha pessoa.
Cipriano lhe disse:
— Levanta-te, que estás perdoado, mas com a condição de que me hás de
dar a princesa, que é tua filha, Clotilde.
196
O rei ouvindo estas palavras tremeu e ficou imóvel, sem que pudesse dar
uma única palavra. Cipriano outra vez bradou:
— Já te disse! Queres dar-me a tua filha Clotilde? Do contrário tudo será
reduzido a nada.
O rei nada respondeu.
Tornou Cipriano:
— Então, que digo eu?
Cipriano, irado deu um forte grito e disse:
— Por toda a força de minha arte mágica preta e branca, mando que já
fique todo este reino encantado, reduzido a penedos e o rei e a rainha em duas
pedras de mármore!
Foi executada a sua ordem em cinco minutos. Só não pôde encantar
Clotilde por causa de uma oração que dizia todos os dias. Cipriano, assim que
viu tudo encantado, menos Clotilde, ficou irado contra Lúcifer e bradou em voz
alta:
— Lúcifer! Lúcifer! Aparece-me, meu Lúcifer!
— Aqui estou às tuas ordens, amigo Cipriano — disse Lúcifer.
— Quero que me digas — tornou Cipriano — a razão por que eu não
posso satisfazer os meus apetites com esta linda princesa.
A princesa, que ouviu estas palavras, disse em voz baixa:
— Se tu és o demônio, obrigado por uma força divina, disse a Cipriano:
— Amigo meu, saberás que há um Deus poderoso que cobre o Céu e a
Terra e tem poder sobre tudo. Se ele quiser, tu e eu não movemos daqui, porque
ele é poderoso. A princesa invocou o seu santo nome e eu não pude deixar de
confessar a verdade, além de que a princesa diz uma oração todo os dias, que a
livra de tudo quanto for tentação minha ou dos meus filhos queridos.
Cipriano, de repente, prostrou-se em terra e disse:
— Senhor dos altos Céus, quem sois vós, que eu não vos conheço? E tu
Satanás, espírito maligno, demônio maldito, foste a minha perdição? Maldita
seja a hora em que eu fui concebido; maldito seja o ventre que me gerou,
malditos sejam o pai e mãe de quem eu sou descendente; maldita seja a hora em
que eu nasci; maldito seja o leite que eu mamei; maldito seja quem tal criação
197
me deu; malditos sejam quantos passos tenho dado nesta vida! Meu Deus, meu
Deus, fazei já abrir as portas do inferno para tragar este maldito homem;
desapareça para sempre! Jesus, Jesus, se ainda tenho salvação, respondei- me
dos altos Céus.
Cipriano ouviu uma voz que lhe disse: “Filho, continua com esta vida que
tens, que eu te avisarei ,com um ano de antecipação, da tua morte, para
cuidares da tua salvação.”
Cipriano beijou a terra e agradeceu a Deus os benefícios que lhe fazia.
Porém, foi engano de Cipriano, porque aquela voz, que ele ouviu, foi do
mesmo demônio que, para o enganar, subiu nos astros para significar que era
Deus que respondia aos rogos de Cipriano.
Cipriano, como inocente, deu crédito à voz que ouviu. Muito inocente
devia ser para não se lembrar que aquela voz não podia ser de Deus. Porém,
Jesus Cristo, como bondoso e justo, não deixou de perdoar a Cipriano os
pecados cometidos pela ambição desmedida, que a ilusão pelo poder de Satanás
lhe havia causado. Cipriano retirou-se do palácio, e quando ia já distante ouviu
uma voz que lhe disse:
— Cipriano, Cipriano, valei-me nesta aflição pelo amor daquele grande
Deus dos altares. Cipriano tremeu e caiu por terra.
A boa da princesa Clotilde chegou junto de Cipriano e disse-lhe:
— Eu mando em nome de Deus! Levanta-te! Cipriano de repente
levantou-se e fitou os olhos da linda princesa, dizendo-lhe:
Que pretendes?
A princesa respondeu:
— Invoco o santo nome de Jesus, para que tu, homem, não te movas daqui
que vás restituir a vida de meu pai e mãe e desencantar tudo quanto tens
encantado neste reino por uma arte oculta e poderosa.
— Eu, disse Cipriano — tudo isto te faço, porém peço-te que me digas
qual é a oração que dizes todos os dias, por causa da qual eu nunca pude levar
por diante os meus depravados desejos, usando de todos os meus feitiços e
encantos.
— A oração que digo — respondeu a princesa — é muito simples, e de
muito boa vontade vo-la ensino.
198
Escutai:
199
ORAÇÃO
“Eu me entrego a Jesus e à Santíssima Cruz, ao Santíssimo Sacramento, às
três relíquias que tem dentro, as três missas do Natal, que me não aconteça
nenhum mal. Maria Santíssima seja sempre comigo o anjo da minha guarda me
guarde e me livre das astúcias de Satanás. P.N. e A.M.”
—X―
Cipriano foi em seguida ao lugar do palácio, desencantou tudo quanto
tinha encantado e disse para a princesa:
— Pede sempre por mim nas tuas orações.
A princesa assim fez e obteve de Nosso Senhor Jesus Cristo o perdão dos
pecados de Cipriano, que não andou senão mais um ano naquela vida
enganosa.
Salvou-se Cipriano, porque Deus não reserva ódios a seus filhos, aos quais
muitas vezes deixa seguir caminho errado para em ocasião oportuna lhes
mostrar o seu poder.
Por tudo o que fica exposto, já vedes, leitores, que o demônio não pode
empecer a quem diz alguma oração como a que dizia a princesa de que vos
acabamos de falar. Fazei a diligencia para imitar esta filha de Deus para que não
sejas perseguido pelo demônio, nem pelas bruxas e feiticeiros.
Pedimos, pois, a todas as pessoas dedicadas a esta espécie de leituras que
se queiram furtar a encantos e ciladas perigosas, que conservem sempre na
memória esta milagrosa oração.
200
MISTÉRIOS DA FEITIÇARIA
EXTRAÍDO DE UM MANUSCRITO DE MAGIA
NEGRA QUE SE JULGA DO TEMPO DOS MOUROS
Procedendo-se a umas escavações na aldeia de Penacova, no ano de 1410,
encontrou-se ali um manuscrito em perfeito estado de conservação.
Aí vai parte desses mistérios:
Nesse pergaminho precioso encontram-se coisas muito curiosas, algumas
das quais vamos apresentar aos leitores convictos de que lhes prestamos um
bom serviço.
Foi este pergaminho, hoje existente na Biblioteca de Évora, que deu
assunto a um livro de Enguerimanços muito aceito hoje no Brasil, intitulado o
“Livro do Feiticeiro Athanásio”.
XIII
RECEITA PARA OBRIGAR O MARIDO A SER FIEL
Toma-se a medula dum pé de cachorro preto, desses de raça pelada, e
enche-se com ela um agulheiro de pau. Envolva-se depois o agulheiro num
pedaço de veludo encarnado perfeitamente justo e cosido. Depois, descosendose a parte do colchão que fica entre o marido e a mulher, introduza-se o
agulheiro, porém, de modo que não venha a incomodar de noite.
Isto feito, a mulher deve tornar-se muito amável e condescendente com o
marido, concordando em tudo com a sua suprema vontade. Procurará rir
quando ele por acaso estiver triste, prometendo ajudá-lo se por fatalidade a
201
sorte lhe for adversa, e deve também resignar-se quando desconfiar que ele tem
alguma amante, fingindo até que o não sabe.
A noite, à hora de deitar, e de manhã, ao levantar da cama, dar-lhe-á umas
vezes uma comida ou bebida com bastante canela e cravo, e outras um
chocolate com grande porção de baunilha, canela e cravo.
Dormirá completamente despida, encostando o mais que puder o seu
corpo ao do marido, para lhe transmitir o calor e o suor.
Todas as vezes que ele entrar em casa dar-lhe-á alguma coisa, e dirá que
pensou nele. O mimo poderá ser fruta ou doce de que ele goste, uma flor, e na
falta destas coisas um abraço acompanhado de um beijo.
Se ele tiver mau gênio, se for grosseiro e áspero, deverá não o contrariar
nunca; antes deve ameigá-lo. Se ele for dócil, mais inconstante, deve sempre
apresentar-se superior a ele em todos os atos da vida e em todos os sentimentos.
Esta receita, sendo observada com atenção às formalidades que aqui
deixamos expostas, é de um efeito incontestável.
Experimente as leitoras, e darão por bem empregado o seu tempo.
XIV
RECEITA PARA OBRIGAR AS MOÇAS
SOLTEIRAS E ATÉ MESMO AS
SENHORAS CASADAS A DIZEREM TUDO
O QUE FIZERAM OU TENCIONAM
Tome-se o coração de um pombo e a cabeça de um sapo, e depois de bem
secos e reduzidos a pó, encha-se um saquinho, que se perfumará juntando ao
pó um pouquinho de almíscar.
Deita-se o saquinho debaixo do travesseiro da pessoa quando estiver a
dormir, que, passado um quarto de hora, saber-se-á o que deseja descobrir.
Logo que a pessoa deixar de falar, ou poucos minutos depois, tire-se-lhe o
202
saquinho de debaixo do travesseiro para não expor a pessoa a uma febre
cerebral que poderá causar-lhe a morte.
XV
REC E I T A P A R A S E R F E L I Z , N A S
COISAS QUE SE EMPREENDEM
Tome-se um sapo, vivo, cortem-se-lhe a cabeça e os pés numa sexta-feira,
logo depois da Lua cheia do mês de setembro; deitem-se esses pedaços de
molho por espaço de 21 dias, em óleo de sabugueiro, retirando-se depois deste
prazo às 12 badaladas da meia-noite; expondo-se depois por espaço de três
noites seguidas aos raios da Lua, calcinem-se num pote de barro, que não tenha
ainda servido, misturando-lhe depois igual quantidade de terra de cemitério,
mas justamente do lugar em que esteja enterrada alguma pessoa da família a
quem se destina a receita.
A pessoa que a possuir, pode ter toda a certeza de que o espírito do
defunto velará pela sua pessoa, e por todas as coisas que empreender, por causa
do sapo, que não perderá de vista os seus interesses.
XVI
R E C E I T A P A R A F A Z E R - SE
AMAR PELAS MULHERES
Antes de tudo, convém estudar, embora pouco, o caráter e o gênio da
mulher que se quer requestar, a regular e dirigir sua norma de conduta e modos
em relação ao conhecimento que se tiver obtido a esse respeito.
Inútil será recomendar, conforme os recursos de cada qual, um trajo, não
203
direi já elegante ou rico, porém, sempre de uma limpeza inexcedível. O homem
enxovalhado não pode cativar as mulheres. A limpeza no fato, por conseguinte,
ainda mais a recomendamos no que diz respeito as partes do corpo.
Logo que seja observada esta primeira condição, tome-se, seis meses
depois, um coração de um pombinho virgem, e faça-se engolir por uma cobra.
A cobra, no fim de mais ou menos tempo, virá a morrer; tome-se a cabeça dela e
seque-se no borralho ou sobre uma chapa de ferro bem quente, sobre um fogo
brando. Depois reduza-se a pó pisando-a num almofariz, no fim de lhe haver
juntado algumas gotas de láudano; e quando se quiser usar da receita
esfreguem-se as mãos com uma parte desta preparação, como já ensinamos aos
nossos leitores na primeira parte desta obra.
XVII
R E C E I T A P A R A S E F A Z E R A M A R P E L O S H O M E NS
A receita aconselhada aos homens para se fazer amar pelas mulheres, e
que precede a esta, é, debaixo de todos os pontos de vista, a que devem
primeiramente empregar as mulheres que desejarem fazer-se amar pelos
homens; porém, a eficácia desta receita depende de certas práticas que se não
devem desprezar nem esquecer.
Vamos apontá-las:
A mulher procurará obter do homem que escolheu uma moeda, medalha,
alfinete ou qualquer outro objeto ou fragmento, contanto que seja de prata, e
que ele o tenha trazido consigo por espaço de 24 horas, pelo menos. Aproximarse-á do homem tendo a prata na mão direita, oferecendo-lhe com a outra um
cálice de vinho onde se tenha desmanchado uma bolinha do tamanho de um
caroço de milho, da seguinte composição:
Cabeça de enguia:
uma
Sementes de cânhamo:
um dedão
Láudano:
duas gotas
204
Logo que o indivíduo tenha bebido um cálice deste vinho, há de
forçosamente amar a mulher que lhe tiver dado, ou mandado dar; não lhe
sendo jamais possível esquecê-la enquanto durar o encanto, cujos efeitos se
podem renovar sem o menor inconveniente.
Se, por acaso, o homem for tão forte que resista à ação do medicamento,
ou o medicamento o não apaixonar imediatamente, a mulher, então, se o tiver
de si, e a sós dê-lhe a beber uma xícara de chocolate, na qual deitará, ao bater os
ovos:
Canela em pó:
duas pitadas
Dentes de cravos:
cinco
Baunilha:
dez gramas
Noz moscada raspada:
uma pitadinha
Depois de pronto, tiram-se os dentes de cravo e deita-se:
Tintura de cantáridas:
duas gotas
Se o indivíduo quiser ou pedir alguma coisa para comer, deve dar-se-lhe
de preferência pão-de-ló.
Às vezes, se a mulher não tiver muita pressa de prender o homem, basta o
chocolate com cravo, baunilha e canela.
O chocolate pode ser substituído pelo café; porém neste caso prepara-se o
café com erva- doce, ajunta-se simplesmente uma gota de tintura de cantáridas.
Não ocultaremos à leitora que o indivíduo logo desconfia que o querem
enfeitiçar.
Se a mulher recear que o homem lhe escape, e deseja conservá-lo por
muito tempo, repetirá o primeiro medicamento de quinze em quinze dias, e nos
intervalos, convidando-o para almoçar ou cear, deve dar-lhe:
Ao almoço, uma fritada ou omelete preparada da seguinte maneira:
batam-se os ovos bem batidos; depois lançando-os do alta da espinha nua,
deixam-se escorregar pela extensão, indo em seguida apará-los embaixo, onde
acaba a espinha. Faz-se a fritada, e põe-se na mesa, ainda quente.
Ao jantar, pisando e picando a carne para almôndegas, deitam-se os ovos
205
batidos, e depois, antes de levar os bolos ao fogo, passam-se a um e a um, no
corpo suado, peito, costas e barriga, fazendo-os demorar um pequeno espaço
debaixo dos sovacos.
O café que se lhe der ao almoço e no fim do jantar será coado pela fralda
da camisa da própria mulher, essa camisa deve ser dormida com ela pelo menos
duas noites.
Afiançamos que esta receita tem concorrido para a felicidade de muitas
mulheres.
XVIII
VERDADEIRA ORAÇÃO PARA
ENXOTAR O DEMÔNIO DO CORPO
A importância desta oração em algumas combinações cabalísticas é
conhecida por todos aqueles que se entregam ao estudo das ciências chamadas
ocultas.
Vamos aqui repeti-la em toda a sua pureza, com toda a sua exatidão e
verdade:
“Imortal, eterno, inefável e santo Pai de todas as coisas, que de carro
rodante caminhas sem cessar por esses mundos que giram sempre na
imensidade do espaço; dominador dos vastos e imensos campos do éter; onde
ergueste o teu poderoso trono, que desprende luz e luz, e de cima do qual teus
tremendos olhos descobrem tudo, e teus largos ouvidos tudo ouvem! Protege os
filhos que amaste desde o nascimento dos séculos, porque longa e eterna é a sua
duração. Tua majestade resplandece acima do mundo e do céu das estrelas! Tu
te elevas a ti mesmo pelo próprio resplendor, saindo de tua essência, correntes
inesgotáveis de luz, que alimentam teu espírito infinito! Este espírito infinito
produz todas as coisas, e constitui esse tesouro imorredouro de matéria, que
não pode faltar à geração que ela rodeia sempre pelas mil formas de que se acha
cercada, e com a qual a revestiste e encheste desde o começo. Deste espírito
tiram também sua origem esses santíssimos reis que se acham de pé ao redor do
206
teu trono e que compõe tua corte, ó Pai universal! ó único Pai dos bemaventurados mortais e imortais! Tu tens, em particular, poderes que são
maravilhosamente iguais ao teu eterno pensamento aos anjos, que anunciam ao
mundo tuas vontades. Finalmente, tu criaste mais uma terceira ordem de
soberanos nos elementos.
A nossa prática de todos os dias é louvar-te e adorar as tuas vontades.
Ardemos em desejos de possuir-te! Oh Pai! Mãe! Terna, mãe, a mais terna mãe,
a mais terna de todas as mães! Oh filho, o mais carinhoso dos filhos. Oh formas
de todas as formas! Alma, espírito, harmonia, nomes e números de todas as
coisas, conserva-nos e sê-nos propício. Amém.”
XIX
ORAÇÃO QUE PRESERVA DO RAIO
Passa-se uma fita branca no braço, pescoço ou cintura de Santa Bárbara,
logo no começo da trovoada, e acenda-se uma vela de quarta.
Feito isto de hora em hora, depois de ter lavado a boca três vezes com três
bochechos de água, dir-se-á:
“Eu vos peço, Senhora, que intercedais por mim, junto daquele que por
nós morreu resignado. Como esta fita que cingi ao pescoço, tenho a alma pura e
puras as intenções. Livrai-me, Senhora, a mim que eu sou digno (ou digna) de
vossa proteção, contra os terrores do raio. Amém.”
XX
MÁGICA DAS UVAS E SUAS PROPRIEDADES
É muito interessante esta mágica, segundo diz São Cipriano, em sua obra.
207
Satanás é o mais astuto de todos os demônios, isto é, o príncipe Belzebu, o
mais sábio de todos os seus companheiros.
Tomai uma garrafa que tenha o bojo bastante largo. Depois de preparada a
dita garrafa, deitai-lhe dentro decilitro de uvas que tenham os cachos a nascer, e
metei um dos cachos dentro em meio de azeite virgem, e colocai a garrafa numa
latada do gargalo da dita garrafa e prendei-a à videira do melhor modo que
puderes, da maneira que o cacho há de vingar dentro da garrafa com azeite.
