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Trabalho de Conclusão de Curso
Cálculo de Fadiga no Domínio
da Frequência
2015
José Guilherme Baggio Amuchastegui
iESSS – Instituto ESSS de Pesquisa e Desenvolvimento
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Resumo
O presente trabalho consiste na aquisição de dados de deformação e vibração,
processamento de sinais, análise de elementos finitos e cálculo de fadiga no
domínio da frequência através dos métodos das 03 Bandas, Lalanne e Dirlik.
As técnicas experimentais de aquisição de dados, são amplamente utilizadas
para determinar o comportamento de estruturas, como também para se ter ideia
dos carregamentos que o sistema sob análise está sujeito.
As aquisições de dados aliadas a simulações estruturais com o método dos
elementos finitos, tem sido amplamente utilizada em todos os ramos da
engenharia, pois são capazes de reduzir custos através da otimização, análise
de falhas, tempo no desenvolvimento de produto e redução no número de
protótipos.
A fadiga é responsável por aproximadamente 90% das falhas mecânicas,
segundo ASM International Organization, sendo tradicionalmente determinada
através de cargas no domínio no tempo, utilizando as técnicas de tensão e
deformação. Anteriormente ao cálculo da vida de fadiga, é necessário conhecer
as tensões da peça sob análise e em muitos casos, as análises no domínio no
tempo são custosas e inviáveis, o que acaba requerendo a análise no domínio
da frequência para a obtenção das respostas estruturais. Em muitos casos da
engenharia, onde o equipamento está sujeito a cargas aleatórias, é necessário
a coleta de dados por um grande período de tempo, se obtendo sinais longos
gerando grandes arquivos que fazem com que o processamento de sinal e o
cálculo estrutural pelo método dos elementos finitos no domínio do tempo seja
muito extenso, e em muitos casos inviável.
O cálculo de fadiga no domínio da frequência pode ser realizado através de
carregamentos PSD (Power Spectrum Density) que são obtidos através da
Transformada de Fourier do sinal no domínio do tempo e passam a ser
analisados no domínio da frequência. Este tipo de análise facilita a compreensão
e análise dos dados, como também reduz expressivamente o tempo da análise
estrutural pelo método dos elementos finitos, considerando um modelo linear
com carregamento aleatório.
As metodologias utilizadas para a pesquisa foram a aquisição de dados
experimentais de deformação e vibração em corpo de prova submetido a
carregamentos aleatórios, análise estrutural pelo método dos elementos finitos
utilizando a ferramenta ANSYS e cálculo do dano de fadiga no domínio da
frequência utilizando o software nCode.
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Sumário
1 - Introdução ...............................................................................................................................5
1.1
Justificativa ...................................................................................................................5
1.2
Metodologia .................................................................................................................5
1.3 Estrutura.............................................................................................................................5
2 – Aquisição de Dados e Processamento de Sinais .....................................................................6
2.1 Tipos de Sinais ....................................................................................................................6
2.2 Transformada de Fourier ....................................................................................................9
2.3 Taxa de Amostragem ........................................................................................................12
2.4 Janelamento (Windowing) ...............................................................................................13
2.5 Filtros Digitais ...................................................................................................................17
3 – Análise Estrutural de Elementos Finitos ...............................................................................20
3.1 Análise Modal ...................................................................................................................20
3.2 Análise Harmônica............................................................................................................23
3.2.1 Método Full ...............................................................................................................23
3.2.2 Método de superposição modal ................................................................................24
3.3 Análise Aleatória ..............................................................................................................25
4 – Fadiga ...................................................................................................................................27
4.1 - Método S-N ....................................................................................................................28
4.1.1 Contagem de Ciclos ...................................................................................................29
4.1.2 Conceito de Dano .....................................................................................................30
4.2 - Método e-N ....................................................................................................................31
4.2.1 Relação Ramberg Osgood ..........................................................................................33
4.2.2 Efeito Bauschinger .....................................................................................................34
4.2.3 Curva e-N ...................................................................................................................35
4.3 – Fadiga no Domínio da Frequência .................................................................................36
4.3.1 Método das 03 Bandas ..............................................................................................37
4.3.2 Dirlik e Lalanne ..........................................................................................................38
5 – Estudo de Caso .....................................................................................................................42
5.1 – Objetivo .........................................................................................................................42
5.2 – Corpo de Prova ..............................................................................................................42
5.3 – Instrumentação .............................................................................................................44
5.4 – Teste de Impacto ...........................................................................................................46
5.5 – Aquisição de Dados .......................................................................................................53
5.6 – Processamento de Sinais ...............................................................................................54
5.6.1 Vibração Domínio do Tempo: ....................................................................................54
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5.6.2 Aplicação de Filtro: ....................................................................................................55
5.6.3 Verificação distribuição normal .................................................................................56
5.6.4 Power Spectrum Density (PSD) ..................................................................................59
5.7 – Análise de Elementos Finitos .........................................................................................61
5.7.1 – Geometria...............................................................................................................61
5.7.2 – Malha......................................................................................................................61
5.7.3 – Validação Elementos Finitos (extensometria e modal vs elementos finitos) ..........62
5.7.4 – Análise Harmônica ..................................................................................................67
5.7.5 – Análise Aleatória (PSD) ...........................................................................................69
5.8 – Cálculo de Fadiga ...........................................................................................................70
5.8.1 Método das 03 Bandas ..............................................................................................70
5.8.2 Lalanne ......................................................................................................................71
5.8.3 Dirlik ..........................................................................................................................73
5.9 - Conclusão .......................................................................................................................75
Referencias.................................................................................................................................78
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1 - Introdução
1.1 Justificativa
Diversos equipamentos e máquinas mecânicas estão submetidos a
carregamentos aleatórios, como por exemplo; carros, caminhões, turbinas
eólicas, plataformas de petróleo offshore, circuitos eletrônicos, entre outros. A
fadiga é o principal fenômeno que leva a falha mecânicas, sendo responsável
pelo desenvolvimento de várias técnicas para a determinação do dano e vida de
fadiga. Inicialmente todas as técnicas eram realizadas no domínio do tempo,
sendo de difícil aplicação e utilização em situações de carregamentos aleatórios,
onde era necessário o conhecimento das tensões e deformações de estruturas
através de analises transientes que na maioria dos casos eram demoradas e
pouco precisas. Com o início da utilização de análises estruturais no domínio da
frequência, onde a função de resposta estrutural é obtida em função das
frequências, foi necessário o desenvolvimento de metodologias para o cálculo
de fadiga em função dessas respostas.
1.2 Metodologia
As técnicas experimentais para aquisição de dados de deformação e vibração
foram realizadas através de sensores uniaxiais e placas de aquisição portáteis
multi canais, sendo o software responsável pela coleta e análise dos dados o
Signal Express da National Instruments. As análises de elementos finitos foram
realizadas no Ansys Workbench 16.1 versão acadêmica e o cálculo de fadiga
utilizando o método Lalanne e Dirlik com o software nCode versão 16.0
disponibilizado pela iESSS.
1.3 Estrutura
O primeiro capítulo fornece noções básicas de aquisição e processamento de
sinais, onde é explicado os conceitos de sensor, placa de aquisição, como
também a utilização de ferramentas para a análise dos sinais necessárias para
a obtenção de curvas PSD. O segundo capítulo fornece uma breve introdução
de análise modal, harmônicas e aleatórias utilizando o método dos elementos
finitos, análises essas que foram necessárias para a realização do cálculo de
fadiga no domínio da frequência. O terceiro capítulo, apresenta o conceito de
fadiga no domínio do tempo, utilizando a metodologia S-N e e-N e por fim explica
as três metodologias que foram aplicadas no trabalho para o cálculo de fadiga
no domínio da frequência, sendo elas o método das 03 bandas, Lalanne e Dirlik.
O quarto capítulo consiste no estudo de caso do cálculo de fadiga em uma barra
de aço presa em um carro submetido a carregamentos aleatórios, onde todas as
etapas de aquisição, processamento de sinais, análise de elementos finitos e
cálculo de fadiga no domínio da frequência são explicadas em detalhe para a
obtenção da vida e dano do componente.
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2 – Aquisição de Dados e Processamento de Sinais
A análise experimental na engenharia, é a área responsável por realizar
medições de fenômenos que são de interesse para o entendimento e estudo de
estruturas, máquinas e equipamentos. Essas medições são realizadas através
de placas de aquisição ou também chamados coletores que tem como função
coletar o sinal de um sensor para a conversão de dados digitais que possam ser
processados e analisados em computadores.
Sensores
Placas de
Aquisição
Computadores
Os sensores são capazes de converter parâmetros físicos em sinais elétricos
que são interpretados pela placa de aquisição. Exemplos de sensores e suas
utilidades são citados abaixo:
Termopar Capaz de medir temperatura
Fotosensor Capaz de medir luminosidade
Microfone capaz de medir som
Extensômetro (strain gauge) capaz de medir deformação
Acelerômetro capaz de medir aceleração
Este capitulo tem como objetivo dar uma breve introdução na aquisição de sinais
bem como no processamento dos dados para se obter as respostas desejadas,
dando enfoque em processamento de sinais de vibração, que será alvo das
análises de elementos finitos e cálculo de fadiga.
2.1 Tipos de Sinais
As aquisições de sinal são realizadas no domínio do tempo, ou seja, os sensores
coletam os dados ao decorrer do tempo, sendo que as respostas obtidas podem
ser representadas de forma gráfica, sendo na ordenada o valor da amplitude do
fenômeno que está sendo medido, e na abscissa os valores de tempo.
