Caderno de Estudos Geoambientais
CADEGEO
PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO RÁPIDA DE
RIOS (PAR)
Rapid River Assessment Protocols (RAP)
______________________________________________________
Resumo
Os Protocolos de Avaliação Rápida de Rios (PAR) são ferramentas
desenvolvidas com o objetivo de avaliar qualitativamente os sistemas
hídricos superficiais, de modo que sejam diagnosticadas informações
qualitativas do meio em que se encontra o rio. De forma geral, os
protocolos podem ser aplicados tanto por analistas ambientais como
por estudantes ou voluntários não qualificados, desde que
devidamente treinados. O objetivo deste trabalho consiste em
apresentar Protocolos de Avaliação Rápida de Rios (PAR) avaliando a
importância para as análises ambientais e ressaltando métodos de
aplicação e pontos positivos e negativos de um PAR. Os protocolos
podem ser usados na preservação dos recursos hídricos, desta forma, o
trabalho desenvolvido contribui para compreensão dos parâmetros
avaliados pelos protocolos e sua importância, a longo prazo, para o
desenvolvimento de monitoramentos e avaliações ambientais mais
acessíveis e eficazes para a sociedade.
Myrella Rodrigues de Oliveira Bizzo
1
Juliana Menezes
1
Sandra Fernandes de Andrade
1
Departamento de Geografia – Campos dos
Goytacazes/Universidade Federal
Fluminense
1
Palavras-chave: Protocolo de Avaliação Rápida de Rios (PAR),
Monitoramento Ambiental, Gestão Ambiental.
Abstract
The Rapid Assessment Protocols Rios (PAR) tools are developed with
the aim of qualitative evaluation of surface water systems, so that
qualitative information of the environment in which it meets the river
are diagnosed. In general, the protocols can be applied by
environmental analysts, students or unskilled volunteers, if properly
trained. The objective of this work is to present protocols Rapid
Assessment Rios (PAR) assessing the importance of environmental
analysis and application methods and highlighting positives and
negatives of a PAR. The protocols can be used in the preservation of
water resources, the work in this way, contributes to understanding of
the parameters evaluated by the protocols and their importance in the
long term, for the development of monitoring and more accessible and
efficient for society environmental assessments.
Keywords: Rapid River Assessment Protocol (RAP), Environmental
Monitoring, Environmental Management.
___________________________________________________________
Correspondência:
Juliana Menezes
Universidade Federal Fluminense –
Departamento de Geografia – Polo Campos
dos Goytacazes - Rua José do Patrocínio, 71,
Centro, Campos dos Goytacazes, CEP.:
28010-385 – RJ, Brasil.
Email:
[email protected]
Recebido em abril de 2014
Aprovado em maio de 2014
Artigo disponível em
www.cadegeo.uff.br
PROTOCOLOS DE AVALIAÇÃO RÁPIDA DE RIOS (PAR)
Introdução
As diversas ações da sociedade resultaram em diferentes usos dos recursos ambientais,
aumentando, assim, a fragmentação dos habitats, mudanças nas condições ecológicas e
climáticas, contaminação dos recursos hídricos (MENEZES et. al., 2012) e perdas da
biodiversidade. As comunidades científicas tornam-se indispensáveis para orientação das
complexas questões ambientais. Desta forma, os indicadores ecológicos são importantes para
avaliação do estado do meio ambiente ou para monitorar tendências nas condições ambientais ao
longo do tempo, fornecendo alertas de mudanças precoces no meio ambiente (DALE; BEYELER,
2001).
