Volume 28 No. 1 2015
ARTIGO
ANÁLISES CERÂMICAS NA ARQUEOLOGIA AMAZÔNICA:
CONTRIBUIÇÕES DA AMAZÔNIA CENTRAL A UMA LONGA
TRAJETÓRIA DE DISCUSSÕES
Helena Pinto Lima*
RESUMO
Classificação das cerâmicas arqueológicas foi tema bastante debatido entre
arqueólogos que trabalharam na Amazônia nas décadas de 1950-70 e
evidenciou divergências entre as hipóteses de ocupação da região. As diferentes
interpretações dadas a este vestígio partiam de parâmetros classificatórios
distintos. Este artigo apresenta as discussões sobre métodos de tratamento da
cerâmica arqueológica na Amazônia, contextualizando as abordagens histórica e
teoricamente. Num segundo momento expõe a metodologia de análise cerâmica
utilizada para interpretar as sequências crono-estratigráficas dos contextos
arqueológicos da Amazônia central e adjacências. Para tal, lança mão da análise
e tipologia produzidas para o sítio arqueológico Jacuruxi, município de
Manacapuru/AM, que desafiam os parâmetros interpretativos adotados e
apontam para a necessidade de uma abordagem contextual abrangente.
Palavras-chave: Arqueologia amazônica, análise cerâmica, classificação.
ABSTRACT
Classification of archaeological ceramics was a frequently debated subject
among archaeologists working in the Amazon during the decades of 1950-70
and reflects competing hypotheses of occupation of the region. The different
interpretations of the archaeological remains derived from distinct
classificatory parameters. This article provides an overview of the discussions
about the methods of ceramic analysis in the Amazon, contextualizing such
historical and theoretical approaches. It also aims to present the methodology
that has been used to interpret the chronological and stratigraphic sequences of
archaeological contexts in the central Amazon and adjacencies. To illustrate
this, we present the typological data from Jacuruxi site, Manacapuru/AM, which
challenges the interpretative parameters adopted and point to the necessity of
an open contextual approach.
Key words: Amazonian archaeology, ceramic analysis, classification.
* Museu Paraense Emilio Goeldi.
E-mail:
[email protected]
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INTRODUÇÃO
“Classification, like statistics, is not an end in itself but a technique by means of
which to attain specified objectives, and so it must be varied with the objective”
(Rouse 1960: 313)
Há quem diga que nosso entendimento de mundo é fruto de nossas
classificações. Se pensada dessa forma, classificação é muito mais um processo
cognitivo do que simples parâmetro de análise. Aqui, as classificações serão
abordadas somente no que diz respeito à segunda opção, ou seja, refere-se à
distribuição [de objetos, no caso] em classes. Discutidas no âmbito da
arqueologia, a intenção é lançar um olhar sobre os objetos com um fim
específico: o de construir uma história cultural.
A disciplina arqueológica tem, ao longo de seu desenvolvimento, se
aparelhado – teórica, metodológica e tecnicamente – para lidar em maior
profundidade com os aspectos concretos, tangíveis, da produção humana
(LIMA, 2011). Neste sentido, a descrição e, particularmente, as classificações da
cultura material, despertaram o interesse de muitos arqueólogos desde sempre.
As cerâmicas pré-coloniais da Amazônia impressionam, não apenas por sua
rara beleza, mas também pela enorme variabilidade e quantidade em que são
encontradas no registro arqueológico. Isto as levou a deterem certo privilégio
em detrimento de outros componentes do registro, durante muitos anos da
arqueologia amazônica. Este privilégio historicamente dado às cerâmicas se deu
por uma opção analítica que se refere ao contexto em que as pesquisas na
Amazônia se desenvolveram até meados do século passado.
Se outrora a predileção pela cerâmica fosse quase unânime, hoje em dia a
arqueologia parece caminhar para outros rumos. Há pelo menos vinte anos as
pesquisas na Amazônia têm valorizado a diversidade e multiplicidade do objeto
arqueológico, reflexo de uma abrangência e ecletismo teóricos não vistos
anteriormente. Este novo alcance das pesquisas (e dos dados) arqueológicos
pode ser visto nas evidências de monumentalidade, com sítios com geoglifos,
megalitos, valas e estradas reveladas por pesquisas na Amazônia ameríndia
(HECKENBERGER, 2005; CABRAL & SALDANHA, 2008; SCHAAN et al.,
2010), bem como na construção e apropriação das paisagens e na complexidade
das técnicas de manejo da floresta tropical, estes últimos alinhados, por
exemplo, aos paradigmas da ecologia histórica (BALÉE, 1994; BALÉE &
ERICKSON, 2006).
Outro exemplo, que será tangenciado neste artigo, é o estudo das terras
pretas antrópicas (Terras Pretas de Índio), ponderadas enquanto ecofatos, ou seja,
resultantes de ações levadas a cabo por povos no passado, colocando-se como
mais uma fonte de informações a ser conjugada a uma variada gama de dados, a
fim de se entender modos de vida pretéritos (ARROYO-KALIN, 2012; NEVES
et al., 2003; PETERSEN et al., 2001; WOODS & MCCANN, 1999; SCHMIDT,
2010; SCHMIDT et al., 2014).
Com isso, as análises cerâmicas, tão visadas e debatidas no passado,
perderam sua exclusividade nas interpretações arqueológicas, assumindo um
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novo status em tais discussões, onde elas se inserem em um repertório
diversificado de fontes de informações, que levam essas análises a adotar um
caráter necessariamente mais contextual e relacional. Neste sentido, este artigo
logra salientar esta potencialidade das cerâmicas como fontes de informações
sobre processos de continuidade e de mudança cultural, lembrando que seu
potencial informativo torna-se maior quando contrastado com outras linhas de
evidência (SCHAAN, 2007: 87).
Este texto lança mão de um panorama histórico dos métodos de tratamento
do vestígio cerâmico na Amazônia, no qual diferentes abordagens são
contextualizadas histórica e teoricamente, para, a partir de tal contextualização,
tecer considerações sobre a análise e interpretação desta categoria de vestígios
arqueológicos, pensando em como as análises com enfoque nos sistemas
tecnológicos associados a outros elementos contextuais podem ser fontes de
informação histórica e cultural, ao passo em que nossas próprias classificações e
interpretações podem ser desafiadas pelos dados produzidos por essas análises.
Neste sentido, a metodologia de análise que tem sido utilizada e adaptada
por diferentes estudos nos contextos da Amazônia central e também em áreas
adjacentes, será brevemente apresentada (LIMA, 2008, 2013; MORAES, 2007,
2013; COSTA, 2012; TAMANAHA, 2012; LIMA, 2014; entre outros). Embora
não fuja às categorias analíticas tradicionalmente utilizadas em análises
cerâmicas, incluindo-se aí a ideia de formação de tipos, ou tipo-variedade, esta
metodologia – e suas variações – tem se mostrado eficiente para dar conta de
uma organização da variada base empírica disponível para a região. De outro
lado, a discussão metodológica e a potencialidade interpretativa de tal
abordagem serão apresentadas a partir dos dados de um sítio arqueológico
particular, o Jacuruxi, localizado no município Manacapuru/AM e pesquisado
no âmbito do Projeto Amazônia central (PAC) e do Gasoduto Coari Manaus1:
Este sítio que possui relevância para o entendimento da cronologia de
ocupação da região, tratando-se de um raro contexto, na Amazônia central, de
associação entre terras pretas e ocupações ceramistas antigas. Como veremos
adiante, justamente esta não-associação foi tida por nós em trabalhos anteriores
como elemento de distinção entre duas fases arqueológicas locais (LIMA et al.,
2006; LIMA, 2008). A tipologia deste sítio se situa no limiar da definição dessas
duas fases (LIMA, 2008), suscitando questões sobre a potencialidade das análises
tecnológicas associadas ao contexto para as definições das tipologias e,
principalmente, para as intepretações sobre o passado.
