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1 Louvai a YAHUH1 . יהוהLouvai ao , יהוהporque Ele é bom, porque a sua misericórdia dura
para sempre.2 Quem pode contar as obras poderosas do YAHUH ? יהוהQuem anunciará os
seus louvores?3 Benditos os que guardam o juízo, o que pratica justiça em todos os tempos.4
Lembra-te de mim, YAHUH , יהוהsegundo a tua boa vontade para com o teu povo; visita-me
com a tua salvação (Yeshuah).5 Para que eu veja os bens de teus escolhidos, para que eu me
alegre com a alegria da tua nação, para que me exalte com a tua herança. 6 Nós pecamos
como os nossos pais, cometemos a iniquidade, andamos perversamente.7 Nossos pais não
entenderam as tuas maravilhas no Egito; não se lembraram da multidão das tuas misericórdias;
antes o provocaram no mar, sim no Mar de Juncos.8 Não obstante, Ele os salvou por amor do
Seu Nome, para fazer conhecido o seu Poder.9 Repreendeu, também, o Mar de Juncos, e este
se secou, e os fez caminhar pelos abismos como pelo deserto.10 E os livrou da mão daquele
que os odiava, e os remiu da mão do inimigo. 11 E as águas cobriram os seus adversários; nem
um só deles ficou.12 Então creram nas suas palavras, e cantaram os seus louvores.13 Porém
cedo se esqueceram das suas obras; não esperaram o seu conselho.14 Mas deixaram-se levar à
cobiça no deserto, e tentaram a Elohá na solidão.15 E ele lhes cumpriu o seu desejo, mas
enviou magreza às suas néfeschs.16 E invejaram a Moshêh no campo, e a Aaron, o santo do
YAHUH 17. יהוהAbriu-se a terra, e engoliu a Datã, e cobriu o grupo de Abirão.18 E um fogo
se acendeu no seu grupo; a chama abrasou os ímpios.19 Fizeram um bezerro em Horebe e
adoraram a imagem fundida.20 E converteram a sua kevod na figura de um boi que come
erva.21 Esqueceram-se de Elohá, seu Salvador(Yeshua), que fizera grandezas no Egito,22
Maravilhas na terra de Ham, coisas tremendas no Mar de Juncos.23 Por isso disse que os
Segundo Yosef Ben Avraham, editor da “Escritura Hebraica Restaurada”, o Nome do Eloáh de Ysrael é YAHWH
, יהוהcuja pronúncia seria “IARRÚ”. Contudo, essa não se constitui na forma mais popular de pronúncia ou de
escrita do “nome” de Deus no judaísmo.
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destruiria, não houvesse Moshêh, seu escolhido, ficado perante ele na brecha, para desviar a
sua indignação, a fim de não os destruir.24 Também desprezaram a terra aprazível; não
creram na sua Palavra.25 Antes murmuraram nas suas tendas, e não deram ouvidos à voz do
YAHUH 26. יהוהPor isso levantou a sua mão contra eles, para os derrubar no deserto;27
Para derrubar também a sua semente entre as nações, e espalhá-los pelas terras.28 Também se
juntaram com Baal-Peor, e comeram os sacrifícios dos mortos.29 Assim o provocaram à ira
com as suas invenções; e a peste rebentou entre eles.30 Então se levantou Fineiyah, e fez juízo,
e cessou aquela peste.31 E isto lhe foi contado como justiça, de geração em geração, para
sempre.32 Indignaram-no também junto às águas da contenda, de sorte que sucedeu mal a
Moshêh, por causa deles;33 Porque irritaram o seu ruarh, de modo que falou
imprudentemente com seus lábios.34 Não destruíram os povos, comYAHUH הוהיlhes
dissera.35 Antes se misturaram com os gentios, e aprenderam as suas obras.36 E serviram aos
seus terafins, que vieram a ser-lhes um laço.37 Demais disto, sacrificaram seus filhos e suas
filhas aos espíritos iníquos;38 E derramaram sangue inocente, o sangue de seus filhos e de suas
filhas que sacrificaram aos terafins de Kená’an; e a terra foi manchada com sangue.39 Assim se
contaminaram com as suas obras, e se corromperam com os seus feitos.40 Então se acendeu a
ira do YAHUH יהוהcontra o seu povo, de modo que abominou a sua herança.41 E Ele lhes
entregou nas mãos das nações; e aqueles que os odiavam governaram sobre eles.42 E os seus
inimigos os oprimiram, e foram humilhados debaixo das suas mãos.43 Muitas vezes os livrou,
mas o provocaram com o seu conselho, e foram abatidos pela sua iniqüidade.44 Contudo,
atendeu à sua aflição, ouvindo o seu clamor.45 E se lembrou da sua aliança, e se arrependeu
segundo a multidão das suas misericórdias.46 Assim, também fez com que deles tivessem
misericórdia os que os levaram cativos. 47 Salva-nos, YAHUH יהוהnosso Elohá, e congreganos dentre os gentios, para que louvemos o teu Nome Santo, e nos exaltaremos no teu
louvor.48 Bendito seja YAHUH יהוהElohá de Ysrael, de eternidade em eternidade, e todo o
povo diga: Assim seja. Louvai ao .( יהוהEscritura Hebraica Restaurada)
1Louvado seja o SENHOR! Deem graças ao SENHOR porque ele é bom; seu amor
dura para sempre! 2Quem poderá contar os feitos poderosos do SENHOR? Quem
poderá louvá-lo como ele merece? 3Como são felizes os que fazem o que é certo e
praticam a justiça todo o tempo! 4Lembra-te de mim, SENHOR, quando mostrares
favor ao teu povo; aproxima-te e resgata-me. 5Que eu compartilhe da prosperidade
dos teus escolhidos; que eu me alegre na alegria do teu povo e exulte com aqueles
que pertencem a ti. 6Pecamos, como nossos antepassados; fomos desobedientes e
rebeldes. 7No Egito, nossos antepassados não deram valor às maravilhas do
SENHOR. Não se lembraram de seus muitos atos de bondade; rebelaram-se contra
ele junto ao mar Vermelho. 8Assim mesmo ele os resgatou, para proteger a honra
de seu nome, para mostrar seu grande poder. 9 Ordenou que o mar Vermelho
secasse e os conduziu pelas águas como por um deserto. 10Ele os resgatou das
mãos de seus inimigos e os libertou das garras de seus adversários. 11As águas se
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fecharam e cobriram seus opressores; nenhum deles sobreviveu. 12Então creram
em suas promessas e cantaram louvores a ele. 13Depressa, porém, esqueceram-se
do que ele havia feito; não quiseram esperar por seus conselhos. 14No deserto, os
desejos do povo se tornaram insaciáveis; puseram Deus à prova naquela terra
desolada. 15Ele atendeu a seus pedidos, mas também lhes enviou uma praga.
16No acampamento, tiveram inveja de Moisés e de Arão, o sacerdote consagrado
ao SENHOR. 17Por isso, a terra se abriu; engoliu Datã e sepultou Abirão e os
outros rebeldes. 18Fogo desceu sobre aqueles que os seguiam; uma chama
consumiu os perversos. 19No monte Sinai, 138 fizeram um bezerro; prostraram-se
diante de uma imagem de metal. 20Trocaram seu Deus glorioso pela estátua de
um boi que come capim. 21Esqueceram-se de Deus,seu salvador, que havia feito
coisas grandiosas no Egito, 22atos maravilhosos na terra de Cam, feitos notáveis
no mar Vermelho. 23Por isso, declarou que os destruiria, mas Moisés,seu
escolhido, pôs-se entre ele e o povo e suplicou-lhe que afastasse sua ira e não os
destruísse. 24Eles, porém,se recusaram a entrar na terra agradável, pois não
creram na promessa. 25Em vez disso,resmungaram em suas tendas e não deram
ouvidos ao SENHOR. 26Assim, ele jurou solenemente que os mataria no deserto,
27que dispersaria seus descendentes entre as nações e os enviaria para o exílio
em terras distantes. 28Depois, juntaram-se aos adoradores de Baal em Peor;
chegaram a comer sacrifícios oferecidos a mortos. 29Com todos esses atos,
provocaram a ira do SENHOR, por isso uma praga se espalhou entre eles.
30Fineias, porém, teve coragem de intervir, e a praga foi detida. 31Assim, desde
então, ele foi considerado justo. 32Também em Meribá, provocaram a ira do
SENHOR, e causaram sérios problemas a Moisés. 33Fizeram Moisés se irar, e ele
falou sem refletir. 34Não destruíram as nações que habitavam na terra, como o
SENHOR lhes havia ordenado. 35Em vez disso, misturaram-se com elas e
adotaram seus costumes. 36Adoraram ídolos estrangeiros, o que causou sua
ruína. 37Chegaram a sacrificar aos demônios seus filhos e filhas. 38Derramaram
sangue inocente, o sangue de seus filhos e filhas. Ao oferecer sacrifícios aos ídolos
de Canaã, contaminaram a terra com sangue. 39A si mesmos contaminaram com
seus atos perversos; seu amor aos ídolos foi adultério. 40Por isso, a ira do
SENHOR se acendeu, e ele sentiu aversão por seu povo, sua propriedade.
41Entregou-os às nações, e foram dominados por aqueles que os odiavam. 42Seus
inimigos os oprimiram e os sujeitaram ao seu poder cruel. 43Muitas vezes os
livrou, mas escolheram se rebelar contra ele; por fim, seu pecado os destruiu.
44Ainda assim, ele viu a aflição do povo e ouviu seus clamores. 45Lembrou-se de
sua aliança com eles e teve compaixão por causa do seu grande amor. 46Fez que
seus captores os tratassem com misericórdia. 47Salva-nos, SENHOR, nosso Deus!
Reúne-nos dentre as nações, para darmos graças ao teu santo nome, para nos
alegrarmos no teu louvor! 48Louvem o SENHOR, o Deus de Israel, que vive de
eternidade a eternidade. Todos digam “Amém”! Louvado seja o SENHOR! (NVT)
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1. Entendimento sobre o “Livro” de Salmos (Tehilim)
Antes de nos aprofundarmos no Salmo 106 em si é relevante entender o texto que
popularmente chamamos de “Livro dos Salmos”, ou “Tehilim”. Trata-se de um conjunto de
escritos caracterizados pela sua poesia e pela diversidade de assuntos abordados, sendo
produzidos por diversos autores que, literariamente falando, expressaram seus sentimentos
mais variados em forma de canção, oração ou poema per se. Se considerarmos a tradição oral
dos povos da Antiguidade, podemos entender que alguns (ou quem sabe muitos) salmos
tiveram seu registro em forma escrita posterior à sua composição ou publicação (tornado
público).
N. T. Wright expõe que
Os salmos estão entre os poemas mais antigos do planeta e, além disso, não perdem em
nada para os melhores escritos poéticos de qualquer cultura, antiga ou moderna, de
qualquer lugar do mundo. Seu conteúdo é cheio de poder e paixão, miséria horrenda e
júbilo desenfreado, sensibilidade terna e poderosa esperança. Qualquer um que tenha o
coração aberto a novas dimensões da experiência humana — qualquer um que ame a
boa escrita, deseje uma janela descerrada para as luzes e os cantos mais obscuros da
alma e esteja receptivo à bela expressão de uma visão mais ampla da realidade — deve
reagir a esses poemas como alguém que se delicia com uma boa refeição após duas
semanas sem comer direito. Está tudo lá. Ademais, de maneira impressionante, sua
mensagem não se perde na tradução. Boa parte dos poemas sofre perdas ao ser
traduzida para outras línguas, por basear seu efeito no som e no ritmo das palavras
originais. O livro de Salmos nos oferece uma forma de nos juntarmos a um coro de louvor
e oração que tem acontecido por milênios e em todas as culturas. O livro de Salmos é
extremamente importante no Novo Testamento; basta uma visualização rápida da sua
lista de citações e alusões para chegarmos a essa conclusão. O próprio Jesus citou
Salmos e mencionou o livro como faria alguém acostumado a orar e refletir sobre esses
poemas, desde a infância. Paulo citou diversos salmos e os inseriu de forma altamente
sofisticada em sua teologia extraordinária.2
Warren Wiersbe comenta que “o Livro de Salmos foi e continua sendo insubstituível
como guia devocional, livro de orações e hinário do povo de Deus”, e que seu título hebraico é
"livro de louvores" (tehillim), tendo a tradução grega do Antigo Testamento (a Septuaginta)
empregado o termo psalmos no lugar de tehillim, sendo que o termo grego quer dizer "um
cântico entoado com o acompanhamento de um instrumento de cordas". A versão latina
conhecida como “Vulgata” seguiu a Septuaginta (LXX) e chamou o livro de psalmorum, do latim
2
Wright, N. T. - Salmos. Recurso Digital.