É preciso notar que o cacho não deve tocar no azeite.
Logo que estejam maduros os cachos da latada, cortai o que está dentro do
gargalo da garrafa, e fica pronta esta operação.
EXPLICAÇÃO
AZEITE
D A S V I R T U D E S E P R O P R I E D A D E S D E STE
E CACHO QUE FICAM DENTRO DA GARRAFA
1ª — Acendendo uma luz com o dito azeite, aparecem todos os arvoredos
que estão em torno da latada donde saiu o dito cacho, e aparecem uvas
maduras e veem-se algumas pessoas que por acaso se encontravam no mesmo
sítio donde se cortou o cacho; finalmente, aparecem todos os objetos daqueles
lugares; fruteiras, pássaros, árvores e tudo o que mais próximo dos cachos se
encontrava.
A VISO
PARA ESTA C O ND IÇ ÃO :
Quando aparecerem a fruta e os cachos
não os cortem para comer, do contrário arriscam-se a levar uma bofetada do
demônio. Logo que se apague a luz, desaparecem todo aquele arvoredo e
demais objetos.
2ª) O azeite tem virtude para curar qualquer ferida nova ou antiga,
deitando-lhe em cima uma pinga de azeite com os fios de linho.
3ª) Este azeite tem a virtude e poder de fazer sair as almas do purgatório e
vir falar à pessoa que as chama à porta da igreja ao dar meia-noite. Acendendo
a luz e dizendo: “Eu, pelo poder desta luz, mando que já me falem as almas que
estão no purgatório, aqueles cujos corpos têm sido sepultados nesta casa”,
imediatamente aparecem as almas, mas é preciso ter muito animo do contrário
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pode disso resultar a morte à pessoa que as chama.
4ª) O azeite tem a virtude e poder de fazer uma feitiçaria a uma outra
pessoa, fazendo da maneira seguinte, tal qual como a fez São Cipriano na
cidade de Cartagena a uma menina do nome Adelaide.
Cipriano-feiticeiro desejou possuir o amor de uma menina chamada
Adelaide e foi pedi-la a seus pais; porém, debalde que eles negaram-lhe.
Desesperado com a resposta dos pais de Adelaide, se irou de tal maneira
contra eles, que mandou ao seu diabrete, que sempre trazia na algibeira, que
destruísse sem perda de tempo as casas e todos os bens aos pais de Adelaide.
Foram logo executadas as suas ordens.
Logo que Adelaide viu os seus haveres destruídos, dirigiu-se a Cipriano e
lhe disse: “Homem, que mal te fez meu pai para que tu obrasses para com ele
com tanta ingratidão?”
Cipriano lhe respondeu:
— Tu não vês, Adelaide, que te amo tanto que nada vejo senão o lugar
onde tu habitas? Respondeu Adelaide a Cipriano:
— Se é verdade o que dizer, faze de conta que de hoje em diante sou tua
escrava, mas não tua mulher; porque não sou digna de ser desposada por ti.
— Por que razão, – disse Cipriano – porque razão dizer tu que não és
digna de ser minha esposa?
— Pois sendo tu um santo – respondeu Adelaide – canonizado por Deus,
como posso eu ser tua mulher, se sou a maior pecadora do mundo, como outra
igual não julgo existir?
Cipriano voltou-se para Adelaide e lhe disse:
— Menina, pois se tu tanto adoras a Deus, e ainda assim dizes que és a
maior pecadora do mundo, que Deus de vingança tu adoras?
Adelaide, ouvindo estas palavras, ficou como que pasmada e duvidando
do que tinha ouvido, e disse consigo: “Que Deus será o que adora este homem?
Porventura haverá outro Deus, sem ser o meu? Não é possível!” Revestiu-se de
coragem e disse a Cipriano:
— Homem, obrigo-te da parte de Deus, a quem adoro, que me digas que
Deus estranho é esse que tu adoras e que te obriga a renegar o meu?
209
Respondeu Cipriano: L ÚCIFER !
— Eu te obrigo e esconjuro da parte de Deus, a quem adoro, que me
restitua os meus haveres, tal qual eles estavam.
Cipriano, obrigado pela força de Deus Onipotente, tornou a restituir os
bens aos pais de Adelaide, e no fim de tudo isto retirou-se sem se gozar de
Adelaide.
Lúcifer, aparecendo, disse a Cipriano estas palavras:
— Meu amigo Cipriano, não me andes sempre a incomodar, já te ensinei a
fazer todos os feitiços e toda a arte mágica. Já tens todo o poder que eu tenho,
porém, como amigo teu que sempre fui, sou e hei de ser, vou dar-te um
conselho para te poderes gozar de Adelaide!...
Cipriano disse a Lúcifer:
— Tu, meu amigo, a quem eu amo de todo o meu coração, corpo e alma,
dize o que hei de fazer neste caso.
— Pega na tua garrafa mágica – disse Lúcifer – e mete a tua fava na boca e
torna-te invisível; neste mesmo instante, deita um pouco de azeite da tua
garrafa em uma das luzes que lá vires, que tanto Adelaide como seus pais
ficarão assustados dos prodígios que observarem, e tu, Cipriano, aproveita essa
ocasião para te gozares de Adelaide.
Cipriano foi, infelizmente, executar assim as ordens de Lúcifer, espírito de
maldade.
Depois de cinco minutos já Cipriano se tinha gozado de Adelaide e
estavam satisfeitos os seus infames desejos.
Depois de verdes, donzelas, o que aconteceu à menina Adelaide, rogai ao
Senhor e à Maria Santíssima que vos livre das astúcias de Satanás, porque o
demônio tantos enredos arma aos cristãos, que eles não lhes podem fugir.
E ademais, amáveis leitores, por que não andais vós sempre bem
encomendados a Jesus e à Maria Santíssima?
210
XXI
C O M U M D E S E N G A N O N O T Á V E L D E E S T I M Á VEL
VALOREPROVEITO, ACERCA DE UM MODO DE
C U R A R A S C H A G A S N O V A S E F R E S CAS
QUE HOJE USAM ALGUMAS PESSOAS,
COM VINHO, AZEITE E ORAÇÕES
Costuma, em certos tempos e ocasiões, aparecer nas unhas dos dedos das
mãos uns sinais brancos e outros negros, e assim uns como outros procedem
dos quatro humores que dominam, uns mais, outros menos, nos corpos
humanos, e esses humores vem a ser sangue, fleugma, cólera e melancolia, os
quais, por estarem sujeitos às influências dos corpos celestes, se alteram,
aumentam e diminuem em uns tempos mais que em outros, causando vários
efeitos, uns que de todo são maus e outros que não são de todo bons. Isto se
deixa ver na verdade a mudança dos quatro tempos do ano, pois em cada um
há um dos quatro humores: e esta é a causa, porque a Santa Madre Igreja
(conforme São Damasceno) tem ordenado os quatro jejuns e têmporas do ano,
instituindo as primeiras têmporas e jejuns na primavera do estio, para que com
este jejum e abstinência se reprima em nós o humor sangüíneo, que no tal
tempo costuma predominar e incitar os mortais à luxuria e vanglória. As
segundas têmporas e santos jejuns estão ordenados na entrada do estio, para
reprimir e diminuir o humor colérico que na segunda parte do ano costuma
predominar e provocar os homens às iras, ódios e enganos. As terceiras
têmporas se ordenaram por setembro, para reprimir em nós o humor
melancólico que em tempo costuma predominar e causar enfados, tristezas,
moléstias e avarezas, e ainda suspeitas e desesperações, e muito mais nos que
são de natureza melancólica. Finalmente, na entrada do inverno jejuamos as
últimas têmporas, para que se diminua o humor fleugmático que por esse
tempo costuma predominar mais que em outro, causando em nós muita
preguiça e frouxidão, assim espiritual como corporal. De sorte que os ditos
quatro humores estão sujeitos à variedade e mudança dos tempos causados
pela diversidade dos aspectos celestes, e conforme estiverem bem ou mal
dispostos em nossos corpos, assim causam bons ou maus efeitos, e entre muitos
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que causam, são os sinais negros, que em certo tempo, costumam sair e
aparecer nas unhas dos dedos, advertindo que os sinais negros sempre se
geram e procedem de humores quentes e péssimos, denotando a muita e
grande malignidade que têm, os terríveis efeitos que causam a quem os tem,
ajudados da influencia de algum mau planeta. Os sinais brancos também
denotam proceder de algum humor supérfluo, porém, porque se geram de
humor frio, não são de tanta malignidade como os sinais negros, ainda estão
sujeitos à influencia de maus planetas como os outros, por causa da qualidade
de que se geram, e, portanto, não denotam coisas tão terríveis. E porque se
algum curioso desejar saber em que parte do corpo e dedo da mão predomina
cada planeta, lhe direi com brevidade.
O planeta Vênus tem seu natural domínio nos rins e dedo polegar da mão
do homem. O planeta Júpiter domina no fígado e no dedo índex. O planeta
Saturno naturalmente domina no baço e no dedo do meio. O planeta Sol tem
seu domínio no coração e estômago do homem, e no dedo anular. O planeta
Mercúrio, diretamente domina no baço e dedo mínimo. O planeta Lua domina
na cabeça e principalmente no cérebro, e no monte, em que está o dedo mínimo
até o pulso da mão. O planeta Marte tem força e domínio no fel, e dali
correspondem, e influi no meio da palma da mão dentro de um triangulo dos
raios, que ali se acham.
Esses dois últimos planetas participam e ajudam às influencias dos outros,
menos, conforme a disposição e aspecto que com ela tiveram; e tudo o que
dissemos e dissermos, sujeitamos à obediência e correção da Santa Igreja
Católica Romana.
XXII
S E G U E - S E N O T Á V E L D E S E N G A N O , D O M O DO
DE CURAR COM VINHO, AZEITE E ORAÇÕES
A razão natural e a experiência, que é a mãe de desenganos, caiu na conta
(posto que tarde) acerca de um maravilhoso modo de curar todas e quaisquer
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chagas frescas só com vinho e azeite, sem aplicar palavras e orações, nem por os
paninhos desta ou daquela maneira, que é engano muito grande e superstição
manifesta nas palavras e orações que dizem os que assim curam, nem em por
paninhos em cruz como fazem, senão só no vinho e azeite que têm virtude e
força natural para as sarar, e preservar de toda a corrupção e posterna,
conservando-as sempre frescas e sem matéria, até ficarem de todo sãs, como a
experiência o fará ver e crer, a quem o quiser experimentar. Esse modo de curar
as chagas novas e frescas com vinho, entendo que foi tirado do Sacrossanto
Evangelho de São Lucas no cap. 10, pelo que vai contando de um homem que,
descendo de Jerusalém a Jericó, deu em mãos de ladrões, que não só o
roubaram mas maltrataram com tantas e tais feridas que o deixaram por morto.
E diz ali o Redentor da vida, que passando um Samaritano e vendo o triste
homem tão mal parado, se compadeceu dele e lhe apertou as chagas com vinho
e azeite, e deste exemplo tomaram ocasião alguns para curar chagas e virtudes
com vinho e azeite se faziam, encobrindo a virtude e força natural do dito vinho
e azeite com palavras santas e orações abençoadas e devotas, e para que assim
nem todos senão alguns pudessem gozar de um bem tão grande e tão
importante para todos. E para que se veja clara e manifestamente, que a virtude
e força de sarar as chagas novas e frescas, está no vinho e azeite e não nas
palavras e orações que dizem os que assim curam, é que nunca podem sarar as
chagas ir3lhas e muito antigas, e ainda eles mesmos o confessam e dizem que
eles não curam chagas velhas nem fístulas. Eu digo que se a virtude de sarar as
chagas novas estivesse nas palavras e orações, sarariam as chagas velhas como
as novas, porém, vemos o contrário. Logo bem se segue que a virtude de sarar
as chagas frescas, e de as conservar sempre frescas e sem matéria, procede só do
vinho e azeite, e fazendo quem quiser a experiência, ficará desenganado.
Perguntar a alguém: por que razão o vinho e azeite não tem eficácia para sarar
as chagas velhas e mui antigas? A resposta é mui fácil: e vem a ser que a virtude
do vinho e do azeite não chega a tirar a malignidade que há muito tempo tem
arraigada e concebida as fístulas e chagas velhas, contudo, tem bastantíssima
virtude e eficácia para sarar e em curar qualquer chaga fresca ou nova, ainda a
que seja grande e terrível, senão, também para conservar sempre fresca, sem
consentir que crie jamais matéria, como sucede com os unguentos, que tantos
que os aplicam às chagas, logo criam matéria em razão do que as chagas se
entretêm e ditalam muito e muito tempo, sem se cerrarem, e fistular a chaga; o
que por nenhum caso sucederá assim como o vinho e azeite. Pelo que peço a
todos em geral, e muito mais aos cirurgiões que se disponham a curar todas as
213
chagas novas e frescas só com vinho e azeite, pois é certíssimo que só com esses
medicamentos preservativos e conservativos sararão todas as chagas frescas,
com menos trabalho e mais brevidade que com os ditos ungüentos, e ainda com
menos moléstias e dano do paciente e pois todos estamos obrigados a usar do
remédio mais breve, melhor e mais fácil, assim para nossa necessidade como
para a do próximo, torno a pedir e encomendar façam a experiência usando
deste e encomendar façam a experiência usando com vinho e azeite, pois com
toda a brevidade e suavidade alcançarão o fim que se há de pretender e desejar
que é a saúde.
XXIII
O MODO QUE SE HÁ DE TER E
G U A R D A R E M CUR A R A S C H A G A S N O V A S
E FRESCAS SÓ COM VINHO E AZEITE
Primeiro aparelheis cinco ou seis pedacinhos de pano muito limpo, do
tamanho da chaga ou pouco mais, e poreis um pouco de vinho em uma vasilha
e um pouco de água, para que o dito vinho não seja mordaz, nem muito forte
para a chaga; lavá-la-eis com um pano de linho molhada com vinho branco e
depois de lavada a chaga, untá-la-eis ao redor com um pouco de azeite comum;
e antes que façais isto, será santa e de cristão, benzer a chaga em nome do Padre
e do Filho e do Espírito Santo. Feito isso, poreis os paninhos molhados com o
dito vinho na chapa ou ferida em cruz, como quiserdes, que não importa que os
ponhais sejam mais ou menos. E notai, que a causa porque põem tantos
paninhos é porque se recolhem e ensopam mais vinho e assim dá lugar a que
não se crie matéria alguma.
214
XXIV
SEGREDOMUINECESSÁRIO PARA
REPRIMIR O SANGUE DAS FERIDAS
Costuma algumas vezes sair tanto sangue das feridas, que muitos sem
remédio se esgotam, e acabam por instantes; e não só pelas feridas, mas
também pelos narizes ou por ocasião de alguma sangria, ou por fluxo de
sangue, e isso é próprio das mulheres, pois para evitar semelhantes perigos,
escreve Constantino, e o confirma Pedro Logreto, para que se aplique pós das
rãs torradas na parte donde sair o sangue, logo estancará. Diz mais um dos
ditos que se a mulher ou homem trouxer consigo esses pós de sorte que lhe
toquem ao corpo não temam que se sangre, ainda que tenham fluxos de sangue.
XXV
COMO SE HÁ DE PREPARAR OS PÓS DE RÃS
Lançarão as que quiserem, vivas, em uma panela nova, coberta e barrada
da qual não saia bafo algum; e posta a dita panela no fogo sobre brasas vivas,
até que as rãs estejam de todo torradas, depois as pisarão e passarão por uma
peneira rala, e podem usar destes pós nas ocasiões, que dissemos; e também
tem virtude para soldar as veias rotas.
215
XXVI
UNGUENTO PRECIOSÍSSIMO PARA
CURAR QUALQUER FÍSTULA OU
CHAGA VELHA E OUTROS MALES
Já que com o favor de Deus dissemos, e declaramos o que convinha ao
modo de curar as chagas novas e frescas, será bem que com o mesmo favor
digamos, e declaremos um estranho segredo e admirável unguento para sarar
qualquer fístula e chaga velha, cuja receita de fazei o dito unguento é a que se
segue:
Em uma libra de azeite rosado lançarão quatro onças de alecrim numa
redoma de vidro bem tampada, à qual porão ao Sol e também ao Sereno por
espaço de um mês. Feito isso se obrará o unguento desta maneira. Lançarão um
pouco desse em uma tigela de fogo nova, e posta a esquentar, lhe deitarão de
cera bela, quantidade que parecer bastante, para ficar feito unguento, o qual não
seja muito espesso nem muito ralo.
E tanto que a cera estiver derretida e incorporada tirarão fora a tigela,
pondo-a a esfriar e se acharem que o unguento fica muito espesso e duro lhe
lançarão mais azeite, e se estiver mui mole, lhe acrescentarão mais cera bela,
com que ficará feito o unguento, com o qual não só curarão as fístulas e chagas
velhas, mais também melhor efeito se experimentará nas novas e frescas, e
notem que se sobre dita redoma com o azeite e flor se puser dentro em
quantidade esterco de cavalo (que esteja bem quente) conservando-a enterrada,
e bem coberta por espaço de um mês, e depois fizerem o unguento, como fica
dito, sairá perfeito e de tanta virtude que com ele podem sarar o mal do cancro
ou tinha-bostela, que saem aos meninos na cabeça, e também a sarna e toda a
queimadura. Mas advirtam que para sarar todos esses choques, que são de
menos porte, e sobrevém aos menores e ainda aos grandes, se lhes há de aplicar
o unguento mais ralo e branco, que o que se faz permanecer pegado às chagas, e
dessa sorte com a virtude desse unguento e principalmente com o auxílio e
favor de Deus ficarão curados os sobreditos males e muito mais.