ANÁLISES CERÂMICAS NA AMAZÔNIA: ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Problemas relacionados à classificação cerâmica têm longa data no debate
arqueológico. Uma das primeiras tentativas de ordenar a cultura material précolonial sul-americana data da primeira metade do século XX, e baseou-se na
busca de relações espaciais e temporais entre artefatos. As cerâmicas, nesse
momento, eram classificadas através das noções de traço, estilo e complexo. Por
traço entendia-se o componente mínimo na comparação dos artefatos; estilo era
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Ambos vinculados ao Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP), sob a coordenação de
E. Neves.
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uma agregação recorrente de traços e, por fim, a categoria mais abrangente era o
complexo, entendida como um agrupamento de estilos (OSGOOD &
HOWARD, 1943). Apesar da aparente clareza nessas definições, sua aplicação
era por vezes confusa, sendo os conceitos de estilo e complexo sobrepostos em
muitos casos (RAYMOND, 1995: 225).
De fato, análises e classificações cerâmicas se tornaram um assunto por
demais debatido entre arqueólogos que trabalharam na Amazônia, bem como
nos demais contextos tropicais sul-americanos, em especial entre as décadas de
50-70. Isto porque as hipóteses de ocupação da região divergiam em vários
aspectos, assim como as interpretações dadas ao vestígio material, que por sua
vez partiam de parâmetros classificatórios também distintos. O estabelecimento
de formas sistemáticas de classificação da cultura material tornava-se
imperativo para que se pudessem embasar tais modelos. Dessa maneira,
métodos analíticos específicos passaram a ser utilizados por diferentes
pesquisadores a fim de tornar possíveis inferências a respeito da história
cultural a ser interpretada através dos contextos arqueológicos.
Nesse contexto, duas vertentes metodológicas são notáveis dentro da
arqueologia amazônica. A primeira delas, vinculada a Meggers e seus
seguidores, teve enorme influência não apenas na Amazônia, mas em todo o
Brasil. A outra não teve tanta expressão dentro das pesquisas desenvolvidas no
âmbito nacional, mas teve relevância no contexto arqueológico das terras baixas
tropicais.
A enorme variabilidade encontrada no registro arqueológico representaria
um problema para o estabelecimento de um sistema universal de classificação.
Buscando resolver tais questões, Meggers e Evans procuraram métodos
classificatórios que dessem conta de tamanha variabilidade em termos espaciais
e temporais. Nesse sentido, os métodos de classificação evolutiva das espécies
utilizados nas ciências biológicas apresentavam-se aplicáveis também à cultura
material. Assim, com vistas a classificar materiais cerâmicos e líticos em
categorias significativas de abrangência crono-espacial, obteve-se o método
então desenvolvido, a seriação, formulada a partir de uma adaptação do método
de quantificação criado por James Ford em 1945, associada a conceitos
biológicos, tais como a taxonomia (a classificação evolutiva das espécies) e ao
conceito de população (MEGGERS & EVANS, 1970: 3).
Esta perspectiva tem como foco o padrão de mudança, que segundo os
autores, ocorreria da mesma forma tanto em fenômenos orgânicos quanto nos
culturais. As recorrências surgiriam, aumentariam em frequência para, então,
desaparecerem e darem origem a outras novas (Simpson, apud. MEGGERS &
EVANS, 1970: 114). Seguindo este parâmetro, a construção de escalas de tempo
relativas era feita a partir da observação dos padrões de mudança de
popularidade dos tipos cerâmicos, possibilitando estabelecer relações com
quaisquer sítios que apresentassem tipos semelhantes (idem: 9). Seus
procedimentos analíticos foram detalhados em diversas publicações, entre as
quais “Como Interpretar a Linguagem da Cerâmica: Manual para Arqueólogos de
autoria de Meggers e Evans” (1970).
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A premissa deste método de seriação, emprestado de classificações
taxonômicas, se encarrega de estabelecer padrões de mudanças materiais
calcados em princípios evolutivos (FORD, 1954, 1962), o que se enquadra bem
nos paradigmas ambientais que permearam as hipóteses então vigentes sobre a
ocupação da Amazônia (MEGGERS, 1948, 1954, 1990; MEGGERS & EVANS,
1970).
Pressuposto metodológico básico da seriação era a amostragem: esta
deveria ser aleatória (não selecionada), e representaria a variabilidade total da
coleção (MEGGERS & EVANS, 1970: 12-13). As unidades passíveis de serem
classificadas na seriação eram os fragmentos e não o vasilhame completo (idem:
25). A primeira divisão, em qualquer amostra, era feita entre fragmentos
cerâmicos decorados e não decorados. Para cada uma dessas categorias um
procedimento analítico distinto era utilizado, visando o estabelecimento de
tipos. Também este conceito de tipo foi inicialmente estabelecido por Ford, que
os entendia como agregados de atributos, neste caso, cerâmicos, com significado
histórico demonstrável em termos de padrões comportamentais (FORD, 1954;
WILLEY & PHILLIPS, 1958), sendo assim capazes de revelar mudança
sistemática através do tempo (MEGGERS & EVANS, 1970: 22). Uma vez
definidos os tipos, observava-se sua frequência ao longo de um vetor temporal,
que podia crescer ou decrescer em popularidade de maneira regular e
identificável, estabelecendo, assim, as cronologias relativas.
A sequência seriada, formada a partir da construção desses diagramas de
frequências dos tipos, indicaria relações cronológicas entre diferentes sítios.
Pretendia-se assim estabelecer “cronologias naturais” através da seriação
cerâmica para grandes regiões (idem: 74-75).
O método de seriação pautava-se em escalas de contiguidade temporal,
espacial e formal. No entanto, essas escalas não eram determinadas de maneira
objetiva, abarcando valores diferentes em cada caso específico (DUNNELL,
1986: 173). A necessidade de tornar tais categorias analíticas comparáveis levou
ao estabelecimento de critérios hierárquicos de diferenciação que levassem em
conta a variação tempo-espaço-forma. Estabelecia-se assim o sistema de tipovariedade, uma classificação hierárquica de tipos em relação a variações
temporais, espaciais e formais. Os dados gerados eram sistematizados através
dos conceitos de fase e tradição, que por sua vez foram adaptados das discussões
de Willey & Phillips (1958).
