Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337
Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
doi:10.4270/ruc.2012109
Disponível em www.furb.br/universocontabil
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA
TOMADA DE DECISÃO MAIS INFORMADA1
THE STATEMENT OF CASH FLOWS AND ITS CONTRIBUTION TO A BETTER
INFORMED DECISION MAKING
EL ESTADO DE FLUJOS DE EFECTIVO Y SU CONTRIBUCIÓN A UNA DECISIÓN MÁS
INFORMADA
Marisa Sofia Dias Borges
Mestre em Contabilidade e Finanças pela ESCE/IPS
Directora dos Serviços Financeiros e Administrativos da JALGON,
Sociedade de Investimentos Hoteleiros S.A.
Endereço: Rua General Humberto Delgado, nº 10
CEP: 2970-628 – Sesimbra – Portugal
E-mail:
[email protected]
Telefone: +351 212 288 308
Sandra Cristina Dias Nunes
Doutora em Matemática, Especialidade em Estatística, pela Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
Professora do Departamento de Economia e Gestão da ESCE/IPS
Endereço: Campus do IPS – Estefanilha
CEP: 2914-503 – Setúbal – Portugal
E-mail:
[email protected]
Telefone: +351 265 709 435
Maria Teresa Venâncio Dores Alves
Doutora em Gestão, Especialidade em Contabilidade, pelo ISCTE
do Instituto Universitário de Lisboa
Professora do Mestrado em Contabilidade e Finanças
Endereço: Campus do IPS – Estefanilha
CEP: 2914-503 – Setúbal – Portugal
E-mail:
[email protected]
Telefone: + 351 265 709 364
1
Artigo recebido em 20.10.2011. Revisado por pares em 05.12.2011. Reformulado em 18.01.2012.
Recomendado para publicação em 20.01.2012 por Ilse Maria Beuren (Editora). Publicado em 31.01.2012.
Organização responsável pelo periódico: FURB.
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
142
RESUMO
No actual contexto de incerteza em que vivemos, a liquidez de que uma empresa dispõe
constitui uma das principais preocupações dos seus gestores. Assim, a informação contida na
Demonstração dos Fluxos de Caixa reveste-se de particular importância. Neste sentido e, à
semelhança de Barac (2010), o objectivo central deste estudo é comparar a informação
financeira obtida através dos rácios calculados a partir de dados preparados com base nos
pressupostos da contabilidade de caixa e da contabilidade do acréscimo. Os dados foram
extraídos dos Relatórios e Contas de 82 empresas que integram a amostra e referem-se ao
período entre 2005 e 2009. Os resultados do estudo demonstram a importância da utilização
da Demonstração dos Fluxos de Caixa em conjunto com as restantes demonstrações
financeiras, para uma melhor tomada de decisão. Através da análise factorial e da análise
discriminante, verificou-se que quer o modelo baseado nos rácios de acréscimo, quer o
modelo baseado nos rácios dos fluxos de caixa, ambos foram capazes de atingir uma eficácia
classificatória. Daí se poder concluir que ambos são úteis para prever a situação futura de
classificação de uma empresa.
Palavras-chave: Demonstração dos Fluxos de Caixa. Informação financeira. Análise
discriminante.
ABSTRACT
In the current context of uncertainty in which we live, a company’s cash flow is one of the
main concerns of its managers. Thus, the information showed in the Statement of Cash Flows
is considered of utmost importance. In this sense, and following Barac (2010), the main goal
of this study is to compare the financial information using ratios calculated from data
prepared based on the assumptions of cash accounting and accrual accounting. The data was
collected from the Annual Reports of 82 companies included in the sample selected, and
concerns the period from 2005 to 2009. The study results show the importance of using the
Statement of Cash Flows together with the other financial statements for a better decision
making. Through the factorial and discriminant analysis, it was found out that both models
based on accrual or cash flow ratios were able to achieve a classifying effectiveness.
Therefore, it can be concluded that both models are useful to preview the future situation of a
company’s classification.
Keywords: Statement of Cash Flows. Financial information. Discriminant analysis.
RESUMEN
En el contexto actual de incertidumbre en que vivimos, la liquidez que tiene una empresa es
una gran preocupación para los directivos. Por lo tanto, la información contenida en el Estado
de Flujos de Efectivo es de particular importancia. En este sentido y, como Barac (2010), el
objetivo central de este estudio fue comparar la información obtenida a través de los ratios
financieros calculados a partir de los datos elaborados sobre la base de supuestos de
contabilidad de caja y la contabilidad de devengo. Los datos fueron extraídos de los informes
de 82 empresas que conforman la muestra y se refieren al período entre 2005 y 2009. Los
resultados del estudio demuestran la importancia de utilizar el Estado de Flujos de Efectivo
junto con los otros estados financieros para la toma de mejores decisiones. Mediante análisis
factorial y el análisis discriminante, se encontró que tanto el modelo basado no devengo, si el
modelo con base en los flujos de efectivo fueron capaces de lograr una clasificación eficaz.
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 143
DECISÃO MAIS INFORMADA
Por lo tanto se puede concluir que ambos son útiles para predecir la situación futura de la
clasificación empresarial.
Palabras clave: Estado de Flujos de Efectivo. Información financiera. Análisis discriminante.
1 INTRODUÇÃO
A actual conjuntura económica impõe que o gestor esteja preparado para constantes
desafios. É necessário que todos os recursos financeiros sejam cautelosamente geridos. As
demonstrações financeiras mais frequentemente utilizadas na análise financeira são o balanço
e a demonstração dos resultados, pois evidenciam, respectivamente, a posição financeira e o
desempenho da empresa.
No entanto, a Demonstração dos Fluxos de Ccaixa (DFC) pode ser considerada como
um dos principais instrumentos para essa análise, na medida em que proporciona uma visão
directa dos fluxos de caixa ocorridos no período, segmentados por actividades, facilitando
uma melhor previsão dos fluxos de caixa futuros. Desta forma, a DFC pode ser considerada
um forte instrumento de apoio à tomada de decisão num contexto de incerteza.
Tal como no estudo de Barac (2010), pretende-se relevar o contributo informativo da
DFC para uma tomada de decisão mais adequada, evidenciando a importância da análise dos
rácios financeiros obtidos através desta demonstração, comparativamente com a análise dos
rácios obtidos através do balanço e da demonstração dos resultados. Para o efeito adopta-se
uma abordagem quantitativa, com recurso à análise factorial e à análise discriminante.
O artigo está estruturado da seguinte forma: no ponto dois, caracteriza-se a DFC e o
seu enquadramento normativo, discutem-se vantagens e limitações da adopção da
contabilidade de caixa (pressuposto subjacente à elaboração da DFC). Apresentam-se, ainda,
diversos estudos empíricos realizados anteriormente. No ponto três, caracteriza-se a pesquisa
e define-se a amostra. Finalmente, no ponto quatro, efectua-se a análise e discussão dos
resultados obtidos. Por último, apresentam-se algumas conclusões, limitações do estudo e
perspectivas de linhas de investigação futuras.
2 ENQUADRAMENTO
A DFC, como parte integrante do conjunto das demonstrações financeiras desempenha
um papel relevante. Trata-se de uma das demonstrações financeiras exigida pelo normativo
internacional do International Accounting Standards Board (IASB). A International
Accounting Standard (IAS) 1 (2005) “Apresentação de Demonstrações Financeiras”, no seu
parágrafo 7, “define as demonstrações financeiras como uma representação estruturada da
posição financeira e das transacções desenvolvidas por uma entidade que deverá ser preparada
com o objectivo de proporcionar informação sobre a posição financeira, desempenho e fluxos
de caixa da entidade que seja útil para um vasto conjunto de utilizadores na tomada de
decisões económicas”.
