Assuntos Gerais
Quim. Nova, Vol. 33, No. 7, 1612-1619, 2010
A QUÍMICA ATMOSFÉRICA NO BRASIL DE 1790 A 1853
Adílio Jorge Marques e Carlos A. L. Filgueiras*#
Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, CT, Bl. A, CP 68563, 21945-970 Rio de Janeiro – RJ, Brasil
Recebido em 8/10/09; aceito em 17/3/10; publicado na web em 29/6/10
ATMOSPHERIC CHEMISTRY IN BRAZIL FROM 1790 TO 1853. Scarcely any mention is made today of investigations carried
out in Brazil during the period above on the science of the atmosphere. Yet the study of these cases reveals much about the milieu
of a few devoted men who laboured to pursue a scientiic career. That such an arcane topic has been the concern of investigators at
such an early date may come as a surprise to many. The subject was an oddity as a ield of study anywhere at the time, and its history
deserves the attention of present-day chemists.
Keywords: atmospheric chemistry; early chemistry in Brazil.
Pouco se conhece a respeito de algumas investigações pioneiras
da Química atmosférica levadas a cabo no Brasil desde o inal do
século XVIII. Como se trata de assunto tão presente nas cogitações
dos cientistas dos tempos atuais, é importante saber que houve aqui
estudiosos preocupados em pesquisar o tema em épocas mais distantes da História do Brasil. É surpreendente descobrir a existência de
trabalhos, tanto experimentais como especulativos, sobre fenômenos
atmosféricos numa sociedade ainda bastante acientíica. Todavia,
mesmo com as deiciências que se possam apontar naqueles trabalhos,
com a vantagem de se estar no futuro, é preciso reconhecer essas
contribuições como das primeiras no hemisfério ocidental e mesmo
no mundo sobre o tema. O presente artigo trata, sobretudo, de duas
abordagens completamente distintas no estudo da ciência atmosférica,
uma ainda na era colonial, e a outra já em meados do período imperial.
A Química do século XVIII foi dominada pelos estudos dos gases,
suas propriedades e reações. Esta foi a chamada Química Pneumática, que culminou no trabalho de Lavoisier, dando uma explicação
satisfatória para o antigo problema que desaiava a humanidade desde seus primórdios, que era entender o processo da combustão dos
corpos. Foi o desenvolvimento da Química Pneumática que permitiu
a Lavoisier estabelecer os princípios da Química Moderna, que nos
acompanham até hoje. Entre estes princípios estão o entendimento de
que o processo da combustão é uma reação dos corpos combustíveis
com o oxigênio, que o ar não é uma substância elementar, mas sim
uma mistura de gases, e que a água tampouco é elementar, mas um
composto, o qual pode ser quebrado em seus constituintes, os gases
hidrogênio e oxigênio, assim como estes podem ser recombinados
para fazer a síntese da água. Para Lavoisier esses processos podiam
e deviam ser investigados não só de forma qualitativa, mas também
quantitativamente, estabelecendo relações precisas entre as quantidades dos reagentes e dos produtos nas reações químicas.
Um marco decisivo na Química Pneumática foi a descoberta,
em 1756, por Joseph Black (1728-1799), professor de Química e
Medicina na Universidade de Edimburgo, do ar ixo, que conhecemos como dióxido de carbono. Black descobriu, ao investigar a
magnesia alba, ou carbonato de magnésio, que ela efervescia ao ser
posta em ácidos, e o ar liberado coincidia com aquele produzido nas
fermentações levadas a cabo nas cervejarias. Ele mostrou de forma
inequívoca que se tratava de um gás diferente do ar atmosférico e
*e-mail:
[email protected]
#
Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e
Epistemologia
pela primeira vez icou demonstrada a existência de um gás distinto
do ar. O nome ar ixo foi cunhado por Black em virtude de aquele ar
estar ixado num sólido, a magnesia alba, e poder ser liberado por
uma ação química.1 Com o decorrer do século XVIII vários outros
gases foram descobertos: o ar inlamável, ou hidrogênio, por Henry
Cavendish (1731-1810), em 1766; o ar mefítico, ou nitrogênio, de
Daniel Rutherford (1749-1819), em 1772; e o ar do fogo, de Carl
Wilhelm Scheele (1742-1786), em 1772, chamado em 1774 de ar
deslogisticado por Joseph Priestley (1733-1804), e de ar vital,
mais tarde oxigênio, por Antoine-Laurent Lavoisier (1743-1794),
em 1776.1 Em suma, havia uma grande atividade em vários países
europeus envolvendo o estudo dos gases.
A partir de 1783 instalou-se na Europa a voga dos aeróstatos,
ou balões, iniciada na França pelos irmãos Joseph (1740-1810) e
Etienne Montgolier (1745-1799), que construíram balões de ar quente
que voaram a grandes distâncias com bastante êxito.1 Aos balões de
ar quente se seguiram no mesmo ano os balões de hidrogênio, de
autoria de Jacques Alexandre César Charles (1746-1823) e Nicolas
Louis Robert (1761-1828).1 A invenção dos balões de ar quente pelos
Montgolier era, de certa forma, uma reinvenção independente, uma
vez que em 1709 o brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão (16851724) já havia feito vários ensaios com pequenos balões deste tipo
em Lisboa, na presença do Rei D. João V e sua corte, que incluía o
Núncio Apostólico Michelangelo dei Conti, que descreveu o episódio
minuciosamente em carta ainda existente nos Arquivos do Vaticano.
Este mesmo Cardeal Conti viria a reinar como Papa, com o nome de
Inocêncio XIII (1721-1724).2-4
Logo após os vôos dos balões dos irmãos Montgolier, em 1784,
quatro alunos de Química do Prof. Domingos Vandelli, na Universidade de Coimbra, lançaram-se à tarefa de também construir balões, tanto
de ar quente como de hidrogênio. Entre estes alunos, José Álvares
Maciel e Vicente Coelho de Seabra Silva Telles eram brasileiros.5 De
acordo com a Gazeta de Lisboa, a máquina aerostática era um balão
de ar quente de forma piramidal cônica, de 30 palmos de diâmetro
e 45 de altura.6 Ela subiu aos ares em duas ocasiões, em 25 e 27 de
junho de 1784. Esta última data coincide com o nascimento do ilho
de Domingos Vandelli, Alexandre, do qual este relato se ocupará
mais adiante.
Assim relata a Gazeta uma das ascensões: esta máquina se achava
prestes no laboratório químico da Universidade para ser lançada aos
ares a 15 de Junho; mas, querendo os autores dela, que são Tomás
José de Miranda e Almeida, alferes do regimento de cavalaria de
Elvas, José Álvares Maciel, Salvador Caetano de Carvalho e Vicente
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A química atmosférica no Brasil de 1790 a 1853
Coelho de Seabra, todos aplicados às ciências naturais, autorizar
esta experiência (que lhes fora encarregada no princípio do ano
letivo próximo passado pelo seu mestre, o doutor Domingos Vandelli)
com a assistência do Excelentíssimo Reitor da Universidade, por
esta razão se demorou até o referido tempo. E efetivamente no dia
27 assistiram à experiência o dito Excelentíssimo Reitor com todo o
corpo acadêmico, nobreza e povo, por quem os autores dela foram
geralmente aplaudidos.6
Vários outros experimentos semelhantes foram executados pelos
entusiasmados alunos do Prof. Vandelli em outras ocasiões, tanto com
balões de ar quente como de hidrogênio, como relata seguidamente
a Gazeta de Lisboa. Aliás, a empolgação com os novos gases por
pouco não leva a desastres irreparáveis. Por ocasião do casamento do
Infante D. João, futuro D. João VI, mandou o Reitor que os alunos de
Química izessem uma iluminação espetacular de todo o pátio interno
da Universidade de Coimbra com bicos de metal por onde ardiam
chamas de hidrogênio. Pouco depois, para celebrar um aniversário
Real, noticia a Gazeta uma proeza ainda mais temerária, que se fez
em Coimbra em 1785: além da iluminação do costume se formou
no terreiro da Universidade, defronte do Palácio, uma gruta, em que
estava uma fonte perene de fogo, que ardeu das 7 até as 2 horas;
eram mais de 150 chamas contínuas, todas com diversas direções; na
parte superior se via uma águia lançando fogo pelo bico e pontas das
asas, e na parte mais inferior duas grandes tulipas. A todos causou
grande gosto e admiração o ver umas bocas dos tubos lançando as
chamas para cima, a modo de repuxo, outras para baixo, por forma
de cascata, as mais para um e outro lado: obra devida à invenção
do sábio Doutor Vandelli.7 Considerando a enorme quantidade de
hidrogênio queimado por 7 horas, foi um milagre que a Universidade tivesse saído ilesa de um experimento que seguramente nenhum
químico de hoje ousaria empreender.