Se tratando de vibração, os sinais possuem amplitude e frequência podendo ser
representado pelo gráfico abaixo:
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Figura 1 - onda senoidal com representação de amplitude e comprimento de onda
No sinal representado acima, é fácil de identificar a existência de uma amplitude,
como também uma frequência que é o inverso do tempo para a ocorrência de 01
comprimento de onda. De acordo com o comportamento dos sinais ao longo do
tempo, são classificados os tipos de sinais existentes:
Tipos de Sinais
Estacionários
Determinísticos
Não Estacionários
Aleatório
Periódico
Continuo
Transiente
Quasi periódico
Sinais Estacionários – Apresentam as mesmas componentes de frequência
durante toda sua duração;
Sinais Aleatórios – apresentam incertezas quanto a sua ocorrência, não
podem ser representados por função matemática e são representados
através de sua característica estatística (média, variância, autocorrelação,
etc);
Sinais Determinísticos – são sinais que podem ser representados com
exatidão por funções matemáticas;
o Determinísticos Periódicos – são sinais que se repetem com a
mesma frequência em toda sua duração;
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o Determinístico Quase Periódico – são sinais descritos por um
somatório de sinais periódicos, ou seja, possuem várias
frequências que se repetem em sua duração;
Sinais Não Estacionários – Não apresentam as mesmas componentes de
frequência durante sua duração;
Transiente - são decorrente de eventos únicos e não possuem
característica periódica;
Contínuo – são decorrentes de sinais aleatórios puros, ou seja, cada
amostra se difere da outra, não satisfazendo as condições de normalidade
e verificação estatísticas (média, variância, etc).
Sinais Estacionários
Aleatório
Determinístico
Ex. carro em estrada (estacionário)
Ex. Onda senoidal, máquina rotativa
Sinais Não Estacionários
Transiente
Contínuo
Ex. teste de impacto
Ex. carro em estrada (não estacionário)
Como visto acima, existem vários tipos de sinais que variam diferentemente um
do outro ao longo do tempo. Na prática para a análise dos sinais é realizado a
Transformada de Fourier que consiste na transformação do sinal no domínio do
tempo para o domínio da frequência.
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2.2 Transformada de Fourier
O domínio da frequência é apenas uma maneira diferente de descrever um sinal
no domínio do tempo, em que a abcissa é expressa em frequência em vez de
tempo.
Para se transformar os sinais do domínio do tempo para o domínio da frequência,
deve se aplicar a Transformada de Fourier, que consiste em representar o sinal
do tempo em várias ondas senoidais e transformá-las para o domínio da
frequência. A expressão matemática responsável por esta transformação é dada
por:
∞
−�
� =∫
−∞
Onde a resposta da transformada de Fourier é composta por uma parcela de
números reais e imaginários, de amplitude e fase.
Para se ter uma ideia da transformada de Fourier, abaixo é proposto
primeiramente uma função senoidal no domínio do tempo e posterior
transformação para o domínio da frequência.
Carregamento
3
2
1
0
0
-1
0,2
0,4
0,6
0,8
1
-2
-3
Force
Figura 2 - onda senoidal no domínio do tempo
FFT
2,5
2
1,5
1
0,5
0
0
2
4
6
8
Figura 3 - transformada de Fourier da onda senoidal
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10
10
As respostas no domínio da frequência são largamente utilizadas no
processamento de sinais, pois fazem com que a interpretação dos dados seja
mais direta e simples, alguma das utilidades práticas dessa ferramenta são
listadas abaixo:
Análise de vibração em manutenção preditiva;
Análise de vibração para análise de sinais aleatórios;
Detecção de frequências naturais de maneira experimental;
Figura 4 - correlação entre sinal no domínio do tempo e da frequência
Como pode ser visto acima, o sinal no domínio do tempo pode ser “separado”
em várias ondas senoidais para formar o sinal no domínio da frequência
(espectro).
A FFT produz a frequência média existente de um sinal ao longo de toda a
aquisição, portanto, deve-se utilizar a FFT para sinais estacionários ou em casos
onde é necessário se obter a média da energia em cada frequência. O processo
de transformada de Fourier (FFT) mantém a unidade que foi medida no domínio
do tempo, ou seja, se os dados no tempo estão expressos em aceleração, a FFT
terá o eixo Y como aceleração, se foi velocidade, a FFT terá o eixo Y como
velocidade, e assim por diante.
Figura 5 - medição de deformação no domínio do tempo na figura esquerda e FFT do sinal a
direita contendo valores de deformação
O que acontece nesses casos é que nem sempre a FFT gera resultados
adequados para a validação estrutural de componentes. Isso acontece
principalmente em componentes que estão submetidos a carregamentos
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estacionários aleatórios, pois a frequência de operação do equipamento não é
conhecida e utilizar apenas a FFT não representará corretamente a energia e o
dano que o carregamento provocará no componente.
Para esses casos, deve-se calcular a potência de cada frequência (Power
Spectrum) da FFT, elevando a amplitude de cada componente de frequência ao
quadrado. Portanto, a potência na ℎ frequência, é calculada por :
:
�[ ] =
= |�[ ]|
ê
A densidade espectral de potência (Power Spectral Density) é a potência de cada
frequência calculada, sendo normalizada utilizando o filtro de 1Hz centrado na
frequência de interesse.
=
∆
Como já comentado anteriormente, o PSD é utilizado para a análise de sinais
aleatórios pois representa a densidade de força ou energia para cada faixa de
frequência e descreve como a variação dos sinais é distribuída no domínio da
frequência, tendo sua unidade expressa por exemplo em g²/Hz. A área abaixo
da curva PSD é a variância da resposta, ou seja, o quadrado do desvio padrão.
Vale lembrar que o PSD somente é válido para sinais aleatórios estacionários,
sendo que as características estatísticas do sinal devem obedecer a distribuição
normal, podendo ser considerado como processo aleatório Gaussiano.
Para analisar se o sinal é realmente estacionário, é necessário se obter um
número de gravações do sinal aleatório em diferentes tempos e verificar se os
mesmos atendem a condição de normalidade, onde é calculado a média e desvio
padrão dos dados. Caso o sinal se comporte de acordo com a distribuição
normal, pode-se dizer que todos os dados contidos naquela amostra
representam de maneira estatística o carregamento que o componente estará
submetido em sua vida.
Para processos não estacionários os dados obtidos em um período não são
representativos para os demais, sendo que os dados estatísticos são alterados
de uma amostra para outra. Na prática existem muitos fenômenos que são não
estacionários, como por exemplo as condições dos ventos, das marés, condição
do tempo, etc.
A análise de processos não estacionários se torna muito complexa e inviável
muitas vezes para a análise estrutural de componentes, portanto o que se faz na
prática é considerar parcelas dos processos não estacionário para que ele seja
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aproximado de um estacionário. Por exemplo, a condição do vento se for
analisada o ano inteiro provavelmente será não estacionária, porém se for
comparado apenas os dados de relativas estações do ano pode se chegar a
sinais com características estacionárias.
Se tratando de validação estrutural com o método dos elementos finitos, para
cada um dos sinais existe uma análise adequada para se capturar as respostas
de tensão, deformação e deslocamento de componentes. O presente trabalho
tem como objetivo dar enfoque nos sinais estacionários aleatórios.
2.3 Taxa de Amostragem
Outro ponto muito importante para a aquisição de dados, é a taxa de
amostragem, que nada mais é do que a intervalo de tempo entre a captura de
dados de um ponto e outro. Como já visto no início deste capitulo a aquisição de
dados é realizada através de um sensor que gera sinais elétricos que são
enviados para o aquisitor, que tem como função discretizar o sinal enviado pelo
sensor em instantes de amostragem, transformando-o em um sinal digital, como
mostra a figura abaixo:
Figura 6 - etapas da aquisição de sinal especificando o sinal continuo sendo discretizado em
instantes de amostragem e posteriormente sendo digitalizado
O grande problema na taxa de amostragem é que deve-se conhecer a frequência
máxima do sinal aquisitado para a determinação de uma correta taxa de
aquisição.
Se a taxa de aquisição for muito baixa (subamostragem), ocorre um efeito
indesejado na coleta dos dados que é chamado de “aliasing”, onde a frequência
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existente no sinal não é corretamente capturada, gerando-se um novo sinal que
não representa a realidade.
Figura 7 - efeito de aliasing
Na figura acima o sinal original está representado em azul com a frequência de
9Hz, enquanto que o sinal vermelho representa os pontos coletados com uma
taxa de aquisição de 12Hz. Note que o sinal vermelho não condiz com o sinal
original, gerando uma nova frequência que não é coerente.
De acordo com o Teorema de Nyquist, a taxa de amostragem deve ser maior
que o dobro da maior frequência existente no sinal de interesse, para que possa
ser reproduzido integralmente sem erro de aliasing. A frequência de Nyquist
pode ser calculada como sendo a metade da maior frequência de interesse e na
prática deve-se aplicar um filtro que remova as frequências acima dela.
Aquisitores modernos já contemplam filtros anti-aliasing durante o processo de
aquisição de dados para que este problema não ocorra.
2.4 Janelamento (Windowing)
As coletas de dados são realizadas em função do tempo, e a placa de sinal
adquire sinais de forma discreta e finita, e portanto para a realização da FFT é
necessário a consideração de uma janela de tempo que prevê a periodicidade
do sinal para que a transformação matemática seja possível. O grande problema
é que a janela de aquisição pode não contabilizar ciclos completos de uma
determinada frequência, gerando erros de conversão para a FFT, podendo
aumentar as frequências reais existentes no sinal no domínio do tempo,
fenômeno este que é denominado de “leakage”.
Abaixo é mostrado uma FFT realizada em um sinal no tempo, quando a janela
contabiliza um período inteiro do sinal, e outra quando contabiliza uma fração do
ciclo.
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Figura 8 - coleta do sinal considerando um número inteiro de períodos
Figura 9 - FFT do sinal medido considerando um número inteiro de períodos
Figura 10 - coleta do sinal considerando número fracionado de períodos
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Figura 11 - FFT do sinal considerando número fracionado de períodos
Quando o número de períodos não é inteiro, o final dos sinais são descontínuos,
e geram frequências altas que não estão presentes no sinal original. As
frequências abaixo do original são decorrentes do fenômeno de aliasing como já
foi visto nesse capitulo.
Esses efeitos são minimizados quando a técnica de “janelamento” é utilizada.