Os chamados Horizontes, Tradições e Fases arqueológicas marcam a literatura
arqueológica brasileira até o presente, e a importância de tais categorias
analíticas se deve ao mapeamento arqueológico de grande parte do território
brasileiro, possibilitando em muitos casos comparações inter-regionais. A
questão assumiu certa importância em âmbito nacional devido à grande
padronização metodológica oriunda, em parte, da enorme influência que o
PRONAPA teve no Brasil. A metodologia implementada por este programa
visava uniformizar o sistema de classificação arqueológica no Brasil e em outros
países da América do Sul. A resultante unificação terminológica possibilitou a
comparação do registro arqueológico de diferentes regiões, sustentando assim
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diversos modelos de ocupação, não apenas da Amazônia como também em todo
o território nacional.
O principal contraponto metodológico a este método é a análise modal,
bem como suas variações. Embora pouco difundido na arqueologia brasileira
em geral, foi bastante aplicado na Amazônia e nas terras baixas (ROOSEVELT,
1991; SCHAAN, 2004; GOMES, 2002; BARRETO, 2009; entre outros). O
método de análise modal foi desenvolvido entre as décadas de 30 e 40 por Irving
Rouse, autor que dedicou grande parte de sua vida acadêmica a problemas de
classificação de artefatos (ROUSE, 1955, 1960). Essa metodologia foi utilizada
por autores como Donald Lathrap e Warren DeBoer no Peru e no Equador,
respectivamente (DeBOER et al., 1996; DeBOER & LATHRAP, 1979).
Também chamada de análise componencial, foi desenvolvida segundo
princípios de classificação estrutural da linguística descritiva e da etnologia.
Ambas as disciplinas lidam com comunidades de indivíduos que compartilham
dos mesmos hábitos e se comunicam numa única língua, e sua análise consiste
na observação de conjuntos de regras culturais. O mesmo se daria na
arqueologia. A utilização desse método no contexto arqueológico buscava
identificar grupos que compartilhassem ideias e regras a respeito da produção e
utilização da cultura material (RAYMOND, 1995: 227).
Desta forma, a análise modal procura abordar os potes cerâmicos através da
apreensão de unidades mínimas de significado, denominadas modos, e de suas
diferentes formas de interação. As regras que definem a estruturação das
variáveis numa dada coleção de potes cerâmicos são criadas através de hipóteses
êmicas. Tais hipóteses são construídas a partir da combinação recorrente entre
atributos, indicando padronizações no conjunto, os modos, definidos como
“qualquer padrão, conceito ou costume que regula o comportamento dos
artesãos dentro de uma comunidade, que é transmitido de geração em geração, e
que pode se difundir entre comunidades em distâncias consideráveis” (ROUSE,
1960: 313).
Diferente do princípio da seriação, em que os fragmentos cerâmicos são o
próprio universo pesquisado, este tipo de análise entende os fragmentos como
partes de vasos inteiros. Assim, a primeira tarefa analítica do pesquisador
consistiria em inferir, tanto quanto possível, as características formais do
vasilhame. Uma vez que a variabilidade formal é conhecida, determinam-se
quais são variáveis significativas, ou definidoras das morfologias, os modos,
utilizando-as para a comparação entre os diferentes vasos. Segundo esta
metodologia, outros atributos da cerâmica, como a argila, o tempero e a queima,
por exemplo, são variantes subordinadas aos modos de morfologia. Por fim, os
motivos e as técnicas decorativas são analisados como um sistema estrutural
separado da forma e do processo de fabricação do pote. Neste caso, a decoração
é entendida como um conjunto de regras que estruturam a composição das
unidades mínimas de sentido, formando os motivos e sua aplicação à forma do
vaso. Portanto, assim como é necessário, ao menos em papel, construir vasos
completos para a análise de suas formas, é necessário construir todos os
parâmetros de seu design para que se entendam suas estruturas (RAYMOND,
1995: 229-230).
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De tal abordagem derivaram perspectivas analíticas importantes adotadas
até os dias atuais na Amazônia brasileira. Tais perspectivas incorporam, de um
lado, o estudo das formas e dos aspectos funcionais às análises, ao passo em que
uma análise estrutural dos estilos permite o reconhecimento de importantes
aspectos do universo simbólico, social e estético das populações ceramistas
antigas da Amazônia. Um trabalho de referência, e talvez inspirador dentro
dessa linha tenha sido o de Roosevelt (1991), ao propor uma clara relação entre
os padrões decorativos das cerâmicas marajoaras com a complexificação social
dos grupos que as confeccionaram.
Seguem-se a este trabalho de Roosevelt estudos com foco nas técnicas
decorativas e iconográficas, visando suas correlações com aspectos culturais,
políticos, de gênero, e de hierarquização, entre os produtores dessas cerâmicas.
Assim, alguns estudos voltados à iconografia de algumas culturas arqueológicas
específicas, como Schaan (1997, 2004) para as próprias cerâmicas marajoaras e
Gomes (2002, 2010) a cultura (ou estilo) Tapajônica. A arte cerâmica passava a
ser vista, então, enquanto “fator de legitimação ideológica” a ser abordada a
partir de análises estilísticas do ponto de vista da sua agência (BARRETO, 2005,
2009). Análises estas com a iconografia, especificamente correlacionada aos
rituais funerários. Neste sentido, e mais próxima da etnoaqueologia e talvez de
uma antropologia da arte, a cerâmica, enquanto linguagem simbólica, pode
informar sobre dinâmicas históricas, sociais e ideológicas dessas antigas
sociedades Amazônicas (BARRETO, 2005:7).
Abordagens mais aproximadas com a antropologia ou com a
etnoarqueologia têm ganhado atenção de arqueólogos trabalhando com
cerâmicas amazônicas, a exemplo dos estudos dos sistemas tecnológicos ligados
à essa produção entre os povos Asuriní do Xingu (SILVA, 2000) ou do registro
da produção cerâmica dos Palikur na Guiana Francesa, que aponta os motivos
decorativos enquanto elemento de etnicidade em um povo de tradição
multiétnica (VAN DEN BEL, 2009:54). Por outro viés, os estudos tecnológicos e
funcionais em cerâmicas de sítios contemporâneos com obras de terras nos
Llanos de Mojos (com montículos, canais, zanjas) têm ajudando a entender
melhor as funções e significados de tais estruturas (JAIMES BETANCOURT,
2012).
Barreto (2013) chama atenção dos arqueólogos para os papeis
multifacetados que os objetos cerâmicos amazônicos podem possuir. Desde
marcadores territoriais, tecnologias de rituais, monumentos fractais, sínteses do
conhecimento, meios de comunicação e fluxo de informação para a construção
de redes, etc. Em suma, como ferramentas ideológicas para reafirmar diversas
ontologias culturais que encontramos na Amazônia até hoje (BARRETO,
2013:12).
Enfim, estes e outros trabalhos recentes desenvolvidos em várias partes da
Amazônia não deixam dúvidas de que o campo das análises cerâmicas, assim
como de outas áreas da práxis arqueológica, tem passado por importantes
avanços teóricos e metodológicos nos últimos vinte anos. Aqui queremos
ressaltar que, do panorama histórico brevemente apresentado depreende-se que
os conjuntos artefatuais (as classificações das cerâmicas, no caso) foram
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definidos dentro de conceitos classificatórios específicos. Esses conceitos
representam as bases para a construção de histórias culturais e se comportam
como alicerces empíricos que sustentaram as tradicionais hipóteses de ocupação
da Amazônia.
SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS SISTEMAS TECNOLÓGICOS E MUDANÇA
CULTURAL
Os estudos sobre os sistemas tecnológicos se dividem em duas principais
vertentes. Por um lado, a chamada visão tradicional de tecnologia utilizou
conceitos explanatórios, tais como evolução e determinismo tecnológico,
entendendo a tecnologia em última instância, como índice de adaptabilidade.
Por outro lado, uma abordagem mais recente tem procurado explicações que
levem em conta a dimensão simbólica, percebendo o fenômeno tecnológico
como uma construção social, e criticando com severidade as tipologias
historicamente definidas para diversas regiões do Brasil (DIAS, 2003, 2007;
DIAS & SILVA, 2001; MACHADO, 2005-2006; SCHAAN, 2004, 2007; SILVA,
2000). Tais críticas pautavam-se mais na forma como essas tipologias foram
utilizadas, do que em como foram originalmente concebidas. Dentro desta
perspectiva, o uso de certos conceitos classificatórios, na arqueologia brasileira,
teria se tornado o fim último das pesquisas arqueológicas, e não um meio para a
reconstrução histórica, esvaziando estes conceitos de seus significados culturais.
Tais críticas são feitas no sentido de que “muitos arqueólogos ainda estão à
busca de uma receita de bolo que os permita estudar a cerâmica sem as deficiências ou o
“mal-estar” trazido pelo modelo antigo” (SCHAAN, 2007: 87). Ou seja, desde os tão
criticados trabalhos, em especial aquelas seriações desenvolvidas pelo
PRONAPA, a arqueologia vinha tentando, sem muito êxito, superar questões
classificatórias. Mais do que isso, essas considerações se colocam frente à
própria falta de crítica da arqueologia brasileira pós-PRONAPA. Desde outros
pontos de vista, pode existir uma conciliação entre essas visões, ditas opostas,
através, por exemplo, da combinação da metodologia ecológica tradicional com
paradigmas pós-processuais, entendendo a tecnologia uma construção cultural
ao invés de uma “força natural" (LONEY, 2000: 647).
O foco neste caso volta-se ao entendimento da dinâmica comportamental
subjacente aos sistemas tecnológicos, já que estes são o resultado de ações –
escolhas – levadas a cabo pelo artesão durante todo o processo de produção uso,
reuso e descarte dos artefatos. Entende-se como escolha "apenas aquelas que para
cada atividade (ou sequência de atividades) havia alternativas, enumeradas pelo
investigador moderno, que não foram escolhidas" (SCHIFFER & SKIBO, 1997). Estas
podem resultar de diferentes fatores, tanto de ordem prática como simbólica.
Embora estas perspectivas teóricas tenham surgido como reações ao
excesso de empirismo classificatório dos métodos histórico-culturais, num
primeiro momento as escolhas tecnológicas foram pensadas por meio de um
viés fortemente adaptativista, relacionado com as limitações e possibilidades do
meio a que as populações estavam inseridas e de suas demandas
socioeconômicas (DIAS, 2007: 63). Este movimento, que se deu nos países de
língua inglesa na década de 60 (a Nova Arqueologia), tinha como base a
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premissa de que o comportamento humano apresentaria uma grande
padronização em relação às características formais e à espacialidade dos objetos
por eles materializados. Estes comportamentos seriam, portanto, refletidos no
registro arqueológico e passíveis de interpretação através de metodologias
apropriadas (TRIGGER, 1989: 296). Dentro desta abordagem mais
processualista (p.ex. BINFORD, 1983), a tecnologia seria essencialmente
pragmática, valorizando fatores adaptativos tais como quantidade, qualidade e
distância das fontes de matérias primas. Segundo essa perspectiva, as escolhas
seriam orientadas a partir de uma equação de custo-benefício.
A partir da década de 80, alguns autores começaram a sugerir outras
posturas para as análises tecnológicas. Absorvendo as contribuições e,
especialmente, apontando críticas com relação à arqueologia processual, uma
nova leva de arqueólogos se dedicou a pensar sobre “a compreensão da natureza da
variabilidade tecnológica e qual a sua relação com o registro arqueológico” (DIAS, 2007:
64). Autores como Bleed (2001), Chilton (1998), Schiffer & Skibo (1997)
passavam a pautar as explicações dadas às escolhas nos mais variados fatores,
uma vez que sistemas tecnológicos são dinâmicos assim como os sistemas
culturais. Entre estes fatores, estão os próprios limites do instrumento e a
eficiência das características de performance. Esses autores acabaram por se
aproximar do pensamento arqueológico desenvolvido então na França, à parte
das reviravoltas teóricas dos países de língua inglesa, e que buscava explorar
relações entre cognição e escolhas tecnológicas.
Sucessões dessas escolhas técnicas, desde a procura, seleção e preparo da
matéria prima, técnicas de manufatura empregadas, acabamento de superfície e
a decoração, geram o que foi definido inicialmente por Leroi-Gourhan e
reavaliado por Lemonnier como cadeia operatória, ou seja, a sequência de
operações para a realização da transformação da matéria em artefato
(LEMONNIER, 1986). Esta interpretação mais abrangente dos sistemas
tecnológicos como parte dos sistemas culturais pode ser atribuída também à
herança da escola francesa deixada aos antropólogos por Marcel Mauss, que
entendia tecnologia como uma construção social, o corpo humano como meio
técnico e o objeto como gesto técnico: “O corpo é o primeiro e o mais natural
instrumento do homem (...) e ao mesmo tempo meio técnico. (...) Antes das técnicas de
instrumentos, há o conjunto das técnicas do corpo” (MAUSS, 2003 [1935]: 407). Vista
desde uma perspectiva mais ampla, o estudo da tecnologia envolve todos os
aspectos do processo de ação sobre a matéria, “whether scratching one’s nose,
planting sweet potatoes, or making jumbo jets” (LEMONNIER, 1992: 1).
As sequências de ações, ou "o jeito de fazer", e suas consequentes escolhas,
específicas de cada indivíduo e cultura, definem uma tradição ou sistema
tecnológico. Cabe, assim, ao pesquisador entender essa organização tecnológica
(HEGMON, 1992) para que possa atingir o plano determinante das escolhas.
Os mecanismos envolvidos no estabelecimento, manutenção ou mudança das
tradições tecnológicas são variados e dinâmicos, tal qual a cultura. Eles podem
ser de ordem cognitiva, evolutiva, sociológica, ou prática - ambiental. Uma
mudança pode também estar associada a uma simples invenção. O que se deve
entender, no entanto, são os mecanismos envolvidos na permanência – ou
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adoção – de um novo elemento em uma cultura: como e por que uma invenção
se mantém (é adotada), tornando-se uma inovação; mudança resultante de
processos históricos e que, portanto, deve ser "entendida num nível histórico e
contextual" (LONEY, 2000: 647).
Outro elemento relacionado à mudança cultural é a estrutura de ensinoaprendizagem, "o homem se distingue fundamentalmente dos animais por estas duas
coisas: pela transmissão de suas técnicas e provavelmente pela sua transmissão oral."
(MAUSS, 2003 [1935]: 407). Esta relação é importante, implícita ou
explicitamente para a "socialização, mudança cultural e, num nível mais amplo, para a
produção e reprodução da cultura e da sociedade" (PELISSIER, 1991: 75). No que se
refere a mudanças de longa duração, Schiffer sugere que estão a rigor
relacionadas à competição, e que são discerníveis no registro arqueológico
(2001: 215).