No mesmo parágrafo esta norma dispõe que “um conjunto completo de demonstrações
financeiras inclui: a) balanço; b) demonstração dos resultados; c) demonstração de todas as
alterações nos capitais próprios ou demonstração das alterações nos capitais próprios que não
sejam provenientes de transacções de capital com detentores e distribuidores de dividendos; d)
demonstração dos fluxos de caixa; e) politicas contabilísticas e notas explicativas”.
A IAS 7 “Demonstrações dos Fluxos de Caixa” (1994) (§ 1), clarifica o papel desta
demonstração financeira ao enunciar que a mesma deve relatar os movimentos de caixa
durante o período, de forma a proporcionar informação que permita aos utilizadores das
demonstrações financeiras determinar o impacto das actividades operacionais, de
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
144
investimento e de financiamento na posição financeira da empresa e nas quantias de caixa e
seus equivalentes. Refere, também, que as empresas às quais a norma se aplica, devem
preparar as demonstrações dos fluxos de caixa como parte integrante das suas demonstrações
financeiras. Estabelece que os juros e dividendos recebidos e os juros pagos devem ser
enquadrados dentro das actividades operacionais, de investimento e de financiamento. No
entanto refere que os juros e dividendos recebidos podem ser classificados como fluxos de
caixa operacionais e, alternativamente como pagamentos relacionados com a actividade de
financiamento (juros pagos) e como recebimentos relacionados com a actividade de
investimento (juros e dividendos recebidos).
Desta forma, o principal objectivo da DFC é proporcionar informação sobre os
recebimentos e os pagamentos de uma empresa, num determinado período. O destaque que
tem vindo a merecer face às outras demonstrações financeiras deve-se, especialmente, à maior
dificuldade de manipulação dos dados financeiros comparativamente com os dados
económicos. Diversos autores reconhecem outras vantagens à qualidade da informação obtida
a partir da DFC.
Morais e Lourenço (2003, p. 92) defendem que a “informação prestada sobre os fluxos
de caixa facilita a comparabilidade da informação financeira entre várias entidades, na medida
em que elimina os efeitos da adopção de diferentes políticas contabilísticas para transacções
ou eventos semelhantes”.
Martins (2004, p. 62) afirma que a DFC permite “diagnosticar as razões de eventuais
desequilíbrios na situação de liquidez. Ao decompor estes fluxos em operacionais, de
investimento e de financiamento, permite desagregar as variações de tesouraria e identificar as
áreas excedentárias e deficitárias, facultando um diagnóstico muito pormenorizado da posição
de liquidez da empresa”.
Caiado e Gil (2004, p. 30) consideram que a DFC pode auxiliar os investidores e
credores a obter informações sobre a:
capacidade de gerar fluxos de caixa positivos no futuro; capacidade da empresa em
solver os compromissos e pagar dividendos; necessidade de recursos ao
financiamento externo e a relação entre o resultado patenteado nos documentos de
prestação de contas e os fluxos líquidos de caixa originados pelas actividades
operacionais, de investimento e de financiamento; explicação das variações
ocorridas na situação financeira entre o inicio e o final de um período contabilístico.
O balanço, a demonstração dos resultados e outros dados complementares fornecidos
pelas contas do razão, constituem as fontes para a elaboração da demonstração dos fluxos de
caixa. Esta demonstração, tal como previsto na IAS 7 (§§ 18, 19 e 20), pode ser apresentada
pelo método directo ou pelo método indirecto, embora seja encorajado o uso do primeiro
método. Concretamente, o parágrafo 18 desta norma, dispõe:
uma empresa deve relatar os fluxos de caixa provenientes de actividades
operacionais usando um dos dois:
(a) o método directo, pelo qual, são divulgadas as principais classes dos
recebimentos de caixa brutos e dos pagamentos de caixa brutos; ou
(b) o método indirecto, pelo qual o resultado líquido é ajustado pelos efeitos de
transacções de natureza que não sejam por caixa, de quaisquer diferimentos ou
acréscimos de recebimentos a pagamentos de caixa operacionais passados ou futuros,
e itens de rédito ou gasto associados com fluxos de caixa de investimento ou de
financiamento.
De acordo com Caiado e Gil (2004, p. 39), “o método directo permite a divulgação dos
componentes dos fluxos de caixa – recebimentos e pagamentos – em termos brutos, mesmo
quando surgem de uma mesma transacção ou transacções relacionadas”. Assim, os
utilizadores da informação poderão compreender a forma como a empresa gera e utiliza os
meios monetários. Ora, isso implica que subjacente à elaboração da DFC esteja o pressuposto
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 145
DECISÃO MAIS INFORMADA
da contabilidade de caixa.
Penmam (2001) eefere que a diferença entre a contabilidade de caixa e a contabilidade
do acréscimo envolve questões relacionadas com o reconhecimento e mensuração que
definem um sistema contabilístico. Dado que o balanço e a demonstração dos resultados são
elaborados na base do acréscimo, é importante a apresentação de uma demonstração
financeira preparada na base de caixa.
Há factores que, pelo facto de não terem impacto no resultado do período, levam a que
uma empresa possa apresentar, continuadamente, resultados positivos, embora detenha uma
débil situação de tesouraria. São exemplo desses factores, os investimentos em necessidades
de fundo de maneio, em activo fixo e em expansão ou determinadas revalorizações de activos.
A contabilidade na base de caixa implica o reconhecimento das operações e
acontecimentos, apenas, quando o dinheiro é recebido ou pago. No entanto, esta abordagem,
também, apresenta limitações. Daí a complementaridade entre as demonstrações financeiras.
Segundo Beechy (2007), o problema é que os activos e os passivos não são registados em
consonância com os fluxos monetários. Na base do acréscimo os passivos são reconhecidos
quando surgem as obrigações e os activos quando a empresa tem direito a recebê-los. A base
de caixa permite aos gestores esconderem os verdadeiros resultados das operações e a
verdadeira posição financeira da empresa através da manipulação financeira da DFC. Ou seja,
adequando temporalmente pagamentos e recebimentos conforme a imagem que pretendem
evidenciar das alterações da posição financeira da empresa.
Mackevicius e Senkus (2006) defendem que as principais razões que determinam a
necessidade da elaboração da DFC estão relacionadas com o facto desta demonstração
financeira, ao contrário das outras, reflectir as entradas e saídas de caixa num determinado
período de tempo, assim como por tipo de actividade; e existir a necessidade de informar os
investidores e os credores.
Spadin (2008), considera a DFC muito importante para apoio a uma adequada gestão
empresarial. A DFC é útil em vários aspectos e para vários utilizadores das demonstrações
financeiras. A DFC fornece informações que, em conjunto com as demais demonstrações
financeiras, indicam a situação em que a empresa se encontra face às suas operações. O autor
defende que o fluxo de caixa é uma importante ferramenta de gestão, não apenas para as
sociedades anónimas, mas para qualquer organização, na medida em que, os gestores
necessitam de informações relacionadas com o planeamento de recursos financeiros, com o
intuito de evitar excessos ou insuficiências. Nenhuma demonstração financeira, por mais útil
que seja, é capaz de fornecer todas as informações para a análise financeira da empresa.
