INTRODUÇÃO GERAL
Rogério de Souza Farias
Oswaldo Aranha foi um dos maiores estadistas brasileiros.
Liderou a Revolução de 1930, ocupou a cheia de três ministérios
(Justiça, Fazenda e Relações Exteriores), além da embaixada
brasileira em Washington. Por pelo menos seis vezes foi cogitada
seriamente a sua candidatura à Presidência da República. Do início
de sua ação política, ainda como estudante, em 1910, até sua morte,
em 1960, é possível traçar a evolução da história política nacional, em
suas dimensões doméstica e internacional. Em toda essa trajetória,
Oswaldo Aranha foi orador profícuo. Tal fato foi registrado pelos
seus contemporâneos e por especialistas. Na edição de 1958 do
clássico volume de melhores discursos da história, Lewis Copeland
e Lawrence W. Lamm adicionaram o proferido pelo brasileiro no
encerramento da II Sessão da Assembleia Geral da ONU (1947),
ocasião em que não só liderou a delegação brasileira como presidiu
os trabalhos. Entrara, assim, no seleto grupo, ladeado por grandes
iguras históricas – de Péricles, Sócrates e Cícero, na antiguidade,
a Winston Churchill, Franklin Delano Roosevelt e Martin Luther
King Jr., no mundo contemporâneo. Foi o único brasileiro a entrar
no volume (Copeland, Lamm et al.: 1973, 621-3).
Em 29 de novembro de 2017, serão celebrados setenta anos
do histórico discurso. Considerando a efeméride, a Fundação
Alexandre de Gusmão (Funag) e seu Instituto de Pesquisa de
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Rogério de Souza Farias
Relações Internacionais (Ipri) oferecem uma seleção de seus pronunciamentos, conferências, depoimentos, entrevistas e artigos.
O momento é oportuno para tal iniciativa. O Brasil passa por
instabilidades e crises não tão distintas daquelas atravessadas por
Aranha e sua geração. É relevante, nesse ambiente, recuperar as
ideias e a ação de um homem de estado defensor da prevalência das
ideias sobre os interesses, do inefável otimismo sobre a grandeza
brasileira (Aranha: 1994m).
Decisões editoriais
A Funag já homenageara Oswaldo Aranha com a publicação de
um volume de discursos e conferências por ocasião do centenário
de seu nascimento em 1994. Foram selecionados, na ocasião, vinte
e cinco pronunciamentos, apresentados em sequência cronológica
e antecedidos por um prefácio, redigido pelo embaixador Gelson
Fonseca Júnior, então presidente da Funag, pelo discurso de Celso
Amorim, então ministro das Relações Exteriores, além de breve
biograia. A análise desse material indicou que sete dos vinte cinco
documentos eram de 1939 – seis pronunciados entre fevereiro e
junho; outros cinco, do crucial ano de 1947, quando Aranha cheiou
a delegação brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU)
e presidiu os trabalhos da II Assembleia Geral da organização.
Três anos durante a Segunda Guerra Mundial, quando exerceu
atividades estratégicas à frente da diplomacia brasileira, não foram
abrangidos por qualquer material. Havia espaço, portanto, para
reapreciar sua vida pública em uma nova seleção.
Ao preparar o novo volume, os editores planejaram, primeiramente, extrair o minério primário para depois lapidar a ganga
bruta, tirando o que não luziria mais, para inalmente poder
apresentar um texto limpo, signiicativo e representativo de seu
pensamento e ação, inclusive no importante tópico da inserção
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Introdução Geral
econômica internacional do país, tópico não examinado no volume
de 1994.
Convém detalhar tal processo. A primeira decisão foi a de
abranger temas de economia e política internacional, privilegiando
a projeção do Brasil no hemisfério e no multilateralismo. A segunda
foi o exaustivo levantamento de pronunciamentos, discursos,
entrevistas e conferências que abrangessem o período de sua
posse no Ministério da Justiça até a sua morte, em 1960. Esse
esforço resultou na reunião de mais de cento e cinquenta novos
documentos, muitos deles inéditos para o leitor contemporâneo.
A documentação veio de várias fontes. A primeira foi o volume de 1994, confrontando-os ocasionalmente com outras versões.
As outras vieram de periódicos publicados no Rio de Janeiro, em
especial o Correio da Manhã, além da documentação do próprio
Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). Os pronunciamentos de debates parlamentares foram retirados dos Anais
do Congresso Nacional. O apoio da família Aranha Corrêa do
Lago foi crucial na complementação desse material, oferecendo
não só manuscritos raros como sua respectiva contextualização.
Os editores são especialmente gratos pelos esforços do professor
Luiz Aranha Corrêa do Lago. No caso da existência de duas ou
mais versões, optou-se pela referência à fonte de mais fácil acesso,
geralmente às publicadas em periódicos.
