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RBGG v16 n4 - artigo02 (1)

INTRODUÇÃO

As associações verificadas entre o índice de massa corporal (IMC) com a mortalidade [1][2][3] e o aumento das taxas de risco para doenças, como infarto do miocárdio, 4 acidente vascular cerebral, 5 diabetes, 6 obesidade 7 e diversos tipos de cânceres, 7,8 além da adiposidade corporal, 3,9 fornecem a base lógica para uso do IMC na predição da obesidade. Ademais, o IMC oferece vantagens evidentes e indiscutíveis, visto que, além da facilidade de obtenção e rápido acesso, as medidas necessárias para seu cálculo apresentam elevada reprodutibilidade e exigem um treinamento simples e equipamentos pouco onerosos, 9,10 o que pode auxiliar o desenvolvimento de políticas de atenção à saúde da pessoa idosa.

O IMC tem sido o recurso mais utilizado para avaliar os riscos de saúde relacionados ao sobrepeso e à obesidade, 10 Apesar de ter sido validada em idosos, a equação desenvolvida no estudo de Deurenberg et al. 16 utilizou-se de uma amostra de idosos europeus, mais precisamente holandeses. Portanto, diante das possíveis diferenças morfológicas, relacionadas à genética, às influências ambientais e socioculturais, estilo de vida e condições de saúde e funcionalidade dos sujeitos, 17 antes de utilizar generalizadamente uma equação de regressão, é necessário verificar sua validade cruzada em outras amostras. [17][18][19] Portanto, utilizando-se como método de referência a DXA, o objetivo deste estudo foi avaliar a validade cruzada da equação de Deurenberg et al., 16 a fim de verificar a adequabilidade de seu uso numa amostra composta por mulheres com idades a partir de 50 anos.

MATERIAL E MÉTODOS

População e amostra

A população-alvo do presente estudo foi composta por 186 mulheres que, engajadas em programas de atividades físicas de lazer ofertadas por instituições de terceira idade do município de Maceió, aceitaram participar como voluntárias da pesquisa. Para compor a amostra deste estudo descritivo, 20 ou levantamento transversal, foram selecionadas por sorteio simples, dentre a população citada, 65 mulheres que atenderam aos critérios de inclusão: serem fisicamente ativas, funcionalmente independentes e com idades acima de 50 anos.

Seriam excluídos do estudo os sujeitos que: 1) reportassem possuir quaisquer doenças que pudessem afetar o sistema músculo-esquelético (exemplo: neuropatias, doença de Cushing, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer ativo ou tratamento recente para câncer); 2) utilizassem medicamentos capazes de alterar a composição corporal (exemplo: corticoides, andrógenos ou drogas antiandrógenas e antipsicóticos); 3) tivessem sofrido infarto do miocárdio recentemente; 4) possuíssem massa corporal superior a 100kg (devido à capacidade de atenuação da DXA); 5) tivessem o perímetro do quadril maior que 65cm (largura da mesa da DXA) e 6) os que não tiveram todos os dados da avaliação da composição corporal e da entrevista coletados.

Para verificação dos critérios de inclusão e exclusão, os sujeitos foram entrevistados com auxílio de um questionário geral, desenvolvido para o estudo, pelo questionário de avaliação funcional multidimensional (OARS) e pela aferição das medidas antropométricas. Após a avaliação dos critérios de inclusão e exclusão, 25 mulheres com idades entre 50 a 73 anos (59,04 ± 7,2 anos) foram submetidas às avaliações.

Medidas antropométricas

Todas as participantes foram medidas com roupas leves, respeitando-se os protocolos recomendados por Lohman et al. 21 A massa corporal foi expressa em quilogramas (com sensibilidade de 0,1kg) e realizada a medição em uma balança mecânica (Filizola ® , São Paulo, Brasil); a estatura, expressa em metros (com sensibilidade de 0,05m), foi mensurada por meio de um estadiômetro portátil de parede (Seca ® , Baystate Scale & Systems, USA).

Para o cálculo do índice de massa corporal (IMC), utilizou-se a razão entre a massa corporal e o quadrado da estatura, expresso em kg/m².

Estimativa do percentual de gordura por meio da equação

Para a predição da GC (%GIMC), utilizouse a equação proposta por Deurenberg et al., 16 onde: %GIMC= 1,20 (IMC) + 0,23 (IDADE) -10,8 (SEXO); a idade é aferida por meio dos anos completos, sendo o sexo expresso pelo número "0", visto que todas eram mulheres.

