João Dallamuta
(Organizador)
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias
3
Atena Editora
2019
2019 by Atena Editora
Copyright © Atena Editora
Copyright do Texto © 2019 Os Autores
Copyright da Edição © 2019 Atena Editora
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E82
Estudos transdisciplinares nas engenharias 3 [recurso eletrônico] /
Organizador João Dallamuta. – Ponta Grossa, PR: Atena Editora,
2019. – (Estudos Transdisciplinares nas Engenharias; v. 3)
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Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-682-9
DOI 10.22533/at.ed.829190710
1. Engenharia – Pesquisa – Brasil. 2. Transdisciplinaridade.
I.Dallamuta, João. II. Série.
CDD 620
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná - Brasil
www.atenaeditora.com.br
[email protected]
APRESENTAÇÃO
Se o Senhor Leonardo di Ser Piero da Vinci, por uma hipótese, fosse realizar
concurso público para lecionar em uma universidade brasileira, teria enorme dificuldade
para se adequar às regras do certame. Ele era cientista, matemático, inventor,
engenheiro, médico anatomista, escultor, desenhista, arquiteto, artista plástico
pintor poeta e músico. Dificilmente iria conseguir comprovar títulos ou se adequar as
exigências.
Em termos mais modernos da Vinci teria conhecimentos transdisciplinares,
um conceito para conhecimento de forma plural. Disciplinas e carreiras são divisões
artificiais para facilitar a organização de cursos, currículos, regulamentações
profissionais e facilitar a prática do ensino. Em tempos onde isto não existia, como
na Grécia antiga ou na renascença havia o conhecimento plural na qual Leonardo da
Vinci talvez seja o maior expoente.
Não se sugere que todo conhecimento transdisciplinar prove de um gênio, tão
pouco que a organização por áreas do conhecimento não tenha seu valor. Apenas que
a boa engenharia, em função da sua crescente complexidade trás necessidades de
conhecimentos e competências transdisciplinares.
Neste livro são apresentados artigos abordando problemas de fornecimento de
energia, agua potável, urbanismo, gestão de varejo, técnicas de projeto e fabricação,
uma combinação de áreas e temas que possuem um ponto em comum; são aplicações
de ciência e tecnologia que buscam soluções efetivas para problemas técnicos, como
deve ser em tese a boa engenharia.
Aos pesquisadores, editores e aos leitores para quem em última análise todo o
trabalho é realizado, agradecemos imensamente pela oportunidade de organizar tal
obra.
Boa leitura!
João Dallamuta
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1................................................................................................................. 1
DEMANDA ENERGÉTICA E PROPOSTAS DE SOLUÇÕES NO ESTADO DE RORAIMA
Laura Vieira Maia de Sousa
Talyta Viana Cabral
Josiane do Socorro Aguiar de Souza de Oliveira Campos
Luciano Gonçalves Noleto
Maria Vitória Duarte Ferrari
Túlio Costa de Oliveira
DOI 10.22533/at.ed.8291907101
CAPÍTULO 2............................................................................................................... 15
ANÁLISE DO POTENCIAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NA SANTA CASA DE
AREALVA: SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO E AR CONDICIONADO
José Rodrigo de Oliveira
Matheus Henrique Gonçalves
DOI 10.22533/at.ed.8291907102
CAPÍTULO 3............................................................................................................... 25
TRATAMENTO DA ÁGUA DE DRENAGEM PLUVIAL: UM MAL NECESSÁRIO?
Carlos Augusto Furtado de Oliveira Novaes
DOI 10.22533/at.ed.8291907103
CAPÍTULO 4............................................................................................................... 36
DIAGNÓSTICO DA GESTÃO DE ÁGUAS URBANAS DA CIDADE DE CARAÚBAS/RN
Larisa Janyele Cunha Miranda
Leonete Cristina de Araújo Ferreira Medeiros Silva
Rokátia Lorrany Nogueira Marinho
Guilherme Lopes da Rocha
Clélio Rodrigo Paiva Rafael
DOI 10.22533/at.ed.8291907104
CAPÍTULO 5............................................................................................................... 46
CALIBRAÇÃO DO FATOR DE ATRITO EM REDES DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Alessandro de Araújo Bezerra
Renata Shirley de Andrade Araújo
Marco Aurélio Holanda de Castro
DOI 10.22533/at.ed.8291907105
CAPÍTULO 6............................................................................................................... 55
AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DE ALTERNATIVAS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO, SOB ASPECTOS
DE RESILIÊNCIA A INUNDAÇÕES E REQUALIFICAÇÃO AMBIENTAL
Bruna Peres Battemarco
Lilian Marie Tenório Yamamoto
Aline Pires Veról
Marcelo Gomes Miguez
DOI 10.22533/at.ed.8291907106
CAPÍTULO 7............................................................................................................... 67
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM EDIFICAÇÕES PÚBLICAS: ESTUDO DE CASO EM ALGUNS
SUMÁRIO
TEATROS NA CIDADE DO RECIFE/PE
Carlos Fernando Gomes do Nascimento
Eduardo José Melo Lins
Eliana Cristina Barreto Monteiro
Amanda de Morais Alves Figueira
Cynthia Jordão de Oliveira Santos
Débora Cristina Pereira Valões
Edenia Nascimento Barros
George da Mota Passos Neto
Gilmar Ilário da Silva
Lucas Rodrigues Cavalcanti
Marcionillo de Carvalho Pedrosa Junior
Maria Angélica Veiga da Silva
Mariana Santos de Siqueira Bentzen
Paula Gabriele Vieira Pedrosa
DOI 10.22533/at.ed.8291907107
CAPÍTULO 8............................................................................................................... 80
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE COMPARATIVA DE PÓS NANOMÉTRICOS OBTIDOS POR
MOAGEM DE ALTA ENERGIA COM E SEM LIXÍVIA ÁCIDA PARA APLICAÇÃO EM FOTOCATÁLISE
Lucca Monteiro Silva Semensato
Luis Fernando Baldo Estorari
Maisa Helena Mancini
Veridiana Magalhães Costa Moreira
Ana Gabriela Storion
Eliria Maria de Jesus Agnolon Pallone
Tânia Regina Giraldi
Sylma Carvalho Maestrelli
DOI 10.22533/at.ed.8291907108
CAPÍTULO 9............................................................................................................... 93
CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DE REDES SOCIAIS A UM CLUSTER COMERCIAL PLANEJADO DE
VAREJO DE AUTOMÓVEIS
Marco Aurélio Sanches Fittipaldi
Denis Donaire
DOI 10.22533/at.ed.8291907109
CAPÍTULO 10........................................................................................................... 106
IMPLEMENTAÇÃO DE UMA MESA DE VARREDURA XY E APRIMORAMENTO DO SISTEMA FOCAL
DE UM APARELHO DE LITOGRAFIA
Raul de Queiroz Mendes
Arlindo Neto Montagnoli
DOI 10.22533/at.ed.82919071010
CAPÍTULO 11........................................................................................................... 120
ANÁLISE DO IMPACTO DO ROTEAMENTO FIXO EM REDES ÓPTICAS ELÁSTICAS
TRANSLÚCIDAS CONSIDERANDO DIFERENTES CENÁRIOS DE DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE
DE TRANSMISSÃO
Arthur Hendricks Mendes de Oliveira
Helder Alves Pereira
DOI 10.22533/at.ed.82919071011
CAPÍTULO 12........................................................................................................... 128
ANÁLISE DO IMPACTO DO CASCATEAMENTO DE FILTROS ÓPTICOS CONSIDERANDO
SUMÁRIO
DIFERENTES ARQUITETURAS DE REDES ÓPTICAS ELÁSTICAS
Eloisa Bento Sarmento
Helder Alves Pereira
DOI 10.22533/at.ed.82919071012
CAPÍTULO 13........................................................................................................... 138
MODELAGEM DO EQUILÍBRIO SÓLIDO-LÍQUIDO NA SOLUBILIDADE DE ÁCIDOS GRAXOS EM
SOLVENTES ORGÂNICOS
Bruno Rossetti de Souza
Vanessa Vilela Lemos
Jessica Cristina Silva Resende
Karolina Soares Costa
Marlus Pinheiro Rolemberg
Rodrigo Corrêa Basso
DOI 10.22533/at.ed.82919071013
CAPÍTULO 14........................................................................................................... 149
AVALIAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE TiO2 OBTIDAS POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA COM E
SEM LIXIVIAÇÃO
Lucca Monteiro Silva Semensato
Vanessa Vilela Lemos
Gabriel de Paiva
Luis Fernando Baldo Estorari
Maisa Helena Mancini
Ana Gabriela Storion
Eliria Maria de Jesus Agnolon Pallone
Tânia Regina Giraldi
Sylma Carvalho Maestrelli
DOI 10.22533/at.ed.82919071014
CAPÍTULO 15........................................................................................................... 161
ANÁLISE DA INTERFERÊNCIA DO PRÉ-AQUECIMENTO DO ÓLEO E DA TEMPERATURA DE
TRANSESTERIFICAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO BIODIESEL
Gerd Brantes Angelkorte
Ivenio Moreira da Silva
DOI 10.22533/at.ed.82919071015
CAPÍTULO 16........................................................................................................... 170
ASPECTOS BOTÂNICOS DOS ÓLEOS ESSENCIAIS
Sebastião Gomes Silva
Jorddy Neves da Cruz
Pablo Luis Baia Figueiredo
Wanessa Almeida da Costa
Mozaniel Santana de Oliveira
Rafael Henrique Holanda Pinto
Renan Campos e Silva
Fernanda Wariss Figueiredo Bezerra
Raul Nunes de Carvalho Junior
Eloisa Helena de Aguiar Andrade
DOI 10.22533/at.ed.82919071016
CAPÍTULO 17........................................................................................................... 182
ESTUDO DOS EFEITOS DAS VARIÁVEIS DE IMPRESSÃO 3D POR EXTRUSÃO SOBRE AS
PROPRIEDADES MECÂNICAS DO ÁCIDO POLILÁTICO (PLA) OBTIDAS POR INTERMÉDIO DE
SUMÁRIO
ENSAIO DE TRAÇÃO
Camila Colombari Bomfim
Antônio Carlos Marangoni
Rafael Junqueira Marangoni
DOI 10.22533/at.ed.82919071017
CAPÍTULO 18........................................................................................................... 194
ESTUDO DO ASPECTO GEOMÉTRICO DOS CORDÕES DE SOLDA COMO ORIENTAÇÃO
OPERACIONAL PARA O USO NA SOLDAGEM MAG ROBOTIZADA
Everaldo Vitor
Paulo Eduardo Alves Fernandes
DOI 10.22533/at.ed.82919071018
SOBRE O ORGANIZADOR...................................................................................... 206
ÍNDICE REMISSIVO................................................................................................. 207
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
DEMANDA ENERGÉTICA E PROPOSTAS DE
SOLUÇÕES NO ESTADO DE RORAIMA
Laura Vieira Maia de Sousa
Universidade de Brasília, Faculdade de
Engenharia Brasília – DF
Talyta Viana Cabral
Universidade de Brasília, Faculdade de
Engenharia Brasília – DF
Josiane do Socorro Aguiar de Souza de
Oliveira Campos
Universidade de Brasília, Faculdade de
Engenharia Brasília – DF
Luciano Gonçalves Noleto
Universidade de Brasília, Faculdade de
Engenharia Brasília – DF
Maria Vitória Duarte Ferrari
Universidade de Brasília, Faculdade de
Engenharia Brasília – DF
Túlio Costa de Oliveira
Universidade de Brasília, Faculdade de
Engenharia Brasília – DF
RESUMO: O estado de Roraima, localizado na
região Norte do país, possui cerca de 576.568
habitantes e uma área total de 224.273,831 km²
e é, ainda, o único estado não interligado ao
Sistema Interligado Nacional (SIN). O suprimento
energético da região é fornecido pelo complexo
hidrelétrico de Guri/Macaguá, proveniente da
Venezuela e que tem gerado conflitos quanto
aos reincidentes apagões e à necessidade de
acionamento das termoelétricas. As diretrizes
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
para o Leilão 01/2019 foram determinadas
pela Portaria do MME nº 131, com objetivo de
suprimento energético para Roraima. Nesse
trabalho o objetivo principal foi identificar
e avaliar as principais zonas de demanda
energética do estado por meio da ferramenta
QGIS e também apresentar as alternativas do
Governo Federal para fornecimento do serviço
de energia.
PALAVRAS-CHAVE: Demanda energética –
Roraima – Comunidades Rbemotas.
ENERGY DEMAND IN THE STATE OF
RORAIMA
ABSTRACT: The state of Roraima, located
in the north of the country, has about 576,568
inhabitants and a total area of 224,273,831 km²
and is also the only state to be interconnected to
the National Interconnected System. Since then,
the region’s energy supply is being hydrated by
hydrocarbons from Guri / Macaguá, the country
of Venezuela and its country has been the
target of recidivists and the production needs
of the thearmal industries. By Ordinance of the
MME nº 131, were defined as guideline for the
Auction 01/2019 with the objective of energetic
supply to Roraima.
KEYWORDS: Solar Energy. Wind power.
Biomass. Renewable Energy.
Capítulo 1
1
1 | INTRODUÇÃO
O estado de Roraima, localizado na região Norte do país, possui uma população
estimada de 576.568 habitantes e uma área de 224.273, 831 km2. O Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,707, sendo o 13o do país (IBGE, 2018).
Em 26 de abril de 2002, foi estabelecida no Brasil a garantia de universalização
de suprimento energético fornecidos pelo Estado pelo art. 14 da Lei no10.438 . Essa Lei
dispôs sobre a expansão de fornecimento energético, criação do Programa de Incentivo
às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e a Conta de Desenvolvimento
Energético (CDE) e sobre a universalização do uso de energia elétrica a partir do
serviço público (BRASIL, 2002).
Em 11 de novembro de 2003, um novo decreto possibilitaria o acesso à energia
elétrica pelas comunidades rurais. Esse foi um dos maiores programas nacionais de
fornecimento de energia elétrica às comunidades isoladas, o Programa “Luz Para
Todos” (LPT) (Lei n0 4.783). Desde então, cerca de 206.081 famílias, identificadas
no Censo de 2010, tiveram acesso ao benefício do LPT. Em 2017, de acordo com
dados fornecidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 69,4
milhões de residências, cerca de 99,8% foram atendidas com fornecimento de energia
elétrica (MORAIS, 2019).
O estado de Roraima ainda não possui conexão ao Sistema Interligado Nacional
(SIN). Desde o ano de 2001 mantém contrato com o país vizinho, a Venezuela, para
fornecimento da demanda energética do estado. Sofrendo apagões desde 2016 e
tendo que acionar termelétricas a custos fora do negociado, é necessário que se
apresentem maneiras alternativas para garantia da segurança energética do estado
(ANEEL, 2019).
O papel da Empresa de Pesquisa Energética – EPE também é promover estudos
de atendimento as demandas energéticas, analisar as propostas de fornecimento e
encaminhar para a aprovação do MME. As principais soluções propostas pela EPE
estão apresentadas no Quadro 1.
1) Fornecimento de energia por termoeletricas com diesel importado pela
Venezuela – desde 2001 esse arranjo funcionou, no entanto, as interrupções constantes
devido aos problemas políticos da Venezuela tornaram inviável essa opção.
2) Interligação ao Sistema Interligado Nacional – devido as dificuldades
associadas à travessia da Terra Indígena Waimiri Atroari, provocaram a suspensão da
Licença Prévia em 2016 e o atraso no licenciamento, de forma que até o momento não
há previsão para conclusão desse empreendimento;
3) Construção da UHE Bem Querer - Estudo de Inventário Hidrelétrico da Bacia
do rio Branco, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) entre 2007
e 2010. Ela atinge comunidades indigenas. A previsão de entrega do EIA/RIMA ao
Ibama é 2021.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
2
4) ANEEL lançou a Consulta Pública ANEEL nº 007/2018, "Leilão de Eficiência
Energética em Roraima", o objetivo de discutir o conceito do leilão de eficiência
energética e o conjunto de metodologias e premissas utilizado na Análise de Impacto
Regulatório de projeto piloto a ser realizado em Roraima. As diretrizes para realização
do Leilão de Boa Vista foram estabelecidas pelo Ministério de Minas e Energia – MME
com a publicação da Portaria MME nº 512/2018, de 24 de dezembro de 2018, e da
Portaria MME nº 134, de 13 de fevereiro de 2019. Entre 2018 a 2019 foi realizado o
cadastramento das empresas. O número total de empresas cadastradas foram 156, de
diversas capacidades, fontes energéticas e tecnologias. As propostas totalizam uma
oferta de aproximadamente 6 GW. Dentre as diversas fontes participantes, destacaram-
se: fotovoltaica, eólica, gás natural, óleo combustível, óleo diesel, biomassa, biodiesel,
biogás, além de soluções com armazenamento em baterias.
5) O primeiro estudo pela EPE visou a identificação de alternativas de atendimento
de médio e longo prazo. Foram mapeadas as possíveis soluções de geração de energia
elétrica para Roraima, tendo sido consideradas as fontes eólica, solar fotovoltaica,
biomassa, biodiesel, PCH e UHE.
Em maio de 2019, foi realizado o leilão 01/2019 para suprimento da capital de
Roraima, Boa Vista, e demais localidades. Os projetos para fornecimento de energia
englobam usinas fotovoltaicas, de biomassa e biocombustíveis (ANEEl, 2019).
No entanto, a segurança em suprimento de energia elétrica do estado só poderá
ser alcançada quando o estado for interligado ao sistema nacional. Dos cerca de 270
Sistemas Isolados existentes no Brasil, Boa Vista representa o maior de todos, com
uma demanda máxima anual da ordem de 200 MW atualmente.
Diante o exposto, é importante destacar que, o acesso à energia torna-se fator
sine qua non para que objetivos econômicos, sociais e ambientais sejam atingidos a
fim de que se obtenha um desenvolvimento sustentável (GOLDEMBERG, 2000).
Nesse contexto o presente trabalho propõe-se a avaliar e caracterizar as áreas
urbanas das regiões do estado de Roraima, os potenciais energéticos associados às
regiões apontadas, especificamente de biomassa, eólica, solar e hídrica utilizando a
ferramenta de geoprocessamento QGIS, e propor discussões acerca da viabilidade
dessas tecnologias a serem empregadas, visando a segurança energética da região.
2 | REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico apresenta, de maneira objetiva, caracterização
populacional do estado de Roraima, bem como a sua situação energética atual. Por
conseguinte, discorre sobre a proposição da Portaria do MME no 131, que determina
as diretrizes do Leilão 01/2019 da ANEEL para suprimento do estado de Roraima com
energias renováveis.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
3
2.1 Caracterização Populacional
Roraima é o estado com menor população do país, com um valor estimado de
576.568 habitantes. A densidade demográfica é de aproximadamente dois habitantes
por quilômetro quadrado. Cerca de 76,6 % da população reside em áreas urbanas e o
restante em áreas rurais. Cerca de 50% mora em Boa Vista (IBGE, 2010).
A população tem em sua composição brancos, negros, pardos e um número
bastante considerável de indígenas, se comparado a outros estados brasileiros. Essa
população indígena é formada por aproximadamente 46.106 pessoas, de origem
nos seguintes povos: Yanomamis, Ingaricó, Macuxi, Patamona, Taurepang, WaimiriAtroari, Wai-Wai e Wapixana (FUNAI, 2019).
Devido ao intenso de fluxo de imigrantes venezuelanos nos últimos anos, o
Estado possui atualmente a maior taxa de crescimento populacional do país, segundo
a pesquisa de estimativa da população realizada pelo IBGE, somando entre 2017 e
julho de 2018 aproximadamente 54 mil pessoas. As regiões que tiveram maior impacto
com a imigração para o estado foi o município de Pacaraima e Boa Vista (IBGE, 2018).
2.2 Caracterização Energética
O Estado de Roraima é, ainda, a única unidade federativa do País não ligada
ao Sistema Interligado Nacional. Desde 2001, o fornecimento energético do estado
é realizado pela importação de energia elétrica do complexo hidrelétrico de Guri/
Macaguá, na Venezuela, e por termelétricas brasileiras.
Em 2001 o linhão de Guri foi construído Linhão e permite a transmissão de
até 200 megawatts (MW) (Eletronorte, 2019), do país vizinho até a cidade de Boa
Vista, capital do estado. De lá, essa carga pode ser distribuída por toda a extensão
de Roraima. O estado também é abastecido, em casos de emergência, pela Usina
Termelétrica Floresta, que possui 62 MW de potência instalada (Eletronorte, 2019).
No período de janeiro de 2016 a abril de 2018 ocorreram 82 desligamentos
de, aproximadamente, cinquenta minutos cada, pelo fornecimento de energia do
complexo hidroelétrico venezuelano. Esse fato ocasionou, então, o acionamento das
termelétricas e custos não planejados.
Afora os apagões, a não interligação ao SIN também inviabiliza o fornecimento
de energia elétrica às comunidades isoladas da região, dadas as dificuldades
quanto à travessia da Terra Indígena Waimiri Atroari. Dispostos pela Lei no12.111,
de 9 de dezembro de 2009, os sistemas isolados, também, não são conectados. No
ano de 2008, comunidades do Maranhão e da Bahia, foram conectadas ao SIN e,
posteriormente, em 2009, os estados do Acre e Rondônia também foram interligados
ao sistema (Lima, 2009).
O contrato com o complexo de Guri/Macaguá encerra em 2021 (EPE, 2019),
contudo, diante a atual conjuntura, serão necessárias alternativas para que a
população seja atendida, bem como as comunidades isoladas da região. Em junho de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
4
2016, de acordo com estudo realizado pela EPE (2017), estava sendo considerado o
início das operações de um linhão de 500 kV, que ligará Manaus- AM a Boa Vista –
RR, conectando o estado ao SIN. No entanto, empasses burocráticos com a empresa
Transnorte Energia a fizeram desistir do contrato e, consequentemente, manter o
estado isolado.
2.2.1 Leilão 01/2019 Aneel – Suprimento a Boa Vista-Rr
Diante dos problemas no suprimento energético de Roraima, e dos recorrentes
blecautes (ANEEL, 2019), foi estabelecido um Grupo de Trabalho, deliberado pelo
Ministério de Minas e Energia, e com participação da Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS) e da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE) a fim de que se pudesse avaliar os potenciais energéticos de Roraima, estudar
e propor alternativas para suprimento da região (EPE;ONS, 2019).
Os estudos realizados pelos Grupo de trabalho apontam para um crescimento
de 8% no mercado no estado, uma demanda de 230 MW e cerca de R$ 749 milhões
gastos na Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) (ANEEL, 2019). No ano de
2018, a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) reembolsou R$ 211 milhões dos
R$ 386 milhões gastos (ANEEL, 2019).
Em maio de 2017 foi, então, elaborado um estudo de potencialidades energéticas
para Roraima para que, no mês seguinte, pudesse ser avaliada a ocorrência de um
leilão de energia elétrica (EPE; ONS, 2019). Em 13 de fevereiro de 2019, o MME
estabelece as diretrizes para o leilão a partir da portaria MME nº 131, cujo objetivo é a
garantia de suprimento por até quinze anos.
2.3 Uso e Ocupação do Solo Limitantes
As leis 9.985/2000 e 1175/96 regulam a exploração de recursos ambientais para
geração de energia em Unidades de Conservação e Terras Indigenas. É necessário a
observância de alguns critérios quanto se trata dessas áreas.
2.3.1 Unidades de Conservação
As Unidades de Conservação (UC’s) são administradas pelo ICMbio, bem como
o resguardado pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Essa lei instituiu o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e determina critérios e
normas para gestão e implementação destas UC’s. Portanto, de acordo com a Lei nº
9.985, Art. 2o, inciso I, entende-se por Unidade de Conservação:
“[...]o
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas
jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo
Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
5
especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;”
(SZKLAROWSKY, 2001).
A Lei nº 9.985 caracteriza, também, os tipos de unidade de conservação, que são
dois: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.
A principal diferença entre as duas categorias de unidade de conservação é que,
para as unidades de proteção integral, é permitida apenas a utilização indireta dos
seus recursos naturais. E nas unidades de uso sustentável é permitida a utilização de
parte dos seus recursos de maneira sustentável, concomitante à conservação da área
e de sua natureza.
As principais classes de UC´s são de proteção integral e uso sustentável. As
unidades de proteção integral são subdivididas em cinco categorias que se seguem:
Estação ecológica; Reserva biológica; Parque nacional; Monumento natural; Refúgio
de vida silvestre.
Estas áreas de proteção integral têm em comum a impossibilidade de instalação
de empreendimentos de qualquer natureza, como determina a Lei nº 9.985. Ou seja,
são áreas cujo acesso permitido é apenas para pesquisa científica e manutenção do
ecossistema local. Quanto às unidades de uso sustentável, tem-se: Área de Proteção
Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva
Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; Reserva
Particular do Patrimônio Natural.
O Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002, que regulamenta os artigos 15, 17,
18 e 20, da Lei nº 9.985, referentes à área de proteção ambiental, floresta nacional,
reserva extrativista e reserva de desenvolvimento sustentável determina que estas
áreas são passíveis de autorização para exploração de produtos, subprodutos e
serviços. Dessa forma, são áreas cujos potenciais deverão ser avaliados e possíveis
empreendimentos poderão ser implementados.
A ocupação de área de florestas em Roraima representa 67% do estado,
conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) coletados por
meio do sistema Prodes (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia).
Os resultados são referentes ao ano de 2012. O Estado possui grande parte do seu
território demarcado como área indígena ou de preservação ambiental.
Atualmente, no estado de Roraima é possível localizar oito UC’s, sendo três
parques nacionais, três estações ecológicas e duas florestas nacionais. São elas:
Parque Nacional do Monte Roraima, localizado no município de Uiramutã; Parque
Nacional do Viruá, localizado no município de Caracaraí; Parque Nacional Serra
da Mocidade, localizado no município de Caracaraí; Estação Ecológica de Maracá,
localizada no município de Amajari; Estação Ecológica de Cacararaí, localizada no
município de Caracaraí; Estação Ecológica do Niquiá, localizada no município de
Caracaraí; Floresta Nacional de Roraima, localizada nos municípios de Mucajaí e
Alto Alegre e Floresta Nacional do Anauá, localizada no município de Rorainópolis
(ICMBio, 2019).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
6
2.3.2 Terras Indígenas
Em 19 de dezembro de 1973 foi sancionada a Lei nº 6.001 que dispõe do Estatuto
do Índio. Seu propósito está em integrar e preservar as culturas e povos indígenas,
bem como caracterizá-los quanto a sua interação com outras culturas. A lei, portanto,
dispõe das seguintes caracterizações quanto aos índios: 1) Isolados - comunidades
cujas informações são pouco conhecidas coletadas a partir de encontros eventuais;
2) Em vias de integração - mantém algum contato com outros grupos e acabam
aceitando práticas diferentes das do seu convívio e englobando ao seu modo de
vida; 3) Integrados - incorporados à comunhão nacional, mesmo que conservando
seus costumes;
No capítulo III, quanto às áreas reservadas, essas também podem ser
classificadas em: 1) Reserva indígena - área onde o grupo indígena tem como
habitat, com todos os recursos para a sua subsistência; 2) Parque indígena - área
cuja integração já permite assistência do estado sendo elas econômica, sanitária e
educacional; 3) Colônia Agrícola Indígena - áreas que permitam a exploração agrícola.
Da área total do Estado de Roraima, que soma 225.116Km 2, 101.710,15 km2
(45,18%) estão distribuídos em trinta e duas Terras Indígenas, que ocupam quase
a metade do Estado. Quatro destas áreas são contínuas e as demais demarcadas
em ilhas. São ao redor de 38.000 indígenas pertencentes a oito etnias. Dos quinze
municípios que formam o Estado todos apresentam presença de terras indígenas
formando parte de seu território. Os municípios de Normandia, Uiramutã, Alto Alegre,
Pacaraíma e Iracema apresentam mais de 70% de sua área composta por terras
indígenas (IBGE, 2005).
3 | METODOLOGIA
Os passos metodológicos desse trabalho foram: pesquisa bibliográfica;
levantamento, organização, armazenamento, tratamento dos dados e informações
segundárias. Em seguida, foram elaboradas as cartas de demanda utilizando a
ferramenta QGIS.
3.1 Carta de Caracterização de Unidades de Conservação e Terras Indígenas
Foi elaborada primeiramente uma carta a fim de, identificar e caracterizar
as Unidades de Conservação em relação a suas categorias, Terras Indígenas e a
disposição dos empreendimentos que suprem atual demanda energética do estado.
Para produção dessa carta foram utilizados dados do site i3Geo, plataforma de
downloads de mapas do Ministério de Meio Ambiente - MMA, dados do IBGE, SIGEL
- ANEEL que disponibiliza a localização de empreendimentos de geração de energia
elétrica, ANA, FUNAI e DNIT.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
7
Para edição das camadas selecionadas, foi utilizada a ferramenta de interseção
de geoprocessamento, na aba vetor do software QGis. Para melhor visualização de
cada item na carta, as cores foram editadas utilizando convenção para cada tipo de
camada de acordo com o gênero.
Nas Unidades de Conservação e Terras indígenas, foi realizado tratamento de
gradiente de cores a fim de identificar a classificação de cada área quanto a sua
disponibilidade de uso territorial. Além das camadas já citadas, também foram
utilizadas as seguintes camadas mostradas no quadro abaixo:
•
Principais Rodovias e Estradas - Identificar as vias de acesso aos principais
centros e também as comunidades mais isoladas;
•
Geração de energia - Conhecer os empreendimentos de geração de energia
elétrica que abastece as regiões do estado;
•
Linha de Transmissão - Identificar a localização da Linha de Transmissão
vinda da Venezuela para suprimento de Boa Vista;
•
Principais Rios e Massa de água - Caracterizar com um pouco mais de detalhes a disposição de rios, riachos e lagos do estado, para reconhecer geograficamente onde os possíveis empreendimentos poderão ser alocados.
3.2 Carta de Demanda
A Carta de Demanda Energética do estado de Roraima foi elaborada com dados
fornecidos pelo IBGE (2016). Com a tabela de Domicílios Particulares Permanentes
(DPP`s) sem energia elétrica, pela variável VAR046, disponibilizado pelo IBGE (2011),
foi possível elaborar um gradiente de áreas sem energia elétrica no estado de Roraima
por meio da união de dados na tabela de atributos da camada de microrregiões. Obtendo
os dados de gradiente, foram adicionadas as seguintes camadas apresentadas no
quadro a seguir:
•
Principais rios - É necessário reconhecer o território a fim de que se saiba
onde será possível alocar os empreendimentos propostos;
•
Rodovias - É necessária para que se possa avaliar as regiões ótimas para
transporte de combustível e empreendimentos, como de biomassa e biocombustíveis;
•
TI`S e UC`s - Como avaliado anteriormente, as TI`s e UC`s possuem sua
classificação quanto à possibilidade ou não de alocar empreendimentos nas
regiões. Dessa forma, é preciso avaliar os locais possíveis de instalações
de empreendimentos;
•
Divisão estadual - Necessária para delimitar o estado;
•
Localização de aglomerados rurais isolados - Necessária para melhor alocação de empreendimentos energéticos;
•
Divisão do estado por microrregiões- A divisão estadual por microrregiões foi
utilizada para que se pudesse avaliar as regiões sem energia elétrica.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
8
As microrregiões foram identificadas na tabela Domicílios.csv e, pela união de
dados na tabela de DPP`s sem energia elétrica, foi possível graduá-las por percentuais
e definir a quantidade de DPP`s sem energia elétrica.
Posteriormente, para que se pudesse atender às comunidades de áreas
isoladas, foi necessário definir uma carga mínima de energia elétrica a ser fornecida
em kWh/mês, pela definição de materiais eletrodomésticos definidos neste trabalho
como essenciais para estas unidades consumidoras. Os requisitos listados para esta
definição foram: Possibilidade de acesso à informação; Possibilidade de conservação
de alimentos e vacinas; e Conforto do ambiente.
Dessa forma, foi calculada a demanda energética de cada uma destas
microrregiões, possibilitando o dimensionamento dos possíveis empreendimentos
próximos a essas regiões.
Depois foram criadas zonas de demanda de energia segundo as coindições dos
consumidores.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir do uso do software QGIS, e de extenso banco de dados, foi possível
relacionar as principais áreas de análise do trabalho. A caracterização energética do
local, bem como a localização das UC´s e TI`s foi feita a partir de mapas cartográficos.
Em seguida, o mapa de demanda da região, levando em consideração as áreas
isoladas sem energia elétrica.
4.1 Caracterização Energética Local de Uc’s e Ti’s
Por meio da carta produzida (Figura 1) foi possível identificar a disposição das
Unidades de Conservação do Estado, sendo elas de Uso Integral e Uso Sustentável,
e suas respectivas classificações quanto ao nível de proteção.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
9
Figura 1. Carta de Unidades de Conservação, Terras Indígenas e Caracterização Energética.
Fonte: Do autor, 2019.
Com a camada de TI´s dispostos na carta, foi constatado como eles ocupam
grande área de terra do estado e como isso afeta e deixa mais sensível o estudo de
potenciais energéticos para regiões sem acesso á energia elétrica dentro do estado.
No levantamento de dados específicos, utilizando a tabela de atributos das camadas,
foi identificado um território isolado de indígenas mais ao Sul e próximo de uma Área
de Proteção Ambiental.
No que diz respeito á geração de energia elétrica, foram mapeadas usinas
termelétricas a combustíveis fósseis, que como podemos ver, tem uma grande
participação na matriz energética de Roraima e uma PCH no município de Caroebe.
Boa Vista e algumas regiões próximas são abastecidas pela linha de transmissão
vinda da Venezuela, como mostrado na figura do item de demanda energética que e a
energia que vem pela linha é distribuída pela Subestação também localizada na região.
Não foram identificados outros empreendimentos de geração, além dos já citados.
4.2 Demanda Energética de Áreas Isoladas
A Carta de Demanda do estado de Roraima foi elaborada no software QGIS a
partir de camadas de microrregiões, UC`s, TI`s e dados de união quanto às DPP`s
sem energia elétrica (figura 2).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
10
Figura 2. Carta de demanda – Roraima.
Fonte: Do autor (2019).
Os dados da Tabela 2 apresentam a graduação feita quanto à quantidade de
DPP`s sem energia elétrica nas microrregiões do estado de Roraima.
DPP`s sem energia elétrica
Graduação
1 a 20 [%]
20 a 40 [%]
80 a 100 [%]
Quantidade de domicílios
1048
125
680
Tabela 2. DPP`s sem energia elétrica.
Fonte: IBGE, 2011.
O desafio, contudo, é o de alcançar comunidades isoladas e sem energia elétrica,
mas que estejam em áreas de possível acesso para alocação dos empreendimentos.
Na Figura 2 as regiões com percentuais de 100% e de 20 a 40% estão localizadas em
regiões de reserva indígena, que estão localizadas na Reserva Ianomâmi e Reserva
Raposa Serra do Sol. Isso significa que é inviável alocar empreendimentos nestes
locais, como já exposto anteriormente, por restrições legais.
Portanto, foram selecionadas zonas de demanda nas microrregiões localizadas
em áreas fora das regiões de Reserva Indígena e de Áreas de Proteção Integral.
Levando em consideração, num cenário hipotético, de que cada unidade consumidora
seria composta por cinco integrantes, foi feito um levantamento dos eletrodomésticos
necessários para subsistência (Tabela 3).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
11
Aparelho
Potência (W)
Horas de uso por dia
Quantidade
Consumo [kWh/mês]
Refrigerador RDE33
-
-
1
37,7
TV de 20’ LG
20
5
1
3
Ventilador Mondial
70
8
1
16,8
Lâmpada Led Lightex
5
8
5
6
TOTAL:
63,5
Tabela 3. Carga por unidade consumidora.
Fonte: Do autor, 2019.
A carga necessária para suprir essas unidades consumidoras foi estimada em
63,5 kWh/mês. O somatório dessas cargas por unidade consumidora nas microrregiões
selecionada a demanda energética, é disposta na tabela 4 a seguir.
Zona
Código
Microrregião
Microrregião
Município
DPP`s sem
energia
Demanda
[kWh/mês]
1
140002705000007
Boa Vista
Amajari
25
1587,5
2
140002705000009
Boa Vista
Amajari
9
571,5
3
140002705000011
Boa Vista
Amajari
25
1587,5
4
140002705000013
Boa Vista
Amajari
9
571,5
5
140002705000015
Boa Vista
Amajari
5
317,5
Amajari
95
6.032,5
Bonfim
139
8.826,5
Cantá
90
5.715
Cantá
90
5.715
Iracema
84
5.334
Rorainópolis
155
9.842,5
6
140002705000021
Mesorregião
Nordeste de
Roraima
Boa Vista
7
140015905000009
8
140017505000011
9
140017505000015
10
140028205000016
Caracaraí
11
140047205000020
Sudeste de
Roraima
Nordeste de
Roraima
Norte de
Roraima
Norte de
Roraima
Sul de
Roraima
Tabela 4. Demanda das zonas selecionadas.
Fonte: Do autor, 2019.
CONCLUSÃO
O objetivo principal foi identificar e avaliar as principais zonas de demanda
energética do estado por meio da ferramenta QGIS e também apresentar as alternativas
do Governo Federal para fornecimento do serviço de energia. Esse objetivo atingindo
por meio da elaboração de cartas.
Acredita-se que no decorrer do tempo a demanda energética de Roraima será
atendida. No entanto, devido as suas dinâmicas territoriais a certeza de que se a
sustentabilidade será considerada ainda é uma icógnita.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
12
Os potenciais de fontes eólica, solar fotovoltaica, biomassa, biodiesel, PCH e
UHE deverão ser objetos de futuros estudos que podem ir um pouco além dos estudos
da EPE.
REFERÊNCIAS
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Lei, n. 9.985, 2002.
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CIVIL, Casa. Lei n 10.438 de 2002. Abril 26. 2002.
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
13
IBGE. Estimativas de população, 2010. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/
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ec11a24c9b833079b0e229e190aec80lU800000000000000
009d603dbdffff00000000000000000000000000005cf48876
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5179c38a318d0d8be51a415ed47f6043fc5bb866cfd4a81338b0bc33ddad733988>. Acessado em:
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MORAIS, José Mauro de. Cadernos ODS: ODS 7: assegurar o acesso confiável, sustentável,
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SZKLAROWSKY, Leon Frejda. Lei 9985, de 2000-SNUC-Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza. Âmbito Jurídico. Rio Grande, II, n. 5, 2001
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 1
14
CAPÍTULO 2
ANÁLISE DO POTENCIAL DE CONSERVAÇÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA NA SANTA CASA DE AREALVA:
SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO E AR CONDICIONADO
José Rodrigo de Oliveira
Faculdade de Tecnologia de Bauru
ANALYSIS OF THE POTENTIAL OF
Bauru – São Paulo
CONSERVATION OF ELECTRIC ENERGY IN
Matheus Henrique Gonçalves
SANTA CASA DE AREALVA: LIGHTING AND
Faculdade de Tecnologia de Bauru
Bauru – São Paulo
RESUMO: A iluminação e a climatização em
uma unidade de saúde são fatores importantes
para o desenvolvimento das atividades em
um ambiente hospitalar, desta maneira há
necessidade de se buscar sistemas mais
eficientes que possam proporcionar economia
de energia elétrica tanto nos sistemas luminosos
como nos de climatização. Em cada sistema
analisado, buscou-se sempre a redução
de consumo energético, proporcionando a
melhoria significativa dos ambientes do prédio.
O objetivo desta pesquisa foi a análise do
potencial de conservação de energia elétrica
na Santa Casa de Arealva, através de uma
proposta de substituição dos sistemas de
iluminação e climatização existentes, por
sistemas mais eficientes. Percebe-se uma
redução no consumo de energia elétrica de
25,84% nos sistemas de iluminação e 8,78%
nos sistemas de climatização.
PALAVRAS-CHAVE: Conservação de Energia
Elétrica; Eficiência Luminosa; Economia de
energia.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
AIR CONDITIONING SYSTEMS
ABSTRACT: Lighting and air conditioning
in a health unit are important factors for
the development of activities in a hospital
environment, so there is a need to look for
more efficient systems that can provide electric
energy savings in both light and air conditioning
systems. In each system analyzed, we always
sought to reduce energy consumption, providing
a significant improvement of the building’s
environments. The objective of this research
was the analysis of the potential of electric
energy conservation in Santa Casa de Arealva,
through a proposal to replace existing lighting
and air conditioning systems, by more efficient
systems. There is a reduction in electricity
consumption of 25.84% in lighting systems and
8.78% in air conditioning systems.
KEYWORDS: Electric Power Conservation,
Illumination, Energy Saving.
