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Afetos positivos e negativos e

RESUMO O presente estudo objetivou comparar os afetos positivos e negativos entre jovens acometidos por Diabetes Mellitus, jovens com excesso de peso, e jovens aparentemente saudáveis. Foi realizado um estudo em 37 escolas públicas da cidade de Montes Claros-MG onde foram identificados 10 escolares acometidos por Diabetes Mellitus (DM). Obteve-se um grupo com 11escolares com sobrepeso ou obesidade (SP) e outro grupo com 12 jovens supostamente saudáveis (CO). Para avaliação dos estados emocionais foi utilizada a Escala de Afetos Positivos e Negativos. Os resultados relativos a estes afetos indicaram que os três grupos apresentaram elevados escores de afetos positivos quando comparado aos aspectos negativos, e que o grupo SP apresentou o afeto positivo significativamente maior do que os grupos DM e CO. Conclui-se que escolares acometidos por DM e aqueles aparentemente saudáveis apresentam afetos positivos e negativos significativamente inferiores quando comparados aos escolares com sobrepeso/obesidade SP e este aspecto poderia estar associado a alterações hormonais e a dieta. Palavras-chave: diabete mellitus, obesidade, escolares, escala de afetos ABSTRACT This paper aims to compare positive affection and negative affection between young affected by Diabetes mellitus (DM), overweight young (SP) and others supposedly healthy (CO).A study in 37 public schools in Montes Claros-MG was performed in which was identified 10 diabetics elementary students. So formed a group with 11 elementary students with overweight or obesity (SP) and another group with 12 presumably healthy young. For evaluation of the emotional states we used the Scale of positive and negative affections. The scores on the positive and negative affection indicated that the three groups showed positive affection higher than negative aspects, and the SP group showed positive affection significantly higher than DM and CO groups. It is concluded that students affected by DM and those apparently healthy have positive and negative emotions significantly lower than students with overweight / obesity SP and this might be associated with hormonal changes and diet.

Motricidade 2012, vol. 8, n. S2, pp. 1105-1112 © FTCD/FIP-MOC Suplemento do 1º EIPEPS Afetos positivos e negativos em jovens acometidos por condições crônicas da rede pública estadual de ensino da cidade de Montes Claros/MG Positive and negative affects in young people with chronic conditions in public schools of the city of Montes Claros/MG A.M. Rocha, H.L.S. Porto, M.B. Inácio, E.H. Evangelista e Souza, G. Tolentino ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE RESUMO O presente estudo objetivou comparar os afetos positivos e negativos entre jovens acometidos por Diabetes Mellitus, jovens com excesso de peso, e jovens aparentemente saudáveis. Foi realizado um estudo em 37 escolas públicas da cidade de Montes Claros - MG onde foram identificados 10 escolares acometidos por Diabetes Mellitus (DM). Obteve-se um grupo com 11escolares com sobrepeso ou obesidade (SP) e outro grupo com 12 jovens supostamente saudáveis (CO). Para avaliação dos estados emocionais foi utilizada a Escala de Afetos Positivos e Negativos. Os resultados relativos a estes afetos indicaram que os três grupos apresentaram elevados escores de afetos positivos quando comparado aos aspectos negativos, e que o grupo SP apresentou o afeto positivo significativamente maior do que os grupos DM e CO. Conclui-se que escolares acometidos por DM e aqueles aparentemente saudáveis apresentam afetos positivos e negativos significativamente inferiores quando comparados aos escolares com sobrepeso/obesidade SP e este aspecto poderia estar associado a alterações hormonais e a dieta. Palavras-chave: diabete mellitus, obesidade, escolares, escala de afetos ABSTRACT This paper aims to compare positive affection and negative affection between young affected by Diabetes mellitus (DM), overweight young (SP) and others supposedly healthy (CO).A study in 37 public schools in Montes Claros-MG was performed in which was identified 10 diabetics elementary students. So formed a group with 11 elementary students with overweight or obesity (SP) and another group with 12 presumably healthy young. For evaluation of the emotional states we used the Scale of positive and negative affections. The scores on the positive and negative affection indicated that the three groups showed positive affection higher than negative aspects, and the SP group showed positive affection significantly higher than DM and CO groups. It is concluded that students affected by DM and those apparently healthy have positive and negative emotions significantly lower than students with overweight / obesity SP and this might be associated with hormonal changes and diet. Keywords: diabetes mellitus, obesity, schoolchildren, affection scale Submetido: 01.08.2011 | Aceite: 14.09.2011 Adsonelle Morais Rocha. Programa de Iniciação Científica Voluntária, acadêmico do curso de graduação em Educação Física da Unimontes, Brasil. Hisabella Lorena Simões Porto. Bolsista do Programa de Iniciação Científica FAPEMIG, acadêmica do curso de graduação em Medicina da Unimontes, Brasil. Míriam Braga Inácio. Aluno do curso de Nutrição da Faculdade e Saúde Ibituruna, Brasil. Eric Hudson Evangelista e Souza. Bolsista do Programa de Iniciação Científica FAPEMIG, acadêmica do curso de graduação em Educação Física da Unimontes, Brasil. Grassyara Tolentino. Prof. Msc.do Departamento de Educação Física e Desporto da Unimontes. Coordenadora do Laboratório do Bem-Viver, aluna do Programa de Pós-graduação Stricto-Sensu em Ciências da Saúde UnB-DF, Brasil. Endereço para correspondência: Grassyara Tolentino, Universidade Estadual de Montes Claros - Campus Universitários Prof. Darcy Ribeiro – Caixa Postal 126, CEP: 39401-08 Vila Mauricéia – Montes Claros – MG, Brasil. E-mail: [email protected] 1106 | A.M. Rocha, H.L.S. Porto, M.B. Inácio, E.H. Evangelista e Souza, G. Tolentino Doenças crônicas (DC) são transtornos a saúde que necessitam de monitoramento em longo prazo, possuindo diversas etiologias e conduzindo ao incômodo devido à obrigatoriedade de tratamentos Organização Mundial de Saúde [OMS] (2006). Embora algumas DC não sejam visualmente perceptíveis elas geralmente são acompanhadas de estigmas, devido a aspectos associados à própria doença como mudanças na rotina diária além do risco de morte. Sendo aqueles considerados “doentes”, uma sobrecarga para a família e para a sociedade (Fernandes & Li, 2006). O Diabetes Mellitus (DM) é uma condição crônica que não apresenta sintomas visualmente detectáveis e que provoca alterações na vida social de crianças e adolescentes. Zanetti e Mendes (2001) identificaram que estes, quando acometidos pelo DM, apresentam maiores dificuldades relacionadas à convivência social e à adaptação escolar. Em contrapartida a obesidade é uma doença crônica identificada visualmente, o que acarreta um grande desconforto social aos acometidos, por não ser possível omitir e até mesmo escondê-la para ser bem aceito. O padrão de beleza atualmente valoriza o corpo magro como sinônimo de beleza e referência em saúde, causando um descontentamento nos indivíduos que não se adequaram a esse padrão. A supervalorização da magreza transforma a gordura em um símbolo de falência moral e o indivíduo acima do peso, mais do que apresentar um peso socialmente inadequado, passa a carregar uma marca moral indesejável, ou seja, um estigma (Mattos & Luz, 2009). Ficando os indivíduos que apresentam a obesidade expostos a sensação de incômodo com a aparência física havendo dificuldades de relacionamento com colegas e na realização de tarefas cotidianas (Silva, Jorge, Domingues, Nobre, Chambel, & Castro, 2006). Apesar de serem condições crônicas distintas, com manifestações e terapêutica diferenciadas, o DM e a obesidade se tornam comuns em um ponto, ambas representam uma sobrecarga psicossocial e que pode influenciar nega- tivamente