Assim, a arqueologia tem buscado meios de identificar tais mudanças no
registro arqueológico. As classificações podem trazer importantes informações
neste sentido, e tornam-se mais abrangentes quando a observação dos vestígios
se dá em associação com outros elementos que não apenas o conjunto artefatual,
tais como o contexto e a tecnologia, de modo relacional.
ANÁLISES CERÂMICAS EMPREENDIDAS NA AMAZÔNIA CENTRAL: OS
PROCEDIMENTOS ADOTADOS
Com base no panorama histórico e nas discussões apresentadas, bem como
nos problemas de pesquisa próprios à interpretação da história indígena da
Amazônia central, procurou-se uma metodologia que fosse aplicável aos
milhares de fragmentos cerâmicos disponíveis, e que esclarecesse as questões
colocadas acerca do entendimento de uma suposta padronização, bem como da
variabilidade interna dos conjuntos tratados.
A sequência cronológica inicialmente proposta para a região era composta
por quatro fases cerâmicas distintas, sendo as duas mais antigas, Manacapuru e
Paredão, ligadas à tradição Borda Incisa, e as mais recentes, Guarita (vinculada à
Tradição Polícroma da Amazônia) e Itacoatiara, que mesmo sem datações
disponíveis, foi vinculada à Tradição Incisa e Ponteada (tabela 01) (HILBERT,
1968; MEGGERS & EVANS, 1961, 1983).
Tabela 1 - Quadro cronológico da Amazônia central proposto por Hilbert (1968).
Fase
Tradição
Datas 14C
Manacapuru
Borda Incisa
425±58 DC
Paredão
Borda Incisa
880±70; 870±70 DC
Análises cerâmicas na Arqueologia Amazônica.... | Helena Pinto Lima
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Guarita
Polícroma da Amazônia
1150±57 DC
Itacoatiara
Incisa e Ponteada
Sem datas
As análises cerâmicas feitas na área de confluência entre os rios Negro e
Solimões e levaram a formulação de uma nova hipótese sobre a cronologia de
ocupação da área, quando se identificou uma fase cerâmica mais antiga,
denominada Açutuba, com datas entre 300 A.C. e 360 D.C. (LIMA et al., 2006).
Esta surgiu como um refinamento dos estudos das cerâmicas Manacapuru2, e
foram datadas entre 600 e 1000 D.C. (LIMA, 2008). Também a fase Itacoatiara
tem sido mais intensivamente estudada, mostrando-se claramente mais antiga
do que anteriormente proposto (LIMA, 2013).
Na ocasião da pesquisa foram analisados 7.789 fragmentos (ou vasilhas) de
cerâmicas provenientes de nove sítios arqueológicos localizados na área de
confluência dos rios Negro e Solimões - Amazônia central (LIMA, 2008:258).
Ainda no âmbito do mesmo estudo a metodologia foi extrapolada para duas
áreas adjacentes, no baixo Amazonas (sítio Pocó, rio Nhamundá/PA) e médio
Solimões (Nova Esperança, município de Coari/AM), somando-se mais 1.323
fragmentos/vasos analisados, então tratados em uma perspectiva comparativa
regional, feita entre os sítios (idem: 324-330). Mais recentemente tem-se adotado
esta mesma forma de análise, com variações, por um grupo de arqueólogos
trabalhando em outras regiões da Amazônia como no médio Amazonas,
municípios de Itacoatiara e Silves/AM (LIMA, 2013), médio Solimões, nos
municípios de Coari (TAMANAHA, 2012) e Tefé (COSTA, 2012), médio
Madeira, no município de Borba (MORAES, 2013), no baixo rio Negro (LIMA,
M., 2014) entre outros.
A análise é fundamentalmente dividida em duas etapas, tais como
brevemente descritas a seguir. Sua primeira etapa se concentra na “história de
vida do artefato”, ou no seu processo de produção, uso, reuso e descarte. Neste
sentido, aborda-se os artefatos enquanto expoentes de sistemas tecnológicos e
estes, por sua vez, enquanto a expressão material de atividades culturais
(LEMONNIER, 1992:2). Ela se refere, portanto, à caracterização do sistema
tecnológico (com foco na cadeia operatória), na qual os diferentes passos do
processo de produção cerâmica foram agregados em categorias de atributos.
Estes são observados na superfície dos fragmentos, a partir de uma ficha
contendo a seguinte estrutura geral de categorias: proveniência (sítio, unidade,
profundidade); informações métricas (comprimento, espessura); pasta (antiplástico, técnica de manufatura, tratamento e cor da superfície); morfologia;
2
Para maiores detalhes sobre a problemática ligada à cronologia das ocupações ceramistas antigas da Amazônia central, ver:
LIMA et al., 2006; LIMA, 2008; LIMA & NEVES, 2011; NEVES, 2012.
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decoração; e marcas de uso. Todas essas as informações observadas em cada
objeto ou fragmento, foram registradas numa planilha do aplicativo Microsoft
Office Excel.
A finalidade dessa ficha é possibilitar uma análise estatística descritiva
(frequências de atributos e, eventualmente, associações entre eles). Desta forma,
procura-se observar variações consistentes na cerâmica que possam conter
significados cronológicos ou culturais. Na observação dos atributos, tanto
fragmentos quanto vasos inteiros ou parcialmente remontados são tratados
segundo os mesmos parâmetros.
Vale lembrar que dentro do universo de peças trabalhadas, em geral a
presença de vasos inteiros (ou parcialmente remontados) é muito pequena: as
coleções analisadas são compostas, na grande maioria, por milhares e milhares
de fragmentos com tamanhos diferenciados. Sendo assim, a ficha e os princípios
da análise se basearam na estrutura do pote para que fosse possível compilar,
numa mesma ficha, atributos que dizem respeito a partes específicas dos objetos:
as informações referentes a cada uma das categorias gerais de fragmentos
(bordas, bases, paredes, etc) foram consideradas a priori, sendo que as
informações de cada fragmento, gerais e específicas, referentes a cada uma das
categorias, foi a elas ancorado. Dentro desta sistemática, apesar de poucos,
quando se trata de um objeto inteiro todas as demais informações se aplicarão.
Nos outros casos, apenas as informações específicas a cada componente do vaso
serão observadas, ficando os demais itens do gabarito em branco.
Ao final da aplicação sistemática da ficha e do tratamento dos dados partese para a segunda etapa da análise, na qual se empreende uma observação
qualitativa dos objetos que apresentaram características distintivas. Estes vasos e
fragmentos são separados do conjunto total, compondo uma coleção
diagnóstica. Este segundo procedimento analítico se foca no estabelecimento de
tipologias – calcadas não somente nos atributos físicos dos artefatos, mas
também nas relações destas com outros elementos do contexto no qual se
inserem. Em muitos casos esses elementos contextuais são externos ao próprio
artefato, mas também orientam na separação dos conjuntos, como por exemplo,
a associação ou não com as terras pretas, com montículos, feições ou outras
estruturas arqueológicas. Tais itens, além de orientarem nas tipologias, são
fundamentais para as interpretações acerca do conjunto artefatual estudado.