1 | INTRODUÇÃO
Nós prédios públicos, como em outras
unidades,
existem
grandes
oportunidades
de redução de consumo de energia elétrica,
Capítulo 2
15
principalmente através da utilização de equipamentos elétricos eficientes (OLIVEIRA,
2013).
Segundo Polo (2016), a iluminação em uma unidade hospitalar é responsável
por cerca de 44% do consumo. As instituições de saúde podem reduzir os seus custos
entre 30% e 50% realizando a substituição do seu sistema de iluminação por um
sistema mais eficiente.
Quanto aos sistemas de refrigeração, estes também possuem um impacto
bastante significativo de consumo de energia elétrica no ambiente hospitalar. Segundo
o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL (2010), o
aparelho de ar condicionado do tipo janela possui um elevado consumo de energia
elétrica, em comparação ao aparelho de ar condicionado do tipo Split.
Este trabalho tem como objetivo apresentar potencial de conservação de energia
elétrica, em unidade de saúde, através de uma proposta de substituição dos sistemas
de iluminação e climatização existentes na Santa Casa de Arealva, por sistemas
eficientes, visando a redução do consumo de energia elétrica nesta unidade de saúde.
2 | REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Iluminação
Segundo Hélio Creder (2007), as lâmpadas elétricas, utilizadas nos sistemas de
iluminação, podem ser pertencentes a três famílias:
a) Incandescentes;
b) Descargas (fluorescentes, luz mista, vapor mercúrio, vapor de sódio e vapor
metálico);
c) Estado sólido – LED (Light Emitting Diode – Diodo Emissor de Luz).
O aspecto mais importante na hora da escolha de uma lâmpada é a sua eficiência
luminosa, que é o quanto uma fonte de luz é capaz de converter energia elétrica em
energia luminosa. A eficiência luminosa é medida em lumens por watt (lm/W). Quanto
maior for o rendimento luminoso, maior será a eficiência da lâmpada (PROCEL, 2010).
A tabela 1 apresenta o rendimento luminoso médio das fontes de luz.
Tipo de Lâmpada
Eficiência Luminosa (lm/W)
Halógena
15 a 25
Incandescente
Luz Mista
10 a 15
20 a 35
Vapor de mercúrio
45 a 35
Fluorescentes tubulares (comum)
55 a 75
Fluorescentes compactas
Fluorescentes tubulares (especiais)
Vapor de sódio
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
50 a 80
75 a 90
80 a 140
Capítulo 2
16
Vapor metálico
65 a 90
LED
20 a 100
Tabela 1- Eficiência luminosa das fontes de luz
Fonte: Sória e Filipini (2010).
As lâmpadas incandescentes, conforme tabela 1, apresentam baixa eficiência
luminosa e baixa vida útil (PROCEL, 2010).
As lâmpadas halógenas são lâmpadas incandescentes, porém internamente o
bulbo possui elementos como iodo ou bromo, considerados elementos halógenos, sua
eficácia fica entre 15 lm/W a 25 lm/W, para uma vida útil aproximada de 2.000 horas
(CAPELLI, 2013).
A figura 1 apresenta tipos de lâmpadas incandescentes e halógenas.
Figura 1- Lâmpadas incandescentes e halógenas
Fonte: Adaptado de CEPEL (2015).
As lâmpadas fluorescentes compactas (LFC) são lâmpadas que possuem
baixa potência, aplicadas na substituição das lâmpadas incandescentes. Possuem
equipamento auxiliar chamado de starter incorporado à sua base. Sua vida útil é bem
superior as lâmpadas incandescentes (PROCEL, 2010).
A figura 2 destaca alguns modelos de lâmpadas fluorescentes compactas.
Figura 2- Lâmpadas fluorescentes compactas
Fonte: CEPEL (2015).
As lâmpadas fluorescentes tubulares (figura 3) também apresentam maior
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
17
eficiência luminosa e maior vida útil em comparação as lâmpadas incandescentes.
Essas lâmpadas exigem reatores para seu funcionamento (PROCEL, 2010).
Figura 3 - Lâmpadas fluorescentes tubulares
Fonte: Adaptado de CEPEL (2015).
A lâmpada a LED (figura 4) é um tipo de lâmpada que utiliza Diodo Emissor de
Luz (LED). O LED é um componente semicondutor que quando energizado emite uma
radiação sob a forma de luz visível. Pinto et al (2008) cita que o desenvolvimento dos
LEDs mais potentes e com maior eficiência luminosa tornou possível sua utilização
em iluminação de ambientes. A vantagem da utilização de LEDs em sistemas de
iluminação é sua alta eficiência luminosa (100 lm/W, conforme tabela 1) e longa vida
útil.
Figura 4 - Lâmpadas LED
Fonte: CEPEL (2015).
2.2 Sistemas de Climatização
Os sistemas de climatização (ar condicionado) são responsáveis por um
grande consumo de energia elétrica em uma unidade hospitalar, sendo seu uso final
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
18
responsável por cerca de 49% do consumo total da energia (LEME FILHO; CARLOS;
GEDRA, 2008).
Pirani et al. (2006) cita que a grande maioria dos prédios públicos é dotados de
sistemas climatização com aparelhos de ar condicionado do tipo janela e/ou do tipo
Split.
Os condicionadores de ar de janela (figura 5) são equipamentos compactos,
de instalação simples, possuem pequena capacidade, devido a sua característica
construtiva e ainda possuem elevado nível de ruído; são menos eficientes, apenas
distribuem ar no ambiente em um único ponto e podem provocar alterações na fachada
da edificação (PIRANI et al, 2006).
Figura 5 – Condicionador de ar do tipo janela
Fonte: Oliveira (2013).
Os condicionadores de ar do tipo Split (figura 6) são equipamentos que surgiram
após os condicionadores de ar do tipo janela, são constituídos de duas partes, sendo
uma unidade evaporadora e outra condensadora, conectadas através de tubulações
de cobre, por onde circulará o fluído refrigerante. Seu custo de aquisição é superior
aos modelos do tipo janela, porém são equipamentos versáteis, de fácil manutenção,
não interferem nas fachadas e são mais eficientes em comparação aos modelos do
tipo janela (PIRANI et al, 2006).
Figura 6 – Condicionador de ar do tipo split
Fonte: Oliveira (2013).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
19
3 | MÉTODOS
Para a análise do potencial de conservação de energia elétrica da Santa Casa
de Arealva, foi realizado um levantamento do parque de iluminação e climatização
existentes, com o objetivo de propor análise quantitativa de cargas elétricas existentes
bem como a substituição por equipamentos eficientes.
O desenvolvimento deste trabalho foi feito em 2 etapas:
a) Levantamento das cargas do sistema de iluminação e climatização existentes
na Santa Casa de Arealva, quantificando os tipos de lâmpadas e aparelhos de
ar condicionado, destacando a potência total instalada, em quilowatts (kW) e
consumo anual de energia elétrica, em megawatts hora (MWh) em cada sistema;
b) Proposta de eficientização do parque de iluminação e climatização, através
da substituição das lâmpadas convencionais por lâmpadas a LED e da
substituição dos aparelhos de ar condicionado do tipo janela, por aparelhos
de ar condicionado do tipo Split, apresentando a nova potência instalada e a
perspectiva consumo anual de energia elétrica, com os novos sistemas.
3.1 Sistema de iluminação existente na Santa Casa de Arealva
O sistema de iluminação atualmente instalado na Santa Casa de Arealva é
constituído de lâmpadas fluorescentes tubulares de 20 e 40 Watts (W), lâmpadas
fluorescentes compactas (LFC) de 23, 25 e 30 W e lâmpadas incandescentes de 60
e 100 W.
A Santa Casa de Arealva conta com dois focos cirúrgicos de 6 bulbos dotadas
de lâmpadas halógenas de 25 W, totalizando o consumo total em plena operação de
150 W.
A tabela 2, apresenta o parque de iluminação da Santa de Casa de Arealva,
detalhando quantitativamente, os tipos de equipamentos existentes, permitindo o
cálculo da potência total instalada do sistema de iluminação da unidade. A tabela
também indica a estimativa do total de horas de uso, ou seja, estimamos o tempo de
funcionamento de cada equipamento (lâmpada) durante o ano.
Para este trabalho, foi adotado o seguinte critério quanto as horas de utilização
das lâmpadas:
•
Lâmpadas fluorescentes tubulares de 20 e 40 W: estimou-se um total de
24 horas diárias, pois são lâmpadas pertencentes ao Pronto Socorro, cujo
atendimento é ininterrupto;
•
Lâmpadas fluorescentes compactas de 25 e 30 W, consideramos o período
de utilização do prédio que ocorre entre 07:00 as 18:00 horas, durante os
dias da semana (horário comercial);
•
Lâmpadas incandescentes de 60 e 100 W e lâmpadas fluorescentes compactas de 23 W utilizadas nos banheiros: consideramos um total de 3 horas
diárias, pois existe um consenso de somente ligar a luz quando for utilizar o
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
20
banheiro, a lâmpada é desligada após esse uso;
•
Foco cirúrgico: foi considerado um tempo de utilização máximo de 3 horas
diárias, pois o Centro Cirúrgico atende apenas cirurgias ambulatoriais de
pequena complexidade.
Tipo de
Equipamento
20 W
23 W
25 W
30 W
40 W
60 W
100 W
Foco Cirúrgico
150 W
Quantidade
28
6
27
54
84
2
2
2
Horas de uso
8760
720
2640
2640
8760
720
720
720
Potência
Instalada (kW)
0,560
0,138
0,675
1,620
3,360
0,120
0,200
0,300
Energia
Consumida
(MWh/ano)
4,906
0,099
1,782
4,277
29,434
0,086
0,144
0,216
Potência total instalada (kW)
6,413
Energia consumida total (MWh/ano)
36,038
Tabela 2 – Sistema de iluminação e consumo anual da Santa Casa de Arealva
3.2 Eficientização do parque de iluminação da Santa Casa de Arealva
A eficientização do sistema de iluminação da Santa Casa de Arealva visa a
substituição do parque de iluminação atual, por um sistema mais eficiente, pela simples
substituição de equipamentos, visando uma redução do consumo de energia elétrica,
sem perdas de luminosidade nos ambientes.
•
Substituição de lâmpadas fluorescentes tubulares de 20 W por lâmpadas
tubulares à LED de 18 W;
•
Substituição de lâmpadas fluorescentes tubulares de 40 W por lâmpadas
tubulares à LED de 30 W;
•
Lâmpadas fluorescentes compactas de 23, 25 e 30 W a proposta visa a
substituição por lâmpadas compactas a LED de 15 W;
•
Lâmpadas incandescentes de 60 e 100 W: substituição por lâmpadas compactas a LED de 15 W;
•
Substituição dos focos cirúrgicos de 6 bulbos, dotados de lâmpadas halógenas de 25 W, por focos cirúrgicos de 19 bulbos a LED, totalizando consumo
de 19 W.
A tabela 3, apresenta o parque de iluminação proposto para a Santa de Cada de
Arealva, detalhando as novas lâmpadas, a nova potência total instalada e a perspectiva
de consumo de energia elétrica anual.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
21
Tipo de
Equipamento
18 W
30 W
15 W
15 W
Banheiro
Foco Cirúrgico
19 W
Quantidade
28
84
1
Horas de uso
8790
8790
640
720
720
Potência
Instalada (kW)
0,504
2,52
0,015
0,15
0,038
3,227
Energia
Consumida
(MWh/ano)
4,430
22,151
3,208
0,108
0,027
26,726
10
TOTAL
2
Tabela 3 - Sistema de iluminação proposto para a Santa Casa de Arealva.
3.3 Sistema de climatização existente na Santa Casa de Arealva
Quanto ao sistema de climatização, observou-se que o prédio da Santa Casa
é dotado de aparelhos de ar condicionado do tipo janela e Split, distribuídos pelos
setores da Santa Casa. A tabela 4, apresenta o parque de climatização da Unidade,
que é composta aparelhos de ar condicionado do tipo janela, sendo possível estimar
a potência total instalada, como também, a energia total consumida pelo sistema de
climatização da unidade.
Os aparelhos de ar condicionado do tipo Split não foram citados na tabela 4,
por se tratar de equipamentos eficientes e, desta maneira, não se faz necessária a
substituição.
Tipo de
Quantidade
Equipamento
JANELA
2
Capacidade
(Btu/h)
Horas
de uso
Potência
(W)
Potência
Instalada
(kW)
Energia Total
Consumida
(MWh/ano)
7500
2640
740
1,48
3,907
Tabela 4 – Levantamento do sistema climatização instalado na Santa Casa de Arealva
3.4 Eficientização do sistema de climatização da Santa Casa de Arealva
O sistema proposto visa à substituição dos aparelhos de ar condicionado do tipo
janela por aparelhos do tipo Split de mesma capacidade, sem estudo de cálculo de
carga térmica.
As potências elétricas dos aparelhos de ar condicionado do tipo Split utilizados
nos cálculos obedecem aos critérios do Selo Procel de economia de energia. Os
aparelhos de ar condicionado de janela de 7500 BTU/h, possuem potência elétrica
média de 740 W, já os aparelhos de ar condicionado do tipo Split de 7500 BTU/h,
possuem potência elétrica nominal de 675 W, como pode ser observado na tabela 5.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
22
Tipo de
Equipamento
Quantidade
Capacidade
(Btu/h)
Horas
de uso
Potência(W)
Potência
Instalada
(kW)
Energia Total
Consumida
(MWh/ano)
SPLIT
2
7500
2640
675
1,35
3,564
Tabela 5 – Sistema climatização proposto para Santa Casa de Arealva
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
De posse dos quantitativos apresentados nas tabelas anteriores, verificamos a
redução de potência, o total de energia elétrica conservada e a economia proporcionada
pelos sistemas em porcentagem, conforme pode ser visto na tabela 6.
SISTEMA DE ILUMINAÇÃO
SISTEMA DE CLIMATIZAÇÃO
Redução de Potência (kW)
3,186
Redução de Potência (kW)
0,130
Energia Conservada (MWh/ano)
9,312
Energia Conservada (MWh/ano)
0,343
Economia %
25,84
Economia %
8,78
Tabela 6 – Resultados esperados
Observa-se, na tabela 6, o sistema proposto, que em comparação com o modelo
existente, apresenta uma redução significativa do consumo de energia elétrica, para
ambos os sistemas analisados. Na situação proposta há uma economia de 25,84%,
para o sistema de iluminação e 8,78% para o sistema de climatização.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os dados apresentados neste trabalho, pode-se observar que
existe um grande potencial de conservação de energia elétrica na Santa Casa de
Arealva, através da proposta de substituição dos sistemas de climatização e iluminação
existentes pelos sistemas apresentados.
Do estudo apresentado, destacam-se os seguintes resultados: economia de
25,84% do consumo de energia elétrica no sistema de iluminação e 8,78% de economia
de consumo de energia elétrica no sistema de climatização da Unidade.
O conteúdo apresentado neste trabalho serve como referência de plano de
eficiência energética em uma unidade de saúde. Este trabalho pode ser aplicado em
outras instituições de saúde, visando a otimização dos recursos públicos, sem perda
da operacionalidade e conforto dos ambientes.
REFERÊNCIAS
CAPELLI, A. Energia Elétrica: Qualidade e Eficiência para Aplicações Industriais. São Paulo:
Érica, 2013. 272 p.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
23
Centro de Pesquisas de Energia Elétrica – CEPEL (Org.). GUIA PARA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
NAS EDIFICAÇÕES PÚBLICAS. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia, 2015. 229 p.
CREDER, H. Instalações elétricas. 15. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora. 2007. 427 p.
LEME FILHO, R.; CARLOS, Marcio Visini; GEDRA, Ricardo. Uso Eficiente de Energia no Setor
Hospitalar – Hospitais Públicos. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA
ELÉTRICA, 18., 2008, Olinda. Anais.... Olinda: Sendi, 2008. v. 1, p. 1 - 9.
OLIVEIRA, J. R. Estudo do potencial de conservação de energia elétrica no prédio do centro
administrativo da Prefeitura Municipal de Bauru, através da análise dos sistemas de iluminação
e climatização existentes. In: SIMPEP, XX, 2013. SIMPÓSIO. Bauru: Simpósio de Engenharia de
Produção, 2013. v. 1, p. 11 - 23.
PINTO, R. A. et al. Lâmpada compacta empregando LEDs de alto-brilho. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE AUTOMÁTICA, 17, 2008, Juiz de Fora. Anais.... Juiz de Fora: Cba, 2008. p. 1 - 6.
PIRANI, M. J. et al. Conservação de energia elétrica: eficiência energética de equipamentos e
instalações. 3. Ed. Itajubá: Fupai, 2006. 621 p.
POLO, P. Iluminação em hospitais: a parceria perfeita. Disponível em: <http://www.
jornaldainstalacao.com.br/img/artigos/Lutron_2.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2016.
PROCEL. Manual do pré-diagnóstico energético: autodiagnóstico na área de prédios públicos.
Rio de Janeiro, 2010. 53 p.
SORIA, A. F. S.; FILIPINI, F. A. Eficiência Energética. Curitiba: Base Editorial, 2010. 272 p.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 2
24
CAPÍTULO 3
TRATAMENTO DA ÁGUA DE DRENAGEM PLUVIAL:
UM MAL NECESSÁRIO?
Carlos Augusto Furtado de Oliveira Novaes
Universidade de Brasília, Faculdade de Ciência e
Tecnologia
Brasília, Distrito Federal
RESUMO: Com altas cargas de contaminação,
por vezes superiores as de efluentes de águas
residuárias com pouco tratamento, os efluentes
de águas pluviais urbanas, no Brasil, não têm
recebido atenção à altura dos desafios que
a questão apresenta. Existem, no entanto,
diversas técnicas disponíveis para este
tratamento, que não as ETE›s – Estações de
Tratamento de Esgotos, de forma a evitar ou
reduzir o comprometimento de Mananciais.
PALAVRAS-CHAVE: drenagem urbana; águas
pluviais; tratamento de efluentes; remoção de
contaminantes; escoamentos.
reduce the water supply sources damages.
KEYWORDS: urban drainage; stormwater;
wastewater treatment; contaminants removal;
outflows.
1 | INTRODUÇÃO
O principal foco das atenções no Brasil,
quando se trata de drenagem urbana ou
de águas pluviais, recai quase sempre nas
questões de quantidades ou volumes, por
serem mais evidentes as consequências da
falta de espaço disponível nas cidades para
acomodá-las. Assim, os grandes volumes de
precipitações,
quando
ocorrem,
provocam
inundações pontuais e chamam a atenção de
todos ocupando espaço na mídia e passando a
ser de conhecimento geral.
Nesse contexto os responsáveis pelas
gestões municipais têm se dedicado ao assunto
STORMWATER TREATMENT: A NECESSARY
EVIL?
ABSTRACT: Although the great stormwater
contaminant loads, sometimes higher than
primary treated wastewater, in Brazil there is
no attention to stormwater pollution control and
so the challenges are enormous. Besides that,
there are many other disponible options than
ETE’s to treat stormwater in way to avoid or
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
e procurado soluções que, via de regra, recaem
sobre o armazenamento temporário por meio
de reservatórios de detenção (curto período
de tempo) ou de retenção (tempo mais longo)
propiciando em algumas soluções a infiltração
de parte do volume armazenado.
Tal tem sido a frequência de utilização
dessa solução “única”, que se tornou conhecida
pela população como “piscinões”.
Construídas de diversas formas e podendo
Capítulo 3
25
se localizar de forma distribuída, ao longo das bacias, ou concentrada, próxima de
seus exutórios, acumulando maiores volumes, são posicionadas de acordo com o
espaço disponível e as características de cada bacia.
No entanto, deve-se perceber que além da questão de quantidade existem outras,
nem sempre ressaltadas, mas não menos importantes, que se referem aos aspectos
de qualidade das águas pluviais.
Há problemas decorrentes não só do espaço para armazenamento de volumes
significativos de água pluvial em meio urbano, como também da possibilidade de
proliferação de larvas de mosquitos e outras espécies além de odores desagradáveis
e concentração da poluição de fontes difusas, arrastada pelos fluxos pluviais até os
reservatórios.
Por outro lado, em muitas situações, o destino final dos efluentes pluviais, sem
tratamento algum, são os mananciais de abastecimento como é o caso, por exemplo,
do Lago Paranoá em Brasília – DF.
Dessa maneira coloca-se a questão do presente artigo: deve-se tratar o efluente
pluvial em meio urbano? Seria esse tratamento um mal necessário? Quais as
alternativas disponíveis para a efetivação deste tratamento?
2 | REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Tratamento do Efluente Pluvial
Quando se pensa em tratamento de efluentes a primeira ideia que surge é a das
ETE’s – Estações de Tratamento de Esgotos, forma mais convencional, com seus
componentes complementares, as redes de coleta e transporte e seus acessórios
como os sistemas de bombeamento e demais.
Outro conceito importante é o de sistema separador absoluto que individualiza as
redes de coleta e transporte para cada um dos dois sistemas de efluentes, o de águas
residuárias, ou esgotos, e o de águas pluviais, ou de chuva.
Apenas estes dois aspectos citados, estações e redes, são suficientes para
indicar que esse caminho, o das ETE’s, para o tratamento dos efluentes pluviais, seria
bastante oneroso, para não dizer inviável, técnica, operacional e financeiramente.
Em temos de efluentes pluviais, os longos períodos secos, acentuados em
função das mudanças climáticas, produzem altas cargas de poluentes momentâneas
e extensos períodos sem carga, refletindo-se na forma de operação e manutenção das
instalações de tratamento, e nas soluções adotadas.
Existem, no entanto, diversas outras opções chamadas de Ecotecnologias de
tratamento ou de BMP’s – “Best Management Practices”, melhores práticas de gestão,
que oferecem alternativas não só quantitativas, mas também relativas à qualidade dos
efluentes, possibilitando diversos graus de tratamento das águas pluviais.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
26
2.2 Sistemas e Processos
Os sistemas de tratamento de águas pluviais podem reduzir os volumes de
escoamento, as concentrações de poluentes e as massas totais de contaminantes que
afluem aos corpos hídricos. As lagoas e bacias de detenção e retenção, as wetlands,
naturais ou construídas, as valas de infiltração, os pavimentos permeáveis são alguns
desses sistemas.
Os processos de tratamento, em função de seus princípios de funcionamento,
classificam-se em físicos, como, por exemplo, a sedimentação, filtração ou infiltração;
térmicos; biológicos; químicos ou combinados entre estas diversas formas, devendose ressaltar que um sistema pode conter diversos processos.
2.2.1 Bacias, Lagoas de Detenção e Wetlands Construídas
As bacias e lagoas de detenção surgiram a partir dos anos sessenta como
soluções de tratamento ao final da rede ou “end of the pipe”, geralmente para
grandes volumes de escoamentos e, a partir dos anos noventa, surgem as Wetlands
Construídas projetadas para tratamento de fluxos variáveis, associadas a filtros
vegetais, os denominados filtros de bioretenção (TONDERA, 2013), baseados no
princípio de filtração por gravidade e inspiradas nas Wetlands naturais, chamadas
em português de banhados. Estes dispositivos têm sua eficiência diretamente ligada
a parâmetros hidráulicos como volume, velocidade do fluxo, turbulência e outros, de
forma a propiciar o funcionamento de acordo com os princípios de sedimentação. A
construção de uma pré-bacia de entrada, mostrada na figura 1, onde as partículas
maiores se sedimentam pode favorecer o processo sendo também relevantes longos
tempos de residência hidráulica.
Figura 1 – Corte esquemático de bacia de retenção com bacia de acesso, ou “Forebay”, e bacia
principal, mostrando gradiente de sedimentos da esquerda para a direita (BLECKEN et al.,
2011).
Após a análise de 98 Wetlands urbanas, diversos autores australianos (DAVID
et al., 2017) concluíram que o tipo de uso do solo na bacia é determinante do perfil
de poluentes nos sedimentos, sendo a presença de indústria na bacia um fator de
risco elevado para a contaminação. Bacias industrializadas apresentaram maior
risco em relação às demais. Fatores como a idade da Wetland e a geologia da bacia
também influenciam a qualidade dos sedimentos. Houve a verificação da presença
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
27
de metais pesados em todas as bacias (13 tipos de metais em 100% das bacias)
e hidrocarbonetos de petróleo (94% das bacias) além da presença de pesticidas
comuns, nos sedimentos. Deve-se notar que alguns poluentes se encontram aderidos
aos sedimentos e são removidos no processo de sedimentação. Poluentes dissolvidos
são removidos por processos biológicos associados à vegetação existente nas
regiões de pouca profundidade, mas essa remoção tem, em geral, pouca eficiência
(TONDERA, 2013), à exceção de casos aonde há abundância de vegetação.
2.2.2 Valetas de Infiltração
Valetas de infiltração são dispositivos baseados em sedimentação, filtração,
infiltração e interações químicas e biológicas com o solo (WINSTON et al., 2012). Em
sua maioria são revestidas por grama, conforme mostra a figura 2 e, de acordo com
diversos autores, apresentam eficiências médias na remoção de poluentes da ordem
de: 72% para sólidos em suspensão totais, 52% para fósforo e 45% para nitrogênio
(DELETIC; FLECHTER, 2006).
Figura 2 – Corte esquemático da seção transversal de valeta de infiltração típica com as
setas azuis demonstrando os fluxos de efluentes pluviais (MANGANGKA; GOONETILLECKE;
EGODAWATTA, 2016).
Constituem-se, em sua maioria, de canais vegetalizados com declividades
longitudinais usualmente menores do que 1,5% e inclinações laterais em torno de
1V:13H (KACHCHU et al., 2014) ou mais. Ao longo de estradas são muito utilizadas
em conjunto com pequenas sarjetas, posicionadas de forma a conduzirem os fluxos
da estrada para as valetas. As valetas de infiltração não devem ser propostas como
dispositivos únicos para tratamento de águas pluviais, mas como complementares ou
complementados por outros sistemas (KACHCHU et al., 2014). Diversos fatores como
o percentual de vegetalização de sua superfície, seu comprimento e até mesmo a sua
eventual adubação, contribuem para dar maior ou menor eficiência ao dispositivo.
As partículas maiores, afluentes na corrente líquida, tendem a sedimentar-se nos
primeiros metros enquanto os de menor tamanho tendem a seguir adiante por um
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
28
maior percurso criando um gradiente de sedimentação a partir das entradas das
valetas. A utilização de valetas em experimentos (KACHCHU et al., 2014), no intuito
de verificar a sua efetividade como pré-tratamento para a utilização de pavimentos
permeáveis, demonstrou bons resultados para a remoção de sólidos em suspensão
totais, mas pouca eficiência na remoção de nutrientes. Foram removidos de 50 a 75%
dos sólidos em suspensão totais nos primeiros 10 metros de valetas. Dessa forma
concluíram que não há necessidade de longas valetas para efeito de remoção de
sólidos em suspensão. Da mesma maneira consideraram, após os experimentos,
que valetas podem ser utilizadas como dispositivos para tratamento prévio a outros
sistemas possibilitando assim a estes últimos o prolongamento de sua vida útil. Estas
valetas devem ser dimensionadas de acordo com as características locais, como as
condições hidrológicas e tipos de poluentes presentes, de forma a terem eficiência
(HAIYAN et al., 2016), sem deixar de levar em conta as características dos solos para
que se possa projetá-las considerando a infiltração, especialmente para o caso de
pequenos fluxos.
2.3 Remoção de Nutrientes
2.3.1 Nitrogênio e Fósforo
Nutrientes causam a depleção do oxigênio dissolvido nos corpos hídricos e a
eutrofização de suas superfícies com o excessivo crescimento de plantas e algas.
Por essas razões a remoção de nutrientes, especialmente de Nitrogênio e Fósforo,
deve ser realizada. Deve-se, no entanto, levar em conta que, enquanto partículas de
nutrientes aderentes a sedimentos podem ser removidas por processos físicos, como
filtração e sedimentação, compostos de nitrogênio e fósforo dissolvidos requerem
outros processos de remoção, pois tem processo de degradação bioquímica diferente.
De forma geral, em sistemas separadores urbanos, com exceção de situações onde
ocorrem ligações ilícitas (PANASIUK et al., 2015), a concentração de nutrientes
nos escoamentos pluviais é pequena e não chama a atenção dos pesquisadores. A
pequena presença de fósforo (P) em escoamentos de estradas comprova este fato
já que, inexistem contaminações cruzadas em decorrência de ligações irregulares e,
nesses casos, há pouca presença de detritos. Ainda que apresentem boa remoção de
fósforo (P), com 60 a 70% de eficiência (MARSALECK; URBONAS e LAWRENCE,
2005), lagoas e bacias não são recomendadas para a remoção de Nitrogênio (N),
a não ser quando associadas a uma zona de desnitrificação, constituindo-se de um
segundo estágio, ou tenham sua capacidade de detenção aumentada. Para valetas de
infiltração existem resultados variados, dependentes de maiores verificações, sendo
sugerida sua utilização combinada a outros dispositivos.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
29
2.4 Cargas Microbianas
A avaliação da presença de microrganismos patogênicos em efluentes é
complexa e dispendiosa e, por essas razões, usualmente utiliza-se de indicadores da
presença de organismos fecais (e. coli, organismos termotolerantes, e enterococci,
assim como bacteriófagos como F-RNA). Os bacteriófagos são considerados melhores
indicadores de vírus por representarem mais adequadamente as características dos
vírus intestinais humanos (HAVELAAR et al.1993).A presença nos efluentes pluviais
de micro-organismos fecais e bacteriófagos é muitas vezes significativa, ocorrendo
não só em razão da poluição difusa de origem humana e animal, como de cargas
pontuais, com origem em extravasamentos das redes de águas residuárias (MERTENS
et al., 2017) e de ligações irregulares destas, nos sistemas de efluentes pluviais. A forma
mais comum de remoção desses micro-organismos é sua sedimentação, quando estão
aderentes a partículas maiores sedimentáveis ou quando seu tamanho o permite como,
por exemplo, no caso de parasitas. Cerca de 30% a 55% das bactérias fecais (E. coli,
enterococos intestinais e coliformes) encontram-se associadas a sólidos sedimentáveis
(CHARACKLIS, et al., 2005). E. coli tem predominância em escoamentos urbanos
(90%) podendo aparecer associada às partículas finas de diâmetro menor que 3μm
ou na forma livre, em suspensão (CHANDRASENA et al., 2012). Esses resultados
foram obtidos para sistemas separadores e, indicam que a remoção de partículas
finas é importante para eliminação desta contaminação microbiana. Ressalta-se que
a sobrevivência microbiana pode ser maior quando esses organismos se encontram
ligados a sólidos (DAVIES; BAVOR, 2000). Microrganismos ligados a sólidos e
micróbios maiores que 5 μm podem ser removidos por filtração. A figura 3 apresenta o
tamanho de patógenos encontrados em águas residuárias (GARGIULO et al., 2007).
Figura 3 – Tamanho dos patógenos encontrados em águas residuárias.
Partículas em suspensão podem ser removidas por adsorção ou por processos
físico-químicos de filtração se o seu diâmetro for menor que o do material do filtro.
O processo predominante de retenção de vírus em meios porosos é a adsorção
(CORAPCIOGLIU; HARIDAS, 1984) sendo maior quanto maior for o crescimento da
massa de biofilme no meio filtrante (WALDHOFF, 2008, apud TONDERA et al., 2017).
Por outro lado, micro-organismos removidos por processos físicos como sedimentação,
filtração e adsorção tem potencial para serem reintroduzidos nos sistemas sendo
aconselhável a utilização de outros processos que permitam sua inativação ou remoção
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
30
permanente. A radiação UV – ultravioleta - presente em áreas abertas, onde exista a
presença de luz penetrante, pode ser um destes processos de inativação, como é o
caso de lagoas e de Wetlands com fluxo superficial (NGUYEN et al. 2015). Outros
mecanismos são a predação (STOTT et al., 2003), aderência à biofilmes (STOTT;
TANNER, 2005) e inibição (STEVIK et al., 2004). Os escoamentos de águas pluviais
de sistemas separadores, em geral, podem apresentar altas contaminações por microorganismos fecais, similares àquelas encontradas em sistemas de tratamento parcial
de águas residuárias. Indicadores de níveis de bactérias em efluentes pluviais têm
demonstrado, quando comparados aos padrões microbiológicos de qualidade da
água, que essas águas representam um perigo potencial quando o manancial que as
recebe tem como uso a recreação ou a extração de água bruta para abastecimento
(GALFI et al., 2016).
A variabilidade é uma característica marcante dos fluxos em sistemas de
drenagem de efluentes pluviais, marcadamente o chamado fluxo inicial, ou “first flux”,
que carrega alta carga de poluentes, e ocorre após um prolongado período sem
chuvas. Assim, a escolha dentre as opções disponíveis de sistemas de tratamento
deve considerar os fluxos de escoamentos variáveis no tempo e a variação das
cargas poluidoras. Em termos espaciais, as cargas de áreas densamente habitadas
e áreas urbanizadas centralizadas nas bacias de contribuição tendem a apresentar
maior concentração de carga bacteriana, sugerindo correlação entre as cargas e uso
do solo (GALFI et al., 2016), além de outras características como sazonalidades,
períodos secos e intensidades de precipitações. Diversos estudos mostram variações
nas concentrações de poluentes para diversos usos do solo e sistemas (separadores,
únicos ou combinados).
Em termos de sistemas de tratamento tanto lagoas como bacias apresentam
bom potencial de tratamento já que existe um percentual significativo de bactérias
associado a partículas sedimentáveis (CHARACKLIS et al., 2005).
Wetlands construídas de fluxo superficial também tem apresentado eficiência na
remoção para determinadas faixas de fluxos, podendo atingir 75% de taxa de remoção
(DAVIES; BAVOR, 2000). São mais eficientes que as lagoas devido à presença da
vegetação, que reduz a velocidade do fluxo, facilitando a sedimentação de partículas
mais finas (< 2μm) e, permite o crescimento de biofilme favorecendo a adesão de
micróbios (DAVIES; BAVOR, 2000). Existem ainda diversos estudos, com dados
variados, visando à utilização de Wetlands de fluxo vertical e biofiltros, cujos resultados
(WALDHOFF, 2008) merecem análise por demonstrarem potencialidade na remoção
de micro-organismos.
2.5 Remoção de Metais
Os metais são poluentes de grande preocupação e sua presença nos efluentes
pluviais acontece sob duas formas: substâncias aderentes às partículas mais finas
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
31
dos sedimentos e de forma dissolvida, chamada biodisponível. Essa segunda parte,
dissolvida, subdivide-se em duas frações, uma coloidal e outra dita verdadeiramente
dissolvida. A superfície dos colóides tem geralmente carga negativa atraindo outros
íons positivos. Já a parte restante, encontrando-se livre, pode ser absorvida por todo
tipo de organismos convertendo-se em fonte de alta toxicidade. Dois fatores têm
importância na solubilização dos metais: o PH e a matéria orgânica dissolvida, sendo
maior a solubilidade quanto menor for o PH (INGRI, 2012). Estudos (BOOGAARD et
al., 2014) revelaram que a maior parte das partículas metálicas se encontra aderida
a outras de tamanho inferior a 90μm, ou até de 60μm, e assim os dispositivos de
tratamento devem ser capazes de remoção de partículas finas. Uma das fontes mais
importantes de metais é o tráfego veicular, mas os telhados, equipamentos de iluminação
e outras superfícies das edificações como, por exemplo, as fachadas, contribuem para
a presença desses poluentes nas correntes de efluentes pluviais urbanos. Telhados
metálicos geralmente contribuem com Zn e Cu e rodovias com Pb, Cd, Cr e Ni. Em
áreas conectadas a pistas de tráfego de veículos há grande concentração destes
poluentes (CZEMIEL, 2014). Estudos recentes, realizados na Suécia (KARLSON et
al., 2016), demonstraram que em lagoas de sedimentação e tanques, em se tratando
de sedimentos pluviais, a maior parte dos poluentes metálicos (Cu, Cd, Pb, Zn e Ni)
encontravam-se sob a forma não aderida, ou seja, potencialmente móvel. A análise de
sistema constituído por lagoas-Wetlands (AL-RUBAEI et al. 2016) demonstrou uma
eficiência de remoção de metais variando entre 55% e 80%, atribuindo-se à presença
de Wetlands um grande incremento na remoção de metais dissolvidos quando se
compara a sistemas contendo apenas lagoas. Para valetas a eficiência na remoção de
metais mostrou-se pequena (BACKSTROM et al., 2006).
2.6 Contaminantes Emergentes
Contaminantes emergentes são substâncias que, apesar de detectadas no meio
ambiente, ainda não tem seus comportamentos e efeitos toxicológicos conhecidos, e
por essa razão não fazem parte das rotinas de monitoramento.
São produtos com diversas origens como remédios para seres humanos e animais,
produtos de cuidados pessoais, nanomateriais, pinturas e acabamentos. Podem ser
subdivididos em inorgânicos e orgânicos como, por exemplo, metais, pesticidas e fenóis.
Os mecanismos de remoção dependem das suas composições químicas e envolvem
desde processos físicos (sedimentação e filtração), biológicos, como a retirada pelas
plantas e micro-organismos, até processos químicos, como precipitação, oxidação e
hidrólise, dentre outros (ZHANG et al. 2012). Devido ao grande número de compostos
produzidos industrialmente todos os dias, indicadores de fonte e de processo têm
sido sugeridos como caminho para a identificação desses poluentes. Tais indicadores
devem facilitar o monitoramento de poluentes, tendo características que possibilitem
isso como, por exemplo, serem facilmente detectáveis com relativamente baixo esforço
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
32
e por meio de vários métodos (JEKEL et al., 2015). Para escoamentos agrícolas
de fontes não pontuais foram propostos pesticidas como substâncias indicadoras
(PASSEPORT et al., 2011) e para escoamentos urbanos diversos herbicidas (JEKEL
et al., 2015). Existem diversos estudos analisando a remoção de pesticidas em
bacias, wetlands construídas, biofiltros e valetas. Sabe-se que, além do processo de
sedimentação, agem na remoção processos de transferência (por meio de absorção)
e de transformação que, produzem outras moléculas (metabólitos e produtos de
degradação) a partir da molécula de pesticida, cujo processo apresenta-se de forma
esquemática na figura 4.
Figura 4 – Processos envolvidos na remoção de pesticidas em uma Wetland artificial
(PASSEPORT et al., 2011).
Existem números representativos de resultados obtidos a partir de
experimentos com S-metolachlor e expoxiconazole (HOYOS-HERNANDEZ, 2010).
A biodegradação das moléculas é um processo lento que se beneficia da existência
de tempos de detenção longos. A vegetação tem diversos efeitos sobre a remoção
de pesticidas: por efeito de aeração dos sedimentos permite aumentar a atividade
microbiana e, por aumento da rugosidade, provoca maiores tempos de detenção,
favorecendo a sedimentação. Por adsorção superficial retira parte dos pesticidas, e
ainda pela decomposição dessa vegetação, se constitui em fonte de carbono orgânico
para os microrganismos. Os filtros de bioretenção, por sua vez, apresentam diversos
processos de remoção de contaminantes como: filtração, processos físicos, químicos
e bioquímicos (RANDELOVIC et al. 2016).
3 | CONCLUSÕES
Existem alternativas para o tratamento de efluentes de águas pluviais que não o
seu simples encaminhamento às ETE’s. A opção por não os tratar, além de se mostrar
inadequada, por desprezar um importante contribuinte da poluição de mananciais, não
encontra justificativa sob o ponto de vista das soluções técnicas disponíveis. Dessa
forma seu tratamento é um BEM necessário, a ser buscado o mais breve possível.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
33
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 3
35
CAPÍTULO 4
DIAGNÓSTICO DA GESTÃO DE ÁGUAS URBANAS DA
CIDADE DE CARAÚBAS/RN
Larisa Janyele Cunha Miranda
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA)
Jaguaribe-CE
Leonete Cristina de Araújo Ferreira
Medeiros Silva
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA)
Natal-RN
Rokátia Lorrany Nogueira Marinho
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA)
Apodi-RN
Guilherme Lopes da Rocha
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA)
Fortaleza-CE
Clélio Rodrigo Paiva Rafael
Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA)
Mossoró-RN
RESUMO: Medidas de saneamento básico são
adotadas desde as mais antigas civilizações e
apresentam-se crescentes com o passar dos
séculos, devido comprovação da importância
que têm para a saúde. No Brasil, o saneamento
é direito de toda a população, assegurado pela
Constituição Federal e, em 2007, pela Política
Nacional de Saneamento Básico. A gestão de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
águas urbanas apresenta grande relevância na
área de saneamento, porém atualmente são os
serviços que se encontram com piores índices,
agravando-se ainda mais nos interiores das
Regiões Norte e Nordeste. O objetivo desse
trabalho é diagnosticar a cobertura dos serviços
relacionados à gestão de águas urbanas da
cidade de Caraúbas/RN, por meio de mapas
construídos baseando-se em documentos
fornecidos pela Companhia de Água e Esgoto
do Rio Grande do Norte (CAERN), pesquisas
bibliográficas e levantamentos em campo.