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psalterium, "um instrumento de cordas". A versão King James também adotou esse termo e,
assim, popularmente temos o “Livro de Salmos” ou dos “Salmos”.
Escritores
Warren Wiersbe comenta que “os escritores de cerca de dois terços dos salmos são
identificados nos sobrescritos. Davi aparece em primeiro lugar com 73 salmos”. Davi, referido
como "salmista de Israel" (2 Sm 23:1) organizou o ministério no templo, inclusive os cantores
(1 Cr 15:16; 16:7; 25:1). Além de Davi, os filhos de Corá, músicos do templo (1 Cr 6:31 ss;
15:17ss; 2 Cr 20:19), escreveram 11 salmos (42 - 49, 84, 85, 87), Asafe escreveu 12, o rei
Salomão escreveu dois (Sl 72 e 127), Etã escreveu um salmo (Sl 89) e Moisés também escreveu
um (Sl 90). Porém, nem todos os estudiosos atribuem o mesmo valor aos títulos dos salmos.
Organização
De forma a se melhor compreendê-lo, o Livro de Salmos é dividido em cinco livros, talvez
imitando o Pentateuco, os Cinco Livros de Moisés (Gênesis a Deuteronômio):
1)
2)
3)
4)
5)
Salmos 1 - 41,
Salmos 42 - 72,
Salmos 73 - 89,
Salmos 90 - 106,
Salmos 107 - 150.
Cada um dos três primeiros livros termina com um "amém" duplo; o quarto se encerra
com um "amém" e um "aleluia", e o último termina a coleção toda com um "aleluia". O Livro de
Salmos foi crescendo ao longo dos anos, à medida que o Espírito Santo dirigia vários escritores
e editores para compor e compilar esses cânticos e poemas. Davi escreveu 37 dos 41 salmos
do Livro I, de modo que esse foi o começo da coleção. Warren Wiersbe entende ser possível
que os Livros II e III tenham sido compilados pelos "homens de Ezequias" (Pv 25:1), uma
sociedade literária do tempo do rei Ezequias que copiou e preservou manuscritos valiosos do
Antigo Testamento, pois o próprio Ezequias era escritor de poesia sacra (Is 38). Os Livros IV e V
provavelmente foram compilados e acrescentados à coleção no tempo de Esdras (Ed 7:1-10),
no chamado período pós-exílico. Assim como nossos hinários modernos, o Livro de Salmos
apresenta "subconjuntos" como "os cânticos de romagem" (120 - 134), os escritos de Asafe (73
- 83), os salmos dos filhos de Corá (42 - 49) e os "salmos de aleluia" (113 - 1 18, 146 - 150).
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Poesia
Warren Wiersbe comenta que a poesia hebraica não se baseia em rimas, mas sim em
"linhas de pensamento".
Se a segunda linha repete a primeira com palavras diferentes, como no caso do Salmo
24:1-3, tem-se um paralelismo sinônimo. Se a segunda linha contrasta com a primeira,
como no caso dos Salmos 1:6 e 37:9, trata-se de um paralelismo antitético. Quando a
segunda linha explica ou expande a primeira, o escritor empregou um paralelismo
sintético (Sl 19:7-9), mas quando a segunda linha completa a primeira, trata-se de um
paralelismo culminante (Sl 29:1). No caso do paralelismo iterativo, a segunda linha
repete a ideia da primeira (Salmo 93) e, no caso do paralelismo alternativo, as linhas
alternadas apresentam as mesmas ideias, como é o caso no Salmo 103:8-13. Não tem
muito cabimento falar de púlpito desses termos técnicos, mas o conhecimento deles
pode ser de grande ajuda no estudo dos salmos. Para interpretar que, no Salmo 103:3,
Deus promete curar todas as enfermidades, é preciso deixar de fora o paralelismo
sinônimo do versículo: o perdão dos pecados é como a cura de uma enfermidade (ver Sl
41:4). Alguns dos salmos são lamentos ao Senhor, escritos por pessoas em
circunstâncias extremamente difíceis. Também há salmos messiânicos, que apontam
para o Senhor Jesus Cristo. Além disso, há salmos de louvor e de ações de graças,
salmos reais, salmos de sabedoria, salmos de afirmação e confiança, salmos de
penitência e, até mesmo, salmos imprecatórios que clamam pela ira de Deus sobre os
inimigos.3
Acrósticos
O "acróstico" é uma forma literária em que as primeiras letras de linhas consecutivas
formam um padrão. Em acrósticos alfabéticos, o padrão é o alfabeto (a primeira linha começa
com a primeira letra do alfabeto a segunda com a segunda letra e assim por diante). Outras
formas de acróstico podem soletrar uma mensagem ou um nome (por exemplo, o escriba que
compôs a obra ou a divindade sendo honrada). Existem diversos tipos no Livro de Salmos (9;
10; 25; 34; 37; 111; 112; 119; 145). O Salmo 119 é o mais complexo, visto que cada letra do
alfabeto hebraico é representada por oito linhas consecutivas. Todos os acrósticos hebraicos
da Bíblia são alfabéticos. Os sete exemplos de acrósticos na literatura mesopotâmica formam
nomes/frases (sendo o acadiano uma língua silábica então não havia alfabeto, portanto, não
existiam acrósticos alfabéticos) e geralmente remontam à primeira metade do primeiro
milênio. Os exemplos egípcios oferecem sequências numéricas ou mensagens complexas que
envolvem desenhos horizontais e verticais. Os acrósticos dependem da escrita e, portanto, não
3
Wiersbe, Warren. Comentário Bíblico - Poéticos. Pág. 85-86.
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podiam ser compostos oralmente. Tinham o objetivo de ser lidos, não apenas ouvidos, devido
à importância do elemento visual. Isso fica claro nos exemplos babilônicos, em que um sinal
variável precisa ser lido com um determinado valor em um poema, mas com outro em um
acróstico. Alguns dos exemplos babilónicos também contêm um padrão no último signo de
cada linha. Outra variação encontra-se nos exemplos em que o acróstico é repetido em cada
estrofe.4
Louvor
Sendo mais de um terço, os salmos de louvor podem ser individuais ou coletivos. Os
coletivos geralmente começam com uma convocação ao louvor (p. ex., "louvem ao Senhor") e
descrevem todas as coisas boas que o Senhor fez. O louvor individual muitas vezes se inicia
com uma declaração do motivo do louvor (p. ex., "eu te louvarei, ó Senhor") e afirma o que Deus
fez numa situação específica na vida do salmista. Hinos egípcios e mesopotâmicos geralmente
concentram-se no louvor descritivo, com frequência passando do louvor para a petição.
Exemplos do formato de proclamação podem ser vistos na composição de sabedoria
mesopotâmica Ludlul Bei Nemeqí. O título é a primeira linha da obra que se traduz "Louvarei ao
Deus da Sabedoria". Como nos salmos de louvor individuais, esse adorador mesopotâmico
relata um problema que teve e como seu deus o livrou.5
Adoração pessoal
Em que proporção o louvor relacionado aos Salmos estava associado às festas anuais
no templo e às peregrinações para participar dessas festas? Em que proporção estava
associado aos-sacrifícios que eram oferecidos? Uma grande porcentagem dos habitantes de
Israel vivia a muitos quilômetros do templo. Apenas quem morava nas proximidades de
Jerusalém podia dirigir-se até lá regularmente (embora não fosse preciso se a pessoa não fosse
oferecer um sacrifício que envolvia oferta). O israelita cumpridor da lei talvez viajasse para lá
três vezes ao ano conforme a lei exigia (ver os comentários em Êx 23.15-17), mas há poucas
evidências no texto de que tal observância tenha se tornado comum no período do Antigo
Testamento. Certamente, então, haveria outros contextos em que o culto e a adoração eram
praticados. É comum considerar a sinagoga como uma invenção do período pós-exílico e os
altares em todo o Israel eram condenados no ideal da prática religiosa bíblica. O sábado não
4
Walton, John H; Matthews, Victor H.; Chavalas, Mark W. - Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. Pág. 529.
Walton, John H; Matthews, Victor H.; Chavalas, Mark W. - Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. Pág. 531532.
5
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era claramente designado como um dia separado para o culto, embora no templo em
Jerusalém, ao menos, atividades de adoração eram realizadas nesse dia específico. Sabemos
que o culto de Israel era centrado no lugar sagrado (o templo), nos dias sagrados (sábado,
festas), nos rituais sagrados (sacrifício) e nas palavras sagradas (orações). Além disso, temos
conhecimento que o foco da adoração era preservar a santidade da presença de Deus, a Lei e
a aliança e o reconhecimento de quem Ele era e o que havia feito. Não obstante, temos uma
ideia muito limitada da rotina de culto na vida individual.6
Princípio da retribuição.
A premissa básica do princípio da retribuição afirma que o justo prospera e o ímpio sofre.
Na esfera nacional, esse princípio tinha como base a aliança, com suas bênçãos potenciais e
ameaça de maldições. No âmbito individual, foi estabelecido como necessário para que Deus
mantivesse a justiça. Visto que os israelitas tinham apenas um vago conceito da vida após a
morte e nenhuma revelação concernente a juízo ou recompensa no além, a justiça de Deus só
podia ser efetuada nesta vida. A maioria deles acreditava que se Deus fosse justo,
recompensas e castigos nesta vida deveriam ser proporcionais à justiça ou injustiça de cada
um. Essa crença também levou grande parte dos israelitas a crer que, se alguém estava
prosperando, era uma recompensa por sua justiça, e se alguém estava sofrendo, era castigo
por sua injustiça. Quanto maior fosse o sofrimento, maior deveria ser o pecado. Escritores
babilónicos e assírios de textos mágicos descrevem esse mesmo princípio da retribuição. Mas,
visto que esses povos não eram plenamente convictos da justiça dos deuses, essa não era uma
questão teológica tão importante na Mesopotâmia.
Adoração no templo
O templo não tinha por objetivo o culto coletivo. Era uma estrutura que funcionava como
o lugar onde Deus podia habitar em meio a seu povo. Deveria ser mantido em santidade e
pureza a fim de que a presença contínua de Deus pudesse ser garantida. Os sacerdotes
existiam para manter essa pureza e controlar o acesso aos recintos sagrados. O conceito do
templo não foi criado com o propósito de suprir um lugar específico para a dedicação de
sacrifícios. Ao contrário, muitos deles existiam como meio de sustentar e manter o templo. A
presença de Deus era o elemento mais importante a ser preservado. Os atos de culto mais
relevantes eram aqueles que reconheciam a santidade de Deus e tinham como objetivo manter
6
Walton, John H; Matthews, Victor H.; Chavalas, Mark W. - Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. Pág. 531532.
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essa santidade de seu lugar. Por essa razão, palavras de adoração muitas vezes incluíam atos
de culto. Apesar de algumas vezes haver cultos coletivos no templo, o lugar não foi edificado
para esse propósito. O templo tinha o propósito de abrigar Deus de forma adequada; portanto,
a adoração ali seria inevitável. A palavra mais usada para adoração no Antigo Testamento
também significa "culto". No antigo Oriente Próximo, a maioria das pessoas acreditava que a
adoração era o ato de servir e suprir as necessidades dos deuses dando-lhes alimento
(sacrifício), roupas (que vestiam os ídolos) e abrigo (templos luxuosos e ricamente adornados).
O Deus de Israel não tinha tais necessidades, mas ainda assim era apropriado servi-lo como,
de fato, os sacerdotes e levitas faziam.7
Termos musicais
O. Palmer Robertson comenta que, “da mesma forma como um hinário, o texto dos
Salmos também contém instruções sobre orquestração, tonalidade usada para executar um
salmo, ritmo apropriado, bem como sinais que indicam a dinâmica e outros termos como
pausa, respiração e uso de modulações”.
Na notação musical moderna, a maioria desses termos é escrita em italiano ou latim.
Um músico ou cantor deve aprender esses termos técnicos para executar a música
adequadamente. Porém, é bem possível que depois de dois mil anos o significado de
muitos desses termos tenha se perdido. Não é surpreendente, portanto, concluir que
não somos capazes de traduzir e entender plenamente alguns dos termos técnicos que
aparecem nos títulos e introduções aos Salmos.8
Edson de Faria Francisco resume que “o livro dos Salmos contém vários termos técnicos
musicais que aparecem normalmente nos títulos de diversos salmos”, e que em tais
cabeçalhos, as unidades terminológicas indicam instrumento musical, modelo de cântico,
melodia de cântico e título musical.9
Classificação dos Salmos
7
Walton, John H; Matthews, Victor H.; Chavalas, Mark W. - Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. Pág. 531532.