o bem-estar subjetivo de crianças acometidas por essas condições. O Bem-estar subjetivo (BES) é considerado uma experiência interna de cada indivíduo, ou seja, a avaliação que as pessoas fazem da própria vida resultando em experiências positivas ou negativas (Giacomoni, 2004). Segundo Giacomoni (2002) o BES é composto por três aspectos: afetos positivos, afetos negativos e satisfação global com a vida. Os afetos positivos refletem a extensão do quanto uma pessoa está sentindo entusiástica, ativa e alerta, enquanto o afeto negativo é uma dimensão geral da angústia e insatisfação, o qual inclui uma variedade de estados de humor aversivos, incluindo raiva, culpa, desgosto, medo Já a satisfação de vida relaciona-se com o quanto uma pessoa se sente realizada com a própria vida e por isso depende de fatores extremamente subjetivos.O julgamento de quão satisfeita uma pessoa está depende de uma padrão que cada um estabeleceu para si próprio (Giacomoni & Hutz, 2006.) Há indícios de que escolares com DM e que lidam bem com a doença apresentaram glicemia capilar média significativamente menor quando comparados aqueles que sentem vergonha de assumir a doença ou temem que aconteça alguma crise em público, indicando assim, uma associação positiva entre as dificuldades de lidar com a doença e pior controle glicêmico (Maia & Araújo, 2004). Dados preocupantes também já foram diagnosticados em estudos com crianças e adolescentes com excesso de peso. Além de apresentar uma qualidade de vida reduzida quando comparados a crianças de peso normal (Kunkel, Oliveira, & Peres, 2009). A marginalização social é um problema sério para escolares, pois, pode conduzir a estado de saúde mental negativo o que pode levar a outros comportamentos deletérios. Deste modo, buscando uma maior compreensão sobre condições crônicas e aspectos psicossociais em crianças e adolescentes justificou-se a realização do presente estudo, que teve como objetivo avaliar os afetos positivos e negativos em escolares acometidos por DM e compará-los ao Afetos positivos e negativos em escolares com doenças crônicas | 1107 de escolares que apresentam obesidade e escolares aparentemente saudáveis. MÉTODO Este estudo caracterizou-se como descritivo e comparativo. Amostra A detecção de jovens acometidos por DM foi realizada através de entrevistas a 10.643 escolares regularmente matriculados do 6º ao 9º ano do ensino fundamental das escolas públicas estaduais da zona urbana da cidade de Montes Claros. A rede estadual de ensino desta cidade conta com 55 instituições, no qual, 13 não possuem séries finais do ensino fundamental e 6 pertencem a zona rural. Revelando um número total de 36 escolas estaduais além, de um Colégio Militar, totalizando 37 escolas visitadas. Após o diagnóstico de um possível voluntario acometido por diabetes, imediatamente, selecionava-se na mesma sala, outro aluno visualmente sobrepesado e um terceiro que informava não possuir doença crônicodegenerativa. A formação da amostra total foi determinada a partir do número de jovens com DM encontrados. Ao final da visita às 37 escolas estabeleceu-se 3 grupos: o grupo de escolares acometidas por diabetes (DM, n=10), o grupo de escolares visualmente sobrepesados (SP, n=11) e o grupo de escolares aparentemente saudáveis (CO, n=12). Os critérios de inclusão na pesquisa foram: demonstrar interesse e voluntariedade na participação; estar regulamente matriculado em instituição de ensino público estadual; estar apto a responder os questionários; apresentar o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) assinado pelos pais ou responsável. No grupo DM, o diagnóstico foi confirmado através de documentação clínica apresentada pelos pais ou responsáveis. No grupo SP o excesso de peso foi confirmado através de mensurações antropométricas e cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Os critérios de exclusão adotados para todos os grupos foram: apresentar alguma defi- ciência física ou mental; recusa em participar do estudo ou não apresentar o