Essa técnica reduz as amplitudes nos pontos de descontinuidades de cada
janela de tempo coletada pelo aquisitor, pela multiplicação por um outro sinal
que possui amplitude que varia suavemente até chegar em seus pontos finais
com a amplitude igual a zero.
Figura 12 - aplicação da técnica de janelamento, notificando a diminuição das
descontinuidades
Com a aplicação da técnica de janelamento, os resultados das frequências que
não estão no sinal original quando se aplica a FFT são amenizados, como pode
ser visto abaixo:
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16
Figura 13 - FFT com aplicação da técnica de janelamento
Existem várias funções matemáticas de janelamento e a escolha de qual utilizar
varia de acordo com o tipo de sinal a ser coletado e objetivo da análise. Abaixo
são mostrados algumas delas.
Hanning – útil quando se deseja boa resolução das frequências, porém precisão
da amplitude não é tão importante. Aplicada para sinais permanentes
(constantes com o tempo).
Figura 14 - representação da janela Hanning
Flat-Top – apresenta seu pico como sendo uma reta, o que caracteriza a janela
com ótimo desempenho para a resolução de amplitudes, porém pobre para as
frequências. Aplicável para sinais permanentes.
Figura 15 - representação da janela Flat-Top
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Retangular – é a mais simples de todas, tendo um valor de zero em seus
extremos e um valor unitário para todos os outros, sendo pobre para a
determinação de amplitudes.
Figura 16 - representação da janela retangular
Exponencial – impõem um decaimento exponencial dentro do período de
amostragm. É utilizada para sinais transientes quando se deseja analisar a
ocorrência de impactos no início do sinal.
Figura 17 - representação da janela exponencial
2.5 Filtros Digitais
Os filtros digitais são capazes de separar e recuperar os sinais e são utilizados
no processamento de sinais para remover as frequências indesejadas que não
sejam de interesse do analista. Durante a aquisição de dados existem
frequências que são ruídos do sistema de interesse, como por exemplo, ruído de
cabo (geralmente ocorrem em 2 a 4Hz), frequências elétricas que possam
interferir no sinal e gerar frequências indesejadas, ou até mesmo a frequência
de Nyquist que como já estudado pode atrapalhar na análise dos dados.
Para ficar mais claro a aplicação de filtro, é proposto um exemplo de um sinal
contendo frequências baixas e altas, onde o objetivo final é remover as
frequências altas.
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18
Considere a aquisição de um sina X(t);
Figura 18 - sinal representado o sistema sob análise no domínio do tempo
Como já mostrado anteriormente a placa de aquisição discretiza esse
sinal, transformando-o em um sinal digital Xn;
Figura 19 - sinal digital transformado pela placa de aquisição
Entrando com o sinal Xn em um filtro para remover as frequências altas,
o resultado acaba sendo Yn:
Figura 20 - sinal após passar pelo filtro, removendo as frequências altas
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Existem 03 formas de representar um filtro digital:
Resposta a impulso;
Resposta a degrau;
Resposta em Frequência;
Filtros de resposta a impulso finita (FIR)
Operam por convolução da resposta a impulso com o sinal;
Todos os filtros lineares possíveis podem ser implementados desta
maneira;
Possuem desempenho impressionante, mas podem ser lentos;
Filtros de resposta a impulso infinita (IIR)
Opera de forma recursiva;
Tem um desempenho bom, em relação ao seu comprimento;
São mais rápidos que os filtros FIR;
Podem se tornar instáveis;
FIR Filter – finite impulse response
[ ]=∑
[ − ]
=
−
=∑
=
ℎ[ ] =
IIR Filter – infinite impluse response
[ ]=∑
=
=
,
,
Output
ℎ
≤
≤
�
[ − ]−∑
∑ =
∑�=
�
ℎ[ ] = ∑ �
=
−
−
[ − ]
=
,
=
[ ]
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Output
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3 – Análise Estrutural de Elementos Finitos
Este capitulo tem como objetivo fornecer uma breve introdução as análises de
elementos finitos essenciais para o cálculo de fadiga no domínio da frequência.
Será descrito os principais objetivos de cada metodologia, com foco
principalmente na análise de suas respostas e para que são utilizadas.
3.1 Análise Modal
A análise modal tem como objetivo identificar as frequências naturais e modo de
vibrar de uma estrutura, de acordo com sua característica de massa e rigidez.
Um dos principais e mais estudados fenômenos na dinâmica de máquinas e
equipamentos são as frequências naturais. Essas frequências são
características de sua massa e rigidez estando ligadas aos seus graus de
liberdade. Considerando uma estrutura real, com infinitos graus de liberdades,
podemos dizer que ela possui infinitas frequências naturais. Na análise de
elementos finitos, essas frequências naturais estão limitadas aos números de
nós da malha, entretanto na grande maioria dos casos para validação estrutural
dinâmica, somente as primeiras frequências naturais são alvos de estudo.
Figura 21 – primeiro modo de uma chapa de aço
O motivo da importância de se conhecer esse fenômeno, é que caso a frequência
de operação do produto sob análise, seja a mesma que a frequência natural,
ocorre o fenômeno da ressonância, onde as amplitudes de vibração aumentam
muito, fazendo com que os esforços e respostas mecânicas aumentem também,
tendendo a falha do componente.
Os modos de vibrar por sua vez, mostram o comportamento da estrutura sob
análise em uma determinada frequência natural. Essa resposta é muito útil para
identificar por exemplo, qual é a direção que está mais susceptível a se
movimentar, o que é muito útil para identificar como alterar as frequências
naturais através da adição de massa ou rigidez.
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A análise modal não depende de carregamento, porém dependem das
condições de restrição que vão influenciar diretamente na rigidez do sistema sob
análise. Matematicamente, a análise modal pode ser descrita por uma equação
de autovalor e autovetor:
Sistema não amortecido:
[−� [ ] + [� ]]{ } = { }
:
[� ] =
[ ]=
{ }=
çã
�=
.
Sistema amortecido:
[ [ ] + [� ]] {Ψ} = { }
:
[ ]=
[� ] =
[ ]=
{Ψ} =
Nesse caso os autovalores e autovetores são complexos, podendo ser
expressos por:
=− + �
Ψ=Ψ
+Ψ
Se a razão de amortecimento é bem pequena, os resultados da análise modal
não amortecida serão bem parecidos com o amortecido. Entretanto, se a razão
de amortecimento é elevada, como é o caso de sistemas com amortecedores,
coxins ou sistemas rotativos onde o componente giroscópio apresenta
comportamento análogo ao amortecimento, a análise modal de sistemas
amortecidos deve ser realizada.
Os softwares de elementos finitos possuem diferentes métodos de resolução
de sistemas amortecidos e não amortecidos, alguns deles sendo citados
abaixo:
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Sistemas não amortecidos
Bloco de Lanczos
PCG Lanczos
Supernode
Sistema amortecido
Damp
QRDamp
Unsym
Cada método tem suas características sendo mais adequados para diferentes
casos. Abaixo é proposto uma tabela destacando as principais características
de cada método:
Algoritmo
Bloco de
Lanczos
(LANB)
Sistema
Não
amortecido
Características
- Poucos modos (<40)
- Modelos pequenos e médios
- Elementos de viga, casa e/ou sólido
PCG Lanczos
(LANPCG)
Não
amortecido
- Poucos modos (<100)
- Modelos médios
Supernode
(SNODE)
Não
amortecido
Damp
(DAMP)
Amortecido
- Muitos modos (até 10mil)
- Modelos grandes
- Utilizado p/ análises com interesse em
elevadas frequências
- Mais lento que o QRDamp
QRDamp
(QDAMP)
Amortecido
- Mais aplicável para sistemas pouco
amortecidos
Unsymmetric
(UNSYM)
Não
amortecido
- Utilizado onde as matrizes [K] e [M]são nãosimétricas
- Utilizado para análise multi-física (ex. fluido
estrutura)
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3.2 Análise Harmônica
O principal objetivo da análise harmônica é identificar a função resposta em
frequência (FRF) da estrutura analisada, através da aplicação de uma força
harmônica com determinada amplitude obtendo-se como resposta o
comportamento dinâmico diante de um intervalo de frequência.
{ }={
{ }={
�
�
}
∅}
t
→
t
→
ℎ
�
Figura 22 - exemplo da resposta de amplitude e fase da estrutura em função da frequência
Abaixo são descritos os 03 métodos para se realizar a análise harmônica, sendo
sua principal diferença entre si a consideração de todas as matrizes ou da
redução de parcelas essenciais para a caracterização do comportamento
dinâmico da estrutura.
3.2.1 Método Full
O método full é o mais fácil de todos os 03 métodos, pois ele utiliza todas as
matrizes (sem redução), para realizar o cálculo das respostas harmônicas.
Esse método considera matrizes simétricas e não simétricas, sendo suas
principais vantagens:
Fácil de usar, pois o usuário não deve se preocupar em escolher os
modos ou graus de liberdades mestres* de interesse;
Utiliza as matrizes inteiras, portanto não existe aproximação de massa
envolvida no cálculo;
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24
Proporciona cálculos de matrizes não simétricas;
Calcula todos os deslocamentos e tensões em uma única iteração;
Permite todos os tipos de carregamento; forças nodais, deslocamentos
impostos, cargas nos elementos;
Permite o cálculo de pré tensionamento;
Permite que a solução seja refinada nas frequências próxima as
frequências naturais da estrutura. Esse resultado é mais preciso e fornece
melhores resultados da função resposta em frequência da estrutura;
As principais desvantagens do método full são:
O tempo de processamento é maior do que os outros métodos;
3.2.2 Método de superposição modal
O método da superposição modal soma os modos de vibração da análise modal
para calcular a resposta da estrutura.