A terceira etapa foi realizar uma escolha representativa dos
grandes temas nos quais Oswaldo Aranha atuou, utilizando para
tanto as biograias e os manuais de política externa brasileira
mais referenciados, além da bibliograia de história econômica.
A quarta foi manter um padrão cronológico dividido em fases que
correspondem, grosso modo, à sua evolução proissional; optou-se, contudo, por agregar todos os pronunciamentos relacionados
a temas econômicos em uma parte separada. Observou-se a
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Rogério de Souza Farias
necessidade de redigir introduções para cada parte, como forma
de contextualizar o leitor no material selecionado, ressaltando
como o conjunto encaixa-se na sua trajetória intelectual. Em decorrência de muitas referências não familiares, os editores redigiram
notas de rodapé explicativas para orientar o leitor contemporâneo,
apresentando também bibliograia primária e secundária relevante
para aprofundamento. Todo esse esforço foi conduzido pela equipe
do Ipri.
Assim como a excelente fotobiograia editada por Pedro
Corrêa do Lago (Lago: 2017), cujo estudo foi muito útil em todo
o processo, optamos pela criação do que pode ser considerado
como um título jornalístico para cada texto, representando a ideia
central, mas, ao mesmo tempo, preservando, nos subtítulos, a
denominação original da fonte, com local e data, quando cabível.
O objetivo dessa decisão editorial foi focar a atenção do leitor e
permitir uma leitura casual e segmentada.
Esses recortes metodológicos apresentam certas arbitrariedades. Uma delas foi a decisão de não incluir uma seleção
sistemática de sua correspondência ativa na coletânea. Tais documentos, em especial os direcionados a Getúlio Vargas, constituem,
talvez, a troca epistolar mais importante da política brasileira no
século XX. São instrumentos relevantes para contextualizar os
pronunciamentos públicos. Sua exclusão, com algumas exceções,
decorreu da necessidade de manter a organicidade do volume.
Tentou-se intervir o menos possível na transcrição dos originais. Mesmo assim, algumas modiicações foram necessárias.
Primeiro, a adaptação da ortograia ao padrão atual. Assim, “Ruy
Barbosa” foi grafado como “Rui Barbosa”; “cousas”, como “coisas”
– a não ser que a referência esteja no título de alguma publicação.
Segundo, a transformação dos sublinhados em itálicos. Por im, foi
conduzida a edição dos textos, retirando-lhes alguns vocativos e
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Introdução Geral
os trechos não pertinentes do ponto de vista editorial da obra ou
ilegíveis. Essas lacunas sempre foram indicadas pelo símbolo (...).
Outra decisão foi a de apresentar alguns discursos de natureza
doméstica – como o pronunciado no Comício das Quatro Liberdades,
em 1945, e aquele que talvez seja o mais lembrado, pronunciado
no enterro de Getúlio Vargas, em São Borja, em 1954. Eles foram
consolidados na última parte do volume, dedicado a Oswaldo
Aranha como estadista nacional. O leitor poderá identiicar,
nesses casos, associação direta com os princípios defendidos por
Aranha em seus esforços diplomáticos. As fronteiras que dividiam
o interno e o externo, desse modo, não cingiam a universalidade de
suas crenças na democracia, na capacidade humana de empatia ao
próximo e na necessidade de uma estrutura econômica equitativa
para alcançar a paz e a prosperidade. No momento da euforia e da
tristeza, sua preocupação gravitava sempre para o “futuro de nossa
pátria”, de maneira a “integrar o Brasil em si mesmo”, no espírito
de o país caminhar para tomar seu lugar “entre as maiores nações
do mundo”, como falou, de forma comovente, ao lado da lápide de
Vargas, em 26 de agosto de 1954.
A retórica da liderança: o discurso na
formação política de Oswaldo Aranha
O discurso é exercício fundamental e cotidiano do homem
público, geralmente voltado para o convencimento. Aranha exerceu
tal poder com maestria. Ele parecia seguir a observação de Dean
Acheson, de que “[the] task of a public oicer seeking to explain
and gain support for a major policy is not that of the writer of
a doctoral thesis” (Acheson: 1969, 375). Essa foi, de forma geral,
a ilosoia do político brasileiro em sua carreira pública e esteve
intimamente associada à sua crença na democracia. O mecanismo
fundamental de tal ação era a manifestação pública. Nesses
ambientes, a oratória era fundamental.
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Rogério de Souza Farias
Desde o Império, como indica Andrew J. Kirkendall, a oratória
era habilidade apreciada na constituição do corpo estudantil
brasileiro (“oratory linked the skills valued in extracurricular
student life with the abilities necessary for public lives in provincial
or national legislatures or, if all else failed, in the courtroom”).
Seguia-se à máxima de que a liderança estava vinculada à habilidade
na sustentação oral (Kirkendall: 2002, 50 e 4). Na República Velha,
a alocução pública continuou a ser um mecanismo de sinalização
social (Borges: 2011, 74). Era por intermédio dela que se forjava a
liderança dentro de movimentos políticos.