Contatou-se que a cidade não foge da
realidade crítica dos interiores brasileiros no
quesito de saneamento, apresentando falhas
na continuidade de distribuição de água no
seu sistema de abastecimento, beirando a
inexistência dos serviços de esgotamento
e drenagem, e não apresentando qualquer
tipo de tratamento ou coleta adequada dos
resíduos líquidos, que em sua quase totalidade
são transportados a céu aberto pelas ruas da
cidade.
PALAVRAS-CHAVE: Saneamento básico,
Caraúbas, Gestão de Águas Urbanas.
DIAGNOSIS OF THE URBAN WATERS
MANAGEMENT OF THE CITY OF
Capítulo 4
36
CARAÚBAS / RN
ABSTRACT: Basic sanitation measures have been adopted since the earliest
civilizations and have been increasing over the centuries, as evidence of their
importance to health. In Brazil, sanitation is the right of the entire population, guaranteed
by the Federal Constitution and, in 2007, by the National Policy of Basic Sanitation.
The management of urban waters has great relevance in the area of sanitation, but
nowadays they are the services that are with worse indexes, aggravating even more
in the interiors of the North and Northeast Regions. The objective of this work is to
diagnose the coverage of services related to urban water management in the city
of Caraúbas/RN, using maps constructed based on documents provided by the Rio
Grande do Norte Water and Sewer Company (CAERN), surveys bibliographies and
surveys in the field. It was contacted that the city does not escape the critical reality of
the Brazilian interiors in the area of sanitation, presenting failures in the continuity of
water distribution in its supply system, bordering the lack of exhaustion and drainage
services, and not presenting any type of treatment or adequate collection of liquid
waste, which is almost entirely transported in open air through the streets of the city.
KEYWORDS: Basic sanitation. Caraúbas. Urban Water Management.
1 | INTRODUÇÃO
O saneamento básico é um dos fatores de fundamental importância para
o bem-estar da população, à medida que extingue os fatores de perigos à saúde,
melhora a qualidade de vida dos habitantes da cidade. De acordo com Rosen (1994),
a associação do saneamento com a saúde do homem vem desde as mais antigas
civilizações, existindo evidências de hábitos sanitários há cerca de 4.000 anos atrás.
No Brasil, o cidadão tem o direito de saneamento básico assegurado pela
Constituição Federal e fixado pela Lei nº. 11.445/2007, conhecida também como Lei do
Saneamento, que trata do acesso e dos ajustes devidos neste campo, visando assim
garantir a saúde pública. Segundo essa legislação, os municípios são responsáveis
por prestar direta, ou via concessão a empresas privadas, os serviços de saneamento
básico. Cada município teria então por obrigação elaborar o Plano Municipal de
Saneamento Básico até o ano de 2014, condição obrigatória para o acesso aos
recursos orçamentários da união.
Assim como em várias cidades do Brasil quando o assunto é saneamento
básico, a cidade de Caraúbas/RN apresenta falhas no acesso aos serviços de
saneamento. Neste trabalho, foram abordados em específico os serviços de águas
urbanas que, segundo Tucci (2008), compreende o sistema de abastecimento de
água, esgotamento sanitário e drenagem urbana, tendo como metas a saúde e a
conservação ambiental.
De acordo com a FUNASA (2006), o sistema de abastecimento público de água
é constituído por obras, instalações e serviços para produção e distribuição de água
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
37
em qualidade e quantidade necessária para atender as necessidades da população,
e são formados pelas seguintes unidades: manancial, captação, adução, tratamento,
reservatório, reservação, rede de distribuição, estações elevatórias e ramal predial.
O esgoto sanitário segundo a NBR 9648 (ABNT, 1986) é o: “despejo líquido
constituído de esgotos doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição
pluvial parasitária”. Os sistemas públicos convencionais de esgotamento sanitário são
constituídos de ramal predial, coletor de esgoto, coletor tronco, interceptor, emissário,
poços de visita, elevatória, estação de tratamento e disposição final (FUNASA,2006).
Tucci (2013) define que a drenagem urbana é um conjunto precauções que
tenham como objetivo extinguir inundações, minimizando os riscos que a população
estar sujeita com tais acontecimentos.
De acordo com Tucci e Bertoni (2003), os sistemas de drenagem podem ser de
microdrenagem para atender precipitações de risco moderados e de macrodrenagem
para acomodar precipitações de maior porte.
Segundo Righetto (2009), algumas medidas podem ser adotadas para a drenagem
urbana, dentre elas as medidas estruturais, que relacionam às obras de captação,
armazenamento e transporte das águas pluviais, e as medidas não estruturais,
ações de outra natureza que exige esforços de conscientização popular, legislação
apropriada, manutenção regular dos elementos estruturais e etc.
Na cidade em estudo, quando se trata do abastecimento de água, por mais que
toda a população da zona urbana tenha acesso a esse serviço, o mesmo é realizado
em escalas nos bairros.
O esgotamento sanitário, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) em 2010 é disponibilizado para apenas 12,7% da população, porém
nas pesquisas realizadas na cidade não foram encontrados sistemas de esgotamento
ou de tratamento dos resíduos líquidos
A drenagem urbana na cidade é quase inexistente, sendo presente em poucas
ruas e encontra- se em péssimas condições. A água que é coletada pelos bueiros
é direcionada para o canal da cidade, onde se mistura com o esgoto, e tem como
destino o um dos açudes do munícipio.
A precariedade da gestão das águas urbanas expõe a população a possíveis
doenças e também afeta negativamente o meio ambiente, o estudo do sistema atual
é grande importância para que possa ser diagnosticar a atual situação da cidade e
apresentando pontos que deveriam ser melhorados na cidade para a disponibilização
de uma melhor qualidade de vida para a população.
2 | OBJETIVO
Diagnosticar o estado atual da gestão de águas urbanas da cidade de Caraúbas/
RN, realizando a construção de um mapa com caracterização dos serviços de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
38
saneamento e a observação da potencialidade e vulnerabilidade do sistema.
3 | METODOLOGIA
A princípio foram realizadas pesquisas bibliográficas, a fim de realizar um
levantamento geográfico sobre a cidade de Caraúbas/RN, obtendo uma caracterização
adequada, para que se fosse possível realizar uma melhor análise dos resultados.
Posteriormente foram elaborados os mapas referentes à atual situação da gestão de
águas da cidade.
Mapa atual do abastecimento de água
O mapa atual de abastecimento da cidade foi elaborado utilizando a estrutura
e as informações contidas no mapa de abastecimento fornecido pela CAERN, foram
retiradas as alterações futuras sugeridas pela companhia e alguns dados técnicos
que somente são de interesse para distribuição de água na cidade, dessa maneira
permanecendo apenas as áreas atuais que recebem o abastecimento.
Foi realizada também uma pesquisa junto com o responsável técnico da CAERN
na cidade de Caraúbas, com o propósito de identificar os reservatórios que estão
operando no momento, a vazão diária fornecida para o município e os critérios de
fornecimento de água para cada bairro, podendo dessa forma realizar o diagnóstico
do abastecimento de água atual na cidade.
Mapa de esgotamento sanitário
A princípio realizou-se uma consulta junto à PMC a fim de obter dados sobre o
esgotamento sanitário da cidade, devido à ausência de informações mais detalhadas
tornou-se necessário à realização de uma pesquisa de campo com o propósito de
fazer um levantamento dos pontos da cidade que contém esgoto a céu aberto e pontos
com rede coletora pública, como também observar a trajetória e o destino final dos
resíduos líquidos e em alguns casos dos dejetos provenientes dos domicílios.
Os pontos foram primeiramente destacados em um mapa impresso da cidade ao
decorrer da visita de cada bairro. Após a obtenção dos dados necessários começou a
ser construído o mapa de esgotamento sanitário da cidade com o auxilio do software
AutoCAD. Utilizando a base do mapa fornecido pela CAERN, foram destacados os
pontos com rede de esgoto a céu aberto em áreas calçadas, os pontos que contem
esgoto a céu aberto, porém que não contam com calçamento, como também o seu
destino final. Desse modo possibilitou realizar o diagnóstico da situação atual da cidade
na área de esgotamento sanitário.
Mapa de drenagem de águas pluviais
Juntamente com a consulta realizada para a obtenção de dados sobre o
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
39
esgotamento sanitário junto à PMC foi realizada a consulta sobre a drenagem de águas
pluviais da cidade e, devido ao mesmo motivo de falta de informações, foi necessária
a realização de uma pesquisa de campo, a fim de identificar os pontos que continham
algum tipo de sistema de drenagem e qual o destino da água coletada pelo mesmo.
Os pontos foram primeiramente destacados em um mapa impresso da cidade ao
decorrer da visita de cada bairro. Após a obtenção de todos os dados necessários o
mapa referente à drenagem de águas da cidade começou a ser construído no software
AutoCAD, também utilizando o mapa fornecido pela CAERN foram destacados os
pontos que continham alguma forma de drenagem como também o destino final da
água coleta. Viabilizando a realização de uma análise mais precisa sobre a drenagem
urbana da cidade.
4 | RESULTADOS
O município de Caraúbas situado no Estado Rio Grande do Norte pertence
geograficamente à mesorregião Oeste Potiguar, inserida na microrregião Chapada do
Apodi. De acordo com o censo de 2010, realizado pelo IBGE, esse município possuía
uma população total de 19.576 habitantes com um total de 13.704 residindo na área
urbana e 5.872 na área rural. Esse trabalho foi realizado apenas na área urbana.
Abastecimento de água
O abastecimento de água da cidade de Caraúbas é realizado pela CAERN,
toda a água que é fornecida é proveniente de poços tubulares, pertencentes à Bacia
Hidrográfica Apodi/Mossoró. A figura 1 ilustra a atual situação da rede de abastecimento
da cidade.
Atualmente o sistema de abastecimento da cidade conta com um reservatório
em funcionamento, com vazão estimada de 100 m³ de água por hora, e dois que estão
inoperantes, devido a falhas na sua construção.
Segundo dados do censo de 2010 realizado pelo IBGE, somente 81,62% da
população total de Caraúbas contam com o abastecimento de água, porém 100%
da população urbana da cidade é beneficiada com esse sistema, deixando o déficit
presente nas áreas rurais.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
40
Figura 1 – Distribuição Espacial do Atual Abastecimento da Cidade de Caraúbas/RN
Segundo dados do censo de 2010 realizado pelo IBGE, somente 81,62% da
população total de Caraúbas contam com o abastecimento de água, porém 100%
da população urbana da cidade é beneficiada com esse sistema, deixando o déficit
presente nas áreas rurais.
Apesar de todos os habitantes que residem no perímetro urbano do município
terem acesso a água potável em sua residência, a rede de abastecimento ainda
apresenta déficits, que acabam por prejudicar a população, falhas no planejamento de
distribuição, como também a existência de apenas um reservatório operante, deixam
muitas vezes os habitantes sem acesso a água em suas residências.
Esgotamento Sanitário
Após as pesquisas junto a PMC e de campo, foi possível analisar que a cidade
conta com um único canal, o qual recebe todos os resíduos líquidos dos domicílios
e dejetos de algumas residências, em sua maioria os esgotos correm a céu aberto
até chegarem ao canal ou a corpos d’água, não sendo identificado nenhum ponto
com rede publica de esgoto. A figura 2 representa o mapa com a atual situação do
esgotamento sanitário da cidade.
Os trechos calçados apresentam sarjetas que conduzem os resíduos até o
canal, nos pontos em que a cidade não é calçada os esgotos são direcionados para
as ruas, onde acabam por ocasionar erosão no solo e expor a população a possíveis
doenças. Todos os resíduos e dejetos direcionados para o canal são transportados
para um corpo d’água denominado de açude de Deusdeti, o esgoto é laçado no
açude sem passar por nenhum tipo de tratamento. As figuras 3, 4, 5 e 6 representam
alguns dos pontos do esgotamento sanitário da cidade.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
41
Figura 2 – Distribuição Espacial do Esgoto Sanitário na Zona Urbana
Figura 3 – Área com esgoto a céu aberto em
ruas não calçada no bairro Leandro Bezerra
Figura 5 – Canal de Esgoto (Centro)
Figura 4 – Área com esgoto a céu aberto em
rua calçada no bairro Sebastião Maltez
Figura 6 – Corpo d’água direcionado para o
canal principal (Bairro Centro)
De acordo com o censo de 2010 realizado pelo IBGE na cidade de Caraúbas,
somente 12,7% dos domicílios são beneficiados com uma rede de esgotamento
sanitário, porém no estudo realizado não foram encontradas residências com tal rede,
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
42
foram encontradas apenas residências que continham ligações precárias a corpos de
água ou ao canal.
É possível notar nitidamente a precariedade do sistema de esgotamento do
município, a forma como o esgoto é disposto nas ruas expõe a população a riscos
de saúde e agride gravemente o ambiente, o sistema de esgotamento sanitário é de
essencial importância para o saneamento básico, o qual é direito assegura pela Lei do
Saneamento para toda a população brasileira.
Drenagem de águas pluviais
A figura 7 mostra a atual situação da drenagem urbana da cidade de Caraúbas/
RN, que atualmente é concentrada apenas no ponto mostrado.
Após a conclusão do mapa de drenagem de Caraúbas/RN e comparação
com a literatura, foi possível analisar que o município dispõe de um sistema de
microdrenagem, foram analisados também as medidas de drenagem aplicadas
na cidade, onde foi possível notar que a cidade não conta com qualquer medida
estrutural, sendo presente apenas duas medias não estruturais, que são elas a
varrição das ruas e a coleta de resíduos sólidos.
Foram contabilizadas na cidade um total de 20 bocas de lobo visíveis, que são
ligadas diretamente com o sistema de esgotamento, as águas pluviais captadas tem
como destino o mesmo local que os resíduos do esgotamento sanitário.
Figura 7 – Distribuição Espacial da Drenagem – Ampliada
É perceptível que o atual sistema de drenagem do município é precário e quase
inexistente, é nítida a ausência de quase todas as medidas tomadas para a drenagem,
os poucos meios de escoamento de água presentes na cidade encontra- se em
péssimo estado e sem qualquer manutenção.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
43
5 | CONCLUSÃO
Como discutido no decorrer deste trabalho é inegável a importância dos serviços
de saneamento básico para a saúde da população e preservação do meio ambiente, a
gestão de águas urbanas abrange parte essencial desses serviços, visto que engloba
o abastecimento de água, esgotamento sanitário e drenagem urbana.
A falta de saneamento afeta grande parte da população brasileira, em especial
as Regiões Norte e Nordeste, agravando-se mais ainda quando se trata de cidades
com população inferior a 50.000 habitantes. Com base nos resultados apresentados
no decorrer do trabalho pode-se afirmar que o município de Caraúbas/RN não foge
desse padrão. A gestão de água urbanas no munícipio apresenta sérios déficits.
Apesar do abastecimento de água na zona urbana do município poder ser
considerado satisfatório por alcançar 100 % da população, o mesmo ainda apresenta
falhas que acabam por prejudicar os habitantes. Logo, atende qualidade, porém em
quantidade deixa a desejar.
No que diz respeito ao esgotamento sanitário, mais uma vez observa-se
precariedade dos sistemas, sem cobertura de rede coletora e tratamento das águas
residuárias geradas na região.
Quanto à drenagem urbana, das medidas indicadas na literatura, percebeu-se
que existe uma disponibilidade mínima, oferecendo apenas medidas não estruturais.
De modo geral pode-se ser observado neste trabalho que o cenário da gestão de
águas urbanas no município de Caraúbas/RN de acordo com as leis em vigor encontra-
se em uma situação precária tanto municipal quanto populacional, negligenciando
dessa forma serviços que são direitos da população.
O presente trabalho pode ser de grande relevância na elaboração do Plano
Municipal de Saneamento da cidade de Caraúbas/RN que ainda se encontra em
fazer inicial e sem a presença de qualquer diagnostico da atual situação da cidade, os
resultados obtidos nesta pesquisa poderiam agilizar a finalização do referente plano.
REFERÊNCIAS
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de esgoto sanitário. 1 ed. Rio de Janeiro, 1986.
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de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de
1978; e dá outras providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/
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Capítulo 4
44
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SUL. Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2003.
TUCCI, Carlos E. M.. Hidrologia: Ciência e Aplicação. 3. ed. Porto Alegre: Ufrgs, 2013.,
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 4
45
CAPÍTULO 5
CALIBRAÇÃO DO FATOR DE ATRITO EM REDES DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Alessandro de Araújo Bezerra
Universidade Federal do Piauí, Departamento
de Recursos Hídricos, Geotecnia e Saneamento
Ambiental, Teresina – PI
Renata Shirley de Andrade Araújo
Universidade Federal do Piauí, Departamento
de Recursos Hídricos, Geotecnia e Saneamento
Ambiental, Teresina – PI
Marco Aurélio Holanda de Castro
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia Hidráulica e Ambiental, Fortaleza –
CE
RESUMO: Este capítulo tem como objetivo
a apresentação de uma aplicação da nova
equação para calibração do fator de atrito de
Darcy-Weisbach através do uso do Método
Iterativo do Gradiente Hidráulico Alternativo
(MIGHA), em redes de distribuição de água.
A equação é baseada na proporcionalidade
entre o elemento calibrado, o fator de atrito,
e o gradiente hidráulico. Após calibrado o
fator de atrito de todos os trechos da rede, a
rugosidade absoluta é calculada. O método foi
aplicado através de um software desenvolvido
com o auxílio da biblioteca Epanet2.dll como
simulador hidráulico da rede. A rede considerada
é uma rede fictícia que já apresenta resultados
de calibração através da aplicação de outro
método. Por fim, os resultados encontrados
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
através da calibração com o MIGHA foram
comparados com os resultados encontrados em
um trabalho científico que utilizou o renomado
método dos algoritmos genéticos. Através da
comparação pôde-se perceber que o MIGHA
não apresentou os melhores resultados, no
entanto, os resultados podem ser considerados
tão bons quanto os encontrados com uso dos
algoritmos genéticos e com segundos como
tempo de processamento.
PALAVRAS-CHAVE:
Fator
de
atrito;
Calibração; MIGHA.
CALIBRATION OF THE FRICTION FACTOR
IN WATER DISTRIBUTION NETWORKS
ABSTRACT: This chapter aims to present an
application of a new equation for calibration
of the Darcy-Weisbach friction factor through
the use of the Alternative Hydraulic Gradient
Iterative Method in water distribution networks.
The equation is based on the proportionality
between the calibrated element, the friction
factor, and the hydraulic gradient. After
calibrating the friction factor of all sections
of the net, absolute roughness is calculated.
The method was applied through a software
developed with the aid of the Epanet2.dll library
as a hydraulic simulator of the network. The
network considered is a fictitious network that
Capítulo 5
46
already presents calibration results through the application of another method. Finally,
the results obtained through the calibration with the proposed method were compared
with the results found in a scientific paper that used the renowned method of genetic
algorithms. Through the comparison it was possible to see that the proposed method
did not present the best results, however, the results can be considered as good as
those found using genetic algorithms and with seconds as processing time.
KEYWORDS: Friction factor; Calibration; MIGHA.
1 | INTRODUÇÃO
A água é e sempre foi extremamente importante para a vida humana. Para
Wolkmer e Pimmel (2013), a água é um patrimônio estratégico, sendo mais do que
um recurso imprescindível ao desenvolvimento econômico e social, é um elemento
vital para a conservação dos ecossistemas e da vida de todos os seres em nosso
planeta. Dessa forma, as populações antigas buscavam viver o mais próximo possível
desse tão importante recurso. Desprovidos de tecnologia avançada, este elemento
precisava ser buscado em rios, córregos ou riachos para satisfazer as necessidades
dos habitantes.
Já nos tempos atuais, dispõe-se de redes de distribuição de água. Estes
elementos de um sistema de abastecimento tornam possível a distribuição de água
em todas as residências onde vivem os consumidores deste recurso. As redes de
distribuição de água são compostas de tubulações, conexões e outras peças acessórias
com a finalidade de distribuir água ao consumidor final. Para Gomes e Formiga (2001),
as redes de distribuição são os componentes responsáveis por levar a água ao usuário
final, nos sistemas de abastecimento de água, de comunidades urbanas e rurais. Uma
definição similar, porém mais antiga, foi proposta por Dacach (1967), para ele, uma
rede de distribuição é um elemento que se constitui de tubulações que distribuem
água, atendendo aos diversos pontos de consumo. Uma forma mais completa pode
ser vista em Tsutiya (2006) e Heller e Pádua (2010), que definem rede de distribuição
de água como a parte do sistema de abastecimento formada por tubulações e órgãos
acessórios instalados em logradouros públicos com o objetivo de fornecer água
potável em quantidade, qualidade, pressões adequadas e de forma contínua aos
consumidores, sejam esses residenciais, comerciais, industriais ou de serviço.
Rao e Salomons (2007) explicam que cada rede de distribuição de água
compreende uma configuração única de tubos interconectados, tanques de
armazenamento, estações de bombeamento e câmaras de válvulas, que está sujeita a
exigências muito variáveis que não podem ser previstas com grande grau de certeza.
Ainda, as redes de distribuição são compostas por tubos e conexões que podem ser
de vários materiais em que alguns destes materiais são muito lisos e apresentam
rugosidades absolutas extremamente pequenas. Assim, na fabricação destes tubos,
essas rugosidades não se apresentam de forma constante ao longo do tubo, além
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 5
47
disso, cada tubo fabricado apresenta rugosidades diferentes, uma vez que a perfeita
reprodução das rugosidades das tubulações é muito difícil. Isso explica o motivo de
as pressões de funcionamento da rede não coincidir com as pressões previstas no
simulador hidráulico.
Ao iniciar o funcionamento da rede, o atrito entre a água e as tubulações
danifica os condutos, por este motivo existem limites máximos de velocidade. Com
o limite máximo de velocidade atendido, o desgaste do conduto ocorre de forma
lenta, no entanto, com o passar dos anos, esse desgaste se torna grande o suficiente
para alterar de forma considerável a rugosidade das paredes das tubulações e,
consequentemente, gerar variações nas pressões e vazões. Isso pode ocasionar o não
atendimento adequado ao usuário do sistema pela rede de distribuição, atendimento
este, previsto na simulação hidráulica da rede.
Assim, para que se possa simular, computacionalmente, de forma adequada
uma rede de distribuição, seja esta uma rede recém implantada ou uma rede antiga,
é necessário que haja a calibração dos coeficientes da rede de distribuição. Cheng
e He (2011), afirmam que sem uma estimativa apropriada dos parâmetros, um
modelo numérico não pode simular adequadamente a realidade, havendo, na prática,
diferenças entre os comportamentos de modelos previstos e de sistemas reais em
campo. A calibração de uma rede de distribuição visa à adequação de um modelo
computacional para que este possa simular a rede estudada com base em dados
observados da rede real.
Solomatine et al. (1999) consideram que o objetivo da calibração de qualquer
modelo físico é encontrar parâmetros, em um modelo, os quais não são conhecidos
a priori. Segundo Soares et al. (2004), a calibração visa ao ajuste dos parâmetros
do sistema de tal forma que os desvios entre os dados simulados e observados em
campo sejam minimizados. Cheng e He (2011) explicam que a calibração de modelos
computacionais é definida como o processo de ajuste de dados descrevendo o modelo
matemático do sistema até que os desempenhos observados, tipicamente pressões
e taxas de fluxo, estejam razoavelmente de acordo com os desempenhos calculados
por computador em uma ampla gama de condições operacionais.
Para Walski (1983), uma definição mais precisa para calibração de um modelo
de distribuição de água consiste em um processo de dois passos, no qual, o primeiro,
consiste na comparação de pressões e vazões calculadas com as observadas em
condições de operação do sistema e, o segundo, no ajuste dos dados de entrada do
modelo para que haja concordância entre o modelo calculado e o sistema observado.
Os métodos implícitos ou de otimização, que buscam a minimização de uma
função objetivo, são muito utilizados nos processos de calibração. Entre estes
métodos está o Método Iterativo do Gradiente Hidráulico Alternativo (MIGHA) que foi
desenvolvido para calibração da transmissividade no escoamento subterrâneo por
Schuster e Araújo (2004) e, posteriormente, adaptado para redes de distribuição de
água, primeiramente por Rocha et al. (2009), para a calibração do coeficiente C de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 5
48
Hazen-Williams.
Rocha et al. (2009) consideram o uso de redes de distribuição as quais foram
chamadas de Rede Calculada e Rede Observada. No caso do uso de uma rede fictícia,
os autores definiram, ainda, uma rede denominada Rede Gabarito.
Rede Calculada é a rede a qual serão realizados os cálculos hidráulicos e
obtidos os resultados calculados. Parâmetros iniciais estimados são usados e, a cada
iteração, com base no valor dos gradientes hidráulicos calculados obtidos nessa rede,
esses parâmetros são alterados, gerando novos resultados, cada vez mais próximos
dos medidos em campo.
Rede Observada é a rede que apresenta os mesmos parâmetros iniciais
da rede calculada, no entanto, possui pressões fixadas de acordo com os dados
conhecidos. Além disso, são obtidos valores de gradientes hidráulicos observados
para cada trecho e, esses valores, podem ser diferentes a cada iteração, dependendo
da forma de calibração do MIGHA utilizada;
Rede Gabarito é uma rede fictícia na qual todos os parâmetros de entrada e
resultados hidráulicos são conhecidos. Pode ser utilizada como base para conferir os
resultados encontrados com o uso do método.
Assim, o principal objetivo deste trabalho é a apresentação de uma aplicação
da nova equação para calibração do fator de atrito de Darcy-Weisbach através do
uso do Método Iterativo do Gradiente Hidráulico Alternativo (MIGHA), apresentada em
Bezerra et al. (2017), na rede de distribuição fictícia conhecida como Walski (1983) –
Gambale (2000) e a comparação dos resultados com os resultados obtidos através de
algoritmos genéticos no trabalho de Silva (2006).
2 | METODOLOGIA
2.1 Equação MIGHA utilizada para a calibração do fator de atrito
Como o fator de atrito f da fórmula universal da perda de carga é diretamente
proporcional ao gradiente hidráulico, a adaptação MIGHA para a calibração do fator
de atrito da equação de Darcy-Weisbach em redes de distribuição de água ocorre de
acordo com a Equação 1.
(1)
Em que f é o fator de atrito, i é o número da iteração, j é a identificação do trecho,
é o gradiente hidráulico calculado e
é o gradiente hidráulico observado.
Para o cálculo da rugosidade absoluta, esta foi isolada na fórmula de Swamee-
Jain e apresentada na Equação 2, uma vez que o simulador hidráulico utilizado, o
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 5
49
Epanet, utiliza esta equação para o cálculo do fator de atrito.
(2)
O software desenvolvido realiza a calibração através do fluxograma
apresentado na Figura 1.
Figura 1 – Fluxograma do processo MIGHA para a calibração do fator de atrito e cálculo da
rugosidade absoluta de Darcy-Weisbach
2.2 Rede de distribuição utilizada
A rede de distribuição utilizada, apresentada na Figura 2, é do tipo malhada e
foi proposta por Walski (1983) e modificada por Gambale (2000). A rede apresenta 10
trechos e 7 nós. Os gabaritos referentes aos trechos e nós desta rede são apresentados
nas Tabelas 1 e 2. As simulações realizadas para obtenção do gabarito tinham como
cota do nível d’água do reservatório o valor 60,0 m.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 5
50
Figura 2 – Rede Walski (1983) – Gambale (2000)
Nome
1º
Nó
2º
Nó
Comp.
(m)
Diâmetro
(mm)
1
1
2
700
500
3
2
4
1520
400
2
4
5
6
7
8
9
10
2
2
7
3
1800
7
1220
8
7
4
4
5
1220
3
300
3
6
600
6
6
5
250
Gradiente
Hidráulico
0,09
1,2
363,5
0,00511
0,2
41,9
1,85
188,68
1,5
4,8
37,5
200
1,2
150
200
1220
Velocidade
(m/s)
0,12
250
600
Vazão
(L/s)
300
300
920
Rug.
abs.
(mm)
100
0,85
0,00455
132,92
1,88
0,01022
15,42
0,49
0,5
1
6,5
7,8
62,15
6,53
-12,43
-2,43
0,53
1,27
0,37
0,4
0,31
0,00507
0,00216
0,00204
0,00789
0,00162
0,00238
0,00438
Tabela 1 – Gabarito referente aos trechos: Rede Walski (1983) – Gambale (2000)
Nó
Consumo (L/s)
Carga Hidráulica (m)
Pressão (m)
2
0
56,44
56,42
4
120
48,72
48,72
6
80
3
5
7
8
36
10
80
37,5
48,37
47,03
41,8
44,12
42,88
48,24
46,81
41,46
43,95
42,66
Tabela 2 – Gabarito referente aos nós: Rede Walski (1983) – Gambale (2000)
2.3 Comparação entre o MIGHA e algoritmos genéticos
Utilizando o MIGHA, os fatores de atrito dos trechos da rede de distribuição
foram calibrados e suas rugosidades absolutas foram calculadas através da fórmula
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 5
51
de Swamee-Jain. A calibração através do MIGHA se deu com a utilização de uma
rugosidade absoluta igual a 0,006 mm em todos os trechos da rede trabalhada. Foram
considerados um número máximo de 100 iterações.
Já em Silva (2006), utilizando algoritmos genéticos, o autor calibrou a rugosidade
absoluta de Darcy-Weisbach. Para este elemento da rede calibrado, os parâmetros
utilizados pelo autor foram substituição de indivíduos do tipo steady-state, seleção tipo
torneio, mutação gaussiana, recombinação aleatória dos operadores a cada geração
e uma população de 2.000 indivíduos com 100 gerações.
rede.
Nos dois casos foram consideradas pressões conhecidas em todos os nós da
3 | RESULTADOS
Para a calibração da rugosidade absoluta através de Algoritmos Genéticos
e calibração do fator de atrito com uso do MIGHA, tanto as pressões quanto as
rugosidades absolutas encontradas com uso da equação MIGHA utilizada neste
trabalho foram piores que as encontradas em Silva (2006), com uso de Algoritmos
Genéticos. Na Tabela 3 pode ser vista a comparação entre as pressões encontradas
com calibrações realizadas com uso de Algoritmos Genéticos e obtidas através do
MIGHA, além de seus erros relativos.
A comparação entre as rugosidades absoltas encontradas, além de seus erros
relativos, entre as duas metodologias pode ser vista na Tabela 4.
Pressões (m)
Nó
Gabarito
AG
MIGHA
Erro (%) AG
Erro (%) MIGHA
2
56,42
56,42
56,43
0,00
0.02
4
48,72
48,73
48,72
0,02
0.00
3
5
6
7
8
48,24
46,81
41,46
43,95
42,66
48,21
46,77
41,42
43,95
42,66
48,37
47,03
41,8
44,12
42,88
Erro (%) médio:
0,06
0,09
0,10
0,00
0,00
0,04
0.27
0.47
0.82
0.39
0.52
0,35
Tabela 3 – Comparação entre as pressões encontradas com calibrações realizadas com uso de
Algoritmos Genéticos e obtidas através do MIGHA
Trecho
Gabarito
AG
MIGHA
Erro (%) AG
Erro (%) MIGHA
1
0,09
0,091
0,088
1,11
2,51
3
0,2
0,19
0,221
2
1,2
1,092
4
0,12
0,135
6
1,2
2,307
5
4,8
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
4,759
0,483
9,00
59,74
0,150
12,50
24,93
4,372
92,25
4,253
5,00
0,85
10,62
11,39
264,35
Capítulo 5
52
7
0,5
0,455
0,346
9
6,5
5,614
2,228
8
10
1
7,8
1,424
3,717
9,00
30,83
7,659
42,40
665,91
0,105
52,35
98,65
Erro (%) médio:
13,63
65,72
23,81
123,47
Tabela 4 – Comparação entre as rugosidades absolutas encontradas com calibrações
realizadas com uso de Algoritmos Genéticos e obtidas através do MIGHA
Percebe-se que, apesar de as pressões encontradas com a calibração realizada
através do MIGHA possuírem valores mais distantes do gabarito que as encontradas
através de Algoritmos Genéticos, exceto para o nó 4, os erros relativos calculados
são menores que 1% em todos os nós, ou seja, apesar de o pior entre os testados,
os resultados ainda são bons. Já no caso das rugosidades absolutas encontradas,
os resultados calculados através do MIGHA não foram melhores em nenhum trecho
da rede e, de forma geral, não foram bons com o uso de nenhum dos dois métodos,
sendo, pior, quando calculados através do MIGHA.
Assim, percebe-se que, apesar de gerar excelentes resultados para as pressões,
o método proposto não obteve as melhores rugosidades. No entanto, é válido considerar
que o método MIGHA foi comparado com os melhores resultados obtidos por Silva
(2006). Além disso, já é sabido que há uma necessidade de um elevado tempo de
processamento do uso do Método de Algoritmos Genéticos e, para a calibração da
rede Walski (1983) – Gambale (2000) com uso do MIGHA, o tempo de processamento
foi inferior a 3 segundos, sendo necessário 4 iterações para chegar ao valor de função
objetivo igual a 0,0000000001.
4 | CONCLUSÕES
O MIGHA foi comparado com a metodologia de Algoritmos Genéticos e, pôde-
se perceber que as melhores pressões foram encontradas através de Algoritmos
Genéticos, no entanto, as diferenças entre as pressões calculadas através do MIGHA
e as pressões observadas/gabarito foram menores que 1%, o que mostra que, apesar
de não ser o melhor resultado, este também foi muito bom. Quanto as rugosidades
encontradas, os resultados foram inferiores aos de Algoritmos Genéticos, entretanto,
com um tempo de processamento bem melhor. Assim, o uso do MIGHA não gera os
melhores resultados, mas bons resultados em pouco tempo.
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 5
54
CAPÍTULO 6
AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DE ALTERNATIVAS DE
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO, SOB ASPECTOS DE
RESILIÊNCIA A INUNDAÇÕES E REQUALIFICAÇÃO
AMBIENTAL
Bruna Peres Battemarco
Programa de Engenharia Civil – COPPE/UFRJ
Rio de Janeiro - RJ
Lilian Marie Tenório Yamamoto
Escola Politécnica – POLI/UFRJ
Rio de Janeiro - RJ
Aline Pires Veról
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura –
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFRJ e
Programa de Engenharia Civil – COPPE/UFRJ
Rio de Janeiro - RJ
Marcelo Gomes Miguez
Programa de Engenharia Civil - COPPE/UFRJ e
Programa de Engenharia Ambiental, Programa de
Engenharia Urbana - Escola Politécnica – POLI/
UFRJ
Rio de Janeiro - RJ
RESUMO: Ao longo dos anos, a visão
tradicional do projeto de drenagem vem
sofrendo modificações que visam articular
o projeto de drenagem com a paisagem
urbana por meio do manejo sustentável de
águas pluviais, resgatando características
hidrológicas naturais. Assim, este trabalho
propõe a utilização de um quadro metodológico
para avaliar quantitativamente os impactos, sob
o ponto de vista da resiliência a inundações
e da requalificação ambiental, de diferentes
situações de uso e ocupação do solo em
uma bacia hidrográfica, considerando desde
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
uma urbanização irregular até uma alternativa
sustentável. Para tal, utiliza-se a modelagem
matemática hidrodinâmica como ferramenta de
suporte, para obter dados do comportamento
das inundações na bacia, em cada cenário.
Realiza-se também a aplicação do Índice de
Resiliência a Inundações (IRES) e o Índice de
Requalificação Fluvial (REFLU) para a avaliação
da resiliência a inundações e da requalificação
ambiental, respectivamente. Como resultado,
obtém-se valores de índices que confirmam
as expectativas iniciais, nas quais a alternativa
com medidas de desenvolvimento sustentável
apresenta maior resiliência a inundações
e maior requalificação ambiental, quando
comparado a cenários caracterizados por uma
ocupação sem controle.
PALAVRAS-CHAVE:
Desenvolvimento
Urbano Sustentável; Resiliência a Inundações;
Requalificação Ambiental.
QUANTITATIVE EVALUATION OF LAND
USE ALTERNATIVES, UNDER FLOOD
RESILIENCE AND ENVIRONMENTAL
RESTORATION ASPECTS
ABSTRACT: The classical drainage design
has gone through several modifications aiming
to articulate the drainage design with the
urban landscape by developing a sustainable
Capítulo 6
55
stormwaters management, recovering the natural hydrological characteristic. This
project aims to propose a framework to measure the impacts of different alternatives
of land use and occupation on a watershed, from the point of view of flood resilience
and environmental restoration, considering scenarios varying from an uncontrolled
urbanization scenario to a sustainable one. In order to map the watershed flood behavior
in each scenario, a hydrodynamic mathematical modelling tool was used to support
this task. The Flood Resilience Index (FResI) and the Urban River Restoration Index
(URRIx) were also applied for flood resilience and environmental restoration analysis,
respectively. As a result, the obtained indexes values confirm the initial expectations,
in which the situation with sustainable development measures shows greater flood
resilience and also greater environmental restoration results, when compared with
scenarios characterized by an occupation without control.
KEYWORDS: Sustainable Urban Development; Flood Resilience; Environmental
Restoration.
1 | INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a maneira de lidar com as inundações urbanas vem sofrendo
uma mudança de paradigma. Essa mudança leva a discussão a migrar da tradicional
proteção contra inundações para o conceito de gestão dos riscos de inundação. Com a
nova abordagem, torna-se mais clara a necessidade de integração setorial no processo
de pensar e planejar as cidades. Destaca-se que a urbanização abre dois caminhos
possíveis: um que gera oportunidades para o desenvolvimento sustentável e outro
que aumenta o risco de desastres, a partir do momento que aumenta a exposição e a
vulnerabilidade às inundações (UNISDR, 2017).
No sentido contrário à materialização do risco, desenvolve-se a atuação da
resiliência. Segundo a Estratégia Internacional para a Redução de Desastres – UNISDR
(2009) e Jha et al. (2012), resiliência é a capacidade de um sistema, comunidade ou
sociedade exposta a um perigo de resistir, absorver, adaptar e recuperar de seus efeitos
de maneira rápida e eficaz, incluindo a preservação e restauração de suas estruturas
e funções básicas. Como ressaltado por Veról (2013), o aumento da resiliência
das cidades pode ser obtido preparando a cidade para um melhor convívio com as
cheias, a partir de um zoneamento de inundações, por exemplo, ou ainda diminuindo
a geração de escoamentos provocados pela transformação da chuva em vazão e
reorganizando os padrões de escoamento das vazões resultantes. Esse caminho de
ação incorpora medidas de controle de escoamento na fonte, com a implantação de
medidas de armazenamento e infiltração nos espaços públicos, por exemplo, como
paisagens multifuncionais e infraestruturas verdes, em nível de loteamento, e ações
de requalificação fluvial, na escala da bacia, entre outras possibilidades. A resiliência
pode crescer pela adaptação do sistema para gerar menores inundações.
A requalificação fluvial, por sua vez, trata de um conjunto de ações sinérgicas,
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
56
que procuram agregar valor ambiental e ecológico aos rios, abordando quatro
elementos principais: risco hidráulico e controle de cheias, qualidade da água,
equilíbrio morfológico e recuperação dos ecossistemas fluviais. É uma prática que
busca recuperar (algumas) características naturais dos corpos hídricos, procurando
satisfazer também objetivos socioeconômicos e proporcionando, assim, benefícios
para uso recreativo ou lazer, aspectos que agregam valor para a sociedade (CIRF,
2006). O seu objetivo global é obter um curso d’água com melhor qualidade ambiental.
Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar, de forma
quantitativa, diferentes alternativas de uso e ocupação do solo em uma bacia hidrográfica
ainda em processo de urbanização e com vários desdobramentos possíveis, sob o
ponto de vista de aumento da resiliência a inundações e da requalificação ambiental.
2 | ESTUDO DE CASO: VARGEM GRANDE, RIO DE JANEIRO
O foco deste trabalho recai em Vargem Grande, Bairro da Zona Oeste da cidade
do Rio de Janeiro. Vargem Grande está inserida na região da Baixada de Jacarepaguá
e é uma área ambientalmente sensível, que se caracteriza, principalmente, pela
existência de vegetação nativa, uma rede hidrográfica densa e a oferta de muitos
espaços livres de edificações. Também possui cotas próximas ao nível do mar, o que
a torna propensa a sofrer inundações. Apesar disso, essa área também se configura
como vetor de expansão urbana da cidade. Para fins de avaliação do impacto de
diferentes alternativas de uso e ocupação do solo, optou-se por delimitar uma área, de
aproximadamente 500 hectares, situada na sub-bacia da Zona dos Canais (Figura 1).