As vantagens desse método são:
É o mais rápido de todos os métodos;
Carregamento nos elementos aplicados na análise modal podem ser
aplicados na análise harmônica;
Permite que a solução seja refinada nas frequências próxima as
frequências naturais da estrutura. Esse resultado é mais preciso e fornece
melhores resultados da função resposta em frequência da estrutura;
Pré tensionamento pode ser incluído;
Permite amortecimento modal;
As desvantagens são:
Deslocamento imposto não pode ser aplicado;
Quando é utilizado a opção “power dynamics” na análise modal, as
condições iniciais podem possuir carregamentos aplicados apenas
com a opçãode Enforced Motion;
*nota - Graus de liberdade mestres (Master DOF) são graus de liberdade
essenciais para a caracterização do comportamento dinâmico da estrutura.
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25
3.3 Análise Aleatória
Como já comentado nos capítulos anteriores, quando o componente sob análise
está sujeito a carregamentos aleatórios, deve-se utilizar conceitos estatísticos
para determinar as respostas de tensão e deformação para a validação estrutural
do mesmo.
Para essas condições, o carregamento adequado é o PSD que como já visto
anteriormente, é a potência ou energia de excitação da estrutura em uma
determinada frequência. Esse carregamento considera probabilidades de
ocorrência e, portanto, as respostas da análise serão também probabilidades de
acontecimentos.
Dessa maneira os carregamentos das análises aleatórios podem ser
representados por força, deslocamentos, excitações de base, inércia onde as
amplitudes das mesmas são determinadas por uma curva PSD.
As respostas de tensão, deformação, deslocamento, velocidade e aceleração
são obtidas de forma estatística, de modo que existem diferentes valores de
acordo com o desvio padrão desejado.
Para simplificar o entendimento da análise aleatória, abaixo é proposto um
exemplo de uma barra de alumínio com uma massa em sua extremidade,
submetida a um carregamento PSD de aceleração.
Figura 23 - barra de alumínio submetida a carregamento de PSD
Nesse caso o PSD é aplicado na base, portanto considera que o local onde a
barra está fixa, é submetido a uma energia conforme descrito no PSD.
Os resultados de tensão de flexão são obtidos em função do desvio padrão e
consequentemente da probabilidade de ocorrência.
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26
Tensão de Flexão
,
� =
=
,
�
,
� =
Figura 24 - resultado da tensão de flexão na barra
Os resultados acima mostram que em �, que é o equivalente a 68,3% de
ocorrência, as tensões de flexão da barra serão de 55,4MPa. Já para a
ocorrência de 27,1%, que é o equivalente a �, as tensões serão iguais a
110,8MPa, e para �, ocorrência de 4,33% as tensões serão iguais a 166,2MPa.
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27
4 – Fadiga
A maioria dos componentes mecânicos estão submetidos a carregamentos
cíclicos que estão sujeitos a falha por fadiga. A definição de fadiga segundo a
norma ASTM é a seguinte:
“Processo progressivo e localizado de modificações estruturais permanentes
ocorridas em um material submetido a condições que produzam tensões
e deformações cíclicas que pode culminar em trincas ou fratura após um certo
número de ciclos.”
Cargas Cíclicas
Micro
deformação
plástica
Deterioração
do Material
Trinca
Ruptura Final
As curvas de fadiga dos componentes, são levantadas através de ensaios
mecânicos considerando determinados materiais, amplitude e tipo de
carregamento, correlacionando a tensão ou deformação com o número de ciclos
até a falha do corpo de prova.
Figura 25 - curva de fadiga S-N
Para a verificação da vida de fadiga em componentes mecânicos, é necessário
conhecer as tensões e deformações atuantes no equipamento, para posterior
cálculo do número de ciclos até a nucleação da trinca ou falha do componente.
A denominação “vida infinita” significa que o componente possui uma vida tão
longa com relação a fadiga que não vai falhar por esse fenômeno. Em aços
carbonos, o número de ciclos considerado como vida infinita deve ser superior a
ou
, variando de literatura para literatura. Ao contrário desse termo, “vida
finita” significa que o componente vai falhar por fadiga em um determinado
número de ciclos, sendo dividido ainda em fadiga de baixo e alto ciclo,
dependendo do número de ciclos até a nucleação da trinca ou falha total do
componente.
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28
Os carregamentos cíclicos variam em função do tempo, de maneira
determinística e/ou aleatória dependendo do equipamento e condição de
trabalho que está submetido. Em condições de carregamento determinístico o
carregamento pode ser previsto por equações, sendo que para estes casos o
cálculo de fadiga são realizados utilizando a metodologia convencional S-N e eN. Já para casos onde o carregamento é aleatório a utilização de métodos do
domínio da frequência devem ser utilizados, pois a determinação das respostas
de tensão dos componentes acabam sendo mais fáceis no domínio da
frequência, como já foi visto nos capítulos anteriores. De maneira geral, os
procedimentos para a contabilização da vida de fadiga, podem ser expressos
pelos processos abaixo:
Carregamento
Geometria
Análise de
Fadiga
Estimativa da
Vida
Propriedades
Material
Este capítulo tem como objetivo fornecer uma breve descrição do método S-N e
e-N, tendo mais enfoque nos métodos de cálculo de fadiga no domínio da
frequência.
4.1 - Método S-N
O método S-N considera a vida total do componente até a falha e foi a primeira
abordagem a ser utilizada na determinação da vida de fadiga.
Este método ainda é muito utilizado pela sua facilidade e os dados existentes na
literatura, e foi o método padrão utilizado por quase 100 anos após 1830 para
projetos mecânicos. Deve ser utilizado apenas para fadiga de altos ciclos (>
10.000 ciclos), pois é mais preciso para o cálculo das tensões elásticas e não
considera as parcelas plásticas existentes em altas tensões (próximas ou
superiores ao limite de escoamento do material).
A curva S-N relaciona a tensão alternada com o número de ciclos até a falha.
Essas curvas são obtidas através de ensaios experimentais com corpos de
provas e condições de carregamento específicos, levando em consideração
também as propriedades do material sob teste. São realizados vários ensaios
com diferentes tensões alternadas para a obtenção da curva, como pode ser
verificado abaixo:
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29
Figura 26 - curva de fadiga S-N
Nesse método a relação tensão-deformação é considerada linear, e o limite de
fadiga pode ser interpretado como um limite de valores de tensão que se
estiverem abaixo dele podem ser considerados como vida infinita e se estiverem
acima são considerados como vida finita.
De maneira geral, o método S-N considera a condição de carregamento, material
e a tensões para cálculo da vida de fadiga do componente. Os carregamentos
de amplitude constante são facilmente contabilizados e comparados as curvas
de fadiga para a obtenção do número de ciclos, já os carregamentos de
amplitude variável, que estão presente na maioria dos equipamentos existentes,
são mais complicados de serem contabilizados e possuem métodos mais
específicos, como o Rainflow Cycle Counting.
4.1.1 Contagem de Ciclos
O processo de contagem de ciclos para carregamentos com amplitude variável
mais conhecido, é o Rainflow Cycle Couting, que consiste na organização dos
vários ciclos existentes agrupando-os por amplitude de tensão similares e
organizando-os de forma que a contagem e cálculo do dano se tornem uma
tarefa simples. Um exemplo da contagem de ciclos utilizando a metodologia
Rainflow foi extraída do livro Downling:
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30
Figura 27 - exemplo da contagem de ciclos através do Rainflow Cycle Counting (Downling)
A resposta de uma contagem de ciclos é a amplitude de tensão, a tensão média
e o número de ciclos, como pode ser observado nos títulos dos eixos na figura
acima. Dessa maneira fica fácil de realizar o cálculo de fadiga utilizando a regra
de Miner que consiste em obter o dano total causado pelo carregamento
considerado.
Cada ciclo gera um certo dano ao componente, sendo que o dano total pode ser
obtido pela soma dos danos parciais
4.1.2 Conceito de Dano
O dano imposto é irreversível e a operação em diferentes amplitudes de tensão
em sequência resultará em um acumulo de dano total, igual a somatória dos
incrementos de danos em diferentes níveis de tensões aplicadas na peça sob
análise, sendo que quando este acúmulo atinge o valor crítico ocorre a falha por
fadiga. De muitas teorias existentes de estudo de danos, a mais utilizada é a
Palmgren que foi desenvolvida em 1924 e posteriormente incrementada por
Miner em 1945. Esta teoria linear é denominada como a hipótese de PalmgrenMiner ou regra do dano linear.
Considerando uma amplitude de tensão aplicada, e aplicando certo número de
ciclos, o material suportaria um total de ciclos até a falha, tendo assim uma fração
da vida do material:
=
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31
:
= ú
= ú
ê
é
ℎ
Segundo ASTM METALS HANDBOOK, vol 19 – Fatigue and Fractures, a regra
de Palmgren-Miner contabiliza as frações de vida do material e quando o total
da soma for igual a 1, o componente irá falhar:
+
+
+ ⋯+
=∑
Em virtude de sua simplicidade, a regra do dano linear é largamente utilizada.
No entanto, existem outras teorias mais complexas de danos acumulativos para
o estudo de falhas, mas não produzem uma melhora significativa na
confiabilidade de prevenção de falha. Um defeito bem relevante na hipótese de
Palmgren-Miner é o não reconhecimento da influência da ordem da aplicação
dos carregamentos. Contudo a regra do dano linear pode ser utilizada na maioria
dos casos.
4.2 - Método e-N
O método e-N contabiliza a vida de fadiga até a nucleação da trinca e por esse
motivo e conhecido também como método da iniciação da trinca. O método e-N
considera as deformações locais atuantes e acaba sendo mais preciso e
adequado para fadigas de baixo ciclos pois considera as deformações plásticas
existentes, diferentemente do método S-N.
Para carregamentos baixos, onde os níveis de tensão/deformação é baixo
considerando o limite de escoamento do material, as tensões e deformações se
relacionam de forma linear e portanto ensaios controlados por tensão ou
deformação podem ser considerados equivalentes (método e-N ou S-N). Para
carregamentos altos, onde os valores de tensão/deformação estão pertos ou até
ultrapassam o limite de escoamento, a relação tensão e deformação não é mais
linear e para esses casos o método e-N é mais adequado para o cálculo de
fadiga.