O discurso era o meio de propagação de ideias e de posicionamentos políticos. Como grande parte da população era analfabeta, ele alcançava, portanto, amplo público. Sua transcrição em
jornais e a consequente leitura em outros ambientes ajudava a sua
propagação, assim como, a partir da década de 1920, o uso do rádio.
O marco fundamental da expansão do discurso político na
República Velha foi a campanha civilista de 1910, que mobilizou
a sociedade a favor de Rui Barbosa, combatendo a candidatura do
militar Hermes da Fonseca ao cargo de presidente da República
(Felizardo: 1980, 96). Foi nesse ambiente político que Oswaldo
Aranha se formou.
Em novembro de 1912, tornou-se sócio honorário da Sociedade Literária do Colégio Militar. No ano seguinte, era já ativo
participante do Centro de Estudantes da Faculdade do Rio de
Janeiro. Em 10 de novembro de 1913, há o registro de um discurso
seu exaltando “as vantagens do contrato integral sobre os regimes
da indissolubilidade e do divórcio e vínculo”. Esse tipo de oração
técnica logo deu lugar a pronunciamentos de cunho político.
A maioria estava longe de atrair público signiicativo. Isso pode ser
observado em julho de 1915, no Largo de São Francisco, quando,
na posição de representante das “escolas superiores”, atuou em
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Introdução Geral
esvaziado comício contra a diplomação de Hermes da Fonseca ao
Senado Federal (O Paiz: 1915; Hilton: 1994, 8).
Na sua formatura, em 1916, foi escolhido como orador da
turma. A comemoração deu-se em setembro, quando um grupo
de amigos lhe ofereceu um jantar no famoso restaurante Assírio.
O repórter anotou que sua oração, “um lindo improviso”, foi proferida em tom “cheio de emoção e sinceridade”. No mesmo ano, foi
um dos que discursaram na cerimônia de recepção de Rui Barbosa
no Rio de Janeiro, quando o eminente baiano retornara de Buenos
Aires, onde proferira histórica oração sobre o dever dos países
neutros. Importante ressaltar a atuação de Aranha na Liga da
Defesa Nacional nesse momento, algo que lembraria quase trinta
anos depois, em pronunciamento na própria Liga (Aranha: 1994i;
Lago: 2017, 48; O Paiz: 1916a; O Paiz: 1916b). Ele retornou ao Rio
Grande do Sul em janeiro do ano seguinte, onde deu continuidade
à sua formação como homem público (Lago: 1996, 65-384).
Oswaldo Aranha fez da palavra seu instrumento de batalha
política, sua ferramenta para modernizar o Brasil e sua trincheira de
defesa contra os totalitarismos de esquerda e de direita. A irmeza
de princípios e a habilidade na articulação política deram substância
aos seus dons de oratória. A população e as lideranças políticas e
sociais naturalmente gravitavam para sua presença, especialmente
nos momentos críticos – o que lhe rendeu velados ciúmes por parte
de Getúlio Vargas, seu amigo e a quem devotava idelidade, atenção
e respeito nunca reciprocados de forma equivalente.
Isso é possível observar, por exemplo, em 18 de agosto de 1943,
após notícias do afundamento de mais embarcações brasileiras por
submarinos alemães. De acordo com um jornalista que acompanhou
o cotidiano do Rio de Janeiro no dia, o povo viveu “um dos seus
momentos supremos de exaltação patriótica”. Os populares aglomeraram-se na Galeria Cruzeiro e a multidão espraiou-se pela
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Rogério de Souza Farias
Avenida Rio Branco, aclamando o nome de Oswaldo Aranha. Desde
as 15:00 da tarde, uma “massa popular se comprimia em frente ao
Palácio Itamaraty”, onde exigiram o pronunciamento do ministro
das Relações Exteriores. Da sacada do primeiro andar, Aranha
discursaria uma hora depois, interrompido a todo tempo por
“palmas delirantes” (Correio da Manhã: 1942). O crescimento de
seu prestígio faria uma sombra no Palácio do Catete, o que levaria
a um pretexto para forçá-lo a se afastar do cargo em 1944.
Os discursos de Oswaldo Aranha apresentam um homem
culto e cosmopolita, um leitor voraz que absorve e reestrutura o
pensamento, antigo e moderno, para compreender o mundo. Sua
biblioteca, tanto na residência na Ladeira do Ascurra, em Cosme
Velho, como, posteriormente, na rua Campo Belo, nas Laranjeiras,
estaria sempre atualizada com os últimos volumes publicados
em Londres, Paris e Nova York, sem contar com os clássicos da
literatura ocidental. O discurso em homenagem a Roosevelt,
proferido em Recife, em 1945, tinha quinze citações em suas 9.293
palavras – de Goethe a Bergson, de Nietzsche a Emerson, de Carlyle
a Lincoln, de Terêncio ao apóstolo Paulo. Importante notar que esse
amplo conhecimento não diminuía sua humildade. Repetidamente
reconhecia que sua audiência tinha mais conhecimentos sobre o
assunto a palestrar, mesmo quando esse não era o caso; apresentava
trabalhos bem preparados como “leitura enfadonha de ideias mal
alinhadas” (ver Aranha: 1958a).