Figura 1 – Localização da área de estudo (BATTEMARCO et al., 2018)
Diferentes alternativas de uso e ocupação do solo foram consideradas para fins
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
57
de avaliação comparativa do comportamento destas formas de ocupação. A Alternativa
de Urbanização sem Controle (Figura 2 (a)) é caracterizada por altos índices de
impermeabilização do solo, intensificação da ocupação irregular nas margens dos rios e
alta densidade habitacional. Já a alternativa de Urbanização Conforme Padrão da Orla
Local (Figura 2 (b)), supõe que, em um contexto futuro, poder-se-ia expandir o padrão
de urbanização consolidado na parte costeira, no bairro do Recreio dos Bandeirantes,
que mesmo respondendo a uma legislação formal pode conter deficiências, no que
tange à sustentabilidade e à efetividade da drenagem.
(a) Sem Controle
(b) Padrão da Orla Local
Figura 2 - Alternativas de Uso e Ocupação do Solo Consideradas
A Alternativa de Urbanização Sustentável (Figura 3), por sua vez, considera
a conservação ou recuperação da Faixa Marginal de Proteção nos canais, quando
possível, com a implantação de áreas de lazer e convívio para a população,
consolidando parques lineares. Simultaneamente, esses parques reservam espaço
para receber eventual extravasamento do rio e, portanto, produzem um amortecimento
de cheia. Para garantir sua eficácia, o projeto propõe a realocação da população
que atualmente habita dentro da calha secundária do Canal Sernambetiba e sofre
prejuízos com eventuais inundações, para uma área do novo loteamento dotada
de infraestrutura e capaz de acolher estes habitantes com qualidade. É importante
ressaltar que os parques lineares propostos formam verdadeiros corredores verdes
urbanos, promovendo a integração do Parque Estadual da Pedra Branca até a Praia
da Macumba.
Outra proposta é conectar os espaços recém formalizados por meio de
highlines, que são caminhos elevados que promovem o fluxo de pedestres ao
longo do parque, atraindo o lazer ecológico. Além disso, foram previstos pequenos
corredores verdes entre lotes, a implantação de aterros na cota mínima de segurança
(2m) e o remanejamento do Museu Casa do Pontal para um ponto nodal do projeto,
estabelecendo um centro de referência cultural.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
58
Figura 3 - Alternativa de Urbanização Sustentável (VERÓL et al., 2018a)
3 | METODOLOGIA
A ferramenta de modelagem matemática MODCEL (MASCARENHAS E MIGUEZ,
2002; MIGUEZ et al., 2017) foi usada para definir mapas de inundação. A discretização
da bacia compreendeu 800 células (Figura 4 (a)) na simulação da situação atual,
bem como das alternativas sem controle e conforme padrão da orla local. Já para
a alternativa de urbanização sustentável, o número total de células utilizadas para
representação da área de estudo foi de 1046 (Figura 4 (b)). As alternativas foram
simuladas considerando um tempo de recorrência de 25 anos, referência do Ministério
das Cidades para projetos de macrodrenagem, e duração da chuva de projeto igual a
125 minutos, condizente ao tempo de concentração da bacia. Ao todo, foram utilizadas
quatro condições de contorno: três de vazão e uma de nível, representativa da maré
local.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
59
(b)
(a)
Figura 4 - Divisão de Células: (a) Situação Atual e Alternativas Sem Controle e Conforme o
Padrão da Orla; (b) Alternativa de Urbanização Sustentável
A avaliação quantitativa da resiliência foi feita com o Índice de Resiliência a
Inundações – IRES (TEBALDI et al., 2015; BERTILSSON; WIKLUND, 2015). O IRES é
um índice quantitativo multicritério com variação de 0 a 1 em uma escala normalizada
(quanto mais próximo de 1, mais resiliente). Sua metodologia se baseia no conceito
de minimização do Risco, combinando seus componentes básicos de perigo e
vulnerabilidade, considerados no sentido contrário de sua efetiva materialização. Com
isso, o índice conjuga seis subíndices, referentes às características de inundação,
idade da população afetada, vulnerabilidade, valor relativo e exposição, agrupados em
um somatório (Equação 1).
(1)
Onde:
•
IRES - Índice de Resiliência a Inundações;
• ɪp- Subíndice “Perigo”, correspondente à lâmina d’água dentro das edificações, em uma dada área, capaz de gerar dados, dependendo da altura atingida;
• ɪE- Subíndice “Exposição”, relativo à densidade de domicílios presente nas
áreas inundáveis;
• ɪs - Subíndice “Susceptibilidade”, relativo às edificações efetivamente afetadas pelas cheias (casa e pavimentos térreos de edifícios) nas áreas inundáveis;
• ɪVR- Subíndice “Valor Relativo”, relativo às perdas provocadas pela inundação, sofridas pela população local, divididas pela renda familiar, indicando
a importância relativa das perdas provocadas pela inundação, quando comparada a capacidade de reposição da população, indicada pela sua renda;
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
60
• ɪFP– Subíndice “Fator de Permanência”, relativo ao tempo de alagamento
mantido acima de determinadas lâminas de referência, associadas a perturbações em residências e na circulação de pedestres e no tráfego;
• ɪid – Subíndice “Idade da População”, relativo ao percentual de jovens e
crianças (menores de 15 anos) e idosos (maiores de 60 anos) na população
residente na área analisada;
•
m1,m2,m3,m4 - Pesos associados a cada uma das parcelas, atribuídos em
função de sua importância relativa. O somatório dos pesos “m” deve resultar
1 (adotado: m1= m2= m3= m4= 0,25);
•
n1, n2, n3 - Pesos associados aos subíndices ɪP , ɪE , ɪs atribuídos em função
de sua importância relativa. O somatório dos pesos “n” deve resultar 1 (n1 =
0,5; n2 = n3 = 0,25, como sugestão inicial).
Dados socioeconômicos do IBGE (2010), relativos à renda familiar e classe
social, e também das edificações, foram utilizados. Também foi necessário realizar
um estudo prospectivo em relação à distribuição da população e de domicílios nas
alternativas de uso e ocupação do solo considerados.
Para a avaliação quantitativa da requalificação ambiental, foi considerado
o Índice de Requalificação Fluvial Urbana (VERÓL, 2013; VERÓL et al., 2018b),
proposto com o objetivo de medir a qualidade do sistema fluvial como sistema natural,
em bacias urbanas. O REFLU (Equação 2) varia entre 0 e 1, sendo o valor mais
próximo de 1 correspondente a uma melhor qualidade ambiental, e é composto por
quatro subíndices: Estado Geral da Bacia, Conectividades, Situação das Margens e
Mitigação de Cheia, também variáveis entre 0 e 1.
(2)
Onde:
•
REFLU – Índice de Requalificação Fluvial;
• ɪEGB – Subíndice “Estado Geral da Bacia”, relativo aos impactos da ocupação
da bacia hidrográfica relacionados ao uso do solo e a gestão de recursos
hídricos. Indicadores: “Permeabilidade” e “Saneamento”;
• ɪc – Subíndice “Conectividades”, relativo ao nível de conectividade do curso
d’água principal. Indicadores: “Conectividade Transversal”, “Conectividade
Longitudinal” e “Conectividade Vertical”;
• ɪSM – Subíndice “Situação das Margens”, relativo às extensões de margem
com configuração original e preservação de mata ciliar. Indicadores: “Margens Vegetadas” e “Margens Não Ocupadas por Casas”.
• ɪMc – Subíndice “Mitigação de Cheia”, relativo aos alagamentos nas áreas
urbanizadas. Relaciona-se o volume de alagamento no pico da cheia ao
volume total precipitado.
•
PEGB ,PC, PSM, PMC - Pesos associado aos subíndices, atribuídos em função
de sua importância relativa. O somatório dos pesos “pi” deve resultar 1 (adotado: PEGB = PC = PSM = PMC = 0,25).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
61
4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
As manchas de inundação (Figura 5) confirmam as expectativas iniciais de que
quanto mais impermeável a configuração urbana e com saídas mais limitadas para
os canais, maiores são as lâminas d’água. Como pode ser observado, as alternativas
de Urbanização sem Controle (b) e conforme Padrão da Orla Local (c) apresentam
uma inundação generalizada, com concentração das maiores lâminas d’água nas
margens dos canais e, principalmente, nas confluências entre rios. Na Alternativa de
Urbanização Sustentável, por sua vez, parques cumprem a função de reservatórios
de detenção, recebendo boa parte dos escoamentos superficiais. No entanto, ainda
é possível observar inundações espraiadas devido ao caráter plano do terreno, com
lâminas de até 0,35m, que podem ser minoradas por meio do funcionamento da rede
de microdrenagem, não representada no modelo.
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 5 - Manchas de Inundação: (a) Situação Atual; (b) Alternativa de Urbanização Sem
Controle; (c) Alternativa de Urbanização Conforme Padrão da Orla Local; (d) Alternativa de
Urbanização Sustentável
Os resultados da aplicação do Índice de Resiliência a Inundações (IRES) são
apresentados nos mapas da Figura 6, e de forma numérica, na Tabela 1. É possível
observar, através dos mapas, que as alternativas consideradas impactam diretamente
a resiliência da bacia. Como esperado, a Alternativa de Urbanização Sem Controle,
que representa a pior configuração de expansão, altera significativamente a resiliência
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
62
para uma situação pior, enquanto a que considera a Urbanização Sustentável é capaz
de até melhorar a resiliência em alguns lugares.
Figura 6 - Resultados da Aplicação do IRES com foco na área de estudo
Alternativas
Situação Atual
Urbanização Sem Controle
Urbanização Padrão Orla Local
Urbanização Sustentável
IRES - Bacia
IRES - Recorte
0,79
0,66
0,81
0,80
0,81
0,90
0,72
0,87
Tabela 1 - Resultados da Aplicação do IRES – Valores médios para a bacia e para o recorte da
área de estudo
Ao se comparar as diferentes alternativas para os valores obtidos somente no
recorte da área de estudo, onde foram introduzidas as alterações de cada expansão
considerada, pode-se observar, então, que as Alternativas de Urbanização Sem
Controle e Conforme Padrão da Orla Local são capazes de diminuir significativamente
os valores de resiliência da região, ou seja, a capacidade de recuperação da área
frente a um evento de inundação. A Alternativa de Urbanização Sustentável, por sua
vez, é capaz de praticamente manter o valor atual (com suas características naturais)
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
63
mesmo com a introdução de um projeto de loteamento e ocupação da área.
Os resultados obtidos com a aplicação do índice REFLU, apresentados na
Tabela 2, permitem concluir que as Alternativas de Urbanização sem Controle e
Conforme Padrão da Orla Local reduzem bastante as características naturais da
bacia, diminuindo assim a sua qualidade ambiental. Por outro lado, a Alternativa de
Urbanização Sustentável é capaz de conciliar a expansão urbana com o ganho de
qualidade ambiental para a bacia.
Alternativas
Situação Atual
Urbanização Sem Controle
Urbanização Padrão Orla Local
Urbanização Sustentável
REFLU
0,78
0,47
0,47
0,89
Tabela 2 - Resultado da Aplicação do Índice REFLU
A grande diferença entre os valores obtidos pode ser melhor entendida quando
se avalia o impacto de alguns subíndices no resultado final. Por exemplo, destacam-
se os subíndices “Conectividades” e “Situação das Margens”. Como na Alternativa
de Urbanização Sustentável é previsto o remanejamento de habitações irregulares
na calha do rio, promovendo maior liberdade de extravasamento, os valores de
conectividade transversal tendem a ser maiores do que na Situação Atual e nas
Alternativas de Urbanização sem Controle e Conforme Padrão da Orla Local. Além
disso, nestas últimas alternativas, os canais passam a ser concretados, fazendo com
que a conectividade vertical se iguale a 0. No que diz respeito à “Situação das Margens”,
na Alternativa de Urbanização Sustentável, tende-se ao aumento da extensão de rio
com margens vegetadas e não ocupadas por casa, mantendo ou melhorando tais
indicadores em relação a conjuntura atual. Destaca-se ainda que, embora haja impacto
na permeabilidade pelo processo de urbanização, as alterações foram realizadas em
um recorte que representa uma parcela pequena da área da bacia. Desta forma, a
presença do Parque Estadual da Pedra Branca em grande parte da bacia mantém o
valor do indicador de permeabilidade alto em todas as alternativas.
5 | CONCLUSÕES
A transição de um ambiente mais natural - situação atual - para um ambiente
urbanizado intensifica as inundações devido às alterações no uso do solo. Além disso,
é de se esperar também uma perda na qualidade ambiental dos rios e da bacia nesse
processo. Entretanto, os efeitos da urbanização podem ser minorados, por exemplo,
por meio das medidas adotadas na alternativa de urbanização sustentável, tais
como: a preservação das margens e fundos de vale, a destinação de espaços ao
amortecimento de cheia, entre outras.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
64
Os resultados obtidos com a modelagem matemática e com a aplicação do
REFLU e do IRES, permitem constatar, quantitativamente e por meio da comparação
entre os diversos cenários, a importância de um planejamento urbano que considera
o desenvolvimento sustentável, respeitando o espaço dos rios e permitindo uma
maior integração entre o ambiente natural e o ambiente construído. Com a Alternativa
de Urbanização Sustentável, observou-se um ganho ambiental e a manutenção da
resiliência atual da região, com características ainda bem naturais, mesmo com o
projeto de uma ocupação urbana.
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) [Código de Financiamento 001;
1681776]; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
[303240/2017-2].
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Capítulo 6
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 6
66
CAPÍTULO 7
MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM EDIFICAÇÕES
PÚBLICAS: ESTUDO DE CASO EM ALGUNS
TEATROS NA CIDADE DO RECIFE/PE
Carlos Fernando Gomes do Nascimento
Marcionillo de Carvalho Pedrosa Junior
Recife – Pernambuco
Recife – Pernambuco
Eduardo José Melo Lins
Maria Angélica Veiga da Silva
Recife – Pernambuco
Recife – Pernambuco
Eliana Cristina Barreto Monteiro
Mariana Santos de Siqueira Bentzen
Universidade Católica de Pernambuco
Universidade de Pernambuco
Universidade Católica de Pernambuco/
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Amanda de Morais Alves Figueira
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Universidade de Pernambuco
Universidade de Pernambuco
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Paula Gabriele Vieira Pedrosa
Universidade Maurício de Nassau
Recife – Pernambuco
Cynthia Jordão de Oliveira Santos
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Débora Cristina Pereira Valões
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Edenia Nascimento Barros
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
George da Mota Passos Neto
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Gilmar Ilário da Silva
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Lucas Rodrigues Cavalcanti
Universidade de Pernambuco
Recife – Pernambuco
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
RESUMO: Edifícios históricos demandam
uma abordagem especial no tocante à
manutenção predial. Os Teatros A e B são
edificações públicas relevantes do ponto
de vista arquitetônico, histórico e cultural
da cidade do Recife. Foram realizadas
inspeções de forma visual nos dois teatros,
tendo em vista a detecção das principais
manifestações patológicas e o diagnóstico
preliminar dos problemas que afetam a vida útil
dos mencionados edifícios. A partir dos dados
levantados e analisados foram detectadas
corrosão de armaduras, deterioração de tijolos
maciços cerâmicos, fissuras em alvenarias,
eflorescência em concreto, bolor e manchas de
infiltração. Nos dois prédios foram identificados,
Capítulo 7
67
com maior frequência no Teatro A, fissuras nas paredes, bem como problemas
causados por umidade, tendo como resultado a presença de manchas de infiltração.
É recomenda a elaboração e implantação de um plano de manutenção preventiva e
corretiva para os teatros. É necessário avaliar a espessura do cobrimento das peças
estruturais, bem como proceder à recuperação dos pontos de corrosão nas vigas. A
deterioração de tijolos das alvenarias no Teatro B exige uma ação de recuperação
breve.
PALAVRAS-CHAVE: Degradação de Estruturas, Teatros Públicos, Patologias.
PATHOLOGICAL MANIFESTATIONS IN PUBLIC BUILDINGS: CASE STUDY IN
SOME THEATERS IN THE CITY OF RECIFE/PE
ABSTRACT: Historic buildings require a special approach to building maintenance.
The Theaters A and B are public buildings relevant from the architectonic, historical and
cultural point of view of the city of Recife. Visual inspections were carried out in both
theaters, in order to detect the main pathological manifestations and the preliminary
diagnosis of the problems affecting the useful life of the aforementioned buildings. From
the collected and analyzed data were detected reinforcement corrosion, deterioration
of solid ceramic bricks, cracks in masonry, efflorescence in concrete, mold and
infiltration spots. In the two buildings were identified, more frequently in the Theater A,
cracks in the walls, as well as problems caused by humidity, resulting in the presence
of infiltration spots. It is recommended to prepare and implement a preventive and
corrective maintenance plan for theaters. It is necessary to evaluate the thickness of
the covering of the structural parts, as well as to recover the corrosion points on the
beams. Brick deterioration of the masonry at the Theater B requires a brief recovery
action.
KEYWORDS: Degradation of Structures, Public Theaters, Pathologies.
1 | INTRODUÇÃO
Os seres humanos vivem em ambientes construídos envelhecidos e
com diversos problemas de manutenção, sendo a eficiente manutenção destas
infraestruturas e dos materiais de construção que as constituem essenciais para o
avanço a um futuro ambientalmente sustentável (RAKHA e GORODETSKY, 2018).
Dentre os principais problemas patológicos que podem ocorrer nas estruturas
dos ambientes construídos (casas, edifícios, etc.), podem ser citados a corrosão,
eflorescência, bolor e mofo, fissuras e trincas, dentre outras manifestações
(NASCIMENTO et al., 2019).
Edifícios históricos ou emblemáticos têm valor estético e arquitetônico únicos,
além das funções específicas para os quais foram concebidos, os quais, por
consequência, demandam uma abordagem especial no tocante à conservação predial,
reparo, recuperação e reforço estrutural, ou ainda quando do restauro de elementos
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
68
construtivos singulares que os compõem (KAAMIN et al., 2017).
No Brasil, a falta de cuidado com os edifícios públicos, particularmente com
a manutenção do ambiente construído, seja na fase de projeto, execução e uso, é
conduta que em regra não integra o planejamento das obras, fazendo com que o risco
de colapso estrutural dessas obras seja crescente ao longo dos últimos anos.
Segundo o que consta na Portaria nº 420/2010 do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), os estudos, projetos, obras ou intervenções em
bens culturais tombados, dentre as quais as edificações, devem obedecer a alguns
princípios, dentre eles, o princípio da prevenção, através do qual deve ser impedida a
sua degradação, perda física ou de autenticidade, ou ainda a sua fragmentação.
Com construção iniciada em 1839 pela Sociedade Harmônico Theatral, o Teatro
A é um dos mais antigos equipamentos culturais da cidade do Recife. As portas do
teatro foram abertas pela primeira vez em 1842 e chegou a funcionar por 18 anos, mas
foi vendido e transformado em um armazém de açúcar, tendo apenas sua fachada
preservada.
Hoje, juntamente com o Teatro B, instalado no mesmo terreno, são edificações
públicas relevantes do ponto de vista arquitetônico, histórico e cultural e, integram o
Centro de Formação e Pesquisa das Artes Cênicas A, voltado para o desenvolvimento
de projetos de formação e incentivo às artes cênicas (PREFEITURA DO RECIFE,
2019).
Tendo em vista a importância do Teatro A – edificação em processo de instrução
para tombamento federal, bem como do Teatro B para o circuito histórico e cultural da
cidade do Recife.
O presente estudo tem como objetivo a análise do estado atual, no que tange à
integridade das estruturas que integram as mencionadas edificações históricas, após
a qual é emitido um diagnóstico e recomendações para a ampliação da vida útil dos
mesmos.
2 | REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Patologias das construções
Assim como os seres humanos, as edificações também sofrem com a ação do
tempo, mudanças climáticas e outros males congênitos ou adquiridos. Em vista disto,
existe a patologia, ciência responsável por estudar os desvios, sintomas, causas e
origens das manifestações patológicas.
Na construção civil, é comum se observar a ocorrência de diversas manifestações
patológicas, as quais causam desconforto e insegurança aos usuários, além de
proporcionar eventuais danos às estruturas. O estudo e tratamento das manifestações
devem ser sempre realizados visando a segurança dos usuários e o aumento da vida
útil dos edifícios.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
69
2.2 Vida útil e durabilidade
Na norma da Associação Brasileira Regulamentadora NBR 6118 (ABNT, 2014)
item 6.2, consta que a vida útil de projeto é o “período de tempo durante o qual
se mantêm as características das estruturas de concreto, desde que atendidos os
requisitos de uso e manutenção prescritos pelo projetista e pelo construtor”.
Conforme consta na ISO 13823:2008, entende-se por vida útil o período de
tempo efetivo em que a estrutura ou parte de seus componentes atendem suas
funções com um desempenho mínimo de projeto, ausente de algum procedimento de
manutenção. O não cumprimento das especificações acarreta reparos e recuperações,
ou até mesmo reforço estrutural, os quais poderiam ser evitados se fossem realizados
os procedimentos necessários.
Segundo Félix et al., (2018), entende-se durabilidade como o parâmetro que
relaciona a aplicação das características de deterioração do material concreto, ou seja,
da qualidade do concreto, e dos sistemas estruturais a uma determinada construção.
Assim a individualização pela avaliação da resposta que dará aos efeitos da
agressividade ambiental, refere-se à capacidade de transporte dos líquidos e gases
contidos no meio ambiente para a região interior do concreto, sendo definindo, então,
a vida útil da mesma.
De acordo com a Norma Brasileira Regulamentadora NBR 6118 (ABNT, 2014),
durabilidade “Consiste na capacidade de a estrutura resistir às influências ambientais
previstas e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e o contratante, no
início dos trabalhos de elaboração do projeto.
3 | METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido segundo cinco etapas (Figura 01), quais sejam: i)
revisão bibliográfica relacionada ao tema; ii) elaboração de uma ficha de inspeção
com o croquis de cada teatro; iii) inspeção em campo com coleta de dados; iv) análise
dos dados; e v) compilação dos resultados e relatório fotográfico.
Figura 1 – Etapas de desenvolvimento do estudo.
Fonte: Autores, (2019).
As legendas estão subdivididas segundo os elementos construtivos, quais
sejam: manifestações patológicas no piso; manifestações patológicas na parede; e
manifestações patológicas no teto (Figura 02).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
70
Figura 2 – Legenda da ficha de inspeção.
Fonte: Autores, (2019).
Por fim, os dados foram compilados com uso do software Excel, após os quais
foram quantificados e analisados. Estes dados permitiram a análise das manifestações
patológicas por elementos construtivos, possibilitando a avaliação preliminar de quais
foram os elementos mais atingidos e os tipos de manifestações mais frequentes.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Teatro A
4.1.1 Corrosão das armaduras
Armadura exposta em processo evolutivo de corrosão e desplacamento
(desagregação) de concreto localizados na laje da sala de ensaios (Figura 03). É
provável que as causas dessas manifestações patológicas tenham sido a ausência
de espaçadores e ou cobrimento mínimo das armaduras insuficiente, potencializadas
pela presença de cloretos livres e CO2.
Figura 3 – Laje da sala de ensaios com armadura exposta e desplacamento de concreto.
Fonte: Autores, (2019).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
71
4.1.2 Fissuras e manchas em alvenarias
Fissuras em alvenaria a 45 graus e manchas em paredes sob a estrutura do
tablado em madeira do palco – depósito (Figuras 04-A e 04-B).
Figura 4 – (A) Fissuras em parede; e (B) Fissuras e manchas em parede.
Fonte: Autores, (2019).
As fissuras são uma das manifestações patológicas mais presentes nas
estruturas, dentre elas nas alvenarias, as quais podem ter sido causadas devido as
sobrecargas e ou temperaturas. No caso particular, a configuração em 45 graus das
fissuras nas paredes sugere a incidência de esforços de flexão da viga de madeira
sobre as alvenarias.
4.1.3 Infiltração por capilaridade em alvenaria
Manchas de infiltração por capilaridade nas alvenarias da sala de ensaios (Figura
05). As manchas estão provavelmente vinculadas à falha ou ausência do sistema de
impermeabilização.
Figura 5 – Descascamento da pintura em paredes internas.
Fonte: Autores, (2019).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
72
4.1.4 Segregação de concreto (viga)
A segregação dos materiais e a adesão dos mesmos à face da viga (Figura 06),
pode ter ocorrido em função da abertura das formas pelo efeito das pressões sobre
estas, as quais certamente foram provocadas pelo incorreto adensamento do concreto
fresco (incorreto posicionamento dos vibradores de imersão).
Figura 6 – Viga da sala de ensaios com concreto segregado aderido à fase.
Fonte: Autores, (2019).
4.2 Teatro B
4.2.1 Degradação de alvenarias
Degradação de alvenarias e respectiva argamassa de assentamento dos tijolos,
as quais estão localizadas na sala de apresentações. A manifestação patológica foi
provavelmente provocada pela perda de resistência dos materiais constituintes dos
tijolos cerâmicos maciços e da argamassa de cimento e areia, derivada de fatores
relacionados a reações e ou alterações físico-químicas, químicas e ou biológicas
(Figura 07-A e 07-B).
Figura 7 – (A) e (B) Degradação em alvenarias de tijolos cerâmicos maciços na sala de
apresentações.
Fonte: Autores, (2019).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
73
Os citados fatores surgem, em geral, em decorrência da falta de cuidados na
etapa de projeto, na escolha equivocada de materiais, da falta de controle durante a
execução da obra ou, ainda, em virtude da não realização de manutenções preventivas
durante a vida útil da edificação – o caso em apreço.
Importante destacar que as alvenarias de tijolos maciços, em franco processo
de degradação, integram a estrutura de apoio à coberta da edificação, bem como as
estruturas de apoio às cargas cênicas, quais sejam, os equipamentos de iluminação e
som, bem como cabos para içamento/sustentação dos atores em cena.
4.2.2 Armaduras expostas com corrosão incipiente
As faces inferiores (bases) de algumas vigas transversais da estrutura de apoio
da coberta apresentam, em pontos localizados, armaduras expostas com corrosão
incipiente (Figura 08-A e 08-B). É provável que as causas destas manifestações
patológicas tenham sido a ausência de espaçadores entre as armaduras e formas e o
cobrimento de concreto insuficiente (abaixo do mínimo definido em norma).
Figura 8 – (A) e (B) Vigas transversais da estrutura de apoio da coberta com armaduras
expostas com corrosão incipiente.
Fonte: Autores, (2019).
4.2.3 Fissuras em alvenaria (movimentações higroscópicas)
Fissuras em alvenaria da fachada principal, as quais foram provocadas por
variação de umidade dos materiais – movimentações higroscópicas (Figura 09-A e
09-B). As fissuras presentes na fachada provocam a penetração de umidade para o
interior do edifício, particularmente quando da batida de chuvas sobre a face exterior
da alvenaria da fachada.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
74
Figura 9 – (A) e (B) Fissuras em alvenaria provocadas por movimentação higroscópica.
Fonte: Autores, (2019).
Os autores Melo e Carasek (2014), Galletto e Andrello (2013), verificaram a
influência de alguns parâmetros ambientais como radiação solar, direção das chuvas,
variação térmica e umidade na incidência de manifestações patológicas em fachadas.
Estes fatores podem variar de intensidade segundo a posição geográfica da
fachada do edifício, gerando uma maior incidência de danos em alguma das fachadas
e na área interna dos mesmos derivados da associação dos mencionados fatores.
4.2.4 Manchas de umidade (bolor) e infiltração na coberta
Bolor (mofo) nos caibros e terças da coberta (Figura 10) devido ao excesso de
umidade. As possíveis causas dessa manifestação patológica são: telhas fissuradas
e ou quebradas; e ausência e ou deficiência de rufos e ou calhas.
Figura 10 – Bolor nos caibros e terças do telhado.
Fonte: Autores, (2019).
Os problemas patológicos mais frequentes nas edificações são a formação
de manchas de umidade, com o desenvolvimento de bolores (mofos), os quais são
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
75
formados pela ação de agentes biológicos, principalmente os fungos, que necessitam
de condições especiais para se desenvolverem. Assim, a presença de água, em
qualquer estado, é fundamental para o desenvolvimento destes organismos.
4.2.5 Saponificação e descamação da tinta
Foram identificadas saponificação e descamações de tinta em paredes internas
na entrada do Teatro (Figura 11-A), originadas de infiltração por capilaridade. Já a
descamação da tinta presente no topo da alvenaria interna (Figura 11-B) é causada
pela umidade da mesma, a qual é derivada de infiltrações de águas pluviais através
do telhado.
É necessária a manutenção periódica da pintura, removendo as áreas afetadas
para reaplicação da tinta, bem como o uso de tinta de boa qualidade e o correto
preparo e aplicação da mesma, além do prévio e imprescindível reparo do sistema
coberta, tendo em vista a eliminação de infiltrações.
Figura 11 – (A) e (B) Descamação da pintura nas paredes internas da entrada devido à
umidade por capilaridade.
Fonte: Autores, (2019).
4.2.6 Eflorescência
Foi observada a presença de eflorescência em viga da estrutura de sustentação
da coberta (Figura 12-A e 12-B), a qual certamente é oriunda do processo de lixiviação
dos materiais que constituem o concreto, o qual está exposto à umidade resultante da
água de chuva.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
76
Figura 12 – (A) e (B) Descamação da pintura nas paredes internas da entrada devido à
umidade por capilaridade.
Fonte: Autores, (2019).
De acordo com Mazer (2016), as eflorescências são um processo natural, onde a
água, tendo entrado pelos poros capilares do concreto, dissolve o hidróxido de cálcio
da pasta de cimento.
Ações podem ser executadas para inibir o processo de lixiviação do concreto, a
exemplo da impermeabilização da área de contato do concreto da viga com material
hidrofugante.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da análise do estado de conservação do Teatro A e Teatro B, é possível observar
que a maioria das manifestações patológicas se concentram nas vigas de concreto
armado e nas paredes de alvenaria de tijolos cerâmicos.
Em alguns locais (a exemplo da coberta), há necessidade de reparos com o
propósito da eliminação de infiltrações e melhoria na aparência visual, prejudicada por
conta de algumas manchas de bolor na madeira e fendilhamento em algumas telhas.
Nas vigas, foram observados ninhos de concretagem devido à falta ou falha de
vibração quando da execução das obras, manchas de corrosão por conta de cobrimento
inadequado e manchas de eflorescência devido à umidade.
Também foram identificadas falhas na montagem de formas, o que ocasionou
a falta de alinhamento de algumas dessas peças estruturais. Nos dois prédios foram
identificados, com maior frequência no Teatro A, fissuras nas paredes.
Observou-se também problemas causados por umidade, os quais são resultado
da ausência de sistema de impermeabilização, tendo como consequência a presença
de manchas de infiltração.
O Teatro B merece uma atenção especial, visto que apresenta deterioração
(desgaste) das alvenarias de tijolos aparentes que compõem as paredes do salão
principal (sala de espetáculos), devido à umidade, associada as movimentações
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
77
(vibrações) das estruturas.
Esses efeitos têm sido potencializados pelo trânsito de ônibus do sistema de
transporte Bus Rapid Transit (BRT), cuja estação está localizada em frente ao Teatro.
Portanto, há necessidade de uma recuperação estrutural, em caráter de urgência,
uma vez que se trata de uma edificação histórica.
Também é recomenda a elaboração e implantação de um plano de manutenção
preventiva e corretiva para os teatros, consoante instruções do IPHAN. Nos teatros
é necessário avaliar a espessura do cobrimento das peças estruturais, bem como
proceder à recuperação dos pontos de corrosão nas vigas.
No plano de manutenção preventiva deverá está previsto um projeto de
conscientização, frente a importância dos prédios, os quais são patrimônio histórico
de Pernambuco. Além disto, é importante a eliminação das infiltrações nas paredes,
visto que tem diminuído a vida útil da estrutura.
Estudos futuros poderão utilizar tecnologias de inspeção para o auxílio em um
diagnóstico amplo e completo das manifestações patológicas que acometem os
teatros, a exemplo dos ensaios não destrutivos com uso de termografia, tendo em
vista os muitos locais com infiltrações.
6 | AGRADECIMENTOS
À Prefeitura da Cidade do Recife, particularmente à Secretaria de Cultura, pela
gentileza em conceder acesso às edificações que abrigam o Teatro A e Teatro B.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118:2014 Projeto de
estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014. 170 p.
FELIX, et al. Análise da vida útil de estruturas de concreto armado sob corrosão uniforme por meio de
um modelo com RNA acoplado ao MEF. Revista Alconpat, [s.l.], v. 8, n. 1, p.1-15, 1 fev. 2018. Revista
ALCONPAT. http://dx.doi.org/10.21041/ra.v8i1.256.
GALLETTO, A; ANDRELLO, J. M. Patologia em fachadas com revestimentos cerâmicos. In:
CINPAR – IX Congresso Internacional sobre Patología y Recuperación de Estruturas, João Pessoa
(Brasil), 2013.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN). Portaria nº 420, de
22 de dezembro de 2010. Dispõe sobre procedimentos a serem observados para a concessão de
autorização para realização de intervenções em bens edificados tombados e nas respectivas áreas de
entorno. Brasília – DF, 2010.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO). ISO 13823:2008. General
principles on the design of structures for durability.
KAAMIN, M. IDRIS, N. A. BUKARI, S. M. ALI, Z. SAMION, N. AHMAD, A. Visual Inspection of
Historical Buildings Using Micro UAV. MATEC Web of Conferences. v. 103, 2017.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
78
MELO, C. M., CARASEK, H. Relationship between the deterioration of multi story building facades and
driving rain. Revista de la Construción, V. 13, No. 1, pp. 64-73, 2014.
NASCIMENTO, C. F. G; SOUZA, P. M. C. O.; TEXEIRA, I. A. R.; MONTEIRO, E. C. B. e COSTA E
SILVA, A. J. Utilização do método dos fatores para priorização de incidências patológicas na
ponte Barão de Jundiá, 48 anos de construção no município de Escada-PE. 2019.
RAKHA, T.; GORODETSKY, A. Review of Unmanned Aerial System (UAS) applications in the built
environment: Towards automated building inspection procedures using drones. Automation in
Construction. v. 93. 2018.
VISIT RECIFE. Teatros. Disponível em: https://visit.recife.br/. Acessado em: 30 Abr. 2019.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 7
79
CAPÍTULO 8
CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE COMPARATIVA DE
PÓS NANOMÉTRICOS OBTIDOS POR MOAGEM DE
ALTA ENERGIA COM E SEM LIXÍVIA ÁCIDA PARA
APLICAÇÃO EM FOTOCATÁLISE
Lucca Monteiro Silva Semensato
Tânia Regina Giraldi
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Estudante de Iniciação Científica
Professor Associado
Poços de Caldas – Minas Gerais
Poços de Caldas – Minas Gerais
Luis Fernando Baldo Estorari
Sylma Carvalho Maestrelli
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Estudante de Iniciação Científica
Professor Associado
Poços de Caldas – Minas Gerais
Poços de Caldas – Minas Gerais
Maisa Helena Mancini
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Estudante de Iniciação Científica
Poços de Caldas – Minas Gerais
Veridiana Magalhães Costa Moreira
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Estudante de Iniciação Científica
Poços de Caldas – Minas Gerais
Ana Gabriela Storion
FZEA – USP
Doutoranda
Pirassununga – São Paulo
Eliria Maria de Jesus Agnolon Pallone
FZEA – USP
Professor titular
Pirassununga – São Paulo
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
RESUMO: Os corantes são substâncias
amplamente utilizadas em diversos processos
industriais, tornando-se resíduos bastante
nocivos ao meio ambiente se descartados
inadequadamente. A fotocatálise heterogênea
é uma técnica alternativa para a despoluição,
sobretudo no que se refere à utilização de
sistemas óxidos multicomponentes para tal
fim. Os óxidos de Zinco e de Titânio têm sido
amplamente investigados devido às suas
capacidades de degradação de corantes por
fotocatálise heterogênea. O presente trabalho
visou investigar o efeito da lixívia ácida nas
características de pós nanométricos obtidos
através de moagem de alta energia, a qual
destaca-se pela praticidade e menor custo
se comparada às rotas químicas, em moinho
vibratório do tipo SPEX Mixer/ Mill. Assim, foi
investigada a influência da lixívia ácida para
Capítulo 8
80
retirada do Ferro proveniente da moagem e nas características dos pós do sistema
ZnO:TiO2 (0:100, 25:75, 50:50, 75:25 e 100:0) obtidos após moagem durante 2 e 4
horas. Os pós precursores foram caracterizados através das técnicas de difração de
raios X (DRX) e B.E.T.. Após a MAE, os pós, lixiviados ou não, foram caracterizados por
DRX, sendo determinadas suas propriedades fotocatalíticas. Os resultados indicaram
que a MAE foi eficiente na obtenção de nanopós; entretanto, o processo de lixívia não
foi totalmente suficiente para retirar todo o ferro presente; ainda, comprovou-se que
o ferro entrou na estrutura cristalina do material, comprometendo as propriedades
fotocatalíticas do sistema. Para o ZnO, houve a formação de Oxalato de Zinco após
lixívia, provocando um aumento no tamanho médio de partículas, diminuindo a
reatividade do pó.
PALAVRAS-CHAVE: Moagem de alta energia, fotocatálise, nanopartículas.
CHARACTERIZATION AND COMPARATIVE ANALYSIS OF NANOMETRIC
POWDERS OBTAINED BY HIGH ENERGY MILLING WITH AND WITHOUT ACID
LEACHING FOR PHOTOCATALYTIC APPLICATION
ABSTRACT: Dyes are substances widely used in several industrial processes and
are very harmful to the environment if improperly discarded, especially regarding
water resources. Heterogeneous photocatalysis is an alternative technique for
decontamination, mostly regarding the use of multicomponent oxide systems for this
purpose. Zinc oxide and Titanium dioxide, or titania, have been broadly investigated
due to their heterogeneous photocatalytic degradation capabilities. The present paper
aimed to investigate the effect of acid leaching in the properties of nanometric powders
obtained by high energy milling, which stands out for its practicality and lower cost
compared to chemical routes, in a SPEX type vibrating mill. Thus, the influence of
the presence of Iron and its absence (with the use of acid leaching) in the properties
of the powders of the system ZnO:TiO2 obtained after milling for 2 and 4 hours were
investigated. The precursors powders were evaluated using Nitrogen Physisorption
(B.E.T.) and X-Ray Diffraction (XRD. After the milling in duplicate, for each composition
of the ZnO:TiO2 system (0:100, 25:75, 50:50, 75;25 and 100:0), every powder, whether
or not followed by acid leaching, was characterized by X-Ray diffraction and by its
photocatalytic potential. The results indicated that the HEM was efficient in obtaining
nanopowders; however, the leaching process in all systems studied was not enough
to remove all the iron present; it was also verified that Iron entered the material’s
crystalline structure, which compromise the photocatalytic properties of the system.
As for the ZnO, there was the formation of Zinc Oxalate after the leaching, causing an
increase in the average particle size, reducing the reactivity of the powder.
KEYWORDS: High energy milling, photocatalysis, nanoparticles.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
81
1 | INTRODUÇÃO
Processos físicos e físico-químicos como adsorção, flotação e precipitação são
amplamente utilizados no tratamento de efluentes. Todavia, tais processos acarretam
a geração de resíduos sólidos, necessitando também de tratamentos posteriores, o
que aumenta o custo e prejudica o caráter ambiental (DIAS et al., 2016). Os Processos
Oxidativos Avançados (POAs) se mostram uma alternativa eficiente no tratamento
de tais efluentes, pois atuam de maneira a eliminar os contaminantes e não apenas
transferir a poluição para resíduos sólidos.
Um dos principais desafios a ser superado para que os processos de fotocatálise
heterogênea (um tipo de POA) se tornem economicamente praticáveis é a supressão
da recombinação dos pares fotogerados e uma utilização eficiente da luz visível, para
diminuição de custos energéticos utilizados para fornecimento da radiação necessária
(RIBEIRO, 2013). A fim de contornar essas barreiras, estudos acerca da dopagem
de TiO2 com impurezas metálicas e não-metálicas vêm sendo realizados, já que
este é o semicondutor mais utilizado em fotocatálise, devido às suas características
diferenciadas e alta eficiência (BIRBEN, 2015; RIBEIRO, 2013). Além do mais, é
desejável a obtenção de pós de elevada área superficial, uma vez que os processos
de degradação ocorrem na superfície do catalisador.
Métodos químicos de síntese apresentam alta eficiência na produção de pós
nanométricos sob pequena dispersão na média do tamanho de partícula, porém
constituem em uma via de custo elevado e de alta complexidade, o que limita sua
produção em escala industrial (DIAS et al., 2016).