Na segunda metade do século XVIII fundaram-se no Rio de
Janeiro, sob a égide de Vice-Reis sucessivos, o Marquês do Lavradio
(1769-1778) e D. Luís de Vasconcelos e Sousa (1778-1790), duas
associações que tinham por inalidade o cultivo e a disseminação
das ciências, emulando as academias que proliferavam na Europa.
Foram elas, respectivamente, a Academia Cientíica, que existiu de
1772 a 1778, e a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, de 1786 a
1794. Infelizmente as duas associações tiveram existência fugaz e
não alcançaram o papel que pretendiam de propulsoras do desenvolvimento cientíico. Todavia, elas foram bastante interessantes ao
retratar por suas discussões e publicações a forma como vinham até
o Brasil as cogitações cientíicas que agitavam o velho continente,
e como reagiam a esses progressos os brasileiros que tinham acesso
ao conhecimento. Só se tratará aqui da Sociedade Literária do Rio de
Janeiro. Esta teve a honra de ganhar a dedicatória de um importante
livro, os Elementos de Chimica,8 publicado em Coimbra em duas
partes, em 1788 e 1790, por Vicente Coelho de Seabra Silva Telles,
brasileiro de Congonhas do Campo, Capitania de Minas Gerais. O
livro deveria servir, como se lê em seu frontispício, para ser usado
no curso de Química que, aparentemente, a Sociedade pretendia
estabelecer. Infelizmente, este curso jamais se materializou. Todavia, durante algum tempo a Sociedade funcionou de forma mais ou
menos regular, reunindo-se uma noite por semana, em reuniões em
que os sócios liam comunicações diversas, que eram então discutidas
pelos demais, assim como numa sociedade cientíica moderna. O
sócio João Manso Pereira viria a descrever uma dessas sessões em
seu livro Memoria sobre uma nova Construcção do Alambique,9,10
publicado em 1805. O livro é uma tradução muito comentada de uma
obra do francês Abbé Rosier, com a indicação no subtítulo de ter sido
traduzido pelo P. J. P de A., que provavelmente signiica Prof. José
Pinto de Azeredo. Em uma longa nota de rodapé nas páginas 35-36,
João Manso também descreve vários experimentos com gases feitos
1613
na Sociedade pelo Dr. José Pinto de Azeredo, agora com o nome
dado por extenso. O Dr. Azeredo era um médico carioca que havia
estudado na Universidade de Edimburgo, onde fora aluno de Joseph
Black, o descobridor do dióxido de carbono. O título de Professor se
devia a que o Dr. Azeredo havia sido nomeado professor da Escola
de Medicina recém-fundada em Angola, para onde ele se dirigiria
pouco depois. Ademais, os médicos costumavam ser chamados de
professores.
Azeredo é uma dessas iguras quase esquecidas pela História.
Ele mereceu, contudo, um alentado estudo recentemente, que trata
de estabelecer seu papel na História da Ciência e da Medicina LusoBrasileira da segunda metade do século XVIII ao início do século
XIX. Este estudo tem grande importância ao mostrá-lo como a primeira pessoa no mundo lusófono, e certamente um dos primeiros
em qualquer parte, a investigar a Química da atmosfera com uma
preocupação nitidamente ambiental, tornando-o claramente interessante para nosso mundo contemporâneo.11
José Pinto de Azeredo nasceu no Rio de Janeiro, provavelmente
em 1763 ou 1766. Ele fez seus estudos preparatórios com o professor e poeta Manuel Inácio da Silva Alvarenga, o futuro condutor da
Sociedade Literária do Rio de Janeiro e autor de seus estatutos. Ele
e seu irmão mais novo Francisco Joaquim de Azeredo se matriculam
na Faculdade de Medicina da Universidade de Edimburgo em 1786.
Na capital da Escócia, entre outros escritos, José redige uma memória
sobre os efeitos do ar ixo sobre o sistema nervoso.
Ele logrou ganhar em 1788 um prêmio atribuído todo ano ao
melhor trabalho dos inalistas do curso de Medicina pela Harveian
Society of Edinburgh.11 Com isto, foi também nomeado por um ano
para presidir a Medical Society of Edinburgh.11 A partir de Edimburgo os irmãos foram para Leiden, a im de ultimar seus doutorados
naquela universidade holandesa de tão grande prestígio na Medicina.
José defendeu sua tese em 24 de maio de 1788, apresentando uma
dissertação sobre a gota.
Após o retorno a Portugal, José Pinto de Azeredo foi nomeado
pela Rainha D. Maria I físico-mor de Luanda, Angola. Lá ele ainda
teria como tarefa instalar e dirigir a recém-criada Escola de Medicina de Luanda, e que efetivamente se materializou. Seu trabalho
em Luanda duraria até 1797, quando retornou a Portugal, onde viria
a falecer em 1810, em Lisboa. Antes de ir para Angola, contudo,
Azeredo passou cerca de um ano no Brasil, de 1789 a 1790, num
aprendizado de doenças tropicais na Bahia, no Rio de Janeiro e em
Pernambuco. Foi nesse período que ele participou das reuniões da
Sociedade Literária a que João Manso Pereira se refere.
Em março de 1790, Azeredo publicou no Jornal Enciclopédico
de Lisboa, periódico voltado para as ciências e dirigido pelo médico,
farmacêutico e químico Manoel Joaquim Henriques de Paiva, um
longo artigo de 30 páginas intitulado Exame quimico da atmosphera
do Rio de Janeiro, Feito por Jozé Pinto de Azevedo (sic), doutor em
Medicina pela Universidade de Leide, Fisico mór, e Professor de
Medicina do Reino de Angola, etc.12
Ao introduzir o assunto, Azeredo descreve sucintamente o papel
de vários ilósofos naturais no progresso da ciência química no século
XVIII, sem, contudo, incluir Lavoisier, que só mais tarde aparece
em outros trechos do artigo. Entre aqueles citados por seu papel nos
estudos da atmosfera estão os suecos Bergman e Scheele, o escocês
Black, os ingleses Priestley e Cavendish, o holandês Ingenhousz e o
francês Macquer. Veja-se o que ele airma: Estes ilósofos entraram a
examinar mais profundamente a nossa atmosfera; acharam que além
dos vapores e partículas heterogêneas contém um luido elástico,
que em todos os tempos, e em todos os lugares é composto de três
substâncias mui diferentes entre si. Estas substâncias separadas produzem diversos efeitos sobre os corpos organizados. Uma parte, que
lhe chamaremos ar puro (a) é própria e necessária para a respiração
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Marques e Filgueiras
e para o fogo. A segunda, que chamaremos ar ixo (b), sufoca aos
animais, a destrói toda a irritabilidade (sic). A terceira, que chamaremos ar mofete (c), é de uma natureza inteiramente desconhecida.