8
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos.
9
Francisco, Edson de Faria. Os Termos Técnicos Musicais Nos Salmos E As Soluções/Opções Encontradas Em
Edições Da Bíblia Em Língua Portuguesa. Pág. 73.
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Tyler F. Williams, conforme o trabalho de crítica da forma de Hermann Gunkel, para o
salmo ser considerado parte de um mesmo gênero (Gattung), três condições devem ser
cumpridas:
(1) Os salmos tinham que ter um contexto de vida semelhante (Sitz im Leben), base na
adoração, um contexto de culto comum, ou que pelo menos originalmente deriva-se de um
[mesmo contexto];
(2) Os salmos tinham que ser caracterizados por pensamentos, sentimentos, e disposição em
comum;
(3) Os salmos exigiam que tivessem uma dicção, estilo e estrutura compartilhados, isto é, uma
linguagem relacionada à forma (Formensprache).
Segundo Williams, a última característica provê os sinais de um gênero em particular.
Trabalhando com estes critérios, Gunkel isolou um número de gêneros diferentes
ou tipos de salmos. No seu primeiro trabalho ele destacou quatro tipos primários
de salmos (hinos, lamentos comunitários, salmos de ação de graças individuais,
e lamentos individuais), com várias subcategorias, assim como várias formas
mistas. Em seu trabalho posterior, completado por Joachim Begrich, ele
identificou seis principais tipos de salmos (hinos, salmos de entronamento,
queixas coletivas, salmos reais, queixas individuais, e salmos de ação de graças
individuais), e um número de gêneros menores e tipos mistos. (...) Note que
alguns salmos são encontrados em mais de uma categoria.10
Divisão dos Salmos
No desenvolvimento dos estudos acerca do Livro de Salmos, foram identificadas cinco
divisões que receberam a nomenclatura de “livros”, conforme visto anteriormente. Esse
entendimento na estrutura literária pode refletir a intencionalidade dos antigos
compiladores/editores do Livro de Salmos.
Cada comentarista bíblico poderá apresentar nomenclaturas diferentes para cada
conjunto dos Salmos. Owen Palmer Robertson propõe como Sumário analítico de sua obra os
seguintes tópicos e subtópicos11 respectivamente aos Livros dos Salmos:
10
Williams, Tyler F. Uma Classificação dos Salmos Baseado na Crítica da Forma de Acordo com Hermann Gunkel.
Pág. 1.
11
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 17-22.
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Livro I (SI 1-41) - Confrontação
A. O papel fundamental dos salmos 1 e 2
a. O reinado de Yahweh sobre todas as nações
b. O local de seu reinado, no Monte Sião de Jerusalém
c. O estabelecimento permanente de Davi e sua dinastia
d. A fusão do trono de Yahweh com o trono de Davi
B. A primeira coletânea de salmos davídicos (Sl 3 -41)
C. O papel estrutural dos salmos 18 e 19 no Livro I
D. O papel estrutural dos salmos acrósticos no Livro I (Sl 9/10; 25; 34; 37)
E. Conclusão do Livro I
Livro II (Sl 42-72) - Comunicação
A. Sete salmos dos filhos de Corá (Sl 42/43-49*)
1. Salmos introdutórios de esperança apesar da angústia (Sl 42/43-44)
2. O reinado de Elohim e seu Messias (Sl 45-48)
B. Dois salmos com um a convocação (Sl 49-50)
C. A segunda coletânea de salmos davídicos (Sl 51-71*)
D. Respostas às convocações (Sl 51-52)
E. A substituição de Elohim por Yahweh no Livro II
F. A postura do salmista em relação aos seus “inimigos” no Livro II
G. Ateísmo revisitado (Sl 53)
H. Sete inimigos específicos (Sl 54-60)
I. Diálogo entre dois reis (Sl 61-68)
J. Lutas contínuas (Sl 69-71)
K. Imagens triunfantes do reinado do Messias (Sl 72)
L. Conclusão do Livro II: importância contínua das experiências de Davi
Livro III (SI 73-89) - Devastação
A. Salmos introdutórios do Livro III (Sl 73-74)
B. O reinado de Deus sobre os reis terrenos (Sl 75-76)
C. Sete salmos de devastação e libertação com o foco centralizado no “Filho” do salmo 80 (Sl 77-83)
D. Uma mudança de tom nos salmos dos filhos de Corá (Sl 84-87*)
#interna
1. Paz e bênção em meio à guerra perpétua (Sl 84-85)
2. Um salmo individual de Davi (Sl 86)
3. Libertação dos inimigos estrangeiros (Sl 87)
E. Salmos finais de aflição (Sl 88-89)
1. Aflição individual, com uma pequena esperança (Sl 88)
2. Aflição com unitária, com esperança abafada (Sl 89)
F. O fracasso da fé
G. Conclusão do Livro III
Livro IV (Sl 90-106) - Amadurecimento
A. Dois salmos introdutórios: a perspectiva de prosperidade e vida longa (Sl 90-91)
B. O papel distintivo do salmo 90
C. Yahweh Malak (“O Senhor é Rei”): uma coletânea especial do Livro IV (Sl 92-100)
D. Trazendo a arca: um momento crítico na história redentora do Livro IV (Sl 96, 105-106)
E. Frases adicionais que descrevem o reinado do Senhor na coletânea Yahweh Malak do Livro IV
F. Resumo sobre as coletâneas de salmos que celebram o reinado de Deus em todo o saltério
G. Salmos 101-103: uma tríade de salmos que reafirmam o reinado davídico
H. As funções reais do Senhor
I. A primeira tríade de salmos de Hallelu-YAH (Sl 104-106)
J. Salmos contrastantes de recordação histórica (Sl 105-106)
K. Conclusão do Livro IV
L. Excurso 1: Dez referências ao culto em Crônicas que estão relacionadas com o livro de Salmos
Livro V (Sl 107-150) - Consumação
A. Um salmo introdutório para o Livro V (Sl 107)
B. Elementos estruturais básicos do Livro V
C. Duas coletâneas na primeira parte do Livro V (Sl 108-117)
D. A terceira ligação de um salmo messiânico com um salmo da Torá (Sl 118-119)
E. Quatro coletâneas na segunda porção do Livro V (Sl 120-150)
F. Conclusão do Livro V
G. Excurso 2: as “pirâmides poéticas” do saltério
#interna
2. Comentários sobre o Salmo 106
O Salmo 106 é o último do “Livro IV”, servindo como uma transição para o “Livro V”.
O “Comentário Bíblico Atos – Antigo Testamento” destaca as seguintes explicações:
a) versículo 7 = Mar de Juncos representa o Mar Vermelho.
b) versículo 15 = “doença terrível”: Não há informações disponíveis sobre a natureza
dessa doença.
c) versículo 17 = Datã e Abirão: Trata-se dos envolvidos na insurreição (ou rebelião)
relatada em Números 16.
d) versículo 19 = “Horebe”: Horebe é um outro nome dado ao monte Sinai que,
provavelmente, está localizado na parte sul da península do Sinai.
e) versículos 19,20 = bezerro/boi12.
f) versículo 28 = “Baal-Peor”: Esta é uma referência ao incidente em que os israelitas se
envolveram com as mulheres de Moabe13.
g) versículo 33 = “palavras duras de Moisés”: O pecado de Moisés aconteceu durante o
segundo incidente em que brotou água da rocha.
h) versículo 37 = “sacrificaram aos demônios”: Essa palavra para demônio é usada
apenas mais uma vez no Antigo Testamento, em Deuteronômio 32.17; mas é um tipo de
espírito/demônio bastante conhecido na Mesopotâmia, onde o termo (shedu) descreve
um guardião protetor da saúde e do bem-estar do indivíduo. Não se trata do nome de
uma divindade, mas de uma categoria de seres (como querubim no Antigo Testamento).
Um shedu podia destruir a saúde de alguém da mesma forma que podia protegê-la; por
isso, era recomendável oferecer sacrifícios que o aplacasse. Esses seres são descritos
como criaturas aladas (semelhantes aos querubins, Gn 3.24 e Êx 25.18-20), mas não são
O uso dos substantivos “bezerro” e “boi” pode representar um “boi jovem” ou “boi pequeno”. A questão não
está na precisão do objeto em si, mas no pecado cometido pelo povo, conforme o relato de Êxodo 32.
13
Baal, o deus supremo dos cananeus, representava fertilidade e abundância. Contudo, em Peor, próximo a Jericó,
Israel rompeu sua aliança ao render-se à sedução das moabitas e à adoração abominável a Baal. Este episódio é
um alerta que ressoa nos dias atuais, pois muitos cristãos inadvertidamente convivem com abominações
semelhantes. Balaque, rei de Moabe, buscou amaldiçoar Israel através do profeta Balaão. Este, apesar de sua
habilidade profética, revelou uma doutrina maligna, incentivando a idolatria e a prostituição (Nm 31.15,16). Os
filhos de Israel, seduzidos por mulheres moabitas, rapidamente caíram nesse abismo, resultando na morte de 24
mil israelitas em um único dia, uma prova clara do julgamento divino (1 Co 10.8). (Baal-Peor, O deus dos pecados
sexuais - www.personagembiblico.com.br/2016/06/baal-peor-o-deus-dos-pecados-sexuais.html)
12
#interna
representados na forma de ídolos (como os deuses) por meio dos quais recebiam
adoração.
i) versículo 38 = “ídolos de Canaã”. Entre os deuses dos cananeus estavam incluídos El,
Baal (Hadad), Dagom e Anat.14
2.1 – Comentários de O. Palmer Robertson__________________________________
Robertson cita os “Salmos de recordação histórica” na conclusão do Livro IV (Sl 105106) os quais fornecem longas lembranças históricas dos tratos do Senhor com seu povo no
passado. Ambos os salmos refletem porções da descrição histórica de Davi trazendo a arca da
aliança a Jerusalém como relatado no livro de Crônicas (lC r 16.7-36). Como consequência,
ambas as histórias podem ser vistas focalizando o momento significativo na história redentora
quando o trono de Deus foi unido ao trono de Davi.15
Em outro exemplo de disposição deliberada de um salmo confessional apropriado ao
seu contexto, o salmo 106 identifica explicitamente os pecados dos contemporâneos do
salmista com os pecados repetitivos dos pais, o que levou ao seu castigo no exílio (Sl 106.6).
Ele conclui colocando um apelo nos lábios de seus companheiros arrependidos: “Salva-nos,
Senhor, nosso Deus, e congrega-nos de entre as nações” (Sl 106.47). Essas palavras foram
usadas para concluir o Livro IV ao mesmo tempo em que conduzem naturalmente às frases
iniciais do salmo seguinte, ao introduzir o quinto e último livro do saltério: “Digam-no os
remidos do Senhor... os que ele congregou de entre as terras, do Oriente e do Ocidente, do
Norte e do mar” (Sl 107.2-3). A confissão do pecado pelo salmista foi fundamental para a
restauração do povo.16
Povo Escolhido
Robertson comenta que Abraão é a única pessoa divinamente escolhida (Gn 12.1; Js
24.2-3). Ele é servo de Deus, e sua descendência são os “seus escolhidos” (Sl 105.6). Com
Abraão e sua semente, Deus tomou a iniciativa de “cortar uma aliança” (Sl 105.9-10). Esse
14
Walton, John H; Matthews, Victor H.; Chavalas, Mark W. - Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento. Pág.
569-570.
15
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 37-38.
16
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 39.
#interna
solene compromisso de vida e morte do Todo-Poderoso com seus “escolhidos” abrange “mil
gerações” (Sl 105.8). Consequentemente, essa aliança estende-se de Abraão ao longo de 500
anos, passando por Moisés, que também é identificado como o seu “escolhido” (Sl 106.23). O
termo também abrange a nação como um todo:
E conduziu com alegria o seu povo e, com jubiloso canto, os seus escolhidos (Sl
105.43). Louvai ao Senhor, porque o Senhor é bom; cantai louvores ao seu nome,
porque é agradável. Pois o Senhor escolheu para si a Jacó e a Israel, para sua
possessão (Sl 135.3-4).