O dano de fadiga é influenciado pela deformação plástica e elástica do material,
e essas considerações são contabilizadas no método e-N. Como já dito
anteriormente, este método contabiliza a nucleação da trinca, porém em muitos
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32
casos é necessário estudar a propagação da trinca até a falha total do
componente. A área de estudo de propagação de trinca é a Mecânica da Fratura
e não será alvo de discussão no presente trabalho.
O uso do método e-N requer o conhecimento das relações de tensão e
deformação de engenharia e real, onde as tensões e deformações nominais são
diferentes da locais justamente pela relação não linear existente. A medida em
que o corpo de prova é submetido a carregamento, sua área transversal vai
diminuindo e para cada valor de área deve-se calcular um novo valor de tensão
considerando a área real do corpo de prova naquele determinado instante.
Considerando um carregamento monotônico, é possível relacionar esses
parâmetros de acordo com a imagem e equações abaixo:
Figura 28 - relação de tensão e deformação de engenharia e real
Na curva acima pode ser observado a curva tensão vs deformação real
(representada pela linha verde), e a curva de engenharia (representada pela
linha vermelha).
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33
4.2.1 Relação Ramberg Osgood
Ramberg e Osgood propuseram através da regressão de dados experimentais,
uma equação para contabilizar as deformações plásticas, que pode ser expressa
por:
Figura 29 - relação Ramberg e Osgood
A deformação total deve ser contabilizada por uma parcela plástica , e por uma
parcela elástica . A parcela da deformação elástica é normalmente calculada
pela divisão entre a tensão local pelo módulo de elasticidade, enquanto a parcela
plástica é uma relação não linear calculada pela equação abaixo:
�=
=
:
=
ê
í
�
�
/
çã
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34
4.2.2 Efeito Bauschinger
Outro fator importante é o comportamento cíclico do material, que submetido a
carregamentos em função do tempo, pode se comportar de maneira diferente
após um ciclo e outro. O efeito pode ser descrito como a redução da resistência
ao escoamento em tração ou compressão após a aplicação de uma deformação
plástica em direção contrária.
Figura 30 - representação do efeito de Bauschinger
No lado esquerdo da figura acima, a visualização de um carregamento
monotônico pode ser observado como possuindo o mesmo limite de escoamento
tanto na tração como na compressão. Já no lado direito um carregamento cíclico
é aplicado e o limite de escoamento na tração é diferente do carregamento de
compressão.
O carregamento cíclico influencia muito no comportamento do material com
relação a tensão e deformação, podendo apresentar os comportamentos abaixo:
Encruamento cíclico
Amolecimento cíclico
Estabilidade a carga cíclica
Comportamento misto
As propriedades que definem o comportamento cíclico do material são o
coeficiente de resistência cíclica K’ e o expoente de encruamento de deformação
n’, como já visto anteriormente.
O comportamento cíclico de encruamento e/ou amolecimento do material ocorre
basicamente pela natureza e estabilidade das discordâncias em sua estrutura
microscópica, sendo que em materiais inicialmente mole as discordâncias
crescem fazendo com que o comportamento de encruamento ao longo dos ciclos
seja predominante. Ao contrário disso, para materiais inicialmente duros as
discordâncias se rearranjam ao longo dos ciclos, oferecendo menor resistência
a deformação e consequentemente amolecendo o material.
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35
4.2.3 Curva e-N
A curva e-N é construída a partir da deformação da parcela elástica e plástica do
material sob carregamento cíclico.
Basquin (Equação que descreve a deformação elástica)
=
�′
Coffin-Mason (Equação que descreve a deformação plástica)
=
′
Deformação Total
=
�′
=
+
+
′
CURVA E-N
1.000.000
USTRAIN
100.000
10.000
1.000
Curva e-N
100
e-plastica
10
e-elastica
1
1,00E-01
1,00E+01
1,00E+03
1,00E+05
1,00E+07
1,00E+09
NÚMERO DE CICLOS
Figura 31 - curva de fadiga contabilizando a parcela plástica e elástica
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36
4.3 – Fadiga no Domínio da Frequência
Para condições de carregamento aleatório, os sinais não podem ser previstos
por equações e devem ser analisados com auxílio de ferramentas estatísticas.
Para estes casos o cálculo de fadiga no domínio no tempo acaba sendo inviável
pois seria necessário muito tempo de aquisição de sinais para que se pudesse
ter ideia das respostas estruturais dos equipamentos sob análise, além de se
tornar inviável se obter respostas de tensão e deformação estruturais por meio
de análises transientes de sinais tão extensos. Portanto a obtenção de tensão e
deformação através de carregamentos no domínio da frequência acabam se
tornando muito mais fácil e rápida.
Dessa maneira, o cálculo de fadiga no domínio no tempo para respostas de
tensão e deformação não é possível, tendo que apelar para métodos específicos
como o das 03 Bandas, Dirlik e Lalanne, que consistem em realizar o cálculo de
fadiga com respostas no domínio da frequência.
A metodologia das 03 bandas deve ser realizada através da utilização de
carregamento PSD em análise aleatória de Elementos Finitos. Para os demais
métodos é possível utilizar análises harmônicas para a obtenção da função de
transferência estrutura.
O cálculo de fadiga no domínio da frequência é realizado através de um
carregamento PSD ou “Varredura Senoidal” (Sine Sweep), a função de
transferência da estrutura, e a curva S-N do material sob análise.
A maior dificuldade no cálculo de fadiga no domínio da frequência, são as
contagens dos ciclos. Como já visto anteriormente no domínio do tempo o
método de contagem bastante utilizado é o Rainflow Cycle Couting que consiste
na contagem das respostas de tensão e deformação ao decorrer do tempo.
Agora, a variável “tempo” não existe mais e a resposta de tensão e deformação
é expressa em função da frequência.
Existem vários métodos para o cálculo de fadiga no domínio da frequência,
sendo os utilizados para propósitos gerais o método das 03 Bandas, Dirlik e
Lalanne que serão explicados neste documento.
O método das 03 bandas considera a resposta de tensões de uma análise
aleatória e faz considerações estatísticas para realizar as contagens dos ciclos.
Já o método de Dirlik e Lalanne utilizam apenas a resposta da função de
frequência da estrutura para multiplicar o sinal PSD por esta função e obter a
resposta das tensões para a contagem dos ciclos.
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37
4.3.1 Método das 03 Bandas
O método das 03 bandas é o método mais simples para se realizar o cálculo de
fadiga no domínio da frequência e considera os resultados de tensão de uma
análise aleatória com carregamento de PSD para o cálculo do dano conforme
regra de Miner.
Esta técnica considera os resultados de tensão do sistema sob análise,
considerando a probabilidade de ocorrência (desvio padrão considerando 1σ,
2�, 3�). Com os resultados de tensão é necessário calcular o número de ciclos
até a falha do componente sob análise considerando as tensões de 01, 02 e 03
desvios padrão.
Para estimar o número de ciclos do componente considerando a amplitude de
tensão desejada, deve se utilizar a metodologia S-N, utilizando a equação
abaixo:
=
:
= ú
é
=
=
=
=
ã
ã
( )
ℎ
ℎ
á
ó
Caso seja necessário adicionar o fator de concentração de tensão
multiplicar o valor de
por
.
Figura 32 - curva de fadiga
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, deve-se
38
Uma vez obtido o número de ciclos até a falha considerando as tensões relativas
a 1,2 e 3 desvios padrões, deve-se calcular o número de ciclos de ocorrência no
sinal PSD. Para a realização de tal procedimento deve se levar em conta a
frequência onde foi observada a máxima tensão na análise aleatória,
multiplicando pelo tempo de exposição a estes ciclos e probabilidade de
ocorrência.
=
:
= ú
=
=
=
ê
á
çã
∗
ê
ê
∗
ã
�=
, %, � =
, %, � = , %
Realizado as etapas acima, serão obtidas as respostas do número de ciclos até
a falha e o número de ciclos do período sob análise considerando as devidas
amplitudes de tensão. Por fim, o dano é calculado utilizando a regra de Miner,
que como já visto anteriormente, pode ser calculado por:
=
:
= ú
= ú
é
ê
ℎ
Vale lembrar que esta metodologia não considera a tensão média nos ciclos, que
tem grande influência na determinação da vida de fadiga, principalmente quando
as tensões e deformações são bem abaixo do limite de escoamento do material.
4.3.2 Dirlik e Lalanne
Como já comentado anteriormente, os sinais aleatórios devem ser analisados de
maneira estatística, isso porque um sinal aleatório sempre será diferente um do
outro, porém suas características estatísticas devem ser semelhantes para ser
considerado um sinal estacionário que possibilite as análise propostas. Um dos
parâmetros estatísticos mais importantes é o número de zeros e picos de um
sinal. No gráfico abaixo pode se observar os números de zeros e picos de tensão
de um sinal no domínio do tempo.
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39
Figura 33 - picos e zeros de um sinal de tensão ao longo do tempo
No gráfico acima, os picos de tensão são representados pelo símbolo (X) e os
zeros são representados pelo símbolo (●). A relação entre esses parâmetros é
chamada de fator de irregularidade, e pode ser definida por:
=
:
[ ]
[ ]
[ ]= ú
[ ]= ú
Outro parâmetro importante, é a extração do momento de um PSD, que pode ser
calculado pela área abaixo da curva de PSD de um determinado intervalo de
frequência.
=∫
:
=á
=
=
ê
.
ê
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40
Figura 34 - gráfico representativo do momento de uma curva PSD
Os momentos do PSD podem ser correlacionados com os picos, zeros e fator de
irregularidade, fornecendo portanto as caraterísticas estatísticas para o cálculo
de fadiga a partir do gráfico PSD.
[ ]=√
[ ]=√
=
[ ]
[ ]
Dirlik
Em 1985 Dirlik propôs através de resultados empíricos o cálculo de fadiga
baseado em sinais PSD.
= [ ]. .