216
PARTE VIII
PODERES DA
MAGIA NEGRA
217
218
MÁGICA SOBRENATURAL PARA
S E V E R E M UM A B A C I A D E Á G U A A
PESSOA QUE DE NÓS ESTA AUSENTE
Tome-se um pouco de água do mar, a qual deverá ser tomada de nove
ondas; se for tomada no quarto de lua, melhor será. Pode-se tomar uma camada
de cada onda, pouco mais ou menos, e de cada camada d’água que se tomar,
chama-se pela pessoa ou pessoas que se querem ver. Junte-se toda a água em
uma bacia ou alguidar, e ao dar da meia-noite acendam-se duas velas de sebo,
colocando-se uma de cada lado do alguidar.
Feito isso, chama-se nove vezes pela pessoa que se deseja ver,
pronunciando as seguintes palavras:
“Eu te conjuro F., para que te apresentes em corpo e alma aqui nesta bacia,
pelo poder dos nove gênios que navegam sem cessar sobre as vagas do oceano,
a quem eu rogo em nome de Adoanes, para que te faça visível nesta água.
Conjuro-te também, oh! Gênio, que faças aparecer F., imediatamente, livre
de qualquer eventualidade.
E desconjuro o Gênio das 24 ondas do mar para te abrir caminho por onde
quer que passardes.
O indivíduo, daí por cinco minutos, coloque-se sobre a bacia e verá a
pessoa por quem chamou tal qual se achava na ocasião de ser transportada nas
asas do Gênio.
Assim como os gênios te trouxeram, eles que te levem em paz.
Feito isso, deve-se observar que deitar logo a água fora é pernicioso; por
isso é necessário esperar nove minutos mais para o fazer.
M Á GI C A O U B R U X A R I A P A R A O B R I G A R U M A
PESSOA A CEDER-NOS O QUE DESEJAMOS
Observe-se o seguinte:
219
Tome-se um sinal qualquer da pessoa a quem se deseja enfeitiçar.
Feito isso leve-se à beira do mar a um lugar que tenha bastante areia, façase no chão uma cruz e colocando em cima do dito sinal, pronuncie-se a seguinte
conjuração:
CONJURAÇÃO
Eu, F., vos conjuro, oh! Espírito! Que sobre as ondas do mar andais,
ligados pelo poder do Grande Profeta Jonas que três dias e três noites andou no
mar metido no ventre de um peixe o qual foi durante as três noites perseguido
pelos espíritos dos dois Gênios maus. Porém, Jonas, em nome do Salvador, vos
ligou às ondas do mar, onde estareis perpetuamente e só tereis o poder de
ajudar os homens, livrando-vos das águas por espaço de 24 horas, quando os
espíritos encarnados chamarem em nome de Jonas. Portanto em nome do bemaventurado Jonas vos conjuro e ligo ao corpo de F., e dentro de 24 horas me farei... Tal ou qual coisa (sendo essa coisa a que estiver na mente do conjurado).
Acabada esta conjuração, bate-se 3 ou 5, ou 9, ou 11, ou 15, ou 19, ou 24, ou
38 pancadas sobre o sinal que deve estar colocado sobre a cruz de que já se
falou.
O pau de que nos devemos servir é necessário que seja de oliveira, cedro,
salgueiro ou cipreste, etc. Logo que tudo fique executado, conforme acabei de
indicar, nada mais será preciso fazer, chegando à completa realização do nosso
desejo.
OU T R A M Á G I C A Q U A S E I D Ê N T I C A A Q U E
ACABAMOS DE INDICAR, PORÉM SEM SER
PRECISO CONJURAÇÕES, PARA CHAMAR
OS ESPÍRITOS INVISÍVEIS, PARA VIREM
COMUNICAR-SE COM OS ENCARNADOS
À meia-noite em ponto iremos à beira do mar, e encheremos um pequeno
saquinho de areia, da mais fina que encontramos na praia, e neste saquinho
220
meteremos um pouco de cinza de oliveira, e um grama de mirra, e uma moeda
de prata.
Logo que tudo isto esteja dentro do saquinho, não se lhe torne mais a por
as mãos; para isso se faz outro saquinho de linha e se mete dentro a de lã; e logo
que o saquinho fique assim preparada, não se lhe dá o nome da saca.
Deve-se-lhe chamar “encanto mágico.”
Com o dito encanto mágico, pode-se fazer o que se desejar, a virtude está
nas palavras e no pensamento.
Porém, esta mágica é sempre a mais perigosa de todas quantas temos a
enumerar nesta obra, porque a sua ação tem um poder sobrenatural, do qual se
não pode conhecer a razão. Só o que sabemos é o seguinte:
Este encanto mágico não se pode tocar com ele em uma criatura, nem
mesmo um animal, pois tem tal ação, que, dando-se com a saca em um corpo
vivente, causa-lhe a morte, sem que haja remédio, tanto medicinal como
espiritual, que lhe possa dar cura.
Porém, o que acabo de referir não quer dizer que cause a morte só com o
tocar a saca uma só vez.
Para se dar a morte a qualquer pessoa, é preciso dar-lhe com a dita saca,
ou encanto mágico, bastante vezes e com pouca força; basta só o pensamento de
querer fazer mal.
Finalmente, logo que se der o primeiro toque com a saca já a pessoa não se
move mais nem pode gritar por socorro.
Contudo, se por casualidade, a saca tocar na cabeça do executado, fica este
imediatamente livre do executador; e então poderá gritar e apossar-se da saca e
matar o seu inimigo 2 com uma só tocadela!...
Porém, eu daqui, não quero instruir os meus leitores sobre o modo de
cometer assassinatos; e, portanto, continuaremos a indicar as virtudes do
encanto mágico.
Este encanto mágico tem préstimo para muitas vezes; só deixa de ter a
virtude quando se romper, porque se lhe não pôde tocar no que a saca contém
2
Esta mágica não foi traduzida do francês, foi traduzida do espanhol de um livro que contém os
segredos das Covas Salamanca.
221
dentro, portanto, logo que se arrombar, deve-se deitar no mar e preparar outra
da mesma forma que esta.
Finalmente, quando se deseja um favor, ou qualquer outra coisa
semelhante, basta bater com ela em um sinal da pessoa, de quem se deseja obter
a pretensão: porém, é preciso notar-se que as pancadas que se derem no sinal
nunca devem ficar em número ímpar: “isto quando o que se pretende é para
bem; porém, sendo para mal, é o contrário.”
Como já disse, nesta mágica não se conjuram espíritos, apenas se conjura a
pessoa a quem se está a enfeitiçar, ou a encantar, dizendo-se ao mesmo tempo
que se está a bater no sinal:
Eu F., te conjuro F. (o nome da pessoa) e te obrigo, debaixo da pena de
obediência eterna, para que me faças (diz-se o que se quer).
MÁGICA PRETA OU FEITIÇARIA PARA
SE DESMANCHAR UM CASAMENTO
Tome-se um frango, todo preto, e leve-se a uma encruzilhada e logo que se
chegar ao dito lugar, atem-se as pernas do galo, com uma fita preta, de lã; levese um sinal de um dos dois que estão para casar, e faça-se a conjuração que se
segue:
“Eu F., conjuro, é grande espírito dos gênios, para que em nome do grande
Adonias, Rei dos gênios, ligueis a vossa mágica no espírito de F., para que, sem
apelação nem agravo, não consiga a união sagrada com F., do contrário sereis
esmagado debaixo deste meu pé.”
Logo se coloca o frango debaixo do pé esquerdo sem que o magoe, e se
estará nesta posição por espaço de três minutos e meio, e não se ouvindo uma
voz que diga: “não ligo”, torne-se o frango e deem-se duas voltas com ele e
fique-se virado para o sul e se dentro de cinco minutos nada se ouvir, soltem-se
as pernas do galo e deixe-se ficar o sinal juntamente com a fita e vai-se para casa
sem que se olhe para trás.
O frango leva-se na mão esquerda, devendo ter-se durante 24 horas, preso
debaixo de um cesto velho. No fim das 24 horas solta-se e não se lhes dará a
222
comer senão painço ou alpiste.
MÁGICA OU COMBINAÇÕES DOS ESPÍRITOS,
OS Q U A I S S E R E Q U E R E M T E N D O - S E U M A
CAVEIRA ALUMIADA COM VELAS DE SEBO,
SENDO PARA FAZER MAL A QUALQUER PESSOA
Tome-se uma caveira humana, coloque-se sobre uma mesa na qual se
deverá ter acesas três velas de puro sebo, e tenha-se um sinal da criatura, para
quem se está a preparar bruxaria.
Este sinal coloque-se debaixo do pé esquerdo e ponha-se o pensamento no
indivíduo a quem se vai enfeitiçar.
Faça-se depois, a conjuração que se segue:
“Eu, te conjuro, espírito invisível; da parte de Ulzulino, espírito do gênio
mau, para que sem apelação me obedeça, como se eu fosse o próprio Adonias
ou Ulzulino, senhor de todos os gênios maléficos; e para que apareças sem
demora com quatro legiões de espíritos turbulentos e de má índole.
E tu, espírito que nestes restos mortais andaste encarnado, serás o guia de
todos os espíritos maléficos; para guiares para o lugar onde eu for depositar
uma porção do teu envoltório corporal, já livre da matéria, a qual foi devorada
pela terra do sepulcro. Portanto, eu te conjuro para que dentro de 45 horas, 20
minutos e 4 segundos, me faças tudo quanto eu determinar que faças (aí diz-se
o nome da pessoa que se pretende enfeitiçar).
No fim desta conjuração, quase sempre há grandes ruídos pela casa, os
móveis dão grandes estalos, os olhos parecem ferir-se com grandes relâmpagos,
que saem de toda a parte, seguidos de grandes trovões, os quais fazem ventos
furiosos; ouvem-se gritos espantosos, parece que se abala a terra, finalmente
sente-se um terrível terremoto, semelhante ao que há de haver infalivelmente
no dia de juízo.
Porém, haja coragem e nada se tema, que mal nenhum nos pode acontecer.
Então se deve tomar logo o sinal, que deve ter sido conservado debaixo do
223
pé esquerdo, e raspar-se do lado esquerdo da caveira, uma pequena porção de
osso (basta, pouco mais ou menos meio grama), vá-se lançar à porta principal
da pessoa que se quer enfeitiçar e volta-se para casa sem olhar para trás.
CONTINUAÇÃO DA MAGICA PRETA,
OU COMBINAÇÕES DOS ESPÍRITOS
PELOS QUAIS SE PODE FAZER O
QUE MUITO BEM NOS APROUVER
Esta mágica de que nos vamos ocupar é feita com uma caveira humana.
A caveira de que acabamos de falar, pode, da mesma sorte, servir para
todas as mágicas de que nos vamos ocupar.
Tome-se uma caveira humana, coloque-se sobre uma mesa; tenha-se
alumiada com cinco luzes, das quais uma será de azeite, uma de sebo e três de
cera virgem; porém, é preciso que se note que as luzes só se acendem quando
temos de fazer alguma mágica ou feitiçaria, de cujos segredos nos vamos
ocupar com a conjuração dos espíritos para nos assistirem, e perseguirem as
pessoas, com encantamentos mágicos invisíveis ou visíveis.
Enquanto se faz a conjuração, tenha-se a mão direita sobre a caveira.
PRIMEIRA CONJURAÇÃO
Eu te conjuro, espírito da luz, que, por missão de Deus fostes arrancado da
matéria em que andavas envolvido, pois eu como criatura de Deus, te conjuro,
para que, sem apelação, venhas do mundo espiritual comunicar com estes
restos mortais e nos quais depositareis um poder sobrenatural para que os
espíritos se não possam embaraçar no caminho que eu vou seguir, com algum
sinal desta caveira:
Acabada esta conjuração apaguem-se as luzes de cera e a de azeite.
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SEGUNDA CONJURAÇÃO
Eu F., conjuro, ó espíritos que sobre as águas do rio Tigre, andais deserto e
vagabundos, pelo poder do grande rei dos gênios, que vos ligou pela sua arte
mágica por vós lhes faltardes ao respeito e abrirdes o caminho a Moisés,
quando ele tocou o Mar Vermelho com a sua varinha de encanto, cuja guarda
estava confiada a vós, pelo espírito do gênio e pelo grande Faraó, porém
Moisés, para que vós o não denunciásseis, vos entregou a varinha de encanto,
para que vós possuis, com a qual eu vos conjuro que toqueis nesta caveira
humana para que ele tenha a mesma magia ou encantamento que tem a vossa
varinha; do contrário vos ameaço com as duas palavras de Moisés, quando vos
disse: “Deixai abrir-se o mar, não empeçais com a vossa diabólica astúcia,
quando não, vós tocarei com esta varinha” (muitos não lhe chamam varinha,
chamam-lhe bastão), e ficareis perpetuamente ligados nas profundezas dos
abismos.
Com esta ameaça vós destes caminho a Moisés e ele vos entregou a
varinha e logo que chegou o Faraó e o Rei dos gênios, vos ameaçou e vos disse:
malditos e pérfidos, que para obedecerdes a um Moisés que diz ser filho ou
servo de Deus, faltastes ao respeito ao rei dos gênios, pois já que assim o
quisestes aí vos deixo entregues de obedecer, sereis condenados a entregar essa
varinha ao vosso rei das águas do Tigre.
No fim desta conjuração, ainda que se ouçam ruídos e trovões, não se
tema, que mal nenhum provém e para evitar qualquer susto apaguem-se as
duas velas de sebo e acenda-se uma de cera ou qualquer outra luz, conquanto
que não seja de azeite nem de sebo.
Finalmente, logo que se acabe de fazer as duas conjurações, pode-se usar
da caveira mágica pelo tempo de 35 horas; porém quando de novo precisarmos
dela, tornar-se-á a fazer o mesmo, como fica dito.
Para se obter um favor ou coisa semelhante, basta raspar do lado direito
da caveira uma porção do tamanho de uma cabeça de alfinete e mandar-se uma
carta com o pedido que se deseja, levando a dita carta o pequeno bocado da
caveira.
Quando não se possa escrever à pessoa de quem se deseja o favor, vai-se
deitar o pequeno bocado a um lugar no qual a dita pessoa tenha de passar.
225
Para tudo mais que se pretender, deve-se fazer conforme fica dito.
A diferença está nas palavras “dizei eu quero isto ou aquilo.”
Porém, quando seja para ligar uma criatura, tanto de um sexo como do
outro, então já é pelo contrário do que fica dito; para ficar encantada e nunca
mais poder deixar a pessoa que enfeitiça, dá-se-lhe a beber um quartilho de
vinho bom, e que não tenha água, do contrário não tem virtude para produzir o
efeito que se deseja.
FEITIÇO QUE SE FAZ A UMA PESSOA
COM QUEM SE DESEJA CASAR, EXECUTADO
PELA PRETA QUITÉRIA, DE MINAS
Pegue-se num sapo e ate-se-lhe em volta da barriga com duas fitas, uma
escarlate e outra preta, qualquer objeto pertencente à pessoa que se deseja
enfeitiçar. Meta-se depois o sapo em uma panela de barro, e digam-se as
palavras seguintes, com o rosto sobre a panela:
— Fulano (o nome da pessoa a quem se faz a feitiçaria), se tu amares outra
mulher sem que seja a mim, pedirei ao diabo, a quem consagrei a minha sorte,
que te encerre no mundo das aflições, como acabo de fazer a este sapo; e que de
lá não saias senão para te unires a mim.
Proferida estas palavras, tampa-se novamente a panela; e, quando se
obtiver o que se deseja, leva-se o sapo para um lugar retirado, não lhe fazendo
mal algum.
FEITIÇO AO NATURAL, EXECUTADO PELA
PRETA LUCINDA PARA QUE A PESSOA COM
QUEM SE VIVE SEJA SEMPRE FIEL
Tome-se a medula do pé de cachorro preto, de raça felpuda, mete-se num
agulheiro de alecrim, embrulhe-se o mesmo agulheiro num pedaço de veludo
226
preto, e guarde-se dentro do colchão da cama dizendo estas palavras:
— Pelo poder de Deus e de Maria Santíssima, eu (fulana), te digo, meu
(fulano) para que me não possas deixar enquanto esta medula para o cão não
tornar.
Por causa deste feitiço, foi presa a preta Lucinda no dia 25 de maio de
1875, por não querer ensiná-lo a uma senhora, que a denunciou.
GRANDE CONJURAÇÃO DA MÁGICA PRETA
( P ARA
SE FAZER REVOLTAR OS TEMPOS, ESCURECEREM- SE OS
ASTROS, VEREM-SE RELÂMPAGOS, OUVIRGRANDES TROVÕES E
TEMPESTADES, GRANDES FANTASMAS E LÍNGUAS DE FOGO
SAÍREM DA TERRA, ABRIR GRANDES BRECHAS, QUE PARECEM
QUERER TRAGAR O CONJURADOR!
É UM
ESPETÁCULO
TERRÍVEL, IGUAL AO DO ÚLTIMO DIA DO MUNDO!)
PRIMEIRA CONJURAÇÃO
Serpente, que no paraíso tentaste Eva e foste a perdição do gênero
humano, que com a tua perversa astúcia condenaste os homens ao cativeiro da
perdição, por cuja causa Deus do Universo te condenou a seres calcada e
obediente aos homens.
Portanto, em nome do Espírito Divino te conjuro e requeiro para que sem
apelação te levantes lá dos abismos e faças cair chuva sobre a terra, e faças
levantar as águas do mar e moverem-se as estrelas do Céu, e ferirem-se os
firmamentos com relâmpagos e trovões. Cubra-se toda a terra de espessas
trevas, levante-se um vento„ façam-se ouvir gritos espantosos, dados, por todas
as legiões de demônios que mil e quinhentos anos estiveram presos por ordem
do Anjo Custódio.
227
SEGUNDA CONJURAÇÃO
Fazei, ó Anjo Miguel com vosso agudo punhal, levantarem-se todos os
anjos do mal, os quais vós combatestes do Mundo Universal, criado pelo Eterno
Padre.
Levantem-se todos os abismos e do Mar Vermelho, do rio Jordão e do rio
Stige, e venham todos pelo poder de Satanás, chefe dos espíritos malignos.