TCLE assinado pelo responsável. A coleta de dados foi iniciada após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes: nº 1734/2009. Instrumentos No presente estudo foi utilizado um questionário demográfico, sociocultural e biomédico que forneceu dados de caracterização da amostra como gênero, idade, nível de escolaridade, utilização ou não de medicamentos, dentre outros. Os estados emocionais positivos e negativos foram mensurados através da Escala de Afetos Positivos e Negativos proposta por Giacomoni e Hutz (2006). Ela e composta por 34 itens sendo 17 questões sobre sentimentos agradáveis (afetos positivos) e 17 questões sobre sentimentos desagradáveis (afetos negativos). As respostas são fornecidas através de uma escala de Likert onde os valores são representados da seguinte forma: nenhum pouco (1), um pouco (2), mais ou menos (3), bastante (4) e muitíssimo (5). A amplitude da escala varia de 17 a 85. Através da aplicação da mesma e possível inferir sobre os níveis de afeto positivo e negativo em crianças a partir de sete anos de idade, sendo estas variáveis componentes do bemestar subjetivo. As medidas antropométricas mensuradas foram: a massa corporal através da balança digital da marca Wiso®, modelo W-721 com precisão de 100 gramas e capacidade de 150 kg, durante a mensuração os escolares mantiveram a posição ortostática com vestimentas leves e descalços; a estatura foi avaliada através de estadiômetro digital da marca Wiso®, estando os escolares na posição vertical, eretos, descalços e pés paralelos. O cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) utilizando a fórmula de Quetelet, em que o peso (quilogramas) é dividido pelo quadrado da estatura (metros). Procedimentos Após a identificação dos possíveis voluntá- 1108 | A.M. Rocha, H.L.S. Porto, M.B. Inácio, E.H. Evangelista e Souza, G. Tolentino rios foi feito um contato telefônico com os pais ou responsáveis informando sobre os objetivos e a metodologia do estudo, solicitando autorização para participação das crianças e adolescentes e agendamento da coleta de dados. Após autorização foi encaminhado aos mesmos o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para que assinassem. Na data marcada, primeiramente foi recolhido o TCLE devidamente assinado, em seguida, o escolar encaminhou-se a uma sala disponível onde respondeu ao Questionário Demográfico, Sociocultural e Biomédico; e a Escala de Afeto Positivo e Negativo para Crianças. Logo após, foram aferidas as medidas antropométricas. A coleta foi realizada na própria escola na presença de dois profissionais de educação física para garantir a idoneidade dos dados e a segurança dos voluntários. Análise Estatística Os dados foram organizados através de frequência, percentual, medial e desvio padrão. A normalidade dos dados foi testada através do teste de Shapiro-Wilk. A diferença entre os afetos positivos e negativos em um mesmo grupo foi comparada através do teste t de Student pareado. As diferenças nas variáveis contínuas entre os grupos foi testada através da ANOVA one way, a homogeneidade dos dados através do teste de Levene com post hoc de Bonferroni para aquelas com igualdade de variância e Dunnett C para os não homogêneos. A correlação entre os dados foi examinada através do teste de Pearson para os dados paramétricos e do ρ de Spearman para os dados não-paramétricos. O nível de significância adotado foi p ≤ .05 e o pacote estatístico utilizado o SPSS® versão 14 para Windows®. RESULTADOS Os dados de caracterização da amostra indicaram que a maioria dos participantes era do sexo masculino, sendo que cerca de 72.7% para o grupo SP, 70% para o DM e 58.3% do CO. A renda familiar predominante dos grupos DM (50%) e SP (30.8%) estão na faixa de dois a quatro salários mínimos. Já no Grupo CO 46.7% dos estudantes viviam com uma renda familiar de meio a um salário. Os participantes frequentavam entre 6º e 9º ano em escolas públicas estaduais. Do grupo DM as séries mais cursadas foram o 7º e 8º ano, apresentando 30% respetivamente, já