Essa análise qualitativa é como num exercício, talvez subjetivo, que consiste
no estabelecimento das tipologias dentro dessas coleções diagnósticas,
procurando agrupar objetos através de suas similaridades, que ao mesmo tempo
os distinguem dos demais conjuntos. Nota-se que os elementos morfológicos
possuem proeminência na diferenciação dos grupos, fato já observado por
autores que focam suas análises em aspectos funcionais do vasilhame (SKIBO,
1992; GOMES, 2008). Embora tal abordagem se mostre bastante eficiente no
estabelecimento de perfis tecnológicos em coleções, no caso aqui apresentado,
as variáveis morfológicas são dificilmente associadas aos dados métricos, como
por exemplo, de diâmetro e volume, dado o elevado índice de fragmentação
encontrado em alguns contextos e a dificuldade de se incorrer em erros quando
a reconstituição morfológica é feita a partir de coleções muito fragmentadas.
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Em diferente escala, os elementos tecnológicos e decorativos também se
mostram importantes agregadores e diferenciadores na definição dos
agrupamentos. Seu comportamento interfere mais em relação às diferentes
coleções, oriundas de diferentes sítios arqueológicos, do que em relação aos
tipos. Um desdobramento da metodologia ora apresentada, com foco mais
voltado aos fragmentos decorados e nos motivos representados pode ser
encontrada em Moraes (2013).
Ainda assim, os critérios utilizados para definição dos tipos focam-se,
fundamentalmente em uma classificação qualitativa segundo modos de forma,
pasta e decoração. Quando possível, é feita também uma da contraposição desta
aos dados quantitativos dos atributos observados em cada fragmento ou vaso,
ajustados através da estatística descritiva. A combinação dos resultados dessas
etapas aos elementos contextuais, incluindo matriz, profundidade, deposição e
associações internas, gera, então, a tipologia. Mais do que estabelecer tipologias,
os elementos contextuais são fundamentais para que as interpretações acerca
dos conjuntos sejam significativas.
Para os tipos e fases cerâmicas da Amazônia central, definidos
historicamente através da seriação (HILBERT, 1968), a análise apresentada tem
uma importante diferença. Na chamada seriação por gênero, os fragmentos
eram separados com base no antiplástico. Este método foi base para a
construção das sequencias cronológicas locais e de comparações inter-regionais.
Aqui, a partir de uma tipologia (agrupamento por semelhança em termos de
forma, pasta e decoração) usamos o conceito de fase a partir de sua concepção
original: “unidade arqueológica que possui traços suficientemente característicos para
distingui-la de outras unidades (...) de uma localidade ou região cronologicamente
limitada a intervalos de tempo relativamente breves” (WILLEY & PHILLIPS, 1958:
22). A esta definição acrescentamos que, embora estanques como qualquer
método classificatório, as unidades arqueológicas geradas refletem entidades
sistêmicas, não sendo, portanto, estanques. Assim sendo, os limites estabelecidos
por qualquer tipologia são necessariamente arbitrários e devem ser
interpretados de maneira aberta.
A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO NAS ANÁLISES CERÂMICAS: CRONOLOGIA
DA AMAZÔNIA CENTRAL A PARTIR SÍTIO JACURUXI
Questões sobre a cronologia da Amazônia central foram anteriormente
esboçadas e encontram-se amplamente disponíveis na bibliografia. A definição
das respectivas fases cerâmicas se deu sob os paramentos acima descritos.
Apresentaremos, agora, um estudo de caso particular em um sítio arqueológico
da região que ilustra a aplicação da metodologia, e, mais do que isso, enfatiza a
importância de se considerar o contexto nas definições tipológicas, tal como
defendido no presente artigo.
Na ocasião do estabelecimento da fase Açutuba dentro da cronologia da
Amazônia central – dada contextualmente e em oposição aos conjuntos
Manacapuru da área de pesquisa – um dos elementos definidores desta fase
mais antiga era a sua ocorrência em depósitos profundos, na base das sequências
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crono-estratigráficas dos sítios arqueológicos, assim como a sua não associação
aos solos antrópicos de TPI (LIMA et al. 2006).
As associações estilísticas e contextuais permitem associar essas ocupações
antigas da Amazônia central com complexos conhecidos em outras regiões,
como Pocó no baixo Amazonas e Saladóide no rio Orinoco. Recentemente,
Neves et al. (2014) propuseram que, devido ao padrão amplo de ocorrência e
certas regularidades, essas ocupações fossem tratadas como uma tradição,
denominada Pocó-Açutuba. Dentre essas regularidades se destacam a amplitude
geográfica, a particularidade estilística, e a associação entre algumas dessas
ocupações e o início da produção de terras pretas, dentro de um quadro de
entronização da paisagem desenrolado na Amazônia durante o primeiro
milênio DC. e AC.
O sítio arqueológico Jacuruxi, localizado na área de interflúvio entre os rios
Negro e Solimões, no município de Manacapuru, veio mostrar que não
podemos nos ater cega e normativamente às definições construídas por nós
mesmos. O sítio, de aspecto unicomponencial, possui dimensões reduzidas
(5,6ha) e um conjunto de cerâmicas que, embora aparentemente homogêneo,
curiosamente apresenta características das duas fases, Açutuba e Manacapuru.
Logo que identificado, observou-se a pequena profundidade do pacote
arqueológico, que não ultrapassava os 40 cm (figura 1). Assim, seria um caso
único de cerâmicas (supostamente) Açutuba em contexto unicomponencial e tão
próximos da superfície. Ao escavar o sítio, mais uma surpresa: tratava-se de um
contexto de terra preta. Este era justamente mais um dos elementos contextuais
que distinguia as fases Açutuba, mais antiga, e Manacapuru, mais recente. Esta
última considerada um expoente de mudanças ou intensificação de um modo de
vida que levara ao surgimento das TPI’s, entendidas como marcadores
cronológicos e culturais (idem).
Os vestígios arqueológicos não são visíveis em superfície, pois Jacuruxi
apresenta um pacote cultural discreto, com quinze a vinte centímetros de
espessura, que ocorre abaixo de uma densa camada húmica, característica de
áreas de floresta tropical. A vegetação que recobre a área do sítio é uma mata
secundária muito antiga, com pelo menos cem anos de existência. Doze metros
quadrados foram escavados neste sítio, que representam uma amostragem
importante, dadas suas pequenas dimensões.
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Figura 1 - Topografia e densidade total de fragmentos cerâmicos no sítio Jacuruxi.
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Um total de 9.096 fragmentos de cerâmica (86,437Kg) foi coletado em
12m²escavados no sítio. Todos aqueles com tamanho superior a 3 cm foram
triados, numerados e registrados a partir da ficha, totalizando 3.139 fragmentos
analisados, entre decorados e não decorados. A grande quantidade de
fragmentos analisados permitiu uma boa caracterização tecnológica da coleção.
Observou-se absoluta predominância de paredes em relação a outras partes do
vaso, tais como bordas ou bases (LIMA, 2008: 233).