É sim imprópria para a respiração e combustão, destrói a vida dos
animais; porém não precipita a cal, nem é absorvido pela água.13
Logo a seguir ele contrasta a química logística pré-lavoisiana
com a explicação dada pelo químico francês ao descrever a combustão como uma reação com o oxigênio: Mr. Lavoisier, examinando o
fenômeno mui atentamente explicou de um modo mais ilosóico.14
Ao dar razão à interpretação de Lavoisier do papel do oxigênio nas
oxidações, acrescenta: Concedendo nós este fato de Mr. Lavoisier,
acho fácil dar a razão porque unindo nós o ar nitroso (óxido nítrico,
NO) com o ar puro, ique toda a composição de uma cor vermelha, e
seja logo absorvida pela água. Esta, provada, tem o mesmo gosto que
o ácido nitroso (ácido nítrico) diluído. Por cuja razão é o ar nitroso
o melhor meio que temos para conhecer a pureza do ar; e dele é que
me servi nas experiências seguintes.15
A seguir vem uma extensa descrição dos experimentos levados a
cabo no Rio de Janeiro para determinar a pureza do ar em diferentes
sítios da cidade:
Experiência 1ª
Em um tubo de vidro dividido em partes iguais introduzi tanto ar
da Prainha quanto enchesse 16 partes: depois introduzi no mesmo
tubo uma porção de ar nitroso igual a uma parte. Toda a composição
se fez vermelha, e a água subiu uma parte. Introduzi segunda porção;
o efeito foi o mesmo: introduzi terceira, a mudança de cor apenas se
percebeu, e a água subiu três partes, e ½ da quarta.15
O experimento de Azeredo consistia em reagir o óxido nítrico
incolor (chamado por ele de ar nitroso) com o oxigênio contido no
ar, produzindo o gás vermelho-acastanhado dióxido de nitrogênio,
o qual reage com a água dando ácido nítrico (em sua nomenclatura,
ácido nitroso, como se lê em outros trechos), o que faz desaparecer
a cor. À medida que mais óxido nítrico ia sendo introduzido, menos
intensa era a reação, uma vez que o teor de oxigênio no ar do tubo
diminuía. Ele repetiu este procedimento em sítios distintos da cidade:
Prainha, São Francisco de Paula, Misericórdia, Passeio Público e seus
arredores até a Glória, e os Morros de São Bento, do Colégio (Morro
do Castelo), da Conceição e de Santo Antônio.
De seus experimentos conclui Azeredo que uma porção de ar
da nossa atmosfera, dividida em 16 partes, contém 3/16 + 1/2 de ar
puro; o que vem a ser menos do que o que é comumente na Europa,
que segundo as experiências de Bergman e Mr. Lavoisier, o ar puro
sempre chega a ¼ de uma porção dada.16
Aqui é necessário fazer uma interpretação de seus dados. O que
ele quer dizer provavelmente é que o teor de oxigênio no ar é de 3/16
mais metade de 1/16, ou seja, 21,9%. Seu valor está então muito mais
próximo do valor real de cerca de 21% que aquele que ele cita como
sendo o dos químicos europeus.
É bastante curioso assinalar que ele consegue resultados tão bons
usando em parte uma Química lavoisiana, mas que, em termos de
teoria, ainda claudica entre esta e a velha Química do logisto, tão
duramente combatida por Lavoisier, como denodadamente defendida
por Priestley. Assim, ao discorrer sobre a parte boa do ar, ou seja, o
oxigênio, diz ele: Esta mesma porção é tão necessária aos homens e
animais quanto é a mesma respiração. Porque como os nossos bofes
lançam continuamente muita quantia de logisto, era necessário que
houvesse uma substância que, combinando-se com ele, separasse
uma matéria nociva. O ar puro que é o único que tem atração por
logisto, em tocando os nossos bofes se converte imediatamente em ar
ixo, como vemos evidentemente se respirarmos por um tubo dentro
d’água de cal.17
Azeredo conclui que o melhor local da cidade em termos da
pureza do ar, ou seja, do teor de oxigênio, é o Passeio Público, o
Quim. Nova
jardim recém-inaugurado pelo Vice-Rei D. Luís de Vasconcelos. A
ele se seguem os ares dos vários morros da cidade. A pior qualidade
de ar está na Misericórdia, e ele dá a razão: Pode ser que os vapores
corruptos do hospital imediato, e dos quarteis sejam a causa desta
diminuiçào do ar puro.18
Após a determinação do teor de oxigênio ele passa a estudar a
participação do dióxido de carbono na atmosfera do Rio de Janeiro.
A maneira de determinar o teor de dióxido de carbono no ar consistia
em adicionar água de cal (solução diluída de hidróxido de cálcio) ao
ar contido num tubo, e veriicar a subida do nível da solução após a
absorção do gás carbônico e consequente precipitação de carbonato
de cálcio. Segundo suas determinações, o ar do centro da cidade
tinha o maior teor de gás carbônico. Todavia, ele concluiu que o
percentual desse gás na atmosfera do Rio, sempre abaixo de 1/16
do total, era bem inferior àquele encontrado geralmente na Europa:
podemos concluir que a quantidade de ar ixo na nossa atmosfera
é menor que na Europa, que nunca é menos de 1/16. Os contínuos
fogos nos climas do Norte, durante o inverno, fazem grande parte do
ar puro converter-se em ixo. As contínuas neves sobre os campos,
a decadência das folhas das árvores, a falta da impressão da luz
sobre os vegetais proíbe que estes absorvam o ar impuro e lancem
o ar delogístico (oxigênio). Estas razões eram bastantes para que
houvesse maior quantidade de ar ixo nesses climas que nos nossos.19
O trabalho de Azeredo é de uma grande atualidade nestes tempos de preocupação ambiental, não apenas pelo assunto em si como
por total pioneirismo e originalidade na área demonstrada por ele.
Certamente ele foi o primeiro a determinar experimentalmente as
características químicas do ar de qualquer localidade no hemisfério
ocidental, mas também aparece como um dos primeiros em todo o
mundo a pôr a Química a serviço da determinação da qualidade do
ar respirado pela população de uma cidade.
A química atmosférica era de grande atualidade no início do
século XIX, e sua importância foi demonstrada de forma espetacular
logo nos primeiros anos do século.
Uma investigação de grande consequência para os estudos da
atmosfera e para toda a ciência foi levada a cabo em 1804 pelo químico francês Louis-Joseph Gay-Lussac (1778-1850). Ele fez duas
ascensões em balão naquele ano. A primeira foi realizada no dia 24
de agosto, em companhia do físico Jean-Baptiste Biot (1774-1862).
Os dois izeram vários experimentos físicos, mas Gay-Lussac desejava muito mais; desta maneira, pouco mais de um mês depois da
primeira ascensão, em 16 de setembro, ele empreendeu um segundo
voo, desta vez sozinho, que atingiu 7016 m acima do nível do mar,
marca que só seria superada em 1850, ano de sua morte.20 Entre os
vários experimentos conduzidos, de Física, Química e Fisiologia,
ele estava particularmente interessado em elucidar uma dúvida que
atormentava muitos químicos da época: uma vez que os gases constituintes da atmosfera terrestre têm pesos diferentes, não haveria uma
concentração maior dos gases mais pesados nas camadas inferiores,
de modo que a composição da atmosfera variasse com a altitude,
assim como varia a pressão total? Gay Lussac fez a ascensão munido de dois tubos evacuados que foram abertos acima de 6000 m de
altitude e, em seguida, fechados. Após a descida, ele analisou o teor
de oxigênio nas duas amostras de ar e veriicou que ele coincidia
com o teor observado na superfície.20 A determinação experimental
da constância da composição da atmosfera teve consequências importantíssimas, pois permitiu a John Dalton validar com segurança sua
Lei das Pressões Parciais, a qual foi fundamental para a elaboração
de sua Teoria Atômica poucos anos depois, em 1807.21
No Brasil se travaria um importante debate sobre a Química
atmosférica na década de 1850. Ao contrário do que sucedia à
época de José Pinto de Azeredo, porém, desta vez a questão não
seria baseada em resultados experimentais, mas em argumentação
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A química atmosférica no Brasil de 1790 a 1853
puramente dialética, em virtude da complexidade do assunto, de que
seus protagonistas não suspeitavam.