O Protocolo de Avaliação Rápida de Rios (PAR) é uma ferramenta desenvolvida com o
objetivo de auxiliar o monitoramento ambiental dos sistemas hídricos encontrados no mundo, de
modo que sejam levantadas informações qualitativas e a partir daí seja realizado um diagnóstico
ambiental do meio em que se encontra o rio. No entanto, para além dos instrumentos legais
criados para o monitoramento dos recursos hídricos, ainda existe a necessidade de interação
entre os órgãos ambientais e a sociedade. Desta forma:
“A integração da comunidade no monitoramento dos recursos hídricos, por
meio dos PARs, gera dados que representam a qualidade dos ecossistemas
fluviais ao longo do tempo, sem que sejam necessários custos altos e
profissionais especializados no assunto. Esses dados podem ser úteis por
detectarem possíveis interferências antrópicas sobre fontes de água da região,
além de gerarem uma consciência ambiental nas pessoas, despertando-as para
a importância da manutenção dos recursos hídricos a elas disponíveis”
(RODRIGUES et al., 2008).
O objetivo do presente trabalho consiste em apresentar os Protocolos de Avaliação Rápida
de Rios (PAR) a partir da avaliação de sua importância para as análises ambientais sem deixar de
ressaltar os métodos de aplicação, seus pontos positivos e negativos. Contribuindo, ainda, para
compreensão da importância dos protocolos como ferramentas para a preservação dos recursos
hídricos e ambientais.
Histórico
Nos Estados Unidos, até 1970, o monitoramento ambiental era baseado nas análises
quantitativas, contudo, em meados de 1980, métodos de avaliação qualitativos foram definidos
por órgãos ambientais visando reduzir o alto custo e a demora das pesquisas quantitativas.
Estudos referentes à qualidade da água foram desenvolvidos em 1986 pela EPA (Environmental
Protection Agency) e as agências de monitoramento de águas superficiais resultando, em 1987, no
relatório “Surface Water Monitoring: A Framework for Change”, que estabelecia a reestruturação
dos programas de monitoramento e o auxílio no desenvolvimento de pesquisas com baixos
custos. Nesse período, o relatório possibilitou o desenvolvimento dos protocolos de avaliação
rápida de rios (RODRIGUES, 2008).
Em 1989, foi publicado por Plafkin et al. um documento destacando os primeiros
protocolos desenvolvidos pela “Divisão de Avaliação e Proteção das Bacias Hidrográficas”, criados
para fornecer dados básicos sobre a vida aquática, para fins de qualidade da água e
gerenciamento de recursos hídricos (SILVEIRA, 2004). Desta forma, o PAR foi elaborado com o
objetivo de facilitar o acesso e a compreensão dos sistemas hídricos e pode ser aplicado tanto por
especialistas como por voluntários treinados, além de sua aplicação possuir baixo custo.
No Brasil, o monitoramento ambiental está fortemente baseado na análise da água, sendo
restrita a utilização dos protocolos de avaliação do ecossistema, de modo geral, a pesquisas
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acadêmicas de ensino superior. Estes protocolos são muitas vezes adaptados devido a grande
biodiversidade do país, alguns exemplos de trabalhos desenvolvidos são os de: Callisto et al.
(2002), que apresentou a análise dos resultados de dois grupos, um treinado e o outro não, para
aplicação do protocolo em trechos de rios do Parque Nacional da Serra do Cipó (MG) e do Parque
Nacional da Bocaina (RJ), a conclusão foi de que não houve diferenças significativas entre os
resultados; Rodrigues et al. (2008), que adaptou um PAR para trechos de rios de alto e baixo curso
inseridos em campos rupestres do bioma cerrado, considerando a importância do protocolo para
preservação de recursos hídricos e Minatti-Ferreira; Beaumord (2006), que desenvolveram e
testaram um protocolo, adequado as condições de rios e riachos de regiões subtropicais, aplicado
em dois tributários do rio Itajaí-Mirim.
Aplicação dos Protocolos
Os Protocolos de Avaliação Rápida de Rios são ferramentas que proporcionam análises
qualitativas não apenas de rios, mas também dos ecossistemas que estejam inseridos. São
compostos por check lists que avaliam determinados parâmetros e permitem obter uma
pontuação do estado de conservação em que os rios se encontram. Em algumas situações, os
protocolos são adaptados uma vez que o ecossistema fluvial estudado pode apresentar diferentes
tipos de vegetação, clima, solo, relevo, dentre outros aspectos.