para o grupo SP foi o 7º ano (53.8%) e o grupo CO com 31.3% no 6º ano. A maioria dos escolares possuía plano de saúde, sendo 70% do total do grupo DM, 45.5% do SP e 50% do CO. Como esperado, os escores médios obtidos nas variáveis massa corporal e IMC no grupo SP (tabela 1) foram significativamente mais elevados do que os do grupo DM (p = .001 e p = .001 respetivamente) e CO (p = .001 e p = .001). Os escores médios da escala de afetos para os três grupos encontram-se descrita na tabela 2. As análises estatísticas indicaram que os escores do afeto positivo foram significativa- Tabela 1 Valores médios (M), desvios-padrão (DP) das variáveis antropométricas e idade dos grupos DM, SP e CO DM (n=10) SP (n=13) CO (n=16) M±DP M±DP M±DP Idade 13.30±2.35 12.81±1.25 12.45±1.21 Massa Corporal 44.22±6.60 79.69±15.72* 42.90±7.68 Estatura 1.53± .08 1.60± .09 1.56± .08 IMC 18.75±1.26 30.37±3.57** 17.49±2.05 Variáveis Nota: M = Média, DP= Desvio Padrão; IMC = Índice de Massa Corporal; DM = grupo de crianças acometidas por diabetes; SP = grupo de crianças visualmente sobrepesadas; CO = grupo de crianças aparentemente saudáveis. * efeito significante observado na variável massa corporal entre os grupos DM e SP (p = .001); SP e CO (p = .001); **efeito significante observado na variável IMC entre os grupos DM e SP (p = .001); SP e CO (p = .001). Afetos positivos e negativos em escolares com doenças crônicas | 1109 Tabela 2 Valores médios (M), desvios-padrão (SD) da Escala de Afetos nos grupos DM, SP e CO DM (n=10) SP (n=13) CO (n=16) M±DP M±DP M±DP Afeto Positivo 61.50±10.41† 72.20±6.85* † 66.71±9.10 † Afeto Negativo 28.30±6.84 36.00±15.54 27.27±6.85 Variáveis Nota: M = Média, DP= Desvio Padrão; r = correlação; DM = grupo de crianças acometidas por diabetes; SP = grupo de crianças visualmente sobrepesadas; CO = grupo de crianças aparentemente saudáveis. † efeito significante observado nos afetos positivos quando comparado aos afetos negativos nos grupos DM (p = .001); SP (p = .001) e CO (p = .001); *efeito significante observado no afeto positivo entre os grupos DM e SP (p = .033); SP e CO (p = .033) mente maior em todos os grupos quando comparado aos afetos negativos. Além disso, observou-se que o afeto positivo no grupo SP apresentou valores significativamente elevados quando comparado ao grupo DM (p = .033) e o grupo CO (p = .033). As análises correlacionais indicaram uma relação entre o afeto positivo e as variáveis antropométricas massa corporal (r = .403; p= .018) e IMC (r = .387; p = .024); e o afeto negativo e o IMC (r = .416; p= .014). DISCUSSÃO Os dados relativos aos afetos indicaram que os três grupos analisados apresentaram elevados escores de afetos positivos quando comparado aos aspectos negativos. Além disso, os escores médios apresentados pelos três grupos ultrapassaram os valores médios da escala aproximando-se dos valores máximos (85 pontos) (Giacomoni, 2002). Este é um aspecto favorável em uma amostra de crianças que apresentam DM e sobrepeso, pois são indícios de que, estas condições podem não representar uma sobrecarga psicológica tão grande para os jovens entrevistados. O elevado afeto positivo pode estar associado no grupo DM a um controle eficaz da doença, já que nenhum voluntário apresentava complicações ou quadros agudos no período das análises. E no grupo SP a uma ausência de sintomas associado ao peso elevado. Estas conjecturas são suportadas por Faria e Seidi (2006) quando analisou indivíduos acometidos por HIV/AIDS, no qual o tra- tamento bem-sucedido e a falta de sintomatologia foram associados a um bem-estar. Afetos positivos elevados são de grande relevância para os jovens principalmente acometidos por condições crônicas, pois favorecem a aproximação e o convívio entre os indivíduos auxiliando na sua inserção social e nas relações cotidianas (Dierk, 2006). Curiosamente não foram detectadas alterações nos humores negativos de crianças com DM quando comparadas aos grupos SP e CO. Apesar do DM ser uma condição crônica de manejo laborioso e que