O CONCEITO DE
DESEMPENHO
APLICADO ÀS
˜
EDIFICAÇOES
ROBERTO DE SOUZA
O CONCEITO DE
DESEMPENHO
APLICADO ÀS
EDIFICAÇOES
ROBERTO DE SOUZA
São Paulo
2015
APRESENTAÇÃO
Copyright © Roberto de Souza
O
setor da construção civil vive momentos de transformação. Qualidade, gestão, tec-
Este projeto e publicação é uma iniciativa do autor Roberto de Souza.
nologia e sustentabilidade são temas que ganharam espaço nos últimos 15 anos e
se consolidaram entre as empresas da cadeia produtiva da construção. O período
Este texto faz parte da dissertação de mestrado de título “Contribuição do conceito de desempenho
recente de grande expansão e o momento atual de intensa retração de mercado implicam
para a avaliação do edifício e suas partes: aplicação às janelas de uso habitacional”, que se encon-
em enormes desaios para o setor. Um forte movimento de inovação, com foco no reposi-
tra à disposição na biblioteca da Engenharia Civil da Escola Politécnica da USP.
cionamento estratégico das empresas e no aumento da produtividade, faz parte da agenda
competitiva da construção para enfrentar novos tempos e diferentes conjunturas.
Ficha Catalográica USP/SIBI
O conceito de desempenho e a metodologia de avaliação de desempenho do edifício
e suas partes são extremamente valiosos para alimentar este movimento inovador e dar
Souza, Roberto de
Contribuição do conceito de desempenho para a avaliação do edifício e suas partes: aplicação às janelas de uso habitacional. – São Paulo: EPUSP, 1983.
consistência nas buscas por soluções “fora da caixa”, tanto de novos produtos imobiliários
como de projeto, novas tecnologias, novos sistemas construtivos, novos componentes e
materiais. É também extremamente importante a modernização do aparato normativo e
dos sistemas de certiicação de produtos. O setor da construção já deu um passo importan-
181 p. + anexo – Dissertação (Mestrado)
tíssimo para a melhoria da qualidade e inovação da construção com a disposição, desde
Programa Engenharia Civil: Engenharia de Construção Civil e Urbana
Departamento PCC Engenharia de Construção Civil
Escola Politécnica da USP
julho de 2013, da norma NBR 15.575 – Desempenho de Ediicações Habitacionais. É preciso,
no entanto, ir além da implantação da Norma de Desempenho, ampliando o entendimento
do conceito de desempenho e da metodologia de avaliação de desempenho e a discussão
Nº. de sistema antigo 1122351
Nº. de sistema atual 000719840
sobre a apropriação de ambos para a modernização da construção.
Os textos disponíveis nesta publicação – extraídos da Dissertação de Mestrado que apresentei em 1983, na Escola Politécnica da USP – resgatam os principais conceitos sobre a
Produção da Publicação: O Nome da Rosa Editora
natureza do desempenho e detalham, de forma conceitual, os elementos da metodologia de
Editora: Tula Melo
avaliação de desempenho do edifício e suas partes. É importante ressaltar que esses textos
Revisão: Noemi Zein Telles
estão contextualizados em um período histórico bem determinado: da metade da década de
Editora de Arte: Júlia Melo
1970 até o ano de 1983. Embora o setor tenha avançado signiicativamente dessa época até
Design: Bárbara Ligia
os dias de hoje, esses estudos são válidos e podem contribuir para a compreensão da verdadeira natureza do conceito de desempenho, da metodologia de avaliação de desempenho e
Julho de 2015
Todos os direitos desta edição reservados pelo autor Roberto de Souza. Nenhuma parte
desta publicação pode ser reproduzida de nenhuma forma, ou por nenhum meio,
sem autorização expressa do autor.
sua aplicação à realidade da construção.
Este é, sem dúvida, um mergulho no passado. Ao compartilhar esses textos, espero podermos extrair ideias que nos alimentem para a construção do futuro.
Boa leitura, boas relexões e boas práticas inovadoras.
Rua Álvaro Rodrigues 182, cj. 153 | Brooklin | São Paulo | SP | CEP 04582-000
F. (11) 2149-0300 |
[email protected]
ROBERTO DE SOUZA
5
PERFIL
SUMÁRIO
Roberto de Souza formou-se Engenheiro Civil pela Escola
1. INTRODUÇÃO ..........................................................................................9
Politécnica da USP. Pela mesma escola, tornou-se Mestre em
Engenharia, apresentando sua dissertação sobre “O Conceito de
Desempenho aplicado às Ediicações” em 1983, e obteve o grau
de Doutor em Engenharia com a tese “Sistemas de Gestão da
Qualidade para Pequenas e Médias Construtoras” em 1997.
Ingressou como pesquisador do IPT-SP (Instituto de Pesqui-
2. O CONCEITO DE DESEMPENHO ............................................................11
2.1. TENDÊNCIAS NA AVALIAÇÃO DE NOVOS PRODUTOS .....................................11
2.2. A NATUREZA DO DESEMPENHO.......................................................................... 13
2.3. HISTÓRICO DO CONCEITO ....................................................................................14
sas Tecnológicas do Estado de São Paulo) e tornou-se Diretor da
Divisão de Ediicações, cargo que ocupou até 1989. Em seu trabalho no Instituto contribuiu com o desenvolvimento de pesquisas e implantação de competências e laboratórios nas seguintes áreas: Eiciência Energética, Conforto Ambiental, Sistemas Prediais, Segurança ao Fogo, Sistemas Construtivos,
Materiais de Construção, Controle da Qualidade, Durabilidade e Avaliação de Desempenho.
3. METODOLOGIA PARA APLICAÇÃO DO CONCEITO DE DESEMPENHO À
AVALIAÇÃO DO EDIFÍCIO E SUAS PARTES .............................................. 19
3.1. O EDIFÍCIO E SUAS PARTES ................................................................................. 20
Foi presidente do COBRACON/CB-2 – Comitê Brasileiro de Construção Civil da ABNT de
3.2. EXIGÊNCIAS DO USUÁRIO ...................................................................................23
1987 a 1993, órgão responsável pela revisão e elaboração das normas técnicas no setor da
3.2.1. Exigências de segurança estrutural ........................................................................25
construção, quando contribuiu de forma signiicativa com a atualização normativa e tecno-
3.2.2. Exigências de segurança ao fogo ...........................................................................25
lógica da construção brasileira.
Foi um dos fundadores do CTE – Centro de Tecnologia de Ediicações em 1990, e hoje
3.2.3. Exigências de segurança à utilização .....................................................................26
é seu Diretor Presidente. Coordena uma equipe de 200 consultores de diferentes especia-
3.2.4. Exigências de estanqueidade ..................................................................................26
lidades. Em seus 25 anos, o CTE preparou mais de 1.600 empresas para a certiicação ISO
3.2.5. Exigências de conforto higrotérmico .....................................................................26
9000, ISO 14000, Qualihab e PBQP-H, prestou consultoria para mais de 300 empreendimen-
3.2.6. Exigências de pureza do ar ......................................................................................27
tos sustentáveis e certiicação Green Building e gerenciou mais de 400 obras com foco em
planejamento e controle de prazos, custos, qualidade e sustentabilidade.
É também autor de oito livros focados em Tecnologia e Gestão de Empresas Incorporadoras, Construtoras e Projetistas.
3.2.7. Exigências de conforto acústico ..............................................................................27
3.2.8. Exigências de conforto visual .................................................................................28
3.2.9. Exigências de conforto tátil .....................................................................................28
3.2.10. Exigências de conforto antropodinâmico ............................................................28
3.2.11. Exigências de higiene ..............................................................................................29
3.2.12. Exigências de adaptação à utilização ....................................................................29
3.2.13. Exigências de durabilidade .................................................................................... 30
3.2.14. Exigências de economia ........................................................................................ 30
7
3.3. CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO ................................................................................ 31
3.4. REQUISITOS E CRITÉRIOS DE DESEMPENHO ................................................. 34
1. INTRODUÇÃO
3.5.2. Cálculos e simulações ............................................................................................... 42
A
3.5.3. Julgamento ................................................................................................................. 43
componentes, sistemas construtivos e novas concepções de projeto, traduzindo um grande
3.5. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO.....................................................................................39
3.5.1. Ensaios e medidas ......................................................................................................39
s transformações sociais, econômicas, culturais e políticas, veriicadas no Brasil
nas últimas décadas, têm se reletido no campo da construção de edifícios, entre
outros aspectos, pela busca de alternativas aos produtos e processos tradicionais
até então utilizados. Esta busca está marcada pelo desenvolvimento de novos materiais,
esforço de racionalização e industrialização da construção. Uma das questões relevantes,
que se coloca neste campo, é a de como avaliar essas soluções inovadoras.
4. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................. 44
Esta questão tem vários contornos e a falta de uma resposta adequada entrava a tomada
de decisões dos diversos intervenientes no processo de incorporação, projeto, fabricação de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 49
8
materiais, construção e uso e operação de edifícios.
Algumas das diiculdades encontradas são ilustradas pelas indagações seguintes:
M Como se posicionam os agentes
financeiros quando uma nova
solução construtiva ou novos
componentes são propostos para
suas obras?
M E os códigos de obras municipais e a
normalização brasileira, que hoje não
abrem espaço para novas soluções, que
tipo de modiicações têm que sofrer
para se coadunarem à nova realidade?
M Que orientação devem seguir os
fabricantes para o desenvolvimento
de novos produtos para a
construção; a que limites de
qualidade estes novos produtos
devem atender?
M Que resposta devem fornecer os
institutos de pesquisa e laboratórios
nacionais, quando são chamados
a opinar sobre novos produtos;
que metodologia adotar para sua
avaliação?
M Os projetistas, por sua vez, como
se orientam para conceber novas
soluções para edifícios e especificar
suas partes?
M Como tratar a questão do controle
de qualidade desses novos produtos,
especialmente o aspecto relativo a
sua durabilidade?
9
No Brasil, na década de 1970 e 1980, presenciamos, principalmente na construção de ha-
2. O CONCEITO DE DESEMPENHO
bitações populares inanciadas pelo Banco Nacional da Habitação (BNH), uma utilização
indiscriminada de soluções inovadoras, em que componentes e sistemas construtivos eram
introduzidos no mercado sem que, previamente, fossem submetidos a uma avaliação téc-
2.1. TENDÊNCIAS NA AVALIAÇÃO DE NOVOS PRODUTOS
nica rigorosa, que possibilitasse prever seu comportamento durante os 30/40 anos de vida
útil que se espera do edifício.