Em meados do século, estava claro para os intelectuais da elite
política que o país deveria depender cada vez menos da mão de obra
escrava. A pressão econômica da Inglaterra, aliada ao desenvolvimento rápido e vigoroso da ciência e das técnicas na Europa, motivavam
o pensamento de uma modernidade também intelectual e cientíica.
Nesse espírito nasce a Sociedade Vellosiana de Ciências Naturais
do Rio de Janeiro, da qual Alexandre Antonio Vandelli (1784-1862),
ilho do velho professor de Química e História Natural de Coimbra,
Domingos Agostinho Vandelli (1735-1816), foi um dos sócios fundadores. A vida e a obra do segundo Vandelli já foram relatados num
artigo publicado em Química Nova.22 No presente trabalho será discutido apenas seu papel pontual no debate apresentado mais adiante.
A Sociedade Vellosiana foi criada oicialmente em 17 de setembro
de 1850 com a inalidade, segundo o artigo 1° de seus Estatutos, de
indagar, coligir e estudar todos os objetos pertencentes à História
Natural do Brasil; e juntamente averiguar e interpretar as palavras
indígenas com que forem designados.23
A partir dessa premissa estatutária, oriunda da necessidade de uma
modernização cientíica do país, Alexandre Vandelli, o botânico Francisco
Freire Allemão de Cysneiros (1797-1874) e outros fundadores desejaram
incentivar a pesquisa de temas cientíicos eminentemente nacionais. O
nome da instituição, sugerido por Freire Allemão, foi uma homenagem
ao naturalista Frei José Mariano da Conceição Veloso (1742-1811). Autor
da importante obra de botânica Flora Fluminensis, que expõe o resultado
de suas investigações cientíicas realizadas na Província do Rio de Janeiro
durante 8 anos, Frei Veloso foi motivo de inspiração para os naturalistas
de sua época. É importante ressaltar neste momento histórico o nome
de Freire Allemão. Personagem de escol na ciência brasileira, ilho de
um lavrador, tornou-se médico de D. Pedro II e professor de Zoologia.
Estudou na Academia de Medicina da Universidade de Coimbra, local
onde obteve o diploma de cirurgião. Defendeu sua tese na França em
1828, onde se graduou Doutor em Medicina. Voltou para o Brasil em
1832 e no ano seguinte obteve a cátedra de Botânica e Geologia da
Escola de Medicina do Rio de Janeiro. Foi o pioneiro na avaliação do
grave problema do bócio endêmico no Brasil, observando populações
de Minas Gerais. Membro do Instituto Histórico e Geográico, autor de
dezenas de publicações e pranchas sobre plantas brasileiras, descreveu
várias plantas ainda desconhecidas.24
Freire Allemão integraria a Comissão Cientíica que fez a exploração do Ceará, sendo o presidente e chefe da seção botânica da
Comissão (1859-1861), proposta pelo Instituto Histórico e Geográico
Brasileiro. Composta de naturalistas e engenheiros, ela tinha o objetivo de explorar cientiicamente as províncias do norte e nordeste do
país. Esta Comissão, que icou conhecida depreciativamente como
Comissão das Borboletas, deixaria o Rio de Janeiro em janeiro de
1859, percorrendo as províncias do Ceará, Piauí, Pernambuco, Paraíba
e Rio Grande do Norte. No Ceará seriam colhidas 20.000 amostras de
plantas, e muitas delas, assim como instrumentos e outros materiais,
foram incorporados ao acervo do Museu Nacional no Rio de Janeiro.24
Em 1866 ele seria nomeado Diretor do Museu Nacional, sucedendo a Frederico Burlamaque e ocupando o cargo até 1870. Em
1866, presidiria a comissão destinada ao estudo e classiicação de
vegetais para o pavilhão brasileiro na Exposição Universal, a realizarse em Paris no ano seguinte. A itograia, a histologia e a isiologia
vegetal foram, por mais de meio século, objetos de seus estudos e
descobertas, principalmente sobre as espécies vegetais do Brasil que
eram geralmente enviados à Europa. Ele também foi um desenhista
de alta qualidade, como o atestam seus esboços e pranchas. Freire
Allemão descreveu inúmeras plantas novas, muitas das quais ainda
conservam o nome que ele lhes deu, e nomeou numerosos gêneros,
como visto nas Atas da Sociedade Vellosiana.24
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Retornando à Sociedade Vellosiana, no início de seu funcionamento os sócios efetivos foram distribuídos em quatro seções, sendo
estas consideradas permanentes: Etnograia, Zoologia, Botânica,
Geologia e Ciências Físicas.25 Alexandre Vandelli chegou a exercer
a Presidência ad hoc da Sociedade em 1850, assinando o diploma de
Freire Allemão, apesar de em pouco tempo estarem em lados opostos
nas discussões cientíicas.26
A Sociedade passou por muitos problemas ao longo de sua história,
com inúmeras dissensões internas e ressentindo-se da falta de participação e apoio do Imperador D. Pedro II. O Imperador foi assíduo
frequentador de reuniões intelectuais e cientíicas, como as do Instituto
Histórico e Geográico Brasileiro, nunca prestigiando, porém, os encontros da Sociedade Velosiana. As divergências internas resultaram no
adormecimento contínuo e gradual da instituição. Apesar de o im das
atividades normalmente ser apontado como o ano de 1852, os registros
das Atas do Arquivo do Museu Nacional e do Almanak Laemmert
mencionam reuniões esporádicas até 1857, seguindo-se posteriormente
atas de outros encontros até pelo menos 1871.27
Alexandre Vandelli é o autor de um documento de enorme interesse e
importância que retrata bem os debates ocorridos nas reuniões da Sociedade Velosiana. Este longo documento nunca foi publicado, encontrandose em forma manuscrita no Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis. Ele
se intitula Relexão sobre a questão dos nevoeiros seccos da atmosfera
do Rio de Janeiro. Apresentada na Sociedade Vellosiana, pelo Snr. Dr.
Francisco Freire Allemão.28 Neste manuscrito Vandelli procura rebater
as propostas de Francisco Freire Allemão de Cysneiros (principalmente)
e de Frederico Leopoldo César Burlamaque a respeito da origem dos
nevoeiros secos que costumavam cobrir o Rio de Janeiro, sobretudo
entre agosto e setembro. O manuscrito foi presenteado por Vandelli a
D. Pedro II, e compõe-se de três partes, datadas de 16 de abril, 24 de
novembro e 10 de dezembro de 1853, respectivamente. São ao todo 41
páginas manuscritas em letra uniforme e legível, muito diferente da graia
original de Alexandre Vandelli. A terceira parte é intitulada Aditamento,
tendo sido composta após a carta de dedicação ao Imperador.28 A carta de
leitura difícil de Alexandre Vandelli a D. Pedro II já mostra o espírito da
querela entre os debatedores, ou ao menos o espírito crítico de sua parte:
Senhor.