acarreta severas limitações na vida dos indivíduos (Moreira & Dupas, 2006), ela é imperceptível socialmente. Este pode ser um fato favorável desta condição quando comparado à obesidade. Além disso, estar sob tratamento pode conferir uma determinada sensação de segurança, normalidade e controle, o que favoreceria a redução dos afetos negativos no grupo DM (Faria & Seidi, 2006). Os afetos positivos em crianças com DM estariam associados a um bom convívio familiar, desenvolvimento saudável e controle na progressão do DM (Fritsch, Overton, & Robbins, 2011). As comparações entre os grupos revelaram ainda que os afetos positivos, também, foram mais elevados no grupo SP, em relação ao DM e CO. Este é um dado inesperado, porém, detectado em estudos com crianças acometidos por outras condições crônicas como câncer (Cantrell & Lupinacci, 2004) e Lupus Eritematoso Sitêmico (Santoantonio, Yazigi, & Sato, 1110 | A.M. Rocha, H.L.S. Porto, M.B. Inácio, E.H. Evangelista e Souza, G. Tolentino 2004). Não sendo, ainda, unânimes (Bizarro, 2001). Em oposição Carr, Friedman e Jaffe (2007) detectaram associações entre a composição corporal e os afetos negativos. Neste estudo com amostra de 3.353 pessoas classificados em três grupos de obesidade (grau I, II, III), observou-se que todos os indivíduos apresentavam níveis elevados de afeto negativos e redução no afeto positivo, sendo estas diferenças mais acentuadas naqueles com obesidade de grau III. Estes resultados também foram detectados em estudo com 226 adultos, que foram classificados em 3 grupos de acordo com IMC (grupo 1, IMC=30.0-34,9) (grupo 2, IMC=35.039.9) e (grupo 3, IMC=+40.0) onde os afetos foram mensurados através do PANAS, seus achados indicaram uma associação entre valores afeto negativo e IMC elevado. O grupo 2 obteve valores superiores de afetos negativos em relação ao grupo 1, e o grupo 3 foram mais elevados nos afetos negativos em relação ao grupo 2 (Dierk, 2006). Os estudos sobre obesidade e humor negativo ainda são controversiais. Embora haja uma crença de que o IMC elevado estaria associado a afetos negativos, diversos estudos não confirmam esta hipótese (Shin & Shin, 2007). Uma pesquisa longitudinal com 4734 adolescentes não identificou associação entre o IMC e sintomatologia depressiva, apesar de detectar alterações em outros aspectos da saúde e qualidade de vida (Swallen, Reither, Haas, & Meier 2005). Deste modo, parece que aspectos como insatisfação corporal, qualidade de vida relacionada a saúde e auto-estima seriam mais relevantes do que o IMC na determinação de estados afetos positivos em pessoas com obesidade (Swallen et al., 2005; Shin & Shin, 2007), Segundo Giacomoni (2002) definir bemestar é difícil, uma vez que pode ser influenciado por variáveis tais como idade, gênero, nível socioeconômico e cultura. Para esse autor, as principais teorias iniciais de bem-estar subjetivo estavam preocupadas em identificar como os fatores externos, as situações e as variáveis sócio demográficas afetavam a feli- cidade. Estas abordagens, conhecidas como bottom-up, mantêm como base o pressuposto de que existe uma série de necessidades humanas universais e básicas, e que a satisfação, ou não, destas viabiliza a felicidade. Carr et al. (2007) vão além, quando afirmam que não é a obesidade em si que provoca a diminuição do bem-estar nos indivíduos, mas sim os estressores associados esta condição. E aspectos como uma pobre saúde física, funcionamento físico comprometido, discriminação interpessoal e problemas nos relacionamentos familiares podem gerar um quadro estressante, desconfortável e negativo para pessoas com excesso de peso. Além disso, o suporte e habilidades sociais são descritos como preditores independentes do bem-estar subjetivo em indivíduos com obesidade (Dierk, 2006). Outra possível justificativa dos níveis elevados dos afetos positivos nos indivíduos com sobrepeso seriam as alterações fisiológicas associadas ao tecido adiposo. Uma característica comum da obesidade é o desequilíbrio dos hormônios reguladores, que