[ ]=√
=∫
:
= ú
[ ]= ú
=
=á
.
ã
ê
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41
=
=
ê
=
.
−
=
=
ê
.
+
=
−
=
,
=
=
−
+
. .
−� 2
−
−
+
−
−
.√
−
−
−
=
.√
+
.
=
Lalanne
.
.
−� 2
. 2
√
−
−
−
.
.
+
.√
Ao contrário de Dirlik, Lalanne argumentou que ao longo de um período
suficientemente longo de tempo, a pdf (probability density function) de um
período do rainflow tende ao pdf dos picos e portanto demonstrou que o cálculo
poderia ser realizado baseado na soma dos dados de acordo com a distribuição
Gaussiana.
=
.
√ −
√ �
.
− 2
2
−�2
+
.
. [ + erf
√
.
−
]
Tanto na metodologia de Dirlik e Lalanne, o valor de N(S) representa o número
de ciclos com uma determinada amplitude de tensão. De posse dos valores de
N(S) é possível estimar a vida de fadiga comparando com a curva de fadiga do
material analisado, como também obter o dano com a regra de Miner
contabilizando a razão entre os ciclos existentes e vida esperada para a
determinada amplitude de tensão.
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42
5 – Estudo de Caso
5.1 – Objetivo
Cálculo de fadiga em corpo de prova submetido a carregamentos aleatórios,
através da aquisição de dados de vibração e deformação, processamento de
sinais e análise de elementos finitos considerando o carregamento aleatório para
análise das tensões e deformações.
A primeira etapa realizada foi a fabricação do corpo de prova para que a
aquisição de dados em campo fosse possível. Com esta etapa finalizada, o corpo
de prova foi instrumentado com 01 extensometro e acelerômetro uniaxial, como
também preso a caçamba de uma pick-up modelo Saveiro, para a coleta dos
dados no momento de rodagem em estrada de terra. Foi também realizado o
ensaio de impacto para verificar a frequência natural do corpo de prova, como
também adição de um peso conhecido para a verificação da deformação, para a
posterior validação do modelo de elementos finitos.
5.2 – Corpo de Prova
O corpo de prova foi fabricado a partir de uma barra chata de aço SAE 1020,
com as seguintes dimensões:
Figura 35 - dimensões do corpo de prova
A barra foi submetida ao processo de fresagem para atender as dimensões
especificadas acima.
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43
Figura 36 - corpo de prova para aquisição dos dados
Para que as amplitudes de vibração e deformação fossem aumentadas, foi
preso um bloco de alumínio de 345,33gramas na ponta do corpo de prova
como é mostrado abaixo:
Bloco de
Alumínio
Figura 37 - comprovação do peso do bloco de alumínio
Bloco de
Alumínio
Figura 38 - bloco de alumínio preso ao corpo de prova
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44
Módulo de Elasticidade
(GPa)
Coef. Poisson
Limite de Resistência a
Tração (MPa)
Limite de Escoamento
(MPa)
Densidade (kg/m³)
Coef. de fadiga – b –
(MPa)
Coef. resistência a
fadiga –Sf’ - MPa
SAE 1020
200
Alumínio
69
0,3
460
0,33
240
250
227
7850
-0,118
2700
814
5.3 – Instrumentação
O corpo de prova foi instrumentado com 01 extensômetro e 01 acelerômetro
uniaxial, descritos abaixo:
Extensômetro (Strain Gauge)
Uniaxial
Kyoa
Modelo KGF-5-120-C1-11
Resistência 120 Ohms
Comprimento da grade – 5mm
Gage fator – 2,1
Ponte de Wheatstone utilizada – ¼ de ponte
Acelerômetro
Uniaxial
PCB
Modelo 352C33
Sensibilidade 100,1mV/g
Amplitude máx - +/- 50g peak
Range de frequência – 0,5 a 10000Hz
Frequência de ressonância - >50kHz
Range de temperatura - -54 a +93ºC
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45
Acelerômetro
Extensômetro
Figura 39 - corpo de prova instrumentado
Os extensômetros são utilizados para medir as deformações superficiais que
podem ser convertidas para valores de tensão de acordo com a lei de Hooke.
Estes sensores são colados na superfície do material e sob carregamentos
podem medir as deformações existentes através da mudança da resistência
elétrica de seu filamento.
Figura 40 - imagem representativa de um extensômetro uniaxial
Outro ponto importante é que os extensômetros são capazes de medir as
deformações na direção da grade, e portanto devem ser colados na direção da
deformação (ou tensão) sob interesse.
Para o presente trabalho, o extensômetro foi colado no “pescoço” do corpo de
prova, na direção longitudinal da peça, onde ocorrem as máximas tensões.
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46
Figura 41 - detalhe do posicionamento do extensômetro
O processo de preparação para a colagem do sensor é de extrema importância,
pois a superfície deve estar limpa e lisa para que não haja riscos superficiais que
influenciem na coleta dos dados.
5.4 – Teste de Impacto
O teste de impacto identifica as frequências naturais do corpo de prova, através
de uma vibração livre forçada.
Este teste é realizado através da aplicação de um impacto com um martelo para
que o sistema vibre livremente até parar. Através desse teste é possível
identificar as frequências naturais como também o amortecimento do sistema.
Martelo
Acelerômetro
Figura 42 - imagem representativa do teste de impacto
Existem martelos específicos para a realização desse ensaio que possuem um
transdutor de força em sua ponta. Conhecendo o valor da força aplicada e os
dados da resposta do acelerômetro é capaz de identificar a função de
transferência do sistema.
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47
Figura 43 - imagem representativa dos martelos de impacto
Para o presente estudo foi utilizado um martelo convencional, como mostra a
imagem abaixo:
Figura 44 - imagem do teste de impacto sendo realizado
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48
Os resultados desse ensaio são mostrados a seguir:
Forma de onda
Figura 45 - sinal de deformação (uStrain) no domínio do tempo
Figura 46 - sinal de aceleração (grms) no domínio do tempo
Cada pico de vibração e deformação representa 01 impacto do martelo no corpo
de prova, sendo realizados 03 ensaios ao total. Note que o sinal de deformação
está com um offset de aproximadamente 43 uStrain, que representa a
deformação existente pela adição do bloco de alumínio. O sinal de deformação
foi “zerado” sem a existência do bloco de alumínio, e em seguida o mesmo foi
acoplado ao corpo de prova para que fosse gerado uma deformação referente
ao peso do mesmo. Esse procedimento será melhor explicado na validação do
modelo de Elementos Finitos.
O resultado da forma de onda é mais evidente no sinal de deformação, pois a
vibração livre é mais longa e fica mais aparente no gráfico.
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49
Transformada de Fourier (FFT)
24Hz
Figura 47 - FFT do sinal de deformação
24Hz
Figura 48 - FFT do sinal de vibração
Note que a primeira frequência natural do corpo de prova sob teste é 24Hz. Essa
frequência pode ser observada realizando a FFT do sinal de vibração ou
deformação.
Essa informação será válida para a calibração do modelo matemático de
elementos finitos, onde a primeira frequência natural do resultado da análise
deve ser próximo a 24Hz.
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50
Cálculo do amortecimento
O amortecimento é responsável por fazer com que a vibração pare ao longo do
tempo.
Uma forma de se determinar o amortecimento existente em um sistema, é
encontrando o decremento logarítmico, que nada mais é do que a relação de
amplitude de vibração após o impacto inicial de um ciclo para outro.
=
:
=
=
=
í
;
ê
ê
= ú
ℎ
O decremento logarítmico é relacionado a razão de amortecimento (ξ) por:
ξ=
√ +
�
=−
– 43 = 105uStrain
=−
−
=
Figura 49 - forma de onda de deformação referente a um período do impacto do martelo
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51
Os valores do decremento logarítmico foram calculados utilizando 10 valores
de amplitudes diferentes, considerando a iteração de 1, 2 e 3 ciclos, como
mostra a tabela abaixo:
Strain
n
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Xn
112,23
104,82
101,86
90,89
88,73
77,47
82,09
66,86
69,3
59,71
δ=
ξ=
Decremento (1n)
0,0683
0,0286
0,1139
0,0241
0,1357
-0,0579
0,2052
-0,0358
0,1489
Decremento (2n)
0,0485
0,0713
0,0690
0,0799
0,0389
0,0736
0,0847
0,0566
Decremento (3n)
0,0703
0,0555
0,0912
0,0339
0,0943
0,0371
0,1061
0,0701
0,0112
0,0653
0,0104
0,0698
0,0111
Figura 50 - tabela com o cálculo do decremento logarítmico e razão de amortecimento
Considerando a média dos valores encontrado a razão de amortecimento é
igual a 0,010.
= ,
= ,
Figura 51 - forma de onda de aceleração referente a um período do impacto do martelo
Os valores do decremento logarítmico foram calculados utilizando 3 valores de
amplitudes diferentes, considerando a iteração de 1, 2 e 3 ciclos, como mostra
a tabela abaixo:
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52
Vibration
n
0
1
2
Xn
3,69
3,45
3,32
δ=
ξ=
Decremento (1n)
0,0673
0,0384
Decremento (2n)
0,0528
0,0528
0,0084
0,0528
0,0084
Figura 52 - tabela com o cálculo do decremento logarítmico e razão de amortecimento
Considerando a média dos valores encontrado a razão de amortecimento é
igual a 0,0084.
Considerações
Os valores obtidos de amplitude para o cálculo do decremento logarítmico foram
mais facilmente coletados nos resultados de deformação, pois as ondas se
mostraram mais claras como também o tempo de resposta da estrutura foi maior.
Isso se deve principalmente pelo fato de que o acelerômetro foi instalado perto
do engaste do corpo de prova, onde a vibração é baixa, comparada a ponta que
não está engastada. Para um melhor resultado com o acelerômetro, é
aconselhado a realização de um novo teste com o posicionamento do sensor na
extremidade livre do corpo de prova (local de maior amplitude de vibração).