Neste contexto, este trabalho visou o estudo de obtenção de pós de ZnO:TiO2
e posterior tratamento via lixívia ácida a fim de verificar a influência da presença de
Ferro nas características do pó obtido. Para isso foi utilizada Moagem de Alta Energia
(MAE) como meio de obtenção de pós em escala nanométrica, uma vez que esta se
apresenta como uma via de baixo custo e complexidade, surgindo como uma potencial
rota industrial. Após a MAE, o material obtido foi avaliado quando ao seu potencial
fotocatalítico na degradação do corante Rodamina-B.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Caracterização dos pós precursores
Óxidos de Zinco (99% de pureza, Synth) e Óxido de Titânio (99,9% de pureza,
Hombitan®), na forma de partículas micrométricas, foram utilizados como matérias
primas. Tais óxidos foram caracterizados previamente pelo grupo de pesquisa via
Difração de Raios X (DRX) no Laboratório de Cristalografia da Universidade Federal
de Alfenas (UNIFAL-MG). Também foi determinada a área superficial pela técnica de
B.E.T no Laboratório de Materiais da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
82
campus de Poços de Caldas/ MG.
2.2 Moagem de Alta Energia (MAE)
Os pós precursores foram submetidos à moagem de alta energia no Laboratório
de Materiais da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), no campus de Poços
de Caldas/ MG, em um moinho de alta energia do tipo SPEX Mixer/Mill, com frasco e
bolas feitos de aço endurecido. Foi utilizada proporção mássica de bola:material de
5:1.
Figura 1 - Moinho de alta energia do tipo SPEX 8000 Mixer/Mill (A) e frasco e corpos moedores
(B) feitos de aço endurecido (STORION, 2018).
As moagens foram realizadas a seco, variando-se as proporções mássicas de
[TiO2:ZnO] conforme segue: [0:100], [30:70], [50:50], [70:30] e [100:0] e os tempos de
moagem de 2 e 4 horas, sendo cada moagem realizada em duplicata (2 lotes). Após a
obtenção dos pós moídos, foi realizado o tratamento via lixívia ácida em um dos lotes.
As amostras foram identificadas de acordo com a tabela 1, sendo o primeiro
dígito referente ao tempo de moagem. Por exemplo, a amostra 4.3 possui 4h de
moagem e é composta por 25% de TiO2 e 75% de ZnO. Os materiais identificados com
as letras “WL” não passaram pelo tratamento via lixívia ácida. Já amostras identificadas
apenas com a letra “L” foram submetidas ao tratamento.
Nomenclatura
Percentual TiO2
Percentual ZnO
Tempo de Moagem
2.2WL, 2.2L
100
0
2
2.4WL, 2.4L
25
2.1WL, 2.1L
2.3WL, 2.3L
2.5WL, 2.5L
4.1WL, 4.1L
0
50
50
75
25
100
50
50
75
25
100
4.4WL, 4.4L
25
4.5WL, 4.5L
2
2
75
0
4.2WL, 4.2L
4.3WL, 4.3L
100
2
2
4
0
4
4
75
4
4
Tabela 1: Nomenclatura adotada na identificação das amostras que não passaram pela
lixívia ácida. Amostras identificadas com “WL” não passaram pelo tratamento via lixívia ácida;
amostras identificadas com “L” foram submetidas ao tratamento.
Fonte: Autores.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
83
2.3 Lixívia ácida
O tratamento via lixívia ácida para descontaminação do ferro oriundo da MAE foi
feito utilizando uma proporção de 3g do pó moído e 100mL de uma solução de Ácido
Oxálico 0.5M. O sistema foi mantido sob agitação e aquecimento (aproximadamente
100°C) por 4 horas. Em seguida, a mistura foi deixada em repouso para que o pó
decantasse, possibilitando a retirada do líquido reagido. Foram realizadas 3 repetições
para cada sistema, baseando-se em resultados obtidos previamente pelo grupo de
pesquisa (STORION 2018). As suspensões em que o pó apresentou dificuldade
em decantar foram centrifugadas em Centrífuga LGI Scientific D1008 a 10000 rpm.
Ao final do processo de lixiviação, os pós foram colocados em água destilada sob
agitação por 30 minutos para remoção de eventuais ácidos residuais. Este processo
de lavagem foi repetido 4 vezes. Após a lavagem, adicionou-se Álcool Isopropílico às
amostras, que então ficaram 30 minutos sob agitação. Posteriormente, realizou-se
a desaglomeração dos pós em lavadora Ultrassônica Sanders por 25 minutos. Em
seguida, deixou-se as amostras em repouso para a secagem. Após a secagem dos
pós, estes foram passados em peneira de abertura de 45 µm.
2.4 Caracterização após MAE e lixívia ácida
Após a MAE, os pós, tratados ou não por lixívia ácida, foram caracterizados via
Difração de Raios X (DRX) para a análise da possível formação de heteroestruturas
oriundas da MAE. Também foram realizados testes para determinação do potencial
fotocatalítico de todos os pós (lotes 1 e 2).
2.5 Determinação do potencial fotocatalítico
Maiores detalhes destes procedimentos podem ser obtidos em Dias (2015) e
Storion (2018). Os ensaios fotocatalíticos foram feitos utilizando-se a Espectrometria
de Absorção no UV-Vis, tendo em vista obter uma análise quantitativa da degradação
do corante Rh-B quando em presença dos pós preparados anteriormente (seguidos
ou não de lixívia ácida), sob incidência de radiação UV-C. Foi utilizado um reator
fotoquímico com quatro lâmpadas ultravioleta de 15W e com água circulante em
serpentina de cobre para o resfriamento e controle da temperatura, que foi bombeada
por banho termostático Solab SL152/18, a uma temperatura controlada de 10ºC.
No reator também se encontrava um ventilador na lateral direita com 1,4W para a
circulação de ar. Na parte inferior do reator havia uma placa de agitação magnética
(STORION, 2018; DIAS, 2015).
Nos ensaios utilizou-se a proporção de 10mg de pó para 50mL de solução do
corante Rh-B, sendo esta solução preparada a uma concentração de 5mg/L. Para cada
ensaio foi preparada uma solução de 5mg/L de Rh-B para comparação. As soluções
preparadas foram levadas à lavadora ultrassônica Sanders por 5 minutos e então
deixadas em repouso por 24 horas no escuro, para melhor difusão das moléculas
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
84
do corante com a superfície dos pós fotocatalisadores. Após o repouso, as amostras
foram levadas novamente à sonda ultrassônica Sanders por 5 minutos, a fim de evitar
aglomerações residuais do pó na solução (STORION, 2018; DIAS, 2015).
No reator, os ensaios tiveram 15 minutos iniciais de agitação no escuro para
definição do ponto inicial, e 120 minutos posteriores sob incidência de radiação UV-C.
Foram coletados pontos a cada 15 minutos durante a primeira hora, e, até completar o
tempo total da análise, a cada 30 minutos. A cada intervalo, interrompia-se a incidência
de luz e coletava-se 3mL de cada solução, que foram transferidos para dois microtubos
eppendorf e centrifugados a 10000 rpm por 4 minutos. Em seguida, as amostras
foram encaminhadas para análise espectrofotométrica, com varredura efetuada nos
comprimentos de onda de 400 a 800 nm (STORION, 2018; DIAS, 2015).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Caracterização dos pós precursores
Os pós precursores foram previamente caracterizados por STORION (2018). Os
resultados de área superficial encontram-se na Tabela 2. A área superficial do pó de
titânia apresentou resultado 2 vezes superior ao do óxido de zinco, evidenciando uma
maior reatividade do pó.
Amostra
Área Superficial (m /g)
2
TiO2
10,9456
ZnO
5,44
Tabela 2: Área superficial dos óxidos precursores.
Fonte: STORION, 2018.
Os difratogramas de Raios X obtidos são apresentados na Figura 2 para os
óxidos de titânio e zinco, respectivamente. No que diz respeito ao óxido de titânio, o
difratograma evidencia que o TiO2 precursor encontra-se estável na fase anatase, com
estrutura cristalina tetragonal (Ficha PDF 2003 #21-1272 - JCPDS-ICDD); para o ZnO,
a estrutura cristalina é hexagonal, correspondente ao mineral Zincita (Ficha PDF 2003
#36-1451 - JCPDS-ICDD).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
85
Figura 2 - Difratogramas de Raios X para as amostras dos pós precursores de TiO2 e ZnO.
Fonte: STORION, 2018.
3.2 Moagem de Alta Energia e tratamento via lixívia ácida
Durante a MAE, foi possível observar a mudança na coloração dos pós
(Figura 3), devido à contaminação por Ferro, após moagem e o efeito da lixívia na
descontaminação dos pós por Ferro (Figuras 4 e 5). A lixívia, como já mencionada,
foi realizada com Ácido Oxálico no lugar do Ácido Clorídrico, pois este último reage
com o ZnO quando aquecido, eliminando o Ferro e o ZnO. Observou-se que diversas
amostras não apresentaram total remoção do Ferro (o que pode ser observado
através da coloração amarelada da solução). Tais amostras são as que possuem
maior percentagem de TiO2, visto que o ácido mais indicado para a realização de
lixívia ácida deste composto é o Ácido Clorídrico, porém, como este reage com o ZnO,
não foi possível utilizá-lo.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
86
Figura 3- Comparação entre as colorações dos pós de TiO2 (imagens superiores) e ZnO
(imagens inferiores) antes da moagem - precursores (A) e após moagem - processados (B),
evidenciando a contaminação durante moagem.
Fonte: Autores.
Figura 4- Amostras 2.4L, 2.3L e 2.5L após a primeira etapa da lixívia ácida em repouso para
decantação do pó. A coloração amarelada da solução indica a presença do Ferro, ou seja, este
está sendo removido do pó.
Fonte: Autores.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
87
Figura 5 - Etapas da lixívia ácida da amostra 2.5L (75% TiO2, 25% ZnO). Nota-se que a
coloração amarelada da solução vai se enfraquecendo até ela tornar transparente.
Fonte: Autores.
3.3 Caracterização após MAE e lixívia ácida
Os difratogramas das amostras após a MAE sem tratamento via lixívia ácida
estão representados na Figura 6. Após a MAE, foi observada a presença do mineral
zincita (estrutura hexagonal) e de TiO2 na fase anatase, provenientes dos pós
precursores. Porém, foram também observadas as fases brookita e rutilo do Óxido de
Titânio, formadas pela alta energia do processo de moagem. A contaminação por ferro
proveniente do moinho foi confirmada através da presença de magnetita (Fe3O4).
Figura 6 – Difratogramas das amostras que não foram submetidas ao tratamento via lixívia
ácida após a MAE.
Fonte: Autores.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
88
Foi possível observar que com o aumento do tempo de moagem, houve maior
amorfização do pó, juntamente com a presença do ferro. Também foi possível observar
a transformação da estrutura anatase em rutilo (ALI, 2014).
Na figura 7 encontram-se os difratogramas das amostras submetidas ao
tratamento via lixívia ácida. Foi possível observar a formação de Oxalato de Zinco
Hidratado, devido à reação entre o ZnO e o ácido oxálico utilizado no procedimento da
lixívia. Mesmo após o tratamento para descontaminação, ainda foi possível identificar
a presença do ferro proveniente da moagem de alta energia.
Figura 7 – Difratogramas das amostras que foram submetidas ao tratamento via lixívia ácida
após a MAE.
Fonte: Autores.
3.4 Determinação do potencial fotocatalítico
Apesar de ser possível observar o efeito da lixívia na coloração dos pós, ensaios
fotocatalíticos foram realizados com o intuito de confirmar o efeito deletério do Ferro
presente nas amostras. Na figura 8 são apresentados os resultados de fotocatálise, os
quais foram pouco promissores devido à presença, ainda que em baixo teor, do ferro
contaminante. Na tabela 3 encontram-se os valores totais de degradação obtidos por
cada amostra para cada tempo de moagem.
Mesmo após a lixívia ácida o potencial de degradação de Rodamina B dos
óxidos ainda era baixo, o que pode ser explicado pela penetração do Ferro na estrutura
do composto. Também se deve levar em conta o uso do Ácido Oxálico na lixiviação das
amostras contendo TiO2, cujo ácido mais eficiente para tal procedimento seria o Ácido
Clorídrico. Visto que o último, quando aquecido, reage com o ZnO, não foi possível
utilizá-lo nos procedimentos de lixívia ácida, pois além do Ferro, o ZnO também seria
removido pelo HCl.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
89
Figura 8 – Curvas de degradação do corante Rh-B.
Fonte: Autores.
TiO2:ZnO
0:100
100:0
50:50
25:75
75:25
4 horas
2 horas
Degradação sem
lixívia (%)
Degradação com
lixívia (%)
Degradação sem
lixívia (%)
Degradação com
lixívia (%)
12,41
24,32
13,98
29,43
8,07
17,42
31,49
26,77
16,59
26,93
20,25
28,26
13,38
29,64
3,85
13,71
15,34
17,39
13,78
33,22
Tabela 3: Porcentagem de degradação da Rodamina B em amostras do sistema TiO2:ZnO com
e sem lixívia ácida, processadas via MAE por 2 e 4 horas.
Fonte: Autores.
As amostras que apresentaram maior porcentagem de degradação foram
as amostras com maior quantidade de ZnO em sua composição, o que pode ser
justificado pela excelente propriedade fotocatalítica do Óxido de Zinco e também pela
eficácia da lixívia ácida utilizando Ácido Oxálico 0,5M. Apesar disso, nota-se que os
valores encontrados são menores do que os advindos de ensaios utilizando ZnO puro.
Deste modo, observa-se mais uma vez que a contaminação por Ferro obtida na MAE
influenciou diretamente no potencial de degradação das amostras.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
90
4 | CONCLUSÃO
A lixívia ácida com Ácido Oxálico mostrou-se parcialmente eficaz na remoção do
Ferro nas amostras com maior presença do ZnO. Entretanto, nas amostras com TiO2,
tal eficácia não foi observada, devido a este não ser o ácido mais indicado na lixiviação
de tal óxido (o Ácido Clorídrico é mais eficiente, mas nas misturas de TiO2 e ZnO ele
reage com o ZnO).
Os óxidos ZnO e TiO2 mostram-se eficazes na degradação do corante Rh-B,
conforme determinado pela literatura. Porém, o uso da Moagem de Alta Energia
influenciou negativamente neste potencial de degradação que tais óxidos possuem,
devido à contaminação por Ferro. Tal influência foi verificada de maneira mais
expressiva nas amostras processadas por 4 horas, visto o maior contato das amostras
com o Ferro das bolas de aço endurecido do moinho SPEX.
No que se refere ao ZnO, a lixívia feita por ácido oxálico causa a formação de
Oxalato de Zinco, comprovado por DRX e MEV, provocando um aumento no tamanho
médio de partículas, o que também compromete suas propriedades fotocatalíticas,
uma vez que ocorre uma diminuição na área superficial, com menor reatividade do pó.
Assim, a utilização de moinho e meio de moagem de aço promove uma contaminação
por Ferro difícil de ser retirada do pó, o que, direta ou indiretamente, afeta as
propriedades fotocatalíticas do material.
5 | AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a FAPEMIG e CAPES pelo apoio financeiro a esta
pesquisa, e a Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) e FZEA – USP pelo uso
das instalações e equipamentos.
REFERÊNCIAS
ALI, M. Transformation and powder Characteristics of TiO2 during high energy milling. Journal of
Ceramic Processing Research, v. 15, n. 5, p. 290-293, 2014.
BIRBEN, N.C. et al. Comparative evaluation of anion doped photocatalysis on the mineralization and
decolorization of natural organic matter. Catalysis Today, vol 240, pág. 125-131, 2015.
DIAS, J. A, et al. Characterization and photocatalytic evaluation of ZnO-Co3O4 particles obtained by
high energy milling. Part I: Processing, physicochemical and thermal characterization. Ceramics
International. v. 42, p. 1425-1431, 2016a.
DIAS, J. A. Avaliação fotocatalítica de partículas semicondutoras baseadas em óxidos de zinco
e cobalto obtidas por moagem de alta energia. 2015. 90 f. Dissertação (mestrado) - Curso de
Ciência e Engenharia dos Materiais, Universidade Federal de Alfenas - MG, 2015.
RIBEIRO, P.C. et al. Synthesis of TiO2 by the Pechini method and photocatalytic degradation of methyl
red. Mat. Res. , V.16, p. 468-472, 2013.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
91
STORION, Ana Gabriela. Nanopartículas de TiO2:WO3 e ZnO obtidas pela utilização de moinho
vibratório: caracterização e propriedade fotocatalíticas. 2018. 133 f. Dissertação (Mestrado) Curso de Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade Federal
de Alfenas, Poços de Caldas, 2018.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 8
92
CAPÍTULO 9
CONTRIBUIÇÕES DA ANÁLISE DE REDES SOCIAIS A
UM CLUSTER COMERCIAL PLANEJADO DE VAREJO
DE AUTOMÓVEIS
Marco Aurélio Sanches Fittipaldi
Universidade São Caetano do Sul – São Caetano
do Sul – SP
Denis Donaire
Universidade São Caetano do Sul – São Caetano
do Sul - SP
RESUMO: O varejo se transforma ao longo
do tempo, se moderniza para atender os
consumidores. Uma das principais mudanças
observadas é a concentração de lojas em
um mesmo local, especificamente um centro
comercial que apresente estrutura para atrair
e oferecer produtos e serviços específicos. Os
shoppings centers especializados em um só
tipo de produto tornam-se clusters comerciais
planejados como afirmam Teller & Elms (2010),
sendo preferidos tanto por consumidores como
por lojistas. O objetivo do presente estudo é
identificar os relacionamentos existentes entre
os atores participantes de um cluster comercial
planejado de varejo de automóveis (Shopping
X), ao explorar as relações existentes entre
seus participantes. Como metodologia de
pesquisa neste estudo descritivo quantitativo foi
empregada a técnica de análise de redes sociais
(medidas degree, closeness e betweennes),
disposta em figuras e métricas que evidenciaram
os níveis de centralidade dos atores em suas
relações. Constatou-se, em geral, baixa troca
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
de informações entre seus membros, ainda que
em diferentes graus, apesar de ser esta uma das
principais características presentes num cluster,
conforme Porter (1989). A administração do
shopping pode promover maior contato entre as
empresas, a fim de criar maior relacionamento,
com o objetivo de promover e facilitar o fluxo de
informações no cluster.
PALAVRAS-CHAVE: cluster comercial, análise
de redes sociais, troca de informações
CONTRIBUTIONS OF THE ANALYSIS OF
SOCIAL NETWORKS TO A COMMERCIAL
CLUSTER OF CAR RETAIL
ABSTRACT: The retail turns over time, is
modernized to meet consumers. A key change
is the observed concentration of stores in one
place, specifically a shopping center to present
structure to attract and offer specific products
and services. The shopping centers specialize
in one type of product become planned as
commercial clusters claim Teller & Elms
(2010), both being preferred by consumers and
tenants. The aim of this study is to identify the
relationships between the actors participating
in a commercial cluster planned retail car
(Shopping X), to explore the relationships
among its participants. The methodology of
this research was descriptive quantitative study
Capítulo 9
93
employed the technique of social network analysis (measures degree, closeness and
betweennes) arranged in figures and metrics that showed levels of centrality of the
actors in their relationships. We found that, in general, low exchange of information
among its members, to varying degrees, although this is a major feature present in a
cluster, as Porter (1989). The management of the mall can promote greater contact
between firms in order to create greater relationship with the objective of promoting and
facilitating the flow of information in the cluster.
KEYWORDS: commercial cluster, social network analysis, information exchange
1 | INTRODUÇÃO
O varejo se transforma ao longo do tempo, se moderniza para atender aos
desejos e necessidades de seus consumidores. Uma das principais mudanças que
se observa é a concentração de lojas em um mesmo local, especificamente um
centro comercial que apresente estrutura para atrair e oferecer ao público produtos
e serviços específicos. O agrupamento de atividades similares baseia-se no princípio
da atração cumulativa segundo o qual a concentração tem maior poder de atração de
consumidores, se comparado às lojas isoladas, especialmente as revendedoras de
automóveis (LEVY, 2000).
A Associação Espanhola de Parques e Centros Comerciais classifica os centros
comerciais como
um conjunto de estabelecimentos comerciais independentes, planejados e
desenvolvidos por uma ou várias entidades gestoras e cujo tamanho, mix de
produtos, serviços comuns e atividades complementares estão relacionados com
seu entorno e que, por sua vez, dispõe de uma imagem e gestão próprias (PORRAL;
DOPICO, 2013, p. 3).
Compreende-se que a definição de centro comercial pode ser entendida como a
descrição de um shopping center. Neste sentido para Parente et al. (2012), o shopping
center é um tipo de aglomerado varejista que compete com outros pela preferência
do consumidor em um mercado. Há shoppings centers especializados em um só tipo
de produto como artigos de decoração, moda, esportes ou automóveis (PARENTE,
2000). Pode-se citar, como exemplos atuantes no país: móveis e decoração (D&D e
Lar Center), automóveis (Shopping Cristal) entre outros existentes no município de
São Paulo (SP).
Esse agrupamento planejado propicia um maior relacionamento entre as
empresas que compõem o cluster comercial. Tomkins (2001) relata que uma rede é
formada por complexas configurações de alianças e relacionamentos que se formam
a partir das interações entre seus participantes, com diferentes tipos de relação e
intensidade.
Para Porter (1998), uma das características de um cluster é o acesso à
informação propiciada pela proximidade das empresas, pois favorece que seus
membros tenham maior facilidade no acesso às informações técnicas, de mercado
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
94
e competitivas. O relacionamento criado e os laços gerados promovem a confiança e
facilitam o fluxo de informações no cluster.
Problema de pesquisa e objetivo
Desta forma o problema de pesquisa que se apresenta é: como ocorrem as
trocas de informações entre empresas em um cluster comercial? O objetivo deste
trabalho é mapear a rede social formada bem como, identificar os relacionamentos
existentes entre as empresas pertencentes a um cluster comercial varejista planejado
de automóveis, shopping center, sob a abordagem da análise de redes sociais.
Os resultados obtidos indicarão quais os atores principais e secundários
presentes na rede analisada, bem como poderão propiciar possíveis melhorias nas
relações entre os lojistas e entre estes e a administração do cluster comercial, o
que poderá melhorar o ambiente interno entre todos os presentes. Também poderão
auxiliar os gestores na condução do cluster comercial, uma vez que estes conhecerão
os participantes que poderão exercer maior ou menor influência sobre os demais,
fator este extremamente importante na implantação de estratégias voltadas à
competitividade do aglomerado.
A estrutura do trabalho é composta por cinco seções, incluindo esta introdução.
No tópico a seguir é apresentada breve revisão de literatura dos conceitos teóricos que
embasaram o estudo. Na terceira seção é feita a descrição da metodologia utilizada
na pesquisa. A quarta apresenta e analisa os resultados encontrados, apontando-se
ainda na quinta as principais conclusões do estudo.
2 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Clusters comerciais
O conjunto de empresas concentrado geograficamente com o objetivo de
produzir o mesmo tipo de produto para competir com outras empresas, que não
pertencem ao agrupamento, foi denominado de cluster (PORTER, 1989; SCHMITZ;
NADVI, 1999; LASTRES; CASSIOLATO, 2003; AMATO NETO, 2005; ZACCARELLI
et al., 2008).
O agrupamento que se forma nos clusters, em função dos efeitos da
concentração geográfica, adquire competitividade progressiva ao longo do tempo, que
acaba por beneficiar todas as empresas que o compõem (ZACCARELLI et al.,2008).
Berman e Evans (1998) acrescentam a esse contexto que os produtos podem ser
similares ou compatíveis, sendo comercializados ao longo de uma rua ou rodovia.
Para Rojo apud Nardis (2010), tais centros comerciais têm grande poder de atração
de consumidores.
O aspecto da proximidade entre as lojas nos clusters comerciais beneficia
as empresas e os consumidores pela cooperação e competição, que ocorrem
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
95
simultaneamente entre as empresas ali localizadas, aumentando assim o fluxo de
clientes nas lojas e o número de opções de produtos para os consumidores. Percebe-
se também que as empresas comerciais ali estabelecidas tendem a compartilhar
custos de infraestrutura entre si como limpeza, divulgação, entre outros (BACHION;
ABE;MONFORTE, 2011; TELLER; REUTTERER, 2008).
Partindo-se da tendência de que as empresas varejistas buscam se agrupar em
aglomerações, encontra-se o princípio da mínima diferenciação, no qual a proximidade
dos concorrentes é um fator importante para o sucesso dos negócios. Ou seja, certo
número de lojas que vendem as mesmas mercadorias venderão mais se estiverem
localizadas de forma adjacente ou próximas umas das outras, do que se estiverem
dispersas (SIQUEIRA; TELES, 2006; TELLER; ELMS, 2010).
As aglomerações que formam os clusters varejistas podem ser espontâneas
ou planejadas. Os clusters comerciais espontâneos ou não planejados se originam
a partir de um processo de auto-organização, normalmente nas regiões centrais dos
municípios ou que apresentam grande fluxo de pessoas. Por sua vez, os clusters
comerciais planejados atendem ao interesse de seu organizador e normalmente se
situam em locais de fácil acesso e estacionamento, como é o caso dos shopping centers
(BERMAN; EVANS, 1998). Para Teller (2008), em ambos os casos o agrupamento de
lojas pode trazer benefícios e sinergia aos comerciantes.
O grande agrupamento de lojas presentes no cluster comercial planejado cria
um ambiente em que há um intenso relacionamento entre seus partícipes. Entender
este relacionamento é importante pois, com isto, pode-se compreender melhor quais
atores trocam informações e com que frequência o fazem.
Britto e Marioto (2013) relatam que a troca de informações está associada a
esforços mútuos ou comportamentos cooperativos. A cooperação, segundo Anderson
e Narus (1990, p. 45), pode ser definida como “situações nas quais partes separadas
trabalham juntas para atingir objetivos mútuos ou objetivos individuais com reciprocidade
ao longo do tempo”. Neste estudo entende-se cooperação como ajuda mútua entre
empresas ao longo do tempo. Desta forma compreende-se que é comum em um
cluster comercial a indicação de outra loja quando o consumidor não encontra o que
busca na empresa em que se encontra. Assim, os comerciantes se ajudam de forma
mútua o que reforça os laços nas relações estabelecidas nos clusters e possibilita uma
melhor convivência e possíveis ganhos financeiros mútuos a posteriore, como pode
ser observado nos trabalhos de Telles et. al. (2011), Siqueira, Lollo e Telles (2013) e
Aguiar, Pereira e Donaire (2014).
As empresas que compõem o cluster formam grandes redes sociais pois,
convivem por longo tempo em um mesmo local o que permite uma maior interação
entre si. O ambiente formado, segundo Wasserman e Faust (1994/2009) expressa
padrões ou regularidades nas relações estabelecidas entre as unidades interagentes,
foco de estudo da análise de redes sociais.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
96
2.2 Análise de redes sociais
O estudo das redes organizacionais e de relacionamentos adquire dimensões
importantes para a compreensão da dinâmica do ambiente organizacional (PASCOTTO
et al., 2013). Sob esta ótica, uma rede pode ser definida como um conjunto que se
relaciona entre si (MASTERALEXIS; BARR; HUMS, 2009) que se constitui a partir da
interação entre os sujeitos (KIRSCHBAUM, 2006; PINTO; JUNQUEIRA, 2009).
Tais interações ocorrem principalmente por meio da comunicação e do
conhecimento compartilhado que intensifica as trocas de informações e a reciprocidade
entre indivíduos, bem como entre as organizações. Neste contexto, a existência de
uma rede depende de uma realidade múltipla e complexa, em que o reconhecimento
da importância do outro e a definição de objetivos comuns possibilitam a construção
de um tecido social (MASTERALEXIS; BARR; HUMS, 2009; PINTO; JUNQUEIRA,
2009).
Assim, conforme sugere Marteleto (2001, p. 72), uma rede é “um conjunto
de participantes autônomos que unem ideias e recursos em torno de valores e
interesses compartilhados”. Ou seja, uma rede é uma realidade operativa de construtos
mentais, representada simbolicamente por nós (atores) que podem ser pessoas ou
organizações. Esta rede permite o entendimento da realidade social e a superação
dos problemas sociais que incidem sobre os diferentes atores (SILVEIRA et al., 2011).
Uma rede social é composta por medidas que ajudam a interpretar o seu
funcionamento e a identificar atores relevantes à sua dinâmica. Conforme sugere
Silveira et. al. (2011), um conceito importante na análise de redes sociais é o de
centralidade, que se refere à posição do nó (ator) dentro de uma rede particular, no
caso deste estudo um cluster comercial varejista de automóveis.
As medidas de centralidade, medidas dos atores, referem-se à quantidade de
conexões que um ator possui em relação aos demais atores, ou seja, a quantidade
de laços (elos). Os laços são vínculos que existem entre dois ou mais atores (nós).
Tais vínculos podem ser fortes quando o ator estabelece ligação com muitos outros
atores na rede, ou fracos quando a quantidade de laços é pequena (GRANOVETTER,
1973). Assim, um ator apresentará uma grande centralidade se este estiver vinculado
a muitos outros atores na rede. Por outro lado, se o ator recebe poucas ligações
(laços), sua centralidade é considerada baixa (SILVEIRA et al., 2011).
A conexão entre os nós pode representar o fluxo de informação de uma rede.
Assim, atores com alto grau de centralidade indicam que o fluxo de informação passada
por eles ocorre de forma frequente, isto é, quem está vinculado a estes pode receber
mais informações. Por outro lado, a ausência dessas conexões (nós) forma buracos
estruturais, ou seja, um ator não tem vínculo com outros na rede e, desta forma, não
recebe informações destes, tornando-se isolado ou com baixa conectividade em
relação aos demais.
As medidas de centralidade fornecem informações sobre como funciona a rede
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
97
e indicam o grau com que as relações estão centradas em um ou mais atores, ou
seja, para Wasserman & Faust (1994/2009) tais medidas indicam quais são os atores
mais importantes e quais são os mais isolados. Neste estudo, a centralidade será
representada pelas medidas Degree, Closeness e Betweenness.
Degree centrality (grau de centralidade) busca medir o grau de interação de cada
ator, não considerando a qualidade do contato realizado entre estes. Esta medida
identifica os atores que possuem mais vínculos (conexões) com outros e evidencia
que, em razão destes disporem de uma posição favorecida na rede, há a possibilidade
de obterem ganhos diferenciados em relação a outros com níveis de interações
mais baixos, tornando-se menos dependentes devido a sua posição diferenciada
(HANNEMAN & RIDDLE, 2005).
Closeness centrality (grau de proximidade) é a medida que analisa a proximidade
dos atores e busca descrever a distância de um ator em relação aos outros na rede
(WASSERMAN; FAUST, 1994/2009). Essa medida é mais complexa, uma vez que
analisa também os laços indiretos de um determinado ator com a rede, indo muito
além do simples entendimento do grau de centralidade (HANNEMAN; RIDDLE, 2005;
FARINA et al., 2013). Wasserman & Faust (1994/2009) afirmam que um ator é central
se puder interagir rapidamente com todos os outros.
Outra métrica de centralidade importante é o Betweenness (grau de
intermediação), que busca caracterizar os atores que têm posição de destaque na
rede. Refere-se a um nó particular que fica entre os outros nós da rede, isto é, indica
o quanto cada ator se situa entre dois pares de atores (o meio) componentes da rede
na menor distância possível. Assim, quanto maior for a centralidade do ator mais poder
ele tem, pelo fato de ser um intermediário na troca de informações (FREEMAN, 1992;
FARINA et al., 2013; RIBEIRO, 2013). O que se verifica é o quanto um ator pode
controlar as interações entre outros atores cuja comunicação passe pelo primeiro ator
(WASSERMAN; FAUST,1994/2009).
Segundo Silveira et al. (2011), se a rede como um todo apresenta poucos
vínculos entre os atores, então torna-se difícil para a informação fluir livremente de um
grupo a outro, a menos que ela passe por indivíduos que conectam os grupos dentro
da rede. Por esta razão, o indivíduo que preenche estes vácuos está numa posição
de poder e poderia controlar o fluxo de informação influenciando inclusive quem será
beneficiado.
A análise de redes sociais, por meio das medidas de centralidade, permite o
entendimento das relações entre os atores nela inseridas. Tais medidas evidenciam
o fluxo de informações, bem como os principais atores da rede. Assim, a análise
de redes sociais, enquanto ferramenta, pode auxiliar e indicar como está o grau de
conhecimento de cada membro em relação aos demais membros de um cluster. No
caso do cluster comercial varejista planejado de automóveis, um maior conhecimento
entre os membros pode significar a concretização de mais negócios no próprio cluster.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
98
3 | MÉTODO
Foi realizado um estudo descritivo, pois “busca descrever as características da
situação que envolve um problema” (BOYD, 1978, p. 317). Neste caso, o objetivo
é identificar os relacionamentos existentes entre os atores de um cluster comercial
varejista planejado de automóveis, doravante denominado Shopping X, que foi
selecionado levando-se em conta a acessibilidade dos pesquisadores.
Esta pesquisa assume um caráter quantitativo visto que, procura enumerar e/
ou medir os eventos estudados (GODOY, 1995). Para tanto, foram entrevistados
os proprietários, gerentes ou vendedores de lojas integrantes do Shopping X que
responderam ao questionário proposto.
Para a avaliação dos resultados utilizou-se a técnica de análise de redes
sociais, buscando-se assim identificar e descrever os relacionamentos entre os atores
presentes nesse cluster comercial varejista planejado de automóveis, localizado em
um município próximo a São Paulo.
Para o levantamento de dados foi feito inicialmente um contato pessoal com a
administração do shopping com o objetivo de pedir autorização para realização da
pesquisa. Neste dia, um dos pesquisadores efetuou o mapeamento de todas as lojas
existentes no cluster, uma vez que a proposta inicial era efetuar um censo. Foram
identificadas 26 lojas de carros, uma loja de caminhões, oito lojas de prestadores
de serviços (despachante, financeiras e seguradoras, dentre outras e ainda a
administração), o que totalizava 36 possíveis participantes. Iniciou-se então uma fase
de contato com as lojas para a aplicação do questionário. Do total, três lojas de carros
e uma prestadora de serviço se recusaram a responder o questionário, o que reduziu
a amostra a 32 inquiridos, Foram necessárias duas visitas ao local em dias diferentes
ao da visita inicial descrita, isto ocorreu no mês de dezembro de 2013.
Utilizou-se como instrumento para a coleta de dados um questionário estruturado
composto por dois conjuntos de perguntas: o primeiro bloco teve como objetivo
identificar a loja quanto a seu tamanho físico, porte, tipo de veículo vendido e função do
entrevistado. O segundo bloco foi composto por perguntas que tinham como objetivo
esclarecer como o lojista entrevistado troca informações e coopera com os demais
atores do Shopping X. Desta forma, cada sujeito entrevistado deveria atribuir uma
nota numa escala entre 0 (zero) a 5 (cinco) a cada uma das outras lojas existentes e
listadas previamente.
Cada entrevistado descreveu, com relação a cada questão, a intensidade
com a qual se relacionava com os demais lojistas atuantes no Shopping X ao trocar
informações e cooperar com cada um dos demais atores do cluster analisado. Após o
levantamento foram utilizados o software Excel para tabulação dos dados e o software
Ucinet para a construção dos grafos de relacionamento e cooperação, conforme
apregoado na técnica de análise de redes sociais.
As medidas utilizadas para análise da centralidade foram: degree (analisa o grau
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
99
de interação de cada ator), closeness (analisa a proximidade dos atores, buscando
descrever a distância de um em relação aos outros na rede) e betweenness (caracteriza
os atores que tem posição de destaque como intermediário entre pares de atores na
rede).
4 | ANÁLISE DOS DADOS
O Shopping X comercializa diversos tipos de veículos, conforme demonstrado
na Tabela 1. Nota-se que a predominância é de lojas de carros de passeio novos
e semi-novos (23%) respectivamente, bem como carros e utilitários novos e seminovos (16%) respectivamente. Constatou-se que não há lojas que vendam apenas
carros novos, bem como não se identificou também a presença de concessionárias
autorizadas de montadoras de veículos.
Produto vendido pelas lojas
Quantidade
Percentual
Somente carros de passeio novos e semi-novos
7
23%
Somente carros de passeio semi-novos
Somente utilitários semi-novos
Somente utilitários novos e semi-novos
7
23%
1
3%
1
Carros e utilitários semi-novos
Carros e utilitários novos e semi-novos
3%
5
16%
1
3%
5
Caminhões e seguros
Serviços
16%
4
13%
31
100%
Tabela 1: Tipos de produtos comercializados no cluster.
Fonte: elaborado pelos autores
Com relação ao porte das empresas, foi utilizado como padrão a quantidade
de funcionários por loja, segundo critérios do SEBRAE. Assim verifica-se, conforme
Tabela 2, a predominância por microempresas (90%).
Porte da empresa
Microempresas
Empresas de
pequeno porte
Empresas de
médio porte
Quantidade
funcionários
Empresas Pesquisadas
Quantidade
Percentual
Até 9
28
90%
De 10 a 49
3
10%
Acima de 50
0
0%
31
100%
Tabela 2: Porte das empresas do cluster comercial
Fonte: elaborado pelos autores.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
100
Observa-se que o shopping em questão concentra trinta e uma empresas que
comercializam um tipo de produto especializado na mesma área espacial, o que o
caracteriza segundo Teller e Elms (2010) e Teller e Reutere (2008), como um cluster
comercial. A presença da administração, uma entidade que organiza o espaço,
caracteriza o cluster comercial analisado como planejado, conforme Teller e Reutere
(2008).
A análise de redes sociais possibilita mostrar a qualidade no recebimento da
informação passada aos indivíduos que integram a rede, melhorando dessa forma
o desempenho empresarial, tanto ao nível individual, quanto ao nível da rede como
um todo (CROSS; CUMMINGS, 2004). A Figura 1 expõe a rede de relacionamentos
do cluster comercial varejista analisado, referentemente ao parâmetro informação,
evidenciando assim as trocas de informações entre os atores participantes e a
proximidade destes na rede. As tabelas a seguir servirão de base para a análise das
medidas de centralidade Degree, Closseness e Betweennes.
Figura 1: Grau de interação entre as empresas na troca de informação.
Fonte: elaborado pelos autores.
Nota-se pela figura uma intensa troca de informações entre as lojas, ou seja,
a capacidade de interligar os indivíduos em uma rede é intensificada conforme a
frequência da comunicação entre estes (CROSS; CUMMINGS, 2004).
Com o intuito de facilitar a análise dos dados utilizou-se os quartis como critério
para determinar quatro intervalos com mesmo número de empresas colocadas em
ordem crescente. Assim, obteve-se três quartis: o primeiro quartil representa 25% dos
valores menores, no segundo quartil 50% dos valores são menores e no terceiro
quartil encontram-se 25% dos valores maiores (LAPPONI, 2000). A tabela 3 indica o
terceiro quartil na extremidade superior e o primeiro quartil na extremidade inferior. A
tabela 4 descreve os quartis com as medidas de centralidade e as empresas que as
compõem.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
101
3º quartil
Betweenness
Closeness
Degree
0,29
75,61
67,74
1,22
1º quartil
90,52
89,51
Tabela 3. Valores correspondentes aos quartis em cada medida de centralidade (%)
Fonte: dados obtidos da pesquisa pelos autores
Betweenness
Closeness
Degree
3º quartil
1,11,30,32,26,29,24,7
1,11,30,32,7,26,19,9
1,11,30,32,7,26,19,9
1º quartil
14,8,13,10,23,12,18,31
8,20,27,5,10,23,12,18,31
8,20,27,5,10,23,12,18,31
Tabela 4. Comparativo entre as medidas de centralidade do cluster comercial
Fonte: dados obtidos da pesquisa pelos autores
O valor 89,51% para o degree indica que 25% das empresas trocam
informações com mais de 89,51% das empresas desse cluster comercial. Os valores
de intermediação betweenness são baixos, isto é, as empresas estão relacionadas
diretamente, sem intermediação de outras. Nota-se que, independente da medida de
centralidade a ser analisada, há nos dois quartis um grupo de empresas comuns. Desta
forma, buscou-se inicialmente as empresas que estão presentes nas três medidas. No
3º quartil encontram-se as lojas 1,11 e 7, estas exercem maior influência sobre as
outras (betweenness), tem mais prestígio (degree) e estão mais próximas dos outros
atores do cluster (closeness). Nota-se também neste quartil a presença de empresas
complementares ao negócio central do cluster, como as empresas 30 (vistoria de
veículos), 32 (administração) e 26 (financeira). As empresas 29 (despachante) e 24
(financeira) estão presentes apenas na medida betweenness, ou seja, constata-se que
estas exercem maior influência sobre as demais empresas do aglomerado varejista.
Isto demonstra quais são os atores mais importantes da rede segundo Wasserman e
Faust (1994/2009).
