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Resenhas v. 3 n. 5

2009, HORIZONTE

RESENHAS Resenhas Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004 193 Resenhas 194 Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004 Resenhas TOMITA, Luiza E.; BARROS, Marcelo; VIGIL, José Maria (Org.). Pluralismo e libertação. Por uma teologia latino-americana pluralista a partir da fé cristã. São Paulo: Loyola, 2005. 230p. DAMEN, Franz et al. Pelos muitos caminhos de Deus. Desafios do pluralismo religioso à Teologia da Libertação. Goiânia: Rede, 2003. 160p. Paulo Agostinho Nogueira Baptista* “P LURALISMO E LIBERTAÇÃO ” FAZ parte de um projeto da Associação dos Teólogos (as) do Terceiro Mundo (ASETT), região América Latina, com a publicação de uma coleção em cinco volumes. É o segundo dessa coletânea, sendo precedido pelo livro Pelos muitos caminhos de D eus, da editora Rede (2003). Os organizadores fazem parte da comissão teológica da ASETT e apresentam as duas obras e a coleção. Pelos muitos caminhos de D eus traz dez textos, com o prólogo de Dom Pedro Casaldáliga. Como desafio da Teologia do Pluralismo Religioso (TdPR) à Teologia da Libertação (TdL), são apresentados os seguintes temas: • Para uma teologia da libertação das religiões – Paul Knitter; • Panorama das religiões no mundo e na América Latina – Franz Damen; • Intolerância religiosa contra o pluralismo religioso na história latino-americana – Armando Lampe; • O desafio do pluralismo religioso para a teologia latinoamericana – Faustino Teixeira; • Reimplantação teológica na fé indígena – Diego Irarrázaval; • Teologia cristã do pluralismo religioso face às tradições religiosas afro-americanas – Antonio Aparecido da Silva; • A contribuição da Teologia Feminista da Libertação para o debate do Pluralismo Religioso – Luiza E. Tomita; • Espiritualidade do pluralismo religioso. Uma experiência espiritual emergente – José María Vigil; • A reconciliação de quem nunca se separou – Marcelo Barros. Pela temática mostrada acima, pode-se perceber a riqueza e a provocação dos temas. Em razão do espaço desta resenha, se- Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004 * Coordenador e Prof. de Cultura Religiosa da PUC Minas. Doutorando em Ciência da Religião pela UFJF. 195 Resenhas rá apresentada com mais atenção o livro mais recente: Pluralismo e libertação. Este livro reúne 16 textos, incluindo a apresentação, dando continuidade à temática da libertação, à luz da discussão sobre o pluralismo religioso. O prólogo é escrito pelo bispo metodista argentino Federico J. Pagura, e o epílogo tem a assinatura do presidente mundial da Asett, Diego Irarrázaval, com o texto “Rotas fechadas e abertas em direção a Deus”. “Muitos pobres, muitas religiões” é o tema inicial de José Maria Vigil. O autor reflete sobre a opção pelos pobres como “lugar privilegiado para o diálogo entre as religiões”. Vigil afirma que a “contribuição do judeu-cristianismo ao diálogo das religiões seria a visão de que a essência mesma da religião é essa paixão pela justiça e fraternidade” (p. 29). Jorge Pixley apresenta as “Memórias de lutas populares – um unificador potencial? ”. O texto reflete sobre a “memória popular da bíblia hebraica”, mostrando os aspectos de resistência à dominação, convidando que se dê continuidade à essa reflexão e à análise das escrituras cristãs. Tal convite objetiva animar àqueles que “sofrem o sistema global como uma imposição alheia e injusta” (p. 45) a resistir e a se fortalecer. “A teologia das religiões a partir da América Latina” é o texto de José Comblin. Dando destaque à questão do diálogo, Comblin reflete também sobre o significado da religião e o problema dos “monoteísmos”. Sua conclusão indica que, além do diálogo inter-religioso, não se pode fechar as portas ao diálogo com aqueles que não têm fé, uma vez que a crítica desses é fundamental para se evitar toda forma de idolatria. Vigil volta em outro texto “Macroecumenismo: teologia latino-americana das religiões”. Discute o sentido, os princípios e os limites do macroecumenismo, expressão cunhada por Dom Pedro Casaldáliga, em 1992, na Primeira