normalmente agem para manter o balanço energético e o peso corporal estáveis. O hormônio leptina é um deles, apresentando níveis acima dos normais em indivíduos com excesso de peso. Sua função é amortecer o apetite. Havendo evidências que ele atua também na motivação, através da sua ação sobre circuitos de recompensa no cérebro; na cognição; apresentado ainda uma ação antidepressiva (Davis, 2010). Desta forma, indivíduos com excesso de peso e superexpressão da leptina tenderiam a apresentar afetos positivos com maior frequência do que indivíduos que tem estes hormônios sob controle. Estas conjecturas são suportadas por outro estudo que mensuraram associação entre os níveis de leptina e a massa gorda, massa corporal e sintomas depressivos em mulheres (Lawson et al., 2011). Berthoud (2008) afirma que sistema digestório é um órgão com elaborados mecanismos neurais e hormonais, e que a mediação vagal e os sinais hormonais afetam não apenas as regiões caudais do cérebro, como também, os Afetos positivos e negativos em escolares com doenças crônicas | 1111 centro superiores, influenciando processos cognitivos de escolha e as emoções. Atualmente é reconhecido que existe uma sobreposição substancial entre as regiões do cérebro que regulam a homeostase da energia corporal e as emoções (Davis, 2010). Logo, os estímulos vagais interioceptivos que atuam junto ao hipotálamo e o sistema límbico apresentam a uma ação que vai além do controle da saciedade após as refeições. Influenciando, também, na seleção dos alimentos, balanço energético global, motivação e estados emocionais (Berthoud, 2008). Além das associações entre as vias neurohumorais o tipo de dieta é um fator que pode interferir nos estados de humor. Aminoácidos como triptofano e tirosina presentes nos alimentos favorecem a metabolização e utilização de hormônios relacionados às endorfinas, gerando um quadro de humor positivo (Ioakimidis et al., 2011). Sendo que a grande oferta de substâncias ligadas as vias metabólicas das endorfinas conduziriam a sensação de felicidade e bem-estar. Além disso, o consumo de carboidratos e açúcar também estão associados a alegria (Feijó, Bertolucci, & Reis, 2011; Lieberman, Wurtman & Chew, 1986). Não foram detectados pelos pesquisadores estudos que comparassem os afetos positivos e negativos em crianças e jovens com DM, sobrepeso/obesidade e aparentemente saudáveis na população brasileira. Deste modo, conclui-se que os escolares pesquisados regularmente matriculados do 6º ao 9º ano em escolas da rede pública estadual da cidade de Montes Claros apresentaram escores estatisticamente significativos dos afetos positivos quando comparados aos afetos negativos. As comparações entre os grupos indicaram que os escolares com sobrepeso/obesidade obtiveram valores superiores nos afetos positivos quando comparados ao grupo de escolares com Diabetes Mellitus e ao grupo aparentemente saudável e este aspecto poderia estar associado a alterações hormonais e a dieta. As limitações do presente estudo encontram-se na escassez de dados sociais ou biomé- dicos que poderiam fornecer outras associações relevantes. O ponto forte encontra-se na abrangência amostral do estudo, principalmente no grupo de crianças acometidas por DM. Novos estudos são necessários para tentar elucidar as questões aqui levantadas, principalmente quanto aos fatores que estariam associados aos afetos em jovens com condições crônicas. Sugere-se que dados clínicos e análises sociais sejam incluídos em futuros estudos. Agradecimentos: Os autores agradecem o apoio financeiro da FAPEMIG. Conflito de Interesses: Nada a declarar. Financiamento: FAPEMIG. REFERÊNCIAS Berthoud, H. R. (2008). Vagal and hormonal gut– brain communication: from satiation to satisfaction. Neurogastroenterology & Motility, 20(1), 64-72. Bizarro, L. (2001). O bem-estar psicológico de adolescentes com insuficiência renal crônica. Psicologia, Saúde & Doenças, 2(2), 55-67. Cantrel, M.A, & Lupinacci, P. 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