As empresas comuns presentes no 1º quartil são as lojas 8,10,23,12 e 18,
estas exercem menos influência sobre as outras (betweenness), tem menos prestígio
(degree) e estão mais distantes dos outros atores da rede (closeness). As lojas 5 e 20
e a empresa de seguros 27 dispõem de menor acesso aos outros atores (closeness)
e, tem menor prestígio pois estão mais distantes dos atores centrais (degree).
Percebe-se também que a loja 14 exerce menor influência sobre as outras nas trocas
de informação (betweenness). Estas medidas demonstram os atores mais isolados
conforme Wasserman e Faust (1994/2009) e devem ser estimulados a trocar mais
informação com as demais empresas.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
102
5 | CONCLUSÕES
Conforme proposto, o presente trabalho teve como objetivo identificar os
relacionamentos existentes entre os atores participantes do cluster comercial planejado,
denominado Shopping X, sob a abordagem da análise de redes sociais. Em relação
à troca de informações entre os participantes, os resultados auferidos indicaram que
há baixa troca de informações entre os atores analisados. Ainda que algumas lojas
tenham se destacado, observou-se em geral que o nível de intensidade de troca de
informações é, em geral, baixo. A administração do shopping pode promover maior
contato entre as empresas, a fim de criar maior relacionamento, com o objetivo de
promover a confiança e facilitar o fluxo de informações no cluster.
Os resultados encontrados indicam a real possibilidade de utilização da análise
de redes sociais no sentido de melhor compreender as relações de interdependência
existentes entre os atores atuantes num cluster. Não obstante, o presente estudo
também auxilia os gestores de empresas e organizações a melhor compreender sua
atuação enquanto membros de uma aglomeração comercial varejista.
Há de se apontar algumas limitações desta pesquisa, por se tratar de um estudo
de caso único, circunscrito a um shopping de produto específico localizado na região
metropolitana de São Paulo. O recorte transversal no tempo também é um aspecto a
ser considerado como limitador, pois expõe a situação auferida num único momento,
não interpretando o histórico de fatos que levou a tal contexto específico.
Face ao exposto, futuros estudos complementares ou extensivos à presente
pesquisa poderiam contemplar clusters comerciais varejistas de outros produtos, como
objeto de estudo. Além disso, também poderiam ser estudados clusters planejados ou
espontâneos de outras regiões. Tais estudos poderiam assim buscar verificar se o
fato de existir maior cooperação entre algumas lojas repercute num maior volume de
vendas apenas para estas lojas tidas como mais cooperativas.
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Capítulo 9
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 9
105
CAPÍTULO 10
IMPLEMENTAÇÃO DE UMA MESA DE VARREDURA
XY E APRIMORAMENTO DO SISTEMA FOCAL DE UM
APARELHO DE LITOGRAFIA
Raul de Queiroz Mendes
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
São Carlos – São Paulo
Arlindo Neto Montagnoli
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
São Carlos – São Paulo
RESUMO:
Este
trabalho
propõe
o
desenvolvimento de um sistema de controle de
posição para uma mesa cartesiana XY (mesa
de varredura), a qual integra um equipamento
de litografia óptica pré-desenvolvido. Objetivouse utilizar tal mesa como uma base de posição
ajustável para resistes fotossensíveis durante
o processo de fotogravação, automatizando
assim o processo em questão e assistindo o
mecanismo de alinhamento da amostra abaixo
da torre de projeção (do equipamento litrográfico).
Além disso, como objetivos específicos, visouse desenvolver softwares: para funcionar como
interface de comunicação serial, para auxiliar
o processo de microgravação de padrões e
para gerar as imagens que representam tais
padrões.
PALAVRAS-CHAVE: controle de posição;
mesa cartesiana XY; equipamento de litografia
óptica; microgravação.
IMPLEMENTATION OF AN XY
SCANNING TABLE AND FOCAL SYSTEM
ENHANCEMENT OF A LITHOGRAPHY
APPARATUS
ABSTRACT: This work proposes the
development of a position control system
for a Cartesian XY table (scan table), which
integrates a pre-developed optical lithography
equipment. It was intended to use such a table
as an adjustable position base for photosensitive
samples during the optical lithography process,
hence automating the process in question
and assisting the alignment mechanism of
the sample below the projection tower (of the
lithographic equipment). In addition, as specific
objectives, it was aimed to develop softwares:
to function as a serial communication interface,
to aid the microgravation process of standards
and to generate the images that represent such
standards.
KEYWORDS: position control; scan table;
optical lithography equipment; microgravation.
1 | INTRODUÇÃO
Os
avanços
nos
estudos
microeletrônica
tiveram
como
base
microfabricação
(ARISTIZÁBAL,
2012).
da
a
utilização do silício aliado às tecnologias de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
A
106
microeletrônica procurou explorar as características elétricas e mecânicas do silício
e isto favoreceu a produção em massa de chips que apresentam uma variedade de
aplicações em produtos constituídos de Sistemas Micro-Eletro-Mecânicos (MEMS),
tais como bocais de injeção de impressoras a jato de tinta e sistemas de comunicação
por fibra ótica (PETERSEN, 1982).
Beneficiando-se dos MEMS, a microeletrônica passou a ser empregada em
processos mais complexos que utilizam materiais como o PDMS (polidimetilsiloxano -
polímero de silicone), e o PMMA (polimetilmetacrilato - polímero termoplástico), além
do Silício (ARISTIZÁBAL, 2012). Essa miniaturização de processos mais elaborados
pode ser evidenciada no trabalho de Liu e Cui (2005) sobre o desenvolvimento de um
microchip integrado aplicado a eletroforese capilar para aminoácidos. Em (LIU; CUI,
2005), o microchip de PDMS integrado com eletrodos de platina foi construído tendo
como base a tecnologia de MEMS.
A partir destes progressos, criou-se o conceito dos Laboratórios em Chip (LOC),
o qual consiste na realização de operações características de laboratório em escalas
micro ou nanométricas (ARISTIZÁBAL, 2012). Sendo assim, tornaram-se executáveis
o manuseio e a análise de reações de amostras com micro ou picolitros de volume,
de modo automatizado, por meio da otimização de áreas como a microfluídica e
a microeletrônica (ARISTIZÁBAL, 2012). Os LOC são amplamente empregados
em: análises de motilidade bacteriana, estudos de crescimento confinado de
microorganismos, estudos biofísicos de membranas e em estudos de cristalização de
proteínas (Hansen et al., 2002).
Os LOCs, em propósitos de microfluídica (assim como em algumas aplicações
em microeletrônica), podem ser produzidos por intermédio de aparelhos de litografia
semelhantes ao mecanismo ilustrado na Figura 1. Os moldes simples são fabricados
através de linhas no fotoresiste que originarão os canais no PDMS ou em algum outro
material empregado como molde (ARISTIZÁBAL, 2012). Na Figura 1, observa-se que
as linhas do fotorresiste podem ser geradas por meio da radiação da lâmpada UV, a
qual passa pela matriz de micro espelhos do projetor, onde o estado binário dos micro
espelhos formarão a imagem no fotorresiste (ARISTIZÁBAL, 2012). Além disso, na
figura em questão, pode-se observar que a radiação UV passa pelo sistema focal onde
a imagem formada na matriz de micro espelhos é ajustada de acordo com a posição
do substrato (ARISTIZÁBAL, 2012).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
107
Figura 1 – Modelo da torre de projeção do aparelho de litografia (Aristizábal, 2012).
1.1 Síntese da Bibliografia Fundamental
O trabalho de Aristizábal (2012) é fundamentado na utilização de tecnologias
de microfabricação para a produção de sistemas Lab On Chip empregados na área
biomédica. Técnicas de moldagem e soldagem para o desenvolvimento de sistemas
Lab On Chip em Polidimentilsiloxano e processos de ativação de PDMS também
foram abordados nesse trabalho. O PDMS é um elastômero de silicone que apresenta
aspectos propícios a aplicações biomédicas de baixo custo. Exemplos de tais aspectos
do PDMS: possui propriedades isotrópicas e homogêneas, é quimicamente inerte, tem
um custo menor que o silício e é permeável a gases (além de ser: transparente, não
tóxico, não fluorescente e biocompatível) (MATA et al, 2005).
Contudo, o PDMS é um material hidrofóbico e, em decorrência disto, certas
substâncias (compostos orgânicos) podem ser absorvidas em sua superfície,
dificultando a quantificação e a separação desses tipos de substâncias em dispositivos
feitos com o polímero em questão (ARISTIZÁBAL, 2012).
Apesar da superfície inerte do PDMS ser um empecilho a modificação de sua
estrutura hidrofóbica, tal estrutura pode ser modificada com o uso de processos
envolvendo sol-gel (ou com a deposição de polímeros hidrofílicos), com a finalidade
de gerar camadas de SiO2 nestes polímeros de Polidimetilsiloxano, tornando sua
superfície mais hidrofílica e resistente a absorção de compostos orgânicos (ROMAN
et al, 2005).
Em uma seção do trabalho de Aristizábal (2012), é apresentado o desenvolvimento
de um aparelho de litografia óptica com uma torre de projeção ilustrada pela Figura 1.
Este aparelho é capaz de gerar gravações em substratos com limites de resoluções
de: 5µm, 10µm e 15µm, com relação as seguintes formas respectivamente: linhas
abertas, círculos e retângulos (modelo exibido na Figura 2). O equipamento de litografia
óptica é composto pela torre de projeção e por um sistema de varredura constituído de
mesas cartesianas XY.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
108
Figura 2 – Imagem da esquerda: resulção de linhas abertas; imagem da direita: resolução de
círculos e retângulos (Aristizábal, 2012).
Internamente a torre de projeção, encontra-se uma lâmpada de mercúrio,
cuja radiação é direcionada por uma matriz de micro-espelhos eletromecânicos
(ARISTIZÁBAL, 2012). O estado binário dos micro-espelhos determinam se a luz será
transmitida para as lentes objetivas e, posteriormente, para o resiste, ou se esta luz
será refletida na própria estrutura do projetor, aparecendo como um ponto escuro no
resiste (ARISTIZÁBAL, 2012).
O sistema de controle de foco, cuja estrutura é esquematizada na Figura 3, opera
com base no arqueamento de chapas finas e flexíveis de aço por uma alavanca que
pode ser impelida pelo mecanismo acoplado a um motor de passo (ARISTIZÁBAL,
2012). Assim, substratos com espessuras distintas podem ser gravados por meio
deste sistema de controle de foco, o qual ajusta a lente objetiva em, no máximo, 6mm
de alcance vertical (ARISTIZÁBAL, 2012).
Figura 3 – Estrutura mecânica do sistema de controle de foco (Aristizábal, 2012).
De acordo com Aristizábal (2012), o sistema de varredura é composto por mesas
cartesianas XY que operam com base nos sinais transmitidos por um microcontrolador.
O microcontrolador é responsável por computar os sinais dos encoders que compõem
as mesas cartesianas, os comandos enviados pelo PC (Personal Computer) e os
comandos transmitidos por um joystick. Posto isso, o microcontrolador envia sinais de
PWM (Pulse Width Modulation) para uma ponte H para controlar a posição da mesa.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
109
2 | OBJETIVOS
Neste trabalho, visou-se realizar o controle de posição em malha fechada de uma
mesa de varredura XY para um equipamento de litografia óptica pré-desenvolvido.
Acrescentando-se a isso, visou-se desenvolver novos hardwares e softwares para
otimizar o processo de litografia óptica.
3 | MATERIAL E MÉTODOS
Equipamentos utilizados em laboratório:
•
Fonte De Alimentação DC Minipa MPL-3303M;
•
Multimetro Instrutherm MD-380;
•
Osciloscópio Agilent Tecnologies DSO1072B;
•
Bread board Shuiyunpu Wanjie BB-4T7D-01.
A placa apresentada na Figura 4 foi montada com o intuito de ligar ou desligar o
LED UV e de fazer o controle em malha aberta do foco da lente externa do equipamento
de litografia óptica da Figura 5. O algoritmo de controle de foco em questão foi
desenvolvido no software MPLAB em linguagem Assenbly para ser programado no
PIC 16F628A. Componentes utilizados para montar a placa da Figura 4:
•
3 bornes (cada um com 2 entradas);
•
2 capacitores de 27pF;
•
1 capacitor de 100nF;
•
1 capacitor de 47µF;
•
6 conectores do tipo “pin header”;
•
1 cristal LGE 20MHz;
•
2 diodos 1n4007;
•
1 microcontrolador PIC 16F628A;
•
1 relé HJR-3FF-S-Z
•
2 resistores de 1kΩ;
•
1 resistor de 2,2kΩ;
•
1 transistor BC338.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
110
Figura 4 – Placa desenvolvida para ligar ou deligar o equipamento de litografia óptica e para
fazer o controle do foco de sua lente externa.
Figura 5 – Equipamento de litografia óptica pré-desenvolvido.
Por meio de um PC contendo o software Visual Studio 2015, desenvolveu-se
dois programas em linguagem C#, cujas interfaces estão expostas nas Figuras 6 e
7. Com o auxílio da interface da Figura 6 e da placa da Figura 4, é possível enviar
comandos ao microcontrolador PIC 18F4520, a fim de que este possa desempenhar
as seguintes funções: realizar o controle em malha aberta da angulação do servo motor
acoplado à estrutura de ajuste focal do equipamento de litografia através de pulsos de
PWM, e ligar ou desligar o LED UV de tal equipamento pela ativação e desativação do
relé da placa da Figura 4.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
111
Figura 6 – Interface do programa aplicado no controle do foco, do LED UV e do processo de
gravação do equipamento de litografia óptica.
Figura 7 – Interface do programa aplicado no controle de posição da mesa de varredura.
Com o auxílio da placa de circuito impresso (PCB) da Figura 8, é possível realizar
a comunicação serial entre a interface da Figura 7 e o PIC 18F4520, objetivando
controlar a posição, em malha fechada, da mesa cartesiana da Figura 9. Além disso,
utilizou-se um display LCD 16x2 para auxiliar na visualização da posição em tempo real
da mesa em questão (em cm); e utilizou-se também um hardware de ponte USB para
UART Cp2102 (betemcu, B75937), para que fosse possível realizar a comunicação
serial entre o PC e o PIC 18F4520 via USB. Componentes utilizados para montar a
PCB da Figura 8:
•
1 borne com 2 entradas;
•
1 botão;
•
1 capacitor de 100nF;
•
2 capacitores de 10nF;
•
6 conectores do tipo “pin header”;
•
30 conectores do tipo “center header”;
•
1 cristal LGE 20MHz;
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
112
•
1 resistor de 10kΩ.
Figura 8 – PCB aplicada no controle da posição da mesa cartesiana.
Figura 9 – Mesa cartesiana utilizada nos testes práticos de controle de posição.
A região deslizante superior da mesa cartesiana da Figura 9 se desloca
horizontalmente devido a atuação de um motor DC, cujo eixo está acoplado a
uma rosca sem fim. À medida que o eixo deste motor DC gira, a rosca sem fim faz
movimentar linearmente um dispositivo composto internamente por um acoplador
que está interligado a região deslizante da mesa e a própria rosca sem fim. Ao se
movimentar linearmente devido ao giro da rosca sem fim, este dispositivo também faz
a região deslizante da mesa cartesiana se movimentar linearmente.
A PCB da Figura 10 foi desenvolvida para tratar os sinais analógicos dos canais
A e B do encoder óptico linear da mesa de varredura. Componentes utilizados para
montar a PCB da Figura 10:
•
2 amplificadores operacionais (ampop) TL081;
•
1 borne com 3 entradas;
•
2 capacitores de 47µF;
•
1 capacitor de 100nF;
•
4 conectores do tipo “center header”;
•
2 resistores de 39kΩ;
•
2 resistores de 1kΩ;
•
2 transistores BC548.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
113
Figura 10 – PCB desenvolvida para tratar os sinais gerados pelos canais do encoder óptico.
A PCB da Figura 11 opera como uma ponte para o motor DC da mesa cartesiana
e como um circuito desacoplador, protegendo o PIC 18F4520 e todos os circuitos
eletrônicos e digitais interligados a esta placa de sobrecorrentes.
Componentes utilizados para montar a PCB da Figura 11:
•
2 bornes (cada um com 2 entradas);
•
2 capacitores de 10nF;
•
2 capacitores de 100nF;
•
6 conectores do tipo “pin header”;
•
3 optoacopladores 6n136;
•
1 ponte para motor lm18201;
•
3 resistores de 100Ω;
•
3 resistores de 2,2kΩ;
•
1 resistor de 10kΩ.
Figura 11 – PCB que funciona como ponte para motor DC e como desacoplador.
Os métodos utilizados para as análises de dados foram, principalmente, baseados
em procedimentos empíricos realizados em laboratório. Os circuitos construídos e os
algoritmos desenvolvidos foram testados em prática e os resultados foram registrados
e analisados durante e após os testes respectivamente.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
114
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
As ondas das Figuras 12 e 13 representam os sinais analógicos dos canais A
(amarelo) e B (verde) do encoder óptico. Os sinais da Figura 12 estão defasados entre
si por um ângulo de 81º devido ao deslocamento no sentido positivo (para à direita)
da mesa cartesiana; e os sinais da Figura 17 estão defasados entre si por um ângulo
de -107º devido ao deslocamento no sentido negativo (para à esquerda) de tal mesa.
Figura 12 – Sinais analógicos dos canais A (amarelo) e B (verde) do encoder óptico.Tais sinais
estão defasados entre si por um ângulo de 81º devido ao deslocamento no sentido positivo
(para à direita) da mesa cartesiana.
Figura 13 – Sinais analógicos e senoidais dos canais A (amarelo) e B (verde) do encoder óptico.
Tais sinais estão defasados entre si por um ângulo de -107º devido ao deslocamento no sentido
negativo (para à esquerda) da mesa de varredura.
As ondas das Figuras 14 e 15 representam os sinais dos canais A e B em
quadratura tratados pela PCB da Figura 10. Os sinais da Figura 14 estão defasados
entre si por um ângulo de 109º devido ao deslocamento no sentido positivo da mesa
cartesiana, e os sinais da Figura 15 estão defasados entre si por um ângulo de -118º
devido ao deslocamento no sentido negativo de tal mesa.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
115
Figura 14 – Sinais dos canais A (amarelo) e B (verde) em quadratura do encoder óptico,
tratados pela PCB da Figura 10. Tais sinais estão defasados entre si por um ângulo de 109º
devido ao deslocamento no sentido positivo (para à direita) da mesa de varredura.
Figura 15 – Sinais dos canais A (amarelo) e B (verde) em quadratura do encoder óptico,
tratados pela PCB da Figura 10. Tais sinais estão defasados entre si por um ângulo de -118º
devido ao deslocamento no sentido negativo (para à esquerda) da mesa de varredura.
As Tabelas 1 e 2 mostram os valores dos ciclos de trabalho e defasagens dos
sinais dos canais A e B do encoder óptico, antes e depois do tratamento de sinais
executado pela PCB da Figura 10 respectivamente.
Canal
A
Sentido do Deslocamento
da Mesa Cartesiana
Defasagem (º)
+
-81
B
A
B
+
-
81
Ciclo de Trabalho
(%)
49,6
50,8
-107
49,0
107
49,4
Tabela 1 – Valores dos ciclos de trabalho e defasagens dos sinais dos canais A e B do encoder
óptico, antes do tratamento de sinais executado pela PCB da Figura 10.
Canal
A
B
A
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Sentido do
Deslocamento da
Mesa Cartesiana
Defasagem
(º)
+
-109
+
-
109
Ciclo de
Trabalho
(%)
57,6
53,8
-118
38,8
Capítulo 10
116
B
-
118
47,1
Tabela 2 – Valores dos ciclos de trabalho e defasagens dos sinais dos canais A e B do encoder
óptico, após o tratamento de sinais executado pela PCB da Figura 10.
Após serem tratados, os sinais dos canais A e B do encoder óptico são
transmitidos aos pinos 15 (RC0) e 16 (RC1), respectivamente, do microcontrolador
PIC 18F4520 da PCB da Figura 8. Para estabelecer o controle PID de posição
em malha fechada da mesa cartesiana, desenvolveu-se um algoritmo no software
MPLAB em linguagem C. Neste algoritmo, a ação de controle opera a cada 50 ms
(estouro do timer). Do mesmo modo, a visualização da posição em tempo real da
mesa de varredura no display e na interface da Figura 7, além da visualização do erro
de posição da mesa nessa mesma interface, ocorrem a cada 50ms. Acrescentando-
se a isso, determinou-se empiricamente o valor do fator de conversão de bits para
distância (em cm), o qual é igual a 0,0064.
Os valores dos ganhos kp, ki e kd, do controle PID, foram determinados
empiricamente e estão expostos na Tabela 3. O valor total do erro de posição, cuja
expressão é apresentada na Equação 1, foi utilizado como o valor do ciclo de trabalho
do PWM que representa o sinal de controle transmitido a ponte H para controlar o
motor DC da mesa de varredura através do pino 17 CCP1 (RC2) do microcontrolador
PIC 18F4520.
Ganho
Valor
Ki
0,05
Kp
Kd
0,5
0,01
Tabela 3 – Valores do ganhos kp; ki e kd do controlador PID determinados empiricamente.
Equação 1 – Equação utilizada no cálculo do valor total do erro de posição.
Os pinos de saída da ponte H LM18201 são conectados diretamente as
alimentações do motor DC da mesa de varredura. A Figura 16 diz respeito ao circuito
completo de controle de posição da mesa cartesiana utilizado nos testes práticos em
laboratório. Tais testes foram realizados tendo como posição inicial da mesa (0 cm)
aquela indicada pela Figura 17.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
117
Figura 16 – Circuito completo de controle de posição da mesa de varredura.
Figura 17 – Posição inicial da mesa de varredura (0 cm).
Sendo assim, executou-se 3 testes para validar o sistema de controle de
posição da mesa de varredura. Nestes testes, controlou-se a mesa para as seguintes
posições: 6 cm, 12 cm e 15 cm, em relação a posição inicial da Figura 17. A Tabela
4 mostra os resultados obtidos para os 3 testes executados. Nesta tabela, também
são apresentados os valores dos erros relativos entre a posição final no LCD (cm) e a
posição desejada (cm) da mesa.
Teste
Posição Desejada (cm)
Posição Final no LCD (cm)
Erro (%)
2º
6
5,9974
0,0433
1º
3º
12
15
11,9248
15,0539
0,6267
0,3593
Tabela 4 – Valores das posições desejadas e das posições finais, obtidas no LCD, para os 3
testes registrados.
5 | CONCLUSÕES
Por meio da placa da Figura 4 e da interface da Figura 6, otimizou-se o sistema
focal do equipamento de litografia óptica, uma vez que o foco de sua lente externa,
por onde a imagem atravessa para ser gravada no resiste fotossensível, passou a ser
controlado pela placa e pela interface em questão. Tal controle favorece a projeção
de imagens com uma melhor resolução. Além disso, a interface da Figura 6 torna
o processo de litografia óptica mais simples e eficiente, visto que, por meio desta
interface, é possível supervisionar todo o processo de litografia desde a escolha do
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
118
padrão a ser gravado até o tempo de projeção sob o qual a amostra será exposta.
Acrescentando-se a isso, com o auxílio do sistema de controle de posição
da mesa de varredura e da interface da Figura 7, realizou-se testes práticos em
laboratório para validar o sistema em questão, considerando-se os seguintes valores
de posições desejadas da mesa: 12 cm, 6 cm e 15 cm. Desta forma, obteve-se os
seguintes erros relativos entre as posições desejadas e as posições reais no visor
digital do LCD: 0,6267%, 0,0427% e 0,003597%, respectivamente. Portanto, a partir
dos erros calculados, conclui-se que o circuito de controle de posição, juntamente com
a interface citada, desempenha sua função como esperado e que a mesa cartesiana
consegue atingir as posições desejadas.
REFERÊNCIAS
ARISTIZÁBAL, S. L. Desenvolvimento de sistemas Lab-on-a-Chip para análises em biofísica
celular 2012. 163 f. 2012. Tese de Doutorado. Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica)–Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo. Brasil.
HANSEN, Carl L. et al. A robust and scalable microfluidic metering method that allows protein crystal
growth by free interface diffusion. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 99, n. 26,
p. 16531-16536, 2002.
LEE, Jessamine Ng; PARK, Cheolmin; WHITESIDES, George M. Solvent compatibility of poly
(dimethylsiloxane)-based microfluidic devices. Analytical chemistry, v. 75, n. 23, p. 6544-6554, 2003.
LIU, C. C.; CUI, D. F. Design and fabrication of poly (dimethylsiloxane) electrophoresis microchip with
integrated electrodes. Microsystem Technologies, v. 11, n. 12, p. 1262-1266, 2005.
LIU, X. Y. et al. based piezoresistive MEMS force sensors. In: 2011 IEEE 24th International
Conference on Micro Electro Mechanical Systems. IEEE, 2011. p. 133-136.
MATA, Alvaro; FLEISCHMAN, Aaron J.; ROY, Shuvo. Characterization of polydimethylsiloxane (PDMS)
properties for biomedical micro/nanosystems. Biomedical microdevices, v. 7, n. 4, p. 281-293, 2005.
PETERSEN, Kurt E. Silicon as a mechanical material. Proceedings of the IEEE, v. 70, n. 5, p. 420457, 1982.
ROMAN, Gregory T. et al. Sol− gel modified poly (dimethylsiloxane) microfluidic devices with high
electroosmotic mobilities and hydrophilic channel wall characteristics. Analytical Chemistry, v. 77, n.
5, p. 1414-1422, 2005.
THANGAWNG, Abel L. et al. An ultra-thin PDMS membrane as a bio/micro–nano interface: fabrication
and characterization. Biomedical microdevices, v. 9, n. 4, p. 587-595, 2007.
WONG, Ieong; HO, Chih-Ming. Surface molecular property modifications for poly (dimethylsiloxane)
(PDMS) based microfluidic devices. Microfluidics and nanofluidics, v. 7, n. 3, p. 291, 2009.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 10
119
CAPÍTULO 11
ANÁLISE DO IMPACTO DO ROTEAMENTO FIXO
EM REDES ÓPTICAS ELÁSTICAS TRANSLÚCIDAS
CONSIDERANDO DIFERENTES CENÁRIOS DE
DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE DE TRANSMISSÃO
Arthur Hendricks Mendes de Oliveira
Universidade Federal de Campina Grande, Centro
de Engenharia Elétrica e Informática, Unidade
Acadêmica de Engenharia Elétrica
Campina Grande - Paraíba
Helder Alves Pereira
Universidade Federal de Campina Grande, Centro
de Engenharia Elétrica e Informática, Unidade
Acadêmica de Engenharia Elétrica
Campina Grande – Paraíba
otimizar o número de chamadas estabelecidas.
PALAVRAS-CHAVE: Algoritmo de Roteamento,
Algoritmo de Utilização de Regeneradores,
Rede Óptica Elástica Translúcida.
ANALYSIS OF THE IMPACT OF FIXED
ROUTING IN TRANSLUCENT ELASTIC
OPTICAL NETWORKS CONSIDERING
DIFFERENT QUALITY OF TRANSMISSION
RESUMO: Este capítulo apresenta uma
avaliação do impacto no desempenho de redes
ópticas elásticas translúcidas, bem conhecidas
da literatura, de diferentes algoritmos de
roteamento, considerando diversos cenários
de degradação da qualidade de transmissão do
sinal óptico propagante. Para isso, considerouse o ruído de emissão espontânea amplificada
gerado nos amplificadores ópticos (de potência,
de linha e pré-amplificador), formatos de
modulação e taxas de transmissão de bit
diferentes para as solicitações de chamada.
O desempenho foi avaliado em termos da
probabilidade de bloqueio de chamadas em
função do número de regeneradores instalados
na rede. Os resultados mostram que, além
da característica do tipo de roteamento (fixo
ou dinâmico), deve-se considerar também a
política de utilização de regeneradores para
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
DEGRADATION SCENARIOS
ABSTRACT: This chapter presents an analysis
of the impact of different routing algorithms on
the performance of translucent elastic optical
networks. We considered in our simulations
the amplified spontaneous emission noise
generated in the optical amplifiers (power
amplifier, in-line and preamplifier), modulation
formats and different transmission bit rates
for the call requests. The performance was
evaluated in terms of the blocking probability
of call requests as a function of the number of
regenerators installed in the network. The results
show that, in addition to the characteristics of the
routing type (fixed or dynamic), one should also
consider the policy of assigning regenerators
to optimize the number of established call
requests.
KEYWORDS:
Regenerator
Assignment
Capítulo 11
120
Algorithm, Routing Algorithm, Translucent Elastic Optical Network.
1 | INTRODUÇÃO
A transmissão de dados em redes ópticas elásticas (EON – Elastic Optical
Network) possui uma característica bem interessante quando comparada com
as redes ópticas que utilizam multiplexação por comprimento de onda (WDM –
Wavelength Division Multiplexing) (CHATTERJEE et al., 2015). Essa característica se
refere à capacidade de tratar com a particularidade do atendimento das chamadas
solicitadas na rede. Com relação às redes ópticas WDM, independente da taxa de
transmissão de bit solicitada pela chamada e do formato de modulação utilizado, a
largura de banda não varia para atender à solicitação de chamada. Enquanto que, nas
redes ópticas elásticas, a largura de banda da chamada pode variar dependendo tanto
da taxa de transmissão de bit solicitada quanto do formato de modulação utilizado
para estabelecer a respectiva chamada (CAVALCANTE et al., 2015).
Essa característica das redes EONs se torna interessante devido à
heterogeneidade do tráfego das redes ópticas atuais. Por exemplo, voz sobre o
protocolo de internet (VoIP), vídeo sob demanda, transmissão/recepção de canais
de televisão digitais, chamadas por vídeo na internet, são utilizações que possuem
grandes variações de largura de banda e as redes EONs podem atender de forma
eficiente quanto à utilização do espectro de frequência disponível (CHATTERJEE et
al., 2015).
A propagação dos sinais ópticos no decorrer dos nós e enlaces dos caminhos
ópticos (lightpath) pode sofrer degradação em sua qualidade de transmissão (QoT
– Quality of Transmission) e comprometer a recepção do sinal. Dessa forma, pode
ser necessário fazer uso de recursos de regeneração de modo a tornar a recepção
do sinal óptico inteligível, ou seja, com valores de QoT em um limiar aceitável. Para
isso, é importante que os nós da rede tenham a capacidade de possuir recursos de
regeneração, sendo assim conhecidos como nós translúcidos (CAVALCANTE et
al., 2017a; CAVALCANTE et al., 2017b). Diante disso, existem dois problemas bem
conhecidos na literatura de redes ópticas elásticas translúcidas que tratam dos recursos
de regeneração, são eles (CAVALCANTE et al., 2017a; CAVALCANTE et al., 2017b):
(1) como alocar recursos de regeneração na rede, fazendo com que os nós tenham
capacidade de regeneração dos sinais ópticos propagantes (RPP – Regenerator
Placement Problem) e (2) visto que o nó seja translúcido, como utilizar de forma
eficiente os recursos de regeneração disponíveis (RAP – Regenerator Assignment
Problem)
Este capítulo envolve conteúdos abordados em outros trabalhos publicados na
literatura (OLIVEIRA et al., 2018a; OLIVEIRA et al., 2018b). Em ambos os trabalhos
(Oliveira et al., 2018a; Oliveira et al., 2018b), foi analisado um cenário específico de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 11
121
degradação da QoT do sinal óptico propagante em apenas uma topologia de rede bem
conhecida na literatura. Oliveira et al. (2018a) analisaram a probabilidade de bloqueio
de chamadas em função da variação de carga e Oliveira et al. (2018b) analisaram o
mesmo parâmetro em função do número de regeneradores instalados na rede. Neste
capítulo, a probabilidade de bloqueio de chamadas será analisada considerando dois
cenários distintos de degradação da QoT do sinal óptico propagante em três topologias
diferentes bem conhecidas na literatura.
2 | ESTRATÉGIAS DE ROTEAMENTO E DESCRIÇÃO DOS CENÁRIOS DE
SIMULAÇÃO
Assim como em Oliveira et al. (2018a; 2018b), neste capítulo foram considerados
os seguintes algoritmos de roteamento (CAVALCANTE et al., 2015; ZANG et al.,
2000): (1) menor número de enlaces (MH – Minimum Hops); (2) menor distância física
(SP – Shortest Path) e (3) distância e disponibilidade, adaptado para disponibilidade
de intervalos de frequência (slots) (LORa – Lenght and Availability Routing). Esses
algoritmos de roteamento foram considerados para se analisar o desempenho de três
topologias diferentes com relação à degradação da QoT do sinal óptico propagante
em dois cenários diversos. Dessa forma, contribuições inovadoras, bem como outros
algoritmos de roteamento também podem ser considerados em estudos similares. No
entanto, neste capítulo, observou-se o aspecto do roteamento fixo e da característica
de adaptabilidade do roteamento com relação às condições de tráfego dinâmico.
Nas simulações, foram utilizadas três topologias bem conhecidas na literatura,
são elas (CAVALCANTE et al., 2017a): (1) NSFNet, (2) US Backbone e (3) Europeia,
conforme ilustrado na Figura 1. Os ganhos dos amplificadores ópticos foram
dimensionados de modo a compensar exatamente as perdas dos nós e enlaces da
rede.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 11
122
Figura 1: Topologias de redes ópticas translúcidas consideradas e bem conhecidas na literatura:
(a) NSFNet, (b) US Backbone e (c) Europeia.
Cada nó possui arquitetura denominada de comutação de espectro (spectrum
switching), adaptada para utilização de regeneradores (CAVALCANTE et al., 2015).
A relação sinal-ruído óptica obtida no nó destino (OSNRRX) pode ser calculada
conhecendo-se os valores das perdas nos dispositivos, dos ganhos e do ruído de
emissão espontânea amplificada (ASE – Amplified Spontaneous Emission) gerado
nos amplificadores ópticos, levando-se em conta a taxa de transmissão de bit e o
formato de modulação (CAVALCANTE et al., 2015). Assumiu-se ainda que: (1) as
chamadas solicitadas seguem uma distribuição poissoniana, (2) a duração de cada
chamada estabelecida segue uma distribuição exponencial e (3) a seleção dos pares
fonte-destino e da taxa de transmissão de bit, para um dado pedido de requisição de
chamada, seguem uma distribuição uniforme.
O número de requisições de simuladas foi de um milhão de chamadas. Para
um determinado pedido de requisição de chamada, o algoritmo de roteamento (MH,
SP ou LORa) e o de atribuição espectral de primeiro preenchimento (FF – First Fit)
foram utilizados para verificar se a chamada poderia ser estabelecida. Considerou-se
que, primeiro tenta-se estabelecer a requisição de chamada utilizando o formato de
modulação com maior eficiência espectral. Caso esse formato de modulação não esteja
disponível, utiliza-se o segundo de maior eficiência espectral e assim por diante. No
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 11
123
caso de não ser possível o estabelecimento de um lightpath sem utilização de recursos
de regeneração (totalmente transparente), foram considerados dois algoritmos de RA
disponíveis na literatura (CAVALCANTE et al., 2017a; CAVALCANTE et al., 2017b):
(1) o de maior alcance transparente (FLR – First Longest Reach) e (2) o de melhor
atribuição espectral (FNS – First Narrowest Spectrum).
Para as simulações, foram utilizados os seguintes parâmetros: (1) para as
topologias Europeia e NSFNet o espaçamento entre amplificadores ópticos de linha
(span length) foi de 60 e 70 km (P1 e P2) e para a topologia US Backbone foi de 50
e 60 km (P1 e P2). O primeiro valor (P1) corresponde a um cenário transparente e o
segundo (P2) corresponde a um cenário em que é necessário a utilização de recursos
de regeneração devido à degradação da QoT do sinal óptico propagante, (2) 50%
dos nós com capacidade de regeneração, selecionados pelo algoritmo de prioridade
do grau do nó (NDF – Node Degree First) (CAVALCANTE et al., 2017a), (3) 320 slots
por enlace, (4) formatos de modulação utilizados: 4, 8, 16, 32 e 64-QAM, (5) taxa de
transmissão de bit variando de 100 a 500 Gbps com distribuição uniforme, (6) 12,5 GHz
de largura de banda de um slot, (7) 12,5 GHz de largura de banda de referência, (8) a
carga da rede para as topologias Europeia e US Backbone foi de 800 Erlangs, enquanto
que de 700 Erlangs para a NSFNet, (9) 5 dB de figura de ruído nos amplificadores
ópticos, (10) 0 dBm de potência de entrada do sinal óptico e (11) 30 dB de OSNR na
transmissão (OSNRTX). Assumiu-se também que os regeneradores podem, além de
regenerar o sinal óptico, realizar conversão espectral e de formato de modulação.
Todas as simulações deste capítulo foram realizadas utilizando o software de código
aberto SimEON (CAVALCANTE et al., 2017c). Todos os parâmetros utilizados nas
simulações estão descritos na Tabela 1.
Parâmetros
Frequência central
Valor
193,4 THz
Fator de ruído dos amplificadores ópticos
5 dB
Relação sinal-ruído óptica de entrada
30 dB
Potência óptica de entrada
0 dBm
Perdas nos elementos de comutação
Formatos de modulação utilizados
Relação sinal-ruído óptica por bit
5 dB
4, 8, 16, 32 e 64-QAM
6,8; 8,6; 10,5; 12,6 e 14,8 [dB] para 4, 8,
16, 32 e 64-QAM, respectivamente
700 Erlang (NSFNet) e 800 Erlang (US
Backbone e Europeia)
Carga da rede
Número de slots de frequência por enlace
320
Largura de banda de referência
12,5 GHz
Largura de banda do slot
12,5 GHz
Taxas de bits de transmissão
100 até 500 Gbps com distribuição
uniforme
Tabela 1: Parâmetros utilizados nas simulações.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 11
124
3 | RESULTADOS
A Figura 2 mostra a probabilidade de bloqueio de chamadas em função do
número de regeneradores por nó, considerando os algoritmos de roteamento MH, SP
e LORa e os algoritmos de utilização de regeneradores FLR e FNS para as topologias
NSFNet, US Backbone e Europeia, em dois cenários de degradação da QoT do sinal
óptico propagante (P1 e P2).
(a) NSFNet (P1)
(b) NSFNet (P2)
(c) US Backbone (P1)
(d) US Backbone (P2)
(e) Europeia (P1)
(f) Europeia (P2)
Figura 2: Probabilidade de bloqueio de chamadas em função do número de regeneradores por
nó, considerando os algoritmos de roteamento MH, SP e LORa e os algoritmos de utilização
de regeneradores FLR e FNS para as topologias NSFNet, US Backbone e Europeia, em dois
cenários de degradação da QoT do sinal óptico propagante (P1 e P2).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 11
125
Como pode ser observado na Figura 2, percebe-se um ponto de encontro em
todas as topologias e cenários considerados neste capítulo. Esse ponto de encontro
é descrito na literatura (CAVALCANTE et al., 2017a; CAVALCANTE et al., 2017b;
OLIVEIRA et al., 2018a) e determina o número de regeneradores instalados na rede
em que tanto a política de utilização de regeneradores FLR como a FNS fornecem
o mesmo desempenho em termos de probabilidade de bloqueio de chamadas. No
entanto, algoritmos de roteamento fixo, que não mudam a respectiva rota entre
os mesmos pares fonte-destino da rede, independente do tráfego considerado,
apresentam pior desempenho com relação ao algoritmo LORa analisado. Isso porque
o algoritmo de roteamento LORa depende do estado da rede, ou seja, considera em
sua função custo a disponibilidade de slots em cada enlace, fazendo com que, para
um mesmo par fonte-destino, obtenha rotas diferentes ao longo da operação da rede.
Essa característica de operação reflete no desempenho das diferentes topologias,
nos diversos cenários analisados, fornecendo menores valores de probabilidade de
bloqueio de chamadas, permitindo assim maior admissibilidade de conexões. Em um
cenário de maior degradação da QoT do sinal óptico propagante (P2), percebe-se
também um pior desempenho dos três algoritmos de roteamento analisados neste
capítulo. No entanto, ainda assim, o algoritmo LORa apresenta melhor desempenho
que os outros algoritmos de roteamento fixo (MH e SP).
Quando se analisa do ponto de vista da política de utilização de regeneradores
(FLR ou FNS), nota-se que os algoritmos que utilizam a política FLR apresentam
melhor desempenho abaixo do ponto de encontro. Acima desse ponto, os algoritmos
que utilizam a política FNS apresentam melhor desempenho. Constata-se, dessa
forma, o comportamento das duas políticas descritas por Cavalcante et al. (2017a;
2017b).