Esta análise deve, segundo Neves (1996, p. 255), consistir no estudo e interpretação da
sua situação financeira. De entre a abundante informação contabilística, o analista financeiro
deve fazer uma selecção de dados que lhe permita, de uma forma rápida e precisa, detectar
eventuais problemas. “O contributo que o mapa de fluxos dá para essa análise é a
possibilidade de explicar como foi gerado/consumido o dinheiro no período em análise”.
Mottaghi (2011) refere que, de acordo com a teoria da Contabilidade, a contabilidade
do acréscimo reduz os problemas de tempestividade e balanceamento da contabilidade de
caixa, através da criação de acréscimos e diferimentos. Pressupõe-se que a contabilidade de
caixa é mais fiável e menos vulnerável à manipulação que a contabilidade do acréscimo
porque a qualidade dos acréscimos é afectada pelas decisões da gestão.
Na literatura referida (e outra, como; CAIADO e GIL, 1996; REIS, 2006) são
realçadas diversas vantagens na elaboração da DFC. Também, o IASB atribui um conjunto de
vantagens à apresentação desta demonstração financeira, pois na IAS 7 (§4) refere que:
uma demonstração de fluxos de caixa, quando usada juntamente com o restante das
demonstrações financeiras, proporciona informação que facilita aos utentes avaliar
as alterações nos activos líquidos de uma empresa, a sua estrutura financeira
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
146
(incluindo a sua liquidez e solvência) e a sua capacidade de afectar as quantias e a
tempestividade dos fluxos de caixa afim de se adaptar às circunstâncias e
oportunidades em mudança; [...]
A informação de fluxos de caixa é útil na determinação da capacidade da empresa de
gerar dinheiro e seus equivalentes e facilitar aos utentes desenvolver modelos para
determinar e comparar o valor presente dos fluxos de caixa futuros de diferentes
empresas; [...]
facilita a [...] comparabilidade do relato do desempenho operacional por diferentes
empresas porque elimina os efeitos do uso de diferentes tratamentos contabilísticos
para as mesmas operações e eventos.
Considera-se, assim, que apesar das limitações, deve ser sublinhada a relevância da
DFC como ferramenta de apoio à tomada de decisão.
Pinho e Tavares (2005, p. 37) defendem que a análise dos fluxos de caixa “facilita
também a comparabilidade do desempenho operacional entre várias empresas, dado que anula
os efeitos decorrentes de diferentes tratamentos contabilísticos para operações e eventos da
mesma natureza”. Esta análise, em geral, é efectuada a partir dos fluxos de caixa operacional,
de investimento e de financiamento; e dos meios disponíveis para as decisões estratégicas.
De acordo com Neves (1996), podem-se construir rácios de cobertura, de qualidade
dos resultados, de financiamento, do investimento, de desempenho dos fluxos e de capacidade
de reembolso da dívida, como instrumento da análise e com os seguintes objectivos:
a) rácios de cobertura - dar uma visão da capacidade da empresa cumprir com as suas
obrigações fixas e pagar dividendos;
b) rácios de qualidade dos fluxos de caixa - analisar as divergências que a empresa
apresenta entre resultados e fluxos de caixa;
c) rácios de financiamento e de investimento - ajudar a avaliar em que medida a
empresa consegue auto financiar o crescimento;
d) rácios de rendibilidade financeira - evidenciar a capacidade de geração de fluxos
de caixa passada e futura da empresa;
e) rácios de capacidade de reembolso e de endividamento - analisar a capacidade de
geração de fluxos de caixa pela empresa face aos compromissos que esta tem para
com o seu banco.
Existem vários estudos empíricos relacionados com a DFC. No entanto, nem todos
evidenciam a importância desta demonstração financeira como instrumento de apoio à tomada
de decisão nas organizações.
3 ESTUDOS ANTERIORES
Alves, Nunes e Mata (2010), à semelhança de Sánchez Alegria et al. (2008),
estudaram empiricamente a forma como as etapas que compõem o ciclo de vida de uma
empresa condicionam o comportamento das grandezas resultado operacional, fluxo de caixa
das actividades operacionais, fluxo de caixa das actividades de investimento e fluxo de caixa
das actividades de financiamento, tendo presente duas variáveis fundamentais para a tomada
de decisões financeiras: rendibilidade e liquidez. Na realização do estudo, os autores
consideraram as quatro etapas tradicionais do ciclo de vida: introdução, crescimento,
maturidade e declínio. A amostra incluiu os dados de 12 empresas que em Dezembro de 2009
integravam o Portuguese Stock Index (PSI) 20. O período considerado foi o decorrido entre
2004 e 2008. Verificaram que na fase da introdução, apenas as variáveis resultado operacional
e fluxo de caixa de investimento, confirmavam os resultados esperados. Na fase de
crescimento, os resultados não foram os esperados. Na fase seguinte, a da maturidade,
encontraram os valores esperados, com a excepção do FCI.
Pereira, Pedrosa e Ramos (2006) analisaram o desempenho das empresas do sector
energético no Brasil. A amostra incluiu 40 empresas, cujos dados se encontravam disponíveis
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 147
DECISÃO MAIS INFORMADA
nos sites da Comissão de Valores Mobiliários e na Bolsa de Valores de São Paulo. A análise
foi realizada em 2003 e foram calculados 19 rácios financeiros. A metodologia utilizada
incluiu técnicas de análise multivariada de dados. Com a análise factorial, obtiveram o
agrupamento de quatro factores principais, sendo o Factor 1, o que melhor explicava cada um
dos indicadores (endividamento, grau de alavancagem financeira e imobilização do
património). Verificaram, que o modelo de previsão do desempenho classificava
correctamente 72,5% dos resultados obtidos. Com esta pesquisa concluíram que, “a utilização
de técnicas conjugadas retrai a subjectividade da análise dos indicadores contábeis,
fornecendo um modelo de previsão do desempenho para as empresas do setor energético”.
Gallery, Gallery e Sidhu (2004) procuraram evidenciar a importância da realização da
DFC trimestral. Basearam-se numa amostra de entidades com títulos cotados na Bolsa de
Valores da Austrália e que divulgavam informação intercalar trimestral. A DFC trimestral foi
avaliada como um mecanismo de apoio à gestão das empresas e foram retiradas conclusões
com sugestões de melhoria. Analisaram os primeiros quatro anos de actividade destas
entidades, no período entre 31 de Março de 2000 e 31 de Dezembro de 2003. Estudaram os 16
trimestres de 327 empresas, divididas em três grupos, de acordo com os seguintes critérios:
entidades recentemente cotadas em bolsa; entidades de risco; e entidades sem definição de
sucesso ou risco. Os autores justificam esta classificação pela sua adequação à escassez de
informação. O estudo revelou que mais de metade das empresas (182) iniciou o relato de
informação trimestral em 2000, reduzindo para 64 em 2001, 52 em 2002 e, apenas, 29 em
2003. Verificaram uma diminuição significativa do número de empresas classificadas como
empresas de risco ao longo dos quatro anos em análise; que cerca de 38 empresas
apresentavam um FCO positivo após o 4ºTrimestre e até ao 16ºTrimestre em análise, sendo
classificadas como empresas bem sucedidas; que 36 empresas se encontravam falidas,
apresentando um FCO negativo ao longo de todos os trimestres em análise, com excepção do
último trimestre; ainda, que a restante amostra apresentava valores de FCOs negativos em
todos os trimestres, sendo a sobrevivência e o sucesso destas empresas incerto e dependendo,
a maioria, do apoio contínuo de financiadores externos.