Uma tendência veriicada nas tentativas de avaliação de novos produtos e sistemas cons-
Nestes casos, a avaliação das soluções inovadoras acontecia após os conjuntos habitacionais estarem concluídos e habitados, servindo os usuários como espécies de cobaias das
trutivos destinados aos edifícios é a de tomar o tradicional como referência e, por comparação, julgar se são aceitáveis ou não as novas soluções propostas.
inovações tecnológicas, sendo a eles transferidos problemas patológicos e custos excessi-
As poucas regras normativas atualmente disponíveis no país – normas brasileiras, nor-
vos de manutenção e reposição, que podem advir do uso de novos produtos não avaliados
mas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e códigos de obras municipais –
previamente. Um outro aspecto, a ser considerado na resposta da questão de como avaliar
de certa forma contribuem para que esta tendência seja adotada e difundida.
soluções inovadoras, diz respeito à adequação das tecnologias de produção do edifício e
As normas nacionais disponíveis são, na sua quase totalidade, normas prescritivas,
suas partes à realidade brasileira. Estão envolvidos, neste aspecto, além das variáveis téc-
voltadas para a especificação de componentes já há muito em uso ou para procedi-
nicas, questões econômicas e sociais de ordem geral e também variáveis regionais: clima,
mentos que descrevem aspectos do sistema construtivo tradicional, não encontrando
cultura local, disponibilidade de materiais e mão de obra, equilíbrio ecológico, etc.
os novos produtos e sistemas referenciais especificando os limites mínimos de qua-
Um instrumental valioso para a abordagem desse aspecto é o conceito de tecnologia
lidade a serem alcançados.
apropriada e sustentável, entendida com aquela que produz o tipo de produto necessário
Os códigos de obras padecem da mesma limitação, descrevendo procedimentos e
e adequado aos mercados regionais, utilizando-se de maneira ótima do capital, da mão de
regras a obedecer e não fixando quais as exigências mínimas a serem satisfeitas pelo
obra e dos recursos disponíveis localmente, gerando inclusão social via emprego e renda e
edifício e suas partes.
promovendo, ainda, o respeito ao meio ambiente (1).
Um exemplo elucidativo da tendência de ixar o tradicional como referência é o das pare-
No presente texto, objetiva-se discutir os aspectos relativos à avaliação de desempe-
des externas das ediicações. A parede de tijolos maciços de 25 cm, revestida com argamassa
nho de novos produtos e sistemas construtivos propostos para a construção de edifícios,
de cal e areia, foi durante muito tempo aquela tomada como padrão. O Código de Ediica-
considerando-se a qualidade inal dos mesmos. Essa qualidade pode ser traduzida pela ne-
ções de São Paulo, na década de 1980, dizia:
cessidade dos produtos e sistemas construtivos terem um comportamento satisfatório
em utilização (desempenho) e pela capacidade desses produtos e sistemas manterem
“As paredes externas, bem como todas que separem unidades autônomas de uma ediicação, ain-
tal comportamento ao longo da vida útil, em condições normais de uso, operação e
da que não acompanhem sua estrutura, deverão obrigatoriamente observar, no mínimo, as normas
manutenção. Nos dois capítulos seguintes, esta discussão é conduzida de forma ampla,
técnicas oiciais relativas à resistência ao fogo, isolamento térmico, isolamento e condicionamento
englobando o edifício e suas várias partes e enfocando os aspectos conceituais e metodoló-
acústico, resistência e impermeabilidade, correspondentes a uma parede de alvenaria comum de bar-
gicos, fazendo-se uso do conceito de desempenho, instrumento valioso que objetiva for-
ro maciço, revestida com argamassa de cal e areia, com espessura acabada de 0,25 m”. (2)
necer uma base racional ao processo de avaliação.
No capítulo inal são apresentadas considerações e recomendações sobre como aplicar
Assim, qualquer alternativa proposta para paredes externas deveria ser comparada em
o conceito de desempenho para a promoção da inovação e aumento da competitividade da
sua resistência mecânica, resistência ao fogo, propriedades acústicas, isolamento térmico
construção civil brasileira.
e impermeabilidade à tradicional parede de tijolos maciços de barro cozido. É pertinente
uma indagação:
10
11
é a de satisfazer as exigências do usuário quando submetido a determinadas condições
M E se as características da nova parede não forem todas correspondentes às
da parede tradicional; se, por acaso, a resistência ao fogo da nova parede for
inferior? Aceita-se ou não a nova solução proposta? Pergunta de difícil resposta.
de exposição. A utilização do conceito implica em definir quais as condições a serem
satisfeitas pelo produto, tanto a nível qualitativo como quantitativo, quando submetido
a condições normais de uso, e quais os métodos para que se possa avaliar se o produto
satisfaz às condições estabelecidas.
Não se tente, pelo conceito de desempenho, descrever ou dar indicações de materiais ou
Uma das dificuldades está em que não sabemos realmente por que a parede tradicio-
concepções especíicas de projeto que podem ser aplicados para se obter o produto inal.
nal é considerada boa e se suas propriedades são necessárias e se são satisfatórias. O ar-
A ideia presente é abrir espaço para novas possibilidades no campo dos materiais,
gumento que se tem é que tal parede “já funcionou na prática” e portanto é boa solução.
dos sistemas construtivos e das concepções de projeto, ou não existentes anteriormen-
Um argumento válido, pois fruto da tradição construtiva de muitos anos, porém não
te ou, se existentes, não utilizadas.
suficiente, pois não podemos aceitar o empirismo impregnado nessa assertiva e adotála como regra normativa.
Para um determinado uso da parede externa, por exemplo, em habitações térreas, a
2.2. A NATUREZA DO DESEMPENHO
parede tradicional de 25 cm pode estar superdimensionada quanto aos aspectos de resistência ao fogo, pois o tempo de fuga é pequeno em caso de incêndio. Mas essa mesma
A palavra desempenho, que em última instância signiica comportamento em utilização,
parede pode estar subdimensionada quanto ao desempenho mecânico, quando utiliza-
foi escolhida para caracterizar o fato de que um produto deve apresentar certas proprieda-
da em edificações de múltiplos pavimentos em alvenaria estrutural.
des que o capacitem para cumprir sua função quando sujeito a certas ações (3).
São considerações feitas para as paredes externas, mas que valem para outras partes
Os produtos que compõem os edifícios estão sujeitos a uma grande variedade de ações,
do edifício. Se quisermos emitir um juízo correto sobre um novo produto, é necessário
no sentido amplo do termo, ações estas devidas aos fenômenos de origem natural, devidas
que definamos precisamente a sua função e estabeleçamos métodos que permitam ve-
à utilização do edifício e mesmo decorrentes de sua própria concepção.
rificar se ele a cumpre. Essa função vai depender, por sua vez, do tipo de edifício onde
Nas ações de origem natural, estão incluídas as ações do vento, da radiação solar, da chu-
será aplicado o novo produto, das exigências a serem satisfeitas por esse edifício, das
va, da umidade do ar, do calor, do frio, enim, as ações relacionadas ao clima da região onde
suas condições de uso, da região climática onde será construído e do tempo durante o
é construído o edifício. Relacionadas à utilização e concepção do edifício, estão as ações
qual se deseja que o novo produto ou sistema cumpra a sua função.
do fogo, das cargas permanentes, dos esforços de manuseio, dos ruídos gerados interna e
Observa-se, assim, que muitas variáveis estão envolvidas na aceitação ou não de novos produtos e novos sistemas construtivos.
Avaliar soluções inovadoras para o edifício e suas partes, comparando-as com o tradicional, carece de uma base cientíica e metodológica. É uma tendência que, no estágio atual
dos conhecimentos no campo das ciências da construção, pode e deve ser superada.
externamente, de impactos de uso, de ataques químicos por produtos de limpeza e todas
aquelas outras ações decorrentes da concepção do edifício e de seu uso.
A este conjunto de ações, atuantes no edifício durante sua vida útil, chamaremos de condições de exposição.
O produto, por sua vez, dependendo da sua natureza, possuirá certas propriedades que
Uma abordagem menos empírica e que não seja empecilho às novas soluções, carac-
podem ou não inluenciar a forma como ele reage às condições de exposição. O resultado
terizando de forma mais precisa a que deve atender o edifício e quais os métodos a
do equilíbrio dinâmico, que se estabelece entre o produto e seu meio, é chamado de
serem utilizados em sua avaliação, é a questão relevante.
desempenho do produto (3).
O conceito de desempenho apresenta-se como instrumento valioso neste sentido.
Este equilíbrio dinâmico se estabelece na prática quando o edifício, em utiliza-
Em linhas gerais, procura caracterizar o edifício como um produto definido cuja função
ção durante sua vida útil, é submetido às condições de exposição. Porém, é possível
12
13
obter uma estimativa do provável comportamento do produto, ou seja, estimar seu
espera em termos de desempenho de um produto manufaturado, possibilitando benefí-
desempenho potencial. Tal estimativa pode ser obtida através da utilização de mode-
cios econômicos e incrementos de qualidade quando da tomada de decisões (9). Outros
los matemáticos e físicos, que simulem o comportamento do produto, e da realização
grupos ainda veem, no conceito, uma boa base para elaboração de normas funcionais e
de ensaios e medidas em amostras do produto.
de códigos de obras (10).
Os resultados das observações e medidas, feitas ao longo dessas investigações, per-
Alguns institutos de pesquisa têm se utilizado também do conceito de desempenho para
mitirão uma avaliação do desempenho provável do produto. Esta avaliação frequen-
implantar sistemáticas de controle da qualidade de novos componentes e sistemas cons-
temente inclui um elemento de interpretação ou julgamento baseado, entre outras
trutivos (11, 12). É o caso do Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB) na França
coisas, na validade dos métodos de ensaio e cálculo empregados e na apreciação do
e de outros institutos europeus e americanos.
desempenho observado e medido em modelos ou protótipos, acrescentadas de outras
Ressaltam-se, como exemplos recentes de aplicação do conceito de desempenho, o caso
informações complementares úteis, da experiência de utilização do produto ou ou-
da Operação Breaktrough nos EUA, coordenada pelo National Bureau of Standards (NBS),
tros fatores que se julguem determinantes (3).
onde foram avaliados, à luz do conceito, inúmeros sistemas construtivos inovadores volta-
A avaliação de desempenho consiste, pois, em prever o comportamento potencial do edifício e suas partes quando em utilização normal.
dos para construção de habitações (13), e a edição da série de documentos técnicos Guide de
Performance du Bâtiment pelo Centre Scientifique Technique de La Construcion (CSTC) da
Bélgica, ixando as condições mínimas exigíveis para o edifício e suas partes (14).