4 | CONCLUSÕES
Este capítulo apresentou uma análise do impacto do roteamento em dois
cenários de degradação da QoT do sinal óptico propagante para três topologias
de redes ópticas elásticas translúcidas bem conhecidas na literatura. Observou-se
que houve um aumento da probabilidade de bloqueio de chamadas ao aumentar a
distância entre os amplificadores de linha da rede (P1 para P2). Foi possível perceber
que as políticas de utilização de regeneradores impactam no desempenho da rede
(cenários de escassez e abundância de recursos de regeneração). A política FLR
obteve melhor desempenho abaixo do ponto de encontro e a política FNS acima desse
ponto, constatando resultados disponíveis na literatura.
Por fim, percebeu-se que a estratégia de roteamento dinâmico LORa obteve
melhores resultados, em termos de probabilidade de bloqueio de chamadas, quando
comparada com estratégias de roteamento fixo (MH e SP). Isso se deve à característica
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 11
126
de adaptação ao estado de operação da rede devido ao fato da função custo do
algoritmo de roteamento LORa depender da disponibilidade de slots do enlace
analisado, possibilitando dessa forma, maior admissibilidade de chamadas na rede.
REFERÊNCIAS
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networks. In: SBMO/IEEE MTT-S International Microwave and Optoelectronics Conference
(IMOC), Novembro 2015, pp. 1–5.
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elásticas translúcidas. Revista de Tecnologia da Informação e Comunicação, vol. 7, no. 1, pp.
39–44, 2017.
CAVALCANTE, Matheus A. et al. Estado da Arte de Redes Ópticas Elásticas Translúcidas para
Cenários de Tráfego Dinâmico em Redes Metropolitanas e de Longas Distâncias. Revista de
Tecnologia da Informação e Comunicação, v. 7, n. 2, p. 24-32, 2017.
CAVALCANTE, Matheus A. et al. Simeon: an open-source elastic optical network simulator for
academic and industrial purposes. Photonic Network Communications, vol. 34, no. 2, pp. 193–201,
Outubro 2017.
CHATTERJEE, Bijoy C. et al. Routing and spectrum allocation in elastic optical networks: A tutorial.
IEEE Communications Surveys & Tutorials, v. 17, n. 3, p. 1776-1800, 2015.
OLIVEIRA, Arthur H. M. et al. Análise do impacto de estratégias de roteamento em uma rede óptica
elástica translúcida. In: XXXVI Simpósio Brasileiro de Telecomunicações e Processamento de
Sinais, Setembro 2018, pp. 1–2.
OLIVEIRA, Arthur H. M. et al. Análise de rede óptica elástica translúcida considerando diferentes
algoritmos de roteamento. In: VIII Conferência Nacional em Comunicações, Redes e Segurança
da Informação, Outubro 2018, pp. 1–2.
ZANG, Hui et al. A review of routing and wavelength assignment approaches for wavelength-routed
optical WDM networks. Optical networks magazine, v. 1, n. 1, p. 47-60, 2000.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 11
127
CAPÍTULO 12
ANÁLISE DO IMPACTO DO CASCATEAMENTO DE
FILTROS ÓPTICOS CONSIDERANDO DIFERENTES
ARQUITETURAS DE REDES ÓPTICAS ELÁSTICAS
Eloisa Bento Sarmento
Universidade Federal de Campina Grande, Centro
de Engenharia Elétrica e Informática, Unidade
Acadêmica de Engenharia Elétrica
Campina Grande - Paraíba
Helder Alves Pereira
Universidade Federal de Campina Grande, Centro
de Engenharia Elétrica e Informática, Unidade
Acadêmica de Engenharia Elétrica
Campina Grande – Paraíba
redes ópticas elásticas e duas modelagens de
transmitância bem conhecidas na literatura.
PALAVRAS-CHAVE:
Arquitetura,
Concatenação, Filtro Óptico, Penalidade
Física, Qualidade de Transmissão, Rede Óptica
Elástica.
ANALYSIS OF THE IMPACT OF OPTICAL
FILTER CONCATENATION CONSIDERING
DIFFERENT ELASTIC OPTICAL NETWORK
RESUMO: O sinal óptico pode sofrer
degradação em sua qualidade de transmissão
de modo que efeitos lineares e não lineares
podem reduzir sua inteligibilidade na recepção.
Com relação aos dispositivos de comutação,
presentes nos nós das redes ópticas elásticas,
o efeito da imperfeição do filtro óptico pode
causar estreitamento no sinal, ao longo da
propagação nos enlaces dos caminhos ópticos,
de modo que os amplificadores ópticos podem
não compensar esse tipo de perda, além do que
esse efeito também pode proporcionar distorção
ao sinal óptico propagante. Neste capítulo,
modelagens analíticas foram propostas com o
objetivo de quantificar o efeito da imperfeição
dos filtros ópticos. Para isso, analisou-se a
propagação de um sinal óptico considerando
a concatenação de diversos dispositivos de
comutação, considerando duas arquiteturas de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
ARCHITECTURES
ABSTRACT: The optical signal may suffer
degradation in its quality of transmission, so
that linear and nonlinear effects may reduce its
reception intelligibility. With regard to switching
devices, present in the elastic optical network
nodes, the non-ideal optical filter effect may
cause signal narrowing along the optical signal
propagation in the lightpaths, so that optical
amplifiers may not compensate exactly the
devices losses and this effect may also provide
distortion to the transmitted optical signal. In
this chapter, analytical modeling was proposed
in order to quantify the non-ideal optical filter
effect. Therefore, the propagating optical signal
was analyzed considering the concatenation
of several switching devices, two architectures
and two transmittance modeling well-known in
the literature of elastic optical networks.
Capítulo 12
128
KEYWORDS: Architecture, Concatenation, Elastic Optical Network, Optical Filter,
Physical Penalty, Quality of Transmission Quality.
1 | INTRODUÇÃO
As redes ópticas elásticas (EON – Elastic Optical Network) possuem um
diferencial com relação às redes ópticas que utilizam multiplexação por divisão de
comprimento de onda (WDM – Wavelength Division Multiplexing) (ZHANG et al., 2013).
Esse diferencial consiste em atribuir larguras de banda relacionadas com a taxa de
transmissão de bit solicitada pela chamada no formato de modulação disponibilizado
pela rede. Bem diferente das redes ópticas WDM, em que a largura de banda para
cada requisição de chamada é sempre fixa (CHRISTODOULOPOULOS et al, 2011;
CAVALCANTE et al, 2015).
Nas EONs, vários dispositivos podem estar presentes no decorrer dos nós e
enlaces dos caminhos ópticos (lightpath). Dependendo da arquitetura de nó e de enlace
consideradas, pode-se ter os seguintes dispositivos (SIMEONIDOU et al., 2012): (1)
transmissores ópticos, (2) comutadores, (3) amplificador óptico de potência (booster
amplifier), (4) fibra óptica, (5) amplificadores ópticos de linha (in-line amplifiers),
(6) divisores de potência, (7) regeneradores eletrônicos, (8) pré-amplificador e (9)
receptores ópticos, por exemplo.
Diversos trabalhos disponíveis na literatura abordaram penalidades físicas
envolvendo o sinal óptico propagante ao longo das fibras ópticas e dos amplificadores
ópticos presentes nos lightpaths (CHATTERJEE et al, 2015; CAVALCANTE et al, 2017a;
CAVALCANTE et al, 2017b; OLIVEIRA et al, 2018). No entanto, poucos trabalhos
tratam da especificidade da propagação do sinal óptico ao longo dos dispositivos de
comutação (SSS – Spectrum Selective Switches), bem como quantificam a penalidade
física responsável pela degradação da sua qualidade de transmissão (QoT – Quality of
Transmission) (CARVALHO et al., 2015; CARVALHO et al., 2017).
Nos dispositivos SSSs, o efeito da imperfeição do filtro óptico pode causar
estreitamento do sinal, de modo que os amplificadores ópticos podem não compensar
esse tipo de perda, além do que esse efeito também pode proporcionar distorção no
sinal óptico propagante. Neste capítulo, modelagens analíticas são propostas com o
objetivo de quantificar essa penalidade física. Para isso, a propagação de um sinal
óptico, considerando a concatenação de diversos SSSs, duas arquiteturas de nós e
duas modelagens de transmitância, bem conhecidas na literatura de redes ópticas
elásticas, são analisadas no contexto da potência óptica recebida com relação à
transmitida em diversos cenários de operação dos amplificadores ópticos disponíveis
ao longo dos enlaces.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
129
2 | MODELAGEM ANALÍTICA DA IMPERFEIÇÃO DO FILTRO ÓPTICO
Em uma rede óptica, o sinal pode percorrer vários nós intermediários até
alcançar o nó destino. Dessa forma, dentre os dispositivos presentes ao longo dos
ligthpaths, os SSSs podem atuar também como filtros ópticos. Dependendo do formato
das respectivas transmitâncias desses elementos de comutação, é possível que o sinal
óptico apresente perdas e distorções na recepção, devido ao efeito da imperfeição do
filtro óptico. Esse efeito se relaciona ao estreitamento da largura de banda do sinal à
medida em que se propaga ao longo dos nós intermediários da rota (MAROM et al.,
2012; PULIKKASERIL, 2012; CARVALHO et al., 2015; CARVALHO et al., 2017).
A Figura 1 ilustra as arquiteturas de nós bem conhecidas na literatura e
utilizadas em redes ópticas elásticas (CHATTERJEE, 2015): (a) broadcast and select e
(b) spectrum switching. É importante observar que a primeira arquitetura (broadcast and
select) difere da segunda (spectrum switching) com relação ao dispositivo localizado
do lado esquerdo da Figura 1(a) e da Figura 1(b), ou seja, na recepção do nó óptico.
Para a primeira arquitetura, considera-se um divisor de potência óptica. Enquanto
que, na segunda, utiliza-se mais um elemento de comutação. Desse modo, para a
arquitetura broadcast and select, o sinal óptico atravessa apenas um SSS, enquanto
que, para a arquitetura spectrum switching, o sinal óptico atravessa dois SSSs, quando
considerado que o sinal óptico propagante atravessa apenas um enlace óptico. Esse
fato permite perceber que o sinal óptico atravessa duas vezes mais dispositivos de
comutação na arquitetura de nó spectrum switching em comparação com a broadcast
and select para cada enlace percorrido pelo sinal óptico propagante.
Considerando um lightpath com n enlaces, a densidade espectral do sinal óptico
recebido no nó destino (), para a arquitetura broadcast and select, pode ser determinada
a partir da seguinte equação:
em que STX representa a densidade espectral de potência do sinal óptico transmitido,
,1 representa o ganho do amplificador de potência, ,x o ganho total dos amplificadores de
linha, ,2 o ganho do pré-amplificador, Lsss a perda do SSS, ,x a perda na fibra óptica, o grau
de conectividade do nó destino e Ti a transmitância do SSS, referentes ao i-ésimo enlace
analisado.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
130
Figura 1: Arquiteturas de nós utilizadas em redes ópticas elásticas bem conhecidas na literatura
(CHATTERJEE, 2015): (a) broadcast and select e (b) spectrum switching.
Para a arquitetura spectrum switching, a densidade espectral do sinal óptico
recebido no nó destino pode ser determinada a partir da seguinte equação:
(2)
em que Ti,1 representa a transmitância do primeiro e Ti,2 a do segundo SSS,
ambos presentes no i-ésimo enlace analisado.
3 | CONFIGURAÇÃO DOS CENÁRIOS DE SIMULAÇÃO
A densidade espectral de potência do sinal óptico transmitido pode ser
modelada por meio de uma função Gaussiana de acordo com a seguinte equação
(STRASSER et al., 2010):
(3)
em que A representa o fator de normalização da amplitude da densidade
espectral, ƒc a frequência central, SBW϶ɖB a largura de banda a 3 dB e ns a ordem da
função Gaussiana. A Tabela 1 apresenta os parâmetros utilizados nas simulações com
relação ao sinal óptico transmitido.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
131
As funções de transmitância, utilizadas para análise da imperfeição do filtro
óptico neste capítulo, são descritas pelas equações (4) e (5).
em que BW϶ɖB representa a largura de banda a 3 dB do filtro óptico, nH a ordem
da função Gaussiana do filtro óptico, σ o desvio padrão, C o fator de normalização
da amplitude da função de transmitância, B a largura de banda do filtro óptico, erf (.)
a função erro, BWOTF a resolução do filtro óptico, indicando a frequência em que se
configura a mudança entre os estados de bloqueio e de passagem do sinal, assim
como o formato de suas bordas (MAROM et al., 2012). Neste capítulo, a equação (4) é
referida como Gaussiana (STRASSER et al., 2010) e a equação (5) como Pulikkaseril
(PULIKKASERIL, 2012). A Tabela 2 descreve os parâmetros utilizados nas simulações
com relação às funções de transmitância analisadas neste trabalho.
Tabela 2: Parâmetros utilizados nas simulações com relação às funções de transmitância.
O efeito da imperfeição do filtro óptico foi analisado considerando: (1) duas
arquiteturas bem conhecidas na literatura de redes ópticas (broadcast and select e
spectrum switching), (2) duas funções de transmitância (Gaussiana e Pulikkaseril)
e (3) três cenários distintos de operação dos amplificadores ópticos presentes nos
lightpaths: (3a) subcompensação das perdas dos enlaces (α = 0,8 ), (3b) compensação
exata das perdas dos enlaces (α=1,0) e (3c) sobrecompensação das perdas dos
enlaces (α=1,2). A métrica de desempenho utilizada foi a relação entre as potências
recebida e transmitida do sinal óptico propagante em um lightpath (r) com 10 enlaces.
4 | RESULTADOS
A Figura 2 ilustra a magnitude da densidade espectral de potência do sinal
óptico recebido após ter percorrido 10 enlaces, considerando as funções Gaussiana
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
132
(STRASSER et al., 2010) e Pulikkaseril (PULIKKASERIL, 2012), nos diferentes
cenários de operação dos amplificadores ópticos ( e ), para as arquiteturas de nó:
(a) broadcast and select e (b) spectrum switching. Percebe-se que, independente da
arquitetura de nó e do cenário de compensação dos amplificadores ópticos analisado,
a função de transmitância Pulikkaseril fornece um menor estreitamento do sinal óptico
com relação à função Gaussiana.
10
-13
1.6
Magnitude (W/Hz)
1.4
1.2
1
Gaussiana (
Gaussiana (
Gaussiana (
Pulikkaseril (
Pulikkaseril (
Pulikkaseril (
0.8
0.6
0.4
= 0.8)
= 1.0)
= 1.2)
= 0.8)
= 1.0)
= 1.2)
0.2
0
1.9337
1.9338
1.9339
1.934
1.9341
F requênc ia (Hz)
1.9342
1.9343
10
14
(a) Arquitetura broadcast and select.
10
-13
1.6
Magnitude (W /Hz)
1.4
1.2
1
Gaussiana (
Gaussiana (
Gaussiana (
Pulikkaseril (
Pulikkaseril (
Pulikkaseril (
0.8
0.6
0.4
= 0.8)
= 1.0)
= 1.2)
= 0.8)
= 1.0)
= 1.2)
0.2
0
1.9337
1.9338
1.9339
1.934
1.9341
F requênc ia (Hz)
1.9342
1.9343
10 14
(b) Arquitetura spectrum switching.
Figura 2: Magnitude da densidade espectral de potência do sinal óptico recebido após ter
percorrido 10 enlaces, considerando as funções Gaussiana (STRASSER et al., 2010) e
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
133
Pulikkaseril (PULIKKASERIL, 2012), nos diferentes cenários de operação dos amplificadores
ópticos ( e ), para as arquiteturas de nó: (a) broadcast and select e (b) spectrum switching.
A Figura 3 ilustra a razão entre as potências ópticas recebida e transmitida,
considerando as funções de transmitância Gaussiana (STRASSER et al., 2010) e
Pulikkaseril (PULIKKASERIL, 2012), após o sinal óptico propagante passar por 10
enlaces, nos diferentes cenários de operação dos amplificadores ópticos ( e ), para as
arquiteturas de nó: (a) broadcast and select e (b) spectrum switching. Percebe-se que
a função de transmitância Pulikkaseril (PULIKKASERIL, 2012) resulta em um valor
maior de potência óptica recebida, fornecendo um valor de maior.
= 0.8
R azão entre as potênc ias
5
Gaussiana
Pulikkaseril
4
= 1.0
5
Gaussiana
Pulikkaseril
4
3
3
2
2
2
1
1
1
0
5
10
0
0
5
Número de enlac es
Gaussiana
Pulikkaseril
4
3
0
= 1.2
5
10
0
0
5
10
(a) Arquitetura broadcast and select.
= 0.8
R azão entre as potênc ias
5
Gaussiana
Pulikkaseril
4
= 1.0
5
Gaussiana
Pulikkaseril
4
3
3
2
2
2
1
1
1
0
5
10
0
0
5
Número de enlac es
Gaussiana
Pulikkaseril
4
3
0
= 1.2
5
10
0
0
5
10
(b) Arquitetura spectrum switching.
Figura 3: Razão entre as potências ópticas recebida e transmitida, considerando as funções
de transmitância Gaussiana (STRASSER et al., 2010) e Pulikkaseril (PULIKKASERIL, 2012),
após o sinal óptico propagante passar por 10 enlaces, nos diferentes cenários de operação
dos amplificadores ópticos ( e ), para as arquiteturas de nó: (a) broadcast and select e (b)
spectrum switching.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
134
No entanto, devido à característica da arquitetura de nó spectrum switching
possuir o dobro de SSSs, quando comparada com a arquitetura broadcast and select,
o sinal óptico possui um maior estreitamento na recepção, resultando em valores de
r menores independente da função de transmitância considerada, conforme descrito
nas Tabelas 3 e 4.
Arquitetura
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
BS (α = 0,8)
1,00
0,69
0,53
0,41
0,32
0,25
0,20
0,16
0,13
0,10
0,08
BS (α = 1,0)
1,00
0,86
0,82
0,80
0,79
0,78
0,77
0,76
0,75
0,74
0,74
BS (α = 1,2)
1,00
1,03
1,19
1,39
1,63
1,93
2,28
2,71
3,22
3,83
4,55
SS (α = 0,8)
1,00
0,66
0,50
0,39
0,31
0,24
0,19
0,15
0,12
0,09
0,07
SS (α = 1,0)
1,00
0,82
0,79
0,77
0,75
0,74
0,73
0,72
0,71
0,70
0,70
SS (α = 1,2)
1,00
0,99
1,13
1,32
1,55
1,83
2,16
2,56
3,04
3,62
4,30
Tabela 3: Razão entre as potências ópticas recebida e transmitida, considerando a função de
transmitância Gaussiana (STRASSER et al., 2010), após o sinal óptico propagante passar
por 10 enlaces, nos diferentes cenários de operação dos amplificadores ópticos ( e ), para a
arquitetura de nó broadcast and select.
Arquitetura
0
1
2
3
4
BS (α = 0,8)
1,00
0,73
0,56
0,44
0,35
BS (α = 1,0)
1,00
0,91
0,88
0,86
BS (α = 1,2)
1,00
1,09
1,26
SS (α = 0,8)
1,00
0,70
SS (α = 1,0)
1,00
SS (α = 1,2)
1,00
5
6
7
8
9
10
0,27 0,22
0,17
0,14
0,11
0,09
0,84
0,83 0,82
0,82
0,81
0,80
0,80
1,48
1,75
2,07 2,46
2,92
3,48
4,15
4,94
0,54
0,42
0,33
0,26 0,21
0,16
0,13
0,10
0,08
0,88
0,84
0,82
0,81
0,80 0,79
0,78
0,78
0,77
0,76
1,05
1,22
1,42
1,68
1,99 2,36
2,80
3,33
3,97
4,73
Tabela 4: Razão entre as potências ópticas recebida e transmitida, considerando a função
de transmitância Pulikkaseril (PULIKKASERIL, 2012), após o sinal óptico propagante passar
por 10 enlaces, nos diferentes cenários de operação dos amplificadores ópticos ( e ), para a
arquitetura de nó select e spectrum switching.
5 | CONCLUSÕES
Neste capítulo, modelagens analíticas foram propostas com o objetivo de
quantificar o efeito da imperfeição dos filtros ópticos. Para isso, analisou-se a
propagação de um sinal óptico considerando a concatenação de SSSs, ao longo de 10
enlaces, considerando duas arquiteturas de redes ópticas elásticas, duas modelagens
de transmitância bem conhecidas na literatura e três cenários de compensação dos
amplificadores ópticos presentes no lightpath analisado.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
135
De acordo com os resultados obtidos, independente da arquitetura de nó e
do cenário de compensação dos amplificadores ópticos analisado, a função de
transmitância Pulikkaseril forneceu menor estreitamento do sinal óptico com relação
à função Gaussiana. Dessa forma, a função de transmitância Pulikkaseril resultou
em um valor maior de potência óptica recebida, fornecendo um valor de r maior. No
entanto, devido à característica da arquitetura de nó spectrum switching possuir o
dobro de SSSs, quando comparada com a arquitetura de nó broadcast and select, o
sinal óptico apresentou um maior estreitamento na recepção, resultando em valores
de r menores, independente da função de transmitância analisada.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, C. C. et al. Análise da imperfeição do filtro Óptico em um cenário de redes ópticas
elásticas transparentes. In: Encontro Anual do Iecom em Comunicações, Redes e Criptografia
(ENCOM), vol. 1, 2015, pp. 1–2.
CARVALHO, G. S. D. et al. Análise do Impacto do Cascateamento de Filtros Ópticos em um Cenário
de Redes Ópticas Elásticas. In: VII Conferência Nacional em Comunicações, Redes e Segurança
da Informação, Outubro 2017, pp. 1–2.
CAVALCANTE, M. A. et al. Applying power series routing algorithm in transparent elastic optical
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Capítulo 12
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 12
137
CAPÍTULO 13
MODELAGEM DO EQUILÍBRIO SÓLIDO-LÍQUIDO
NA SOLUBILIDADE DE ÁCIDOS GRAXOS EM
SOLVENTES ORGÂNICOS
Bruno Rossetti de Souza
Universidade Federal de Alfena, Instituto de
Ciência e Tecnologia
Poços de Caldas – Minas Gerais
Vanessa Vilela Lemos
Universidade Federal de Alfena, Instituto de
Ciência e Tecnologia
Poços de Caldas – Minas Gerais
Jessica Cristina Silva Resende
Universidade Federal de Alfena, Instituto de
Ciência e Tecnologia
Poços de Caldas – Minas Gerais
Karolina Soares Costa
Universidade Federal de Alfena, Instituto de
Ciência e Tecnologia
Poços de Caldas – Minas Gerais
Marlus Pinheiro Rolemberg
Universidade Federal de Alfena, Instituto de
Ciência e Tecnologia
Poços de Caldas – Minas Gerais
Rodrigo Corrêa Basso
Universidade Federal de Alfena, Instituto de
Ciência e Tecnologia
Poços de Caldas – Minas Gerais
RESUMO: Os ácidos graxos são os compostos
majoritários nos destilados de desodorização
de óleos vegetais de elevada acidez. Uma
alternativa a extração destes constituintes dos
destilados de desodorização é a dissolução
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
fracionada que depende do conhecimento da
solubilidade destes constituintes nos solventes
empregados. O ajuste de parâmetros de
modelos termodinâmicos usados na descrição
da solubilidade minimiza o tempo e o custo na
obtenção de dados experimentais, bem como
permite o uso destes modelos em simulação
computacional. O objetivo do presente trabalho
foi estudar o ajuste dos parâmetros dos modelos
de Margules, Wilson e NRTL para o cálculo do
coeficiente de atividade de modo a se calcular
a solubilidade dos ácidos láurico, mirístico,
palmítico e esteárico em acetona, etanol e
2-butanona. O uso dos três modelos resultou
em boa representatividade das temperaturas
de saturação, com o modelo de Margules
resultando em maiores desvios máximos, 3,32
% e 4,56 %, respectivamente para os sistemas
constituídos por ácido palmítico + etanol e
ácido esteárico + etanol. O uso dos modelos de
Wilson e NRTL resultaram em desvios máximos
iguais a respectivamente 1,22 % e 1,32 % para
todos os sistemas.
PALAVRAS-CHAVES: equilíbrio sólido-líquido,
solubilidade,
modelagem
termodinâmica,
ácidos graxos, destilado de desodorização
SOLID-LIQUID EQUILIBRIUM MODELING ON
SOLUBILITY OF FATTY ACIDS IN ORGANIC
Capítulo 13
138
SOLVENTS
ABSTRACT: Fatty acids are the major compounds in the deodorization distillates of
high acidity vegetable oils. An alternative to extracting these constituents from the
deodorization distillates is the fractional dissolution which depends on the knowledge
of the solubility of these constituents in the solvents employed. The adjustment of
parameters of thermodynamic models used in the description of solubility minimizes
the time and cost in obtaining experimental data, as well as allows the use of these
models in computational simulation. The objective of the present work was to study
the adjustment of the parameters of the Margules, Wilson and NRTL models for
the calculation of the activity coefficient in order to calculate the solubility of lauric,
myristic, palmitic and stearic acids in acetone, ethanol and 2-butanone. The use of
the three models resulted in good representativeness of the saturation temperatures,
with the Margules model resulting in higher maximum deviations, 3.32 % and 4.56
%, respectively, for systems composed of palmitic acid + ethanol and stearic acid +
ethanol . The use of the Wilson and NRTL models resulted in maximum deviations
equal to respectively 1.22 % and 1.32 % for all systems
KEYWORDS: solid-liquid equilibrium, solubility, thermodynamic modeling, fatty acids,
deodorization distilled
1 | INTRODUÇÃO
Cerca de 95% da composição de óleos vegetais é constituída por triacilgliceróis
sendo o restante dividido entre ácidos graxos livres, acilgliceróis parciais
(monoacilgliceróis e diacilgliceróis), fosfolipídios, esteróis, tocoferóis e tocotrienóis,
carotenos, hidrocarbonetos e produtos de oxidação (GUNSTONE, 2005).
De modo que o óleo vegetal possa ser comercializado, o mesmo deve passar
por diversas etapas de refino, dentre as quais está o processo de desodorização que
remove os componentes com maior volatilidade por um processo de esgotamento,
que geralmente utiliza vapor d’água a elevadas temperaturas (220 a 260 ºC) e baixas
pressões (2 a 4 mbar). Óleos de elevada acidez são submetidos a este processo em
condições mais severas visando a remoção dos ácidos graxos livres, até teores entre
0,03 e 0,05 % (m/m), sendo que nestas condições, estes componentes apresentam-se
como os constituintes majoritários dos DDs (GREYT; KELLENS, 2005).
Os ácidos graxos livres são utilizados na obtenção de uma grande quantidade
de produtos importantes para a indústria química, farmacêutica e alimentícia, dentre
eles: sabões e detergentes; ésteres de ácidos graxos, usados como lubrificantes,
aromatizantes e solventes apolares de cadeia longa; álcoois graxos, utilizados como
plastificantes e aditivos de tintas; surfactantes não iônicos, entre outros (GERVAJIO,
2005).
Os processos usados industrialmente para a extração e purificação dos
componentes dos DDs, bem como aqueles mais estudados visando sua otimização,
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
139
envolvem diversas das etapas dentre as citadas a seguir: metanólise, etanólise ou
glicerólise, destilação molecular, extração for fluido em estado supercrítico, extração
e, coluna de recheio, cristalização e filtração sob vácuo (SHI et al., 2011; VAZQUEZ et
al., 2007; ITO et al., 2005; YAN et al., 2012; FREGOLENTE et al., 2010).
Por ser menos complexa e gerar menores custos, uma alternativa viável é a
utilização da dissolução fracionada para a separação e purificação dos componentes
dos DDs. Esta técnica se baseia na diferença de solubilidade dos constituintes do
sistema em diversos solventes. A realização deste processo necessita do conhecimento
prévio da solubilidade dos constituintes desta mistura em diversos solventes, em uma
dada faixa de temperatura.
Dados experimentais devem ser utilizados para a análise da solubilidade
dos DDs em diferentes solventes. Porém, para evitar gastos excessivos com a
obtenção de muitos dados experimentais, podem ser usados modelos matemáticos
e termodinâmicos que representam o comportamento de solubilidade de sistemas
de interesse em função da temperatura a partir de uma quantidade reduzida destes
dados.
O uso destes modelos depende do ajuste prévio de seus parâmetros a partir de
uma reduzida quantidade de dados experimentais. Uma das formas de realizar este
ajuste consiste na minimização de uma função objetivo que é dada pela diferença
entre as temperaturas experimentais e as calculadas pelos modelos estudados.
Segundo o que foi exposto, o presente trabalho teve o objetivo de estudar o
ajuste dos parâmetros dos modelos de Margules, Wilson e NRTL calculando a
solubilidade dos ácidos láurico, mirístico, palmítico e esteárico em acetona, etanol e
2-butanona, bem como avaliar a representatividade do comportamento experimental
pelos mesmos.
2 | REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Modelagem da Solubilidade
Ao se empregar modelos termodinâmicos para o cálculo da solubilidade deve-se
partir de alguns conceitos inerentes ao equilíbrio sólido-líquido. Utilizando a definição de
fugacidade, energia de Gibbs e o equacionamento da entalpia e entropia como funções
de estado, obtém-se uma relação entre a fugacidade do líquido puro subresfriado à
temperatura T e algumas propriedades mensuráveis, conforme equação (1) (SMITH;
VAN NESS; ABBOTT, 2007).
(1)
Onde:
são a entalpia de fusão no ponto triplo e a temperatura do ponto triplo,
respectivamente;
é a diferença de capacidade calorífica entre o líquido e o sólido; R é a
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
140
constante universal dos gases;
respectivamente a fugacidade do líquido e do sólido.
Nesta equação, pode-se adotar simplificações substituindo a temperatura do
ponto triplo
de fusão em
pela temperatura de fusão
, e a entalpia de fusão em
pela entalpia
obtendo assim a equação (2), em termos da solubilidade (SMITH; VAN
NESS; ABBOTT, 2007).
(2)
Onde:
são respectivamente o coeficiente de atividade e a fração molar do componente
i em solução
Segundo Smith, Van Ness e Abbott (2007), na equação acima os dois termos da
direita, de sinais opostos, tendem a se anular, podendo ser desprezados. Com isso,
tem-se a equação para o cálculo da solubilidade dada por:
(3)
A solubilidade ideal é válida para uma mistura ideal, em que o coeficiente de
atividade é igual a 1. A representatividade do equilíbrio sólido-líquido deste tipo se
sistema resultaria em desvios aceitáveis para misturas com soluto e solvente de
natureza muito similar. A medida que a diferença desta natureza aumenta, modificando
os parâmetros de interação entre as moléculas, o coeficiente de atividade se afasta
da unidade, sendo geralmente maior que um para soluções apolares e menor que
um para sistemas com forças polares significativas. Nestes casos o coeficiente de
atividade deve ser calculado por meio de modelos termodinâmicos específicos que
levem em consideração os desvios da idealidade, sendo os mesmos utilizados para a
obtenção da solubilidade não-ideal (SMITH; VAN NESS; ABBOTT, 2007).
2.2 Modelos para o Cálculo do Coeficiente de Atividade
O cálculo do coeficiente de atividade de componentes de sistemas binários pode
ser realizado pelo modelo Margules com dois parâmetros ajustáveis, sendo que para
sistemas binários o modelo pode ser expresso pelas equações (4-5) (KONTOGEORGIS;
FOLAS, 2010). A partir de sua concepção termodinâmica, o modelo de Margules foi
desenvolvido originariamente para ser utilizado na descrição do coeficiente de atividade
de soluções contendo moléculas com volumes molares similares. Entretanto, o mesmo
tem sido usado com bons resultados matemáticos para sistemas que não apresentam
esta característica.
(4)
(5)
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
141
Onde: A21 e A12 são os parâmetros ajustáveis; R é a constante universal dos gases (J/mol.K),
T é a temperatura do sistema (K), x e
são respectivamente a a fração molar e o coeficiente
de atividade dos componentes da solução.
O modelo de Wilson, representado para sistemas binários pelas equações (6-
7), é mais preciso em relação ao modelo de Margules, podendo ser utilizado em
soluções polares ou sistemas com solutos polares e solventes apolares (PRAUSNITZ;
LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1999).
(6)
(7)
Onde: A21 e A12 são parâmetros ajustáveis do modelo; R é a constante universal dos gases
(J/mol.K), T é a temperatura do sistema (K), x e
são respectivamente a fração molar e o
coeficiente de atividade dos componentes da solução
O modelo NRTL, dado para sistemas binários pelas equações (8-11), é um
modelo robusto para o cálculo de coeficiente de atividade, especialmente para
sistemas formados por misturas fortemente não ideias, principalmente para sistemas
parcialmente imiscíveis (PRAUSNITZ; LICHTENTHALER; AZEVEDO, 1999).
Onde g12 e g12 são os parâmetros de interação binária entre os componentes 1 e 2.; α12 é
o parâmetro de não aleatoriedade entre os componentes 1 e 2; R é a constante dos gases
ideais; T é a temperatura dada em K.
2.3 Solubilidade de Componentes dos Óleos Vegetais em Solventes Diversos
Heryanto et al. (2007), utilizando análise gravimétrica para o estudo da
solubilidade do ácido esteárico, reportou que a solubilidade do ácido esteárico em
solventes orgânicos puros é inversa à polaridade dos solventes estudados. Também foi
observado que a solubilidade pode ser consideravelmente alterada pela presença de
componentes minoritários presentes na solução. Baseando nos modelos de soluções
não ideais, Apelblat modificada e Buchowski, os desvios entre as solubilidades
experimentais e calculadas, com exceção de um sistema, foram inferiores a 5%.
Cuevas (2010) utilizou a análise gravimétrica para estudar a solubilidade do
-orizanol em doze solventes, puros ou em combinações binárias, em sistemas entre
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
142
10 e 50°C. Foram observadas maiores solubilidades do
-orizanol em metil-etil-
cetona, 26,7 e 49,7% (m/m) e menores em etanol azeotrópico, 0,4 e 2, % (m/m), com
desvios entre valores experimentais e calculados de 5,8 e 2,9%, usando os modelos
termodinâmicos de Margules e Van Laar, respectivamente.
Shah e Venkatesan (1989) analisaram a separação de ácidos graxos livres em
óleo de amendoim. Os solventes utilizados foram isopropanol e água, em diferentes
proporções, a partir de duas extrações sequenciais em funil de separação. Foi relatado
que apesar de teores baixos de água favorecerem a partição dos ácidos graxos para
a mistura isopropanol e água, aumentam as concentrações de óleo neutro na mesma.
Logo, concluiu-se que teores entre 75 e 80% de isopropanol são ideais para que haja
uma extração seletiva eficiente de ácidos graxos em amendoim, e ao mesmo tempo
evitam a solubilidade do óleo neutro no solvente.
Segundo um estudo de Wei et al. (2010), a solubilidade do β-sitosterol na faixa
de temperatura de 278.15 K a 333.15 K em metanol, etanol, acetona, acetato de etila
e n-hexano seguiu a seguinte ordem crescente em relação aos solventes: metanol <
n-hexano < etanol < acetona e acetato de etila. Foi observado que a polaridade do
solvente não foi o único fator determinante da solubilidade, devendo ser levada em
consideração também a sua estrutura molecular, que afeta diretamente a interação
soluto - solvente das moléculas em solução.
Ralston e Hoerr (1942) estudaram a solubilidade dos ácidos graxos saturados em
diferentes solventes, sendo eles, água, etanol, acetona, 2-butanona, benzeno e ácido
acético glacial, e então obtiveram para o ácido palmítico solubilidades de 0,00083,
23,9, 15,6, 20,6, 34,8 e 8,1 g/100g, e, para o ácido láurico, solubilidades de 0,0063,
292, 218, 202, 260, 297 g/100g, respectivamente.
3 | METODOLOGIA
A partir dos dados experimentais foi realizado o ajuste dos parâmetros dos
modelos termodinâmicos em planilhas eletrônicas, utilizando a ferramenta Solver do
programa Excel Office®.
Os modelos termodinâmicos que tiveram seus parâmetros ajustados foram
Margules, Wilson e NRTL. Estes modelos foram utilizados para o cálculo do coeficiente
de atividade na equação (3).
O ajuste dos parâmetros dos modelos foi realizado a partir da minimização da
função objetivo representada pela equação (12)
(12)
Os desvios entre os valores calculados e experimentais foram obtidos a partir
dos desvios relativos entre cada temperatura experimental e calculada usando os
modelos, conforme representado na equação (13).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
143
(13)
Os dados experimentais utilizados para o ajuste dos parâmetros dos modelos de Margules,
Wilson e NRTL foram aqueles reportados por Ralston e Hoerr (1942).
4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Figura 1 pode ser observada a quase sobreposição entre as temperaturas
experimentais e aquelas calculadas usando os modelos termodinâmicos de Margules,
Wilson e NRTL para o ácido láurico dissolvido em acetona, etanol e 2-butanona.
Este comportamento indica que os três modelos foram capazes de representar
adequadamente o equilíbrio sólido-líquido do sistema a partir do ajuste de seus
parâmetros.
Figura 1. Solubilidade do ácido láurico em acetona
•
(/▬/▬/▬), etanol ( /---/---/---) e
•
2-butanona(/•••/•••/•••) obtidas experimentalmente (/ /) e calculadas pelos modelos
de Margules (▬/---/•••), Wilson (▬/---/•••) e NRTL (▬/---/•••)
A mesma boa representatividade da solubilidade experimental usando os três
modelos termodinâmicos foi obtida quando o soluto é o ácido esteárico, um ácido
graxo com 6 átomos de carbono adicionais na molécula em relação ao ácido láurico,
conforme observado na Figura 2.
De modo geral, os maiores desvios relativos ocorreram quando foi empregado o
modelo de Margules com dois parâmetros para o cálculo dos coeficientes de atividade
dos componentes na fase líquida, conforme apresentado na Tabela 1. Estes desvios
foram maiores para os sistemas cujos solutos são constituídos por moléculas apolares
saturadas de cadeia mais longas, ácido palmítico e ácido esteárico, em um solvente
polar com apenas dois átomos de carbono na molécula, o etanol. A representatividade
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
144
menos precisa da temperatura de saturação quando se usa o modelo de Margules para
os sistemas constituídos por ácido palmítico + etanol e ácido esteárico + etanol está de
acordo com a teoria termodinâmica que aponta a similaridade entre os volumes das
moléculas do sistema como uma característica para o uso deste modelo
Figura 2. Solubilidade do ácido esteárico em acetona
•
(/▬/▬/▬), etanol ( /---/---/---) e
•
2-butanona(/•••/•••/•••) obtidas experimentalmente (/ /) e calculadas pelos modelos
de Margules (▬/---/•••), Wilson (▬/---/•••) e NRTL (▬/---/•••)
O uso dos modelos de Wilson e NRTL levaram ao cálculo de temperaturas de
saturação com desvios máximos entre as temperaturas calculadas experimentais
respectivamente iguais a 1,22 % e 1,32 %para todos os sistemas, apresentando
resultados similares quanto a representatividades dos sistemas.
Margules
ácido láurico
ácido mirístico
ácido palmítico
ácido esteárico
DR (%)
Wilson
DR (%)
NRTL
DR (%)
acetona
0,20 - 0,46
0,20 - 0,29
0,06 - 0,20
2-butanona
0,04 - 0,22
0,16 - 0,29
0,01 - 0,16
etanol
acetona
0,00 - 0,65
0,11 - 0,37
etanol
0,15 - 1,64
acetona
0,21 - 1,37
2-butanona
0,00 - 0,37
etanol
0,,29 - 3,32
acetona
0,04 - 0,78
2-butanona
etanol
2-butanona
0,01 - 1,37
0,10 - 4,56
0,17 - 1,42
0,10 - 0,64
0,00 - 0,39
0,04 - 0,59
0,02 - 0,29
0,24 - 0,92
0,06 - 0,77
0,15 - 1,13
0,14 - 0,67
0,01 - 0,96
0,14 - 1,22
0,09 - 0,69
0,12 - 0,57
0,03 - 0,48
0,09 - 0,26
0,19 - 1,01
0,00 - 0,43
0,05 - 1,21
0,18 - 0,63
0,04 - 0,95
0,06 - 1,32
Tabela 1. Desvios relativos entre as temperaturas experimentais e calculadas usando-se os
modelos de Margules, Wilson e NRTL para os ácidos láurico, mirístico e esteárico dissolvidos
em acetona, etanol e 2-butanona
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
145
Na Tabela 2 são apresentados os valores dos parâmetros ajustados dos
modelos termodinâmicos de Margules e de Wilson, a partir dos quais pode-se
calcular a temperatura de solubilização em qualquer temperatura dentro da faixa de
temperatura para as quais foram realizados os ajustes.