Lee (1999) procurou avaliar o nível de problemas ocorridos nas empresas que
apresentam resultados superiores ao seu fluxo de caixa operacional. Neste estudo, o autor
verificou que os relatórios e contas apresentavam, na maior parte dos casos, valores afastados
da realidade, devido à provável manipulação dos dados contabilísticos que afectam
directamente os resultados. Então, analisaram a relação entre os resultados do período e os
fluxos de caixa operacional e a sua relação directa com empresas fraudulentas e não
fraudulentas. Teve por base uma amostra constituída por 56 empresas com os relatórios e
contas disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários. Aplicou o modelo de regressão,
tendo os resultados evidenciado a existência de uma relação significativa entre “fraude” e a
diferença entre resultado e fluxo de caixa, sendo esta diferença maior nas empresas
fraudulentas. O autor verificou, também, que o reduzido controlo de gestão está associado a
uma maior probabilidade de acções de fiscalização. Um dos factores identificados durante o
período das alegadas manipulações foi a alteração das cotações das acções. Os resultados
encontrados reflectiram uma grande diferença entre os resultados das empresas e o seu fluxo
de caixa operacional, factor determinante na detecção de empresas fraudulentas, pois esta
diferença é maior nas empresas fraudulentas do que nas não fraudulentas, sinal que merece
uma leitura atenta dos auditores e analistas financeiros.
Mills e Yamamura (1998) defendem que a viabilidade de uma empresa é uma das
principais preocupações dos accionistas. Consideram que, para compreender e analisar a
posição financeira de uma empresa e a viabilidade de um negócio, o auditor deve calcular
rácios financeiros com base nas demonstrações dos fluxos de caixa. Argumentam que a
informação dos fluxos de caixa é mais fiável do que a informação do balanço ou da
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
148
demonstração dos resultados, na medida em que a elaboração da DFC baseia-se no caixa da
empresa. Estes autores efectuaram um estudo com base nos dados financeiros de duas
empresas do sector dos jogos, situadas no Estado de Nevada: Boomtown, uma empresa
relativamente jovem, mas bem sucedida; e Circus Circus, uma das empresas que no mesmo
período atingiu os melhores resultados. Os dados apresentados compreendem o período de
1992 a 1996 e foram usados nos rácios apresentado no Quadro 1.
Fluxo de caixa Operacional
FCO
Passivo corrente
Capacidade da empresa em gerar recursos
Rácio de cobertura de juros
FCO + Juros pagos + Impostos pagos
Juros pagos
Capacidade da empresa para pagar os juros
Capital
_______FCO ______
Despesas de capital
Capacidade da empresa fazer face ás dívidas após
o investimento em equipamentos e instalações
Fluxo de caixa livre
Fluxo de caixa livre
FCO
Capacidade da empresa em fazer face aos
compromissos de caixa futuros
Quadro 1 – Rácios de Fluxos de Caixa
Fonte: Mills e Yamamura (1998).
Fundo de cobertura de fluxos
Resultados antes de juros, impostos, depreciações e
___________amortizações (EBITDA)___________
(Juros + Impostos ajustados
+ Impostos - Dividendos)
Cobertura das despesas
Passivo de caixa da dívida actual
FCO – Dividendos
Passivo
Capacidade para liquidar as suas dívidas actuais
Rácio do endividamento
FCO_
Divida total
Capacidade da empresa fazer face às dívidas
futuras
Adequação do fluxo de caixa
(EBITDA – Impostos pagos – juros pagos
- despesas de capital)
Média anual da dívida nos próximos 5 anos
Capacidade de crédito da empresa
A metodologia passou, ainda, pelo cálculo do rácio de liquidez corrente (activo
corrente / passivo corrente) e do índice de liquidez (activo corrente - inventários / passivo
corrente) para cada uma das empresas. Após a análise dos resultados verificaram que, durante
os cinco anos em estudo, a Boomtown parecia ser mais forte financeiramente do que a Circus
Circus. No entanto, a realidade não era essa. A partir da análise dos rácios obtidos com os
dados das DFC´s puderam verificar, através da análise do rácio de cash interest, que a
Boomtown apresentava resultados muito inferiores aos apresentados pela Circus Circus, com
a excepção do ano de 1993, factor que se devia ao facto de a Boomtown não possuir dívidas
de longo prazo nesse ano. No entanto, a Circus Circus apresentava resultados consistentes ao
longo dos cinco anos em estudo. No que se refere à análise do FCO, verificaram que a Circus
Circus apresentava melhores resultados comparativamente com a Boomtown, o que significa
que gerou caixa suficiente para cobrir o seu passivo. A Boomtown apresentava valores
consideravelmente mais fracos que a Circus Circus, verificando-se um valor negativo no
exercício de 1994. Uma vez que apresentava valores inferiores à unidade, teve que recorrer ao
crédito para financiamento, pois isso significa que não foi capaz de gerar caixa suficiente para
honrar os seus compromissos correntes.
Este estudo permite concluir que para se efectuar uma análise correcta das alterações
da posição financeira da empresa deverão ser analisados os rácios de fluxos de caixa, de
forma a obter-se resultados credíveis sobre a situação da empresa. As conclusões que poderão
ser retiradas da análise dos rácios de fluxos de caixa poderão ser completamente diferentes
das retiradas da análise dos rácios construídos a partir das outras demonstrações financeiras.
Epstein e Pava (1992) procuraram verificar o nível de satisfação dos utilizadores das
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 149
DECISÃO MAIS INFORMADA
demonstrações financeiras, no que se refere à informação nelas contida. Usaram uma amostra
constituída por duzentos e quarenta e seis accionistas e aplicaram a técnica do questionário.
Uma das principais questões do estudo prendia-se com a informação proporcionada pela DFC.
Os resultados evidenciaram que a DFC era considerada uma demonstração de fácil
entendimento e que era constatada a sua utilidade como ferramenta de apoio à tomada de
decisão. Concluíram, ainda, que a DFC proporciona informações importantes para a tomada
de decisões de investimento, na medida em que demonstra de forma objectiva a situação de
liquidez e solvência da empresa.
Em suma, a revisão de literatura efectuada confirma a importância da DFC e que,
apesar de algumas limitações verificadas na sua elaboração, se trata de um instrumento que,
em conjunto com as outras demonstrações financeiras, permite efectuar uma análise
consistente para apoio à tomada de decisão.
4 METODOLOGIA
Tal como Barac (2010), pretende-se comparar a informação financeira obtida através
dos rácios financeiros com base nos dados extraídos do balanço e da demonstração dos
resultados, com a informação obtida através dos rácios financeiros calculados com base na
DFC. No entanto, não se pretende sugerir a escolha de uma das políticas contabilísticas
(contabilidade de caixa ou contabilidade do acréscimo), pois considera-se que a informação
com base em qualquer desses pressupostos contabilísticos contribuirá para assegurar a
utilidade da informação.