A questão dos Nevoeiros seccos da extincta Sociedade Velosiana, que V.M.I. estou certo, não deixou passar desapercebida, não
deixa pelo menos de incutir curiosidade. Não podendo pubblicar as
Relexões, tenho a honra de offerecer a V.M.I. a inclusa copia, esperando que V.M.I. se digne aceitar; e icarei muito satisfeito do meu
insigniicante trabalho, se merecer por hum momento a Sua Augusta
attenção: em cujo caso farei apromptar a copia da sua continuação.
Neste insigniicante trabalho, só me pertence a especiicação(?)
do phenomeno, o que, comtudo, os outros não izerão: e só transcrevo os aucthores (ilegível) em que me fundo, porque as sciencias da
observação, e exactas são diferentes da poezia, e não admittem como
esta divagações e fantasias para encher com palavras a escassez de
assumpto ou materia.
Beija a Augusta Mão de V.M.I. com todo o respeito e submissão,
Rio de Janeiro 13 de Nov. de 1853
O revte e obmo subdito
Alexandre Antonio Vandelli28
A querela de Vandelli com seus consócios iniciou-se quando
Freire Allemão colocou o tema em debate na Sociedade Vellosiana,
em 25 de setembro de 1851. Ocorreu através das Questões propostas
para serem discutidas por escripto. Textualmente, as questões foram:
1º - O denso nevoeiro, ou o enfumaçado da atmosfera do Rio de
Janeiro, e de quase toda, senão toda a costa do Brasil nos meses de
1616
Marques e Filgueiras
julho a outubro será devido a uma evaporação terrestre, ou vulcânica,
como pensou Sanches Dorta? Ou será devido a queimadas como se
acredita vulgarmente?
2º - Se este fenômeno é devido às queimadas, datará ele de tempo
anterior à conquista?
3º - Se é anterior às conquistas; seriam estas queimadas puramente
acidentais, como pensam alguns, ou eram de proposito feitas pelos
selvagens, como sustentam outros? E então por que motivo o fariam?
4º - Provada e existência dos incêndios nos tempos dos selvagens,
casuais, ou não, foram eles (os incêndios) que produziram os maçagais, ou campos, pela destruição das matas, como é opinião de
Volney e outras pessoas; ou pelo contrário os incêndios pressupõem
a existência de campos naturais?24
Atualmente sabe-se que a passagem da luz solar (ou lunar) pela
atmosfera carregada de grãos (que podem ser oriundos das queimadas
ou mesmo da poluição das grandes cidades) provoca o avermelhamento da luminosidade celeste. É um fenômeno comum, sobretudo
no inverno e próximo da linha de visada do horizonte. No caso do
Brasil ocorrem principalmente nos meses de inverno (exatamente
a época observada por Freire Allemão), quando as camadas da atmosfera próximas ao solo estão mais frias e, portanto, mais densas.
Tal propriedade é reforçada pela menor convecção atmosférica nos
meses mais frios.27
Fisicamente o que ocorre é que a luz branca solar sofre espalhamento elástico na atmosfera terrestre, espalhando preferencialmente
a luz azul de maior frequência (menor comprimento de onda) ao
interagir com os gases que a compõem. Por isso o céu terrestre é
azul.29 Os grãos de poeira em suspensão espalham a luz visível em
forma de luz com menor frequência (apresentando comprimentos
de onda maiores, isto é, do amarelo ao vermelho). O horizonte ou
partes do céu icam com uma coloração avermelhada. Este é um dos
componentes da chamada névoa seca dos meteorologistas.
Após as quatro questões, Freire Allemão busca explicar sua
hipótese. A primeira autoridade na qual Freire Allemão se apoia
são as observações do astrônomo português Bento Sanches Dorta
(1739-1795), realizadas entre os anos de 1781 e 1788. Dorta realizara
no Rio de Janeiro muitas observações da altura do Sol e de eclipses
dos satélites de Júpiter com o im de determinar as coordenadas
geográicas da cidade, e percebera a existência das névoas em 1784.
As observações de Sanches Dorta são o prelúdio da cultura astronômica na cidade, muito antes do Imperial Observatório Astronômico
fundado por D. Pedro I em 1827. As observações de Sanches Dorta
foram publicadas nos tomos I e III das Memórias da Academia das
Ciências de Lisboa (1797 e 1812).
Freire Allemão foi acometido por uma dúvida, principalmente
em virtude de a observação do fenômeno dos nevoeiros secos por
Sanches Dorta ter ocorrido no mês de abril de 1784, e não no segundo
semestre como ocorria em sua época. Discorrendo a seguir sobre
o fato, ele supõe plausível a hipótese de Sanches Dorta: a de que
em outros locais a névoa também surgia, tais como em Nova York,
Orléans, Berlim, Sibéria, Calábria, Islândia. As névoas poderiam
ser, em certos casos, decorrentes de vulcões ou fumaça oriunda de
fendas no solo, principalmente após a incidência de terremotos como
havia ocorrido na Europa entre o inal do século XVIII e o primeiro
terço do século XIX.
Contudo, a opinião inal de Freire Allemão, centrando-se na
cidade do Rio de Janeiro, foi atribuir o fenômeno às queimadas. Ele
havia observado em 1816 no interior luminense, estando próximo
a queimadas, um resultado muito semelhante de avermelhamento
Quim. Nova
do céu. Para Freire Allemão era o mesmo tipo de névoa que cobria
o Rio de Janeiro na época da discussão na Sociedade Velosiana.
Assim como acontecia na Holanda ou no norte da Alemanha com
a queima de carvão, os nevoeiros secos tornavam o céu turvo, com
uma faixa de cor rubra, tirando para o escuro. Ele airma ainda que
a sombra dos objetos terrestres se torna imperfeita. A associação com
o fenômeno naqueles países o convence de que essa era a melhor
explicação para o caso.
Sessenta anos depois de Azeredo, na época da Sociedade Velosiana, a proposta de Freire Allemão seria a mais viável entre as que
surgiram e serão aqui apresentadas. É importante ressaltar que Freire
Allemão recorre em seu primeiro texto a observações ocorridas no
inal do século XVIII, contemporâneas, portanto, de Azeredo, para
justiicar sua atribuição das queimadas como causadoras dos nevoeiros secos.27
Frederico Leopoldo César Burlamaque (1803-1866), engenheiro e
matemático, foi professor de matemática na Escola Central. Ele havia
derrotado Alexandre Vandelli quando ambos concorreram ao cargo
de diretor do Museu Nacional, em 1847. Burlamaque dirigiu o museu
daquela data até 1866. Ele apresentou na Sociedade Vellosiana, em 06
de outubro de 1851, outra proposta sobre o problema dos nevoeiros
secos, intitulada Qual é a causa do enfumaçamento da atmosfera do
Rio de Janeiro em certa época do ano? – Questão esta que se reduz
à seguinte: - Qual é a causa dos nevoeiros secos?24
A partir da argumentação de Freire Allemão, Burlamaque considerou o assunto tão difícil de resolver quanto o dos aerólitos, das
estrelas cadentes, ou mesmo dos nevoeiros que cobrem os mares
polares. Para ele, efeitos idênticos devem ter causas idênticas, ou
seja, a causa deveria ser a mesma em todos os lugares do mundo
(citados por Freire Allemão), mesmo respeitando as circunstâncias
locais. Para Burlamaque, atribuir os nevoeiros secos às queimadas
não poderia explicar todas as observações e a maneira como ocorriam, considerando ele a quantidade de queimadas insuiciente para
provocar algo daquela magnitude. Se as causas fossem as queimadas,
o fenômeno deveria incluir também uma nítida chuva de cinzas ou
a presença de um forte cheiro de fumaça, e nenhum dos efeitos era
observado no Rio de Janeiro.
