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Curso: DOUTORAMENTO EM ARQUITETURA Disciplina: TEORIA DA IMAGEM

O presente trabalho tem por objetivo usar os pontos formadores da cidade levantado por Kevin Lynch e tecer uma discussão a respeito desses elementos analisados em uma cidade colonial, no caso, Ouro Preto, em Minas Gerais. Não se pretende fazer juízo de valores apenas tentar fazer uma análise usando os mesmos elementos que Lynch usa para cidades americanas e classificando como bom ou mal urbanismo.

Curso: DOUTORAMENTO EM ARQUITETURA Disciplina: TEORIA DA IMAGEM Aluno: Fábio Vasconcellos 1 - Introdução Com a descoberta do ouro na região das Minas Gerais o Brasil passa de um país de ocupação rural para uma ocupação eminentemente urbana. As cidades que nasceram com descoberta do ouro em Minas Gerais tiveram, particularmente vários elementos definidores da sua paisagem, passando por questões geográficas inerentes ao processo de mineração, como também na implantação de equipamentos necessários para a organização social do espaço, como edifícios oficiais, igrejas e comércio. No sentido de analisar os elementos que compõe esta forma da cidade colonial Mineira, buscou-se os elementos definidores da imagem da cidade descritos por Kevin Lynch no seu livro intitulado A Imagem da Cidade. Segundo Lynch os componentes da imagem da cidade são: Identidade; Estrutura e Significado. E para isso, ele define elementos de análise desse espaço, que são as Via, os Limites, os Bairros, os Cruzamentos e os Pontos Marcantes. 2 - Justificativa No livro A Imagem da Cidade, utiliza 3 cidades norte americanas em sua análise: Boston, Jersey City e Los Angeles. Essas 3 cidades têm em comum, além de outras questões, sua implantação ortogonal, um porte médio a grande e uma topografia muito plana. Essas questões tornam inviáveis, uma análise comparativa entre essas cidades e Ouro Preto. 3 - Objetivos O que se pretende é usar os elementos definidores da imagem da cidade tratados por Lynch, para uma análise de uma cidade com características sócio espaciais muito diferentes, porém com uma imagem muito peculiar surgida no interior do Brasil colônia e que perdura até os dias de hoje. 4 - Metodologia Em seu livro Lynch define como componentes da imagem do meio ambiente a Identidade, a Estrutura e o Significado. Para se tecer essas componentes, foram analisados alguns elementos formadores sendo eles: as vias, os limites os bairros, os cruzamentos, e os pontos marcantes (ou de referência). Com esses elementos definidos, pretende-se fazer uma breve análise dos mesmos na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais. 5 - Desenvolvimento Tomaremos o conceito dos elementos definidores da imagem da cidade baseados em Lynch. Vias – são definidas por suas características. Podemos usar como referência fachadas, vegetação, pavimentação ou a proximidade a pontos importantes (ex: um rio). Limites - São fronteiras que dividem a cidade ou determinado espaço urbano em duas ou mais partes. Bairros – limites bidimensionais as vezes de difícil perceção Cruzamentos – foco e a síntese de um bairro, confluência ou cruzamento de vias. Elementos marcantes – definido por algum objeto físico. Alguns elementos são implantados para serem vistos de vários ângulos e distâncias. Estes elementos se sobrepõe e se interligam constantemente definindo a identidade da cidade sua estrutura e seu significado. Tomaremos para isso a identidade como sendo a relação de esfera particular entre o objeto e o observador, pois pode ser definida pela história de vida do observador. A estrutura tem relação direta com a forma e a função, como e para que serve cada elemento e o conjunto dos elementos conectados entre si. O significado deve ser prático ou emocional entre o objeto e o observador. Para compreender um pouco sobre essas cidades Mineiras, falaremos brevemente sobre o histórico de sua formação. Que será importante esclarecimento