Sun e Rath (2010, p. 123) mencionam alguns estudos (ZMIJEWSKI; HAGERMAN,
1981; ROBBINS et al., 1993; CHRISTIE; ZIMMERMAN, 1994), cujos autores defendem
que usar apenas um método ou escolha contabilística limita a imagem da estratégia de relato
do resultado de uma empresa. Além de que, de acordo com a sugestão da teoria positiva da
contabilidade desenvolvida por Watts e Zimmerman (1978 apud SUN; RATH, 2010), os
gestores tenderão, sempre, a escolher políticas contabilísticas que conduzam à maximização
da sua riqueza pessoal. Por outro lado, as alterações no relato financeiro, como defendem
Healy e Palepu (2001, p. 427), podem ter efeitos no mercado de capitais, em consonância com
a teoria da divulgação voluntária.
Desta forma, o principal objectivo deste estudo consiste em avaliar se os rácios de
fluxos de caixa proporcionam maior informação incremental do que os rácios com base no
acréscimo. Para o efeito, definiram-se as seguintes hipóteses estatísticas (BARAC, 2010):
H0: Não existe diferença significativa na mensuração do desempenho de uma empresa
se usar os rácios de fluxos de caixa em substituição ao modelo baseado nos rácios de
acréscimo.
H1: Existe diferença significativa na mensuração do desempenho de uma empresa se
usar os rácios de fluxos de caixa em substituição ao modelo baseado nos rácios de acréscimo.
Tendo como base a metodologia adoptada por Barac (2010), a amostra foi definida
mediante os seguintes critérios:
a) as empresas do sector bancário e segurador foram excluídas da amostra;
b) foram incluídas na amostra, apenas, as empresas com um capital social superior a
9.000.000€;
c) as empresas possuem a informação financeira anual no período compreendido
entre 2005 e 2009;
d) as empresas têm os títulos cotados na Bolsa de Lisboa e os Relatórios e Contas
individuais disponíveis no site da Comissão de Mercados de Valores Mobiliários.
O primeiro critério foi seleccionado com base em outros estudos anteriormente
realizados (OHLSON, 1980; MOSSMAN et al., 1998) onde as empresas seguradoras e
bancárias foram excluídas da amostra devido ao simples facto de a estrutura de custos ser
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
150
diferente dos restantes sectores, impossibilitando a sua comparabilidade. O segundo critério
pretende criar uma homogeneidade na definição da amostra. O terceiro critério é semelhante
ao usado noutros estudos (BEAVER, 1996; ALTMAN; HOTCHKISS, 2006) em que é
definido um período de cinco anos (2005 a 2009). Finalmente, o quarto critério justifica-se
pela presença das empresas no mercado de capitais garantir o cumprimento dos requisitos
mínimos legais para o efeito e pela facilidade de acesso à fonte dos dados (relatórios e contas
das empresas).
A aplicação dos critérios enunciados conduziu a uma amostra com um total de 82
elementos. Também, como em Barac (2010), as empresas foram divididas em dois grupos
conforme a seguinte análise: a) se o resultado do período for superior a zero, a empresa é
classificada como “Boa”; b) se o resultado do período for inferior a zero, a empresa é
classificada como “Má”.
Foram calculados dez rácios preparados na base do acréscimo e dez rácios com base
nos fluxos de caixa, relativamente a cada uma das empresas incluídas na amostra. O Quadro 2
apresenta os rácios calculados no estudo (BARAC, 2010).
Current ratio
Quick ratio
Rácio FM vs
Activo
Activo corrente
vs
Activo total
Rácio de
endividamento
Rácio de
cobertura juros
Coeficiente
estabilidade
financeira
Rendibilidade
do activo
Rendibilidade
dos
capitais próprios
Rendibilidade
das vendas
Rácios de Liquidez
Rácio do
Activo corrente/Passivo corrente
fluxo de caixa
Rácio
(Activo corrente - Inventários) /
cobertura
Passivo corrente
necessidades
críticas
(Activo corrente – Passivo
Fluxo de
corrente) / Activo total
caixa livre
Fluxo de caixa operacional /
Passivo corrente
(Fluxo de caixa operacional+Juros
pagos) / (Juros+Dividas
actuais+Dividendos)
Fluxos de caixa livres/Fluxo de
caixa operacional
Activo corrente /Total activos
Rácios de Solvabilidade
Fluxo
operacional
Total passivo / Total activo
para o total da
dívida
Resultados antes de impostos e
Rácio de
encargos financeiros / Gastos de
cobertura
juros
de juros
(Capital+Passivo de longo prazo) /
Solidez
(Activo de longo
financeira
prazo+Inventários)
Rácios de Rendibilidade
Resultados antes de impostos e
Cash return
encargos financeiros / Activo total
on assets
Fluxo de caixa operacional /
Passivo total
(Fluxo de caixa
operacional+Divida actual +
Juros) / Juros pagos
(Resultado do período +
Amortizações) *5 / Passivo total
Fluxo de caixa operacional / Total
activo
Resultados do período/ Capitais
próprios
Cash return
on equity
Fluxo de caixa operacional /
Capital próprio
Resultados líquidos/Total vendas
Cash return
on Sales
Fluxo de caixa operacional / Total
vendas
Fluxo de caixa operacional /
Resultados antes de impostos e
encargos financeiros
Qualidade
dos resultados
Quadro 2 – Rácios Financeiros
Fonte: Barac (2010).
O estudo foi desenvolvido com recurso do software SPSS, versão 17,0. Os rácios
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 151
DECISÃO MAIS INFORMADA
foram submetidos à análise factorial, visando a determinação dos respectivos agrupamentos e
de seguida procedeu-se à análise discriminante.
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O Quadro 3 apresenta as estatísticas associadas à análise factorial aplicadas no estudo.
Determinação
Considerações
Análise em componentes principais
Método de estimação para extracção dos factores.
Critério de Kaiser
Determinação número de factores.
Percentagem da variância
Os factores devem responder no mínimo a 60% da variância.
Quadro 3 – Estatísticas associadas à análise factorial
Fonte: adaptado de Corrar (2002, apud PEREIRA; PEDROSA; RAMOS, 2006).
O primeiro passo consistiu na aplicação de um modelo de análise em componentes
principais com o objectivo de reduzir o número de variáveis. O critério utilizado para
determinar o número de factores foi o critério de Kaiser, que selecciona os factores com valor
próprio superior a 1 e como método da rotação, utilizou-se o método ortogonal Varimax. A
rotação ortogonal produz factores não correlacionados entre si, que são interpretados através
dos seus pesos (loadings), o objectivo é aumentar os loadings já elevados e diminuir os que já
são pequenos.
Para ambos os grupos de rácios o modelo conduziu à extracção de quatro factores
(variáveis latentes) que explicam 84,4% da variância dos rácios na base do acréscimo e 63,4%
da variância dos rácios dos fluxos de caixa.
A Tabela 1 apresenta a matriz das componentes após a rotação para o grupo de rácios
preparados na base do acréscimo.
Tabela 1 – Matriz de componentes dos rácios na base do acréscimo
Rotated Component Matrixa
Factor
1
Activo corrente vs Activo total
Rácio de endividamento
Racio FM vs Activo corrente
Rendibilidade do activo
Quick ratio
Current ratio
Rendibilidade dos capitais próprios
Coeficiente de estabilidade financeira
Rendibilidade das vendas
Rácio de cobertura de juros
,999
,998
-,968
,963
-,017
-,021
,040
-,040
,018
,039
2
-,012
-,014
,014
-,014
,999
,999
,032
-,059
,015
-,039
3
4
-,002
,003
-,007
-,005
-,009
-,016
,831
,784
-,033
,005
,029
,028
-,032
,029
-,008
-,022
,220
-,290
,782
,721
Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.
a. Rotation converged in 4 iterations.
Fonte: SPSS.