Entre suas maiores admirações e inspirações estava um
brasileiro: Rui Barbosa, considerado por ele como um “imenso e
insondável oceano humano” (Aranha: 1950). A inluência de Rui
não estava só no seu estilo de tribuno soisticado e na ocasional
retórica loreada. Aranha celebrou as “tradições de imparcialidade
histórica e cultura jurídica” do Brasil, enriquecidas pelo grande
tribuno baiano, algo que credenciava o país a desempenhar papel de
relevo na administração da ordem internacional (Aranha: 1947e).
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Introdução Geral
Ao leitor deste volume não escapará, contudo, a avaliação de
que Aranha era homem de seu tempo, inclusive em sua linguagem.
Nesse último aspecto, cabe salientar sua crença de que todos
povos cumpriam um ciclo que passava pela independência, pela
igualdade e pela democracia (ver, por exemplo, Aranha: 1957c).
Isso pode ser visto, por exemplo, como concebia os termos “raça”,
“povo” e “civilização”. Ele utilizava tais termos como sinônimos
de sociedade, do ponto de vista cultural e político. Era por essa
via, por exemplo, que celebrava a “obra civilizadora no trópico”,
em retórica celebratória semelhante à utilizada pela sua geração,
admiradora de Gilberto Freyre e outros intelectuais com ideias
semelhantes. O que o diferenciou foi a forma como aproximou o
pan-americanismo dessa crença. A América, “o continente da paz”,
nesse contexto, era um farol para a humanidade. Como airmou
em 1947: “We Brazilians envisage just one solution for the world:
its Americanization” (Aranha: 1947d; Aranha: 1994p). O termo
“civilização” também é comumente utilizado, em seu discurso,
como sinônimo de desenvolvimento. Assim, na conferência
realizada na Faculdade de Direito de Porto Alegre, indicou que
uma nação será “mais civilizada” de acordo com a adaptação de
seu espaço à política mundial – uma situação diferente da anterior,
quando os avanços dependiam somente da situação doméstica
(Aranha: 1949b).
Aranha tinha talentos naturais na formulação do discurso
político. Não se deve olvidar, contudo, que era estudante aplicado.
Na sua trajetória proissional, recorrentemente estudava a oratória
dos grandes tribunos. Essa dedicação pode ser observada no seu
exame do discurso inaugural da administração do presidente
americano Franklin Delano Roosevelt:
A sua oração inaugural é uma das peças mais notáveis dos
anais oratórios. A sua eloquência não era tribunícia, feita
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Rogério de Souza Farias
de arrebatamentos e conclamações, capazes de dominar,
pela retórica e pelos arroubos, as massas e as assembleias.
A sua voz era suave demais para esses arremetimentos e a
sua consciência, provada na dor, serena demais para o jogo
político da exacerbação das paixões populares. Ele era um
orador familiar, cheio de emoção, cioso do fundo e da forma,
para quem a palavra era uma ideia, a oração quase uma
prece, pois terminava sempre numa invocação a Deus.
Não quero com isso dizer que não haja ele, por vezes, elevado
a voz aos tons mais altos e nobres da eloquência humana.
Mas o traço dominante da sua oratória é o apostolar. Ele
não fazia discursos, predicava com a dialética iluminada
dos convencidos e reformadores.
Creio, mesmo, que criou uma “forma rooseveltiana” de
falar, que irá para a história como uma das mais belas e
nobres conquistas da sensibilidade e do pensamento político
de nossos dias.
A sua predicação foi constante e cada vez mais inspirada,
porque a vigilância do destino do seu povo ele a exerceu
como um catequista na obra missionária de conversões.
Ele usou a linguagem de um reformador que prega, defende
e exalta a sua doutrina com a lógica da verdade adquirida,
do pensamento puro, das ideias humanizadas pelos
sentimentos (Aranha: 1945e).
Alguns textos, principalmente os do período em que ocupava
posições formais no governo, foram claramente formulados por
assessores por inteiro ou em trechos relevantes. Não é difícil a
identiicação destes. Mesmo a leitura de textos proferidos décadas
atrás não deixam de indicar características centrais de Oswaldo
Aranha: sua erudição, sua facilidade em compor apresentações,
sua altivez, seu domínio escorreito da língua, sua afabilidade na
crítica, seu idealismo e seu otimismo. O improviso não signiicou
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Introdução Geral
orações desestruturadas, ideias desconexas. Não relia e corrigia
exaustivamente seus rascunhos. Tal transparência demonstra
como foram arriscadas – e certeiras – suas avaliações sobre a
evolução da política internacional: da decadência do comunismo
à ascensão da China, do avanço da democracia à coniança na
capacidade brasileira de enfrentar com denodo seus problemas
internos e externos.