Para a aplicação do PAR é importante, primeiro, buscar uma área para controle dos
resultados que, preferencialmente, apresente baixas interferências antrópicas, ou seja,
ecossistemas considerados em condições naturais (MINATTI-FERREIRA; BEAUMORD, 2004 apud
RODRIGUES et al., 2010). O valor obtido na aplicação do PAR nessa área servirá como um limite
de referência para aplicação do PAR na área estudada. A partir desse ponto de referência é que
são feitas as análises da qualidade ambiental dos outros pontos.
Vários estudos foram desenvolvidos a partir da aplicação do PAR, nota-se que as pesquisas
foram adaptadas aos respectivos lugares de interesse. Enquanto Upgen (2004) apud Rodrigues
(2008) desenvolveu um protocolo para monitorar os efeitos da agropecuária e das práticas de
conservação dos solos na qualidade da água de rios inseridos no bioma cerrado, Minatti-Ferreira;
Beaumord (2006) e Callisto et al. (2002) aplicaram o protocolo em trechos de rios inseridos no
bioma mata atlântica. Além disso, Callisto et al. (2002) também aplicaram o protocolo em rios do
bioma cerrado. Barbour; Stribling (1991) aplicaram o protocolo em diferentes biomas dos Estados
Unidos, baseados nos aspectos físicos do meio (RODRIGUES, 2008).
No trabalho de Callisto et al. (2002), por exemplo, realizado em trechos de bacias no
Parque Nacional da Serra do Cipó (MG) e no Parque Nacional da Bocaina (RJ), a proposta dos
autores foi observar os resultados das análises de dois grupos com 50 voluntários cada um, num
grupo foram realizados treinamentos básicos sobre a região e de como é feita a aplicação do PAR,
e o outro grupo não obteve treinamento. Os dados mostraram que não houve diferenças
significativas entre os resultados, apenas parâmetros mais específicos como substratos do fundo,
vegetação, tipos de ocupação das margens sofreram variação. De acordo com os autores esses
resultados refletem o bom entendimento do protocolo, a fácil aplicação e a definição clara da
metodologia de avaliação.
Em suma, o desenvolvimento de um protocolo de avaliação da integridade ambiental de
ecossistemas de rios e riachos leva em consideração aspectos físicos do habitat (MINATTIFERREIRA; BEAUMORD, 2006), tais como substrato do fundo, qualidade dos remansos,
características do fluxo de água, frequência e extensão das corredeiras, alteração no canal do rio,
estabilidade das margens, presença de mata ciliar e grau de proteção oferecido ao ambiente pela
cobertura vegetal das margens (CALLISTO et al., 2002) (Tabelas 1 e 2).
Segundo Vargas e Ferreira (2012) a tabela 1, adaptada do protocolo da Agência de Proteção
Ambiental de Ohio (EUA), “avalia as características de trechos da drenagem e nível de impactos
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ambientais decorrentes de atividades antrópicas, dando maior ênfase à qualidade da água e do
substrato, e atribuindo menor peso a erosão e à cobertura vegetal das margens” (2012, p.162163). E a tabela 2, adaptada do protocolo de Hannaford et al. (1997), “avalia a complexidade do
habitat e o seu nível de conservação, atribuindo maior importância às características do fluxo
d’água e ao tipo de substrato para o estabelecimento de comunidades aquáticas, e menor
pontuação à estabilidade das margens e à presença da mata ciliar e plantas aquáticas.” (VARGAS;
FERREIRA, 2012, p.163). A pontuação de 0 a 40 representa áreas consideradas “impactadas”, de
41 a 60 áreas “alteradas” e de 61 a 100 áreas “naturais”.