Eu vos conjuro em nome do Padre Eterno, que está sobre uma nuvem do
Céu para os condenar pela vossa soberba, quando vós o queríeis matar para vos
apoderardes dos reinos dos Céus, porém ele com sua temível palavra vos fez
cair no inferno, o qual preparou para vós, e para todos aqueles que lhe faltarem
ao respeito, cujo pecado ele não perdoa.
Conjuro e requeiro vinte e cinco legiões de demônios; e juntamente
Belzebu, vosso chefe, o qual foi autor da revolta contra Deus de Abraão, o que
vos fez cair no inferno dando-vos por castigo o estardes sujeito aos homens e
ajudá-los no bem e no mal.
Foi esta a única palavra que vos deu Jesus, quando vós lhe fostes dizer:
“Senhor dos homens chamam-nos em vosso nome e nos obrigam a que os
vamos ajudar nas suas perversas pesquisas.”
E o Senhor vos disse: “Ide e ajudai-os no bem e no mal. Eu vos dou essa
liberdade, e eu os castigarei conforme a sua maldade, portanto, levantai-vos dos
abismos 3 com toda a arte mágica e dai-me o poder da mágica preta, o qual
depositarei neste braço já despojado do espírito.
Estas conjurações não podem ser feitas por mulheres nem por homens,
que não se consideram com bastante coragem para resistir às grandes
tempestades que naquele momento se ouvem as quais não são ouvidos senão
pelo conjurador e pelos que com ele estiverem.
O conjurador deverá ter na mão direita um osso humano o qual estará
sempre em movimento, quando para a esquerda, quando para a direita, quando
para o firmamento, quando para o chão, etc., etc.
3
Jesus Cristo não quis proibir os demônios, de poderem comunicar com as criaturas para lhes
mostrar que devem obedecer, sempre, que se evocarem à sua Santíssima palavra: assim como
obedecem e se retiram quando fazemos o sinal-da-cruz.
228
O osso fica com o poder da mágica, o qual jamais se lhe chamará “osso”,
deve-se-lhe chamar um filtro.
Estas conjurações não podem ser feitas senão à meia-noite, ou desde às
onze horas até às duas da manhã. O conjurador deverá ir prevenido com a
oração decorada (a qual se encontra a seguir), para que não seja preciso recorrer
ao livro, e para melhor se fazer respeitar pelos demônios; pois estando a olhar
para a leitura não observa o que se passa em volta de si.
O filtro fica com um poder sobrenatural o que é impossível aos homens de
compreender.
Só sabemos que quando quisemos formar uma trovoada ou grande
tempestade, basta subir a um alto monte, levantar o filtro no ar e dizer:
“Levantai-vos, espíritos dos infernos e formai um admirável fenômeno que se
torne espantoso à minha vista.” E quando se quiser que cesse, basta dizer
“cessem” e guardar o filtro.
Naquele momento pode-se mandar os espíritos tentar qualquer pessoa de
quem desejamos qualquer coisa; porém, será melhor para isso recorrer a outros
meios mais brandos que já ficam ditos, porque desta forma torna-se bastante
perigoso.
“Como diz Salomão ai! ai! desgraçado daquele que neste momento seja
tentado pelas serpentes!”
Portanto, estas conjurações quase que só servem para um divertimento.
E preciso que se note, que não pode ir com o conjurador mais de duas
pessoas; e não se pode fazer esta conjuração senão de noite, das onze até às
duas horas, e em lugares solitários. Além disso, o conjurador deverá ir vestido
de preto e nenhum dos circunstantes deverá levar sinais sagrados.
Não é preciso dizer a oração que se segue, basta da primeira vez, quando
se faz dar o poder mágico no filtro.
Trazendo-se o filtro no bolso, e querendo-se fazer encanto a qualquer
pessoa, e de qualquer sexo, basta pôr-se a mão no filtro e invocar os espíritos
sobre aquele, ou aquela de quem temos qualquer pretensão, etc.
229
MANDINGA QUE FAZ A MÃE CAZUZA, CABIND A
Tirai o coração a uma pomba toda branca, fazei-lhe uma fenda e deitai-lhe
dentro uma mosca varejeira, tendo o cuidado de coser a dita fenda; enterre-se
depois o coração no centro do lado esquerdo da parede do quintal; e plante-se
em cima um pé de arruda. Enquanto ela florescer, o indivíduo pode ter a
certeza de que fará tudo quanto empreender. Este segredo não deve ser
revelado pela pessoa que dele usar.
FE I T I Ç O E X E C U T A D O P E L A S P R E T A S
DO BRASIL, QUANDO QUEREM LIGAR
UM BRANCO DE QUEM GOSTAM
Cosem-se os olhos de um sapo e deitam-no em uma panela juntamente
com outro sapo (fêmea); depois disto pronunciam as palavras seguintes:
— Fulano (o nome do enfeitiçado), assim como eu (fulana), tenho estes
dois sapos aqui seguros e oprimidos, assim tu (fulano), a mim estarás ligado e a
mim (fulana), só deixarás quando este sapo tiver vista, ou esta fêmea deixar este
macho.
No fim faz-se três cruzes com a mão esquerda sobre a panela e tampa-se; é
preciso deitar-lhe também algum leite de vaca e comida que sobre a pessoa a
quem se enfeitiça.
Porém, é preciso haver todo o cuidado em se não ofender os olhos do
sapo, do contrário sucederá o mesmo à pessoa a quem estamos ligados e logo
que se queira desligar a bruxaria, tirem-se os sapos da panela e levem-se a um
lugar úmido.
Sobre esta matéria contaremos uma história ao leitor, pela qual ficará certo
do que expusemos acima.
230
HISTÓRIA DE AMÂNDIO
Havia uma família, em Portugal, composta de marido e mulher, que,
vivendo na maior harmonia, seriam para o futuro o enlevo de seus filhos.
Porém, a fortuna inconstante houve por bem levantar um vôo audaz e
abandonar à desgraça os seus inseparáveis amigos de um ano inteiro.
Chamava-se esta senhora Margarida de V... e ele, Amândio.
Sendo obrigado a separarem-se para tentar fortuna, pois que era grande a
sua miséria, disseram estes carinhosos cônjuges o último adeus e entregaram-se
aos vaivens da sorte. Partiu Amândio para o Brasil depois de levar consigo o
juramento de fidelidade de sua casta esposa, e prometendo de sua parte
conservar-se sempre preso pelos fortes grilhos de amor que o prendiam a
Margarida.
Pobre Amândio! Não conhecia ainda o mundo.
Julgava aquele amor como uma rocha de granito! Não sabia ele que a
ausência é o maior dos males; e que, apesar dos solenes protestos de amor feitos
a Margarida na ocasião da sua partida, poder-se-iam tornar inúteis devaneios e
cruel desengano! Pobre rapaz! Como dissemos, partiu Amândio com o coração
a transbordar de amor e esperança. Chegado que foi às terras de Santa Cruz, a
ambição apoderou-se de alguém que soube fazer-lhe esquecer aquela, que, pela
felicidade de seus filhos futuros, se tinha privado de lhe dispensar os mais
ternos carinhos de uma esposa apaixonada. E sabem os meus caros leitores qual
o motivo deste esquecimento involuntário? Eu lhes conto.
Chegando Amândio ao Rio de Janeiro, seguiu viagem para o Pará e
estabeleceu-se em Belém, como feitor, em casa de uma preta rica, e viúva de um
negociante português que, como Amândio, procurou no seio deste fértil país os
meios com que pudesse voltar à pátria.
Mas não chegou ao cumprimento dos seus anelos: e, quando tencionava, já
rico, voltar para o abençoado torrão, morre nos braços de Rita, legando-lhe a
sua avultada fortuna. O mesmo poderia ter acontecido a Amândio, se o seu destino, mais implacável, não lhe fizesse beber até o final o cálice da amargura.
Possuía Amândio os atrativos necessários para que qualquer mulher lhe
prestasse
homenagem.
Havia
já
dois
meses
que
Amândio
cumpria
religiosamente o seu mister de feitor, quando Rita, completamente alucinada
231
pela atraente formosura do moço português, empreendeu apossar-se do seu
coração pela astúcia ou pela simpatia. Depois de muitos ataques em que Rita
pretendia dominá-lo, o jovem, conservando no coração a querida imagem
daquela que amava ,portava-se fria e reservadamente. Todas as suas carícias,
seduções e requebrados próprios daquela raça, quebraram o seu exito ante a
paixão sincera que Amândio nutria pela sua querida Margarida. Vendo, porém,
Rita que todos os esforços que pode empregar qualquer mulher apaixonada,
eram impotentes, recorreu à sua antiga profissão, isto é, à bruxaria. Ordenou
que lhe trouxessem um casal de sapos nos quais operou da forma que
explicamos. Concluída a sua operação o mancebo rendeu-se completamente em
corpo e alma, vivendo durante um ano com a voluptuosa preta, esquecendo-se
da sua bela Margarida. A triste esposa continuava no seu cruel isolamento,
pronunciando um só nome: o de Amândio.
No primeiro mês ainda soube notícias dele, que, por sinal, eram
lisonjeiras. Em breve, porém, cessou a correspondência e Margarida, sempre
receosa, escrevia-lhe cartas sobre cartas, sem ter a dita de ser lembrada por ele.
Cansando-se de escrever, e receando a sua morte, a pobre menina tudo
arriscou: a sua vida, a sua honra, enfim, para ir em busca do esposo por quem
tanto se sacrificava.
Esperava-a, como sabemos, o maior dos desgostos.
Aportando ao Rio de Janeiro, tanto indagou, tanto procurou, tantas buscas
fez, que, afinal, pôde saber o caminho que Amândio tinha levado. Soube por
um negociante, amigo do falecido esposo de Rita, que essa preta não prezava
mais a sua honra do que o seu capricho; que era doida de paixão pelos moços
portugueses; e que foi em casa dela que Amândio procurara habitação.
Calculando logo a sorte de seu marido, pois que era grande a sua formosura, lá
parte a pobre senhora para Belém, com o intuito de se vingar, dado a caso que
Rita se tivesse servido da bruxaria para se apoderar do coração de Amândio.
Chegada à Capital, fez-se apresentar a Rita como uma pobre pedinte e
abandonada de seu esposo, e pedia que ela lhe desse agasalho e serviço, para
viver. A preta comoveu-se, e como era senhora de avultados cabedais, cedeu ao
que Margarida desejava, fazendo-a mucama. Como criada de quarto, Margarida
pôde apossar-se do segredo que tornava Amândio invisível ao seu amor. Como
não soubesse a maneira de remediar o mal causado pela lasciva paixão de Rita
estava sempre num terrível desespero, quando a Providência houve por bem
232
levantar o espesso véu que envolvia os seus feiticeiros e voluptuosos olhos, que
foram em tempos mais felizes o enlevo do seu querido Amândio, que talvez naquele momento se divertisse nos braços sensuais da ardente crioula. Lembrouse Margarida que naquela terra havia de haver por força alguma benzedeira ou
quebradeira de feitiços que, conhecendo o segredo daquela bruxaria, se prestasse, subornada por algum dinheiro, arrancar Amândio das cruéis garras da
negra sultana. O caso favoreceu as suas excursões, e à força de dinheiro e
promessas, pôde extorquir da boca de uma preta velha o rebatimento do feitiço.
A bruxa então receitou-lhe o seguinte:
Como Margarida tinha captado a confiança de Rita, a velha, dando-lhe um
frasquinho de cristal, ordenou-lhe que em qualquer ocasião favorável, deitasse
doze gotas daquele áureo licor, no café de sua ama, sendo isso o bastante para
infundir a preta um sono profundo, durante o qual devia ir a um certo armário
que havia na alcova de Rita e aí desvendasse o casal de sapos que no princípio
da nossa narração, Rita, cedendo aos impulsos da paixão que a abrasava,
ordenou que lhe trouxessem.
Feito isso, os olhos do seu esposo, também se abririam como se tivessem
despertado de uma pesada letargia e havia de conhecer imediatamente aquela
que tanto o amava. A operação teve o êxito desejado abraçando-se os esposos
naquele mesmo dia.
Eu, presenciando aquela cena, confesso de bom grado que me era preciso
possuir a pena de um Rebello da Silva, para pintar as expressões de afeto que se
seguiram ao reconhecimento daquelas duas apaixonadas criaturas; por isso
deixo à discrição do leitor imaginar os arrebatamentos daqueles dois corações
juvenis. Naquela mesma noite, aproveitando-se do sono que cerrava ainda as
pálpebras de Rita, escaparam, acompanhados de alguns pretos subornados por
Amândio.
No dia seguinte Rita foi pouco a pouco abrindo os olhos e apesar da
grande dor que lhe tinha produzido a tizana dada a beber por Margarida,
chamou pelo seu amante que julgava junto de si.
Qual não foi, porém, a sua admiração quando, ao julgar abraçá-lo,
encontra vazio o lugar de seu amado! Oh dor das dores! Oh grande amargura!
A pobre negra, alucinada, perdida e ao mesmo tempo fiada no seu feitiço, salta
da cama, e tendo vestido um ligeiro chambre para cobrir o seu seio de azeviche,
corre pressurosa em busca do seu querido Amândio. Percorre a casa, pergunta
233
em altos gritos onde se achava o seu marido e as “mucamas” assustadas,
escondem-se tímidas. Por fim dá pela falta da sua criada Margarida e, louca de
ciúme, chega a desconfiar da sua obediência e humildade passadas. Examinando mais minuciosamente chega ao seu antigo armário. Oh surpresa! Oh
desengano! Os sapos postos em liberdade pulavam talvez agora no jardim
enquanto que as suas vendas rolavam desamarradas nas prateleiras do armário.
Rita compreende tudo e completamente desanimada, cai no chão morta de
dor.
Entretanto, os nossos fugitivos, parando aqui, parando acolá, recordavamse dos juramentos que se haviam prestado mutuamente. Assim engolfados na
sua felicidade, não reparavam que a aurora brilhava no horizonte, e que pouco
a pouco os outros astros empalidecendo, curvavam-se respeitosos ante o
esplendor daquele que a despontar.
Quando voltaram a si estavam numa pequena povoação, que Amândio
reconheceu ser Abaeté. Como o sol já fosse alto e tendo medo de serem
descobertos entraram numa pequena hospedaria e pediram agasalho.
Entretanto Amândio dá pela falta de um dos negros da sua comitiva e isto
incomodou-o um pouco.
Contudo o seu pesar foi distraído pelas ternas carícias de sua esposa que o
inebriavam, como se ambos desfrutassem as delícias de uma “lua de mel”.
Depois de terem almoçado confortavelmente dispunham-se a dormir a fim
de descansar das fadigas da noite anterior quando três sonoras pancadas na
porta da hospedaria ecoaram aos ouvidos dos dois esposos.
Acudiu depressa o estalajadeiro e viu à sua porta um negro com a fronte
de azeviche coberta de um copioso suor, mostrando grande inquietação no
volver dos olhos e na expressão do rosto. Perguntou o negro se ainda ali
permaneciam os hóspedes que tinham chegado aquela manhã. Respondeu-lhe o
hospedeiro que sim e, imediatamente, o preto lhe suplica que seja apresentado.
Assim aconteceu. Amândio, logo que viu o negro, reconheceu nele o
retardatário e perguntou-lhe o motivo daquele passo.
Respondeu-lhe o negro que tinha saído para denunciá-lo, mas visto a nova
importante que lhe trazia esperava lhe havia de perdoar.
O negro disse então que, tendo voltado à casa, vira tudo num grande
alvoroço e, indagando a causa, soube que a senhora tinha morrido de um
234
ataque apoplético causado pela sua desaparição.
Amândio, impressionado por esta narração, trava do braço de sua esposa
e dirigem-se com o negro a Belém. Encontram ali, com efeito, o que dissera o
preto e vão a retirar-se depois de arranjados os seus poucos negócios, quando o
tabelião, apresentando um papel desdobrado lhes diz que Rita havia feito
Amândio universal herdeiro dos seus grossos cabedais. Amândio, como bom
cavalheiro, indagou se ela tinha algum parente, e como não houvesse nenhum,
tomou conta do seu legado. Dois anos depois, numa risonha tarde de
primavera, já o sol quase no seu ocaso, quem passasse pela comprida rua da
Boa Vista, veria sentados debaixo de um verdejante caramanchão, Amândio e
Margarida que, entretidos, um a ler, a outra a bordar, para contemplar os
brinquedos infantis a que se entregava a seus pés ,uma rubicunda e formosa
criança de um ano e três meses.
Assim viveram os, dois esposos no gozo de uma indefinível felicidade até
à idade de 78 anos, deixando um filho e uma filha senhores de uma fortuna
colossal! Estes jovens deram-se muito bem e fazem ainda hoje inveja ao mais
galante cavalheiro e à mais formosa dama.
•••
CLAVÍCULA DE SALOMÃO
Salomão foi um rei admirável em suas proezas e conquistas. Reinou ele
quarenta anos, e o seu nome tornou-se célebre, em todo o seu reino, e nas
demais partes onde era chegada e conhecida a fama de Salomão. O seu povo
pagava-lhe grandes tributos e dos portos saíam suas frotas para as Índias e para
as Espanhas, e em todos os lugares aonde chegavam vassalos de Salomão eram
respeitados, e quase adorados como se fossem o próprio Salomão, porque este
rei era adorado por todos quanto o conheciam como um Deus; finalmente,
quando o povo de outras nações se via perseguido com a guerra ou qualquer
outro flagelo, mandavam muitos de seus povos suplicar a Salomão para lhe
mandar a paz, ou ao menos a sua palavra, para afugentar o inimigo, pois
quando se falava em Salomão todos temiam, e se retiravam, e dizendo: —
vontade de Salomão que nos retiremos, devemos retirar-nos e deixar nossos
235
irmãos em paz.
Enfim, quando Salomão mandava seus vassalos pedir pelas outras nações,
voltavam eles carregados de riquezas e de alfaias.