Em 1977, em Otaniemi, Finlândia, um segundo simpósio internacional sobre o assun-
2.3. HISTÓRICO DO CONCEITO
to foi realizado, versando sobre a avaliação de desempenho de vedações verticais externas
utilizadas em edifícios.
Embora não formulado nos termos em que hoje o é, o conceito de desempenho é há al-
Em abril de 1982, em Lisboa, Portugal, teve lugar o terceiro simpósio internacional
gum tempo utilizado, particularmente nas áreas da engenharia onde a segurança estrutural
sobre o conceito de desempenho, visando, desta vez, discutir os progressos havidos
é relevante. Em outros campos, onde a industrialização hoje é avançada, como a indústria
na conceituação e sua aplicação à recuperação de edifícios deteriorados física e fun-
aeroespacial, por exemplo, já se faz uso do conceito com sucesso.
cionalmente (15).
O uso da expressão inglesa performance requirements data de 1930, mas é a partir do
Dentro do CIB foi criada, em 1970, a comissão de trabalho CIB/W60 – The Performan-
início dos anos 60 que o conceito foi tomando forma. Em 1962, no segundo congresso do
ce Concept in Building, com a tarefa inicial de estabelecer uma estrutura conceitual e
International Council for Building Research Studies and Documentation (CIB), o pesquisa-
uma terminologia sobre o desempenho dos edifícios, que pudesse ser adotada a nível
dor inglês Lea formula as primeiras questões sobre o conceito aplicado ao edifício (4). Nos
internacional, bem como promover a troca de experiências entre os vários organismos
demais congressos do CIB, o tema é novamente desenvolvido por Sneck (5) e Blach (6) em
que estudam o assunto.
1965, e por Mathey e Reichard (7) em 1968.
A comissão CIB/W60 publicou, desde sua criação, seis documentos sobre o conceito de
Em 1972, foi possível a realização de um grande simpósio internacional sobre o assunto
em Philadelphia, USA (8), reunindo as experiências conduzidas nos vários países que vi-
desempenho aplicado aos edifícios (3, 16, 17, 18, 19, 20) e hoje a atenção está voltada, principalmente, para os seguintes aspectos:
nham se utilizando do conceito de desempenho aplicado ao edifício.
A partir daí, muito tem sido escrito sobre o assunto e muitas utilizações práticas têm
sido feitas. Alguns grupos veem, na aplicação do conceito de desempenho, um meio
de encorajar e orientar inovações no campo das edificações e no desenvolvimento de
novos produtos. Outros veem, no conceito, uma forma de fixar claramente o que se
14
15
soluções inovadoras para habitações térreas unifamiliares, trabalhos estes elaborados
a. Como estabelecer, para os produtos
utilizados no edifício, um processo
racional e objetivo para definição
das condições qualitativas e
quantitativas a serem atendidas;
potencial, com as reais condições
de exposição a que o produto estará
submetido ao longo de sua vida útil
e como devem ser interpretados os
resultados destes ensaios e medidas
para efeito de avaliação;
b. Como trabalhar com desempenho
ao longo do tempo – durabilidade
– dentro da estrutura proposta
pelo conceito;
c.
para o BNH e que resultaram em textos normativos e documentos técnicos contidos
nas séries: “Normalização de Interesse da Construção de Habitação” (26) e “Avaliação de Desempenho de Habitações Térreas Unifamiliares” (27).
A conceituação e a metodologia básica, adotadas para o desenvolvimento dos trabalhos do IPT, assim como algumas considerações sobre os resultados obtidos nestas
pesquisas, encontram-se discutidos em dois artigos técnicos elaborados pelo autor do
presente trabalho (28, 29).
d. Como tornar viável a aplicação
prática do conceito de desempenho,
sem que resultem documentos
excessivamente extensos e sem
que a sistemática de avaliação de
desempenho seja proibitiva em
termos dos custos envolvidos.
Qual a relação dos ensaios e
medidas realizadas sobre o produto
visando prever seu desempenho
Ainda a nível internacional, na área de normalização de desempenho do edifício e de suas partes, importante trabalho vem sendo conduzido, desde 1979, pela International Organization for Standadization (ISO) através de seu comitê ISO/TC59.
Destacam-se, do trabalho já efetuado pelo comitê, a norma ISO 6240 (21) e o projeto
de norma ISO/DP 6241 (22) que tratam, respectivamente, do conteúdo e apresentação
das normas de desempenho voltadas para os edifícios, e dos princípios e fatores que
devem ser considerados na preparação de tais normas.
O comitê está atualmente aplicando esses documentos a partes específicas do edifício de forma a uniformizar a abordagem dos vários países membros da ISO, que estão desenvolvendo sua normalização calcada no conceito de desempenho. Ressaltamse, neste sentido, os projetos de norma destinados a fachadas, coberturas e divisórias
internas de edifícios (23, 24, 25).
No Brasil, embora as questões relativas ao conceito de desempenho tenham sido
abordadas a nível geral por Rosso (10, 11) na década de 70, a aplicação prática do conceito foi feita pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
(IPT) no desenvolvimento da normalização de componentes utilizados na construção
de habitações e no estabelecimento de diretrizes para a avaliação de desempenho de
16
17
3. METODOLOGIA PARA APLICAÇÃO DO
CONCEITO DE DESEMPENHO À AVALIAÇÃO DO
EDIFÍCIO E SUAS PARTES
A
metodologia básica para aplicação do conceito de desempenho à avaliação do
edifício e suas partes implica, inicialmente, em definir condições qualitativas
e quantitativas a serem atendidas. Tais condições, denominadas requisitos de
desempenho e critérios de desempenho, respectivamente, são fixadas em função das
exigências do usuário a serem satisfeitas pelo edifício, e das condições de exposição
a que ele está submetido.
Em um segundo momento, faz-se necessário estabelecer os métodos de avaliação
que permitam verificar se os produtos em estudo atendem àquelas condições estabelecidas inicialmente.
Esquematicamente, esta metodologia é ilustrada no quadro abaixo:
EXIGÊNCIAS
DO USUÁRIO
REQUISITOS DE
DESEMPENHO
EDIFÍCIO E
SUAS PARTES
CRITÉRIOS DE
DESEMPENHO
MÉTODOS DE
AVALIAÇÃO
Figura 1 – Metodologia de avaliação de desempenho
19
CONDIÇÕES DE
EXPOSIÇÃO
3.1. O EDIFÍCIO E SUAS PARTES
No que se refere às partes do edifício, utilizando-se de um critério funcional, pode-se
Na aplicação do conceito de desempenho, a primeira caracterização a ser feita diz
respeito ao uso do edifício em estudo, o que orienta a definição das exigências específicas do usuário a serem satisfeitas e das condições particulares de exposição.
A tal uso estão associados determinados espaços nos quais se desenvolvem as atividades previstas e partes do edifício destinadas a cumprir funções específicas.
A título de ilustração, é apresentada, na Tabela 1, uma classificação relacionando
usos e espaços do edifício, elaborada a partir da norma ISO/DP 6241.
obter urna classiicação para as mesmas.
O edifício, como já visto anteriormente, caracteriza-se como um produto cuja função é a de satisfazer as exigências do usuário.
Este grande produto pode ser dividido em elementos e instalações, caracterizados por
produtos que correspondem a partes do edifício e são destinados a cumprir um conjunto
amplo de funções, atendendo a uma ou mais exigências do usuário (27). Incluem-se, neste
caso, a estrutura, a cobertura, a instalação elétrica, a instalação hidráulica, etc.
Tais elementos e instalações, por sua vez, são formados por componentes, caracteriza-
TABELA 1 – USOS E ESPAÇOS DE EDIFÍCIOS
Uso
dos por produtos que correspondem a partes dos elementos e instalações do edifício, sendo
EXEMPLOS DE ESPAÇOS
Exemplos de edifícios
Transporte (de pessoas,
defluidos, etc.)
Poço do elevador, garagem
Estação rodoviária,
Posto de gasolina
Indústria (trabalho
manual, produção, etc.)
Oicina, hall de produção,
laboratório
Fábrica,
Edifício de laboratório
Escritório, comércio
Escritório, loja
Edifício de escritórios,
Supermercado
Cuidados médicos
Sala de operação, de consulta,
de raio x
Hospital, Posto de saúde
Esportes
Hall de ginástica, piscina,
sala de jogos
Ginásio esportivo,
Atelier de dança
Cultura
Sala de encontros,
de shows, de exibições,
de documentação, auditório
Escola,
Igreja,
Teatro
Habitação
Quarto, sala
Casa,
Edifício de apartamentos
Circulação
Corredor, escada
Passagem coberta
Abastecimento
Cozinha, refeitório
Restaurante
Higiene
Banheiro, WC
Lavatórios públicos
Limpeza, manutenção
Lavanderia, quarto de manutenção
Lavanderia pública
Armazenagem
Salas de armazenagem
Silos
20
eles destinados a cumprir, individualmente, funções especíicas (janelas, portas, pilares,
torneiras, disjuntores, etc.); e por materiais, que são produtos formados por ligas, por compostos ou por complexos químicos, cuja correspondência com funções especíicas é determinada apenas na ocasião de sua aplicação (cola, aço, concreto, madeira, tinta, etc.) (27).
Ressalta-se que as classificações quanto às partes do edifício apresentam ligeiras
variações na documentação técnica internacional sobre o assunto. As Masters Lists
do CIB (30) arrastam consigo uma classificação semelhante à adotada anteriormente:
edifícios, elementos, componentes, materiais e instalações.
A norma ISO/DP 6241 (22) aplica o termo componente de forma idêntica ao aqui
adotado e não define os termos material e edifício, mas introduz o termo subsistema para designar um conjunto de partes do edifício, que preenche uma ou várias funções, e utiliza o termo elemento para designar um agregado de componentes usados
em conjunto independentemente da sua função.
O mesmo critério é adotado pela comissão de trabalho CIB/W24 Modular Cordination quanto aos termos subsistema, elemento e componente, sendo que tal comissão trabalha também com os termos edifício e material e introduz ainda o termo
produto básico para designar componentes que servem a várias finalidades (tubos,
perfis, barras de aço, etc.).
Na Tabela 2, é apresentada uma síntese dos termos adotados pelos vários documentos citados e aqueles propostos neste trabalho.