Por sua vez, o salmista oferece um apelo pessoal para que ele também possa
experimentar a graça divina de inclusão entre os “escolhidos” de Deus:
Lembra-te de mim, Senhor, segundo a tua bondade para com o teu povo; visita-me
com a tua salvação, para que eu veja a prosperidade dos teus escolhidos, e me alegre
com a alegria do teu povo, e me regozije com a tua herança (Sl 106.4-5)17
Traduzido apropriadamente como o “eleito” de Deus pela Septuaginta, essa escolha
pactual de Abraão se torna a base para a promessa tríplice de terra, semente e bênção para o
patriarca e seus descendentes (Gn 12.1-3). Essas três principais promessas da aliança
reaparecem continuamente nos salmos. Para Abraão, Isaque, Jacó e a nação de Israel a
promessa da terra permanece segura (Sl 105.8-11).18
Trazendo a arca: um momento crítico na história redentora do Livro IV (Sl 96, 105-106)
Robertson identifica uma relação especial entre os salmos e os livros de Crônicas como
a base da ênfase no surgimento da arca.
A relação estreita entre esses dois livros é compreensível, já que a composição das
Crônicas e a composição/formação final do saltério podem ter ocorrido
aproximadamente no mesmo período. Referências em Crônicas à adoração com música
e cânticos, ausentes dos livros de Reis, ligam-se diretamente ao uso do livro de salmos
no culto. Ao menos dez passagens em Crônicas registram incidentes envolvendo cultos
que se assemelham ao livro de Salmos, conforme indicado no excurso anexado a este
capítulo. Essa interação extensa ajuda a explicar a integração total ao saltério do salmo
registrado em Crônicas que celebra o transporte da arca para Jerusalém.19
17
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 56.
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 57.
19
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 164.
18
#interna
Ele é o Senhor gracioso que perdoa todos os pecados do seu povo (Sl 90.13-14; 103.3,810,12; 106.6,8,30-31,44-46)
Para Palmer Robertson,
Embora, como soberano Senhor, ele consuma pessoas por seus pecados, Deus ouve
seu pedido pela manifestação de sua compaixão. Ele perdoa todos os pecados, não trata
seu povo como seus pecados merecem e remove seus pecados assim como o ocidente
dista do oriente. Em bora os contemporâneos do salmista tenham pecado tão
persistentemente quanto sua nação que se rebelou na peregrinação pelo deserto, o
Senhor pode ser chamado para libertar, lembrar-se de sua aliança e salvar.20
Ele é o soberano Senhor da aliança que dirige toda a vida do seu povo (Sl 105-106)
Robertson assevera que através de todas as suas diferentes experiências em todo o
estágio da história redentora, o Senhor da aliança foi o guia de seu povo e seu apoio. Ele nunca
os abandonou completamente.
Então, Deus é, de fato, um grande Rei em todo o seu domínio terreno. Todas as criaturas
do mundo, todas as nações do mundo, toda a história do mundo permanecem sujeitas
ao seu domínio gracioso e justo. Visto da perspectiva de um povo que sofre sob o
banimento do exílio, essas afirmações de que Yahweh governa são calculadas para
incutir grande esperança no coração de seu povo. A mesma aplicação desses salmos
pode ser feita em todas as eras.21
Robertson destaca ainda que ao longo deste salmo final do Livro IV, o pecado é
repetidamente confessado:
Pecamos, como nossos pais; cometemos iniquidade, procedemos mal (Sl 106.6).
Cedo, porém, se esqueceram das suas obras e não lhe aguardaram os desígnios (Sl 106.13).
Tiveram inveja de Moisés, no acampamento, e de Arão, o santo do Senhor (Sl 106.16).
Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas (Sl 106.21).
não deram crédito à sua palavra; antes, murmuraram em suas tendas e não acudiram à voz do Senhor (Sl
106.24-25).
Assim, com tais ações, o provocaram à ira; e grassou peste entre eles (Sl 106.29).
Depois, o indignaram nas águas de Meribá... pois foram rebeldes ao Espírito de Deus (Sl 106.32-33).
20
21
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 178.
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 179.
#interna
Imolaram seus filhos e suas filhas aos demônios (Sl 106.37).
Muitas vezes os libertou, mas eles o provocaram com os seus conselhos e, por sua iniquidade, foram
abatidos (Sl 106.43).
Após esse repetido reconhecimento de culpa, o salmista leva os adoradores ao canto
familiar que conclui o antigo salmo de Davi quando celebrou o transporte da arca para
Jerusalém.22
2.2 - Comentários de Warren Wiersbe_______________________________________
Depois de ler este salmo, podemos ser tentados a dizer: "Aqueles israelitas eram mesmo
um bando lamentável de pecadores!" Em vez disso, porém, devemos elogiar o salmista por
revelar a verdade sobre seu povo. A maioria dos historiadores apresenta sua nação da melhor
maneira possível, jogando a culpa de seus erros sobre outros povos, mas nosso salmista
anônimo disse a verdade. "A história provará que estou certo", disse Sir Winston Churchill,
"especialmente porque eu mesmo vou escrever essa história". Porém, o salmista também deve
ser elogiado por se identificar com o povo em sua situação difícil e dizer: "Pecamos" e "Salvanos" (vv. 6 e 47). Observamos que o Salmo 105 não diz coisa alguma sobre as faltas de Israel,
mas essa omissão é reparada no Salmo 106. Porém, o propósito do salmo não é condenar
Israel, e sim exaltar o Senhor por sua longanimidade e misericórdia para com seu povo. A fim
de glorificar a Deus, o autor teve de contrastar as misericórdias do Senhor com a desobediência
frequente de Israel. É bem provável que o salmo tenha sido escrito depois do cativeiro na
Babilônia, quando o povo judeu foi disperso e um remanescente voltou para a terra, a fim de
reconstruir o templo e de restaurar a nação (vv. 44-47). Depois de expressar seu louvor ao
Senhor (vv. 1-6), o autor fala de nove ofensas graves cometidas pela nação. Começa com o
êxodo e termina com o cativeiro na Babilônia e, no centro da lista, coloca a rebelião de Israel
em Cades-Barnéia. O salmista não apresenta esses acontecimentos organizados na ordem em
que ocorreram, pois, seu propósito não é ensinar cronologia, mas sim teologia.
Uma fé jubilosa ( Sl 106:1-6)
O salmo começa com um tom positivo de adoração e louvor. Antes de fazer uma
retrospectiva das faltas de seu povo ou de olhar a seu redor e ver as ruínas do reino, o salmista
22
Robertson, O. Palmer. A Estrutura e Teologia dos Salmos. Pág. 181.
#interna
volta os olhos para o alto e dá graças a Deus por sua bondade e misericórdia (vv. 1-3). Jeová
havia sido misericordioso em tudo o que havia feito, e o escritor aceita a vontade de Deus como
sendo justa e correta. Em seguida, passa do louvor à oração e pede que Deus o inclua nas
bênçãos da restauração nacional (vv. 4, 5). Os profetas haviam prometido que o cativeiro
terminaria e que o povo voltaria para sua terra e a reconstruiria, e o salmista acreditava nessas
promessas. Porém, sua oração não foi egoísta, pois desejava que a nação toda prosperasse,
se regozijasse no Senhor e louvasse seu nome. A oração chega a seu auge com a penitência,
enquanto o autor confessa os próprios pecados e os pecados de seu povo (v. 6). E melhor dizer:
"Pecamos, como nossos pais" do que "Nossos pais pecaram" (ver Ne 1:6; Dn 9:5, 8, 11 e 15; Lm
5:16). O salmista reivindica a promessa que o rei Salomão havia pedido a Deus para honrar na
consagração do templo (1 Rs 8:46-53). Ao estudar este salmo, tem-se a impressão de estar
assistindo a uma autópsia, mas a experiência será benéfica, se, como o salmista, nossos olhos
forem mantidos fixos no Senhor da glória, contemplando sua bondade e fidelidade para com
seu povo pecador.
Começos Triunfantes ( Sl 106:7-12)
Esta passagem refere-se ao medo e à incredulidade dos hebreus no êxodo, quando se
viram encurralados, tendo atrás deles o exército egípcio e, diante deles, o mar Vermelho (Êx
14:10-31). Haviam testemunhado o poder extraordinário de Deus devastando o Egito com
pragas, mas não creram que o Senhor seria capaz de livrá-los dos egípcios. Em vez de olharem
para o alto, estavam olhando para trás, e em vez de caminharem pela fé, estavam se deixando
levar pelas aparências. Preferiam a segurança da escravidão aos desafios da liberdade.
Quando se viam numa situação que exigia fé, sua reação costumava ser: "Vamos voltar para o
Egito!" No momento desesperador ao qual o salmista se refere, o povo de Israel não se lembrou
da bondade de Deus nem de suas promessas e entrou em pânico. Porém, Deus os fez
atravessar o mar a pés enxutos e destruiu inteiramente o exército inimigo que havia tentado
segui-los. "Então, creram nas suas palavras e lhe cantaram louvor" (v. 12; ver Êx 15). Esse
milagre, por si mesmo, deveria ter-lhes dado confiança em meio a todas as provações
vindouras, mas não levaram o grande feito do Senhor a sério nem entenderam os caminhos de
Deus (78:42-51; 95:10; 103:7). Para Moisés, foi uma experiência de fé, que glorificou a Deus.
Para o povo, porém, não passou de mais um acontecimento espetacular. Agiram como se
fossem a plateia de uma apresentação, não os participantes de um milagre. Mas será que o
povo de Deus é muito diferente hoje?
Um declínio perigoso (Sl 106:13-23)
#interna
A semente da incredulidade enterrada no coração do povo de Israel criou raízes e deu
frutos amargos nos anos vindouros. Como escreveu George Morrison: "O Senhor tirou Israel do
Egito em uma noite, mas levou quarenta anos para tirar o Egito de dentro de Israel". O povo foi
lento para lembrar daquilo que Deus havia feito por eles no passado, mas não tardou em se
precipitar e em desconsiderar a vontade de Deus. Não hesitou em deixar claro o que desejava:
água (Êx 15:22-27), alimento (Êx 16) e carne (Nm 11:4-15, 31-35). "O que havemos de comer? O
que havemos de beber?" (ver Mt 6:25ss). Deus proveu o maná diariamente ("o pão dos anjos",
78:25), água num oásis e, posteriormente, de uma rocha (Êx 17) e aves em quantidade
suficiente para que todo o povo comesse carne. As pessoas que murmuram e que se queixam
não vivem pela fé nas promessas de Deus (Fp 2:14, 15). Devemos resistir à tentação de nos
entregar aos anseios da carne (1 Co 10:1-13). A rebelião de Corá (Nm 16 - 17) ocorreu logo
depois da apostasia de Israel em Cades-Barnéia, quando a nação se recusou a entrar na Terra
Prometida. Por causa dessa crise, Corá juntou outros 250 rebeldes. Para isso, teve apenas de
colocar a culpa em Moisés e de declarar que a nação precisava de uma nova liderança (desde
então, os candidatos a cargos políticos vêm fazendo a mesma coisa). Corá era um levita da
família de Coate, cujo privilégio era carregar os utensílios do tabernáculo. Porém, não se
contentou com essa tarefa e quis servir junto ao altar como sacerdote (Nm 14:8-10). O orgulho
e a ambição egoísta sempre causaram problemas para o povo de Deus (Fp 2:1-11; Tg 4:1-10).
Esses rebeldes opunham-se à vontade de Deus, pois o Senhor havia escolhido Moisés e Arão
para liderarem a nação, de modo que o Senhor destruiu Corá e seus seguidores. Um elemento
importante para O sucesso da obra do Senhor é o respeito pelos líderes escolhidos por Deus
(Hb 13:7, 17).
A primeira transgressão do povo foi relacionada à "concupiscência da carne", enquanto
a segunda demonstrou a "soberba da vida" (ver 1 Jo 2:15-1 7). A terceira falta, a adoração do
bezerro de ouro (Êx 32; Dt 9:8- 29), envolveu a "concupiscência dos olhos". Moisés estava com
o Senhor no Sinai havia quarenta dias, e o povo de Israel começava a ficar irrequieto com a
ausência de seu líder (mas quando Moisés permanecia com o povo, era alvo de sua crítica e
oposição!). Apesar do que o Senhor os havia ensinado no Sinai, o povo de Israel quis um deus
visível (Dt 4:12-19). Arão reuniu as joias de ouro dos israelitas e, com elas, fez um bezerro de
ouro que todo o povo pudesse ver e adorar, e, por fim, Moisés teve de interceder junto ao Senhor
para que não derramasse sua fúria sobre o povo. Israel rejeitou o Deus eterno ("a glória do Deus
incorruptível"; ver Rm 1:23), trocando-o por um pedaço de ouro confeccionado por mãos
humanas, uma imagem que não podia ver, ouvir, falar nem agir! Mais uma vez, Israel se
esqueceu daquilo que o Senhor havia feito por eles. O verbo "interpor" (v. 23) descreve um
soldado que se coloca numa brecha do muro da cidade e impede que o inimigo entre por ali.