Salomão foi um rei adorado como nenhum outro pelas mulheres, as quais
todas corriam a ele para seduzir; porém, ele sempre fortalecido da graça de
Deus livrou-se delas até à idade de quarenta anos, em que dessa idade em
diante, afinal, foi vencido pelas astúcias da serpente maldita, que lhe aparecia
de diferentes formas: umas vezes transformada em uma linda donzela; outras
em uma mulher já de idade, porém formosa e simpática, até que, finalmente,
ficou vencido Salomão e pecou com uma mulher que, por arte da serpente, lhe
foi apresentada, ficando Satanás vitorioso e dominando dali para o futuro. O
grande Salomão, vendo-se em poder de Belzebu, não cuidou em livrar-se dele
por se ver desprezado da Providência Divina e despojado do seu reino cujo
chefe era ele há quarenta anos.
Então o grande rei Salomão se entregou em corpo e alma aos espíritos
malignos e mágicos para que eles o instruíssem no profundo conhecimento da
magia e astrologia, até que, adquirindo um poder imenso, fez um dia esta
pergunta a Lúcifer:
“Nós, senhores de todas as potencias, não poderemos combater o grande
Deus e tirar-lhe o poder de dominar no reino invisível, e de ser senhor sobre
nós?!”
Ao que lhe respondeu Lúcifer:
— Qual será o Deus que nós não poderemos vencer e tirar-lhe todos os
seus domínios e impérios?!
— Ah! Terrível palavra! Blasfêmia!
Logo se escureceram os astros e se cobriu toda a terra de espessas trevas,
caíram raios do céu à terra que fizeram tremer Salomão.
Porém, o demônio, mais astucioso, lhe disse:
— Vês, Salomão?! O nosso poder? Vês como até o próprio céu treme por
falarmos em combater contra ele?
— Será castigo de Deus que cai sobre mim! Seria uma blasfêmia que eu
disse? Ai meu... – Não pôde acabar a palavra (ele queria dizer meu Deus; e se o
dizia, estava Satanás perdido), porém, uma força sobrenatural o impediu de
236
proferir aquela exclamação e caiu Salomão por terra.
Viu uma figura de Padre e juntamente a procissão dos Anjos.
Acordou Salomão e que viu em volta de si?!...
A figura do padre estava de joelhos, com as mãos postas, em sinal de
obediência.
— Que significa isto? – perguntou-lhe Salomão.
A figura de Cristo lhe respondeu:
— Eu sou o teu Deus e venho te pedir para não me tirares os meus reinos;
cuja guerra tu e Satanás queres tentar contra mim.
— Ah! pois se tu tiraste-me o meu reino é porque te consideravas com
poder contra mim e porque me despojaste do meu reino e a meu filho?
— Só por em pecar com uma mulher?
— Nenhum pecado fizeste, porém, eu quis proibir-te disso para não haver
mais filhos na tua geração. Portanto, venho-te pedir perdão juntamente com os
meus anjos mais queridos para que não tentes a guerra contra mim e como
recompensa dou-te ainda mais poder sobre tudo quanto tentares, menos contra
mim.
— Juras, Salomão?
— Ju... Juro!
— Sim – respondeu Salomão – pro... Prometo.
Salomão deixou pender a cabeça por um momento e quando olhou, já
nada viu em volta de si.
Passadas duas horas estava Satanás com Salomão, e dizia estas palavras:
— Então, que te disse eu, Salomão? Lá o teu Deus veio ou não humilhar-se
a ti juntamente com seus Anjos?
— Já – disse Salomão – que somos mais poderosos deste e do outro
mundo; portanto, estou às tuas ordens, pronto para te servir, contanto que me
deixe gozar todas as mulheres, as mais formosas donzelas.
— Tudo te darei, mediante um pacto comigo, para que eu tenha a certeza
que jamais me deixarás.
— Que pacto? – disse Salomão.
237
— Entregares-te a mim em corpo e alma, entrega que será feita em um
deserto, e tu só farás, sem auxílio meu, para que não digas depois que eu fui o
autor do pacto e do teu poder mágico
Portanto, vai-te entregar a mim, e esta aliança será por ti pronunciada. No
fim de te aliares a mim irei eu mesmo, entregar-te a mágica preta, conforme ma
suplicares.
E retirou-se Lúcifer.
O PACTO DE SALOMÃO
Eu me entrego em corpo, alma e vida, a Lúcifer, Satanás, Barrabás e a
todos os senhores poderosos, possuidores da mágica preta, ou senhores de todo
o mundo tanto corporal como espiritual, senhor de todos os senhores, até do
próprio Deus, a qual se humilha a Satanás, quando por ele é perseguido, como
ainda ontem mostrou por sua fraqueza.
Portanto, eu me entrego a Belzebu, e a todos os seus aliados, para que,
dentro em vinte e quatro horas me sejam entregues todos os poderes da mágica,
e debaixo desta condição, desde já deixo de ser cristão dos que se dizem ser
filhos de Cristo; o qual só pretende dos homens sacrifícios, penitencias, e depois
condená-los a um inferno onde arderão eternamente, por qualquer erro que por
fraqueza cometam.
Portanto, de hoje em diante, pertencerei ao espírito da sabedoria, que é
Lúcifer de todos os espíritos e de todos os segredos da mágica e a ela me
entrego em corpo e alma, perpetuamente. Neste momento ouviu uma voz dizer:
— Eis aqui a mágica preta!
Era Lúcifer, que naquele momento chegou com uma legião de seus
aliados, e se apossou de Salomão.
Um trovão se ouviu que fez estremecer toda a superfície da terra.
Foi Salomão engolido pelas entranhas da terra, e só voltou ao mundo
corporal passados três dias.
Diz Salomão no seu livro Clavícula: Estive três dias no inferno onde não
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havia senão choros e ranger de dentes que era mais que medonho, porém, todos
aqueles sofrimentos, eram, para mim, um prazer estar a presenciá-los.
Já de mim se tinha ausentado o temor de Deus, e a sua divina graça já me
tinha abandonado para me deixar precipitar nos abismos e até que enfim,
Satanás se apoderasse de mim!
— Oh, meu Deus, por que provações vós me fizestes passar! Oh, terrível
blasfêmia eu fui em duvidar do vosso poder e autoridade. Ah, maldito Satanás
e maldita arte mágica, que com ela iludes os homens e os perdes da graça de
Deus.
Mas, enfim, Deus teve misericórdia de mim!
(Deixemos o arrependimento de Salomão para um capítulo especial).
Logo que ali chegaram, deixaram Salomão e não lhe tornaram mais a
aparecer, durante alguns anos.
Salomão transformou-se em um vaso de iniquidades, ou para melhor
dizer, tornou-se um ente maldito, que com a sua arte mágica, praticava crimes,
desatinos e loucuras que faziam tremer as próprias aves do céu.
Ele não só perseguiu as castas donzelas, como perseguia todos aqueles que
não seguiam a sua estupenda mágica! Quando se lhe apresentava algum servo
de Deus, e aconselhava para pedir a Deus perdão das suas iniquidades, ele não
só os desprezava, como se valia das suas presas para ofendê-los corporalmente,
até que, enfim, ninguém ousava falar-lhe na Providência Divina.
Havia na cidade de Rocanforte, uma donzela que só essa se atrevia a falarlhe e invocar-lhe o Deus poderoso, porém, o infeliz endurecido como estava por
parte de Satanás, não lhe dava crédito algum, até que um dia lhe disse Salomão:
— Ora, tu que tanto te jactas de pertencer a Jesus Cristo, que provas me
dás da sua grandeza e poder maior que o meu?
Raquel, que sabia alguma mágica branca, logo disse a Salomão que estava
pronta para lhe mostrar que sabia tanto ou mais que ele, e estava pronta para
lhe dar provas.
— Oh! – disse Salomão – será possível?!
— É possível, sim – disse a donzela.
— Pois bem, eu te faço saber qual o poder da mágica.
239
Logo Salomão bateu com o pé no chão e a terra tremeu!
Então Salomão murmurou estas palavras:
Lúcifer, príncipe de todas as legiões dos demônios, eu vos conjuro em
nome do pacto que fizemos para que, sem apelação nem agravo no corpo e no
espírito, desta donzela faças cair raios do céu à terra e me fazei invisível, tanto a
mim como a esta donzela e nos leveis às mais altas regiões do universo!”
Escureceram-se os astros, caiu chuva com tanta abundancia que parecia
um dilúvio universal, a terra abria grandes bocas, e lançava chamas, mas
Raquel, que possuía o segredo da “Mágica branca”, ou “Magnetismo”, logo se
magnetizou, bebendo três gotas da “água magnética”, que sempre trazia com
ela, sem que Satanás percebesse.
Seriam passados três minutos quando Salomão se achava nas mais altas
regiões, e qual não foi o seu espanto quando não encontrou junto de si aquela
que ele julgava levar na sua companhia.
— Oh! Que fui traído, talvez... Quem sabe?... Por Lúcifer! Onde está
Raquel? Por ventura haverá outra mágica mais poderosa que a minha? Conjurote, “mágica preta”, para que me leves onde está Raquel.
Grande trovão se ouviu naquele momento, que até o próprio Salomão
tremeu.
— Pensei! Diz ele, na sua Clavícula – que o diabo me traiu; porém, no
mesmo instante, achei-me junto àquela casta donzela. Oh! Qual não foi o meu
espanto, quando a encontrei, no mesmo lugar onde a tinha deixado.
— Com que te defendeste de mim, Raquel? Perguntei-lhe.
— Com a minha “mágica branca” – respondeu a donzela.
— Qual é a mágica branca”?
— O Segredo do Magnetismo, com a qual eu te não temo, nem aos teus
aliados. Ah, Salomão, que tão iludido andas com a maldita “mágica preta”, que
não se obtém, sem se fazer pacto com esses malditos demônios!
“Saberás, Salomão, que te não temo, porque estou aliada com o Senhor
dos Senhores, que é Jesus Cristo; e saberás mais que a “mágica branca” não é
outra senão o “Segredo do Magnetismo”, segredo que eu aprendi sem que, com
isso, ofendesse aquele Deus onipotente, criador de tudo quanto existe no céu e
na terra!
240
— Oh! Pois eu andarei enganado? Malditos demônios! Agora compreendo
que Deus é mais sábio que vós! Eu, Raquel, estava fora da graça do meu Deus,
mas tu me salvarás e me ensinarás o Segredo da Mágica Branca e qual o meio
que eu devo de usar para me livrar dos demônios.
— Sim, Salomão, eu te livrarei dos demônios e te revelarei o Segredo da
Mágica Branca.
COMBATE ENTRE SALOMÃO E LÚCIFER
Salomão, logo que deixou Raquel subiu a um alto penhasco, lançou-se de
joelhos, levantou os olhos ao céu e orou nestes termos: “Senhor dos Senhores,
agora estou convencido que vós sois o único Deus poderoso do céu e da terra;
vós que sois o Deus de Lúcifer e não Lúcifer o vosso Deus! oh! que blasfemo eu
fui em julgar o contrário!...
Mas que foi isto, Senhor?'
Para que quisestes que eu passasse por tal provação?
Não respondeis, Senhor? Eu vos conjuro, Deus do Universo para que
socorrais o vosso servo Salomão!”
Um trovão se ouviu que fez tremer toda a terra!
Neste momento foi Salomão preso e levado por quatro demônios ao lugar
onde tinha feito o pacto e aí o deixaram por ordem de uma serpente que
naquele lugar o esperava.
Logo que chegou Salomão, dirigiu-se-lhe a serpente e disse-lhe com
palavras terríveis e ameaçadoras:
— Então, tu, filho, aliado de Satanás, queres trair o teu senhor não só do
teu corpo, como da tua alma?
— Pérfido! – bradou Satanás – oh, tu deixares de pertencer àquele a quem
fizeste escritura de lhes seres fiel até à morte!
Nunca, nunca deixarás de me pertencer! Eu te juro.
— Oh, pérfido Satanás. Oh, malditos sejam todos os teus aliados, que mais
fácil cair o céu e a terra do que eu pertencer-vos! Eu vo-lo juro, em nome de
241
Deus.
Logo que Salomão balbuciou o nome de Deus, enfureceu-se Satanás, e
gritou por todos os seus aliados; seguiu-se um combate furioso que mais
parecia o fim do mundo do que um combate dos espíritos maléficos, com um
ente que pertencia ao céu e não a ser confundido nas entranhas da terra até ser
consumido pelas chamas abrasadoras a que são condenados aqueles que não
242
têm uma hora de arrependimento.
Satanás, com a sua fúria maldita, fez estremecer toda a superfície da terra!
O sol escondeu os seus raios, a abóboda celeste tornou-se tão escura e medonha,
que parecia que naquela hora se arrasava sobre os homens e esmagava o
mundo!
Porém, Salomão, já fortalecido com uma verdadeira fé em Jesus Cristo, a
qual por intervenção do Anjo Custódio lhe mostrou o errado caminho que até
ali tinha seguido. Salomão continuou orando a Deus com fervor e resignação
enquanto que Satanás lhe bradava que de nada lhe serviam as suas orações,
porque estava entre ele em corpo e alma, por sua muito própria vontade, e,
portanto que nada devia esperar da Providencia Divina.
Sempre orando a Deus, com todo o fervor, Salomão obteve a misericórdia
de Deus e conseguiu vitória sobre o inimigo.
Dizia ele: — Meu Deus! Meu Deus! Eu pequei, porém, vós sois
misericordioso e tudo perdoais aos homens; portanto, eu vos peço que me socorrei neste momento e desde já me entrego a vós em corpo e alma e renego a
Lúcifer para que tudo quanto eu tenha feito em seu proveito lhe sirva de
tormento e castigo e assim como todo o pacto que os homens fizeram com ele,
porque só vós sois o Deus do céu e da terra, e não Lúcifer! Eu vos rogo que me
perdoeis, meu Deus, eu me arrependo, Deus do céu e da terra, e não Lúcifer! Eu
vos agradeço por me fazerdes passar por esta provação!
Malditos demônios! Eu vos esconjuro em nome de Deus, para que sejais
ligados nas profundezas dos infernos e não tenteis mais a Salomão, o servo de
Deus, Senhor nosso.
Logo que Salomão acabou de proferir estas palavras, os demônios
desapareceram, e o sol mostrou seus raios, a atmosfera ficou clara que parecia
um paraíso.
Salomão ficou vitorioso e deu louvores a Deus.
243
244
PARTE IX
OS PODERES OCULTOS
DO MAGNETISMO
245
246
Duas palavras sobre está matéria de que nos vamos ocupar.
Para darmos um tratado completo do Magnetismo seria matéria para
enchermos um grande volume. Nesta obra, porém, não trataremos disso a
fundo; limitando-nos a escrever um pequeno resumo, em que o leitor
facilmente poderá encontrar o modo de magnetizar.
A isto damos o nome de Magia Branca, porque, na verdade, o magnetismo
mais parece uma arte mágica do que uma ciência natural.
MODO DE MAGNETIZAR UM
INDIVÍDUOPARAADIVINHARO
QUE SE PASSA EM TODO O MUNDO
Há diversos meios de obter os efeitos do magnetismo, porém, o que se
segue é o mais simples:
Mande o magnetizador sentar um outro indivíduo em uma cadeira, de
forma que fique bem à sua vontade, depois sente-se o magnetizador em uma
outra cadeira, de forma que fique bem na frente de quem deve ser magnetizado.
Logo que estejam dispostos como acabamos de indicar, principie o
magnetizador a operar como se segue:
O magnetizador fixa os olhos sobre o indivíduo a ser magnetizado, com
uma vontade firme e determinada de obter o que deseja.
No fim de alguns segundos, coloque as pontas dos dedos sobre o umbigo
do indivíduo que quiser magnetizar, e passados ainda alguns segundos, levante
as pontas dos dedos muito devagar e incline-as ao pescoço do magnetizando
por espaço de cinco minutos, depois subam-se à testa e ai conservarão por
espaço de dois minutos.
Torne-se a descer ao umbigo (Epigastro) onde se conservarão por espaço
de cinco minutos.
A fim de se fazer o que acima fica dito, chegue-se o magnetizador mais um
247
pouco para o magnetizando, una os dedos dos pés aos dele, pegue-lhe nas mãos
e incline a sua vista sobre o rosto do magnetizando, para que desta forma se
estabeleça uma corrente elétrica entre um e outro corpo.
Ora, durante este lapso de tempo, o magnetizador deve ter todo o seu
pensamento no que vai fazer e nunca dirigir a palavra ao magnetizando, e pode
ter a certeza que daí por poucos minutos o magnetizando é atacado de um profundo sono que lhe durará uma hora pouco mais ou menos, ficando durante
este tempo o seu espírito separado do corpo.
Agora que acabamos de indicar ao leitor o meio de obter este fenômeno
maravilhoso, vamos indicar-lhe as perguntas que se podem ou devem dirigir ao
magnetizado.
O magnetizador, logo que esteja certificado de que o magnetizado está em
verdadeira sonolência, dirija-lhe, as perguntas seguintes:
— Dormes?
— Que sentes:
— Estás incomodado em algum membro do teu corpo?
— Diz! Fala! Eu te ordeno... Quero! (O magnetizador responde sim ou não,
com palavras inteligíveis).
— Que vês?
— Estás ou não em perfeita lucidez?
Resposta: sim ou não.
Nunca o magnetizador deve fazer perguntas que sejam impossíveis de
responder pelo magnetizado, como perguntar-lhe, por exemplo:
— “O que vai no outro mundo?” E outras coisas semelhantes...
Mas pode perguntar tudo o mais que lhe aprouver saber, como por
exemplo:
— Onde está fulano?...
— Tem saúde?
— Está rico ou pobre?
— Pretende voltar ou deseja ficar ainda?
— Ele tem ou não vontade de casar com fulana?”
248
Enfim, pode o magnetizador dirigir-lhe todas as perguntas que quiser,
menos coisa que sejam impossíveis ao seu espírito.
SEGREDO PARA SE MAGNETIZAR
UMAGARRAFADEÁGUA OU SEGREDO
DE RAQUEL, SALVADORA DE SALOMÃO
Tome-se uma garrafa quase cheia de água do mar e coloque-se sobre uma
mesa de pinho; assente-se o indivíduo em uma cadeira, de forma que não toque
com sua roupa na mesa.