Tabela 1: Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em trechos de bacias hidrográficas.
Fonte: Callisto et al. (2002) modificado do protocolo da Agência de Proteção Ambiental de Ohio (EUA)
(EPA,1987).
DESCRIÇÃO DO AMBIENTE
Localização:
Data da Coleta: ____/_____/_____
Tempo (situação do dia):
Hora da Coleta:
Modo de coleta (coletor):
Tipo de ambiente: Córrego ( )
Rio ( )
Largura média:
Profundidade média:
Temperatura da água:
PONTUAÇÃO
PARÂMETROS
4 pontos
2 pontos
Campo
pastagem/Agricultura/
Monocultura/
Reflorestamento
0 ponto
de
1.Tipo de ocupação das
margens do corpo d’água
(principal atividade)
Vegetação natural
2. Erosão próxima e/ou nas
margens
do
rio
e
assoreamento em seu leito
Ausente
Moderada
Acentuada
3. Alterações antrópicas
Ausente
Alterações de origem
doméstica (esgoto, lixo)
Alterações
de
origem
industrial/ urbana (fábricas,
siderurgias,
canalização,
retilinização do curso do rio)
4. Cobertura vegetal no
leito
5. Odor da água
6. Oleosidade da água
7. Transparência da água
8. Odor do sedimento
(fundo)
9. Oleosidade do fundo
10. Tipo de fundo
Parcial
Total
Ausente
Nenhum
Ausente
Transparente
Esgoto (ovo podre)
Moderada
Turva/cor de chá-forte
Óleo/industrial
Abundante
Opaca ou colorida
Nenhum
Esgoto (ovo podre)
Óleo/industrial
Ausente
Pedras/cascalho
Moderado
Lama/areia
Abundante
Cimento/canalizado
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Residencial/ Comercial/
Industrial
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Tabela 2: Protocolo de Avaliação Rápida da Diversidade de Habitats em trechos de bacias hidrográficas.
Fonte: Callisto et al. (2002) modificado do protocolo de Hannaford et al. (1997).
PONTUAÇÃO
PARÂMETROS
5 pontos
Mais de 50% com
habitats
diversificados;
pedaços de troncos
submersos;
cascalho ou outros
habitats estáveis.
3 pontos
30 a 50% de habitats
diversificados;
habitats adequados
para a manutenção
das populações de
organismos
aquáticos.
2 pontos
10 a 30% de habitats
diversificados;
disponibilidade de
habitats insuficiente;
substratos
frequentemente
modificados.
Rápidos e
corredeiras bem
desenvolvidas;
rápidos tão largos
quanto o rio e com
o comprimento
igual ao dobro da
largura do rio.
Rápidos
relativamente
frequentes;
distância entre
rápidos dividida
pela largura do rio
entre 5 e 7.
Rápidos com a
largura igual à do rio,
mas com
comprimento menor
que o dobro da
largura do rio.
14. Tipos de
Substrato
Seixos abundantes
(prevalecendo em
nascentes).
Seixos abundantes;
cascalho comum.
Trechos rápidos
podem estar
ausentes; rápidos
não tão largos
quanto o rio e seu
comprimento menor
que o dobro da
largura do rio.
Rápidos ou
corredeiras
ocasionais; habitats
formados pelos
contornos do fundo;
distância entre
rápidos dividida pela
largura do rio entre
15 e 25.
Fundo formado
predominantemente
por cascalho; alguns
seixos presentes.
15. Deposição de
Lama
Entre 0 e 25% do
fundo coberto por
lama.
Menos de 5% do
fundo com
deposição de lama;
ausência de
deposição nos
remansos.
Entre 25 e 50% do
fundo coberto por
lama.
Alguma evidência de
modificação no
fundo,
principalmente como
aumento de
cascalho, areia ou
lama; 5 a 30% do
fundo afetado; suave
deposição nos
remansos.