sobre o “porque” da imagem das cidades e questão. Durante o século XVII, foram fundadas na Capitania da Minas Gerais 14 vilas e uma cidade. As fundações destas ocorreram em dois ciclos, segundo Oliveira 2003. Não ocorrendo regularidade na formação das vilas no período setecentista. O primeiro ciclo ocorreu no início do século XVII, onde as vilas foram criadas em consequência da corrida que os descobertos auríferos provocaram, juntamente com as confusões causadas pelas disputas das lavras. O segundo ciclo ocorreu na ultima década do século XVII. Dessa forma, muitos arraiais foram se formando interligados por estradas, que mais tarde, se tornariam ruas. Conforme as figuras 1 e 2 abaixo nas cidades de Sabará e São João Del Rei. figura 1: Municipio de Sabará (formação século XVII) figura 2: MIncicípio de São João Del Rei (século XVII) Essa ocupação se deu no sentido ascendente, do leito dos rios, onde aconteceu a primeira extração do ouro de aluvião, e posteriormente subindo para as áreas mais inclinadas atrás do ouro que começara a se esgotar no leio dos rios. Esses centros auríferos se transformaram em cidades compostas por uma sociedade heterogênea, por volta de 1760, com sua igreja matriz. Vejamos as vias, ou ruas de Ouro Preto que de acordo com Lynch, são canais dos quais o observador se move usual, ocasional ou potencialmente, que podem ser ruas, passeios, ferrovias, rios, etc. As pessoas observam as cidades, se deslocando por essas vias. Sendo assim, podemos identificar grande parte dos elementos locais. Por consequência topográfica e por serem elementos que se fizeram nos primórdios de sua fundação interligando os arraiais, as ruas de Ouro Preto, possuem uma sinuosidade e calha peculiares, pois ainda carregam uma herança colonial bem marcante como podemos ver na figura 3 e 4. Figura 3: Foto da rua Direita em Ouro Preto Fonte: https://tinamaonaroda.blogspot.pt/2016/01/as-ruas-de-ouro-preto.html Figura 4: Foto da rua São José (década de 40) em Ouro Preto Fonte: https://tinamaonaroda.blogspot.pt/2016/01/as-ruas-de-ouro-preto.html Podemos verificar através das imagens das figuras A e B que a imagem da rua é consequência das fachadas e do traçado. A questão é que a tipologia das fachadas se repete quase que em toda a cidade, fazendo com que o usuário, que não tem familiaridade com esse espaço, não consiga se orientar de forma muito certa. Porém as perspectivas criadas pelas vias, muitas vezes acabam por orientar o observador em seu trajeto. Para além das vias, o observador se depara com alguns limites na cidade, e no caso em questão, barreiras como ferrovias, rios e morros pode servir para este fim. Como podemos observar na figura 5. Onde as setas em vermelho indicam a topografia, as linhas em azul alguns cursos d´água e de amarelo a ferrovia. Demarcando alguns limites da cidade ao observador. Estes Limites acabam por se tornarem muito mais marcantes na imagem da cidade do que as vias, visto que a topografia acidentada junto à similaridade das fachadas dos edifícios, podem por vezes confundir o observador. Figura 5: Imagem satélite de Ouro Preto Fonte: Observações do autor em base do Google. Outro elemento definidor da imagem da cidade são os Bairros: regiões urbanas de tamanho médio ou grande entendidos como tendo uma dimensão bidimensional. Nelas o observador penetra mentalmente reconhecendo algo de comum e de identificável. A identidade interna de cada bairro é mostrada através da imagem e identidade de cada observador que caminha faz em sua memória. No caso de Ouro Preto não podemos definir como bairros, essas unidades urbanas, pois existem vários bairros onde se encontram edificações e traçados das vias muito parecidos. Ruas estreitas, calçamento em paralelepípedo e edificações alinhadas com a rua. Porém, podemos identificar as áreas de urbanização mais recente das de urbanização mais antiga. Podendo assim auxiliar o observador em seu trajeto. Como é o caso do