Feito isto, ponha as pontas dos dedos no gargalo da garrafa, e os dedos da
outra mão quase no fundo da dita garrafa, fixando a vista na garrafa e assim
estará por espaço de 3 horas.
Logo que a água comece a fazer espuma, e a garrafa a mover-se, está
pronta a mágica branca ou magnetismo...
EFEITOS DA GARRAFA MÁGICA
Depois que a água ficar completamente magnetizada, basta só beber um
ou dois goles da dita água para se ficar completamente magnetizado e durante
o sono obtém-se tudo quanto se deseja, havendo primeiro o cuidado, antes de
se beber a água, de dizer-se o que se deseja naquele momento ou depois.
Logo que se acordar, encontrar-se-ão completamente satisfeitas as nossas
vontades.
Muitas cousas admiráveis se poderiam dizer sobre esta matéria; porém
deixaremos isto à prática do leitor, pois, se indicarmos todas as maravilhas que
se podem obter, muitos terão medo de magnetizar a garrafa; por isso então aqui
daremos ponto final, pois o primeiro curioso que experimentar esta mágica dirá
aos outros o que viu, o que se pode fazer.
249
――――――
Deveis saber, amigo leitor, que São Cipriano foi um homem quase
sobrenatural.
Com a sua dedicação e amor pelas ciências ocultas, chegou, a descobrir,
entre outros fenômenos, aquele que se chama poder dos “imãs” ou
“'magnetos”.
Estas substâncias têm a prioridade de atrair vários metais, como sejam: o
ferro, o aço, o níquel, o cobalto, o cromo etc.
PODER MAGNÉTICO
Assevera o grande São Cipriano, nos seus importantes manuscritos, que
nas ilhas “Maniolas”, (entre as de Ceilão e Maloca), situadas na Taprobana,
existe uma força prodigiosa e misteriosa.
E para confirmar o que ele disse, eis que ainda hoje não podem passar
pelas extremidades desta ilha os navios que não sejam construídos de madeira;
pois embarcações que tão-somente têm para sua solidez alguns arcos de ferro,
chapas ou pregos, voam e se desconjuntam.
São Cipriano deixou dito mais que o texto da igreja do grande profeta
Mahomet continha um imã muito poderoso, e será para continuar a credulidade
neste fundador do islamismo.
E isto também ficou confirmadíssimo, pois, quando ele morreu o deitaram
em um caixão de ferro e quando penetraram no interior da igreja eis que se
efetuou o prognóstico de São Cipriano, pois que o poderoso “imã” fez com que
o caixão fosse para o céu... Da igreja.
Isso com grande espanto e veneração daquela seita do islamismo,
conquistando a fama que ainda tem o milagroso profeta.
250
O RÉPTIL MAGNETIZADOR
Como dissemos, quem é que não tem – pelo menos uma vez na vida –
sentido essa influencia ignorada, atraído por uma pessoa ou urna coisa, que o
subjuga, que o cativa, que o domina, que o torna escravo, manietado, preso,
sem poder mover-se livremente, perdendo toda a noção do seu próprio Eu?
Quem é que, ao inverso, nunca teve também uma pessoa sob seu poder,
dominando-a, dela fazendo quanto quis?
Já tendes visto uma cobra qualquer magnetizar um pássaro?
Já tendes visto, acaso, espetáculo mais lancinante, mais incomodo, mais
horrível?
O réptil sai do mato, e vem alojar-se, colocando-se debaixo de uma árvore,
e alguma distancia do galho, onde um passarinho, descuidado, cantava
alegremente.
A linda avezinha, que sonoramente gorjeava, enchendo os ares com os
seus cantos dulcíssimos, não para de cantar, nem cessa de voejar, de saltar de
ramo em ramo.
Mas já não são os mesmos trilos sonoros e prazenteiros.
Não é também mais o mesmo voo descuidado e livre. Ao ver o imundo e
asqueroso réptil, o pássaro, fascinado, começa a desferir uma nênia lamentosa,
um cantar pungentíssimo, entrecortado de pios funéreos. Canta e voa.
Suas asas, porém, parece estarem presas por laços invisíveis.
Do último galho, onde pousara, vem descendo para outro mais baixo, e
assim sucessivamente, sem deixar de fitar a cobra.
Essa também, olhando-o sempre, escancara a goela, e aguarda
tranquilamente, cônscia do seu poder, da sua força natural.
A ave, sem poder desistir, entra dentro daquelas mandíbulas abertas.
251
O AMOR MAGNETIZADOR
Nunca amastes, porventura?
Nunca ficastes sob o poder extraordinário de uma mulher, que vos
escravizou, que vos tornou capaz de cometer todos os atos, todas as baixezas,
todas as degradações da vida?
A história, a lenda, a fábula, o romance estão repletos desses fatos.
Quantos homens, quantos heróis se deixaram assim cativar!
Hércules, o herói que ainda hoje simboliza a força, o guerreiro valente,
cuja presença fazia tremer os inimigos, amava tanto Omphale, e dela se sentiu
tão escravo, que fiava, como uma mulher, sentado a seus pés.
INFLUÊNCIA DOS PLANETAS
Debalde, repetimos, a ciência vai procurando e ainda procura explicar
esses fenômenos indo sempre esbarrar ao domínio do maravilhoso.
Um dos primeiros adeptos do magnetismo foi o cirurgião inglês Mesmer,
que o praticou, obtendo maravilhosos resultados, com o que conseguiu uma
fortuna colossal, tantas foram as curas que ele realizou.
Em 1766, Mesmer apresentou em Viena urna tese de doutoramento,
tratando do seguinte curioso assunto:
“Influencia dos planetas sobre o corpo do homem”.
Nesse folheto buscou ele provar a influencia que os planetas tinham uns
sobre os outros, bem como a influencia do sol e da lua sobre a atmosfera
terrestre, sobre os mares, estendendo-se até sobre os homens e os animais, e
fazendo-se espalhar no sistema nervoso.
Atribuía ele essa influencia geral a um fluido sutil (que denominou
“magnetismo animal”) semelhante àquele pelo qual se explica a ação enérgica
do ímã.
252
FLUIDO NERVOSO
Esse fluido nervoso – eletricidade animalizada – é o elemento que domina
em todos fenômenos da vida, e é até certo ponto o primeiro incitador das forças
orgânicas.
No fluido nervoso reside a sensibilidade, que se distribui pelos tecidos
orgânicos, de maneira a torná-los aptos para receber e sentir as impressões
exteriores e transformá-las em sensações nas células nervosas e de
contractilidade, as quais se dispõem a manifestar a impressão recebida pelos
movimentos caracterizados nas contrações, distensões e no encolhimento.
Esse fluido nervoso tem ainda a sua modificação produzindo emanação, a
que se pode chamar – fluido moral, imaterializado – que inspira os sentimentos
de prazer, de dor moral, de ódio, o qual, atuando sobre o organismo humano,
decompõe o corpo.
FLUIDO MORAL
O fluido moral é uma chama que se dilata e passa como a do fogo
ordinário que leva os seus átomos no espaço; e tem tanta força, que na própria
atmosfera onde está se irradiam os seus eflúvios, como aconteceu com uma
mulher doente, que ficou inteiramente curada, só tocando a túnica de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Esse fluido moral vem com o germe da vida, e tende sempre ao bem do
homem, e se se perverte, é por ser mal dirigido porquanto ninguém vem a este
mundo para ser desgraçado, pois tudo na natureza é perfeito, harmonioso e
belo, sendo o fim do progresso e a perfeição, cuja liga é o fluido do amor,
quando prende e harmoniza a lei comum fluídica e universal.
Essas ideias foram propagadas por um ilustre médico e homem de letras
do Brasil, que aceitou as doutrinas de Mesmer.
Sobre eles, ainda hoje, mais ou menos gira o espiritismo.
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A FORÇA DE VONTADE
A vontade é o grande motor de todas as nossas ações.
Querer é poder – eis uma grande verdade.
Aquele que “quiser”, que souber “querer”, firmemente, inabalavelmente,
resolvido a “querer”, tudo conseguirá, devido somente ao seu extraordinário
esforço de vontade.
MAU OLHADO
Há pessoas que dispõem de grande “poder” ou “força magnética”; já o
dissemos e cremos ninguém o ignora.
Geralmente essa força está nos olhos e dai a teoria do “mau olhado”, a que
nós já nos reportamos.
Qual de nós não tem, por acaso, encontrado um indivíduo que ao ser-nos
apresentado desde logo grandemente nos impressiona pela força do seu olhar e
nos faz sentir esquisitas sensações desde que o vemos ou com ele conversamos?
Muitas vezes, em uma sala de baile, em um teatro, ou em qualquer lugar
de reunião, os nossos olhos 'são levados, atraídos irresistivelmente por outro
olhar, e durante toda aquela noite não podemos desviá-los.
A força do olhar é verdadeiramente assombrosa, e para prová-lo vamos
citar o seguinte curioso exemplo:
A MASCOTE
Em casa da família B..., gente pobre e de baixa classe social, havia urna
cachorrinha que não sendo de raça nem se recomendando pela sua ferocidade,
era, todavia, um desses animais incômodos, que latem desesperadamente na
nossa frente, não nos deixando avançar e prontos a romper-nos as roupas e até
254
mesmo a morder-nos, desde que, por acaso, nos descuidemos.
Acudia pelo nome de “Mascote” e em toda a casa só obedecia à menina
Maria, uma moça de 17 anos, com quem estava habituada.
Ainda assim, a “Mascote”, com o privilégio dos cãezinhos muito
mimados, nem sempre obedecia à voz de sua senhora.
Um dia apareceu em casa da família B... um soldado que ali tinha ido em
visita.
Achavam-se todos reunidos na sala de jantar, quando “Mascote” entrou e
desde logo se pôs a latir desesperadamente.
O soldado gritou com ela e a menina Maria riu-se, dizendo-lhe que era
inútil fazer qualquer admoestação porque a cadelinha só a ela obedecia, e assim
mesmo nem sempre.
Por sua vez o soldado também se riu, com uma grande superioridade e
muito cônscio de seu poder.
— Se eu quisesse, não só a fazia calar, como atj: poderia matá-la, bastandome projetar nela o meu olhar.
Riram-se todos, naturalmente duvidando.
E tanta foi a zombaria, que o soldado, zangado, exclamou:
— Ah, é assim? Não acreditam? Pois, então, vão ver.
Gritou imperiosamente pelo nome da cachorrinha, que com espanto, todos
viram o animalzinho rolar morto no chão.
D. JUAN VITORIOSO
Não há um só leitor que não conheça ou não tenha ouvido falar num
desses sedutores profissionais, num desses “D. Juans” baratos, que têm por
único ofício namorar, enganar e conquistar as mulheres.
Alguns há que são verdadeiramente felizes com o belo sexo, jamais
encontrando senhora que resista à sua sedução.
Sendo, em geral, homens vulgares, sem nenhum atrativo físico ou moral
255
que os recomende, como explicar, senão pela força magnética do olhar, esse
poder de fascinação?
Outrora conhecemos de perto um desses sedutores profissionais.
Era um tipo fisicamente vulgar, sem coisa alguma que fizesse chamar a
atenção sobre a sua pessoa; pelo contrário, era muito mais feio do que bonito.
A primeira vista não havia homem ou mulher que simpatizasse com ele.
Mas também ao cabo de quatro ou cinco dias de convivência, todos lhe
queriam bem.
Esse moço, regularmente inteligente, bem falante, sabendo dizer as coisas
a propósito, não ignorava o poder dos seus olhares; e, audaz, atrevido e atilado,
por mais de uma vez registrou excelentes aventuras.
MAGNETISMO EXPERIMENTAL MODO
DE MAGNETIZAR UMA PESSOA
A pessoa que se pretende magnetizar deve sentar-se, colocando-se o
magnetizador em uma cadeira, ficando em frente dela ou mesmo sem estar em
contato com ela.
O magnetizador geralmente fica de pé, e se porventura necessitar sentarse, deve procurar sempre um lugar mais alto do que o magnetizando, de modo
que o movimento dos braços, que é obrigado a fazer, se não torne demasiado
fatigante e de bom resultado.
Em seguida, fixa os olhos com grande tenacidade, com uma vontade
sobre-humana, firme e determinada de obter o que deseja.
Ao cabo de alguns segundos, coloque as pontas dos dedos sobre o umbigo
do indivíduo que quiser magnetizar, e passados ainda alguns segundos levante
as pontas dos dedos muito devagar e incline-se ao pescoço do magnetizando
por espaço de cinco minutos, tornando a descê-las ao umbigo, onde as
conservará por cinco minutos conforme já explicamos na parte dos Poderes
Ocultos do Magnetismo.
256
Depois de haver feito tudo quanto ficou dito, chegue-se o magnetizador
um pouco mais ao magnetizando, incline-se sobre ele, para que estabeleça
assim a corrente elétrica entre um e outro corpo.
Durante todo este tempo o magnetizador não deverá cessar, nem um
instante, de olhar fixamente para o magnetizando e terá o pensamento preso no
que está executando.
Daí a poucos minutos, a pessoa magnetizada dormirá um sono profundo.
Certificando-se de que dorme, na verdade, dirá mais ou menos o seguinte:
— Bem, estás dormindo... Dormindo profundamente... Agora não poderás
acordar senão quando eu quiser. Os teus olhos estão fechados... Estão
grudados... Não poderás abri-los... As tuas pálpebras pesam como se fossem de
chumbo... Estás dormindo... Dorme... Dorme... Continua a dormir.
O magnetizador falará com voz forte, lenta e compassada.
Depois prosseguirá:
— Estás dormindo?
— Estou, diz o outro.
— Que sentes?
Conforme a resposta, acrescentará:
— Não, não sentes nada... Não quero que sintas coisa alguma... Hás de
dormir calmamente.
Compreende-se que isto só ocorre nas primeiras vezes.
Com o correr dos tempos, quando o magnetizado estiver bem escravizado,
às vezes basta a simples ordem:
— Dorme!
Acompanha-se esta ordem de um olhar penetrante; dormirá logo.
Neste caso o magnetizador poderá perguntar ou ordenar (nos limites do
possível) tudo o que for da sua vontade.
257
CATALEPSIA MAGNÉTICA
Deriva-se do grego a palavra “catalepsia”, porque o principal caráter desse
estado é que os atacados conservam a posição que tinham no momento do
acesso.
A sinonímia desse singular estado é bastante complicada; conciliando os
diversos nomes que lhe têm dado e as diversas definições, chega-se ao resultado
seguinte: uma moléstia nervosa intermitente, sem febre, caracterizada por
ataques de duração variável, durante os quais há suspensão de sensibilidade e
de entendimento; às vezes, também, transposição dos sentidos, acompanhada
de rijeza tetânica dos músculos da vida animal, como aptidão particular dos
membros para guardar a posição que tinham no momento da invasão do
acesso, ou à que se lhe dá depois.
Esta definição apenas dá uma ideia muito imperfeita da catalepsia, cuja
vista enche o espírito de admiração.
A catalepsia patológica é sempre sintomática de uma afecção grave: a
catalepsia mágica ao contrário, não tem perigo.
Este estado de conservação muscular sobrevém às vezes por si mesmo no
ato de magnetizar, porém, ordinariamente, ele é provocado.
Determina-se este estado pela acumulação do fluido magnético no
cérebro, e por consequência empregando atos de vontade.
É preciso certa habilidade em experimentar para que a catalepsia tenha
lugar perfeitamente.
Os catalépticos que são mostrados para satisfação dos curiosos, pela maior
parte são sonâmbulos que experimentam, em razão de um ato singular das
forças vivas, uma rigidez parcial dos músculos locomotores sobre os quais se
opera.
Contudo, esse estado cataleptiforme ainda é muito surpreendente.
258
PARTE X
ORAÇÕES MIRACULOSAS
DE SÃO CIPRIANO
259
260
OR A Ç ÃO D E SÃO C I P R I A N O
“Eu, Cipriano, servo de Deus, a quem amo de todo o meu coração, corpo e
alma, pesa-me por vos não vos amar desde o dia em que me destes o ser.
“Porém, vós, meu Deus e meu Senhor, sempre vos lembrastes um dia
deste vosso servo Cipriano.
“Agradeço-vos, meu Deus e meu Senhor, de todo o meu coração, agora, ó
Deus das criaturas, dai-me força e fé para que eu possa desligar tudo quanto
tenho ligado, para o que invocarei sempre o vosso santíssimo nome. Em nome
do Padre, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
“Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.”
“É certo, Nosso Deus, que agora sou vosso servo Cipriano, dizendo-vos:
Deus forte e poderoso, que morais no grande cume que é o céu, onde existe o
Deus forte e santo, louvado sejais para sempre!
“Vós que vistes as malícias deste vosso servo Cipriano! E tais malícias
pelas quais eu fui metido debaixo do poder do diabo, mas eu não conhecia
vosso santo nome, ligava as mulheres, ligava as nuvens do céu, ligava as águas
do mar para que os pescadores não pudessem navegar para pescarem o peixe
para sustento dos homens! Pois eu pelas minhas malícias, minhas grandes
maldades, ligava as mulheres prenhes para que não pudessem parir, e todas
estas cousas eu fazia em nome do demônio. Agora, meu Deus o torno a invocar
para que sejam desfeitas e desligadas as bruxarias e feitiçarias da máquina ou
do corpo desta criatura (fulano). Pois vos chamo, Deus poderoso, para que
rompais todos os ligamentos dos homens e das mulheres. . Caia a chuva sobre
a face da terra para que de seu fruto, as mulheres tenham seus filhos; livre de
qualquer ligamento que lhe tenha feito, desligue o mar para que os pescadores
possam pescar. Livre de qualquer perigo, desligue tudo quanto está ligado
nesta criatura do Senhor; seja desatada, desligada de qualquer forma que o
esteja; eu a desligo, desalfineto, rasgo, calço e desfaço tudo, monecro ou
monecra que esteja em algum poço ou levada para secar esta criatura (fulano),
pois todo o maldito diabo e tudo seja livre do mal e de todos os males ou maus
feitos, feitiços, encantamentos ou superstições, artes diabólicas.