Quanto aos elementos e instalações do edifício, é apresentada, na Tabela 3, uma listagem que auxilia na identificação das várias partes do edifício, para fins de aplicação
do conceito de desempenho.
21
TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO PROPOSTA PARA O EDIFÍCIO E SUAS PARTES
PROPOSTAS DA DOCUMENTAÇÃO INTERNACIONAL
CIB/MASTER LISTS
CIB/W24
ISSO DP/6241
PROPOSTAS
DO PRESENTE
TRABALHO
Edifício
Edifício
Sub-Sistemas
Edifício
Elementos
Sub-Sistemas
Elementos
Elementos/Instalações
Instalações
Elementos
Componentes
Componentes
Componentes
Componentes
Materiais
Produtos Básicos
Materiais
3.2. EXIGÊNCIAS DO USUÁRIO
As exigências do usuário são entendidas como o conjunto de necessidades a serem satisfeitas pelo edifício a fim de que este cumpra sua função (29).
Essas exigências dependem da finalidade para a qual o edifício é construído – seu
uso – e para cada família de edifícios – escolas, hospitais, habitações, etc. – haverá um
conjunto de necessidades comuns a serem satisfeitas.
Na definição destas exigências, além das necessidades dos ocupantes do edifício,
outras podem entrar em jogo: dos órgãos de financiamento, das companhias de seguro, dos proprietários, da vizinhança e outros segmentos que podem ser afetados pelo
planejamento, projeto, execução e utilização do edifício.
Materiais
Para os edifícios cuja finalidade é abrigar e possibilitar o exercício de atividades
TABELA 3 – ELEMENTOS E INSTALAÇÕES DO EDIFÍCIO
específicas do ser humano, as exigências do usuário podem ser expressas como exigências humanas a serem satisfeitas.
1. ESTRUTURA
Várias são as abordagens das exigências humanas na ediicação, sendo objeto de um maior
1.1 Fundações
1.2 Estrutura portante
detalhamento, no atual estágio dos conhecimentos, as exigências relativas à habitação.
2. VEDAÇÕES VERTICAIS
deradas são aquelas relacionadas à salubridade do edifício; entendidas no seu sen-
2.1 Vedações verticais externas (Fachadas)
2.2 Vedações verticais internas
tido amplo: não apenas as exigências que previnem o usuário de enfermidades ou
3. VEDAÇÕES HORIZONTAIS
usuário. A contribuição da OMS para a definição das exigências humanas na habitação
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) (32), as exigências humanas consi-
acidentes, mas também aquelas relacionadas à saúde mental e ao bem estar social do
3.1. Vedações horizontais externas (Coberturas, Pisos externos)
3.2 Vedações horizontais internas (Forros, Pisos internos)
tem sido dada via publicações de especialistas sobre o assunto, dos quais podemos
destacar o trabalho de Goromosov (33), que discute as questões do ar ambiente, microclima, iluminação e conforto das habitações; e o trabalho do Comitê de Especialistas
4. ESCADAS E RAMPAS DE ACESSO
em Higiene da Habitação, (34) que fixa os critérios fundamentais de salubridade
4.1 Escadas e rampas de acesso externas
4.2 Escadas e rampas de acesso internas
aplicáveis ao meio residencial.
Uma abordagem das exigências humanas que nos parece objetiva e abrangente é aquela
5. INSTALAÇÕES
utilizada por Blachêre (35, 36, 37), também utilizada pelo CIB através da sua comissão de
5.1 Instalações de distribuição e evacuação de águas
5.2 Instalações elétricas
5.3 Instalações térmicas e de ventilação
5.4 Instalação de distribuição de gás
5.5 Instalação de telecomunicações
5.6 Instalação de transporte eletromecânico
5.7 Instalação de segurança (para-raios, contra incêndios, contra intrusões)
22
estudos CIB/W45, formada por especialistas de várias partes do mundo e que têm se preocupado com a deinição qualitativa e quantitativa das exigências humanas (38, 39).
Segundo tal abordagem, as exigências podem ser agrupadas em fisiológicas, psicológicas, sociológicas e econômicas. Merece destaque, dentro dessa abordagem, a
“Liste de Exigences Humaines em Matiere de Logement”, publicada pela comissão
W45 do CIB (38), e a lista de exigências do usuário contida na norma ISO/DP 6241 (22).
23
Ressalta-se que a correta identiicação das exigências do usuário é uma das bases fundamentais para aplicação do conceito de desempenho. Para tal, dependendo da especiicidade
do caso em estudo, os seguintes aspectos devem ser considerados:
3.2.1. Exigências de segurança estrutural
Estão associadas à necessidade da estrutura e demais elementos do edifício não atingirem
o estado limite último, correspondente à ruína do elemento ou parte dele, seja por ruptura,
deformação excessiva ou perda de estabilidade, e o estado limite de utilização, em que o
elemento ou parte dele deixa de satisfazer as condições previstas para sua utilização ou tem
a. As limitações e peculiaridades
de cada região e população às
quais se destina o edifício;
b. Os recursos disponíveis para a
execução do edifício, sejam eles
inanceiros ou tecnológicos;
c. Dentre as exigências humanas, há
aquelas de caráter absoluto e que devem
ser satisfeitas integralmente, a partir
de mínimos aceitáveis, e aquelas de
caráter relativo, para as quais é possível
estabelecer uma correlação entre os níveis
de satisfação e os custos associados.
sua durabilidade comprometida, seja por issuração excessiva ou por deformações que ultrapassem os limites aceitáveis para utilização do elemento.
Estes estados não devem ser atingidos quando o edifício estiver sujeito a solicitações estáticas e dinâmicas de serviço, agindo tanto isolada como combinadamente e a solicitações
cíclicas que possam levar à fadiga.
3.2.2. Exigências de segurança ao fogo
Podem ser traduzidas pelas necessidades de:
Na Tabela 4, é apresentada uma lista de 14 exigências do usuário julgadas aplicáveis aos
• Limitação do risco de início de incêndio dentro do próprio edifício, o que é função do
edifícios e que serve como orientação em aplicações do conceito de desempenho. A lista-
nível de risco dos equipamentos existentes, que podem ser fontes acidentais de fogo, e
gem foi elaborada a partir da norma ISO/DP 6241. Em seguida, cada exigência é comentada
das características de reação ao fogo dos materiais constituintes do edifício;
qualitativamente.
• Limitação do risco de propagação do fogo, da fumaça e de gases tóxicos gerados, caso
TABELA 4 – EXIGÊNCIAS DO USUÁRIO
ocorra o incêndio. Quando se trata de propagação entre ambientes do edifício, tal exigência implica em ixar para os seus componentes e elementos características especiais
quanto à resistência ao fogo, visando compartimentar o foco de incêndio no recinto onde
6.
Exigências de segurança estrutural.
Exigências de segurança ao fogo.
Exigências de segurança à
utilização.
Exigências de estanqueidade.
Exigências de conforto
higrotérmico.
Exigências de pureza do ar.
8. Exigências de conforto acústico.
9. Exigências de conforto tátil.
10. Exigências de conforto
antropodinâmico.
11. Exigências de higiene.
12. Exigências de adaptação à
utilização.
13. Exigências de durabilidade.
7.
Exigências de conforto visual.
14. Exigências de economia.
1.
2.
3.
4.
5.
foi gerado; e, para os materiais constituintes, em ixar características especiais quanto à
reação ao fogo. Quando se trata de propagação entre edifícios, há implicações quanto à
implantação dos mesmos e quanto às características de suas vedações externas ou paredes que separam edifícios;
• Garantia de alerta e fuga dos ocupantes do edifício em caso de incêndio, seja por seus
próprios meios ou graças a auxílio exterior, implicando na existência de sistemas de detecção e alarme e de rotas de escape dos usuários para compartimentos seguros no interior do edifício ou para o exterior;
• Disponibilidade de sistemas de extinção de incêndio internos e externos ao edifício, visando, o mais rapidamente possível e com segurança, o combate ao fogo.
24
25
3.2.3. Exigências de segurança à utilização
Estão relacionadas à necessidade de:
Estas exigências são ixadas para duas situações: inverno e verão. No que se refere ao edifício, são traduzidas pela limitação da temperatura do ar interior; da temperatura radiante
orientada; da diferença entre a temperatura radiante média dos ambientes e a temperatura
• Segurança na circulação e movimentação no edifício, implicando em limitações da inclinação e
do ar; da diferença entre as temperaturas supericiais dos componentes e a temperatura do
atrito dos pisos, na inexistência de ressaltos em pisos, tetos e paredes, em níveis de luminância
ar e pelo controle de ventilação, da condensação supericial e da condensação no interior
mínimos em áreas de circulação e na existência de dispositivos que impeçam quedas acidentais
dos componentes do edifício.
de andares elevados e permitam que as operações de limpeza sejam feitas de forma segura;
3.2.6. Exigências de pureza do ar
• Segurança para evitar que os equipamentos e instalações provoquem explosões, asixias,
Estão associadas, basicamente, à necessidade de garantir a pureza do ar no interior do
queimaduras, cortes, choques, radioatividade e infecções e que, em contato com eles,
edifício e de controlar os odores provenientes da construção ou das atividades conduzidas
inale-se substâncias venenosas.
pelos seus ocupantes.
Para o edifício, tal exigência é traduzida por taxas de ventilação mínimas a serem ixa-
• Segurança contra intrusões de animais ou homens.
das, objetivando: a limitação da concentração de gás carbônico; a garantia de uma taxa de
oxigênio mínima à respiração; a garantia de dissipação dos odores produzidos e a garantia
3.2.4. Exigências de estanqueidade
de remoção do monóxido de carbono gerado internamente. Neste último caso, em que o
gás é gerado pela queima de combustíveis, além da taxa de ventilação, devem ser previstos
Três exigências estão envolvidas:
dispositivos especiais (chaminés) para evacuar os subprodutos da queima.
• Estanqueidade ao ar, implicando em limitar a permeabilidade ao ar da envoltória externa
do edifício, de forma a não permitir a ocorrência de correntes de ar frio que prejudiquem
o conforto do usuário, e a limitar as perdas de calor do interior para o exterior devido às
3.2.7. Exigências de conforto acústico
As seguintes exigências devem ser consideradas:
frestas, especialmente em situações críticas de inverno;
• Exigências relativas ao nível sonoro aceitável para as várias atividades desenvolvidas
• Estanqueidade à água proveniente da chuva, à água existente no solo, às águas de abasteci-
no interior do edifício (trabalho intelectual, trabalho braçal, repouso diurno, sono, etc.);
mento e de lavagem e às águas servidas. Esta exigência aplica-se à envoltória externa do edifício (fachadas, coberturas e pisos), às áreas internas molháveis e as instalações hidráulicas;
• Exigências relativas aos ruídos de impactos provenientes de paredes laterais ou lajes do
edifício, em particular os atos de caminhar;
• Estanqueidade às poeiras e aos materiais sólidos, aos insetos e aos animais nocivos de pequeno porte. Esta exigência aplica-se às fachadas, coberturas, pisos e às instalações do edifício.