PENSAMENTO INTERNACIONAL
DE OSWALDO ARANHA
Muitos poderiam julgar Aranha como pouco talhado para
atividades diplomáticas. Assis Chateaubriand, por exemplo,
deiniu-o, em 1944, como “o sangue borbulhante do espanhol, o
estouvamento do guerrilheiro da luta civil, a capa do espadachim,
o estilo nervoso, indomável do homem do continente sul”
(Chateaubriand: 1944). Virgílio de Mello Franco, seu grande
aliado político, acreditava que seu colega era “mais guerreiro que
apóstolo” (apud Lago: 2017, 100). Era homem de batalhas e não de
conciliábulos.
A crença na incompatibilidade, contudo, seria apressada.
Aranha apreciava a ordem jurídica, pré-requisito relevante da
atividade diplomática, tendo lecionado direito internacional em
Porto Alegre em 1924. No cruento choque entre chimangos e
maragatos da década de 1920, a despeito de militar nas hostes
de Borges de Medeiros, manteve diálogo franco e aberto com
seus adversários. Era irme e bravo nos embates, mas cordial e
magnânimo nas vitórias. Sabia reconhecer os valores do campo
oposto, ainda que mantivesse a deferência junto à sua formação
familiar e ao seu grupo político. Mesmo sendo a “estrela da
revolução”, demonstrou ter espírito moderado, conciliador e
circunspecto na construção da ordem nacional.
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Rogério de Souza Farias
Havia, ainda, outro fator a ajudá-lo no exercício diplomático:
seu idealismo e até uma visão romântica da realidade. Essa foi
a percepção de vários contemporâneos. Gilberto Freyre, após
a morte de Aranha, airmou: “nunca deixou de todo de ser o
brasileiro um tanto romântico dos seus dias de jovem e dos seus
sonhos, talvez difusos, de revolucionário” (Freyre: 1961). O gaúcho
aproximava-se, desse modo, mais do liberalismo americano do que
da realpolitik europeia. Como o presidente americano Woodrow
Wilson, desejava nada menos do que uma revolução na forma
como se operava a política internacional; tal sentimento chegou ao
seu auge em 1947, durante suas atividades junto à ONU. Aranha
acreditava aproximar-se “uma humanidade com a qual sonharam
os utopistas” (Aranha: 1994f). Seu otimismo não era retórica vazia
de coquetéis e encontros diplomáticos; foi característica que lhe
seguiu até o im da vida. Em um de seus últimos discursos, disse:
“Direis, agora,(...) que ouvistes um velho e impenitente sonhador.
Eu vos direi que o sono, sem sonho, é a morte, a vida uma noite sem
o dia e o mundo uma luta sem fé e sem paz” (Aranha: 1958a). Esse
idealismo, assim como outras características, merece ser estudado
para compreender a seleção de discursos, entrevistas e conferências
apresentada nesta obra e, mais importante, para compreender o
impacto na atividade diplomática brasileira do período.
O primeiro ponto a examinar é que, no imediato pós-guerra,
muitos analistas propunham um divórcio material e analítico entre
o plano doméstico e a política internacional. No primeiro, viver-se-ia sob uma ordem soberana conduzida por um estado com o
monopólio do uso legítimo da força; no segundo, a anarquia do
sistema internacional imperaria. O intrigante de Oswaldo Aranha
é sua crença na inviabilidade de se divorciar os dois domínios.
Na ligação entre esses dois planos está sua crença na íntima interconexão entre o poder de agência do indivíduo, o papel transformador das ideias e a força dos regimes democráticos.
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Introdução Geral
Ter adotado tal conjunto de valores, considerando o ambiente
predominantemente determinista e autoritário do período que
vai da República Velha até o Estado Novo, é intrigante. Uma
razão talvez decorra das teorias em voga chocarem-se com o seu
inveterado otimismo, tornarem irrelevante a capacidade de agência
do cidadão e decretarem a decadência do regime democrático. De
qualquer forma, há grande consistência em seus pronunciamentos
sobre a capacidade do indivíduo de superar seu meio e fortalecer
a democracia ao longo de sua carreira pública. Em 1945, por
exemplo, airmou: “É falsa a concepção fatalista que faz do ser
humano uma resultante exclusiva de fatores naturais e biológicos”
(Aranha: 1945e). Ele tinha fé na capacidade de agência humana,
daí sua preocupação com a “resignação fatalista” que parecia ser uma
“fraqueza do homem contemporâneo” (Aranha: 1994t). Mesmo nas
profundezas do Estado Novo, não teve menoscabo em defender a
centralidade do indivíduo e da opinião pública na conformação da
ação estatal (Aranha: 1994j; Aranha: 1994j; Aranha: 1994e).