Assembléia do Povo de Deus, em Quito, Equador. Apresenta o macroecumenismo na articulação entre Teologia das Religiões (TR) e Teologia da Libertação (TdL). “Religiões, misticismo e libertação”, de Paul Knitter, teólogo americano, faz uma aproximação entre TR e TdL. Knitter tem refletido muito sobre a teologia pluralista das religiões e sua articulação com a temática da libertação, inspirado no método e na teologia da TdL. Os teólogos do pluralismo têm muito a aprender com os teólogos da libertação e o mesmo acontece com es- 196 Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004 Resenhas tes: a teologia do pluralismo oferece muito ensinamento a desafiar a TdL. Luiza Tomita oferece uma reflexão muito significativa hoje: a perspectiva feminista em relação ao pluralismo e a libertação – “Crista na ciranda de Asherad, Ísis e Sofia: propondo novas metáforas divinas para um debate feminista do pluralismo religioso”. Cristologia, salvação e monoteísmo são temas desenvolvidos nesse texto. Busca propor “novas imagens divinas – não autoritárias nem definitivas – que ampliam o nosso horizonte religioso, enriquecendo nosso sistema simbólico de forma libertadora” (p. 122). “O absoluto nos fragmentos – a universalidade da revelação nas religiões”, de Luiz Carlos Susi –, busca revisitar as categorias universalistas da tradição cristã. Reflete também sobre o outro como realidade “não totalizável e não englobável num horizonte comum” (p. 127). Conclui com a construção de uma sensibilidade fundada no amor. Marcelo Barros retoma essa idéia do “amor” na articulação entre bíblia e pluralismo: “Muitas falas e uma única palavra: amor”. Barros afirma que “sozinha [a Bíblia] e sem ser em uma atitude de pluralismo e mesmo de diálogo com outras culturas e religiões, ela não faz um sentido atual e completo porque negaria sua origem [...].” E diz ainda que ela não conseguiria transmitir hoje o que o “Espírito diz, não apenas às igrejas, mas à humanidade” (p. 159). Em novo texto, Vigil reflete sobre um tema central na teologia cristã do pluralismo religioso: a Cristologia – “Cristologia da libertação e pluralismo religioso”. Busca a superação do inclusivismo, afirmando o paradigma pluralista. Na seqüência cristológica, Barros apresenta uma “Cristologia afro-latíndia: discussão com Deus”. Na formação cultural deste continente latino-americano, esses povos sofreram com a imposição religiosa. Que Cristologia não seria excludente, mas coerente com a revelação de Deus e seu projeto libertador? Refletindo também sobre a perspectiva indígena, Mario Pérez Pérez apresenta “Uma revelação de Deus Mãe”. Francisco de Aquino Júnior traz em discussão o candente tema da eclesiologia: “Igreja dos pobres: sacramento do povo universal de Deus – Tópicos de uma eclesiologia macroecumênica da libertação”. Seu texto afirma que “a realização do reinado de Deus e a formação do povo de Deus fazem da Igreja uma reali- Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004 197 Resenhas dade descentrada e em comunhão com as outras religiões – macroecumênica em sua própria natureza” (p. 214). E ainda na eclesiologia, Paulo Botas nos apresenta a discussão em relação ao negro, sua eclesiologia negra diante do pluralismo religioso. Com o sugestivo título: “Maldição de Malaquias”. O epílogo de Diego Irarrázaval retoma o caminho do livro e aponta perspectivas de continuidade da reflexão numa infinidade de temáticas ainda não discutidas. Sem dúvida, um texto de estudo e debate que chega respondendo aos “sinais dos tempos”, buscando oferecer caminhos para a reflexão teológica. KOSCHORKE, Klaus (Hg.). Transkontinentale beziehungen in der geschichte des außereuropäischen christentums/transcontinental links in the History of non-western christianity. Wiesbaden (Alemanha): Harrassowitz Verlag, 2002. 344p. Vinicius Mariano de Carvalho* * Mestre em Ciência da Religião pela UFJF. Doutorando da Universidade Passau – Alemanha. 