Alguma canalização
presente,
normalmente
próximo à construção
de pontes; evidência
de modificações há
mais de 20 anos.
Lâmina d’água acima
de 75% do canal do
rio; ou menos de 25%
do substrato exposto.
11. Tipos de fundo
12. Extensão de
Rápidos
13. Frequência de
Rápidos
16. Depósitos
Sedimentares
17. Alterações no
canal do rio
Canalização
(retificação) ou
dragagem ausente
ou mínima; rio com
padrão normal.
18 Características do
fluxo das águas
Fluxo
relativamente
igual em toda a
largura do rio;
mínima
quantidade de
substrato exposta.
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Rápidos não
frequentes;
distância entre
rápidos dividida pela
largura do rio entre 7
e 15.
Entre 50 e 75% do
fundo coberto por
lama.
Deposição moderada
de cascalho novo,
areia ou lama nas
margens; entre 30 a
50% do fundo
afetado; deposição
moderada nos
remansos.
Alguma modificação
presente nas duas
margens; 40 a 80%
do rio modificado.
Lâmina d’água entre
25 e 75% do canal do
rio, e/ou maior parte
do substrato nos
“rápidos” exposto.
0 ponto
Menos que 10% de
habitats
diversificados;
ausência de habitats
óbvia; substrato
rochoso instável para
fixação dos
organismos.
Rápidos ou
corredeiras
inexistentes.
Geralmente com
lâmina d’água “lisa”
ou com rápidos
rasos; pobreza de
habitats; distância
entre rápidos
dividida pela largura
do rio maior que 25.
Fundo pedregoso;
seixos ou lamoso.
Mais de 75% do
fundo coberto por
lama.
Grandes depósitos
de lama, maior
desenvolvimento das
margens; mais de
50% do fundo
modificado;
remansos ausentes
devido à significativa
deposição de
sedimentos.
Margens
modificadas; acima
de 80% do rio
modificado.
Lâmina d’água
escassa e presente
apenas nos
remansos.
9
Continuação...
PONTUAÇÃO
PARÂMETROS
19. Presença de
mata ciliar
20 Estabilidade das
Margens
21. Extensão de
mata ciliar
22. Presença de
plantas
Aquáticas
5 pontos
Acima de 90% com
vegetação ripária
nativa, incluindo
árvores, arbustos
ou macrófitas;
mínima evidência
de
desflorestamento;
todas as plantas
atingindo a altura
“normal”.
3 pontos
Entre 70 e 90% com
vegetação ripária
nativa;
desflorestamento
evidente mas não
afetando o
desenvolvimento da
vegetação; maioria
das plantas atingindo
a altura “normal”.
2 pontos
Entre 50 e 70% com
vegetação ripária
nativa;
desflorestamento
óbvio; trechos com
solo exposto ou
vegetação eliminada;
menos da metade
das plantas atingindo
a altura “normal”.
0 ponto
Menos de 50% da
mata ciliar nativa;
desflorestamento
muito acentuado.
Margens estáveis;
evidência de
erosão mínima ou
ausente;
pequeno potencial
para problemas
futuros. Menos de
5% da margem
afetada.
Largura da
vegetação ripária
maior que 18 m;
sem influência de
atividades
antrópicas
(agropecuária,
estradas, etc.).
Pequenas
macrófitas
aquáticas e/ou
musgos
distribuídos pelo
leito.
Moderadamente
estáveis; pequenas
áreas de erosão
frequentes. Entre 5 e
30% da margem com
erosão.
Moderadamente
instável; entre 30 e
60% da margem com
erosão. Risco elevado
de erosão durante
enchentes.
Instável; muitas
áreas com erosão;
frequentes áreas
descobertas nas
curvas do rio; erosão
óbvia entre 60 e
100% da margem.
Largura da
vegetação ripária
entre 12 e 18 m;
mínima influência
antrópica.