Mesmo com as restrições e dificuldades observadas, os valores de razão de
amortecimento nas duas metodologias ficaram próximos, sendo aconselhado
utilizado o valor de ξ = ,
.
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53
5.5 – Aquisição de Dados
Os dados foram aquisitados em uma estrada de terra com extensão de 580m,
sendo repetido por 03 vezes. A velocidade do carro foi mantida sempre
próximo a 30km/h em todo o trajeto.
Placa de Aquisição:
Marca – National Instruments
Modelo – Compact Daq 9132
Módulos – 9234 / 9235
Frequência de Aquisição – 5000Hz
As frequências de interesse são de 5 a 2000Hz.
Trajeto da
aquisição
Figura 53 - vista da estrada de terra onde a aquisição foi realizada
Figura 54 - foto da aquisição dos dados
iESSS – Instituto ESSS de Pesquisa e Desenvolvimento
54
5.6 – Processamento de Sinais
O processamento dos dados foi realizado nos sinais de vibração para
transformar os dados no domínio do tempo, para um sinal PSD que fosse
inserido como carga na análise de elementos finitos. Os dados de deformação
coletados pelo extensômetro será utilizado para a validação do modelo de
elementos finitos que será abordado posteriormente.
5.6.1 Vibração Domínio do Tempo:
Figura 55 - sinal no domínio do tempo da volta nº1 (Run-01)
Figura 56 - sinal no domínio do tempo da volta nº2 (Run-02)
Figura 57 - sinal no domínio do tempo da volta nº3 (Run-03)
iESSS – Instituto ESSS de Pesquisa e Desenvolvimento
55
5.6.2 Aplicação de Filtro:
Os filtros tem o objetivo de remover frequências do sinal obtido que são
indesejadas. Para o trabalho proposta serão aplicados 02 filtros, sendo que o
primeiro tem o objetivo de remover frequências abaixo de 05Hz, e o segundo
tem o objetivo de remover frequências acima de 2000Hz.
As frequências abaixo de 05Hz muitas vezes representam ruídos de cabo ou
sinais que não são respostas de sistema de interesse, mas sim ruídos
indesejados.
As frequências acima de 2000Hz causam pouca influência estrutural no corpo
de prova, uma vez que as frequências são altas e suas amplitudes baixas.
Os filtros aplicados nos sinais foram da categoria IIR por serem mais elaborados
e apresentarem resultados mais satisfatórios. Foi aplicado um filtro “lowpass” e
“highpass” de segunda ordem.
Figura 58 - sinal com os filtros aplicados referente a volta nº1 (Run-01)
Figura 59 - sinal com os filtros aplicados referente a volta nº2 (Run-02)
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56
Figura 60 - sinal com os filtros aplicados referente a volta nº3 (Run-03)
5.6.3 Verificação distribuição normal
Distribuição Normal
3
Desvio Padrão – 0,145 grms
Média – -28,55x10^-6 grms
Máximo – 0,841 grms
2,5
2
1,5
1
0,5
0
-0,789
-0,631
-0,474
-0,316
-0,158
0,000
0,158
0,316
0,474
Figura 61 - distribuição normal da volta nº1 (Run 01)
Figura 62 - histograma referente a volta nº 1 (Run-01)
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0,631
0,789
57
Distribuição Normal
3
Desvio Padrão – 0,158 grms
Média – 12,47x10^-6 grms
Máximo – 0,997 grms
2,5
2
1,5
1
0,5
0
-0,789
-0,631
-0,474
-0,316
-0,158
0,000
0,158
0,316
0,474
0,631
0,789
Figura 63 - distribuição normal da volta nº2 (Run 02)
Figura 64 - histograma referente a volta nº 2 (Run-02)
Distribuição Normal
Desvio Padrão – 0,158 grms
Média – 0,396x10^-6 grms
Máximo – 1,17 grms
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
-0,789
-0,631
-0,474
-0,316
-0,158
0,000
0,158
0,316
0,474
Figura 65 - distribuição normal da volta nº3 (Run 03)
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0,631
0,789
58
Figura 66 - histograma referente a volta nº 3 (Run-03)
As aquisições das 03 voltas apresentam valores com distribuição normal, o que
pode ser observado no histograma de cada volta, onde a distribuição dos
eventos que mais acontecem fica próximos a média, como também nos valores
da média e desvio padrão que foram calculadas para cada uma delas.
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59
5.6.4 Power Spectrum Density (PSD)
24Hz
Figura 67 - PSD da volta nº1 (Run-01)
24Hz
Figura 68 - PSD da volta nº2 (Run-02)
24Hz
Figura 69 - PSD da volta nº3 (Run-03)
Note que existe um pico na frequência de 24Hz em todas as voltas, que é
justamente a frequência natural encontrada no teste de impacto. Os 3 PSDs
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60
foram agrupados em um mesmo gráfico para que a técnica do Envelope, que
consiste em abranger todos os maiores pontos de amplitude, fosse realizada.
ENVELOPE
1,40E-02
1,20E-02
g²/Hz
1,00E-02
8,00E-03
PSD-Run 03
6,00E-03
PSD - Envelope
4,00E-03
PSD - Run 01
2,00E-03
PSD - Run 03
0,00E+00
0 102030405060708090100
110
120
130
140
150
Hz
Figura 70 - envelope dos sinais PSD
Os pontos do Envelope que foram considerados na análise aleatória de
elementos finitos, porém para o cálculo de fadiga no nCode foi utilizado os
próprios dados da volta nº1 por questão de acurácia dos resultados.
ENVELOPE
Hz
G²/Hz
0
0
5
1,00E-02
12 7,00E-03
20 1,00E-03
24 1,30E-02
30 1,50E-03
110 1,50E-03
120 0,00E+00
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61
5.7 – Análise de Elementos Finitos
5.7.1 – Geometria
O corpo de prova foi modelado em superfície, considerando a teoria das placas
finas, em que as tensões existentes na direção da espessura podem ser
desconsideradas. O bloco de alumínio foi considerado como um ponto de massa
de 0,34533kg.
Ponto de Massa
Figura 71 - modelo de elementos finitos do corpo de prova
5.7.2 – Malha
A malha aplicada ao corpo de prova foi composta por elementos quadri e
triangular de segunda ordem (SHELL 281), com as seguintes características:
Elementos – 1403
Nós – 4422
Qualidade da malha (média) – 0,96
Relevância - 100
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62
Figura 72 - imagem da malha
5.7.3 – Validação Elementos Finitos (extensometria e modal vs elementos
finitos)
A validação do modelo de elementos finitos tem o objetivo de correlacionar os
valores obtidos pelo software com os obtidos experimentalmente no ensaio de
extensometria e teste de impacto.
Extensometria
O ensaio de extensometria foi realizado considerando o corpo de prova fixo ao
carro, conforme descrito nas seções anteriores. Para a medição de deformação,
o extensômetro foi zerado quando não existia peso anexado ao corpo de prova
e em seguida foi adicionado o bloco de alumínio para a contabilização da
deformação diante desse peso.
Tempo para
rosquear o Bloco
= 43uStrain
Figura 73 - gráfico de tempo vs deformação
iESSS – Instituto ESSS de Pesquisa e Desenvolvimento
63
O gráfico acima mostra a deformação do corpo de prova com o peso do bloco
de alumínio. Note que existe um tempo intermediário onde o bloco estava
sendo rosqueado e portanto as deformações nesse período devem ser
desconsideradas. Após o período de 40 segundos, a deformação se estabiliza
e podemos contabilizar o valor correto para a comparação com o modelo de
Elementos Finitos.
�
�
=
A tensão pode ser obtida pela lei de Hooke:
�= ∗
�=
=
=
:
ã
ó
=
∗
�= ,
−
∗
çã
Os valores obtidos no ensaio de extensometria devem ser comparados as
máximas tensões que estão na direção em que a grade do extensômetro foi
colado. Para este caso, as comparações devem ser realizadas com a tensão
principal (P1) ou tensão normal a Z.
Figura 74 - resultado da tensão principal (MPa) igual a 9.7MPa
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64
Figura 75 - vetores de direção da tensão principal P1
Figura 76 - detalhe dos vetores no local de instalação do extensômetro
P1 (MPa)
Extensômetria
8,6MPa
Elementos Finitos
9,7MPa
Os desvios entre as metodologias estão em torno de 1MPa e podem ser
considerados aceitáveis para a validação do modelo de Elementos Finitos. Vale
lembrar que no processo de comparação entre os resultados, ambas
metodologias estão susceptíveis a erros inerentes de cada processo. Algumas
delas são listadas abaixo:
Erros matemáticos da análise de Elementos Finitos;
Erros experimentais de posição de colagem do sensor;
Divergência entre as medidas do corpo de prova e o modelo de
Elementos Finitos;
Aproximação numérica do software de aquisição;
Erro de leitura do próprio sensor;
Outros;
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65
Modal
A análise modal caracteriza o comportamento dinâmico da peça, encontrando
as frequências naturais e modos de vibrar. A correlação entre ensaio
experimental e simulação são de grande valia pois certificam que as condições
de contorno estão sendo utilizadas adequadamente, obtendo valores próximos
nas 02 técnicas.
Como já visto na seção “4.1 Teste de Impacto”, a frequência natural do corpo
de prova na direção vertical é de 24Hz e os resultados da análise modal
utilizando o método dos elementos finitos são mostrados em duas etapas; a
primeira considerando a restrição na face do corpo de prova como fixo e a
segunda com os ajustes dos resultados considerando o engaste remote
displacement e elastic support.
Condição Fixa:
Figura 77 - condição fixa aplicada na face do corpo de prova restringindo todos os grais de
liberdade dessa região
Figura 78 - visualização da 1ª frequência natural do corpo de prova (29Hz)
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66
As demais 05 frequências naturais encontradas são listadas abaixo:
Modo
01
02
03
04
05
06
Frequência
(Hz)
29,24
78,55
227,2
432,76
1123,2
1172,5
Note que a primeira frequência natural na análise de elementos finitos é maior
do que no ensaio experimental, isso por que a condição de fixação na simulação
é totalmente rígida, o que não acontece na prática onde o corpo de prova foi
instalado.