Através da observação da Tabela 1 verifica-se que o método de rotação ortogonal
cumpriu na perfeição o seu objectivo. Os pesos associados a cada uma das variáveis foram
extremados, facilitando a sua inclusão em cada um dos factores, pois em todos eles os pesos
associados às variáveis originais são superiores, em valor absoluto, ao limite de 0,6.
Na Tabela 2 está representada a matriz das componentes após a rotação para o grupo
de rácios dos fluxos de caixa.
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
Tabela 2 – Matriz de componentes dos rácios dos fluxos de caixa
Rotated Component Matrixa
Factor
Fluxo operacional para o total da dívida
152
1
0,837
2
0,264
3
0,155
4
-0,033
Rácio do fluxo de caixa
Rácio cobertura necessidades criticas
0,728
0,679
-0,126
0,447
0,122
-0,153
-0,056
0,011
Qualidade dos resultados
Cash return on equity
Rácio de cobertura de juros
Cash return on Sales
Solidez financeira
Cash return on assets
Fluxo de caixa livre
0,001
0,189
-0,094
0,361
-0,318
0
0,107
0,842
0,841
0,005
-0,033
0,018
0,084
0,039
0,002
-0,003
0,869
0,739
0,08
0,175
0,049
-0,026
-0,003
-0,085
0,045
0,721
-0,604
0,586
Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.
a. Rotation converged in 5 iterations.
Fonte: SPSS.
A matriz apresentada na Tabela 2 permite uma conclusão em tudo idêntica à matriz
apresentada na Tabela 1. Também, aqui a maioria dos pesos associados às variáveis originais
em cada um dos factores retidos são superiores, em valor absoluto, ao limite de 0,6.
Tal como no estudo de Pereira, Rosa e Ramos (2006), apresentam-se os agrupamentos
das variáveis originais em cada um dos factores, onde se pode observar que em ambos os
agrupamentos se obtiveram quatro factores.
No Quadro 4 encontra-se o agrupamento dos rácios preparados na base do acréscimo.
Factor
Factor 1
Variáveis Originais
Activo corrente vs Activo total
Rácio de endividamento
Rácio FM vs Activo corrente
Rendibilidade do activo
Factor 2
Quick ratio
Current ratio
Factor 3
Rendibilidade dos capitais próprios
Coeficiente de estabilidade financeira
Factor 4
Rendibilidade das vendas
Rácio de cobertura de juros
Quadro 4 – Agrupamento de factores dos rácios na base do acréscimo
Fonte: elaboração própria.
No que se refere ao agrupamento de factores dos rácios na base do acréscimo (Quadro
4), considera-se que os rácios incluídos em cada um destes factores medem:
Factor 1 - a capacidade de satisfação dos compromissos financeiros e a rendibilidade;
Factor 2 - a capacidade de satisfação dos compromissos financeiros de curto prazo;
Factor 3 e Factor 4 - a rendibilidade e a capacidade de satisfação dos compromissos
financeiros de médio e longo prazo.
Embora os factores três e quatro evidenciem o impacto da rendibilidade e da
solvabilidade na medida da performance da empresa, os rácios associados a cada um dos
factores são diferentes. No factor três (Rendibilidade dos capitais próprios = Resultado do
período / Capital próprio; Coeficiente estabilidade financeira = (Capital+Passivo de longo
prazo)/(Activo longo prazo +Inventários) é, especialmente, tida em consideração a estrutura
de financiamento da empresa, enquanto no factor quatro ( Rendibilidade das vendas =
Resultado do Período /Total vendas; Rácio de cobertura de juros = Resultados antes de
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 153
DECISÃO MAIS INFORMADA
impostos e encargos financeiros / Gastos de juros), o destaque vai para medidas relacionadas
com a actividade central da empresa. Além de que a origem dos dados presentes nos rácios
incluídos nestes dois factores é, também, diferente. No caso do factor três a origem dos dados
é o balanço, enquanto no caso do factor quatro a origem é a demonstração dos resultados.
De salientar que o modelo, ao nível da sua construção, é afectado pelos dados
negativos. O que significa que a análise funciona de forma inversa, ou seja, quanto mais
negativos os resultados pior a performance da empresa.
No Quadro 5 encontra-se o agrupamento dos rácios dos fluxos de caixa.
Factor
Factor 1
Variáveis Originais
Fluxo operacional para o total da dívida
Rácio do fluxo de caixa
Rácio cobertura necessidades críticas
Factor 2
Qualidade dos resultados
Cash return on equity
Factor 3
Rácio de cobertura de juros
Cash return on Sales
Factor 4
Solidez financeira
Cash return on assets
Fluxo de caixa livre
Quadro 5 – Agrupamento de factores dos Rácios dos fluxos de caixa
Fonte: elaboração própria.
No que se refere ao modelo com base nos fluxos de caixa (Quadro 5) considera-se que
os indicadores incluídos em cada um destes factores medem:
Factor 1 - a satisfação dos compromissos financeiros;
Factor 2 - a qualidade dos resultados;
Factor 3 - a relação entre os FCO e os juros pagos e, estes fluxos e os réditos das
vendas;
Factor 4 - a saúde financeira da empresa e a relação entre os FCO e o total do activo.
Os agrupamentos das variáveis originais em cada um dos factores, não são
comparáveis com o estudo de Barac (2010). Este facto, provavelmente, deve-se à qualidade
dos dados (elevado desvio padrão) e à reduzida dimensão da amostra.
Na Tabela 3 estão representadas algumas medidas de estatística descritiva que se
julgam importantes no presente estudo.
Tabela 3 – Estatística descritiva dos dados iniciais
N
RLE
Capital
Próprio
Valid N
(listwise)
Stat
82
82
Minimum
Maximum
Mean
Std. Deviation
Variance
Statistic
Statistic
Statistic
Std. Error
Statistic
Statistic
-195.358.000
797.550.000
83.230.404
21.247.409
192.403.469 37.019.094.761.069.700
-1.268.018.447 3.205.584.649 529.024.375,55 90.766.638,46 821.926.868,90 675.563.777.826.879.000
82
Fonte: SPSS.
Como se pode observar (Tabela 3), existe um desvio padrão significativo entre
algumas das variáveis relativas às empresas da amostra. É o caso, por exemplo, do resultado
do período que varia entre - 201.701.575€ e 797.550.000€ e do capital próprio que varia entre
– 1.268.018.447€ e 3.205.584.649€.
O Quadro 6 demonstra as estatísticas associadas à análise discriminante aplicadas no
estudo.
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
154
Determinação
Considerações
Correlação Canónica
Mede o alcance entre os scores e o grupos.Valor varia entre 0 e 1.
Centróide
Média dos scores discriminantes do grupo.
Scores discriminantes
Os coeficientes são multiplicadores das variáveis.
Lambda Wilks
Informa sobre a diferença entre os grupos. Valor varia entre 0 e 1.
Quadro 6 – Estatísticas associadas à análise discriminante
Fonte: adaptado de Corrar (2002, apud PEREIRA; PEDROSA; RAMOS, 2006).