Que retrato impressionante da oração intercessora! (Ez 22:30).
Um fracasso trágico (Sl 106:24-27)
#interna
Fazia cerca de dois anos que Israel havia saído do Egito quando o Senhor os conduziu
até Cades-Barnéia, na fronteira com a Terra Prometida (Nm 13 - 14). Em vez de crer que Deus
lhes daria a terra, o povo pediu a Moisés que nomeasse um comitê para investigar Canaã (Deus
já havia feito isso para eles, Ez 20:6). No entanto, Israel não precisava de mais fatos, e sim de
mais fé. Aquela era uma "terra aprazível" (v. 24; Jr 3:19; 12:10) e uma "boa terra" (Dt 8:7-9),
porém dez dos doze espias relataram que Canaã era uma terra perigosa, repleta de gigantes,
cidades com muralhas altas e exércitos enormes. O povo voltou à sua atitude de sempre diante
das crises e começou a chorar, a murmurar e a planejar sua volta ao Egito (Nm 14:1-10). O
Senhor anunciou que todos com 20 anos ou mais de idade morreriam no deserto ao longo dos
38 anos subsequentes e, em seguida, enviou uma praga que matou os dez espias incrédulos.
Aquilo que deveria ter sido uma grande marcha de vitória triunfante, transformou-se numa
trágica marcha fúnebre. É isso o que acontece quando queremos fazer as coisas a nossa
maneira e nos recusamos a crer no Senhor e a lhe obedecer.
Uma desobediência custosa (Sl 106:28-33)
Estes dois acontecimentos ocorreram no final da marcha de Israel pelo deserto e
ilustram o alto preço da desobediência ao Senhor. Sua transgressão em Baal-Peor é descrita
em Números 25, mas é recomendável ler Números 22 a 24, a fim de compreender o contexto.
O rei de Moabe contratou o profeta Balaão para amaldiçoar a nação de Israel, mas Deus
transformou suas maldições em bênçãos (Dt 23:5; Ne 13:2; ver 109:28). Porém, Balaão
preparou uma armadilha para Israel: sugeriu ao rei que agisse como um bom vizinho e que
convidasse os líderes das tribos de Israel a participar de um banquete com os moabitas. Seria,
evidentemente, um banquete religioso, o que significava que os israelitas teriam de comer
carne oferecida a demônios e aos mortos e coabitar com prostitutas cultuais. Mais uma vez, o
povo de Deus entregou-se a seus desejos carnais e provou a fúria dê Deus, e 24 mil pessoas
morreram (Nm 25:9). A praga poderia ter tirado mais vidas, se não fosse por Finéias, filho do
sumo sacerdote, que matou um homem israelita e sua companheira moabita, enquanto
pecavam sem qualquer pudor no acampamento de Israel. "Porque o salário do pecado é a
morte" (Rm 6:23; sobre o v. 30, ver Gn 15:6 e Rm 4). Moisés foi responsável pela segunda
manifestação de concupiscência ao cometer um pecado que não foi da carne, mas sim do
espírito. O líder de Israel ensoberbeceu-se e se irou de modo pecaminoso, tomando sobre si a
glória que pertencia somente ao Senhor (Nm 20:1-1 3). Diante da provocação do povo, Moisés
foi tomado de "soberba da vida" e, em decorrência disso, perdeu a cabeça e se dirigiu ao Senhor
com palavras ríspidas e ofensivas (78:40; Is 63:10; 1 Jo 2:15-17). Esse pecado custou a Moisés
o privilégio de liderar o povo para dentro da Terra Prometida (Dt 3:23-29). "Meribá" quer dizer
"contenda" (ver Êx 17:1-7).
#interna
A Rebelião Repetida (Sl 106:34-46)
Em sua graça, Deus conduziu o povo a Canaã e lhe deu a vitória sobre as nações que ali
viviam. As doze tribos tomaram posse de sua herança e se assentaram na terra para desfrutála e servir ao Senhor. Foram fiéis enquanto estiveram sob a liderança de Josué e,
posteriormente, dos anciãos que ele havia escolhido e treinado. A terceira geração, porém,
começou a fazer concessões e a servir os falsos deuses de seus inimigos derrotados (Jz 2:723). Os israelitas conheciam as estipulações da aliança que Moisés havia lhes dado (Lv 26; Dt
28 - 30), mas, ainda assim, desobedeceram. Em vez de destruir as sociedades ímpias das
nações de Canaã, conforme Deus havia ordenado (Nm 33:50- 56; Dt 7:12-26; 20:16-18), o povo
de Israel foi, aos poucos, se acomodando aos costumes dessa gente para, depois, passar a
imitá-los até nas práticas desumanas que profanavam a terra que Deus havia lhes dado (Lv
18:24- 28; Nm 35:30-34; Dt 21:22, 23; Jr 3:1-10). Israel havia se "casado" com Jeová no Sinai,
mas se prostituiu com ídolos e entristeceu o Senhor, atraindo sobre si sua disciplina. Deus
permitiu que seis nações invadissem Israel e, por mais de cem anos, castigou seu povo na
própria terra de Canaã. Quando clamavam por misericórdia, o Senhor os ouvia e levantava
juízes para libertá-los de seus inimigos; porém, quando a nação recaía em idolatria, o ciclo se
repetia. Em sua misericórdia, o Senhor ouvia as súplicas de seu povo e o perdoava (Jz 3:9, 15;
4:3; 6:6, 7; 10:10; Lv 26:40-42), mas era uma situação que não poderia continuar
indefinidamente.
A Disciplina Final (Sl 106:47)
Em sua aliança, o Senhor advertiu que, se, mesmo depois de disciplinado, Israel
continuasse a resistir e a desobedecer, tiraria o povo da terra e dispersaria os israelitas (Lv
26:27-39; Dt 28:48-68). Primeiro, o reino foi dividido entre as dez tribos de Israel (o reino do
Norte) e as duas tribos de Benjamim e de Judá (o reino do Sul). Em 722 a.C., os assírios
capturaram Israel e assimilaram as dez tribos a seu império. Em 606-586 a.C., os babilônios
invadiram Judá, destruíram Jerusalém e o templo e levaram a elite do povo para a Babilônia. O
povo de Deus foi arrancado de sua "terra aprazível", sendo disperso entre as nações. Os medos
e os persas conquistaram a Babilônia em 539 a.C. e, no ano seguinte, Ciro decretou que os
judeus poderiam voltar a sua terra. Porém, a dinastia davídica não foi restaurada -durante seu
reinado. O salmista encerra com uma oração pedindo que, um dia, os filhos dispersos de
Abraão, Isaque e Jacó fossem ajuntados outra vez, para que dessem louvores a Jeová e
glorificassem seu nome. O último versículo, escrito por um editor antigo, encerra o Livro Quatro
de Salmos.23
23
Wiersbe, Warren. Comentário Bíblico - Poéticos. Pág. 267-271.
#interna
2.3
– Comentários de Derek Kidner_________________________________
Este salmo é a contraparte sombria do seu predecessor, uma sombra lançada pela
vontade-própria humana na sua longa luta contra a luz. O alcance desta história coincide em
parte com aquela de 105, e continua até o período que parece ser o exílio na Babilônia. Os dois
últimos versículos, no entanto, são citados na narrativa de um evento muito mais antigo, a
procissão de Davi com a arca, até Jerusalém (1 Cr 16:35-36).
Apesar de desmascarar a ingratidão do homem, este salmo é de louvor, pois é a
extraordinária longanimidade de Deus que emerge como o tema verdadeiro. Esta é a base da
oração final (47), e dá realidade à doxologia que encerra não somente este salmo, como
também o Quarto Livro do Saltério (90 -106).
106:1-3. Um Deus a ser louvado Depois da Aleluia inicial (ver o último comentário sobre
104), o primeiro versículo é idêntico com aquele do salmo seguinte, e o do 136. Poderia, na
realidade, ter providenciado a semente da qual se originou o salmo posterior. Quanto às
palavras bom e misericórdia, ver os comentários e referências adicionais sobre “bondade e
misericórdia” em 23:6.
106:3-13 3. Este versículo, uma das muitas bem-aventuranças nos Salmos (alistadas em
1:1), parece olhar de volta para a pergunta de v. 2, para então considerar o longo catálogo de
fracassos que dominará o salmo. Isto quer dizer que “anunciar os seus louvores” (2) exige vida,
e não somente lábios; e, embora até os nossos pecados ressaltarão, por contraste, a Sua graça,
conforme este salmo demonstrará, nossa obrigação quanto à retidão é total e ininterrupta. A
frase: a justiça em todo tempo teria como complemento futuro a de Paulo: “insta, quer seja
oportuno, quer não” (2 Tm 4:2).
106:4, 5. Uma petição pessoal: Esta pequena oração faz um belo relacionamento entre
o indivíduo e os muitos, recusando-se a perder o indivíduo na multidão, sem, porém, retrair-se
para um canto particular de prazer. Mais uma vez, ficamos pensando em Paulo, cuja alegria e
coroa era a prosperidade dos eleitos de Deus (e.g. Fp 4: 1; 1 Ts 2: 19; 3: 8), e cujo fardo diário
era “a preocupação com todas as igrejas” (2 Co 11: 28).
106:6-39. Um registro de fracasso: Condenar uma geração anterior é uma coisa; coisa
bem diferente é reconhecer-se refletido e envolvido com ela. O v. 6 faz esta confissão crucial,
ligando o sempre recorrente “eles” de 7-39 com seu próprio “nós”, transformando uma
acusação em confissão. O homem moderno que canta este salmo terá que fazer o mesmo. Os
israelitas são os nossos antepassados eclesiásticos, e os pecados deles são os nossos,
visivelmente demonstrados.
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a) 7-12. A descrença. Os ingredientes da descrença lançam luz, por contraste,
nos ingredientes da fé. Começando na mente, com um raciocínio que não
levava em conta os atos revelados de Deus (7a) nem o Seu caráter (7b),
achava sua expressão através da vontade. Se rebeldes (7c) parece uma
expressão extrema, continua sendo uma das duas únicas respostas ao
chamamento divino, embora tenha vários graus de seriedade. O que esta
passagem demonstra é que a fé que acabaram tendo (Hb 11:29) devia tudo a
Deus, e nada à reação inicial deles, que se descreve em Êx 14:10-12.
b) 13-15. Descontentamento. Das muitas exigências de Israel quanto a uma
peregrinação mais confortável, este exemplo é tirado de Números 11 como
sendo o mais revelador. A dificuldade, parcialmente, é que tentações
diferentes descobrem fraquezas diferentes. Somente o nosso Senhor poderia
ter visto a solidariedade entre, e.g., a geração que matou os profetas e aquela
que ergueu túmulos à memória deles; uma solidariedade que estava para ser
demonstrada em bem pouco tempo. O Hebraico da terceira linha é, lit. “e
foram rebeldes ao mar (‘al-yãm), ao Mar Vermelho”, que faz bom sentido
como consta (ARC, ARA, etc), e tem apoio indireto da LXX. Uma emenda do
texto hebraico dá “contra o Altíssimo” ('elyôn - RSV).