A análise inicial permitiu diagnosticar as principais características do
conjunto. Um tanto homogêneas, as cerâmicas do Jacuruxi são marcadas por
técnicas decorativas com ênfase nas incisões e modelagem de apêndices e
apliques (figura 2). São sempre executadas nos lábios e bordas, ou na parede do
vaso, mas sempre próximo à borda. As bordas são sempre salientadas de
maneira a fornecer um suporte visível para a aplicação da decoração. As incisões
em linhas finas simples ou duplas, assim como as incisões em linhas largas,
formam motivos geométricos retilíneos ou curvilíneos e em gregas, sendo estas
últimas em menor proporção. Ocorrem também acanalados, ponteados,
apliques modelados, etc. A ocorrência de tais atributos permite vincular essas
cerâmicas à Tradição Borda Incisa /Barrancóide da Amazônia (LIMA, 2008;
LIMA & NEVES, 2011), embora a sua posição dentro destra tradição tecnologia
tenha gerado alguns questionamentos.
Devido ao seu alto grau de desgaste e fragmentação, não foi possível
identificar alguns elementos importantes como os acabamentos de superfície e
os motivos decorativos, embora alguns fragmentos melhor preservados
demonstrem esmero decorativo. Também as reconstituições morfológicas
foram dificultadas pelo elevado índice de fragmentação, embora algumas formas
já fossem conhecidas para cerâmicas similares, possibilitando associações. Este é
um fator limitante desta coleção, comum em outros contextos da região, mas
que não impossibilita o tratamento analítico e interpretativo.
Figura 2 - Cerâmicas do Jacuruxi: aspectos gerais e diferentes tipos de pastas
(fotos: Val Moraes e Helena Lima).
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Os gráficos a seguir mostram as frequências relativas de alguns dos
atributos observados, por nível, na coleção. Estes se concentraram nas
características tecnológicas, mostradas individualmente, e ilustram como alguns
aspectos tecnológicos podem ser mais ou menos diferenciadores de conjuntos
internos, ao passo em que estes mesmos atributos são eficientes marcadores do
perfil de uma coleção. Por exemplo, o uso preponderante do cauixi como
antiplástico é distintivo das cerâmicas do Jacuruxi, embora não ajude na
diferenciação interna dos conjuntos.
Por outro lado, as frequências individuais das técnicas decorativas apontam
para uma diminuição do repertório técnico de acordo com a profundidade, além
de uma concentração das incisões nos níveis superiores ao passo em que o uso
do acanalado se torna preponderante no nível mais inferior. Sendo a presença
de acanalados um item distintivo entre as duas fases (Açutuba e Manacapuru),
este poderia ser um marcador estratigráfico importante. No entanto, como
veremos adiante, a tipologia não nos permitiu visualizar outras diferenças
estratigráficas com clareza.
Figura 3 - conjunto de gráficos indicando as frequências individuais de atributos observados
nas cerâmicas do sítio Jacuruxi.
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Ainda com base nos atributos tecnológicos, alguns agrupamentos tentativos
foram realizados. Os mesmos foram feitos visualmente e prévios à separação
dos fragmentos por tipos. Quanto à pasta, as cerâmicas se dividiram em dois
grupos principais e um terceiro conjunto, mais discreto. As queimas não
mostraram variação significativa, mas as variações de cor e textura permitiram a
diferenciação. O primeiro, mais recorrente, apresenta uma coloração begeamarronzada (descrita no gráfico como ‘marrom A’). É leve e porosa, com
grande quantidade de cauixi e minerais como quartzo e hematita em menor
porcentagem. Estes minerais, presentes nos dois grupos, são inerentes às argilas,
provavelmente deixados propositalmente, não adicionados à pasta quando de
sua preparação (figura 2-A).
O segundo grupo também é temperado majoritariamente com cauixi. Sua
coloração é mais escura do que o primeiro grupo, variando entre o laranjaacinzentado e o laranja-amarronzado (descrita como ‘preta’ no gráfico). De todo
o conjunto analisado, suas pastas possuem o maior grau de dureza. Apresenta
superfícies mais bem alisadas ou polidas, o que demonstra ser menos suscetível
ao desgaste provocado pela ação do tempo. As características decorativas deste
conjunto remontam às cerâmicas mais recentes, da fase Manacapuru, com
presença marcante de incisões finas e ponteados nos lábios (figura 2-B).
Finalmente o terceiro conjunto é composto por cerâmicas com coloração
forte, de tonalidades variando do alaranjado ao róseo (‘rosa A’). Dos três grupos
é o que apresenta a pasta mais leve e porosa. O tempero é semelhante ao
primeiro conjunto, mas com quantidades extremas de cauixi. Por suas
características, as cerâmicas do terceiro grupo apresentaram um grau de erosão
muito alto na sua superfície, sendo difícil diagnosticar seus elementos
decorativos. Observam-se apenas vestígios de modelagem (figura 2-C).
Esta diferenciação de pastas é um dos elementos que distingue cerâmicas
das fases Açutuba e Manacapuru (LIMA et al., 2006), e pode significar duas
coisas, que têm consequências diretas para a interpretação do sítio arqueológico
e sua inserção no quadro cronológico. A primeira hipótese interpretativa
entenderia tais diferenças como, de fato, dois conjuntos cronologicamente
distintos. Desta maneira, Jacuruxi teria sido habitado e possivelmente rehabitado durante alguns séculos. A segunda hipótese sugere que o material
encontrado no sítio seja um expoente de mudanças culturais, que estariam em
curso durante os primeiros séculos da Era Cristã. Desta feita, seria o caso de
uma convivência de distintas fases cerâmicas num mesmo tempo e num mesmo
espaço. Para avançar na compreensão acerca do significado da variabilidade
encontrada nos materiais do sítio Jacuruxi, partimos para a tipologia e sua
associação com os dados contextuais.
Assim, feita a primeira etapa da análise, os fragmentos diagnósticos foram
selecionados para composição dos tipos. A formação e descrição dos tipos
demonstraram que os conjuntos se aproximavam mais da fase Manacapuru do
que da fase Açutuba, embora apresentassem alguns elementos comuns a esta
última. A tipologia resultou em 14 conjuntos, dos quais onze têm afinidades com
a fase Manacapuru e (pelo menos) seis podem ter afinidades com a fase Açutuba
(figura 4). Mesmo que grande parte dos tipos seja compartilhada pelas diferentes
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fases cerâmicas, três deles (vasilhas com flanges mesiais, tampas ou banquetas
com boca irregular e gamelas poligonais) são considerados diagnósticos dos
conjuntos Açutuba, e até então não associados com a fase Manacapuru.
Figura 4 - Tipologia definida para o sítio Jacuruxi e vinculação hipotética dos tipos com as
fases cerâmicas conhecidas para a região (modificado de LIMA, 2008).
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Figura 5 - distribuição dos tipos ao longo da estratigrafia do sítio Jacuruxi.
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A própria ausência da policromia na coleção poderia ser um indicativo de
vinculação ao conjunto mais recente, já que esta é mais um elemento
diagnóstico da fase Açutuba inexistente na fase Manacapuru. Como se pode ver
na figura 5, não há fortes diferenciações estratigráficas entre os tipos o que
dificulta, inclusive, uma tentativa de separação entre as fases. Como já visto,
morfologicamente tal separação também é complicada, pelo compartilhamento
de formas entre os conjuntos.