A análise discriminante foi aplicada para determinar a importância relativa da
influência dos rácios seleccionados e calcular os “scores” que compõem a função
discriminante que permitirá classificar as empresas em “Boas” e “Más”. O modelo genérico
da análise discriminante é o seguinte:
PERFORMANCE ACC = α + β 1 A1 + L + β n An + u
PERFORMANCECF = α + β1C1 + L + β nCn + u
Onde:
PERFORMANCEACC = score agregado da performance da empresa baseado nos
rácios do acréscimo
PERFORMANCECF = score agregado da performance da empresa baseado nos
rácios dos fluxos de caixa
α = constante
β1 ,L , β n = coeficientes associados aos factores(var iáveis latentes independentes )
A1,Λ, Αn = factores (variáveis latentes independentes) associadas aos rácios do
acréscimo
C1, Λ, Cn = factores (variáveis latentes independentes) associadas aos rácios dos
fluxos de caixa.
Foi aplicado o método standard (Enter independents together), tendo-se obtido as
seguintes funções discriminantes:
PERFORMANCE ACC = 0,216 FAC1 _ AC + 0,386FAC 2 _ AC − 0,202FAC3 _ AC + 1,045FAC 4 _ AC
PERFORMANCE CF = −0,620 FAC1 _ CF + 0,146FAC 2 _ CF + 0,408FAC 3 _ CF + 0,757 FAC 4 _ CF
Relativamente à função discriminante obtida com base nos rácios de acréscimo
verifica-se que os rácios agrupados no Factor 4 são aqueles que apresentam um maior peso
(1,045) na performance da empresa. Os restantes factores têm pesos relativamente baixos
comparativamente com este factor.
Os factores 1, 2 e 4 têm um impacto positivo o que significa que a performance da
empresa, medida pelo modelo, aumenta sempre que aumentem os valores destes factores.
Assim, quando o factor 1 aumenta, verifica-se um aumento da capacidade de
satisfação dos compromissos de curto, médio e longo prazo e simultaneamente da
rendibilidade, situação que se reflecte na melhoria da performance da empresa. O aumento
dos factores 2 e 4, reflecte-se numa melhoria da rendibilidade e solvência da empresa. O
factor 4, tem o maior impacto positivo, a sua informação baseia-se sobretudo nos resultados
operacionais, o que significa que quanto mais elevados os resultados operacionais, maior a
capacidade financeira da empresa.
O factor 3, contrariamente ao que seria de esperar, tem um impacto negativo no valor
da performance. Provavelmente, isso resulta, uma vez mais, das características da amostra.
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 155
DECISÃO MAIS INFORMADA
Ou seja, dado que o cálculo da rendibilidade dos capitais próprios tem em consideração o
resultado do período, o facto de várias empresas incluídas na amostra apresentarem resultados
(muito) negativos e existir uma grande dispersão entre eles, vem afectar o modelo. Assim,
quanto menor for a rendibilidade dos capitais próprios (valor mais negativo), pior será a
performance da empresa.
No que respeita à função discriminante com base nos rácios de fluxos de caixa são os
factores 4 e 1 que apresentam um maior peso, embora com sinais contrários (0,757 e 0,620
respectivamente). Os factores 2, 3 e 4 têm um impacto positivo na medida de performance da
empresa enquanto que o factor 1 tem um impacto negativo. Dada a natureza das variáveis, o
impacto dos factores sobre o valor da performance deveria ser sempre positivo. Neste caso,
considera-se, também, que pode existir relação com o elevado desvio-padrão existente entre
os dados de suporte.
A avaliação do modelo pode ser feita através do coeficiente de correlação canónica
que mede o grau de associação entre os scores discriminantes e os grupos, trata-se de um caso
especial de correlação entre grupos (MAROCO, 2003). Para utilizar este resultado como
percentagem da variável dependente explicada pelo modelo discriminante deve-se elevar o
resultado da correlação ao quadrado (HAIR, 2005).
Na Tabela 4 são apresentados os coeficientes de correlação canónica que medem o
alcance entre os scores e os respectivos grupos.
Tabela 4 – Performance - Correlação Canónica
Coeficiente
Correlação Canónica
Fonte: elaboração própria.
PerformanceACC
0,51
PerformanceCF
0,37
A Tabela 4 evidencia um melhor valor do coeficiente de correlação canónica para a
função discriminante PerformanceACC , pois este apresenta um valor mais próximo de 1.
Relativamente à PerformanceACC, 26% do comportamento da variável dependente
discriminante é explicada pelas variáveis independentes do modelo. No caso da
PerformanceCF apenas 13,7% da variável discriminante é explicada pelo modelo. Assim, o
ajustamento terá apenas uma qualidade aceitável e um poder explicativo relativamente baixo.
Outra medida de validação do modelo é o Lambda de Wilks (Tabela 5).
Tabela 5 – Performance - Lambda Wilks
Coeficiente
Wilks Lambda
p-value
Fonte: elaboração própria.
PerformanceACC
0,743
0,000
PerformanceCF
0,863
0,022
Verifica-se na Tabela 5 que, para ambos os casos, o modelo é estatisticamente
significativo para um nível de significância de 5%, pois para ambos o p-value é inferior a 0,05.
A regra discriminante a ser utilizada para proceder às projecções de classificação das
empresas entre “Boas” e “Más” pode ser encontrada a partir do cálculo do ponto de corte (ZC
– Z Crítico). Como os grupos têm dimensões diferentes, é dado por:
ZC =
N 2 Z1 + N1 Z 2
N1 + N 2
Onde Z1 é o centróide correspondente ao grupo “residual profit <0” e Z2 é o centróide
correspondente ao grupo “residual profit >0” e onde N1 é a dimensão do grupo “residual
profit <0” e N2 é a dimensão do grupo “residual profit >0”.
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
156
No Quadro 7 pode-se observar os centróides para cada um dos grupos.
Centróides para o Modelo dos Rácios do
acréscimo
Functions at Group Centroids
Classificação da
empresa
residual profit <0
residual profit >0
Function
1
-,764
,441
Unstandardized canonical
discriminant functions evaluated at
group means
Centróides para o Modelo dos Rácios dos fluxos de
caixa
Functions at Group Centroids
Function
Classificação da
empresa
1
residual profit <0
residual profit >0
-,517
,298
Unstandardized canonical
discriminant functions evaluated at
group means
Quadro 7 – Centróides para o Modelo dos fluxos de caixa e do acréscimo
Fonte: SPSS.
Tendo em conta os dados apresentados acima (Quadro 7), para o modelo baseado nos
rácios do acréscimo o ponto crítico é:
ZC =
52 × (− 0,764 ) + 30 × 0,441
= −0,32
30 + 52
Assim uma empresa será classificada como “Boa” se ZC>-0,32 e como “Má” se ZC<0,32. Enquanto que, para o modelo baseado nos rácios de fluxo de caixa o ponto crítico é:
Z C = −0,22
Assim uma empresa será classificada como “Boa” se ZC>-0,22 e como “Má” se ZC<0,22.
Na Tabela 6 apresenta-se a percentagem de empresas classificadas correctamente.
Tabela 6 – Percentagem de empresas classificadas correctamente
Total
“Boas” Empresas
Modelo
Modelo baseado
Modelo
Modelo
baseado nos
nos Rácios
baseado nos
baseado nos
Rácios do
fluxos de caixa
Rácios do
Rácios fluxos
acréscimo
acréscimo
de caixa
68,3%
63,4%
50%
46,2%
Fonte: elaboração própria.