106:15-24 (onde a entrega à cobiça dos israelitas se contrasta com o autodomínio dEle),
e em relação a Deus, a quem Jesus, diferentemente deles, recusou-Se a tentar mediante um
desafio estulto.
a) 15. Esta declaração clássica da condescendência de Deus com a vontadeprópria humana, e da sequela infeliz, refere-se inicialmente ao
desencantamento e desastre de Nm 11:18-20. Além disto, porém, revela um
padrão que se expressa na tradução literal: “Deu-lhes o que pediram, mas
enviou magreza para a alma deles”. O filho pródigo ilustra esta lição, como
também, ainda mais, a história de Ló. De modo inverso, a disposição de nosso
Senhor de aguardar os desígnios de Deus (13) deu fruto quando voltou do
deserto “no poder do Espírito”.
b) 16-18. Ciúmes. Os ataques feitos contra Moisés pelos que eram justos aos
seus próprios olhos, visando sua liderança espiritual e temporal em Nm
16:3,13 são desmascarados nas palavras simples: Tiveram inveja. Este modo
direto é tão característico das Escrituras como são as justificações próprias
complicadas dos homens. Há um paralelo estreito noutro resumo breve: “por
inveja”, em Mt 27:18.
c) 18. Esta referência aos homens que pereceram pelo fogo (cf. Nm 16: 35)
mostra que o partido de Coré, o líder da ala religiosa da revolta, aqui está
incluído no cômputo, embora ele não seja mencionado pelo nome.
d) 19-23. A idolatria. Em Rm 1:23 Paulo cita a LXX do v. 20: trocaram a glória... na
sua grande acusação formal do homem pagão. Nem ele, nem este salmo,
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nem mesmo a ira registrada de Deus e Moisés (Êx 32:10, 19), deixa qualquer
lugar para o ponto de vista de que o ídolo era uma mera forma de adorar ao
Deus verdadeiro. Foi uma troca. Há desprezo cortante no aparte: que come
erva, e há ironia no fato de que, nesta escolha, abriram mão da glória deles
(lit.; cf. RV, NEB; e ver Jr 2:11), pois eles não tinham outra; somente o Deus a
quem serviam a tinha.
e) 23. A expressão ousada: “Moisés . . . ficou na brecha diante dEle” (RSV) aceita
o risco do nosso mal entendimento do papel de Deus neste assunto, a fim de
que não deixemos desapercebida a importância da intercessão. Assim
também acontece com a própria narrativa (Êx 32:7-14). Outras partes da
Bíblia indicam que Deus anseia por ver nas pessoas a preocupação que
Moisés revelou. Ver especialmente Ez 22:30-31, que emprega a mesma
expressão que consta aqui, declarando, porém, ambos os lados do paradoxo,
enquanto ressalta que uma oração assim não é mero exercício. O resultado
realmente depende disto, pois há a expressão: Tê-los-ia... se Moisés... não se
houvesse... (23) que é inquietante (cf. Ez 22:31).
24-27. Recuando. Este era o “momento da verdade”, quando o desafio para marchar
para Canaã foi deliberadamente recusado (“Voltemos ao Egito”), e os únicos que não
concordaram com esta recusa foram ameaçados com o apedrejamento (Nm 14:4, 10). O que
Israel desprezou... e não deu crédito não era apenas a terra aprazível e a promessa (24), e, sim,
o próprio Senhor, conforme Ele mesmo declarou (Nm 14:11). O simbolismo do juramento que
fez (26; cf. Nm 14:28, “Pela minha vida”) marcou este momento como o ponto crucial para uma
geração inteira que agora passaria a vaguear e perecer no deserto. A ameaça da dispersão
pertence a um discurso anterior (Lv 26:33 e segs.), reafirmada na exortação de despedida de
Moisés (Dt 28:64 e segs.).
28-31. A apostasia. Quando Nm 25:1 diz que Israel começou “a prostituir-se com as
filhas dos moabitas”, vê a infidelidade espiritual como sendo o fator mais condenador:
“Juntando-se Israel a Baal-Peor” (25:3). O salmo ressalta a mesma lição, e acrescenta o
pormenor de “sacrifícios dos mortos” (ARC), que não se acha na narrativa de Números (a não
ser que “mortos” seja uma referência desdenhosa a ídolos mortos, ARA). Mesmo assim, as
várias proibições dos ritos que se vinculam com os mortos mostram que estes eram uma
tentação forte para Israel, e, presumivelmente, para os seus vizinhos. Ver especialmente Dt
26:14. A intervenção rápida de Finéias “fez expiação pelos filhos de Israel” ao satisfazer as
reivindicações do juízo (Nm 25:13), que é uma das facetas da expiação (cf. Rm 8:3b). Noutra
crise, Arão “fez expiação para eles”, ao ficar entre os mortos e os vivos, como Sumo Sacerdote,
com os símbolos do sacrifício e da intercessão (Nm 16:46 e segs.; cf. Lv 16:11-13), que é outra
faceta, exposta na Epístola aos Hebreus. O registro de louvor divino para Finéias, resumido no
v. 31 deste salmo, aparece por extenso em Nm 25:11-13. A frase: Isso lhe foi imputado por
justiça, faz lembrar a justificação de Abraão, vem como a nossa (Gn 15:6; Rm 4:3, 23-25);
felizmente, é a fé de Abraão que devemos seguir, e não o zelo de Finéias! Isto acontece, no
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entanto, porque a sentença já foi executada (sobre o Justo, em prol dos injustos) e a expiação
foi feita, não por símbolo, mas plenamente.
32, 33. A provocação. Este é o incidente de Nm 20:1-13, quanto Moisés feriu com ira a
rocha. O equilíbrio da culpa é restaurado aqui, pois foi Moisés que sofreu o castigo na ocasião,
pagando o preço da liderança; Deus, porém, não tinha ilusões quanto aos liderados.
34-39. A paganização. Esta estrofe tem assunto em comum com Dt 32:15-18, que Paulo
emprega em 1 Co 10:19-22 ao discutir os tratos de um cristão com uma cultura pagã. Todas as
três passagens concordam que os ídolos são fraudulentos (o salmo nem sequer os chama de
deuses); mesmo assim, por detrás deles, há demônios. Não são, portanto, apenas ilusão; são
um laço também. 37 e segs. Há, na Lei de Moisés (e.g. Lv 18:21), advertências contra o sacrifício
de pessoas a Moloque; mesmo assim, os exemplos registrados deste ato, bem como a
expressão sangue inocente, são aspectos da monarquia em 67 Um verbo diferente, porém
paralelo, se emprega aqui para desprezaram.
106:40-48 declínio (e.g. 2 Rs 16:3; 21:16; Jr 19:4-5), que dá a impressão de o salmo ter
uma data menos antiga. Não há, porém, qualquer motivo para pensar que o mesmo não
aconteceria nos dias obscuros dos Juízes, quando houve, conforme se nos informa, um destes
sacrifícios oferecido até ao Senhor (Jz 11: 31).
a) 106:40-46. Um juízo bem temperado: O julgamento teve de começar apenas
uma geração após a morte de Josué, e ocorreu de novo com regularidade
trágica. O Livro dos Juízes dá ampla ilustração da história dos w. 4045, com
seu ciclo recorrente de apostasia, um grito por socorro, a libertação e a nova
apostasia. O v. 46, no entanto, enquadra-se mais dificilmente naquele
período antigo: exemplos desta clemência (em prol da qual Salomão orou na
sua oração da consagração do templo, 1 Rs 8:50) são registrados para nós
somente no caso de uma era posterior (e.g. 2 Rs 25:27-30;Ed 1:24).
106:47,48. Motivo para oração e louvor: A oração do v. 47 tem, por detrás dela, a
confissão franca do pecado nacional de um lado, e da tolerância divina do outro, que
dominaram o salmo inteiro. É o tipo de oração que Deus tem prazer em atender. Sua inclusão,
com o versículo seguinte, na salmodia que o Cronista inclui na narrativa da procissão de Davi
com a arca ressalta o fato de que o arrependimento nunca está fora de lugar no louvor, nem o
louvor está fora de lugar num ato de arrependimento. O versículo 48, portanto, forma uma coroa
apropriada cujo tema tem sido a fidelidade de Deus, ainda mais do que a perversidade do
homem, e uma doxologia digna de terminar o Livro IV do Saltério.24
24
Kidner, Derek. Salmos 73-150. Pág. 395-399.
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2.4
– Comentários de Luis Alonso Schokel e Cecília Carniti__________
Gênero literário
O salmo divide-se em introdução (vers. 1-5), corpo (vers. 6-46) e conclusão (vers. 47). O
corpo é uma confissão coletiva de pecados, o epílogo é uma petição. A introdução é
enigmática: começa dois versículos de hino ou ação de graças, continua com uma bemaventurança, termina com uma súplica individual. Como se unem essas peças entre si e com
o corpo? Para responder, o melhor é orientar-se pelo mais seguro, que é o corpo. E constituído
por uma confissão de pecados históricos, não típicos nem genéricos: são sete, cometidos
durante a etapa do êxodo, de fronteira a fronteira, mais um continuado na terra prometida.
Por seu caráter de repasse histórico, este salmo pode-se agrupar com os 78,105 e 136.
De modo particular com o 105, como anverso e reverso de medalha: benefícios de Deus,
rebeliões do povo. Como confissão de pecados, é preciso buscar-lhes os parentes em outra
parte: no gênero “confissão de pecados”, que se cristaliza e se afirma durante o desterro (exílio)
e depois. Formam um grupo homogêneo que compreende as peças seguintes: Esd 9,6-15; Ne
9; Dn 3,24-45 (grego); Dn 9; Bar 1,15)
Estudo global
A comunidade do desterro (exílio), da diáspora ou dos repatriados dirige-se a Deus pelos
lábios do presidente da assembléia (congregação israelita), reconhecendo uma relação
bilateral do povo com o Senhor: Ele foi fiel à aliança, cumpriu com todos os seus
compromissos; o povo, porém, pecou, confessa-o e pede perdão e libertação. Os benefícios
recordados e o perdão reiterado, além de justificar a conduta de Deus, acrescentam um
agravante à conduta do povo. O perdão reiterado permite ao mesmo tempo esperar hoje novo
ato de clemência. Fator importante nessas confissões é a consciência de solidariedade no
delito; quase uma espécie de cumplicidade. Solidariedade do povo com os chefes e
solidariedade através do tempo com os antepassados. Ao confessar os pecados, sentem-se
unidos e pecadores de nascimento: ou seja, desde que nasceram como povo. — Este é o
mundo espiritual do salmo, e em seu contexto é preciso explicar a introdução e analisar ou
ilustrar com paralelos seus componentes. Os versículos finais do salmo dizem-nos que o povo
ou parte dele encontra-se desterrado ou disperso. Essa situação explica a amplidão e o modo
de tratar a conduta do povo na terra prometida. Se perderam sua terra, foi por seus pecados;
se esperam recuperá-la, é pela misericórdia do Senhor.
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Composição
Ainda que o autor pareça conhecer a versão do Pentateuco, não segue a ordem
tradicional dos eventos, e sim faz duas inversões. O episódio do bezerro de outro ocupa o
quarto lugar, ou seja, o central de sete, o culminante; daí observamos que Moisés figura
nominalmente no terceiro e no sétimo. O episódio da água reserva-se para o final, talvez porque
assim explica imediatamene o fato de Moisés não ter entrado na terra prometida.
O estilo mantém um compromisso entre exigências narrativas e gosto pelo paralelismo
sinonímico. Como a disposição é de blocos sucessivos, poderíamos ir comparando-os em
busca de analogias e contrastes. Por exemplo, a duas figuras destacadas de Moisés e Finéias;
os egípcios “cobertos” pelas águas e o bando de Abiram “coberto” pela terra. Parece que o
autor não explorou essa possibilidade. Muitas ações dos israelitas são específicas; outras são
genéricas, positivas ou negativas: “não se recordaram, esqueceram-se” (7b. 11.12),
“rebelaram-se, irritaram”, “não se fiaram, não atenderam, não obedeceram”. Essas peças
representam passagem para generalizar e categorizar os pecados específicos.
Provemos unir esse salmo ao precedente. O louvor (1-2) faz eco ao hino histórico que se
acaba de recitar. A bem-aventurança (3) comenta o último versículo do Sl 105: para que
observem sua lei... felizes os que a observam. Isso é menos forçado, mas é difícil de provar.
Outro particular: o orante pede aqui que Deus “se recorde dele” (4); o Sl 105 apóia-se na
repetição de recordar-se (8.42). Também essa relação é difícil de provar. Contudo, a leitura
unificada dos dois salmos sucessivos suavizaria alguns problemas. Tentemos noutra direção,
lendo esses versículos em função do corpo do salmo. Louvor e confissão sugerem-nos relação
dialética: apesar dos benefícios de Deus, o povo persiste em seus pecados; apesar dos
pecados do povo. Deus o protege. Mas Deus também castiga, pelo que não se deve submeter
fatalmente nem confiar presunçosamente, pois a verdadeira dita consiste em praticar a justiça.
Exegese
O primeiro versículo é uma fórmula litúrgica de uso múltiplo; o segundo pondera a
grandeza do tema. Por que começamos com um ato de louvor uma confissão de pecados?
Talvez nos dê a resposta Ne 9, ao explicar as circunstâncias da celebração:
3 Permaneceram em seus postos uma quarta parte do dia, enquanto se lia o livro da lei do Senhor seu
Deus, e passaram outra quarta parte confessando e rendendo homenagem ao Senhor seu Deus ... E os
levitas disseram: Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus, desde sempre e para sempre; bendizei
seu nome glorioso, que supera toda bênção e louvor.
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Como se relaciona esse começo ao corpo do salmo? Inserindo a confissão em quadro
de louvor, atitude mais radical, anterior ao pecado e posterior ao perdão. Confessar a grandeza
de Deus induz a confessar o próprio pecado; ser perdoado induz a louvar a Deus. Lidos desse
modo, os dois primeiros versículos constituem parte de quadro que influencia no sentido de
quanto segue.