Largura da
vegetação ripária
entre 6 e 12 m;
influência
antrópica intensa.
Largura da
vegetação ripária
menor que 6 m;
vegetação restrita ou
ausente devido à
atividade antrópica.
Macrófitas aquáticas
ou algas
filamentosas ou
musgos distribuídas
no rio, substrato com
perifiton.
Algas filamentosas
ou macrófitas em
poucas pedras ou
alguns remansos,
perifiton abundante e
biofilme.
Ausência de
vegetação
aquática no leito do
rio ou grandes
bancos macrófitas
(p.ex. aguapé).
Vários parâmetros podem ser observados no PAR, dentre eles, um comumente utilizado diz
respeito à “frequência das corredeiras” ou “frequência de rápidos”, o aumento da sequência de
corredeiras é um indicativo de alta qualidade do habitat e da diversidade da fauna (BARBOUR et
al., 1999). O parâmetro “qualidade dos remansos” avalia os padrões de velocidade e
profundidade do rio, ou seja, corredeiras propiciam um ambiente de ótima qualidade e fauna
diversificada, observados em trechos de rios com maior declividade, e os remansos referem-se às
áreas com término do movimento, contracorrente junto às margens de um rio. Essas formações
determinam a qualidade do substrato (MINSHALL, 1984 apud MINATTI-FERREIRA; BEAUMORD,
2006).
O parâmetro “substratos do fundo” é representado por troncos, rochas e outras formas
estáveis de habitat ao longo do rio. Um rio com habitats diversificados são fundamentais para a
manutenção dos organismos aquáticos, entretanto, quando os substratos são frequentemente
modificados a possibilidade de habitats saudáveis reduz (CALLISTO et al., 2002).
Com relação às “alterações no canal do rio” podem ser percebidas através das construções
de diques, barragens, ou outras formas de estabilização artificial das margens. A retificação de
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rios, as canalizações ou impermeabilizações causadas pelas obras de engenharia causam a
redução da área de drenagem o que provoca a redução na densidade e diversidade de espécies
aquáticas. A baixa sinuosidade ao longo do rio indica uma péssima qualidade ambiental
(RODRIGUES et al., 2010). Por isso, segundo Barbour et al. (1999), um alto grau de sinuosidade
fornece habitats e fauna variada, além de ajudar na dissipação da energia promovida pelo
impacto da movimentação da água. A absorção de energia pelas curvas protege o fluxo de
erosões e inundações, e ainda, fornece refúgio para invertebrados e peixes bentônicos durante
eventos de tempestade (BARBOUR et al., 1999).
Outros parâmetros amplamente observados são a “presença de mata ciliar” e a
“estabilidade das margens” que dizem respeito à presença de vegetação nas margens do rio, esta
que exerce o papel fundamental de proteção reduzindo o assoreamento e/ou erosão do mesmo.
A vegetação também funciona como uma espécie de filtro, minimizando o acúmulo de resíduos
de origem antrópica no leito dos rios. Influência, ainda, no processo de infiltração durante as
chuvas, ou seja, a conservação da vegetação ajuda na absorção da chuva enquanto uma
vegetação degradada possui baixo potencial de absorção, o que condiciona aumento do
escoamento superficial provocando erosões e, também, o aumento da carga de sedimentos no rio
(BARBOUR et al., 1999; CALLISTO et al., 2002; MINATTI-FERREIRA; BEAUMORD, 2006; RODRIGUES
et al., 2010; TUNDISI e TUNDISI, 2010).
Desta forma, todos os parâmetros observados e aplicados na análise do protocolo são
fundamentais para a compreensão da área de estudo, possibilitando a interação da análise da
qualidade da água e do ecossistema que a envolve. A observação detalhada dos parâmetros do
habitat e como eles funcionam são necessários para obtenção dos resultados, que podem ter
erros dirimidos se o observador for treinado corretamente (HANNAFORD et al., 1997).