O Senhor tudo destruiu e aniquilou: o Deus dos altos céus seja glorificado
no céu e na terra, assim como por Emanuel, que é o nome de Deus poderoso.
261
Assim como a pedra seca se abriu e lançou água de que beberam os filhos de
Israel, assim o Senhor muito poderoso, com a mão cheia de graça, livre este
vosso servo (fulano) de todos os malefícios, feitiços ligamentos, encantos e em
tudo que seja feito pelo diabo ou seus servos, e assim que tiver esta oração sobre
si e a trouxer consigo ou tiver em casa, seja com ela diante do paraíso terreal do
qual saíram quatro rios, cinquenta e seis Tigres e Eufrates, pelos quais mandastes deitar água a todo o mundo por cujos vos suplico. Senhor meu Jesus
Cristo, filho de Maria Santíssima, a quem entristecer ou maltratar pelo maldito
maligno espírito nenhum encantamento nem maus feitos não façam nem
movam coisa alguma má contra este vosso servo (fulano), mas todas as cousas
aqui mencionadas sejam obtidas e anuladas, para o qual eu invoco as setenta e
duas línguas que estão repartidas por todo o mundo e qualquer dos seus
contrários, sejam aniquiladas as suas pesquisas pelos anjos, seja absoluto este
vosso servo (fulano) com toda a sua casa e cousas que nela estão, sejam todos
livres de todos os malefícios e feitiços pelo nome de Deus Padre que nasceu
sobre Jerusalém, por todos os mais anjos e santos e por todos os que servem
diante do paraíso ou na presença do alto Deus Padre Todo Poderoso, para que o
maldito diabo não tenha poder de empecer a pessoa alguma. Qualquer pessoa
que esta oração trouxer consigo, ou lhe for lida, ou de onde estiver algum sinal
do diabo, de dia ou de noite, por Deus Jacques e Jacob, o inimigo maldito seja
expulso para fora; invoco a comunhão dos Santos Apóstolos, de Nosso Senhor
Jesus Cristo, São Paulo, pelas orações das religiosas, pela empresa e formosura
de Eva, pelo sacrifício de Abel, por Deus unido a Jesus, seu eterno Pai, pela
castidade dos fiéis, pela bondade deles, pela fé em Abraão, pela obediência de
Nossa Senhora quando ela livrou a Deus, pela oração de Madalena, pela
paciência de Moisés, sirva a oração de São José para desfazer os encantamentos,
Santos e Anjos valei-me; pelo sacrifício de São Jonas, pelas lágrimas de
Jeremias, pela oração de Zacarias, pela profecia e por aqueles que não dormem
de noite e estão sonhando com Deus Nosso Senhor Jesus Cristo pelo profeta
Daniel, pelas palavras dos São Evangelistas, pela coroa que deu a Moisés em
línguas de fogo, pelos sermões que fizeram os apóstolos, pelo nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo seu santo batismo, pela voz que foi ouvida do
Padre Eterno, dizendo: “Este é meu filho escolhido e meu amado; deve-me
muito apreço porque toda a gente o teme e porque fez abrandar o mar e fez dar
frutos à terra”, pelos milagres dos anjos que juntos a ele estão, pelas virtudes
dos Apóstolos, pela vinda do Espírito Santo que baixou sobre eles, pelas
virtudes e nomes que nesta oração, estão pelo louvor de Deus que fez todas as
262
cousas pelo Pai , pelo Filho e pelo Espírito Santo , (fulano), se te está feita
alguma feitiçaria nos cabelos da cabeça, roupa do corpo, ou de cama, ou no calçado, ou em algodão, seda, linho, ou lã, ou em cabelos de cristão, ou de mouro
ou de hereges, ou em osso de criatura humana, de aves ou de outro animal; ou
em madeira, ou em livros, ou em sepulturas de mouros, ou em fonte ou em lugares solitários, ou dentro das igrejas, ou repartimentos de rios, em casa feita de
cera ou mármore, ou em figuras feitas de fazenda, ou em sapo ou saramantiga,
ou bicha ou em bicho do mar ou do rio ou do lameiro, ou em comidas ou
bebidas, ou em terra do pé esquerdo ou direito, ou em outra qualquer cousa em
que se possa fazer feitiços.
“Todas estas cousas sejam desfeitas e desligadas deste servo (fulano) do
Senhor, tanto as que eu, Cipriano, tenho feito, com as que têm feito, essas
bruxas servas do demônio; isto tudo volte ao seu próprio ser que dantes tinha
ou em sua própria figura, ou em a que Deus criou.
“Santo Agostinho e todos os santos e santas, por santo nome, que façam
que todas as criaturas sejam livres do mal do demônio. Amém.”
ORAÇÃO QUE SE LÊ AO ENFERMO
( P AR A
SABER SE A MOLÉSTIA É NATURAL OU SOBRENATURAL)
Esta oração diz-se em latim, para que o enfermo não possa usar de
impostura; porque, não entendendo o enfermo quando se há de mover ou estar
quieto, desta forma não pode enganar o religioso.
Se o religioso entender que é demônio ou alma perdida, diga a ladainha;
no fim da qual ponha-lhe o Preceito que está adiante em latim.
“Praecipitur in Nomine Jesus, ut desinat nocere aegroto, statim cesse delirium, et
illuo ordinate discurrat. Si cadat, ut mortuus, et sine mora surget ad praeceptu.
Exortistae factu in Nomine Jesus. Si in pondere assicitur, ut a multis hominibus
elevaret non aliqua parte corporis si dolor, vel tumor, et ad signo Crucis, vel imposito
praecepto in nomine Jesus cessat. Si side causa velit sibi morte inserre, se praecipite
dure. Quando imaginationi, se praesentat res inhonestae contra Imagines Christi, et
Sanctorum, et si oerem tempore sentiant in capit, ut plumbum, ut aguam frigidam, vel
263
ferrumignitem, et hoc fugit ad signum Crucis vel incovato Nomine Jesus. Quando
Sacramenta, Reliquias, et res sacros odit; quando nulla praecedente tribulation,
desperat, se dilacerat. Quando subido patenti lumen aufertur, et subito restitutur;
quando diurno tempore nihil vidit, et nocturno bene vidit et sine luce lugit epistolam: si
subito siat surdus, te postea bene audiat, non colum materialia, sed spiritualia. Si per
septem, vel novem dies mihil, vel param comelens fortis est, et pinguis, sicut antea. Si
loquitur de Mysteris ultra suas capacitatem, quando non custat de illius sanctitile.
Quando ventus vehemens discurrit per totum corpus ad mudum formicarum; quando
elevatur corpus contra volutatem patientes, et non apparet a quo leventur. Clamores,
scissio vestium, arrotatines dentium, quando potiens non est stultus: vel quando homo
natura rebilis non potest teneri a multis. Quando haber linguam tumidam, et ni gram,
quando guttur instatur, quando auliuntur rugitus leonum, balatus ovium, latra tus
canun, porcorum grumitus. et similium. Si vairepraeter naturam vident, et audiunt, si
homines maximo odio perseuntur; praecipitis se exponunt, se oculos horribiles bent,
remanent, sensibus destituti. Quando corpo talibenedicti, quando ab Aeclesia fugit. At
aquarr benedictan non consentit: quando iratos se ostendume contra Ministros
superdonentes Relíquias capii (eti occulte). Quando Iimagines Cristi, et virginis Mariae
nolunt inspicere sed conspuunt, quando verba sacra nolun, profere, vel si proferant, illa
corrumpunt, et balbat cienter student profere. Cum superposita capiti manu sacra cd
lactionem Evangeliorum conturbatum aegrotus, cum pulsquam solitum palpitaverit,
sensus occu pantum, gattae sudoris destuunt anxietates sentit; stridores usque ad
Caelum mittit, sed posernit, vel similia facit. Amém”.
ORAÇÃOPARA O DEMÔNIO
NÃO MORTIFICAR O ENFERMO
(POR
TODO O TEMPO DO ESCONJURO)
“Eu como criatura de Deus feita à sua semelhança e remida com o seu
santíssimo sangue, vos ponho preceito, demônio ou demônios, para que cessem
os vossos delírios, para que esta criatura não seja jamais por vós atormentada
com as vossas fúrias infernais.
“Pois o nome do Senhor é forte e poderoso, por quem eu vos cito e notifico
264
que vos ausenteis deste lugar para fora. Eu vos ligo eternamente no lugar que
Deus Nosso Senhor vos destinar; porque com o nome de Jesus vos piso e rebato
e vos aborreço mesmo do meu pensamento para fora. O Senhor seja comigo e
com todos nós, ausentes e presentes, para que tu, demônio, não possas jamais
atormentar as criaturas do Senhor. Fugi, partes contrárias, que venceu o leão de
Judá e a raça de David.
“Amarro-vos com as cadeias de São Pedro e com a toalha que limpou o
santo rosto de Jesus Cristo, para que jamais possais atormentar os viventes.”
(Faça-se o ato de contrição).
Deve-se repetir muitas vezes, principalmente às mulheres grávidas, para
que não aconteça algum vomito com os fortes ataques que os demônios causam
nessa ocasião.
Em seguida deve dizer-se a oração de São Cipriano, para desfazer toda a
qualidade de feitiçaria e conjurações dos demônios, espíritos malignos ou
ligações que tenham feito homens ou mulheres, ou para rezar em uma casa que
se desconfie estar possessa de espíritos malignos ou, finalmente, para tudo que
diz respeito a moléstias sobrenaturais.
Nesta oração diz-se muitas vezes: — “Eu, Cipriano, servo de Deus, desligo
tudo quanto tenho ligado”. – Mas o religioso não deve pronunciar o nome do
santo, dizendo somente: “Eu desligo tudo quanto está ligado.”
PRIMEIRA CONJURAÇÃO
Esta conjuração deve ser feita pelo religioso com todo o respeito e fé, e
quando veja que o enfermo está aflito e o demônio ou mau espírito não quer
sair, deve-lhe tornar a ler o preceito que está nas páginas anteriores, no fim da
ladainha, em latim.
Nosso Senhor Jesus Cristo, absolvo o corpo de (fulano), de todos os maus
feitiços, encantos, enganos empates que fazem e requerem homens e mulheres
em nome de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de Abrahão, Deus muito
grande e poderoso! Glorificado, seja, para sempre sejam em seu santíssimo
Nome; destruídos, desfeitos, desligados reduzidos ao nada, todos os males de
265
que padece este vosso servo (fulano), venha Deus com seus bons auxílios por
amor de misericórdia que tais homens ou mulheres que são causadores desses
males que sejam já tocados no coração para que não continuem com essa
maldita vida.
Sejam comigo os anjos do céu, principalmente São Miguel, São Gabriel,
São Rafael e todos os santos, santas e anjos do Senhor, e os apóstolos do Senhor
São João Batista, São Pedro, São Paulo, Santo André, São Thiago, São Matias,
São Lucas, São Felipe, São Marcos, São Simão, Santo Anastácio, Santo
Agostinho e por todas as ordens dos Santos Evangelistas João, Lucas, Marcos,
Mateus, e por todos os querubins e serafins Miguéis criados por obra do divino
Espírito Santo.
Pelas setenta e duas línguas que estão repartidas pelo mundo e por esta
absolvição e pela voz que deu quando chamou Lázaro do sepulcro, por todas
estas virtudes seja tudo ao seu próprio ser que dantes tinha ou à sua própria
saúde que gozava antes de ser arrebatado pelos demônios, pois eu em nome de
Todo Poderoso mando que tudo cesse, do seu desconcerto sobrenatural.
Ainda mais pela virtude daquelas santíssimas palavras por que Jesus
Cristo chamou: Adão, Adão, Adão, onde estás? por estas santíssimas palavras
absolvamos, por esta virtude de quando Jesus Cristo disse a um enfermo:
“Levanta-te e vai para a tua casa e não queiras mais pecar”, de cuja
enfermidade havia de estar três anos, pois absolva-te Deus que criou o céu e a
terra e ele tenha compaixão de ti criatura (fulano), pelo profeta Daniel, pela
santidade de Israel, e por todos os santos e santas de Deus, absolvei este vosso
servo ou serva (fulano), e abençoais toda a sua casa e todas as mais coisas sejam
livres do poder dos demônios por Emanuel, por Deus seja com todos nós.
Amém.
Pelo santíssimo nome de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, todas as cousas
aqui nomeadas sejam desligadas, desenfeitiçadas, desalfinetadas de todos os
empates que foram formados por arte do demônio ou seus companheiros, seja
tudo destruído; que o mando da parte do Onipotente, para que já, sem
apelação, sejam desligados e se desligam todos os maus feitiços e ligamentos e
toda a má ventura por Cristo Senhor Nosso. Amém.
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ORAÇÃO PARA LIVRAR O
ENFERMO DO PODER DE SATANÁS
Deve-se rezar de joelhos e com devoção
“Senhor meu Jesus Cristo, dou-vos infinitas graças, pelos merecimentos de
vossa paixão santíssima, de vosso precioso sangue, e por vossa bondade
infinita, que vos digneis livrar-me do demônio, dos feitiços e de seus malefícios;
e assim vos peço e suplico agora, vos digneis de preservar-me e guardar-me
para que o demônio daqui por diante não possa jamais molestar-me de modo
algum; porque eu pretendo e quero viver e morrer debaixo da proteção do
vosso santíssimo nome. Amém. P.N. e A.M.”
Se no fim de todas estas orações o enfermo não ficar de todo livre, o
religioso, ao fim de três dias deve ir perguntar pelas melhoras do enfermo,
quando veja que ainda está possesso do demônio (e para o saber, deve tornarlhe a ler os sinais que estão em latim, certo de haver malefícios), é caso de uma
morada aberta, e deve logo tratar de fechar da forma que se segue:
COMO SE HÁ DE FECHAR A MORADA
Tome-se uma chave de aço, em ponto pequeno, e deite-se-lhe a bênção da
forma seguinte:
“O Senhor lance sobre si a sua santíssima bênção e o seu santíssimo poder
para que te de a virtude eficaz, para que toda a morada ou porta por onde entra
o Satanás por ti seja fechada, jamais o demônio ou seus aliados por ela possam
entrar, pois abençoada seja em nome do Padre, do Filho, e do Espírito Santo.
Amém. Jesus seja contigo.”
Deita-se água benta em cruz sobre a chave.
267
P A L A V R A S S A N T Í S S I M A S QU E
O RELIGIOSO DEVE DIZER QUANDO
ESTIVER A FECHAR A MORADA
A chave deve estar sobre o peito do enfermo, como se estivesse a fechar
uma porta:
“Oh Deus Onipotente, que do seio do eterno Pai viestes ao mundo para
salvação do homens, dignai-vos, pois, Senhor, de por preceito ou demônios,
para que eles não tenham mais o poder e atrevimento de entrar nesta morada.
Seja fechada a sua porta assim como Pedro fecha as portas do céu às almas que
lá querem entrar sem que primeiro espiem as suas faltas.'
O religioso finge que está a fechar uma porta no peito do enfermo:
“Dignai-vos, Senhor, permiti que Pedro venha do céu à terra fechar a
morada onde os malditos demônios querem entrar quando muito bem lhe
parece.
“Pois eu (fulano), em vosso santíssimo nome ponho preceito a esses
espíritos do mal, desde hoje para o futuro não possam mais fazer morada no
corpo de (fulano), que lhe será fechada esta porta perpetuamente, assim como
lhe é fechada a do reino dos espíritos puros. Amém.”
No fim da oração, escrevam em papel o nome de Satanás e queimem-no,
dizendo:
“Vai-te Satanás, desaparece, assim como o fumo da chaminé.”
SALVAÇÃO DO PECADOR — ORAÇÃO
E quais são as principais virtudes do céu que podem salvar o pecador?
São:
1º) O sol mais claro que a lua.
2º) As duas tábuas de Moisés onde Nosso Senhor pôs os seus sagrados
pés.
268
3º) As três pessoas da Santíssima Trindade e toda a família da cristandade.
4º) São os quatro evangelistas; João, Marcos, Mateus e Lucas.
5º) São as cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, que tanto sofreu
para quebrar as tuas forças, Lúcifer!
6º) São os seis círios bentos que iluminaram em torno à sepultura de
Nosso Senhor Jesus Cristo, e que iluminaram a mim para me livrar das astúcias
de Lúcifer, o deus dos infernos.
7º) São os sete Sacramentos da Eucaristia, porque sem eles ninguém tem
salvação.
8º) São os nove meses em que a Virgem Maria trouxe no ventre o seu
amado Filho Jesus Cristo, e por esta virtude somos livres do teu poder, Satanás!
9º) São os dez mandamentos da lei da Deus porque quem neles não entra
nas profundezas infernais.
10º) São as doze mil virgens que pedem incessantemente ao Senhor por
todos nós.
11º) São os doze Apóstolos que acompanharam sempre Nosso Senhor
Jesus Cristo até à hora da sua morte e depois na sua eterna redenção.
12º) São os treze raios do sol que eternamente te esconjuram, Satanás!
Nesta ocasião Satanás submergir-se-á, acompanhado dum trovão e
relâmpago enviados por Deus Nosso Senhor.
Prevenimos que esta oração é dita toda, e sendo necessário, repete-se três
vezes.
ORAÇÃO CONTRA FEITIÇOS E MALEF ÍCIOS
Carta milagrosa, acrescentada com o breve e a oração de São Roberto,
contra feitiços e malefícios.
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Milagrosa carta achada em um lugar a três léguas distante de São Marcos,
escrita com letras de ouro e pela própria Mãe de Deus Senhor Nosso e Redentor
do Mundo, Jesus Cristo, Filho da Virgem Maria Nossa Senhora.
No domingo não fareis trabalho algum sob pena de cairdes no meu
desagrado.
Aí vos dou seis dias para trabalhardes e deixo o sétimo para descansardes.
Só nele se fará o serviço Divino, e deveis ir à Igreja, ouvir missa e pedir a Deus
perdão dos vossos pecados. Deveis repartir os bens com os pobres e
necessitados, visitar os enfermos e encarcerados e consolar os tristes e os aflitos.