Notar, também, que outros tipos (os dois últimos) não se vinculam a
nenhuma delas. Apesar de numericamente pouco significativos, os dois últimos
tipos anteriormente mencionados (base em pedestal e gargalo) apresentam
decorações com claras características dos conjuntos mais antigos Açutuba, como
as excisões, ao mesmo tempo em que suas formas aproximam tais fragmentos
das tipologias Paredão, muito mais recentes na cronologia local. Sendo assim,
mesmo com sua baixa ocorrência, esses fragmentos ilustram o que este sítio
representa: uma intermediação entre diferentes processos, seja a formação das
terras pretas ou as tipologias cerâmicas previamente estabelecidas.
Por fim, o que nos levou a pensar ser a segunda hipótese a mais viável foi a
distribuição das cerâmicas: todas associadas à terra preta e a não existência de
diferenciações marcadas entre os conjuntos e os níveis estratigráficos, em um
pacote cultural discreto, com uma espessura variando entre 15 e 20 cm e pouco
denso. Dificilmente se poderia pensar em um contexto de reocupações por
muitos séculos no local, dadas a homogeneidade tecnológica do conjunto, as
características e localização do sítio, bem como a já mencionada distribuição das
cerâmicas.
Em adição, as próprias datações radiocarbônicas obtidas para o sítio
ficaram situadas num pequeno intervalo em torno do século VI d.C. Como se
pode ver, as amostras datadas caracterizaram a ocupação de Jacuruxi como um
evento bem discreto, situado num período intermediário entre as cronologias
propostas para as fases Açutuba e Manacapuru.
Tabela 2 - Datações radiocarbônicas obtidas para o sítio Jacuruxi
(fontes: LIMA, 2008; NEVES, 2012).
Número do
Laboratório
Proveniência
Profundidade
C14 Datação (1σ)
BETA 242441
N1001 E1180
21cm
1.500±40 BP
BETA 242442
N1000 E1003
35cm
1.580±40 BP
Vale lembrar que a segunda hipótese é plausível, uma vez que o conceito de
fase não é normativo e fechado, e não se vincula diretamente a grupos étnicos
ou linguísticos. Um mesmo grupo social pode dispor de diferenciações em sua
cultura material da mesma maneira que diferentes grupos podem apresentar
padronizações materiais.
A convivência espaço-temporal de diferentes fases cerâmicas é observável
ao longo da história pré-colonial amazônica. Numa perspectiva normativa de
fases cerâmicas, tais conclusões pareceriam confusas, mas como se pode
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perceber, os limites materiais – observáveis entre uma e outra fase são
extremamente fluidos. E isso não é uma particularidade destes dois conjuntos: a
fluidez de limites é inerente aos conjuntos artefatuais amazônicos, uma vez que
estes são intimamente conectados, histórica e culturalmente.
Assim, as análises realizadas no sítio Jacuruxi mostraram que não podemos
nos ater às visões normativas dos conjuntos arqueológicos, mesmo quando
nosso “olhar classificatório” tenha certa tendência a isso. As cerâmicas de
Jacuruxi apresentam elementos comuns às fases Açutuba e Manacapuru,
inserido dentro de um contexto de antropização incipiente da paisagem em
diversos pontos do território Amazônico (NEVES et al., 2014).
Cabe ressaltar que o Jacuruxi é um caso representativo, mas não único, de
confluências estilísticas, cronológicas e contextuais entre as fases cerâmicas
antigas na Amazônia central, conforme discutido em Lima (2008, 2014), Em
uma escala mais ampla, problematizações de semelhante natureza se colocam
para outras regiões amazônicas, como por exemplo, as relações ainda não claras
entre as ocupações Saladóide e Barrancóide do baixo rio Orinoco (ver, por
exemplo, ROOSEVELT, 1980; GASSÓN, 2002; ZUCCHI, 2002; BOOMERT,
2000; OLIVER, 2013).
Com isso aprendemos também que a abordagem analítica dialoga
diretamente com o problema de pesquisa tratado, neste caso cronológicocultural. Além disso, as possibilidades da análise se adequam também à amostra
disponível. No caso estudado, abordagens funcionais não se mostraram capazes
de atender às particularidades do conjunto analisado: um tanto fragmentada, a
amostra teve pouquíssimos fragmentos com forma reconstituída, sendo o
cálculo de volume totalmente inviável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como Neves aponta, para a arqueologia da Amazônia central, as fases
arqueológicas possuem valor heurístico quando são usadas como ponto de partida
para organizar a variabilidade cultural, social, demográfica e política (2010:69,
grifo meu). Ainda, ele nos alerta que devemos ter ciência de que “é inegável que o
estudo da cultural material está no cerne da Arqueologia, mas por si só tal foco
corre o risco de se tornar redundante, se não for acompanhado pelo
entendimento do contexto no qual se depositam os objetos” (idem:68).
No caso aqui apresentado, a diferenciação entre fases distintas não foi
possível apenas através da comparação entre os tipos cerâmicos (estes, como
visto, se interpolam nas diferentes fases). Foi necessária a observação dos
contextos, tanto deposicionais (por exemplo, a presença ou ausência das terras
pretas), como estratigráficos e distribucionais. Feita desta forma, a análise
cerâmica extrapola os limites informativos dos fragmentos ao colocar-se em
diferentes esferas analíticas, desde suas características físicas e sua
representatividade nas esferas local e regional.
Em âmbito local, Jacuruxi se mostra como um sítio cerâmico antigo situado
na região de interflúvio dos dois grandes rios da região. Sua antiguidade (além
das próprias características físicas do material) desafia nosso entendimento da
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ocupação humana da região, cujos padrões sugeririam as ocupações ceramistas
iniciais ao longo dos grandes rio (NEVES et al., 2014).
Na análise procuramos compreender os artefatos ou certas categorias de
atributos junto aos contextos a eles relacionados, almejando alguma
compreensão sobre os significados da variabilidade dos conjuntos tratados em
termos históricos. Se por um lado definiu-se a fase Açutuba e sua antiguidade
em função da ausência de terras pretas em contextos a ela associados (LIMA et
al., 2006), por outro lado, Jacuruxi forneceu cerâmicas com características
supostamente desta fase, mas numa matriz antrópica. As questões inicialmente
colocadas frente ao sítio foram: será a Fase Açutuba mais recente do que se
pensou a princípio? Serão os processos que levaram à formação das terras pretas
mais antigos do que se supôs?
As análises cerâmicas aliadas a outros dados como as próprias datações
radiocarbônicas obtidas para este contexto ajudaram a entender melhor as
relações entre as fases Açutuba e Manacapuru, muito mais próximas do que
anteriormente sugerido, bem como o alcance temporal dessas duas fases, já a
ocupação de Jacuruxi se situou em um período intermediário entre as
cronologias propostas para as duas fases.
O Jacuruxi parece mostrar que, tanto a formação das terras pretas como as
relações entre Açutuba e Manacapuru se deram de um modo muito mais
contínuo do que se imaginava. O sítio nos coloca no limiar do entendimento das
significações das fases cerâmicas encontradas na Amazônia central. Apesar de
não fugir das categorizações analíticas tradicionais, a análise cerâmica
apresentada permitiu avanços no que diz respeito à história cultural da
Amazônia central.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP e
Gasoduto Coari-Manaus – PETROBRAS, financiadores do estudo, à
coordenação e equipe do Projeto Amazônia Central, vinculado ao Museu de
Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, ao qual a pesquisa de
doutorado que originou as bases para este artigo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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