“Más Empresas”
Modelo baseado
Modelo
nos Rácios do
baseado nos
acréscimo
Rácios fluxos
de caixa
100%
80%
Verifica-se que o modelo baseado nos rácios de acréscimo foi capaz de atingir uma
eficácia classificatória de 68,3% e o modelo baseado nos rácios dos fluxos de caixa um
eficácia de 63,4%. Estes índices de eficácia classificatória são considerados satisfatórios, o
que significa que ambos são úteis para predizer a situação futura de classificação de uma
empresa. Observa-se que, em ambos os casos, a percentagem de boa classificação é muito
superior no caso das “Más” empresas.
6 CONCLUSÃO
A análise dos fluxos de caixa de uma empresa constitui uma actividade fundamental
como forma de apoio à tomada de decisão na medida em que permite identificar a capacidade
da empresa gerar e utilizar os meios monetários de forma adequada. Com esta análise, é
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA UMA TOMADA DE 157
DECISÃO MAIS INFORMADA
possível verificar a liquidez de uma empresa e prever futuros problemas de caixa. Reveste-se,
assim, de grande importância na medida em que o facto de muitas empresas apresentarem
resultados do período positivos não é sinónimo de sucesso, pois a inexistência de liquidez
pode colocar em perigo a própria continuidade da empresa.
A informação disponibilizada pela DFC é relevante, no entanto, é limitada. Desta
forma, a sua análise deverá ser realizada em conjunto com as outras demonstrações
financeiras. O objectivo principal deste artigo foi avaliar o papel da DFC na análise financeira
e a sua potencialidade para uma tomada de decisão mais informada.
A aplicação da análise factorial em conjunto com a análise discriminante foi essencial
na determinação do modelo de previsão de desempenho com resultados mais consistentes e
robustos. Em ambas as análises, verificou-se que o modelo baseado nos rácios de acréscimo e
o modelo baseado nos rácios dos fluxos de caixa foram capazes de atingir uma eficácia
classificatória. Daí se poder concluir que qualquer dos modelos é útil para prever a situação
futura de classificação de uma empresa.
Porém, o estudo realizado apresenta algumas limitações que se prendem,
essencialmente, com as características da amostra e com as técnicas utilizadas. Nesse sentido,
no futuro, pretende-se aumentar a dimensão da amostra e procurar a confirmação dos
resultados alcançados, aplicando de novo uma análise discriminante aos factores obtidos após
a análise em componentes principais, utilizando o método stepwise.
REFERÊNCIAS
ALVES, Teresa; NUNES, Sandra; MATA, Carlos. Os Fluxos de caixa por actividades e as
fases do ciclo de vida da empresa: uma perspectiva relevante. In: JORNADAS LUSO
ESPANHOLAS DE GESTÃO CIENTÍFICA, 20., 2010. Anais... ESCE/IPS, 2010.
BARAC, Zeljana. Cash flow ratios vs. accrual ratios: empirical research on incremental
information content. The Business Review, Cambridge, v. 15, n. 2, 2010.
BEECHY, Thomas. Does full accrual accounting enhance accountability? The Innovation
Journal: The Public Sector Innovation Journal, v. 12, n. 4, 2007.
CAIADO, António; GIL, Primavera. Fluxos de caixa. 2, ed. Lisboa: Rei dos Livros, 1996.
CAIADO, António; GIL, Primavera. Metodologias de elaboração dos fluxos de caixa. Lisboa:
Áreas Editora, 2004.
COMISSÃO DE MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Prestação de Contas.
Disponível em: www.cmvm.pt. Acesso em: 5 fev. 2011.
EPSTEIN, Marc; PAVA, Moses. How useful is the Statement of Cash Flow? Management
Accounting, Boston, p. 53, 1992.
GALLERY, Gerry; GALLERY, Natalie; SIDHU, Baljit. Quarterly cash flow reporting – is it
useful? Accounting, p. 14-18, 2004.
HAIR, Joseph; ANDERSON, Rolph; TATHAM, Ronald; BLACK, Bill; BABIN, Barry.
Multivariate data analysis. 6. Ed. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 2005.
HEALY, Paul; PALE, Krishna. Information asymmetry, corporate disclosure, and the capital
markets: A review of the empirical disclosure literature. Journal of Accounting and
Economics, v. 31, p. 405-440, 2001. http://dx.doi.org/10.1016/S0165-4101(01)00018-0
INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS
Demonstração dos Fluxos de Caixa, 1994.
BOARD
(IASB).
IAS
7
–
INTERNATIONAL
BOARD
(IASB).
IAS
1
–
ACCOUNTING
STANDARDS
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012
Marisa Sofia Dias Borges - Sandra Cristina Dias Nunes - Maria Teresa Venâncio Dores Alves
158
Apresentação de Demonstrações Financeiras, 2004.
LEE, Thomas; INGRAM, Robert; HOWARD, Thomas. The difference between earnings and
operating cash flow as an indicator of financial reporting fraud. Contemporary Accounting
Research, v. 16, p.749-786, 1999. http://dx.doi.org/10.1111/j.1911-3846.1999.tb00603.x
MARTINS, António. Introdução à análise financeira de empresas. 2. ed. Porto: Vida
Económica, 2004.
MAROCO, João. Análise estatística com utilização do SPSS. Lisboa: Edições Sílabo, 2003.
MACKEVICIUS, Jonas; SENKUS, Kastytis. The system of formation and evaluation of the
information of cash flows. Journal of Business Economics and Management, v. 7, n. 4,
p.171-182. 2006.
MILLS, John; YAMAMURA, Jeanne. The power of cash flow ratios. Journal of
Accountancy, n. 186, p.53- 61, 1998.
MOTTAGHI, Aliasghar. Accrual accounting, cash accounting and the estimation of
future cash flows. Tese (doutoramento) - University de Sussex. Disponível em:
<http://sro.sussex.ac.uk/>. Acesso em: 30 jan. 2012.
MORAIS, Ana; LOURENÇO, Isabel. Apresentação das demonstrações financeiras. Lisboa:
Publisher Team, 2003.
NEVES, João Carvalho. Análise financeira: técnicas fundamentais. Lisboa: Texto Editora,
1996.
PENMAN, Stephan. On comparing cash flow and accrual accounting models for use in equity
valuation. Contemporary Accounting Research, v. 18, n. 4, p. 681–692, 2001.
http://dx.doi.org/10.1506/DT0R-JNEG-QL60-7CBP
PEREIRA, António; PEDROSA, Carlos; RAMOS, Evandro. Modelo e análise de previsão de
desempenho pela metodologia de análise multivariada de dados: um estudo empírico do
sector de energia eléctrica. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 1, n. 5, p. 59-74,
2006.
PINHO, Carlos; TAVARES, Susana. Análise financeira e mercados. Lisboa: Áreas, 2005.
QUINTANA, Alexandre; RODRIGUES, Jeniffer; GONÇALVES, Taiane. Demonstração de
fluxos de caixa como ferramenta complementar de informação para a gestão financeira.
Revista CRCRS, n. 09, 2008.
REIS, José. Demonstração dos fluxos
<www.estig.ipbeja.pt>. Acesso em:10 jan. 2011.
de
caixa.
2005.
Disponível
em:
SPADIN, Carlos. A importância da demonstração de fluxos de caixa enquanto instrumento
gerencial para a tomada de decisão. Revista de Ciências Gerenciais, v. 12, n. 14, 2008.
SUN, Lan; RATH, Subhrendu. Earnings management research: a review of contemporary
research methods. Global Review of Accounting and Finance, v.1, n. 1, p. 121-135, 2010.
Revista Universo Contábil, ISSN 1809-3337, FURB, Blumenau, v. 8, n. 1, p. 141-158, jan./mar., 2012