Pontos positivos e negativos do PAR
Um dos primeiros pontos positivos que merece ser destacado é a facilidade na obtenção e
aplicação do protocolo em uma área de estudo. Este protocolo foi criado com o objetivo de
facilitar a análise ambiental de qualquer ecossistema priorizando os aspectos qualitativos dos
mesmos. A análise corresponde à observação apenas visual do pesquisador, que com o
treinamento adequado é capaz de identificar as características básicas da área de estudo, desta
forma, mesmo pessoas não qualificadas são capazes de aplicar o protocolo, não sendo necessário
apenas especialistas em análise ambiental como comprova a pesquisa supracitada realizada por
Callisto et al. (2002).
As informações obtidas podem ser úteis para a sensibilização de questões referentes à
preservação de recursos hídricos (KRUPEK, 2010), oferecendo avaliações das condições biológicas
do rio e de sua bacia, ou de outras sub-bacias em uma mesma região geográfica (HANNAFORD et
al., 1997) e até mesmo auxiliam no alerta de acidentes ambientais.
O terceiro ponto positivo do PAR é a possibilidade de adaptação do mesmo para diferentes
biomas ou regiões de pesquisa. Ou seja, o protocolo pode ser alterado conforme os diferentes
tipos de vegetação, clima, solo, altitude, ou mesmo conforme diferentes países. Por fim, o quarto
ponto positivo do PAR é o baixo custo financeiro para aplicação do mesmo. Por se tratar de uma
análise primária do ecossistema basta o treinamento adequado para compreensão do protocolo e
da área em estudo para que seja realizada a pesquisa.
Contudo, por se tratar de uma análise visual do ecossistema fluvial possui algumas
limitações. É preciso treinar adequadamente os pesquisadores, pois quando se tratar de pessoas
leigas o treinamento inadequado pode interferir no resultado final. Além disso, a atenção especial
durante a aplicação do protocolo é fundamental, pois não se trata de uma análise química de
laboratório, por exemplo. Algumas questões fundamentais podem passar despercebidas, por isso
a análise minuciosa e detalhada do ambiente em estudo, também, deve ser priorizada. Outra
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limitação dos protocolos é a necessidade prévia de conhecimento da área de estudo, uma prática
fundamental em pesquisas ambientais, que indevidamente observada pode se tornar um ponto
negativo durante a aplicação do protocolo.
Considerações Finais
Em síntese, com base no que foi apresentado, pode-se observar que o PAR é uma
ferramenta desenvolvida com a finalidade de monitorar ambientalmente sistemas hídricos e os
ecossistemas que os abrangem, sendo este protocolo acessível a qualquer pessoa interessada em
desenvolver pesquisas nesta área. Assim, torna-se um instrumento de baixo custo para aplicação
e de alto valor ecológico, já que possibilita a avaliação de qualquer ecossistema desde a
conservação da vegetação até a análise da qualidade da água e análise das alterações antrópicas.
E, ainda, incentiva o monitoramento e preservação ambiental.
O monitoramento dos ecossistemas tem se tornado cada vez mais necessário, e através dos
parâmetros avaliados nos PARs é possível observar alterações na dinâmica fluvial em função de
intervenções antrópicas na paisagem a qual influencia a natureza dos corpos d’água (RODRIGUES
et al., 2010) ou de intervenções naturais. As contribuições dos parâmetros observados nos
protocolos auxiliam no detalhamento das condições do meio ambiente e do rio.
Apesar da necessidade de alerta quanto às condições em que se encontram os
ecossistemas fluviais (KRUPEK, 2010), em longo prazo, as intervenções podem ser revertidas por
meio do auxílio, compreensão e aplicação dos PARs. Mas, estas contribuições devem ser geradas
tanto pelos órgãos públicos como pela sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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for Use in Streams and Wadeable Rivers: Periphyton, Benthic Macroinvertebrates and Fish.
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