Seu pensamento político, porém, não era o de simples liberal.
Isso pode ser observado na forma como concebia o indivíduo nos
destinos da sociedade. A despeito de a liberdade e o individualismo
serem aspectos essenciais da ordem americana que tanto apreciava,
Aranha tinha certas restrições sobre a forma como os ilósofos
políticos liberais de seu tempo defendiam o segundo aspecto. Para
ele, a celebração inconteste do indivíduo poderia descambar para
uma excessiva adoração do “grande homem”, algo trágico para uma
comunidade política. Em 1945, por exemplo, apreciou o tema ao
indicar que gostava dos que cumpriam “o seu próprio destino” e
não daqueles “que se acreditam predestinados”, que arrastavam
multidões para quase subverter “a civilização com a loucura e a
crueldade de suas ideias e ambições” (Aranha: 1945e).
Oswaldo Aranha acreditava no poder revolucionário das
ideias. No imediato pós-guerra, julgou que, além da reestruturação
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Rogério de Souza Farias
material de um mundo destruído por um conlito sem precedentes,
era necessária uma reestruturação moral da humanidade – “a luta
que se segue às guerras é de caráter espiritual”, disse na abertura
da II Assembleia Geral da ONU (Aranha: 1994f; Aranha: 1994n).
Somente sob a égide de um novo código de conduta a humanidade
poderia sobreviver ao pós-guerra. Esses valores, em sua opinião,
deveriam ser aqueles propalados pela experiência democrática
americana, no plano doméstico e pelo paciismo jurisdicista pan-americano, no plano regional.
O seu idealismo também pode ser observado na sua coniança
sobre o futuro do Brasil e da humanidade. Em seu pronunciamento
de agradecimento ao receber o título de doutor honoris causa da
Universidade do Rio Grande do Sul, esse otimismo icou claro
quando disse: “um futuro melhor, mais humano, igual e feliz, para
todas as criaturas, parece aproximar-se das gerações que nos irão
suceder” (Aranha: 1949b). Essa sua coniança decorria da forma
como deinia o ser humano e a sociedade e da coniança no poder
revolucionário da tecnologia de resolver os grandes problemas da
humanidade.
Como será apreciado nas introduções setoriais, sua crença na
democracia era inabalável. Sua proissão de fé iniciara com seus
primeiros passos na vida pública e sedimentara já no primeiro
cargo que ocupou, de intendente em Alegrete, quando celebrou
a “nivelação democrática dos direitos” (Aranha: 1925). Mesmo
o Estado Novo não conseguiu abalar seus princípios de que uma
vida democrática e liberal era fato central na experiência política
brasileira. Em março de 1938, por exemplo, escreveu para seu
amigo Sumner Welles:
O povo brasileiro continua a ser absolutamente o mesmo,
mantendo inalteradas a sua vida e tradições democráticas
e liberais. A democracia não é um governo, uma lei ou uma
constituição: é uma prática. Esta é a razão pela qual existem
50
Introdução Geral
no mundo monarquias consideradas democráticas e liberais
e repúblicas que são verdadeiras autocracias. As formas
de governo são, por vezes, e nas mais das vezes, meras
aparências, ou, mesmo, necessidades momentâneas, que
em nada modiicam o sentimento, o espírito, a tendência e
a vida dos povos.
O Brasil foi sempre democrático, quer no Império, quer na
República, porque o seu povo, desde a Independência, não
compreendeu nem poderá compreender outra forma de
viver (Aranha: 1938b).
Esse seu idealismo não o levou a ser nefelibata, pairando
no mundo das nuvens e abraçando expectativas irreais. Aranha
sabia que o mundo era abundante em “ambição egoísta e conlitos
irreconciliáveis” (Aranha: 1994n). Mas coniava na capacidade dos
indivíduos de transcenderem essa armadilha e das instituições,
nas quais estavam inseridos, de amparar o diálogo da cooperação.
A criação da ONU, em 1945, fortaleceria seus princípios. Ele
não teve menoscabo em airmar, da tribuna da organização, ser
“a democracia (...) um imperativo da civilização e da cultura”. Ele
acreditou ser aquele ambiente uma escola e um aprendizado de
prática democrática, um parlamento do mundo, no qual regras
de procedimento e ritos processuais permitiam dirimir conlitos
e criar uma era de paz e prosperidade. Essa crença decorria da
percepção de que não era mais possível, após a sua criação, “na
sociedade das nações, como na dos indivíduos, o predomínio
exclusivo de um sobre todos os demais”. Para ele, a nova “realidade
mundial” restringia “cada dia mais a faculdade e a possibilidade
de fazer e até de aceitar a guerra” (Aranha: 1949b). Isso reletia
até nas responsabilidades da diplomacia proissional, pois, na sua
opinião, a missão daqueles que representavam o bloco ocidental
deveriam ter como tarefa central a defesa da democracia (Aranha:
1950).