Burlamaque percebe que a época de ocorrência dos nevoeiros era
sempre próxima do equinócio de setembro, e coloca acertadamente
a pergunta: Terá a mudança de estação alguma inluência sobre o
aparecimento deste fenômeno?24 Esta é a resposta para ele, pois
parece-lhe a mais plausível de todas. Para balizar sua proposição, cita
Alexander von Humboldt (1769-1859), que atribui as névoas secas
ao movimento de aproximação ou afastamento do sol em relação ao
equador. A partir de uma informação do próprio Freire Allemão, de
que ocorriam queimadas em regiões do Rio de Janeiro no verão e
que nem por isso as névoas secas são vistas na cidade na ocasião,
Burlamaque argumentou que se o fenômeno fosse devido apenas à
queima vegetal ou mineral, haveria uma constante névoa densa e
negra sobre as cidades. Isso, porém, não ocorria. Usa como exemplo
Londres e a imensa quantidade de carvão queimada naquela cidade
para aquecimento no inverno. Apesar da enorme quantidade de carvão
usado para aquecimento e para mover as indústrias inglesas, a névoa
local era normalmente branca e úmida, sendo conhecida na GrãBretanha desde seus primórdios. No entanto, aparentemente sem o
conhecimento de Burlamaque, a partir do século XIX Londres passou
a ser coberta pelo fog, uma densa névoa escura, que só desapareceu
nos anos 1970, quando todo o carvão de aquecimento passou a ser
tratado para eliminar o enxofre.
Seguindo em seu texto, acabou Burlamaque por citar outras hipóteses geralmente mencionadas por outros autores para o caso em
estudo: vapores do calor central da Terra; a imersão da atmosfera na
cauda de um cometa; fumo exalado das erupções vulcânicas; fumo de
Vol. 33, No. 7
A química atmosférica no Brasil de 1790 a 1853
um corpo estranho que se teria queimado sem chama; pó impalpável
produzido pelo im de um planeta consumido por seu fogo central;
ou ainda pelo encontro de um cometa. Propôs ainda que houvesse
possíveis efeitos elétricos, os quais ele não explica.
Para o Diretor do Museu Nacional, contudo, muitas das causas
mencionadas por seus pares mostravam-se pouco satisfatórias. O
generalismo na ciência não fazia sentido para Burlamaque. Ele não
acreditava em causas exógenas para o fenômeno: atribuir a causas
estranhas ao nosso globo a origem de certos fenômenos que nele se
passam é recorrer a atos de imaginação, é forjar hipóteses mais ou
menos plausíveis, que de ordinário não satisfazem ao espírito, ou
não resistem a um frio exame.24
Explicações inerentes aos processos internos do planeta, como
tremores ou vulcões, também não se mostravam viáveis. São fenômenos longínquos à realidade brasileira, além de muito grandiosos
para provocar um efeito demasiado pequeno. Continua Burlamaque
em sua argumentação:
se os nevoeiros secos de 1783 e 1834 podem ser atribuídos a
causas estranhas ao nosso globo, eles deveriam ter sido muito mais
gerais, e em muito maior escala do que realmente não foram, e portanto de nenhum modo podem servir para explicar fenômenos locais
e muito parciais, particularmente os que periodicamente aparecem
nos países intertropicais.24
Ao inalizar suas relexões, Burlamaque mostra coerência em seus
argumentos. Sua explicação é a mais correta entre os debatedores,
feita inclusive a partir das observações daquele ano, quando as névoas
foram particularmente intensas, tanto as secas quanto as úmidas. O
fato de ter havido poucos ventos acabou por concentrar ainda mais
os nevoeiros sobre a cidade, tornando a visão ainda mais difícil à
distância. O efeito avermelhado do sol e da lua se mostrara inalterado
nas ocasiões em que os astros foram vistos no horizonte. Lendo suas
explicações veriica-se que ele tende a relacionar as névoas com a
estação do ano no Rio de Janeiro, ou seja, com o inverno. Faltava
a Burlamaque apenas conhecer a questão das inversões térmicas na
atmosfera.
Em primeiro de outubro de 1852, Freire Allemão apresenta uma
réplica à argumentação de Burlamaque na Sociedade Velosiana:
Questão do nevoeiro, ou enfumaçado da atmosphera do Rio de Janeiro. (Replica).30 Diz que escreveu apressadamente suas propostas,
e que as mesmas foram tomadas à frente pelo talento de Burlamaque.
Insistiu Freire Allemão, apesar de seu consócio ter diferenciado as
névoas secas das queimadas, que estas seriam as verdadeiras causas
dos nevoeiros. Freire Allemão ressalta uma passagem na qual foi
explicitada que a quantidade observada de fumo levantada em determinada explosão vulcânica foi suiciente para cobrir, na Europa,
muitas vilas. E questiona o caso da Inglaterra citado por Burlamaque,
já que deveriam ser levadas em consideração questões atmosféricas de
cada cidade. Assim, o cheiro das queimadas poderia não ser percebido
depois de alguma distância devido a vários fatores locais.
Reairmando que a causa devia ser apenas a fumaça, termina
sua réplica airmando que eram comuns as queimadas também em
outras províncias, como Minas Gerais, não descartando que também
ocorresse no Rio de Janeiro a mistura da névoa seca com verdadeiro
meteoro. Ou seja, não descartava a presença de fenômenos astronômicos na alteração atmosférica que se apresentava.
Contrariando os dois textos de Freire Allemão, assim como
aquele de Burlamaque, todos apresentados na Sociedade Vellosiana,
Alexandre Vandelli propôs, em seu manuscrito de 1853, que as névoas seriam relacionadas a fenômenos atmosféricos e astronômicos.
Era uma explicação diferente, apesar de ainda em voga na época,
de que era possível e constante a inluência cósmica na atmosfera
terrestre.28 No material de estudos astronômicos de D. Pedro II, por
exemplo, depositado no Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis,
1617
há um pequeno texto anotado em letra cursiva no qual o Imperador se
ocupa em estudar os nevoeiros relacionados a material astronômico
e de erupções próximas à Calábria no ano de 1783. Eles haviam sido
registrados e investigados pelo naturalista alemão Johann Reinhold
Forster (1729-1798).
Ao longo de seu trabalho Alexandre Vandelli atacou de forma
virulenta seus dois debatedores, deixando claras as desavenças
que ocorriam no interior da Sociedade Velosiana e que certamente
contribuíram para o im desta. O que possivelmente também contribuiu para as querelas entre Vandelli e os outros dois naturalistas
envolvidos na questão dos nevoeiros secos, estes amigos entre si, foi
a antiga disputa de Vandelli com Burlamaque pelo cargo de Diretor
do Museu Nacional.31
Alexandre Vandelli combateu tanto a argumentação de Francisco
Freire Alemão como a de Frederico Leopoldo César Burlamaque,
apresentadas na Sociedade Velosiana, a respeito do aparecimento
de nevoeiros secos no Rio de Janeiro nos meses de inverno. Como
descrito anteriormente, tanto Freire Alemão como Burlamaque
concordavam que o fenômeno consistia num denso nevoeiro, ou
enfumaçamento da atmosfera do Rio de Janeiro, e de quase toda,
senão toda a costa do Brasil nos meses de julho a outubro.32 Frederico
Burlamaque percebeu que o fenômeno ocorria em diferentes partes do
globo, logo, sua explicação não deveria ater-se a um fenômeno local
como as queimadas; o fenômeno poderia ser observado, às vezes,
até em alto mar. Alexandre Vandelli discordará deste último ponto,
dizendo que o fenômeno desaparece logo que nos afastamos da costa.