A Bem-aventurança no versículo 3: podemos apelar a Dn 9,4: “que guardas a aliança e
és leal para com os que te amam e cumprem teus mandamentos”. Nessa hipótese e no lugar
que ocupa, o versículo ilumina por contraste a desgraça de não o ter cumprido.
Versos 4-5. Alegando os privilégios da comunidade, um indivíduo pede a Deus poder
desfrutar deles. Como relação do indivíduo com a comunidade, esses versículos são notáveis;
como introdução à confissão dos pecados, são enigmáticos. Outra explicação encontra-se
descendo ao final do salmo (47), que é uma súplica comunitária. Unindo os versículos 4-5 ao
47, a súplica individual antecipa a comunitária e se acolhe nela, a confissão inteira é
enquadrada na súplica, e isso tudo segue a um pórtico de louvor.
Versículo 6: alguns comentadores atribuem esse versículo à introdução, mas as
convenções do gênero o dissuadem. É normal no gênero: Esd 9,7 “desde o tempo de nossos
pais até hoje”, Ne 9,2 “seus pecados e a culpa de seus pais”, Dn 9,16 “pelos nossos pecados e
delitos de nossos pais”
Versos 7-11:
a) Primeiro pecado: na passagem pelo mar Vermelho (Ex 14): “Não
compreenderam”, porque não estavam dispostos. Ainda que compreender seja
atividade sapiencial, está condicionada pela atitude ética e religiosa. Por isso não
entender considera-se muitas vezes culpável; é não querer entender (cf. Sl 14,2;
94,8; Dt 32,29). Também é culpável “não recordar”, equivalente de lançar em
esquecimento (Sl 78). O perdão não se concede por méritos do povo nem por
intercessão de Moisés, mas unicamente pela honra de Deus. Doutrina frequente
em Ezequiel (20,9.14.22.44; 36,21s; também Is 48,9; Jr 14,7.21). Outros
particulares segundo Ex 14,31; 15,1. 13-15.
b) Segundo pecado: avidez (Nm 11). No pecado, a penitência. Não se contentar com
a comida normal qualifica-se de “tentar a Deus” (Sl 78,18). Concedendo o que
pedem, Deus os satisfaz e os castiga (Nm ll,19s). 16-18.
c) Terceiro pecado: rebelião de Datã e Abiram (Nm 16). O relato de Números
entrelaça com pouco êxito duas rebeliões: a sacerdotal de Coré, castigada com
o fogo, e a civil de Datã e Abiram, castigada fazendo com que a terra os trague
vivos. O salmista elimina da cena Coré e retém o duplo castigo, ainda que se
revele incoerente. Contudo, ao mencionar Aarão e Moisés, soa por alusão o tema
sacerdotal. Como em Nm 16, o castigo se circunscreve ao “bando de malvados”.
19-21.
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d) Quarto pecado: o bezerro de ouro (Ex 32). Esse pecado parte também dum
esquecimento: do Deus salvador e de suas proezas no Egito. Não há esse
esquecimento em Ex 32, pois Aarão explica claramente: “Este é teu Deus, Israel, o
que te tirou do Egito” e logo dedica a festa a Yahweh. O delito consistiu em
quebrantar um mandamento fabricando-se uma imagem que representasse Yhwh
ou sustentasse sua presença. O salmista não aceita tal precisão. Segundo ele, os
israelitas adoram uma imagem, uma manufatura humana, substituindo com ela a
“Glória” do Senhor, que é presença sem imagem. A grande intercessão de Moisés (Ex
32,11-14) chama-a o autor de “pôr-se na brecha e afastar a cólera”. Moisés põe-se
na brecha e fecha a passagem para a cólera. Ato valente e audaz de confrontar-se
com Deus, que é o que Deus deseja. Ezequiel utiliza a imagem, com uma variação,
polemizando com os falsos profetas em 13,5: “Não acudiram à brecha nem
levantaram cerca em torno da Casa de Israel, para que resistissem na batalha, no dia
do Senhor”.
e) Quinto pecado: recusam entrar na terra prometida (Nm 13-14). O salmista interpretao como falta de fé ou confiança na promessa de Deus, que quer cumprir-se em
seguida, e falta de obediência à ordem de entrar. Não separa Josué e Caleb, nem
menciona outra intercessão de Moisés. A terra tem um adjetivo: hemda = preciosa,
desejável, invejável. O adjetivo "invejável” resume todo o informe positivo dos
exploradores. O autor conhece os fatos do desterro e da dispersão e projeta-os ao
tempo fundacional do povo: como então muitos morreram no deserto e não
chegaram a possuir a terra, assim muitos perderam aquela terra e vivem e morrem
em país estrangeiro. Não quer dizer o autor que a rebelião de Nm 13-14 tenha sido a
causa do desterro, mas que em ambos os acontecimentos operou o mesmo espírito
de rebeldia e desobediência. Acentua a continuidade, a solidariedade no pecado. O
presente ou passado próximo remonta-se à sua raiz mais profunda. Moisés dizia:
“Desde que vos conheço, fostes rebeldes ao Senhor” (Dt 9,24).
f) Sexto pecado: prostituição em Baalfegor (Nm 25). O episódio está bem resumido,
inclusive repetindo algumas frases mais escolhidas: “ligar-se, cessou a praga”. Ao
invés, “irrompeu” parece inspirar-se em Ex 19,22.24. Ao sacerdócio não se alude
absolutamente. O mais notável é que 1316 Salmo 106 a reação violenta de Finéias
transforma-se em “intercessão”. Nm 25 falava de “afastar a cólera” e “expiar”. Pois
bem, o primeiro atribui-se a Moisés (23b), o clássico “interceder” de Moisés (Nm
11,2; 21,7) atribui-se a Finéias (30s).
g) Sétimo pecado: ao fato se referem três textos narrativos (Ex 17,l-7;Nm20,l-13;Dt9,78); aludem a ele vários salmos (81,8; 95,8s; 99,8). Apesar de tal abundância, o
acontecimento permaneceu na penumbra, especialmente o que diz respeito à
conduta de Moisés. O autor, sem negar a culpa de Moisés — dado tradicional — ,
busca-lhe atenuante na provocação do povo. A vocalização massorética diz que
“fizeram-no rebelar-se”; com mais acerto seguem as versões outra vocalização que
produz o significado de “amargaram. O pecado não é de ação, mas de palavra. Como
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o verbo “desvairar” aparece só aqui e em Lv 5,4; em Pr 12,18, não é possível precisar
mais seu alcance. Vê-se que toda a posteridade quis deixar na penumbra o pecado
específico de seu grande chefe.
Versos 34-42: Para ganhar clareza, dividimos o pecado oitavo em duas seções. A
primeira descreve um processo coerente, quase uma dialética fatal de ações e consequências.
O salmo precedente terminava deixando os israelitas, ao chegar à terra prometida, com a tarefa
de guardar a lei do Senhor. A última parte do Sl 106 toma-os nesse movimento e descobre nele
o ponto de partida para a tragédia histórica. O encadeamento é parte do sentido dessa
meditação histórica. Vejamos o processo em esquema. Entram na terra e não eliminam seus
habitantes — antes a eles se unem em relações matrimoniais —, com o que imitam seus
costumes e praticam a idolatria — a qual inclui entre suas práticas os abomináveis sacrifícios
humanos —, os quais profanam a terra santa — pelo que o Senhor os castiga submetendo-os
aos pagãos. As etapas do processo têm seus antecedentes em diversos textos legais e
proféticos. Se o Deuteronômio fala de “deuses estrangeiros”, o salmo chama-os
respectivamente “ídolos”. O narrador de I Sm 30,9 e 2Sm 5,21 designa com esse termo os
ídolos dos filisteus. Para as estátuas costumam empregar Armadilha / laço: lê-se como
motivação na legislação (por exemplo, Ex 23,33; 34,12; Dt 7,16). Sacrifícios humanos
oferecidos a “demônios”: tal é a tradução tradicional do bíblico shedim. Ainda que o termo
original acádico designe os guardiães fantásticos dos templos, estátuas intimidatórias de
animais polimorfos, os dois autores bíblicos que retomam o termo dão-lhe sentido pejorativo
para designar de maneira burlesca as divindades estrangeiras. O AT fala repetidamente de
sacrifícios humanos. Ofereciam-se em geral a certo deus Moloc, e o lugar do ritual encontravase no Vale Hinon = Gehenna. Podem-se consultar: Lv 20,2; Dt 12,31; 2Rs 16,3; 17,31; 23,10; •Jr
7,30-32; 19,3-5; Ez 16,20-21; Sb 12,4-6. 38. “Derramar sangue inocente” é forma fixa para
designar o homicídio e o assassínio; figura na legislação, em textos narrativos, proféticos e
sapienciais.
Transposição cristã
Se ancoramos rigidamente esse salmo no passado de Israel, de modo que a nós, os
cristãos, não nos alcance; se nos distanciamos daqueles “pecadores” pensando que somos
justos; se não soubemos solidarizar-nos com eles no pecado e na condição pecadora, então
não nos apropriamos do salmo. Porque todo o seu sentido consiste nesse solidarizar-se
histórico. Cada geração do seu lugar põe-se em fila e a prolonga, e pela fila remonta-se ao
começo. Não pensemos que a redenção de Cristo seja um corte total que impeça essa humilde
solidariedade. Não invoquemos a Igreja “sem mancha nem ruga” para nos desentender do Sl
106. Ao contrário, o salmo ensina-nos a confessar pecados históricos e comunitários, também
em nossa situação. Como dizia, a propósito do Sl 105, que se podia compor um salmo de ação
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de graças pela história gloriosa da Igreja, assim também acrescento que devemos compor um
salmo histórico de pecados da Igreja. Se nos Atos dos apóstolos deparamo-nos em geral com
pecados individuais, de cristãos, nas cartas de Paulo (e discípulos) descobrimos comunidades
que têm que confessar e arrepender-se de diversos pecados. Vejam-se as divisões e partidos
na Igreja de Corinto, os escândalos públicos tolerados; comprove-se a situação da Igreja da
Galácia. Inclusive na celebração eucarística encontra Paulo coisas a censurar. Somos capazes
de nos solidarizar com os pecados daquelas primeiras comunidades? Subindo algo mais, com
a negação de Pedro, para chorá-la com ele? Em vez de restringir cuidadosamente a “escribas e
fariseus hipócritas” os ais do evangelho, deveríamos tomá-los como programa de acusações
para examinar nossa conduta pouco cristã, pouco conforme ao evangelho.
Estamos acostumados a pensar em categorias: nossos sete pecados capitais são tipos;
também são genéricos os mandamentos que transgredimos. Os sete pecados capitais do Sl
106 são históricos. A imitação do salmo, poderíamos compilar listas tiradas de toda a história
ou de alguma zona ou etapa. Seria um modo de nos apropriarmos do salmo e educar nossa
solidariedade.25
2.5
– Comentários de C. H. Spurgeon________________________________
Este salmo começa e termina com Aleluia - "Deem graças ao Senhor". O espaço entre
essas duas descrições de louvor é preenchido com os lamentosos detalhes do pecado de
Israel, e a extraordinária paciência de Deus, e na verdade fazemos bem em bendizer ao Senhor
tanto no começo como no fim de nossas meditações quando o pecado e a graça são os temas.
Este cântico sagrado trata da parte histórica do Antigo Testamento, e é um dos muitos que é
composto desta maneira: certamente esta deveria ser uma repreensão suficiente para aqueles
que fazem pouco das Escrituras históricas; não é bom um filho de Deus tratar levianamente
aquilo que o Espírito Santo usa para nossa instrução com tanta frequência. Que outras
Escrituras tinham Davi além daquelas mesmas histórias que são tão depreciadas, e, contudo,
ele as estimava mais do que o seu alimento, e fazia delas seus cânticos na casa de sua
peregrinação? A história de Israel é escrita aqui a fim de mostrar o pecado humano, assim como
o salmo anterior foi composto para magnificar a bondade divina. É, de fato, uma confissão
nacional, e inclui um reconhecimento dos pecados de Israel no Egito, no deserto e em Canaã,
com rogos devotos por perdão, o que tornou o salmo adequado para uso em todas as gerações
sucessivas, e especialmente em tempos de cativeiro nacional. É provável que tenha sido
25
Schökel, Luis Alonso; Carniti, Cecília. Salmos II (Salmos 73-150). Pág. 388-397.