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Rogério de Souza Farias
A vitória sobre os países totalitários, a criação da ONU e a
redemocratização levaram-no a acreditar que, no imediato pós-guerra, o momentum da aliança ocidental, especialmente a
composição de forças para vencer o totalitarismo, poderia ser
suiciente para conter a expansão soviética – era a “força invencível
da recuperação democrática dos povos” (Aranha: 1994t). Deve-se
salientar, contudo, que não acreditava na imposição desses valores
à força. Cada país tinha uma caminhada própria e não cabia a
nenhum ente, inclusive as Nações Unidas, forçar soluções. Para ele,
era inaceitável a intervenção na soberania alheia, mesmo que fosse
com o propósito bem intencionado de promover a democracia,
ainal, “o regime político de cada povo é, em última análise, o
resultado de sua própria cultura moral” (Aranha: 1994e). Essa era
uma sinalização de que acreditava no poder do exemplo e não da
força na expansão do liberalismo democrático.
Outro aspecto da oratória de Aranha associado ao idealismo
e à defesa da democracia foi a admiração dos Estados Unidos
como nação, especialmente após 1934, algo que progressivamente
destoaria da opinião geral, principalmente no núcleo político
doméstico ao qual estava associado. Se, em 1943, estar ao lado
de Washington signiicava a defesa da liberdade diante dos países
totalitários, na década de 1950, essa posição e até a admiração
aberta dos americanos era criticada por amplos setores da opinião
pública no mínimo como ingenuidade. Convém observar, porém,
que Aranha nunca abraçou acriticamente a política externa
americana, havendo nuances que devem ser exploradas.
Na década de 1930, durante sua gestão como embaixador em
Washington, adotara certa celebração retórica e sentimental das
duas sociedades e suas relações bilaterais. Aranha argumentou que
Brasil e Estados Unidos herdaram a aliança de suas respectivas
ex-metrópoles (Aranha: 1994p). A despeito desse legado, em sua
opinião, as relações entre os dois países sempre foram difíceis.
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Introdução Geral
A cooperação era “obra de um sacrifício recíproco de interesses
próprios para colimar objetivos comuns” (Aranha: 1994a).
Sua otimista visão das Américas foi transformada para um
julgamento de vulnerabilidade diante de um mundo cada vez mais
complexo, além de certa decepção com a política externa americana,
em especial o abandono da política da boa vizinhança. Ainda
que tenha deinido a aliança como “uma fatalidade irrecusável”,
argumentou que não deveriam os brasileiros icar “resignados a
um destino que não pudemos ou não queremos escolher” (Aranha:
1958b). Ele adicionava que as “tradicionais e excelentes relações”
do Brasil com os Estados Unidos não deveriam anular o “nosso
direito de iniciativa e a nossa capacidade de discernimento na
orientação da nossa conduta entre as nações” (Aranha: 1958c).
Após 1954, quando não mais ocuparia cargos na administração
pública federal, Oswaldo Aranha teve mais liberdade para estudar
a política internacional e a política externa brasileira. Sua argúcia
analítica é evidente nos pronunciamentos desse último período,
sendo impressionante seus acertos. Sua boa percepção não o trairia.
Em um mesmo discurso, proferido em 1958, vaticinaria a vitória
do Ocidente na Guerra Fria, a ascensão da China como potência
mundial, e algo muito semelhante ao que hoje denominamos de
internet.
O im da Guerra Fria, o primeiro ponto acima, era algo que
previra em 1948. Na ocasião, considerou que o conlito seria
transformado vagarosamente em uma “paz fria”. Seria “obra vagarosa, paciente, tenaz e eicaz, da persuasão sobre a força”. Uma das
fontes de tal percepção era sua identiicação do trabalho russo como
“de pouco rendimento e deiciente a organização econômica do
país”. Mais importante para a derrocada soviética, contudo, estava
a “oposição comunista à natureza humana” (Aranha: 1994m). Isso
levou Aranha a airmar, que, “mais dia menos dia”, o império russo
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Rogério de Souza Farias
acabaria (Aranha: 1949b). Ele reforçaria tal airmação logo após
o lançamento do satélite Sputnik, em 1958, prevendo a abertura
do sistema soviético e a vitória do ocidente na Guerra Fria –
fenômeno, julgado como decorrente da “força invencível dos povos
democráticos” (Aranha: 1958a).