• Exigências relativas aos ruídos de equipamentos exteriores ao edifício e mesmo aos equipamentos coletivos (canalizações de água, elevadores, caldeira, ar condicionado, etc.);
3.2.5. Exigências de conforto higrotérmico
As exigências de conforto higrotérmico visam limitar as sensações desagradáveis provo-
• Exigências relativas aos ruídos de tráfego terrestre e aéreo;
cadas pela perda excessiva de calor pelo corpo, pela desigualdade de temperatura entre as
diversas partes do corpo, pela diiculdade de eliminar o calor produzido pelo organismo e
pela presença de superfícies frias e/ou molhadas.
26
• Exigência de sonoridade, que se exprime em tempo de reverberação dos compartimentos,
relevante em edifícios destinados a inalidades especíicas (teatro, cinema, música, etc.);
27
• Exigências de intimidade, traduzindo uma exigência de natureza psicossociológica,
• Conforto nas operações de manobra dos vários componentes do edifício – portas, jane-
onde objetiva-se evitar a inteligibilidade da conversa de um edifício para outro. Pode ser
las, registros, torneiras, equipamentos elétricos, etc. –, conforto no caminhar, deslocan-
traduzida por uma necessidade de isolação.
do-se horizontal e verticalmente, implicando em limitações na inclinação de rampas e
nas dimensões de degraus de escadas.
3.2.8. Exigências de conforto visual
3.2.11. Exigências de higiene
Estão associadas às necessidades de:
As exigências de higiene visam garantir que o edifício seja construído e equipado de forma
• Usufruir de luz para ver o que se faz sem fadiga ou se deslocar sem perigo. Esta neces-
que a saúde do usuário não ique prejudicada por efeitos provenientes do uso normal do edifí-
sidade é traduzida por: níveis de luminância mínimos para as várias atividades condu-
cio. Nesse sentido, as exigências de estanqueidade, conforto higrotérmico, pureza do ar, confor-
zidas no interior do edifício; limitação da luminância máxima nos planos de trabalho e
to visual e conforto acústico podem ser parcialmente consideradas como exigências de higiene.
dos contrastes de luminância para se evitar o ofuscamento; garantia de estabilidade da
Especiicamente nesse grupo, podem ser consideradas as necessidades de:
luminância, limitando-se, para tal, a relação entre a luminância máxima instantânea e a
luminância média, e garantia de estabilidade do espectro de luz da fonte luminosa. Estas
• Abastecimento de água potável, para consumo humano, em quantidade necessária a
exigências devem ser consideradas para a iluminação natural e artiicial, tanto isolada-
atender a demanda dos usuários e com condução e armazenamento tal que a água não
mente quanto para sistemas que envolvam ambos os tipos de iluminação;
seja contaminada por micro-organismos patogênicos ou substâncias tóxicas;
• Obscuridade para o sono, limitando-se a iluminância que deve incidir sobre as pálpebras;
• Evacuação das águas servidas, esgotos e lixos provenientes das atividades conduzidas no interior do edifício, a im de se eliminar o risco de disseminação de agentes patogênicos, acu-
• Qualidade do que se vê no edifício. Embora pouco conhecida, esta exigência está associada
mulação e fermentação de materiais e desprendimento de gases nocivos ou mal cheirosos;
ao fato do homem ser sensível ao espaço interior do edifício do ponto de vista dimensional – dimensão mínima do pé direito, relação máxima entre comprimento e largura de
compartimentos – e também à qualidade das superfícies dos compartimentos: cor, textura,
• Existência de instalações apropriadas que possibilitem a satisfação das necessidades isiológicas e de higiene pessoal do usuário;
regularidade, verticalidade, horizontalidade, etc. Nesta exigência, está englobada também
a necessidade do homem travar contato visual com o mundo exterior ao edifício.
• Existência, no caso de edifícios destinados à habitação, de recintos e equipamentos adequados para lavagem de roupas e louças e para estocar, preparar e consumir os alimentos.
3.2.9. Exigências de conforto tátil
No caso de outros edifícios – hospitais, escolas, fábricas, escritórios, etc. – recintos e
São exigências de ordem bastante geral e visam evitar o contato da pele com superfícies
equipamentos especíicos devem ser previstos;
demasiado rugosas, cortantes ou viscosas e com superfícies quentes, úmidas ou molhadas.
• Limpeza e desinfecção do edifício, especialmente de seus revestimentos interiores, a um
3.2.10. Exigências de conforto antropodinâmico
pequeno custo e sem que haja danos para a construção.
Podem ser traduzidas pelas necessidades de:
3.2.12. Exigências de adaptação à utilização
• Limitação de acelerações e vibrações – transientes e contínuas – provocadas pela ação do vento
Têm um caráter psicossociológico acentuado e, embora formuladas de forma genérica, são
ou de equipamentos, abrigados ou não pelo edifício, e às quais o corpo humano é sensível;
bastante relevantes quando se trata do desempenho de edifícios. Dois aspectos são destacados:
28
29
• A adequação dos recintos do edifício quanto ao seu número, tamanho, geometria, subdi-
3.3. CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO
visão e inter-relação, tendo em vista as necessidades dos usuários;
Conforme já mencionado anteriormente, as condições de exposição, a que está sub• A possibilidade de instalação e uso dos equipamentos necessários às atividades conduzidas no edifício (eletricidade com potência suiciente, pontos de telefone em número suiciente, recintos com dimensões adequadas à colocação de móveis e equipamentos, etc.).
metido um produto, serão entendidas como o conjunto de ações atuantes sobre este
durante sua vida útil.
Ressalta-se que, para cada uma das exigências do usuário a serem satisfeitas, corresponderá um conjunto de condições de exposição a se considerar, sendo as ações atuantes de
3.2.13. Exigências de durabilidade
origem natural ou devidas à própria utilização e concepção do edifício.
A exigência básica do usuário quanto à durabilidade é a conservação do desempenho do
Assim, no caso da exigência de conforto higrotérmico, as condições de exposição serão ca-
edifício ao longo de sua vida útil, de forma que todas as exigências, inicialmente ixadas, con-
racterizadas pelo conjunto de variáveis climáticas que ocorrem no período de verão e inverno
tinuem sendo satisfeitas durante o período previsto para sua utilização, estando o edifício
numa dada região. Esse conjunto de variáveis é composto por: temperatura do ar, umidade
em condições normais de uso e submetido aos serviços normais de manutenção e reposição.
relativa, insolação, radiação solar, ventos e precipitações. Ao se partir dos valores que tais vari-
De uma forma mais especíica, a exigência de durabilidade pode ser traduzida, quanto às
áveis assumem, no período mais frio e no período mais quente do ano, pode-se identiicar as
partes do edifício, considerando as necessidades de:
zonas climáticas de verão e inverno, ou seja, regiões que, para efeito de avaliação do desempenho higrotérmico de uma ediicação, apresentam características climáticas semelhantes (39).
• Limitação do nível de degradação de materiais e componentes quando submetidos à
Já no caso da exigência de segurança estrutural, as condições de exposição serão caracte-
ação acelerada dos agentes agressivos, atuantes e provenientes da atmosfera, do solo e
rizadas pelas sobrecargas normais e acidentais de utilização do edifício, pela ação do vento,
da própria utilização do edifício;
pelos recalques da fundação, pelas vibrações e pelas variações de temperatura e umidade,
que originam movimentações da própria estrutura ou de elementos a ela justapostos (28).
• Impedir a utilização conjunta de materiais físico-quimicamente incompatíveis e de de-
Ressalta-se, como fundamental para aplicação do conceito de desempenho, a correta ca-
talhes construtivos que possam contribuir para a deterioração e consequente diminui-
racterização das condições de exposição a que está submetido o edifício, pois muitos dos
ção da vida útil dos componentes e elementos do edifício.
limites quantitativos a serem ixados para o comportamento do produto – assim como os
métodos de avaliação, notadamente aqueles que simulam tais condições através de ensaios –
3.2.14. Exigências de economia
serão deinidos a partir desta caracterização.
Dada a diversidade de situações socioeconômicas e as especiicidades dos programas
de construção, as exigências de economia são formuladas de maneira genérica e envolvem, fundamentalmente, a adequação do custo global do edifício à disponibilidade de
recursos inanceiros de seus proprietários/locatários/usuários.
A complexidade para a caracterização das condições de exposição varia em função da
exigência do usuário em abordagem.
Quanto à segurança estrutural, muitas destas condições já estão normalizadas (sobrecargas
de utilização, ação do vento, etc.), sendo que, para outras exigências, necessita-se de um cui-
O custo global é entendido como o custo inicial da obra, somado aos custos de manu-
dado mais apurado nesta caracterização. Em certos casos, como de durabilidade, por exemplo,
tenção e reposição, acrescidos, ainda, dos custos de operação do edifício – custos relativos
onde estão envolvidas correlações entre envelhecimento natural e artiicial para deinição de
ao consumo de água, de energia elétrica, etc. Nesse sentido, além da acessibilidade ao custo
ensaios acelerados, são necessários estudos mais aprofundados sobre a questão.
inicial, ressalta-se que os custos de manutenção e reposição devem ser pouco onerosos e con-
A título de orientação, é apresentada na Tabela 5 uma listagem qualitativa dos principais
venientemente espaçados no tempo, assim como os custos de operação devem ser os meno-
agentes que atuam sobre o edifício, classiicando-os quanto a sua natureza e origem. A ta-
res possíveis, obviamente estando garantida a satisfação das demais exigências do usuário.
bela foi construída a partir da norma ISO/DP 6241.