Trilho de montagem
do corpo de prova
Figura 79 - visualização do trilho onde o corpo de prova foi preso
O trilho onde o corpo de prova foi preso não é totalmente rígido, o que acaba
diminuindo a frequência natural do corpo de prova. Existem também outros
fatores que influenciam a resposta dinâmica da estrutura, como as tensões
residuais no corpo, decorrentes do processo da laminação e dobra da chapa.
Para o ajuste das condições de contorno, foi considerado um suporte elástico
com rigidez igual a 35N/mm³ e o remote displacement restringindo a translação
em X e Y e rotação em Y e Z.
Figura 80 - elastic support e remote displacement aplicados na superfície do corpo de prova
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67
Figura 81 primeira frequência natural igual a 24,7Hz com as novas condições de contorno
As demais 05 frequências naturais encontradas são listadas abaixo:
Modo
01
02
03
04
05
06
Frequência
(Hz)
24,7
61,4
142.1
381,84
631,4
1120,1
As condições de fixação do corpo de prova na análise de elementos finitos,
impactaram mais a validação da análise modal, sendo que a solução para o
problema foi a adição de um suporte elástico e um remote displcament
representando a rigidez existente no trilho onde o corpo de prova foi instalado.
Já os resultados de deformação não apresentaram divergência considerando as
restrições fixas ou as modificações realizadas para a validação modal.
5.7.4 – Análise Harmônica
A análise harmônica foi realizada considerando o método de superposição
modal, com o amortecimento de 0,01. O carregamento imposto foi a aceleração
de 1g (9,81m/s²) no eixo Y, considerando que para o posterior cálculo de fadiga
deve ser realizado uma análise harmônica unitária de mesma unidade que o
obtido experimentalmente.
Considerando que o PSD do carregamento aleatório, possui amplitudes
consideráveis até aproximadamente 130Hz, a faixa de frequência analisada foi
de 0 a 200Hz que já é suficiente para a obtenção da função de resposta em
frequência do sistema analisado.
iESSS – Instituto ESSS de Pesquisa e Desenvolvimento
68
Figura 82 - máxima tensão normal em Z ao longo da frequência
Figura 83 - diagrama de BODE com a amplitude e fase da resposta de tensão em função da
frequência
Note que os gráficos acima mostram que a máxima tensão ocorre em 24Hz,
mesma frequência que a primeira natural já analisada anteriormente.
iESSS – Instituto ESSS de Pesquisa e Desenvolvimento
69
5.7.5 – Análise Aleatória (PSD)
A análise aleatória foi realizada considerando os dados do PSD do envelope, e
um amortecimento de 0,01. O carregamento desta análise foi aplicado na direção
Y considerando excitação de base, o que significa que o carregamento do PSD
foi aplicado diretamente as condições de restrição impostas ao modelo. As
condições de contorno foram as mesmas que a descrita nas seções anteriores.
Os resultados das tensões de Von Mises são mostradass abaixo:
Figura 84 - tensão de Von Mises considerando 68,268% de ocorrência (1 sigma)
Figura 85 - tensão de Von Mises considerando 95,45% de ocorrência (2 sigma)
Figura 86 - tensão de Von Mises considerando 99,73% de ocorrência (3 sigma)
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70
Figura 87 - reposta de tensão do PSD no eixo Y (normal Y Axis)
5.8 – Cálculo de Fadiga
Para o cálculo de fadiga dos 03 métodos será considerado a duração do PSD
por 100horas, que seria equivalente a aproximadamente 2.200km rodados na
pista de aquisição.
5.8.1 Método das 03 Bandas
A partir dos resultados da análise aleatória, temos:
�
�
�
=
=
=
,
,
,
Calculando a vida de fadiga para cada uma das amplitudes de tensão,
considerando a inclinação da curva sendo = − ,
e ′=
, temos:
1 Sigma (68,269%)
=
=
′
(
(
) →
,
)
− ,
=
′
= ,
2 Sigma (95,45%)
= (
,
)
− ,
= ,
iESSS – Instituto ESSS de Pesquisa e Desenvolvimento
71
3 Sigma (99,73%)
,
= (
)
− ,
= ,
O número de ciclos esperado pela curva PSD, considerando uma exposição a
essa carregamento de 100 horas, pode ser calculado por:
=
∗
=
=
ℎ
∗
∗
ℎ
∗
ℎ
∗
∗
∗ ,
ℎ
= ,
∗ ,
ℎ
= ,
∗ ,
ℎ
= ,
Dano:
=
,
,
�
=
+
,
,
+
,
,
ℎ
= ,
O resultado do método das 03 bandas prevê que o corpo de prova não falha por
fadiga quando exposto por 10 horas do carregamento de PSD. Vale lembrar que
este método não considera o efeito das tensões médias que são relevantes
nesse caso considerando que existe o offset de 10MPa.
5.8.2 Lalanne
Input:
Stress Offset = 10MPa
Tempo PSD = 10 hrs
Probabilidade de Sobrevivência – 50%
Acabamento Superficial – Polido
Output:
Dano = 0,037
Vida = 27 ciclos de 10 hrs
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72
Figura 88 - resultado do Dano utilizando o método de Lalanne (máximo Dano = 0,037)
Figura 89 - resultado da resposta de tensão na curva PSD
Figura 90 - histograma do número de ciclos relacionado com a amplitude de tensão (MPa)
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73
Figura 91- histograma do dano relacionado com a amplitude de tensão (MPa)
5.8.3 Dirlik
Input:
Stress Offset = 10MPa
Tempo PSD = 10 hrs
Probabilidade de Sobrevivência – 50%
Acabamento Superficial – Polido
Output:
Dano = 0,031
Vida = 32 ciclos de 10hrs
Figura 92 - resultado do Dano utilizando o método de Dirlik (máximo Dano = 0,031)
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74
Figura 93 - resultado da resposta de tensão na curva PSD
Figura 94 - histograma do número de ciclos relacionado com a amplitude de tensão (MPa)
Figura 95 - histograma do dano relacionado com a amplitude de tensão (MPa)
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75
5.9 - Conclusão
O trabalho em questão engloba praticamente todas as etapas para a validação
estrutural de produtos sujeitos a carregamentos aleatório, onde é necessário a
aquisição de dados através de testes e rodagens, para a obtenção de dados de
carregamento fiel para a validação virtual.
Para a obtenção de mais frequências naturais no ensaio experimental modal,
seria adequado a utilização de um martelo de impacto próprio para o ensaio, a
instalação do acelerômetro em pontos com maior amplitude para a melhor
obtenção dos resultados e a aplicação da força em mais de uma direção.
A utilização de ensaios experimentais foi de fundamental importância para se
“calibrar” o modelo de elementos finitos e se obter resultados dinâmicos
satisfatório. O uso das ferramentas de simulação e experimental tendo seus
resultados comparados, aumenta muito a confiabilidade das metodologias,
fornecendo resultados mais precisos e assertivos.
As aquisições de vibração de todas as voltas se mostraram estatisticamente
semelhantes, possuindo uma distribuição normal e podendo ser considerados
como sinais estacionários aleatórios.
O extensômetro (strain gauge) nesse caso mediu as respostas das deformações
existentes e pode ser comparado com o resultado da análise aleatória, como
também fornece uma ideia de quais são os níveis de tensão durante a rodagem,
para identificar se os resultados estão realmente coerentes.
Figura 96 - sinal de deformação do extensômetro da volta nº1
Levando em consideração o gráfico acima do sinal de deformação ao decorrer
do tempo, suas características estatísticas são:
Média -1,40nStrain
Desvio Padrão 153,8uStrain
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76
Com os valores acima podemos identificar as tensões em 1,2 3 sigmas da
seguinte forma:
�
�
�
=
=
=
,
,
,
−
=
−
=
−
=
,
,
,
+
=
+
=
+
=
,
,
,
*nota – a adição de 10MPa é referente a tensão residual que o bloco de
alumínio gera no corpo de prova, que não está contabilizado na medição do
sinal.
Comparando os resultados estatísticos do sinal de deformação com a análise
aleatória temos:
�
�
�
Extensometria
,
,
,
Elementos Finitos
,
,
,
O resultado mais conservador na análise de elementos finitos se deve
principalmente a quantidade de pontos que foram inseridos em seu
carregamento. Levando em consideração que a área embaixo do gráfico de PSD
é a energia aplicada no corpo de prova, pode-se observar facilmente que o
envelope do PSD possui uma área maior, gerando resultados maiores de tensão.
Título do Eixo
ENVELOPE
0,014
0,012
0,01
0,008
0,006
0,004
0,002
0
PSD - Envelope
PSD - Run 01
0 102030405060708090100110120130140150
Título do Eixo
Figura 97 - gráfico do envelope com o PSD da volta nº1
O método das 03 bandas não considera as tensões médias e possui uma
formulação matemática mais simples do que os outros métodos, sendo portanto
o que possivelmente tem a menor correlação com a realidade.
A utilização de poucos dados no PSD para o cálculo de fadiga com o nCode fez
com que os resultados fossem muito diferentes. Para o correto cálculo de fadiga
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77
utilizando os métodos de Lalanne e Dirlik e necessário se utilizar a maior
quantidade de dados possível.
Os 03 métodos utilizados, mostraram resultados próximos para o cálculo da vida
de fadiga, como pode ser visto na tabela abaixo:
Comparativo de Dano de Fadiga
Método das 03 Bandas
Lalanne
0,026
0,037
Dirlik
0,031
Dos resultados acima, pode-se concluir que o corpo de prova submetido a
rodagem de 10hrs (equivalente a 220km) não falhará por fadiga.
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78
Referencias
Apostilas ESSS Dinâmica – Ms. Fabiano Nunes Diesel
Apostila ESSS Fadiga - Ms. Eduardo Araújo
Documentos explicativos da National Instruments
Documentos explicativos da nCode
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