198 A OBRA QUE AQUI SE apresenta é a coleção dos trabalhos apresentados na Segunda Conferência Internacional Munich-Freisig, organizada pelos Professores Dr. Klaus Koschorke, do Instituto de H istória da Igreja da Faculdade de Teologia Evangélica da Universidade de Munique, e Dr. Johannes Meier, também de H istória da Igreja, da Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Mainz. Esta Segunda Conferência Internacional, que teve como tema as Relações Transcontinentais na H istória do Cristianismo não Ocidental, voltou-se exclusivamente para a história do cristianismo na Ásia, na África e na América Latina, reconhecendo como, desde o século XVI, esse cristianismo tem sido muito mais policêntrico no que diz respeito aos modelos de interação, do que tradicionalmente se reconhece. Ao mesmo tempo, entre essas igrejas de Ásia, África e América Latina, estabeleceram-se diversas relações mútuas, independentemente das conexões missionárias. Assim, os textos da conferência circularam em torno das diversas formas de relações intercontinentais nas inter-relações sul-sul. Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004 Resenhas Três paradigmas básicos nortearam as discussões e a organização do livro, a saber: 1. Diásporas étnicas como redes relevantes para uma difusão indígena da Cristandade; 2. Processo transcontinental de recepção; 3. Desenvolvimentos paralelos na Ásia, na África e na América Latina. O primeiro paradigma das discussões apontou para aspectos das redes de comunicação estabelecidas com base nas migrações humanas descentralizadoras do cristianismo, especialmente na África e na Korea. O foco dessas redes não reside apenas na transmissão da cristandade, mas no questionamento étnico de seu caráter nascido do encontro com outras realidades comunitárias. O segundo paradigma oferece excelentes estudos sobre a recepção transcontinental do cristianismo, atentando-se para os momentos fortes do Concílio de Trento (1545-1563), da Conferência Missionária Mundial de Edinburgo (1910) e do Concílio Vaticano II. O Concílio Tidentino é lido em sua recepção na América Espanhola como marca do declínio das experiências locais desta igreja e como reforçador da igreja na Índia Portuguesa. O organizador do livro, Prof. Dr. Klaus Koschorke, aponta em sua comunicação o fator determinante da Conferência de Edinburgo no nascimento do ecumenismo moderno no mundo protestante e também como essa conferência é, de certa forma, precursora do Concílio Vaticano II. Sobre o Vaticano II, duas outras comunicações se ocupam, uma tratando da sua recepção na Ásia entre os anos 1972 a 1998, traçando pontuais análises teológicas e históricas e ressaltando como a recepção do Concílio na Ásia não foi tão imediata como nas igrejas da América e da África. À nossa realidade brasileira interessa diretamente o artigo de José Oscar Beozzo, “O Vaticano II e a Igreja na América Latina”, pontualmente bem traduzido para o alemão pelo Prof. Dr. Roland Spliesgart e por Marcilene Azevedo Spliesgart, aquele estudioso metódico do cristianismo no Brasil. O terceiro paradigma ressalta o desenvolvimento transcontinental do cristianismo e a importância desse fenômeno na construção de identidades nacionais e na motivação de tendências emancipatórias, como nos casos do México, de Madagascar e da Etiópia. Também aponta para o significado das igrejas cristãs independentes e seu papel fecundador no cristianismo, como forma de cristianismo indígena. Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004 199 Resenhas A leitura deste volume é por si uma atualização em história do cristianismo e uma provocação a novas investigações. Mais enriquecedor, ainda, é ler esta obra após a leitura do volume resultado da Primeira Conferência Internacional Munich-Freisig (1997), Christen und gewürze – konfrontation und interaktion kolonialer und indigener christentumsvarianten (KO SCH ORKE, Klaus (Org.) – Göttingen:Vandenhoeck & Ruprecht, 1998). Estes dois volumes representam excelente foro de diálogo para historiadores do cristianismo das mais distintas confissões e especializações, bem como para outras áreas de estudos afins. Prova do papel do cristianismo extra-europeu no ambiente acadêmico teológico da Alemanha. 200 Horizonte, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 195-200, 2º sem. 2004