30
31
TABELA 5 – AGENTES ATUANTES NO EDIFÍCIO
EXTERIOR À EDIFICAÇÃO
NATUREZA/ ORIGEM
INTERIOR À EDIFICAÇÃO
ATMOSFERA
SOLO
IMPOSTOS PELA OCUPAÇÃO
CONSEQUÊNCIAS DA CONCEPÇÃO
1.1 Gravidade
• Cargas de neve, água e chuva
• Pressão do solo, de água
• Sobrecarga de utilização
• Cargas permanentes
1.2 Forças e deformações impostas
• Pressão de gelo, dilatações térmica e
higroscópica
• Escorregamentos, recalques
• Esforços de manobra
• Retrações, fluência, forças e
deformações impostas
1.3 Energia cinética
• Vento, granizo, choques exteriores
• Choques interiores, abrasão
• Impactos de corpo mole
1.4 Vibrações e ruídos
• Ruídos exteriores
• Ruídos interiores
• Vibrações interiores
• Ruídos da ediicação Vibrações da ediicação
• Lâmpada, radiação nuclear
• Painel radiante
1. AGENTES MECÂNICOS
• Sismos
• Vibrações exteriores
2. AGENTES ELETROMAGNÉTICOS
2.1 Radiação
• Radiação solar
2.2 Eletricidade
• Raios
• Correntes parasitárias
2.3 Magnetismo
• Correntes de distribuição
• Campos magnéticos
• Campos magnéticos
• Reaquecimento, congelamento
Choque térmico
• Reaquecimento, congelamento
• Calor emitido, cigarro
• Aquecimento, fogo
4.1 Água e solventes
• Umidade do ar, condensação, precipitação
• Água de superfície
• Água subterrânea
• Ações de lavagem com água, condensações,
detergentes, álcool
• Águas de distribuição, águas servidas, infiltrações
4.2 Oxidantes
• Oxigênio, ozônio, óxidos de nitrogênio
• Hipoclorito de sódio (água de lavadeira)
• Água oxigenada
• Potenciais eletroquímicos positivos
• Sulfetos
• Agentes combustíveis
• Amônia
• Agentes combustíveis
• Potenciais eletroquímicos positivos
• Ácido carbônico
• Ácidos húmicos
• Vinagre, ácido cítrico
• Ácido carbônico
• Ácido sulfúrico
• Ácido carbônico
• Cales
• Soda cáustica, hidróxido de potássio,
hidróxido de amônio
• Soda cáustica, cimentos
3. AGENTES TÉRMICOS
4. AGENTES QUÍMICOS
4.3 Redutores
4.4 Ácidos
• Ácido carbônico,
• Excrementos de pássaros, Ácido sulfúrico
4.5 Bases
4.6 Sais
• Névoa salina
• Nitratos, fosfatos, cloretos, sulfatos
• Cloreto de sódio
• Cloreto de cálcio, sulfatos, gesso
4.7 Matérias inertes
• Poeira
• Calcário, sílica
• Gorduras, óleos, tintas, poeira
• Gorduras, óleos, poeira, sujeira
5.1 Vegetais
• Bactérias, grãos
• Bactérias, fungos, cogumelos, raízes
• Bactérias, plantas domésticas
5.2 Animais
• Insetos, pássaros
• Roedores, vermes
• Animais domésticos
5. AGENTES BIOLÓGICOS
32
33
Nessa tabela, os agentes são listados de acordo com sua natureza e não de acordo com a
natureza das suas ações sobre o edifício e suas partes. Assim, são englobados:
A seguir, para cada uma das exigências selecionadas e considerando os correspondentes
grupos de agentes atuantes, pode-se derivar os requisitos pertinentes, listando-os e enunciando-os qualitativamente.
Exempliicando para o caso de divisórias internas não portantes, para utilização em
M Agentes mecânicos;
M Agentes térmicos;
M Agentes
eletromagnéticos;
M Agentes químicos;
M Agentes biológicos.
edifícios de escritórios, as exigências do usuário aplicáveis seriam:
EXIGÊNCIAS DO USUÁRIO
A origem dos agentes pode estar no exterior do edifício, ser proveniente da atmosfera ou do solo e ser provocada por fenômenos naturais ou pelo próprio homem. Pode
estar também no interior do edifício e ser consequência da utilização de seus espaços
M
M
M
M
M segurança estrutural;
M segurança ao fogo;
M conforto acústico;
conforto tátil;
adaptação à utilização;
durabilidade;
economia.
ou decorrente de sua própria concepção.
Os agentes atuantes, por sua vez, seriam:
3.4. REQUISITOS E CRITÉRIOS DE DESEMPENHO
Caracterizado o uso do edifício e as partes deste que serão objeto da avaliação e identiicadas, as exigências do usuário a serem satisfeitas e as condições de exposição atuantes,
a etapa seguinte da metodologia de aplicação do conceito de desempenho é o estabeleci-
AGENTES MECÂNICOS
M peso próprio;
M cargas suspensas;
M vento;
M impactos;
M ruídos provenientes
dos locais vizinhos;
M vibrações do edifício;
M estrutura e
demais elementos.
mento dos requisitos e critérios de desempenho a serem atendidos pelo produto, seja
ele o próprio edifício, ou um de seus elementos ou componentes.
Os requisitos de desempenho serão entendidos como as condições qualitativas às
quais um produto deve atender quando submetido às condições de exposição, a im de que
AGENTES TÉRMICOS
M variações de temperatura
e umidade relativa.
M focos acidentais de fogo;
sejam satisfeitas as exigências do usuário (29).
Os critérios de desempenho, por sua vez, serão entendidos como as condições quantitativas às quais um produto deve atender quando submetido às condições de exposição, a
im de que sejam satisfeitas as exigências do usuário (29).
Os critérios traduzem-se, na verdade, pela quantiicação dos requisitos antes expressos
qualitativamente. A listagem e a enunciação qualitativa dos requisitos de desempenho são
AGENTES QUÍMICOS
M potenciais eletroquímicos
positivos ou negativos;
M água e umidade;
M produtos de limpeza.
AGENTES BIOLÓGICOS
M insetos e bactérias.
as primeiras tarefas nesta etapa da metodologia. Para tal, são inicialmente selecionadas, a
partir das listagens indicadas nas Tabelas 4 e 5, as exigências do usuário e os agentes que
são aplicáveis ao produto em análise, tendo em conta a função especíica que este produto
ocupa no edifício e seu uso.
34
35
A listagem dos requisitos seria, então, expressa pelos seguintes pontos:
Cada um destes requisitos seriam, a seguir, enunciados qualitativamente, estabelecendo-se as condições a serem atendidas pelo produto. Como exemplo, para dois dos vinte e
SEGURANÇA
ESTRUTURAL
Resistência às
cargas impostas pela
estrutura e demais
elementos;
2. Resistência aos impactos
de corpo mole;
3. Resistência aos
impactos de corpo duro;
4. Resistência aos
impactos de porta;
1.
SEGURANÇA AO FOGO
5. Reação ao fogo;
6. Resistência ao fogo;
CONFORTO ACÚSTICO
Isolação aos
ruídos aéreos;
8. Comportamento aos
ruídos de impacto;
9. Absorção acústica;
CONFORTO TÁTIL
10. Planitude
da superfície;
11. Aspereza
da superfície;
ADAPTAÇÃO À
UTILIZAÇÃO
12. Aptidão para receber
ixação de cargas
suspensas;
13. Aptidão para receber
componentes de
instalações em
seu corpo;
14. Aptidão para receber
acabamentos
diferenciados;
7.
DURABILIDADE
15. Variações
dimensionais sob
efeito de temperatura;
16. Variações dimensionais
sob efeito da umidade;
17. Comportamento do
acabamento a agentes
de limpeza;
18. Compatibilidade
físico-química de
materiais utilizados
conjuntamente;
19. Comportamento
sob ação biológica
acelerada (quando
aplicável);
ECONOMIA
20. Limitação e
espaçamento, ao longo
do tempo, dos custos
de manutenção e
reposição.
um requisitos listados para a divisória:
ISOLAÇÃO ACÚSTICA
RESISTÊNCIA AOS
IMPACTOS DE CORPO MOLE
M A divisória deve apresentar uma
isolação acústica aos ruídos aéreos,
tal que contribua para manter os
níveis de ruído dos ambientes
dentro de limites de conforto
aceitáveis para as atividades
conduzidas em seu interior.
M A divisória deve resistir a impactos de
corpo mole, provenientes da utilização
do edifício, sem apresentar colapso
total ou parcial, delexões máximas e
residuais excessivas, nem deteriorações
localizadas de difícil reparo.
É fundamental a condução deste exercício da forma mais ampla possível, visando-se obter uma listagem exaustiva de requisitos que, depois, possa ser priorizada em função da
signiicância de cada um deles, ou de especiicidades próprias da aplicação do conceito de
desempenho que está sendo feita (19).
Enunciadas as condições qualitativas a serem atendidas pelo produto, a tarefa seguinte é a
de quantiicação destas condições, estabelecendo-se, assim, os critérios de desempenho.
Tal tarefa pressupõe que as exigências do usuário e as condições de exposição já
estejam corretamente caracterizadas, inclusive quantitativamente, pois os critérios
serão produto do cruzamento entre as exigências e as condições de exposição.
Exemplificando para o caso do elemento cobertura, sendo a isolação térmica em
uma situação de inverno o requisito a ser atendido.
A exigência do usuário seria expressa em termos de uma temperatura mínima, que deve ser
atendida no interior do edifício (ex.: 18 ºC); a condição de exposição seria expressa como a média das temperaturas mínimas no período de inverno, característica da região climática onde
se encontra o edifício (ex.: 8 ºC); o critério de desempenho nasceria do cruzamento dessas duas
situações e seria expresso em termos da resistência térmica a ser exigida da cobertura (28).
O exemplo dado contém uma particularidade, que pode ser generalizada para outros casos, qual seja a regionalização dos critérios, aspecto fundamental da aplicação do conceito
de desempenho.
36
37
Ressalta-se que, embora os critérios de desempenho, na sua maioria, sejam expressos quanti-
O quinto método de seleção é baseado em estudos sistemáticos das exigências do
tativamente por níveis de comportamento do produto quando submetido às condições reais de
usuário, em campo e em laboratório, transformando-os em critérios de desempenho,
utilização, ou a ensaios que reproduzem tais condições, alguns deles têm um caráter prescritivo,
quando as conclusões destes estudos forem sendo obtidas. É um método aplicável
sendo expressos como recomendações que visam fazer com que o produto obedeça a certas regras
quando não há informações acumuladas sobre determinada área e apoia-se em um pro-
de concepção e construção, aceitas como de bom funcionamento, algumas inclusive já normaliza-
grama de pesquisa extenso e contínuo.
das. Referem-se a estas recomendações, por exemplo: diâmetros e declividades mínimas de tubu-
Todos os cinco métodos descritos têm o objetivo fundamental de selecionar critérios
lações em instalações hidráulicas; existência de dispositivos de proteção com certas característi-
que propiciem a satisfação das exigências do usuário e podem ser utilizados de forma
cas em instalações elétricas; compatibilidade físico-química de materiais usados conjuntamente.
diferenciada e combinada de acordo com o estado do conhecimento nos vários campos
A seleção dos critérios de desempenho, a serem atendidos por um determinado produto,
da ciência da construção (20).
pode ser feita por vários métodos e processos, que guardam estreita relação entre si (20).