No segundo tópico, Aranha indicou que a incorporação
de Pequim à ONU signiicaria “uma nova era para a política
internacional”. Ele acreditava que o país teria grande papel no futuro
da política internacional. Por im, estava o que ele denominou de
“máquina fantástica da nova inteligência”, um “cérebro eletrônico”,
produto de “todos os elementos e recursos de informação” que
descortinaria “os horizontes”. Para os que hoje vivem no mundo
pervasivo da internet, a descrição é surpreendente. Para Aranha,
o mundo viveria “à luz de um sol sinistro, criado pelo engenho
humano, que faz ver sem se deixar ver”; se antes violavam-se fronteiras, chegava a era de avanços sobre “as consciências
e as ideias”. Tal descrição assemelha-se à hodierna realidade,
onde a intimidade padece de proteção no mundo virtual. Essa
intepretação nasceu da forma como concebia a informação como
elemento central na condução da política internacional. Seriam os
serviços de inteligência e não exércitos em marcha que deiniriam
o resultado dos conlitos futuros. Daí a importância que dava ao
que hoje se denomina de “indústrias culturais” (Aranha: 1958b).
Em pelo menos um caso, suas palavras tiveram efeito direto
sobre o resultado previsto, ainda que não estivesse mais vivo para
presenciar: o reatamento das relações diplomáticas entre o Brasil
e a União Soviética em 1961. Esse foi um tema que abraçou no
segundo semestre de 1957 e que teria formatação mais completa
no artigo que publicou na Revista Brasileira de Política Internaci
onal, em 1958. A argumentação que desenvolveu teria implicações
gerais para a política externa brasileira nos próximos quinze anos.
Para Aranha,
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Introdução Geral
[o] reconhecimento da existência de um governo estrangeiro
é, e não pode deixar de ser, mera questão de fato. Ele de
nenhum modo importa em aprovação quer aos processos
que levaram esse governo ao poder, quer à sua ilosoia
política ou às suas inovações no direito interno. (...)
Temos que pensar em termos de comércio regular e contínuo
com todos os países do mundo, inclusive os soviéticos, a im
de comprarmos em melhores condições, não importa onde,
e de vendermos o mais que pudermos, a quem pagar melhor
preço. Não devemos limitarnos a pensar apenas em sair de
diiculdades atuais, vendendo uma parcela do café que temos
armazenado. Devemos programar para o futuro, pensando
numa política de diversiicação de nossas exportações que, a
longo termo, nos leve à venda dos produtos manufaturados
(Aranha: 1958c).
O argumento demonstra, primeiramente, seu soisticado conhecimento da tradição diplomática brasileira e da disciplina de direito
internacional público. Um segundo aspecto a ser relevado é como
ele adianta conceitos que se tornariam centrais na política externa
brasileira, em especial a noção de universalismo e diversiicação
de exportações. Por im, deve-se notar seu foco mais econômico,
principalmente no tema da composição da pauta exportadora do
país.
Não pode se dizer que Oswaldo Aranha acertou todas as suas
opiniões sobre o futuro. Sua grande admiração à ONU levou-o a
cogitar que o processo de descolonização seria conduzido pela
organização, provavelmente em processo semelhante ao que
comandara sobre a questão do mandato da Palestina; também
não acreditou na continuidade da expansão soviética na periferia
(Aranha: 1958a). Havia, também, certo afastamento com relação à
nova geração. Ele aprendeu a ver o Brasil como uma potência em
ascensão, não gostando de se associar a blocos que não fossem o
das democracias ocidentais.
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Rogério de Souza Farias
Não me iliei jamais aos que querem apresentar o Brasil
como um pedinte, um necessitado, quase esmolér. Não
acreditei nunca nas vantagens da subserviência diplomática
nem nas invocações sentimentais para a obtenção do outras
vantagens, além das que considerei justas e devidas ao
Brasil. Nunca me apresentei como enviado de um país
“subdesenvolvido”, mas do um povo consciente de seus
direitos e deveres (Aranha: 1958a).
Oswaldo Aranha acreditava que a sociedade brasileira deveria ter papel proeminente na política internacional. Era, assim,
extremamente crítico não só à associação à periferia como à
possibilidade de o país icar “à margem das decisões mundiais,
espectador pacíico e paciista dos acontecimentos internacionais”
(Aranha: 1994l). Isso decorria, em sua opinião, tanto das características da formação histórica brasileira como da capacidade
de seus estadistas e diplomatas. Por isso exortou uma jovem
turma formada no Instituto Rio Branco, em 1950, a ter um papel
“mundial” (Aranha: 1950). Em sua visão, logo após a Segunda
Guerra Mundial,
o Brasil, de mero colaborador na ordem diplomática,
política e jurídica do mundo será, agora, chamado, na paz
ou na guerra, a intervir e a desempenhar uma ação efetiva
na ordem mundial. Toda vez que esta ordem vier a ser
ameaçada, terá o Brasil de exercer, em todos os campos das
atividades mundiais, uma intervenção direta e responsável
(Aranha: 1994l).
A globalização dos interesses brasileiros em sua política externa
e a defesa da proeminência do país na construção ordem internacional
seriam, assim, contribuições centrais para seus sucessores.
Essas concepções, assim como a defesa do multilateralismo e da
democracia, constituíram o legado duradouro do pensamento
diplomático de Oswaldo Aranha, algo que persiste até os dias de hoje
(Almeida e Araújo: 2013).
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