E quem assim obrar será por mim abençoado e logo seus campos
produzirão copiosos frutos; e pelo contrário, aqueles que não fizerem o que lhes
digo nesta carta, a maldição descerá sobre si e sobre suas famílias, e seus
animais também serão amaldiçoados. Eu lhes mandarei fazer castigos, fomes,
guerras, pestes e dores no coração para sinal da minha justiça; e também darei
sinais próprios nas estrelas. Jejuareis cinco sextas-feiras em honra das cinco
chagas que eu recebi na árvore da vera cruz para vos salvar.
Deixareis ver esta carta a quem pedir sem falardes nada por isto, e se
unicamente pelo interesse da minha glória, e aqueles que disserem mal desta
carta, serão confundidos e amaldiçoados, e os que a tiverem em sua casa sem a
publicar, da mesma sorte serão amaldiçoados no espantoso e terrível Dia do
Juízo; mas quem guardar os meus mandamentos e os da Santa Madre Igreja,
fazendo uma verdadeira penitencia, viverá na vida eterna.
Aquele que tiver esta carta com devoção e a publicar, a qual foi escrita por
minhas sagradas mãos, e tudo proferido por minha sagrada boca, ainda que
tenha cometido tantos pecados, como o ano tem de dias, lhe serão perdoados,
consinta confissão, e por mim se lhe tiverem feito alguma injustiça, o
defendereis e a quem não der crédito eu mandarei mostrar o que padecerá o seu
coração e serão felizes aqueles que tiverem uma cópia desta carta, e a quem
tiver consigo e a der a ler com devoção, logo será feliz ,e guardando os meus
mandamentos e os da Santa Madre Igreja Católica Romana serão venturosos.
Amém.
Bendito e louvado seja o Santíssimo Sacramento.
Quis o Senhor do mundo que parísseis sem dores, rogai por mim formosa
senhora mais que todas as mulheres, flor das virgens, senhora do mundo e dos
270
anjos, mãe de misericórdia, Espírito Santo amparai-me; e salvai-me, alcançai-me
senhora formosa do vosso eterno filho caminho da salvação, Virgem dos
patriarcas, profetas e mártires alcançai-me, Senhora, descanso e fonte de
piedade e da misericórdia quando deste mundo for. Amém. Jesus.
Rezai sete Salvas à Nossa Senhora.
Esta oração trouxe-a o Bispo de Córdova que a achou em um homem o
qual tinham lançado no mar por um delito que fez, e não se afogando, foi
examinado para ver se trazia alguma reli. guia, lhe acharam esta oração e de tal
prodígio tirando-se-lhe, o lançaram outra vez ao mar e se afogou. E eu, Afonso,
o escrevi ao Rei Nosso Senhor e dou fé que com meus olhos a vi por ao pescoço
de um cão e antes que o lançassem ao mar lhe deram dez adagas e lançando- o
saiu do mar são e salvo sem mácula alguma, e tirando-lhe, o lançaram lá e logo
se afogou.
Assim quem a trouxer consigo será livre de perigos, tanto de mar como de
terra, e não morrerá de morte súbita, nem morrerá em fogo, nem em água, nem
será sentenciado à morte, nem morrerá em batalha, nem em seu corpo entrará o
espírito maligno, e será livre de doença de gota coral, nem morrerá sem
confissão. Estando alguma mulher de parto, lançando-se-lhe esta oração ao
pescoço, lhe fará Deus mercê e parirá, e por certo que três dias antes de sua
morte lhe há de aparecer a Virgem Nossa Senhora.
Esta oração foi vista pelos inquisidores de Barcelona. Adverte-se que
quando a lançarem ao pescoço da mulher que estiver de parto, sendo menina se
chamará Maria e rezarão as sete Salvas a Nossa Senhora.
ORAÇÃO AO ANJO CUSTÓDIO
1ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livres e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel,
dizei-me o que significa uma? É o meu Senhor Jesus Cristo, que vive, reina e
reinará séculos e séculos, com as três Pessoas da Santíssima Trindade, Padre
Filho Espírito Santo três Pessoas distintas e um só Deus verdadeiro. (P.N.,
A.M. e G.P. ao meu Senhor Jesus Cristo).
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2ª) Em louvor das cinco Chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero sim. Das treze varas de Israel,
dizei-me o que significam duas? São as duas tábuas de Moisés, que se acham na
Arca com as três Divinas Pessoas da Santíssima Trindade. Padre Filho
Espírito Santo três Pessoas distintas e um só Deus verdadeiro. (P.N., A.M. e
G.P. às duas Tábuas de Moisés).
3ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero sim. Das treze varas de Israel dizeme o que significam três? São os três Patriarcas, Elias, Isaac e Evay, com as três
Divinas Pessoas da Santíssima Trindade, Padre Filho Espírito Santo três
pessoas distintas e um só Deus verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos três Patriarcas.
4ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) quere ser livre e salvo? Quero sim. Das treze varas de Israel, dizeime o que significam quatro? São os quatro Evangelistas, São João, São Matheus,
São Marcos e São Lucas, com as três Divinas Pessoas da Santíssima Trindade,
Padre Filho Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus Verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos quatro Evangelistas).
5ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam cinco? São as cinco chagas de meu Senhor Jesus
Cristo, com as três Divinas Pessoas da Santíssima Trindade. Padre Filho
Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus Verdadeiro. (P.N., A.M. e
G.P. às cinco chagas).
6ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam seis? São os seis filhos abençoados herdeiros do
Monte Sinai, com as três Pessoas da Santíssima Trindade. Padre Filho
Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus Verdadeiro. (P.N., A.M. e
G.P. aos seis filhos abençoados herdeiros do Monte Sinai).
7ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam sete? São os sete salmos penitenciais, com as três
Divinas Pessoas da Santíssima Trindade, Padre Filho Espírito Santo três
pessoas distintas e um só Deus Verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos sete salmos
272
penitenciais).
8ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam oito? São os oito corpos que vieram do Egito, e foram
para a terra da Promissão com as três Divinas Pessoas da Santíssima Trindade,
Padre Filho Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus Verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos oito corpos Santos).
9ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam nove? São os nove coros de Anjos que acompanham
o meu Senhor Jesus Cristo de dia e de noite com as três Divinas Pessoas da
Santíssima Trindade, Padre Filho Espírito Santo três pessoas distintas e
um só Deus Verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos nove coros dos Anjos).
10ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam dez? São os dez mandamentos, que Deus deixou no
mundo para nos remir e salvar, com as três Divinas Pessoas da Santíssima
Trindade, Padre Filho Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus
Verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos 10 Mandamentos).
11ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam onze? São as onze mil virgens espalhadas no mundo;
elas que me valham e me defendam de meus inimigos, de meus adversários, de
todo o mal e perigo, com as três Divinas Pessoas da Santíssima Trindade, Padre
Filho Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus Verdadeiro.
(P.N., A.M. e G.P. às onze mil virgens).
12ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam doze? São os doze Apóstolos, com as três Divinas
Pessoas da Santíssima Trindade, Padre Filho Espírito Santo três pessoas
distintas e um só Deus Verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos doze Apóstolos).
13ª) Em louvor das cinco chagas de meu Senhor Jesus Cristo e do Anjo
Custódio (F.) queres ser livre e salvo? Quero, sim. Das treze varas de Israel
dizei-me o que significam treze? São os treze raios do sol que entraram no
inferno a rebentar os demônios, assim rebentem os corações de meus inimigos,
273
seus ossos, suas juntas e a todo 4uele ou aquela que me deseja mal, hoje, agora,
em qualquer tempo e ocasião, com as três Divinas Pessoas da Santíssima
Trindade, Padre Filho Espírito Santo três pessoas distintas e um só Deus
Verdadeiro. (P.N., A.M. e G.P. aos treze raios de sol).
OFERECIMENTO
Valham-me os treze raios de sol. Valham-me as onze mil Virgens. Valhamme os dez Mandamentos. Valham-me os sete salmos penitenciais. Valham-me
os seis filhos abençoados. Valham-me as cinco chagas de Jesus Cristo. Valhamme os quatro Evangelistas. Valham-me os três Patriarcas. Valham-me as duas
tábuas de Moisés. Valha-me meu Senhor Jesus Cristo. Amém.
(P.N., A.M. e G.P. ao Anjo Custódio).
Esta oração é muito prodigiosa para qualquer tribulação ou necessidade. É
valiosa para tudo que se aplicar e requerer com fé.
ORAÇÃO DO ANJO DE GUARDA
Oh espírito soberano a quem pertence a guarda da minha alma, guiai de
tal sorte as minhas intenções que todas se encaminhem a bem de minha
salvação, livrai-me de dar escândalo meu próximo, do exemplo dos maus me
apartai, do poder dos tiranos defendei-me, e da vingança dos seus inimigos; de
todos os perigos que possam suceder e dos quais não sei me livrar, e só pela
vossa ajudada intercessão serei preservado de todo os males da minha vida e do
corpo. Amém.
274
MAGNIFICAT
A minha alma se engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegrou muito
em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos nesta humilde escrava, eis aqui
porque obrou em mim grande maravilha, porque é poderoso e é santo o seu
nome.
A sua misericórdia se estenda de geração em geração sobre os que o
temem.
Manifestou o poder de seu braço, destruindo os soberbos, cheios de altivos
pensamentos em seu coração, depois os soberbos, elevou os humildes.
Encheu de bens os que tinham fome e os que eram ricos deixou-os pobres.
Lembrando da sua misericórdia, recebeu a Israel seu servo, assim como
tendo prometido a nosso pai Abraão, a sua posteridade para sempre.
Glória ao Padre, Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio
seja agora e sempre em todos os séculos dos séculos. Amém.
C R U Z D E SÃO B E N T O
Ecce Crucem Domini; fugite, partes adversae; incit Leo da Tribu Juda, Radix
Davio. Aleluia.
Esta cruz, sendo benta, tem as mesmas virtudes que a Verônica de São
Bento.
275
SONHOS DE NOSSA SENHORA
Quem quiser aprender os sonhos da Virgem Santa Maria sobre o monte
das Oliveiras, onde Jesus Cristo encontrou e grande suspiro deu, chamando
pelo anjo São Gabriel, oh anjo Gabriel. Vamos a Virgem Santa Maria se ela
dorme ou se vigia; oh! Filho meu; bento filho; eu não durmo nem vigio; só
sonharia; eu vi corda grossa lhe amarrando; mil açoites que lhes davam fel e
vinagre que bebia; eu vi o sol suspirar; eu vi a lua gemer.
Quem este sonho souber, não ensinar e quem ouvir e não aprender, não
dia do Juízo terá grande arrependimento do que perdeu. Amém.
Na porta da alma santa, nasceu nosso bom Jesus, alma santa – respondeu
– bom Jesus que quer agora? “Eu quero que vás entrar comigo dentro da Glória,
eu não quero em cama de ouro nem em cama de cortina, eu quero na
manjedoura, onde o boi bento com seu bafo, lá cobria Nossa Senhora com
dores, São José foi buscar luz, São José não é chegado, nasceu nosso bom Jesus
Padre e Filho”. Perguntou como lá ficou em uma manjedoura onde o boi bento
comia com o seu bafo lá onde vai Nossa Senhora tão cedo, tão orvalhada
encontrar com as três Pastoras cada qual com seu cajado eu perguntei cinco
mais pequenas. Por ser mais encantada — Perguntei se viu passar o bom Jesus
Crucificado.
Quem rezar esta oração na sexta-feira da Paixão a seu Pai e sua Mãe tem
cem anos de perdão, neste mundo será Rei e no outro será coroado. – Amém.
ORAÇÃO PRODIGIOSA
(COMPOSTA
POR
SANTO AGOSTINHO)
Amabilíssimo Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus, que do seio do Eterno
Pai Onipotente fostes mandado ao mundo para absolver pecados, remir aflitos,
soltar encarcerados, congregar vagabundos, conduzir para a sua pátria peregrinos, compadecei-vos dos verdadeiramente arrependidos, consolai os oprimidos
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e atribulados, dignai-vos de absolver e livrar a mim N., criatura vossa, da
aflição e atribulação em que me vejo, porque vós recebeste de Deus Padre Todo
Poderoso e gênero humano para o comprardes; e feito o homem
prodigiosamente nos comprastes o Paraíso com o vosso precioso sangue,
estabelecendo uma perfeita concórdia entre mim e os meus inimigos e faze que
sobre mim resplandeça a vossa paz e a vossa graça e a vossa misericórdia,
mitigando e extinguindo todo o ódio e furor que contra mim tiverem os meus
adversários, como praticastes com Ehay tirando-lhe toda a aversão que tinha a
seu irmão Jacob. Estendei, Senhor Jesus Cristo, sobre mim N., criatura vossa, o
vosso braço e a vossa graça, e dignai-vos de livrar-me de todos os que têm ódio,
como livrastes a Abraão das mãos dos caldeus a seu filho Isaac na consumação
do sacrifício; a José da tirania de seus irmãos, a Noé do dilúvio, a Loth do
incêndio de Sodoma, a Moisés, a Aarão vosso servo e ao povo de Israel do
poder do Faraó e da escravidão do Egito; a David das mãos de Saul e do gigante
Goliath; a Zuzeda do crime e testemunho falso, a Judite do soberbo e impuro
Holofernes, a Daniel do lago dos leões, aos três mancebos Sidrach, Misach e
Abdenago da fornalha de fogo ardente, a Jonas do ventre da baleia, à filha de
Cananéia da vexação do demônio, a Adão da pena do inferno, a Pedro das
ondas do mar, e a Paulo das prisões do cárcere.
Oh, pois, amabilíssimo Senhor Jesus Cristo, filho de Deus vivo, atendei
também a mim N., criatura vossa, e vinde com presteza em meu socorro, pela
vossa encarnação, pelo vosso nascimento, pela fome, pela sede, pelo frio, pelo
calor, pelos trabalhos e aflições, pelas salivas e bofetadas, pelos açoites que
padecestes, pela lança que traspassou o vosso peito, pela coroa de espinhos e
pelos cravos e fel que por mim bebestes, pelas sete palavras que na cruz
dissestes em primeiro lugar a Deus Padre Onipotente.
“Perdoai-lhes, Senhor, que não sabem o que fazem.”
Depois ao Bom Ladrão:
“Digo-te na verdade que hoje estarás comigo no Paraíso”; depois ao
mesmo pai; “Heli, Heli, lama sabactani”, que vem a ser: “Meu Deus, por que me
desamparaste”? Depois à vossa mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”! Depois ao
discípulo: “Eis aí, a tua mãe!”, mostrando que cuidavas de que desejais a nossa
salvação e das almas santas vossos amigos, depois dissestes: “Tenho sede”,
porque estavam no Limbo; dissestes depois n vosso pai: “Nas vossas mãos
encomendo o meu espírito” e por último exclamastes: “Está tudo acabado”,
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porque estavam concluídos todos os trabalhos e dores”.
Rogo-vos, pois, por todas estas coisas e pela vossa descida ao Limbo, pela
Ressurreição gloriosa, pelas frequentes consolações que destes aos vossos
discípulos, pela vossa admirável Ascensão, pela vinda do Espírito Santo, pelo
tremendo dia de Juízo, como também por todos os benefícios que tenho
recebido da vossa bondade (porque Vós me criastes do nada. Vós me remistes.
Vós me concedestes a Santa Fé, Vós me fortalecestes contra as tentações do
demônio e me prometestes a vida eterna), por isto, meu Redentor e meu Senhor
Jesus Cristo, humildemente vos peço que agora e sempre me defendais do maligno adversário e de todo o perigo, para que, depois da presente vida mereça
gozar na Bem- aventurança a vossa divina presença.
Sim, meu Deus e meu Senhor, compadecei-vos de mim miserável criatura
em todos os dias da minha vida, ó Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de
Jacob, compadecei-vos de mim N., criatura vossa, mandai para meu socorro o
vosso Santo Miguel Arcanjo, que me guarde e me proteja, me ampare, me visite
e me defenda de todos os meus inimigos.
E vós Miguel Santo Arcanjo de Deus, defendei-me na última batalha para
que não apareça no tremendo Juízo, Arcanjo de Cristo Miguel Santo, rogo-vos
pela graça que merecestes e por nosso Senhor Jesus Cristo, que me livreis de
todo o mal e do último perigo na hora da morte, São Miguel e São Rafael e
todos os outros Anjos e Arcanjos de Deus, socorrei a esta miserável criatura.
Rogo-vos humildemente que me presteis o vosso auxílio para que nenhum
inimigo me possa causar dano, tanto no caminho como em casa, assim na água
como no fogo ou velando ou dormindo, falando ou calado, tanto na vida como
na morte.
Eis aqui a Cruz do Senhor, fugi adversos inimigos. Venceu o Leão de Judá,
descendente de David. Aleluia.
Salvador do mundo, salvai-me; Salvador do mundo, ajudai-me. Vós, que
pelo vosso sangue e pela vossa cruz me remistes, salvai-me e defendei-me hoje
e em todo o tempo. A MÉM .
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ORAÇÃO DA CABRA PRETA (MILAGROSA)
Cabra Preta milagrosa que pelo monte subiu, trazei-me Fulano, que de
minha mão sumiu. Fulano, assim como o galo canta, o burro rincha, o sino toca
e a cabra berra. Assim tu hás de andar atrás de mim.
Assim como Caifás, Satanás, Ferrabrás e o Maioral do Inferno que fazem
todos se dominar, fazei Fulano se dominar, para me trazer cordeiro, preso debaixo do meu pé esquerdo.
Fulano, dinheiro na tua e na minha mão não há de faltar, com sede tu nem
eu não haveremos de acabar, de tiro e faca nem tu nem eu não há de nos pegar,
meus inimigos não hão de me enxergar.
A luta vencerei com os poderes da Cabra Preta milagrosa. Fulano, com
dois eu te vejo, com três eu te prendo com Caifás, Satanás, Ferrabrás.
Reza-se esta oração com uma vela acesa e uma faca de ponta.
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