A primeira forma de seleção tem caráter subjetivo e se assenta sobre o conhecimento e
julgamento de um especialista ou na discussão e consenso de um grupo. É aplicável àqueles
3.5. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO
critérios que têm caráter prescritivo e são expressos através de recomendações, principalmente aos critérios que abordam aspectos sobre os quais não se tem informações acumuladas, mas precisam ser deinidos a curto prazo.
Os métodos de avaliação serão entendidos como técnicas uniformizadas que permitem veriicar se um determinado produto atende aos critérios de desempenho para ele ixados (29).
Uma segunda forma de seleção dos critérios é aquela baseada na disponibilidade de métodos de ensaio já em utilização no campo da construção, que são analisados e selecionados
por grupos de especialistas, ixando-se níveis de desempenho do produto quando subme-
3.5.1. Ensaios e medidas
Ressaltam-se dois tipos de ensaios e medidas:
tido ao ensaio. Esse é o caso, por exemplo, do critério relativo à resistência à abrasão de
revestimentos de piso, em que são disponíveis vários métodos de ensaio que dependem do
a. Ensaios e medidas para determinação de propriedades físicas e químicas de produtos
tipo de material constituinte do revestimento, podendo-se selecionar um deles e ixar o nível de desempenho desejado para o revestimento, considerando-se o uso previsto para este.
São os ensaios e medidas já consagrados pelo uso no campo dos materiais de constru-
A seleção, baseada na análise funcional do produto, é um terceiro método utilizado. Con-
ção e componentes das ediicações. Caracterizam-se por permitir a determinação de pro-
siste em deinir as principais funções do produto e estabelecer uma lista ampla de critérios
priedades deinidas do produto em condições padronizadas de laboratório, não havendo
associados a tais funções, selecionando-os, em seguida, dentre esta gama de opções.
correspondência entre os ensaios e as condições reais de exposição a que está submetido o
O quarto método utilizado é aquele cuja seleção dos critérios é baseada no conhecimento
produto durante sua vida útil. São conhecidos também como ensaios de caracterização.
do comportamento de produtos em uso. Esse conhecimento pode se dar através de: cata-
Os resultados desses ensaios, muitas vezes, não permitem uma verificação direta
logação de problemas patológicos ocorridos em edifícios durante a fase de uso; pesquisas
do atendimento ao critério de desempenho, mas fornecem dados para a operação de
junto aos fabricantes a im de veriicar os tipos de reclamações dos clientes sobre o produto;
modelos de comportamento do produto, permitindo a condução de cálculos através
exposição do produto a condições naturais e análise do seu comportamento sob tais condi-
dos quais aquela verificação é possível (vide item 3.5.2).
ções (exposição ao envelhecimento natural de materiais plásticos, por exemplo); medidas
Exemplos desses ensaios são: determinação da condutibilidade térmica de mate-
das ações introduzidas no edifício pelo usuário e observação do comportamento do produ-
riais, da absorção de água de revestimentos de piso, da resistência à compressão do
to sob tais ações; análise estatística de resultados de ensaios efetuados em laboratórios, ve-
concreto e da vazão de água da torneira.
riicando-se o peril de comportamento de produtos em períodos de tempo determinados.
38
39
b. Ensaios e medidas de desempenho
São ensaios e medidas onde se tenta reproduzir as condições de exposição a que está
submetido o produto de uma maneira simpliicada e padronizada, permitindo a veriicação direta do atendimento ao critério de desempenho. A Figura 2, extraída do documento
Working with the Performance Approach in Building (20), permite visualizar algumas condições
de exposição que podem ser reproduzidas através de ensaios.
Chuva e vento
Fogo
Impactos (corpo mole)
Impactos (corpo duro)
Carga estática
Abrasão
Ruídos
Carga dinâmica
Pela própria igura, observa-se que tais ensaios podem ser conduzidos em campo, ou
seja, no próprio edifício, ou em laboratório, onde protótipos e amostras do produto são submetidos às veriicações.
Uma questão fundamental a ser ressaltada é relativa à validade do ensaio, ou seja, se existe
relação entre o desempenho do produto nos ensaios e seu desempenho na prática. Neste aspecto, é fundamental correlacionar cientiicamente as condições de exposição reais e aquelas
estabelecidas no ensaio, embora à custa de certo grau de simpliicação e padronização.
Para tal, faz-se necessário, quanto às condições de uso do edifício, investigações de campo visando quantiicar as ações introduzidas pelo usuário. Já quanto às condições naturais
de exposição, trabalhar com maior número de dados possíveis, tratando-os estatisticamente, a im de estabelecer os valores signiicativos para as ações que se quer simular no ensaio.
Para os ensaios de desempenho, assim como para os de caracterização, é de grande importância o atendimento às regras de repetitividade (*) e reprodutividade (**), aspecto fundamental quando se trata de ins de aprovação de produtos (18, 20).
M (*) REPETITIVIDADE (r) - Valor máximo esperado para a diferença entre pelo
menos dois resultados, obtidos com a mesma amostra e o mesmo método sob as
mesmas condições, tais como: mesmo operador, mesmo equipamento, mesma
data para as replicações, mas que poderá ser diferente para as repetições (41).
M (**) REPRODUTIVIDADE (R) - Valor máximo esperado para a diferença entre
pelo menos dois resultados, obtidos com a mesma amostra e o mesmo método,
sob condições diferentes, em laboratórios e datas diferentes, mas que poderá
ser a mesma (41).
40
Figura 2 – Exemplos de condições de exposições que podem ser reproduzidas por ensaios
41
Quanto à amostragem estatística, embora seja importante estabelecer uma relação
entre a amostra, cujo desempenho é verificado pelo ensaio, e a população do produto,
existem algumas limitações.
O alto custo de alguns ensaios, a pouca disponibilidade de certos equipamentos
M O cálculo do tempo de evasão dos usuários de um edifício de escritórios em caso
de incêndio, feito a partir do conhecimento das condições de ocupação de suas
salas e dos tamanhos e disposições das rotas de escape previstas no projeto (22);
mais sofisticados, as diferenças de montagem e acabamento entre os produtos verificados em laboratório e os colocados em obra, muitas vezes impedem a condução de
um número suficiente de ensaios, que permita estabelecer correlações significativas
entre a amostra e a população.
M O cálculo da carga para a qual o estado limite de utilização é atingido em uma parede,
baseado na resistência de seus materiais constituintes e na distribuição de tensões na parede.
Devido à complexidade e ao alto custo dos ensaios de desempenho, não se recomenda
usá-los para o controle de qualidade na produção, para o qual se necessitam ensaios simples e de rápida execução. Abre-se a possibilidade, nesse caso, de estabelecerem-se, para
Da mesma forma que nos ensaios de desempenho, a validade do modelo teórico de com-
produtos especíicos, alguns ensaios simpliicados para o controle de produção, derivados
portamento adotado, ou seja, sua relação com o real é o aspecto fundamental a se considerar.
dos ensaios de desempenho e com os quais exista uma correlação direta (18).
Para se deinir o modelo, é necessário, primeiro, uma correta caracterização dos fenômenos
Um último aspecto a ressaltar diz respeito à relação entre o ensaio de desempenho e a
físicos em questão e a utilização das técnicas adequadas de modelagem matemática. Antes
natureza dos materiais utilizados nos componentes e elementos, existindo alguns ensaios
de utilizá-lo como método de avaliação, ele deve ser aferido, devendo, para tal, realizar-se
que são especíicos para determinados materiais, não se aplicando aos demais. A avaliação
uma série de ensaios no produto em condições reais de exposição e operar-se o modelo para
de materiais polímeros quanto à durabilidade é um exemplo: dispõe-se de uma série de mé-
as mesmas condições.
todos de ensaios acelerados para se proceder ao envelhecimento artiicial, porém, a escolha
A consistência dos dados que vão alimentar o modelo – as propriedades do produto
do método apropriado vai depender do tipo de polímero, pois os mecanismos de degrada-
e as condições de exposição para as quais se quer verificar o seu comportamento – são
ção do material são diferenciados para cada um destes tipos (18).
também elementos indispensáveis para a utilização de tal método de avaliação.
3.5.2. Cálculos e simulações
3.5.3. Julgamento
Neste caso, um modelo teórico de comportamento do edifício ou de suas partes é adota-
A verificação do atendimento aos critérios de desempenho é também possível por
do e por via analítica, a partir de certas propriedades dos materiais e componentes consti-
um julgamento de especialistas, com base na experiência de casos e condições simi-
tuintes, assim como das condições de exposição. Estima-se tal comportamento e veriica-se
lares já conhecidos e consagrados pelo uso.
se este satisfaz aos critérios de desempenho estabelecidos.
Alguns exemplos:
Este método de avaliação é aplicável primeiro aos critérios que são formulados de
uma forma prescritiva. O julgamento, nesses casos, é baseado na análise do projeto
ou na inspeção de protótipos do produto, os quais têm como objetivo verificar se as
M O cálculo da temperatura do ar interior de uma habitação, feito a partir de um
modelo de transmissão de calor que leva em conta as propriedades térmicas dos seus
componentes e as condições climáticas da região onde será implantado no edifício;
prescrições e recomendações constantes do critério de desempenho são atendidas.
O julgamento aplica-se também quando se trata de avaliação de inovações tecnológicas,
para as quais não há antecedentes de utilização e os resultados dos ensaios e dos cálculos
não permitem conclusões diretas sobre o atendimento a um determinado critério. O julgamento, nesse caso, se assenta na opinião de especialistas, baseada em seus conhecimentos
cientíicos sobre o assunto em questão e em casos similares por eles já abordados.
42
43
4. CONSIDERAÇÕES E RECOMENDAÇÕES
Quanto à complementação do corpo normativo nacional pela introdução de normas de
desempenho, para tornar-se um sistema operacional, é preciso que esteja apoiada em tipos
A
de normas diferenciadas (22) e voltadas para os seguintes pontos:
contribuição do conceito de desempenho à avaliação do edifício, seus elementos e
componentes mostra-se bastante signiicativa.