Burlamaque também não acreditava em causas exógenas para o
fenômeno, não aceitando que os nevoeiros secos fossem um fenômeno
extraterrestre, como viria a defender Vandelli. Este, que defendia a
origem extraterrestre dos nevoeiros, chegou a escrever em tom de
falsa modéstia e ironia: a velhice, ou decrepitude, com o seu horrível
cortejo, e tanto pior, acompanhada com inumeráveis afecções morais,
enfraquece, até totalmente extingue as faculdades mentais. Neste
caso talvez eu já esteja, e será por esta razão que não dou a devida
inteligência, compreendo mal o que refere o Sr. Dr. Burlamaque… O
ensino antigamente embrutecia em vez de instruir; por isto, e pelas
erradas doutrinas que me transmitiram, julgo de diferente modo, e
compreendo mal.28
Para Vandelli, não obstante sua fraca e cansada inteligência,
aqueles nevoeiros não se limitavam às regiões intertropicais, mas
estendiam-se da costa da África por toda a Europa, de Portugal à
Sibéria, da Suécia ao Sul da França. Chamou em seu favor argumentos semelhantes, como os do francês Marcel de Serres, que é citado
frequentemente. Freire Alemão opunha-se a Burlamaque, porém de
forma inadequada e errônea, segundo Vandelli. Para Freire Alemão
seria conveniente começar a discussão examinando se os nevoeiros
secos não seriam devidos a fumos de queimadas, opinando que é
importante saber-se em que a névoa seca se distingue dos fumos.35
Esta simples sugestão provoca a ira de Vandelli, que comenta ironicamente: sinto que escapasse isto ao Sr. Dr. Freire. Não se sabe
o que é fumo, o que é névoa, e propõe-se a questão? Não é preciso
abrir dicionário algum de história natural para dar a deinição;
basta saber ver, e ter idéias exatas das coisas, que são tão comuns
como estas de que se trata.28
Alexandre Vandelli contrapõe em seus argumentos que os nevoeiros secos duravam por vezes de 30 a 40 dias, o que não seria
próprio dos fumos, que se dissipavam rapidamente. Cunhou a frase de
efeito que todas as esperanças loucas ou malfundadas desvanecemse, duram como o fumo. Argumentou ainda que o nevoeiro úmido
fosse passageiro, durando apenas algumas horas, ou no máximo de
um a dois dias.
Outra característica importante para Vandelli dizia respeito ao
fato de os nevoeiros secos não tenderem a subir muito na atmosfera,
1618
Marques e Filgueiras
como os nevoeiros úmidos ou os fumos, mas sim de icarem adstritos às camadas inferiores da mesma. Esta se aigura hoje como uma
arguta observação, tal como as de Burlamaque, a respeito de uma
característica comum em nuvens de poluição, oriundas do fenômeno
de inversão térmica.33
Ainda segundo Vandelli, Freire Alemão tem a ousadia de propor que
se substituísse o nome nevoeiro seco por fumaça. Caso se decidisse fazer
isso, os brasileiros icariam escarnecidos porque ou não conhecemos o
fenômeno, e não o soubemos classiicar, ou quisemos ter o pueril gosto
de termos um fenômeno só nosso, e particular das incógnitas queimadas dos índios.30 Nas muitas vezes em que Vandelli argumentou contra
a possível origem dos nevoeiros secos a partir de queimadas, ele só se
referiu às queimadas provocadas pelos índios. Não menciona as enormes
queimadas dos fazendeiros através da mão de obra escrava.
Em um trecho de grande violência contra as idéias de Freire
Alemão, escreve Vandelli: Não há analogia alguma entre as nuvens
de fumo das combustões, ou antes fusões vulcânicas, com a causada
pelas fogueiras ou combustão vegetal, e muito menos ainda com
os nevoeiros secos, em que não entra fumo algum. Custa a atinar
com a comparação da combustão vulcânica, liquiicando rochas,
decompondo e expelindo gases, água fervente, luidos, lavas, escórias, cinzas, como as das fogueiras, que contêm diminutas parcelas
de hidrogênio, azoto e carbônio. Não é possível a comparação da
combustão em grande profundidade no centro da terra, e às vezes
com a grande altura e pressão da enorme massa das águas do mar,
com a combustão simples ao ar livre! O Sr. Dr. Freire mesmo (apesar
de servir-se deste argumento) não pode deixar de reconhecer, que
não é valioso para o caso de que se trata. (…) Se o Sr. Dr. Freire
involuntariamente perturbou (propondo a questão) a popular posse
e tranqüilidade da fumaça setembrina, sabe (desprezando todas as
razões) procurar remediar o mal que fez, e mantê-la na posse popular
em que estava. Foi-lhe para isto necessário recorrer à cediça e já
há muito esquecida e desprezada ilosoia de Aristóteles com as suas
qualidades ocultas, em virtude das quais as cousas são o que são, e
fora disto é inútil levar as indagações.28
Em sua detalhada análise das memórias de Burlamaque e Freire
Allemão, apresentou Vandelli opinião contrária à ideia de que os
nevoeiros secos pudessem ter algo a ver com erupções vulcânicas.
Principalmente pelo fato de eles serem tão comuns no Brasil, onde
não existem vulcões, como escreveu Burlamaque ao inal de seu texto.
A conclusão é a de que só restaria uma explicação plausível para a
formação dos nevoeiros secos. Buscando contínuo apoio em Marcel
de Serres34, diz ele: O todo do sistema a que pertencemos resulta da
condensação da matéria nebulosa, análoga à que existe em diferentes
pontos das vastas regiões do espaço... os planetas terão assim passado
pelos mesmos estados que presentemente toma a matéria nebulosa,
quando sucessivamente forma as auroras boreais, estrelas errantes,
aerólitos, e por im os cometas.28
Mais adiante, Vandelli expõe sua conclusão de que o enfumaçamento é de origem celeste (astronômica) e não terrestre: se as
auroras boreais, estrelas errantes, aerólitos, ou melhor uranólitos,
por estarem sujeitos à lei da periodicidade, são tidos e considerados
como resultando de uma mesma causa, impelidos pelos mesmos
movimentos, e serem diferentes estados de condensação da matéria
nebulosa: e estando os nevoeiros secos no mesmo caso de ainidade
que entre si têm aqueles fenômenos, parece necessária conclusão
considerá-los e classiicá-los como fazendo parte de um desses estados transitórios de condensação por que passa a matéria nebulosa,
que já o é do éter.
A mui importante circunstância da periodicidade, a que todos
dão tanto peso e consideração, é, quanto a mim, uma forte razão
contra a errada e desarrazoada idéia do fumo e das fogueiras, que
nos obrigaria a considerar também como proveniente de fumo as
Quim. Nova
estrelas errantes, etc.
Procurarei explicar-me melhor. Aparecendo os nevoeiros secos
nas mesmas épocas ou períodos em que costumam aparecer as auroras boreais, estrelas errantes, etc., parecem ter com aqueles alguma
ainidade; admitindo-se, como geralmente o está, que o éter, passando
por diferentes estados de condensação, forma as nebulosas, auroras
boreais, estrelas errantes, aerólitos, cometas e planetas, parece que
os nevoeiros secos, que estão nas mesmas circunstâncias (por aparecerem nos mesmos períodos daqueles) são um estado transitório por
que passa ou o éter, ou já a matéria nebulosa; em uma palavra, certo
estado de condensação por que passa o éter, ou a matéria nebulosa,
que é já um estado mais condensado do éter. Finalmente, (tal é minha
proverbial condescendência) concordarei a custo, que seja fumo, mas
fumo celeste ou atmosférico, e não terrestre, e de palhas e restolho, mas
da combustão ou alteração por que passa o éter ou matéria elementar,
ou nebulosa, quando muda de estado, quando se vai condensando.28
Apesar da insistência numa origem extraterrestre para os nevoeiros secos, uma vez que em muitos casos eles apareciam periodicamente, além de também ocorrerem simultaneamente em diferentes
pontos do globo, Vandelli escreve várias vezes que esses fenômenos
não se manifestam em mar alto, extinguindo-se à medida que nos
distanciamos da costa. Contudo, não apresenta uma explicação para
a inexistência do fenômeno em mar aberto.