Centro Histórico e a Bauxita (figura 6 e 7). Figura 6: Rua Bernardo Vasconcellos Fonte: Google Maps Figura 7: Bauxita Fonte: Google Maps Outro elemento percebido na cidade de Ouro Preto são os cruzamentos: locais estratégicos de uma cidade através dos quais o observador nele pode entrar e constituir intensivos focos para os quais e dos quais ele se desloca. Apesar de não serem desenhados perpendicularmente, a cidade possui vários cruzamentos ou pontos nodais que orientam o observador. Dois importantes pontos são, a Praça Tiradentes, o largo formado pelo encontro das ruas Senador Rocha Lagoa, a Praça Reinaldo Alves e a rua São José, e o largo à frente da Igreja de São Francisco de Assis (figura 8 ). Esses cruzamentos ainda são potencializados pela presença de edificações importantes na cidade. Figura 8: Da esquerda para a Direira – Largo da Praça Reinaldo Alves, Praça Tiradentes e Largo da Ig. de São Francisco de Assis. Fonte: Google Earth Esses pontos marcantes na cidade são classificados por Lynch como “Elementos Marcantes”. são elementos usados como pontos de referencia, geralmente aparecem destacados na paisagem. A sua identidade de eleva em posição de destaque no meio urbano pois o transeunte, seja ele pedestre ou motorista ou passageiro, identifica seu próprio deslocamento de maneira menos intuitiva e mais observante. A caracterização desses pontos está muito ligada à identidade da cidade. Seja pela identificação de maneira direta na qual coincide a forma e ou o partido arquitetónico daquele marco para com o todo, seja pela subjetividade dos elementos já citados, ou, na maioria das vezes, pelo contraste apresentado com a região. O contraste por sí só, já pode ser considerado fator determinante para a identificação de um marco. Seja por diferenciação de análise do gabarito de alturas, ou pela identidade arquitetónica do entorno. Nesse ponto a cidade de Ouro Preto se faz singular pelo número de marcos na cidade, compostos por antigos edifícios oficiais, hoje museus, e a implantação das diversas igrejas setecentistas. Tomamos como exemplo o antigo Palácio dos Governadores (hoje museu de mineralogia), a Casa de Câmara e Cadeia (hoje Museu da Inconfidência), e a Igreja de São Francisco de Assis com a eira de pedra sabão à sua frente (figuras 9, 10 e 11). Figura 9: Praça Tiradentes com o Museu de Mineralogia ao fundo Fonte: Google Earth Figura 10: Praça Tiradentes com o Museu da Inconfidência ao fundo Fonte: Google Earth Figura 10: Feira da pedra são à frente e Igreja de São francisco de Assis ao fundo Fonte: Google Earth 6 - Conclusão Inter-relação dos elementos: e acordo com Lynch se da pela sobreposição e ligação desses elementos, onde eles trabalham em conjunto para gerar uma forma satisfatória. Esse conjunto é a imagem total dos dados analisados por categoria. Os elementos subdivididos em vias, limites, bairros, cruzamentos e marcos, são a matéria prima da imagem do meio ambiente e da escala urbana. Ao analisarmos um bairro, por exemplo, podemos verificar que ele é formado por vias, cruzamentos, e pode possuir elementos como limites e marcos. Uma cidade coerente e objetiva, define os usos principais do solo urbano, tem qualidade de circulação, e pontos focais chaves com clara hierarquia viária. Porém as dificuldades de sobreposição e inter-relação dos elementos estudados, cria algumas situações de incompatibilidade, como mobilidade urbana deficitária, e segregação física e social. Entretanto a cidade e dotada de uma identidade única e marcante. 7 – Bibliografia LYNCH, K. A imagem da cidade. Lisboa : Edições 70, 1982., (Arte e comunicação: 15). OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. O Rococó religioso no Brasil e seus antecedentes europeus. São Paulo: Cosac e Naify, 2003. 343p. VASCONCELLOS, Sylvio de. Sylvio de Vasconcellos: arquitetura, arte e cidade; textos reunidos. Organização de Celina Borges de Lemos. Belo Horizonte: BDMG Cultural, 2004. p119.