#interna
escrito por Davi - de qualquer maneira, seu primeiro versículo e os dois últimos se encontram
naquele hino sagrado que Davi entregou a Asafe quando este trouxe a arca do Senhor (1Cr
16.34, 35, 36). Enquanto estamos estudando este salmo santo, vamos ver-nos entre o povo
antigo do Senhor, e arrepender-nos de nossas próprias provocações ao Altíssimo, ao mesmo
tempo admirando sua infinita paciência, e adorando-o por causa dela. Possa o Espírito Santo
santificar nos em prol da promoção de humildade e gratidão.
Divisão
Louvor e oração são misturados na introdução (Sl 106.1-5). Então começa a história dos
pecados da nação, que continua até a oração de encerramento e o louvor dos últimos dois
versículos. Em confissão, o salmista reconhece os pecados cometidos no Egito e no Mar
Vermelho (Sl 106.6-12), a cobiça no deserto (Sl 106.13-15), o ciúme de Moisés e Aarão (Sl
106.16-18), a adoração do bezerro de ouro (Sl 106.19-23), o menosprezo da terra prometida (Sl
106.24-27), a iniquidade de Baal-Peor (Sl 106.28-30), e as águas de Meribá (Sl 106.28-33).
Depois ele reconhece o decaimento de Israel quando assentado em Canaã, e menciona seu
castigo consequente (Sl 106.34-44), junto com a rápida compaixão que veio aliviá-los quando
estavam derrubados (Sl 106.44-46). A oração final e doxologia ocupam os versículos
restantes.26
2.6
– Comentários de Thomas Waltson______________________________
Em primeiro lugar, ele (o salmo 106) fala sobre os pecados deles em geral: “Nós
pecamos como os nossos pais” (v. 6). Nem sempre os exemplos dos pais devem ser seguidos.
Não deveríamos ser mais sábios do que os nossos pais? Os pais podem errar. Por vezes, é
melhor para um filho herdar a terra do que a religião do seu pai (2 Crônicas 29:6). Em segundo
lugar, Davi cita especificamente quais são os pecados deles. 1. O seu esquecimento de Deus:
“Porém cedo se esqueceram das suas obras” (v. 13). Ou, como está no original, apressaramse a esquecer das suas obras. O Senhor fez um milagre memorável em favor deles (v. 11), Deus
afogou os inimigos de Israel e Israel afogou as misericórdias de Deus. Os nossos pecados e as
bondades de Deus escapam rapidamente da nossa memória. Tratamos as misericórdias de
Deus como lidamos com as flores. Quando são frescas, as cheiramos e as usamos para
26
Spurgeon, C. H. – Esboços Bíblicos de Salmos. Recurso Digital.
#interna
enfeitar nossas roupas. Mas, em pouco tempo, as deixamos de lado e não nos importamos
mais com elas. Eles cedo se esqueceram das obras de Deus.
A sua cobiça desenfreada
“Mas deixaram-se levar pela cobiça no deserto” (v. 14).
Eles se cansaram da provisão que Deus lhes enviava miraculosamente desde o céu. Eles
se tornaram melindrosos e clamaram por codornizes; não se contentaram que Deus suprisse
as suas necessidades, mas queriam que ele também satisfizesse as suas cobiças. Deus
permitiu que tivessem o que queriam. Eles tiveram as codornizes, mas junto com sua ira:
“Enviou magreza às suas almas”. Em outras palavras, Deus lhes enviou uma praga pela qual
eles definharam e foram consumidos.
A sua idolatria
“Fizeram um bezerro em Horebe” (v. 19).
Eles formaram para si mesmos um deus de ouro e o adoraram. A Escritura chama aos
ídolos de “vergonha” (Oséias 9:10). Por isso, Deus deixou de afirmar que eles eram o seu povo.
“O teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido” (Êxodo 32:7). Antes, Deus os
chamava de o seu povo, mas agora ele não diz a Moisés “meu povo”, mas sim “o teu povo”.
A sua infidelidade
“Não creram na sua palavra... Antes murmuraram” (vv. 24-25a).
Eles pensavam que Deus não seria capaz de subjugar os seus inimigos e conduzi-los
àquela terra agradável que manava leite e mel. E essa incredulidade irrompeu em murmuração.
Eles desejaram ter sido sepultados no Egito (Êxodo 16:3). Quando os homens começam a
desconfiar da promessa de Deus, então discutem com a sua providência. Quando a fé decai, a
murmuração se eleva. Foi devido a essas coisas que Deus levantou a sua mão contra os tais,
como está escrito: “E foram abatidos pela sua iniquidade”.27 O pecado abate uma pessoa:
“Abate os ímpios até à terra” (Salmos 147:6). O pecado é o grande nivelador. Ele abate e derruba
os pilares da família. O pecado abate um reino: “Por que, pois, não deste ouvidos à voz do
27
Watson, Thomas. A Malignidade do Pecado. Pág. 10-12.
#interna
Senhor, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que parecia mau aos olhos do Senhor?... O
Senhor tem rasgado de ti hoje o reino de Israel” (1 Samuel 15:19, 28). O pecado ataca as bases
da igreja e do Estado: “Quando Efraim falava, tremia-se; foi exaltado em Israel; mas ele se fez
culpado em Baal, e morreu” (Oséias 13:1).28 O pecado é o grande humilhador. Não foi o pecado
de Davi que o abateu? “Nem há paz em meus ossos, por causa do meu pecado” (Salmos 38:3).
Por causa do pecado, Deus transformou o grande rei Nabucodonosor em um animal: “Comia
erva como os bois, e o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pelo, como
as penas da águia, e as suas unhas como as das aves” (Daniel 4:33). 29
O pecado não apenas nos abate, mas também torna a aflição amarga. O pecado torna a
aflição dolorosa. A culpa torna a aflição pesada. Um pouco de água pesa quando é colocado
em um recipiente de chumbo e um pouco de aflição pesa quando é colocada em uma
consciência culpada. O pecado abate em melancolia. Ele deixa principalmente a mente em
trevas. Alguns têm pressentimentos terríveis e obscuros. A melancolia veste a mente de luto. A
melancolia perturba um cristão de tal modo que ele não consegue orar ou louvar. As cordas do
alaúde não produzem som quando estão molhadas, assim também aquele que está
melancólico não consegue salmodiar ao Senhor em seu coração (Efésios 5:19). Quando a
mente está perturbada, ela fica inapta para o trabalho. A melancolia perturba a razão e
enfraquece a fé... O pecado abate um homem em males espirituais. Ele faz com que muitos
tenham uma consciência ferida e uma letargia espiritual.30
O pecado abate muitos em desespero. Este é um abismo em que ninguém cai, a não ser
os réprobos: “Eles dizem: Não há esperança” (Jeremias 18:12). O desespero é um devorador da
salvação. É uma pedra de moinho amarrada ao pescoço da alma que a faz afundar em
perdição.31
3 – Considerações Finais
Dar graças ao Senhor, louvar o Senhor ou simplesmente Hallelujah. Assim se inicia e
termina o Salmo 106. Mas por que deveríamos agradecer ou louvar a Deus? Uma forma de se
entender os salmos é colocando-se no lugar do salmista, que no caso do Salmo 106, está
28
Watson, Thomas. A Malignidade do Pecado. Pág. 12-13.
Watson, Thomas. A Malignidade do Pecado Pág. 15.
30
Watson, Thomas. A Malignidade do Pecado Pág. 16.
31
Watson, Thomas. A Malignidade do Pecado Pág. 18.
29
#interna
expressando seu reconhecimento tanto da grandeza, poder e benevolência divina como de sua
própria condição de pecador, pequenez e iniquidade histórica de seu povo.
O salmista ecoa pensamentos recorrentes em outros textos como as ideias de que o
Senhor é bom e que Sua misericórdia não se extingue rapidamente, de que ele e seus
compatriotas precisam de salvação, e, que há bem-aventurança em observar e praticar o que
é certo, justo, reto.
O salmista recorre às lições do passado nacional para relatar eventos miraculosos
promovidos por Yahweh e constatar a falta de humildade por parte do povo que agiu de forma
egoísta e desobediente. Como consequência de rebeldia reiterada e falta de temor a Deus, as
consequências vieram e causaram aflição e sofrimento.
Mas esse Deus gracioso ouviu a esse povo aflito que clamava por libertação, salvação e
por poder novamente seguir no relacionamento de submissão, dependência e devoção com
Ele.
O salmista descreve que o misericordioso Deus se arrepende. O “arrepender-se” de
Yahweh não significa sentimento de remorso mas sim de demonstração de Poder e de
longanimidade, esperando e desejando ver os pecadores se arrependerem. Assim como
também ao descrever que o Senhor se “lembrou” da aliança feita com o povo, o salmista faz
uso de antropopatismo32 para tentar entender dentro da limitação humana o quão Majestoso,
Maravilhoso e Amoroso é esse Deus, o qual, por Sua vez, é plenamente capaz de julgar e
promover mudança no pensamento dos opressores e alterar o curso da história.
O salmista termina sua poesia expressando que o Senhor é Bendito eternamente, e
incentiva seus ouvintes e leitores, após compreenderem sua intenção poética, a dizerem e
fazerem o mesmo: louvem o Senhor, sejam gratos, pois de fato, não há quem possa ser
comparado ao Senhor.
32
É a forma de pensamento que atribui emoções humanas, paixões e desejos a Deus, diferente de
antropomorfismo, que é o pensamento que atribui características humanas como membros do corpo, e atividades
físicas a Deus. Exemplo: Antropopatismo é um preceito teológico que enfatiza que Deus se expressou usando
sentimentos
humanos
como
amor,
ira,
arrependimento
etc.
(www.dicionarioinformal.com.br/significado/antropopatismo/20233/)
#interna
Fontes
Baal-peor o Deus dos Pecados Sexuais. Artigo de “Personagem Bíblico”. Site de estudos. 2016.
Disponível em www.personagembiblico.com.br/2016/06/baal-peor-o-deus-dos-pecados-sexuais.html
Bíblia Sagrada: Nova Versão Transformadora [recurso eletrônico] — 1. ed. - São Paulo: Mundo Cristão,
2016. recurso digital.
Dicionário Informal. Significado de antropopatismo. Recurso eletrônico. 2015. Disponível em
www.dicionarioinformal.com.br/significado/antropopatismo/20233/
Escritura Hebraica Restaurada: Do Hebraico para o Português. Editado por: Yosef Ben Avraham. 2014,
Recurso Digital.
Francisco, Edson de Faria. Os Termos Técnicos Musicais Nos Salmos E As Soluções/Opções
Encontradas Em Edições Da Bíblia Em Língua Portuguesa. Artigo da Revista “Perspectiva Teológica”; v.
52, n. 1, p. 73-97, Jan./Abr. 2020 - Belo Horizonte (MG).
Kidner, Derek. Salmos 73 - 150 - Introdução e Comentário aos Livros III a V dos Salmos. Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão. São Paulo (SP). 1984.
Robertson, O. Palmer. A estrutura e teologia dos Salmos / O. Palmer Robertson; tradução Thiago
Machado Silva. - São Paulo: Cultura Cristã, 2019.
Schökel, Luis Alonso; Carniti, Cecília. Salmos II (Salmos 73-150) – Coleção “Grande comentário bíblico”
da Editorial Verbo Divino, Estella (Navarra), Espanha. 1992. Tradução João Rezende Costa. Editora
Paulus. São Paulo (SP). 1998.
Spurgeon, C. H. – Esboços Bíblicos de Salmos. Shedd Publicações. 2005. São Paulo (SP) Recurso Digital.
Walton, John H„ 1952- Comentário Bíblico Atos: Antigo Testamento / John H. Walton, Victor H.
Matthews, Mark W. Chavalas; [tradutor Noemi Valéria Altoé]. - Belo Horizonte: Editora Atos, 2003.
Watson, Thomas. A Malignidade do Pecado (Obras de Thomas Watson Livro 2) (Portuguese Edition).
Editora O Estandarte de Cristo. Edição do Kindle.
Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo; Antigo Testamento. Volume III, Poéticos / Warren W.
Wiersbe ; traduzido por Susana E. Klassen. - Santo André, SP: Geográfica Editora, 2006.
Williams, Tyler F. Uma Classificação dos Salmos Baseado na Crítica da Forma de Acordo com Hermann
Gunkel. Texto utilizado pela Taylor University College, Edmonton, Alberta, Canada, Outubro de 2006.
Wright, N. T. Salmos: contextos históricos, literário e espirituais para resgatar o significado do hinário do
antigo Israel / N. T. Wright; tradução de Elissamai Bauleo. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil,
2020.
Pasquetti, André M. – Novembro /2024.