Medida da gordura corporal por meio da DXA

Para a medida da gordura corporal, utilizou-se a DXA (%GDXA), método que vem sendo utilizado como critério em estudos semelhantes. 16

DISCUSSÃO

O estudo destinou-se a estabelecer a validação cruzada da equação proposta por Deurenberg et al. 16 para avaliação da gordura corporal de mulheres com idades a partir de 50 anos (59,04 ± 7,2 anos). Considerando que esse recurso é de fácil aplicabilidade e baixo custo, a validação de seu uso fornece uma ferramenta importante para avaliação da composição corporal de idosos.

Considerando-se o %GDXA como referência (tabela 1) e a classificação proposta por Lohman, 25 que propõe que sejam classificadas como obesas as mulheres que apresentem %G iguais ou maiores que 32%, a amostra foi classificada como obesa, quando avaliada pelas duas técnicas -%GIMC e %GDXA. Por outro lado, quando considerado o valor médio do IMC, classificado de acordo com os pontos de corte propostos especificamente para idosos, 26 a amostra seria classificada como eutrófica.

Aparentemente conflitantes, esses resultados podem ser explicados pelas alterações morfológicas ocorridas durante o processo de envelhecimento, visto que, com a senescência, além de haver aumento na quantidade de gordura corporal, esta é redistribuída, 7 passando a se concentrar nas regiões abdominal e intramuscular. 15 Adicionalmente, verifica-se diminuição da densidade mineral óssea 27 e da quantidade de massa muscular esquelética, 2 especialmente entre as mulheres pós-menopausadas, 2,27 levando a uma baixa sensibilidade do IMC para detectar a gordura corporal.

Equações antropométricas de maior precisão e praticidade para utilização em pesquisas de campo poderiam eliminar vieses decorrentes de mudanças morfológicas próprias do envelhecimento. No presente estudo, quando realizada a comparação entre os resultados dos %G verificados pelas duas técnicas (%GIMC e %GDXA) por meio do teste t pareado, não foram verificadas diferenças estatisticamente significantes (p=0,368).

Guedes & Rechenchoski, 28 utilizando como amostra sujeitos adultos de ambos os sexos (174 moças e 257 rapazes) e idades entre 18 e 30 anos, com o objetivo de verificar a validação de quatro diferentes equações antropométricas (utilizando dobras cutâneas) com a equação de Deurenberg et al., 16 também não observaram diferenças estatísticas entre as técnicas. Entretanto, comparações com tal estudo são problemáticas, devido à utilização de uma amostra com diferentes características etárias, morfológicas, e níveis de atividades físicas das observadas no presente estudo. Além disso, naquele estudo, os padrões de referência utilizados foram equações preditivas que utilizam as dobras cutâneas (DC). Quanto aos CCI, estes variaram entre 0,46 e 0,61, a depender da equação utilizada. Os baixos CCI podem ter sido observados devido ao maior erro inter e intra-avaliador, derivado da utilização da técnica de DC em sujeitos obesos e idosos. 22,29 Na mesma direção, no Sul do Brasil, Rech et al., 22 em amostra composta por 180 idosos de ambos os sexos (120 mulheres e 60 homens), com idades entre 60 e 81 anos, verificaram a validade cruzada de sete equações antropométricas para a estimativa do %G, dentre as quais a equação de Deurenberg et al., 16 Na análise de Bland e Altman 23 , os limites dos intervalos de confiança (média ± 1,96 desvios-padrão) estabeleceram-se entre 12,88% e -10,67%, demonstrando certa variabilidade quanto à concordância entre os valores estimados por ambos os métodos e apontando para a possibilidade de má classificação dos sujeitos quanto à quantidade de gordura corporal. Os sujeitos podem ser classificados como obesos, mas podem não sê-lo, bem como podem ser classificados como eutróficos, sendo obesos.

Diante do reduzido número de estudos relacionados ao tema, e das limitações apresentadas pelo presente estudo, nomeadamente no que se refere ao pequeno tamanho da amostra e ao fato de todos os sujeitos serem fisicamente ativos e do sexo feminino, sugere-se, para um entendimento mais abrangente sobre a utilização generalizada da equação preditiva de Deurenberg et al., 16 a realização de novas pesquisas com metodologia semelhante, mas utilizando amostras maiores compostas por sujeitos de ambos os sexos e de diferentes níveis de aptidão física.