Aos nossos olhos modernos os argumentos de Alexandre Vandelli
são surpreendentes, especialmente quando ele considera que fenômenos tão diferentes como auroras, meteoritos, cometas, planetas e
nevoeiros secos constituam uma única classe de fenômenos, todos
eles resultando da condensação do éter interestelar. Mas considerar
muitos efeitos a partir de uma causa única também foi um argumento
criticado por Burlamaque no texto de Freire Allemão.
De qualquer modo, o debate permaneceu inconcluso. Tratava-se
de um assunto de enorme complexidade, envolvendo muitos fenômenos meteorológicos que conluíam no efeito que se denomina
hoje inversão térmica. É interessante, porém, ver como os estudiosos
brasileiros debateram o tema, muito embora sua solução estivesse
ainda bem distante do alcance da ciência do século XIX.
O Brasil passava em meados do século XIX por um momento
de avivamento de sua soberania e de sua cultura. Conhecer sua terra,
esclarecer o que acontecia no país, fazia parte dos objetivos dos cientistas da época. A ocorrência da discussão dos nevoeiros secos, por si
mesma, já é uma mostra que havia um espaço sempre crescente para
as questões cientíicas nacionais. A querela resultante mostra também
como podia variar a apreciação da natureza de um mesmo fenômeno
em meados dos oitocentos no Brasil, e como as reputações na ciência
surgiam e mudavam. Também é interessante contrastar a forma de
pensar a ciência atmosférica no século XVIII, em que havia uma
preocupação experimental quase sempre presente, como se vê nos
toscos, porém bem embasados ensaios de José Pinto de Azeredo, ou
mesmo no caso de João Manso Pereira, com a posição de cientistas
do século seguinte, que em muitos aspectos se haviam distinguido por
importantes contribuições experimentais, mas agora adotavam uma
postura puramente dialética, em face de sua impotência em resolver
uma questão de enorme complexidade e além da ciência de seu tempo.
REFERÊNCIAS E NOTAS
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Moderna, Odysseus: São Paulo, 2002, p. 53-75.
2. Taunay, A. E.; Bartholomeu de Gusmão e a sua Prioridade Aerostatica,
Imprensa Oficial: São Paulo, 1938, p. 119-121.
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Conhecimento;Goldfarb, A. M.; Maia, C. A., orgs.; Edusp: São Paulo,
1995, p. 381-390.
Vol. 33, No. 7
A química atmosférica no Brasil de 1790 a 1853
4. Maxwell-Stuart, P. G.; Chronicle of the Popes, Thames and Hudson:
Londres, 1997, p. 203.
5. Filgueiras, C. A. L.; Ciência Hoje 1988, 8, 52.
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7. Ibid., nº XXVIII, 2º suplemento, 16 de julho de 1785.
8. Seabra Silva Telles, V. C.; Elementos de Chimica, Real Oficina da
Universidade: Coimbra, 1ª parte, 1788, 2ª parte, 1790; Filgueiras, C.
A. L.; Quim. Nova 1985, 8, 263; Filgueiras, C. A. L.; Schriftenreihe für
Geschichte der Naturwissenschaften, Technik und Medizin, Leipzig,
1991, vol. 27, p. 27-44.
9. Pereira, J. M.; Memoria sobre Huma Nova Construcção do Alambique
para se Fazer Toda a Sorte de Distillações com Maior Economia, e
Maior Proveito no Resíduo. Sobre a Distillação das Aguas Ardentes.
Traduzida do Francez pelo P. J. P. de A. Acrescentada e Illustrada com
as Notas de João Manso Pereira, Impressão Régia: Lisboa, 1805.
10. Filgueiras, C. A. L.; Quim. Nova 1993, 16, 155.
11. Pinto, M. S.; Cechini, M. A. G.; Malaquias, I. M.; Moreira-Nordemann,
L. M.; Pita, J. R.; História, Ciência, Saúde - Manguinhos 2005, 12,
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12. Azeredo, J. P.; Exame Químico da Atmosphera do Rio de Janeiro,
Jornal Enciclopédico, Lisboa, março de 1790, 259-288.
13. Ref. 12, p. 264-265.
14. Ref. 12, p. 267.
15. Ref. 12, p. 268. Ar nitroso corresponde ao óxido nítrico, NO. A cor
vermelha apareceu pela oxidação deste pelo oxigênio do ar a dióxido
de nitrogênio, NO2, de cor vermelho-acastanhada. E ácido nitroso é o
nome antigo do ácido nítrico, HNO3, pela reação de NO2 com água.
16. Ref. 12, p. 272-273.
17. Ref. 12, p. 273.
18. Ref. 12, p. 269-270.
19. Ref. 12, p. 279-280.
20. Crosland, M.; Gay-Lussac - Savant et Bourgeois, Belin: Paris, 1991, p.
52-53.
21. Filgueiras, C. A. L.; Química Nova na Escola 2004, no. 20, 38.
1619
22. Marques, A. J.; Filgueiras, C. A. L.; Quim. Nova 2009, 32, 2492.
23. Estatutos da Sociedade Vellosiana do Rio de Janeiro; Arquivo do Museu
Nacional, cota BR MN.DR, pasta 3, doc. 157, 1850.
24. Sociedade Vellosiana de Ciências Naturais do Rio de Janeiro
Bibliotheca Guanabarense; Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Setor
de Obras Raras. - Microilme PR –SOR 19 (3), 1850-1855.
25. Paiva, M. P.; Associativismo Cientíico no Brasil Imperial: a Sociedade
Vellosiana do Rio de Janeiro, Thesaurus: Brasília, 2005, p. 28.
26. Diploma de Francisco Freire Allemão de Cysneiros da Sociedade
Vellosiana; Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Setor de
Manuscritos, Microilme MS-548(2), e documento n° I – 28, 05, 062,
1850.
27. Marques, A. J.; Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Brasil, 2009.
28. Vandelli, A. A.; Relexão sobre a Questão dos Nevoeiros Seccos da
Atmosfera do Rio de Janeiro. Apresentada na Sociedade Vellosiana,
pelo Snr. Dr. Francisco Freire Allemão, Arquivo do Museu Imperial de
Petrópolis, Cota n° MS MI Maço 126-Doc. 626313, 1853.
29. Espalhamento elástico da luz ocorre pela relexão da luz ao atravessar
um meio com alteração de sua direção de propagação, porém sem
modiicação de sua energia.
30. Biblioteca Guanabarense. Trabalhos da Sociedade Vellosiana; Arquivo
do Museu Nacional, Cota n° 500.1, S678T, 1851-1855, p. 106-108.
31. Requerimento de Frederico Leopoldo Cesar Burlamaque para Diretor
do Museu Nacional; Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Setor de
Manuscritos, Pasta C-0108, 018, nº 003, de 08 de maio de 1847, com
Carta anexa sob o nº. C-60, 4.
32. Ref. 30, p. 77.
33. Marques, A. J.; Alexandre Antonio Vandelli e as Ciências Naturais,
Livro de Anais do Congresso Scientiarum Historia, UFRJ/HCTE, Rio
de Janeiro; 2008, p. 324-337.
34. Pierre Marcel Toussaint de Serres (1783-1862), naturalista e geólogo
francês.