Primeiro, por propiciar uma base racional e objetiva para a avaliação de desempenho,
calcada em condições qualitativas e quantitativas, a serem atendidas pelo produto, e em métodos de avaliação padronizados.
Esta base é proporcionada não só para a avaliação do edifício e seus elementos, mas tam-
1.
Especiicações de desempenho,
indicando as condições qualitativas
e quantitativas a serem atendidas
pelos produtos;
3.
bém dos componentes do edifício, conforme vem demonstrando a experiência internacional e os trabalhos conduzidos no Brasil pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) no
campo dos edifícios habitacionais (26, 27, 28, 29).
Decorrente desse aspecto, está a contribuição do conceito de desempenho para a normalização do edifício, seus elementos e componentes.
Ressalta-se que, neste campo da normalização do edifício, seus elementos e componen-
2. Métodos de avaliação, descrevendo os
procedimentos de ensaios e medidas
de desempenho e os procedimentos
de cálculo que permitam veriicar se
as especiicações são atendidas;
Formatação e uniformização do
conteúdo das especiicações de
desempenho e dos documentos que
descrevem o desempenho de produtos
avaliados à luz dessas especiicações
(catálogos de produtos, por exemplo);
4. Deinições, princípios e dados básicos
a serem adotados para a elaboração de
especiicações e métodos de avaliação.
tes, a aplicação do conceito permite a elaboração das normas de desempenho, que procuram ixar os requisitos e critérios de desempenho aos quais o produto deve atender, de
acordo com sua utilização, diferenciando-se das normas prescritivas hoje utilizadas, cujo
Ainda no campo normativo, mas focando no campo dos códigos de obras, o conceito de
caráter é o da descrição do produto ou do procedimento construtivo para se chegar a produ-
desempenho tem uma contribuição valiosa a dar, pois as funções a serem satisfeitas pelos
tos com qualidade mínima (28).
diferentes tipos de edifícios – para salvaguardar a segurança, a saúde e o conforto de seus
Tais normas de desempenho, por não se aterem a produtos constituídos por materiais
usuários, objeto precípuo da regulamentação contida nesses códigos – podem ser descritas
especíicos e de concepções determinadas, mas por possuírem um caráter funcional, abrem
em termos de requisitos e critérios de desempenho a serem atendidos pelo edifício, por
espaço às inovações tecnológicas no campo da construção civil. Um espaço não existente
seus espaços e por suas diferentes partes. Nesse sentido, há uma estreita ligação entre os
no quadro normativo brasileiro atual.
códigos e as normas de desempenho, servindo, estas últimas, de subsídios para a regula-
Não se conclui por uma substituição de normas prescritivas por normas de desempenho,
mentação do edifício como um todo.
mas sim por uma complementação do corpo normativo nacional, pela introdução destas
Ressalta-se que a principal contribuição do conceito de desempenho, na área de desenvolvi-
últimas e por uma compatibilização entre elas, caminhando-se para a inclusão nas espe-
mento de novos produtos e sistemas construtivos para o mercado da construção, é a de propor-
ciicações voltadas aos componentes e aos sistemas construtivos tradicionais, já normali-
cionar uma orientação racional para este desenvolvimento, permitindo ao fabricante ou cons-
zados, dos níveis de desempenho atingidos por tais produtos quando executados segundo
trutor adotar concepções de projeto, processos de produção e materiais apropriados, resultando
a boa técnica.
em produtos inais econômicos e com um desempenho que atenda às exigências dos usuários.
Neste aspecto, ressalta-se uma particularidade quanto às normas prescritivas nacionais,
Os produtos, conforme já discutido, podem ser entendidos como componentes espe-
que é a de não cobrirem integralmente os vários produtos e serviços característicos dos sis-
cíficos, elementos e instalações ou o edifício como um todo. Neste último caso, a con-
temas construtivos tradicionais. A complementação desse corpo de documentos prescriti-
tribuição do conceito de desempenho é voltada à orientação para elaboração de projetos
vos é, hoje, também uma tarefa relevante no campo da normalização.
em suas várias instâncias.
44
45
Na fase de concepção, o projetista pode, em certos casos, ser informado pelo cliente so-
Ressalta-se que o Certiicado de Homologação, como aqui colocado, não garante integral-
bre os níveis de desempenho a serem atingidos pelo edifício e suas partes. É o caso, por
mente a qualidade do produto, mas é apenas uma avaliação técnica favorável. O objetivo de
exemplo, em que a abordagem de desempenho é utilizada por um incorporador e constru-
um sistema de controle assim organizado é fazer com que todo produto novo que se lance
tor para especiicar o que se deseja de um edifício habitacional. É possível, em outros casos,
no mercado seja submetido a um estudo técnico rigoroso com a inalidade de melhor carac-
que o próprio projetista, a partir do instrumental conceitual e metodológico discutido nos
terizar seu desempenho e sua utilização (28).
capítulos 2 e 3, deina os níveis de desempenho a serem atendidos por projetos especíicos,
As necessidades básicas para implementar um sistema nesses moldes são:
de acordo com a peculiaridade do programa do empreendimento, em conformidade com
os recursos disponíveis pelo proprietário, e considerando as particularidades regionais e
outros fatores julgados pertinentes pelo projetista.
Na fase de deinição de detalhes de projeto e de especiicações de materiais e componentes, o projetista, além de detalhar e especiicar, orientado pelos níveis de desempenho
a serem atendidos pelo edifício e suas partes, pode conduzir um processo de seleção de
componentes a partir do conhecimento do desempenho de uma faixa ampla de produtos,
admitindo-se, é claro, a existência de um sistema em operação em que tais informações
constassem dos catálogos de produtos disponíveis no mercado.
1.
A existência de diretrizes para
a avaliação de desempenho dos
vários componentes e elementos
do edifício, indicando as condições
qualitativas e quantitativas a
serem atendidas e os métodos de
avaliação aplicáveis;
3. A existência de equipes
multidisciplinares de especialistas
nas várias áreas definidas pelas
exigências do usuário – segurança,
habitabilidade e durabilidade –
que possam operar com exatidão
os modelos de comportamento
previstos nos métodos de avaliação,
interpretar os resultados dos
ensaios e emitir julgamentos sobre
a viabilidade de uso dos produtos
em processo de certificação.
Ampliando-se o campo de aplicação no contexto da elaboração de projetos, a conceituação de desempenho pode também ser útil na área de recuperação funcional de edifícios
para novos usos e mesmo de assentamentos urbanos subnormais. Dentro deste enfoque,
abre-se um campo amplo de trabalhos e pesquisas relativos à questão habitacional, cujo
escopo estaria voltado à recuperação de edifícios utilizados como cortiços e à recuperação
2. A existência de laboratórios
neutros e capacitados que possam
executar os ensaios e medidas de
desempenho previstos;
de favelas e loteamentos precários localizados na periferia do espaço urbano.
Quanto ao controle da qualidade do processo de produção de produtos e sistemas construtivos inovadores, faz-se necessária a elaboração de um conjunto de recomendações e
À luz desse conjunto de necessidades e das disponibilidades existentes na realidade bra-
ensaios para o controle de projeto e de produção, visando obter-se um desempenho satisfa-
sileira atual, pode-se airmar que é possível, a médio prazo, a implantação de um sistema
tório do produto e dos sistemas e uma menor variabilidade entre as propriedades, quando
de controle baseado em Certiicados de Homologação no campo habitacional, respaldado
da fabricação ou montagem em série, adotando-se critérios estatísticos adequados que per-
pelos agentes inanceiros e operacionalizado por institutos de pesquisa, laboratórios pri-
mitissem estabelecer correlações entre as amostras ensaiadas e as respectivas populações.
vados e empresas de consultoria técnica que disponham das duas últimas condições an-
A grande contribuição do conceito de desempenho, no campo da inovação e controle da
teriormente descritas: laboratórios neutros e capacitados e equipes multidisciplinares de
qualidade, está em possibilitar a implantação de um sistema de controle de produtos base-
especialistas.
ados em Certiicados de Homologação (10), cuja base técnica são conjuntos de requisitos,
O sistema de controle da qualidade, baseado em Certiicados de Homologação, não deve
critérios de desempenho e métodos de avaliação, ixados para cada produto em particular.
ser confundido com o sistema de Certiicação de Conformidade pelo qual se atesta, atra-
Tal sistema tem aplicação para novos componentes e sistemas construtivos para os quais
vés de um Certiicado ou de uma Marca, a conformidade de um produto com normas ou
não há, ainda, uma normalização prescritiva disponível e signiica uma avaliação da viabi-
especiicações técnicas. Este sistema é aplicável a produtos já normalizados e pode envol-
lidade de uso de um determinado produto (28).
ver, além de ensaios no produto, conduzidos em amostras adquiridas no mercado ou reti-
46
47
radas na fábrica, a veriicação e o acompanhamento do controle de qualidade exercido na
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
produção do fabricante que solicita a Marca de Conformidade. A Certiicação de Conformidade aplicada à construção civil é discutida em seus múltiplos detalhes em artigo técni-
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processo de incorporação, projeto, construção e operação de edifícios: usuários, agentes
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inanceiros, fabricantes, projetistas, incorporadores, construtores, entidades normalizado-
Paris, Centre Scientiique et Technique du Bâtiment, 1975. (Report 32).
ras, órgãos públicos regulamentadores, laboratórios, institutos de pesquisa, empresas de
consultoria e empresas de gestão do uso e operação de edifícios.
Vale ressaltar que a utilização de tal conceituação e metodologia deve se revestir de um
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caráter extremamente dinâmico, evitando-se aplicações mecanicistas a nossa realidade.
Isto, fundamentalmente, por se tratar de uma conceituação e de uma metodologia que
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teve origem, e vem progredindo intensamente, em países considerados desenvolvidos,
TOWARDS INDUSTRIALIZED BUILDING, 3, Kopenhagen, 1965. Proceedings... Amsterdam, Else-
onde a realidade social, econômica, cultural e tecnológica é bastante diversa da brasileira.
vier Publishing Co.,1966, P.360-361.
Na aplicação do conceito de desempenho à nossa realidade, hão de ser consideradas as
especiicidades nacionais e regionais envolvidas, especialmente as nossas características
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climáticas e as exigências do homem e da mulher brasileiros, o que implica em um proces-
BUILDING, 3, Kopenhagen, 1965. Proceedings... Amsterdam, Elsevier Publishing Co.,1966, P.
so constante e contínuo de pesquisas, a im de não incorrermos em posturas que, embora
205-206.
formalmente avançadas, são, no essencial, supericiais e, pior, colonizadas.
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