Componente 1
ácido láurico
ácido mirístico
ácido palmítico
ácido esteárico
Componente 2
Margules
Wilson
A12
A21
A12
A21
acetona
3495,54
1602,81
0,1870
1,0192
2-butanona
2622,63
1583,48
0,2979
1,0034
etanol
acetona
etanol
2-butanona
acetona
etanol
2-butanona
acetona
etanol
2-butanona
3009,51
3859,99
3434,00
2717,35
4536,84
2253,38
1764,27
2237,18
1545,95
-773,09
3387,68
2733,78
4459,54
-380,18
3130,86
3389,36
2981,41
589,93
2524,28
-300,26
0,3001
0,1918
0,1488
0,2896
0,0650
0,0727
0,1310
0,0701
0,0507
0,0981
0,8208
0,9390
1,0928
1,0405
1,6027
1,3618
1,5794
1,6942
1,5487
1,9468
Tabela 2. Parâmetros dos modelos de Margules e de Wilson ajustados para os sistemas
binários compostos por ácidos graxos saturados e solventes orgânicos
Na Tabela 3 são apresentados os parâmetros ajustados do modelo NRTL
que permite o cálculo da temperatura de solubilização para a faixa de temperatura
estudada. O modelo NRTL é recomendado na descrição do coeficiente de atividade
de sistemas fortemente não ideais, como os sistemas estudados no presente trabalho.
Apesar de possuir um parâmetro adicional em relação ao modelo de Wilson, o que
aumentaria a capacidade representativa do comportamento do sistema, o modelo
NRTL não apresentou melhor capacidade representativa dos sistemas em relação ao
primeiro.
Cuevas (2010) ao realizar a modelagem do gama-orizanol, um componente
minoritário presente no óleo de arroz utilizando o modelo empírico de Apelblat,
reportou desvios relativos médios variando entre 0,63% até 12,69. Ao utilizar modelos
termodinâmicos foram obtidos desvios relativos médios inferiores, sendo que para
o modelo de Van Laar ficaram entre 0,41% e 5,83%, e para o modelo de Margules
ficaram entre 0,74% e 2,97%.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
146
Tabela 3. Parâmetros do modelo NRTL e de Wilson ajustados para os sistemas binários
compostos por ácidos graxos saturados e solventes orgânicos
Estudando sistemas binários quanto a solubilidade dos ácidos láurico, palmítico
e esteárico em etanol, 2-propano e n-propanol, Bonassoli et al. (2019) reportou que
os três modelos representaram de maneira similar e adequada o comportamento dos
sistemas, com desvio médio máximo de 0,824.
5 | CONCLUSÃO
O uso dos modelos de Margules, Wilson e NRTL para o cálculo do coeficiente de
atividade empregado na descrição do equilíbrio sólido – líquido dos sistemas binários
contendo os ácidos láurico, mirístico, palmítico ou esteárico e os solventes acetona,
etanol e 2-butanona resultou em boa representatividade do comportamento dos
sistemas. O uso modelo e Margules levou a desvios máximos superiores ao uso dos
modelos Wilson e NRTL, os dois últimos mais apropriados a sistema fortemente não
ideais como os estudados neste trabalho.
Agências de Financiamento
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001; do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológio (CNPq) – número do
processo 420355/2016-2; da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas
Gerais por meio da Bolsa de Iniciação Científica (Bruno Rossetti de Souza) e da bolsa
de Mestrado (Vanessa Vilela Lemos).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
147
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 13
148
CAPÍTULO 14
AVALIAÇÃO DE NANOPARTÍCULAS DE TiO2 OBTIDAS
POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA COM E SEM
LIXIVIAÇÃO
Lucca Monteiro Silva Semensato
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Estudante de Iniciação Científica
Poços de Caldas – Minas Gerais
Vanessa Vilela Lemos
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Engenheira Química
Poços de Caldas – Minas Gerais
Gabriel de Paiva
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Engenheiro Químico
Poços de Caldas – Minas Gerais
Eliria Maria de Jesus Agnolon Pallone
FZEA – USP
Professor titular
Pirassununga – São Paulo
Tânia Regina Giraldi
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Professor Associado
Poços de Caldas – Minas Gerais
Sylma Carvalho Maestrelli
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Professora Associada
Poços de Caldas – Minas Gerais
Luis Fernando Baldo Estorari
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Estudante de Iniciação Científica
Poços de Caldas – Minas Gerais
Maisa Helena Mancini
Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG),
Campus Poços de Caldas
Estudante de Iniciação Científica
Poços de Caldas – Minas Gerais
Ana Gabriela Storion
FZEA – USP
Doutoranda
Pirassununga – São Paulo
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
RESUMO:
A
aplicação
de
nanopós
semicondutores na fotocatálise heterogênea
tem se mostrado uma importante linha de
estudos, que visa oxidar compostos orgânicos
a formas inertes e menos tóxicas, diminuindo
os impactos ambientais causados pelo descarte
destes. Neste contexto, o presente trabalho
objetivou a obtenção de nanopós de TiO2
através da moagem de alta energia, utilizandose moinho do tipo SPEX para aplicação em
fotocatálise. Amostras de TiO2 comercial, sob a
forma de pós, foram caracterizadas via Difração
de Raios X (DRX), fisissorção de nitrogênio
(B.E.T.), Calorimetria Exploratória Diferencial
(DSC), Termogravimetria (TG) e Microscopia
Capítulo 14
149
Eletrônica de Varredura (MEV. Elas foram então moídas em moinho vibratório de alta
energia tipo SPEX variando-se os tempos de moagem (1, 2, 3, 4 e 5h), a fim de se
estudar a influência desta variável na obtenção de nanopartículas. O processo de lixívia
ácida foi aplicado aos nanopós obtidos, objetivando a descontaminação causada pelo
ferro liberado pelos corpos moedores e moinho (ambos constituídos de aço) sobre a
amostra. Os pós moídos obtidos, já em escala nanométrica, foram caracterizados por
DRX, determinando-se o tamanho de cristalitos por Rietveld. Ensaios fotocatalíticos
também foram realizados. A lixívia ácida utilizando HCl mostrou-se parcialmente eficaz
na remoção do ferro proveniente da MAE. Além da contaminação, a MAE também
promoveu a transformação da fase anatase em rutilo, o que prejudicou no potencial
fotocatalítico das amostras com maiores tempos de moagem. A amostra com 1h de
moagem obteve maior potencial de degradação fotocatalítica, devido ao menor contato
com ferro e menor formação da fase rutilo.
PALAVRAS-CHAVE: Nanopós, TiO2, Moagem de Alta Energia, fotocatálise, lixívia
ácida.
EVALUATION OF TIO2 NANOPARTICLES OBTAINED BY HIGH ENERGY MILL
WITH AND WITHOUT LEACHING
ABSTRACT: The application of semiconductor nanopowders in heterogeneous
photocatalysis is an important line of studies, whose purpose is to oxidize organic
compounds to inert and less toxic forms, reducing the environmental impacts caused
by their disposal. In this context, the focus of this work was to obtain TiO2 nanopowders
through high energy milling, using a SPEX type mill for application in photocatalysis.
Commercial TiO2 samples were characterized by X-Ray Diffraction (XRD), Nitrogen
Screening (BET), Differential Scanning Calorimetry (DSC), Thermogravimetry (TG),
Scanning Electron Microscopy (SEM) and FTIR. These samples were then milled in a
high-energy SPEX type vibrating mill, varying the milling times (1, 2, 3, 4 and 5h) in order
to study the influence of this variable on nanoparticles obtainment. The acidic leaching
process was applied to the nanopowders obtained, with the purpose of obtaining
decontamination by the iron released by the grinding and milling bodies (both made
of steel) on the sample. The obtained milled powders, already in nanometric scale,
were characterized by XRD, determining the size of crystallites by the Rietveld method.
Photocatalytic tests were also performed. Acidic leaching using HCl was partially
effective in the removal of iron from the MAE. In addition to the contamination, the MAE
also promoted the transformation of the anatase phase into rutile, which impaired the
photocatalytic potential of the samples with longer milling times. The sample with 1h
of milling obtained a greater potential of photocatalytic degradation, due to the lower
contact with the iron and less formation of the rutile phase.
KEYWORDS: Nanopowders, TiO2, High Energy Milling, photocatalysis, acid leaching.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
150
1 | INTRODUÇÃO
Uma vez que os recursos ambientais têm se tornado cada vez mais escassos,
é de suma importância que os resíduos tenham características adequadas para o
descarte no meio ambiente, visto que a qualidade de vida das comunidades, da fauna
e a flora dependem disso. Processos tradicionais de tratamento de efluentes ainda são
utilizados, porém para algumas aplicações eles se mostram ineficazes e insuficientes
(PASCOAL, 2007).
É neste contexto que os processos oxidativos avançados - POAs- se destacam
como alternativa promissora para o tratamento de efluentes, por serem capazes de
oxidar compostos orgânicos complexos, se mostrando um processo eficiente para
eliminação de compostos resistentes aos tratamentos químicos, físicos e biológicos.
Os poluentes tratados são mineralizados a formas menos tóxicas e inertes, como CO2
e H2O (FERREIRA, 2005).
Na fotocatálise heterogênea, um tipo de POA, a radiação solar pode ser utilizada
como fonte de energia, ativando o catalisador e induzindo reações de oxirredução.
Alguns semicondutores minerais vêm sendo aplicados neste processo como
catalisadores, por exemplo, o TiO2, ZnO, ZnS, CdS, Bi2O3, entre outros (FERREIRA,
2005).
A efetividade da fotocatálise heterogênea depende da área superficial do
semicondutor, o que tem chamado atenção para fotocatalisadores obtidos a partir de
pós nanométricos, visto que estes, pelo menor tamanho, possuem uma grande área
superficial (MOURÃO; MENDONÇA, 2009).
Diversas técnicas podem ser utilizadas para a obtenção de pós nanométricos; a
Moagem de Alta Energia (MAE) tem ganho destaque na comunidade científica uma
vez que é uma técnica rápida, eficiente, de fácil transposição para a escala industrial
e que envolve custo relativamente baixo, principalmente no que tange a questão das
matérias primas utilizadas para obtenção de nanopós (TAKIMI, 2004). Esta pesquisa
investigou a obtenção de nanopós para aplicação em fotocatálise de um material
semicondutor (TiO2) a partir da MAE, e o efeito da presença de ferro contaminante
oriundo do frasco e meio de moagem nas propriedades fotocatalíticas de TiO2.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
Foi utilizado como matéria-prima o Óxido de Titânio em pó (TiO2, 99% de pureza,
MW:79,87 g/mol, Sigma-Aldrich®). Solução de 20% de ácido clorídrico foi utilizada
para descontaminação dos nanopós pelo processo de lixívia ácida após moagem.
Para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa, a metodologia foi dividida
em três fases, na qual a fase A consistiu na caracterização do pó precursor (feita
previamente pelo grupo de pesquisa), na fase B na obtenção dos pós finos por meio
da moagem de alta energia, e por fim, a fase C consistiu na caracterização do material
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
151
obtido após a fase B.
Fase A: Realizada previamente pelo grupo de pesquisa (STORION, 2018). Para a
caracterização por difração de Raios X dos pós de TiO2 antes da moagem (Laboratório
de Cristalografia da Universidade Federal de Alfenas, campus de Alfenas/MG), foi
empregado tubo de cobre (Kα =0,1542 nm), com potencial de aceleração de 40 kV e
30 mA, em varredura angular entre 15 e 75°, com passo de 2x10-2°. A análise de DSC
e TG (equipamento Netzsch Júpiter STA 449F3, UNIFAL, campus de Poços de Caldas/
MG) foi utilizada para avaliar eventos físico-químicos endo/exotérmicos e de alterações
na massa das amostras em função do incremento da temperatura. Foi utilizado 10 mg
de óxido em cadinhos de liga platina-ródio sob a atmosfera de nitrogênio, com taxa de
aquecimento de 10K/min e faixa de temperatura de 200 a 1100ºC. As caracterizações
por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e fisissorção de nitrogênio (BET)
foram realizadas no DEMa/UFSCar. Para análise dos pós em termos de morfologia,
distribuição e tamanho, foi utilizado o Microscópio Eletrônico de Varredura modelo
Philips XL-30Field Emission Gun (MEV-FEG) e o software ImageJ 1.48v. A técnica de
fisissorção de nitrogênio foi realizada em equipamento Micromeritcs ASAP 2020, na
temperatura de 77 K.
Fase B: A moagem dos pós precursores foi realizada em um moinho de
alta energia do tipo SPEX Mixer/ Mill, cujo frasco e bolas são constituídos de aço
endurecido (UNIFAL, campus de Poços de Caldas). Antes de cada moagem as bolas
foram pesadas em balança analítica e a massa de TiO2 também foi medida seguindo a
proporção mássica de Bola:Material de 5:1, relação ótima já investigada em trabalhos
anteriores do grupo de pesquisa (STORION, 2018). As moagens foram realizadas
a seco, variando-se o tempo de moagem total da titânia em 1, 2, 3 ,4 e 5h horas,
sendo comparadas com o tempo zero que corresponde àquelas amostras submetidas
somente à passagem em almofariz e pistilo.
Não foram necessários tempos de moagem mais longos, visto que o moinho
vibratório tipo SPEX produz elevada energia, com elevado grau de moagem mesmo
em tempos mais curtos de moagem, quando comparados a outros moinhos de alta
energia, como é o caso do atritor ou planetário; além disso, tempos elevados de
moagem encareceriam o projeto, o que seria contraditório com a pesquisa proposta
uma vez que pretende-se obter os nanopós através de tecnologia de menor custo
quando comparado aos processos químicos. Ao fim de cada tempo de moagem, os
pós foram retirados do frasco com a ajuda de um pincel, e então foram transferidos
para um béquer. Como alguns pós permaneceram aderidos à parede, foi adicionado
álcool e o frasco foi levado novamente ao moinho, por mais cinco minutos, sendo o pó
e álcool posteriormente retirados e transferidos para o mesmo béquer. Este foi deixado
à temperatura ambiente para que o álcool evaporasse e o pó fosse então utilizado na
lixívia.
Após a obtenção dos pós finos foi realizada a lixívia ácida utilizando solução de
20 % de ácido clorídrico para a descontaminação e posterior desaglomeração do pó via
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
152
ultrassom de ponto. Para a realização da lixívia ácida, 3 g do pó moído foram medidos
em balança analítica e adicionados a um béquer com 100 mL da solução de ácido
clorídrico. Eles foram agitados por 4 horas em uma temperatura entre 90 e 100ºC. O
béquer foi então deixado em repouso para a decantação do pó e então retirada da
solução residual. Após a retirada da parte líquida, o pó foi novamente misturado a 100
mL de solução de HCl e o procedimento foi repetido. A lixívia foi realizada quatro vezes
para os pós moídos por 1, 2 e 3h e cinco vezes para os pós moídos por 4 e 5h até
eliminação aparente do ferro.
Quando a solução foi extraída pela última vez de cada amostra foi necessário
realizar a lavagem do pó para retirar o ácido residual. Para isso, foi adicionado ao
béquer 100 mL de água, e a mistura foi deixada sob agitação por 30 min. Após alguns
dias, para os pós que não decantaram completamente, a parte líquida foi centrifugada
para a completa separação do pó e da água. Esta última foi então descartada e o pó
novamente misturado a 100 mL de água destilada. O processo de lavagem foi repetido
três vezes para cada amostra, e após a última retirada da parte líquida, o béquer
foi deixado em uma estufa para completa evaporação da água. Por fim, álcool foi
adicionado ao béquer e o pó foi desaglomerado na Sonda Ultrassônica Sanders, por
25 min. Após alguns dias em repouso, o álcool evaporou e os pós foram passados em
uma peneira de abertura de 45 µm.
Fase C: Depois de obtidos os nanopós de titânia, utilizou-se novamente a
Difração de Raios X para determinação do tamanho de cristalito pelo método de
Rietveld. Foi utilizado para os testes fotocatalíticos um reator fotoquímico operante com
radiação ultravioleta na região do UV-C presente no Laboratório de Espectroscopia
e Cromatografia Ambiental da Universidade Federal de Alfenas, campus de Poços
de Caldas. Foi o utilizado o corante Rodamina B Synth para mensurar a atividade
fotocatalítica. Solução estoque desse corante foi previamente preparada a 1000 mg.L-1
em água deionizada (3 µS.cm-1) armazenada em frasco âmbar a 4°C. Anterior a cada
análise, foi preparada solução a 5 mg.L-1 a partir da diluição da solução estoque em
água com mesma procedência.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Fase A
Durante a caracterização dos pós precursores determinou-se a área superficial
do óxido de titânio pela técnica de fisissorção de nitrogênio, obtendo-se o valor de A =
10,9456 m2/ g (STORION, 2018).
A Figura 1 mostra o difratograma de Raios X para o TiO2 precursor, indicando
que o óxido de titânio se encontra na fase anatase, com estrutura cristalina tetragonal
(STORION, 2018).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
153
Figura 1 - Difratograma de Raios X para o pós precursor de TiO2.
Fonte: STORION, 2018.
A Figura 2 apresenta os resultados dos ensaios DSC/TG para o pó precursor.
É possível notar que em torno de 500ºC, a curva de fluxo de calor, que antes estava
caminhando para o sentido de diminuição da perda de calor, apresenta um pico
exotérmico, enquanto que a curva termogravimétrica não sofreu alteração. A transição
do pó de uma fase menos estável para uma mais estável, no caso em questão, da fase
anatase para rutilo, pode ser a causa deste pico.
Figura 2 - Resultados do ensaio DSC/TG para o pó precursor.
Fonte: STORION, 2018.
Para a determinação do tamanho de partículas de TiO2 foi utilizado o Software
ImageJ 1.48v, tendo sido obtido um tamanho médio de 166,30 ± 37,98nm antes da
moagem de alta energia (Figura 3).
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
154
Figura 3 – Determinação do tamanho de partículas do TiO2 (100000x).
Fonte: Autores.
3.2 Fase B
Após realizar a moagem do óxido de titânio com diferentes tempos, foi possível
perceber uma maior contaminação conforme o tempo de moagem aumentava, visto
que a coloração do pó se tornou cada vez mais escura, o que já era esperado. Esse
fato pode ser comprovado pela Figura 4.
Figura 4 – TiO2 após 1, 2, 3, 4 e 5 h de moagem (da esquerda para direita).
Fonte: Autores.
Como já discutido na metodologia, a lixívia ácida foi empregada para
descontaminar esse pó, por meio da reação do ácido com o ferro. Após a lixívia, a
cor característica da solução é amarelada, e conforme a quantidade de ferro no pó
diminui, a solução vai se tornando mais clara. Na maioria dos casos, conforme foram
sendo realizadas mais lixívias, a solução foi se tornando menos amarela. Em poucos
casos a solução se tornou mais escura novamente, mas isso provavelmente se deve
ao fato de a lixívia anterior não ter sido realizada eficientemente. Isso pode ocorrer
devido a diversos fatores, como um descontrole na temperatura, por exemplo. A Figura
5 mostra a mistura após cada uma das lixívias para a amostra moída por cinco horas.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
155
Figura 5 – Aparência da solução após cada lixívia para amostra moída por 5h.
Fonte: Autores.
Após quatro lixívias nos pós que foram moídos por 1, 2 e 3 h, a solução já se
mostrou suficientemente clara, indicando que o ferro foi eliminado quase que totalmente.
Já os pós que foram moídos por 4 e 5h ainda apresentavam uma coloração pouco
amarelada após a quarta lixívia, consequência da maior contaminação gerado pelo
maior tempo de moagem. Por isso, nestes dois casos, a lixívia foi realizada cinco
vezes.
Como já dito na metodologia, os pós foram lavados após a lixívia, para retirada
do ácido residual. Todas as amostras mostraram uma total separação da água e do
TiO2 após a primeira lavagem, porém após a segunda e terceira foi necessário utilizar
a centrifugação para separá-los. A Figura 6 mostra a amostra de 1 h nos dois casos.
Figura 6 – Amostra moída por 1 h após primeira e segunda lavagem.
Fonte: Autores.
3.2 Fase C
3.2.1 Análises de DRX
As figuras 7 e 8 mostram os difratogramas obtidos para as amostras com e
sem lixívia. Na figura 7, onde estão registrados os resultados das amostras que não
passaram por lixívia ácida, nota-se que conforme o tempo de moagem aumenta, a
amorfização do pó também aumenta, juntamente com a presença do ferro, na forma
de magnetita. Além do mais, nota-se que para maiores tempos de MAE, a estrutura
anatase (ortorrômbica) transforma-se em rutilo (ALI, 2014), o que também é evidenciado
na figura 8, que mostra os difratogramas das amostras submetidas a lixívia ácida. Após
a lixívia ácida, foi possível verificar a remoção parcial ou completa do ferro através dos
difratogramas da figura 8.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
156
Figura 7 – Difratogramas para as amostras de TiO2 que não passaram pelo processo de lixívia
ácida. Foram indicadas as fases anatase e rutilo (TiO2) e a presença do ferro como magnetita.
Fonte: Autores.
Figura 8 – Difratogramas para as amostras de TiO2 que passaram pelo processo de lixívia
ácida. Foram indicadas as fases anatase e rutilo (TiO2).
Fonte: Autores.
A tabela 2 mostra os tamanhos de cristalito das amostras após moagem. Nota-
se que quanto maior o tempo de moagem, menor o tamanho de cristalito, indicando
a eficiência da MAE. Para tempos de moagem maiores do que 3 horas, não foram
obtidos resultados devido à dificuldade na separação dos picos.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
157
Tempo de moagem (h)
Tamanho de cristalito (nm)
1
55
2
18
3
15
4
-
5
-
Tabela 2: Tamanho de cristalito para as amostras após a moagem.
Fonte: Autores.
3.2.2 Ensaios fotocatalíticos
Após a caracterização das amostras, foram realizados ensaios fotocatalíticos
para determinação do potencial de degradação das amostras, utilizando Rodamina
B como contaminante a ser degradado. Os resultados dos ensaios encontram-se nas
figuras 9 e 10.
Os resultados não foram promissores para as amostras que não foram
submetidas ao tratamento por lixívia ácida. Mesmo com a redução do tamanho de
cristalito, a MAE causou a contaminação por ferro, o que comprometeu a eficiência
fotocatalítica do TiO2. No entanto, para as amostras submetidas a lixívia ácida, os
resultados mostraram altos valores de degradação da Rodamina. Assim, tornase evidente a necessidade da descontaminação dos pós para melhor eficiência
fotocatalítica.
Figura 9 – Resultados dos ensaios fotocatalíticos das amostras de TiO2 moídas por 1, 2, 3, 4 e
5 horas que não foram submetidas a lixívia ácida.
Fonte: Autores.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
158
Figura 10 – Resultados dos ensaios fotocatalíticos das amostras de TiO2 moídas por 1, 2, 3, 4 e
5 horas após lixívia ácida.
Fonte: Autores.
Pela figura 10, nota-se que os melhores resultados foram os obtidos pelas
amostras com menor tempo de moagem (1 hora), devido ao menor tempo de contato
com o ferro na MAE. Além do mais, o aumento da fase rutilo nas amostras com
maior tempo de moagem também contribui para a diminuição das propriedades
fotocatalíticas.
4 | CONCLUSÕES
A moagem de alta energia em SPEX Mixer/Mill mostrou-se eficiente na
diminuição do tamanho de cristalito das amostras de TiO2, porém, promoveu
contaminação por ferro proveniente do meio de moagem, feito de aço. A moagem
também promoveu a transformação da fase anatase do TiO2 em rutilo, o que,
juntamente com a presença do ferro, afetou negativamente no potencial fotocatalítico
das amostras.
A lixívia ácida utilizando HCl mostrou-se parcialmente eficaz na remoção do
ferro das amostras, comprovado via DRX. Quanto maior o tempo de moagem, mais
contaminação do pó foi observada, dificultando a eficiência da lixívia ácida na obtenção
de pós isentos de Ferro contaminante. As amostras que passaram pelo processo de
lixívia também apresentaram melhores potenciais de degradação do corante Rh-B,
visto que quanto menor o tempo de moagem, maior degradação, devido ao menor
tempo de contato com o ferro e menor presença da fase rutilo.
5 | AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq e a CAPES pelo apoio financeiro a esta
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
159
pesquisa, e a Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) e FZEA – USP pelo uso
das instalações e equipamentos.
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Engenharia de Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 14
160
CAPÍTULO 15
ANÁLISE DA INTERFERÊNCIA DO PRÉAQUECIMENTO DO ÓLEO E DA TEMPERATURA DE
TRANSESTERIFICAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS
FÍSICO-QUÍMICAS DO BIODIESEL
Gerd Brantes Angelkorte
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Programa de Planejamento Energético
Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
Ivenio Moreira da Silva
Universidade Federal Fluminense, Departamento
de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente
Niterói – Rio de Janeiro
massa específica.
PALAVRAS-CHAVE:
Biodiesel,
Biocombustível, Energia Alternativa, Biomassa.
ANALYSIS OF THE INTERFERENCE OF OIL
PREHEATING AND TRANSESTERIFICATION
TEMPERATURE IN THE PHYSICOCHEMICAL
CHARACTERISTICS OF BIODIESEL
RESUMO: O presente estudo tem por objetivo
analisar as interferências da temperatura
de pré-aquecimento e do processo de
transesterificação, no rendimento do biodiesel e
nas características físico químicas do biodiesel
produzido. Para isso, utilizou-se o óleo de soja
como fonte de triglicerídeo, o metanol como
álcool na proporção de 30% V/V, o hidróxido
de potássio (KOH) como catalizador a 1% e
utilizou-se o agitador magnético com o intuito
de forçar o processo de transesterificação.
Para as análises físico químicas utilizou-se
o viscosímetro de capilar para determinar a
viscosidade cinemática e o picnômetro para
verificar a massa específica dos biodieseis. Os
resultados revelaram que todos os biodieseis
produzidos estavam dentro das normas NBR.
Em relação ao rendimento, o biodiesel 70-70ºC
possui o maior rendimento de produção, o
biodiesel 25-70ºC possui a menor viscosidade
cinemática e o biodiesel 50-50ºC possui a maior
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
ABSTRACT: This study aims to analyze the
interferences of the preheating temperature
and the transesterification process, the
biodiesel yield and the physical and chemical
characteristics of the biodiesel produced. For
this, soybean oil was used as the source of
triglyceride, methanol as alcohol in the proportion
of 30% V/V, potassium hydroxide (KOH) as a
1% catalyst and the magnetic stirrer was used
for the purpose to force the transesterification
process. For the physical chemical analyzes the
capillary viscometer was used to determine the
kinematic viscosity and the pycnometer to verify
the specific mass of the biodiesel. The results
showed that all the biodiesel produced were
within the NBR standards. In relation to yield,
biodiesel 70-70ºC has the highest production
yield, biodiesel 25-70ºC has the lowest kinematic
viscosity and biodiesel 50-50ºC has the highest
specific mass.
KEYWORDS: Biodiesel, Biofuel, Alternative
Capítulo 15
161
Energy, Biomass.
1 | INTRODUÇÃO
O primeiro motor ciclo diesel foi desenvolvido por Rudolf Diesel (1838-1913)
e construído pela companhia francesa Otto no ano de 1900 para ser exposto e
apresentado para a sociedade na Feira Mundial de Paris. Segundo Nitske e Wilson
(1965) o motor funcionou plenamente com óleo de amendoim e funcionando tão bem,
que aparentemente não houve qualquer estranheza em relação ao seu funcionamento
por parte dos observadores. Isso deveu-se ao fato que o motor operou de forma
idêntica aos demais motores lá expostos e que tinham como fonte de energia, outros
óleos. Portanto, devido a esse fato, podemos destacar a suma importância de um
estudo adequado sobre a utilização/fabricação de biodieseis de óleos vegetais em
motores a diesel.
Conforme Barros (2007), a bioenergia está sendo avaliada como uma alternativa
viável e promissora, em curto e médio prazo, para ocupar um maior espaço na matriz
energética mundial, principalmente para atender parte das necessidades do setor de
transportes. Porém, é importante também salientar que existe uma ampla gama de
possibilidades de utilização dos biocombustíveis em todo o setor energético (BARROS,
2007).
O biodiesel é um biocombustível de origem renovável, que pode ser produzido
a partir de diferentes fontes de matérias primas e o seu processo de produção da
biodiesel demanda cuidado que refletem na sua qualidade. Assim, o biodiesel deve
passar por uma série de análises que atestem sua aptidão ao uso. Propriedades
físicas como a viscosidade cinemática e a massa específica influenciam na qualidade
da combustão (ANGELKORTE, 2016).
O presente estudo, procura estudar a relação da viscosidade cinemática e da
massa específica dos biodieseis de soja, com as temperaturas de pré-aquecimento e
de produção do biodiesel no processo de transesterificação.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O estudo dividiu-se em duas etapas: a de produção do biodiesel através da
transesterificação via cadeia metílica, e a caracterização físico química dos biodieseis.
Para a produção do biodiesel, variou-se o processo a fim de obter-se três
diferentes tipos de biodiesel, variando primeiramente a temperatura de préaquecimento do óleo de soja e posteriormente, a temperatura durante o processo de
transesterificação, conforme Tabela 1.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 15
162
Biodiesel
Pré-Aquecimento
Transesterificação
1
50°C
50°C
2
70°C
70°C
3
25ºC
70°C
Tabela 1: Tipos de biodieseis
Fonte: Elaboração própria
O biodiesel foi produzido através de bateladas, nas quais, utilizou-se 100 ml de
óleo de soja de cozinha, pré-aquecido na estufa até estabilização, 30 ml de metanol
e 1% do catalizador hidróxido de potássio (KOH), segundo Tomasevic e Marinkovic
(2003), no Laboratório de Termociências – LATERMO – UFF.
Com o metanol no Erlenmeyer, adicionou-se o catalizador e o bastão magnético e
em seguida, com o auxílio do agitador magnético, houve a dissolução dos compostos.
Após esse processo, já com o óleo pré-aquecido e, novamente com o auxílio do
agitador, acrescentou-se a solução metanol + KOH ao óleo em um processo de
gotejamento, de modo a favorecer a transesterificação na temperatura adequada para
cada biodiesel produzido, Figura 1. Posteriormente, esperou-se uma hora até que a
reação fosse totalmente estabilizada e somente após, colocou-se a mistura no funil de
bromo, de modo a permitir a separação do biodiesel e da glicerina, gerada durante a
transesterificação.
Figura 1: Processo de transesterificação
Fonte: Elaboração própria
Com o intuito de assegurar uma completa separação entre as partes, aguardou-
se vinte e quatro horas até que o processo de separação fosse completamente
estabilizado e com isso, como pode ser visto na Figura 2, a glicerina, mais densa
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 15
163
do que o biodiesel, fica na parte de baixo do balão de decantação, facilitando a sua
extração.
Figura 2: Processo de separação biodiesel e glicerina
Fonte: Elaboração própria
Posteriormente, realizou-se a lavagem do biodiesel produzido, de modo a eliminar
completamente qualquer tipo de impureza restante no mesmo. Esse processo foi
realizado através de adição de água destilada e pré-aquecida a 50°C, juntamente com
gotas de HCl (ácido clorídrico) aguardando-se cerca de vinte minutos para haver uma
completa separação das partículas de glicerina do biocombustível, Figura 3. A seguir,
colocou-se o biodiesel lavado em um recipiente, indo diretamente para a estufa, onde
permaneceu por duas horas a uma temperatura de 105°C assegurando-se que toda a
água destilada e o HCl evaporassem.
Figura 3: Processo de lavagem do biodiesel
Fonte: Elaboração própria
Esse processo foi repetido por três vezes para cada tipo de biodiesel produzido,
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 15
164
de forma a assegurar que houvesse uma quantidade adequada para o processo de
caracterização.
E posteriormente, seguiu-se o processo de caracterização do biodiesel, no
Laboratório de Reologia – LARE – UFF. O estudo priorizou o foco na determinação das
diferenças entre as massas específicas e viscosidades cinemáticas dos três diferentes
tipos de biodieseis produzidos.
No qual, para determinar a massa específica de cada biodiesel, utilizou-se o
banho termostático, de modo a conseguir definir uma escada de temperatura por massa
específica. Assim, colocou-se o biodiesel no picnômetro e ele foi preso em um suporte,
Figura 4, possibilitando a submersão parcial do equipamento até que o combustível
atingisse a temperatura necessária para o estudo. Após esse ponto, adotaram-se
alguns métodos para o controle da temperatura no interior do picnômetro, como a
verificação da temperatura da água do banho termostático, através de um termômetro
digital de alta precisão e, da adição de alguns tubos de ensaio com quantidades de
biocombustíveis semelhantes ao encontrado no picnômetro, novamente medindose a temperatura. Mediante essa verificação, utilizou-se uma balança analítica para
determinar a massa do conjunto picnômetro + biodiesel. Repetiu-se esse procedimento
cinco vezes para cada temperatura e biodiesel estudado, de forma a eliminar erros
pertinentes a origem mecânica deste procedimento.
Figura 4: Resfriamento do picnômetro
Fonte: Elaboração própria
Por sua vez, para determinar a viscosidade cinemática do biodiesel, utilizaram-se
três viscosímetros com capilares distintos, submersos em um banho termostático com
janelas para observação e verificação.
O procedimento para determinar a viscosidade cinemática dos biodieseis
iniciou-se ajustando o banho termostático a uma temperatura de 40°C e em seguida,
introduzindo uma pequena quantidade do fluido, suficiente para encher 2/3 do
bulbo inferior do viscosímetro, colocando-o em submersão no banho termostático.
Transcorrido o tempo para que o biocombustível chegasse à temperatura de 40°C,
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 15
165
aferiu-se mecanicamente o tempo gasto para que ele percorresse as duas marcas
de controle do viscosímetro. Esse procedimento foi repetido cinco vezes para cada
combustível, de modo a eliminar imprecisões óticas e mecânicas dessas medições.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
No processo de produção do biodiesel de soja, verificou-se que houve uma
pequena melhora no rendimento quando o processo de transesterificação acontecia
há uma temperatura de superior, como pode ser observado na Figura 5. Por outro
lado, não foi possível observar melhoras na produção em relação ao pré-aquecimento
do óleo.
Figura 5: Gráfico do rendimento de produção
Fonte: Elaboração própria
Como pode-se observar na Tabela 2, o biodiesel que apresentou maior rendimento
de produção, 78,1% da mistura óleo de soja mais metanol, foi o com pré-aquecimento
a 70ºC e produção a 70ºC, sendo o mesmo, cerca de 1% superior ao biodiesel com
com pré-aquecimento a 25ºC e produção a 70ºC e 4% superior ao biodiesel com préaquecimento a 50ºC e produção a 70ºC
Biodiesel
Rendimento (%)
25-70 °C
77,5641
50-50 °C
75,4308
70-70 °C
78,0769
Tabela 2: Rendimento de produção
Fonte: Elaboração própria
Porém, na caracterização físico-química dos biocombustíveis, observou-se que
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 15
166
tanto para a análise da massa específica Figura 6, quanto para a análise da viscosidade
cinemática Figura 7, o biodiesel produzido com pré-aquecimento a 50ºC e produção a
50ºC, possui os maiores resultados dentre todos os demais.
Figura 6: Gráfico da massa específica em rampa de temperatura
Fonte: Elaboração própria
Figura 7: Gráfico da viscosidade cinemática a 40ºC
Fonte: Elaboração própria
Na análise da massa específica, é possível verificar que conforme o esperado
houve um aumento da mesma a medida que a temperatura do banho termostático
diminuiu. Chegando a haver uma variação de até 9,5 Kg/m³ como foi o caso do biodiesel
70-70ºC e estando sempre na faixa de 1 a 1,1% de acréscimo na massa específica em
todos os biodieseis, conforme Tabela 3.
Biodiesel
Massa Específica (Kg/m³)
10 °C
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
15 °C
20 °C
25 °C
Capítulo 15
167
25 - 70 °C
890,1
887,3
884,1
881,3
50 - 50 °C
892,0
889,0
886,0
882,9
70 - 70 °C
891,2
887,8
884,7
881,7
Tabela 3: Massa específica com rampa de temperatura
Fonte: Elaboração própria
Já na viscosidade cinémática, observa-se na Tabela 4 novamente o biodiesel 50-
50ºC é o que possui maior valor, sendo o mesmo 13% superior ao biodiesel 25-70ºC
e 5% superior ao biodiesel 70-70ºC.
Biodiesel
Viscosidade Cinemática (mm²/s)
25-70 °C
4,0280
70-70 °C
4,3439
50-50 °C
4,5596
Tabela 4: Viscosidade cinemática a 40ºC
Fonte: Elaboração própria
Portanto, apesar do biodiesel 25-70ºC possuir um rendimento de produção
e uma massa específica ligeiramente inferior ao biodiesel 70-70ºC, ele possui
uma viscosidade cinemática 8% superior ao mesmo. Com isso, apesar do menor
rendimento, esse biodiesel possui características que auxilia a haver uma melhor
performance interna no motor diesel, visto que a menor viscosidade proporciona um
menor desgaste e resistência ao conjunto de componentes do motor.
4 | CONCLUSÕES
Todos os biodieseis produzidos apresentaram um rendimento adequado de
produção, sendo condizente com outros estudos já desenvolvidos anteriormente.
Em relação as características físico químicas, todos os biodieseis estão de acordo
com as normas NBR 7.148, massa específica a 20ºC, e NBR 10.441, viscosidade
cinemática a 40ºC.
O presente trabalho pode determinar que existe uma relação direta com a
temperatura do processo de transesterificação com o aumento do rendimento da
produção do biodiesel.
Referindo-se a cada biodiesel produzido, verificou-se que cada um possui uma
vantagem, o biodiesel 25-70ºC é o que possui menor viscosidade cinemática entre
todos, o que é de grande importância visto a diminuição da resistência causada pelo
menos nos componentes internos do motor. Por outro lado, o biodiesel 70-70ºC é o
que possui o melhor rendimento de produção e o biodiesel 50-50ºC apesar de ter
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 15
168
menor rendimento, possui uma maior viscosidade cinemática, o que também pode ser
importante para casos de trabalho em temperaturas elevadas ou em máquinas que
necessitem de torque elevado, porém, ruim em climas mais frios.
REFERÊNCIAS
ANGELKORTE, G. B. Eficiência na Produção de Biodiesel a Partir de Misturas Prévias de Óleos
Vegetais. Universidade Federal Fluminense, Trabalho de Conclusão de Curso, 2019.
BARROS, E. V. A matriz energética mundial e a competitividade das nações: bases de uma
nova geopolítica. Engevista, v. 9 n. 1, p. 47-56, 2007.
NITSKE, W. R., WILSON, C. M. Rudolf Diesel, Pioneer of the Age of Power. University of Oklahoma
Press, Norman, Oklahoma, 1965.
TOMASEVIC, A. V., MARINKOVIC, S. S. Methanolysis of used frying oils. Fuel Process Technol.
Fuel Processing Technology, v.81, p. 1-6, 2003. DOI: 10.1016/S0378-3820(02)00096-6
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 15
169
CAPÍTULO 16
ASPECTOS BOTÂNICOS DOS ÓLEOS ESSENCIAIS
Sebastião Gomes Silva
Eloisa Helena de Aguiar Andrade
Universidade Federal do Pará, Programa de PósGraduação em Química
Universidade Federal do Pará, Programa de PósGraduação em Química
Belém - Pará
Belém - Pará
Jorddy Neves da Cruz
Embrapa Amazônia Oriental
Belém - Pará
Pablo Luis Baia Figueiredo
Universidade Federal do Pará, Programa de PósGraduação em Química
Belém - Pará
Wanessa Almeida da Costa
Universidade Federal do Pará, LABEX - FEA
Belém - Pará
Mozaniel Santana de Oliveira
Universidade Federal do Pará, LABEX - FEA
Belém - Pará
Rafael Henrique Holanda Pinto
Universidade Federal do Pará, LABEX - FEA
Belém - Pará
Renan Campos e Silva
Universidade Federal do Pará, Programa de PósGraduação em Química
Belém - Pará
Fernanda Wariss Figueiredo Bezerra
Universidade Federal do Pará, LABEX - FEA
RESUMO: Os óleos essenciais (OE’s) vêm
sendo utilizados pelas comunidades mundiais
há séculos, em diversas áreas e para diversos
fins como medicinais, aromatizantes, em
perfumaria, cosméticos, inseticida, fungicida,
bactericida, dentre outros. Eles são substâncias
naturais e biodegradáveis, geralmente atóxicos
ou com baixa toxicidade aos seres humanos.
Desse modo, as constantes pesquisas nessa
área representam uma alternativa de busca
de novos medicamentos mais eficientes e
com menores efeitos colaterais, assim como a
obtenção de produtos e insumos diversos, além
de serem fonte de obtenção de moléculas com
grande valor agregado. Nesse sentido, este
capítulo tem como objetivo descrever o aspecto
botânico dos OE’s.
PALAVRAS-CHAVE:
óleos
essenciais,
aspectos botânicos, propriedades medicinais.
Belém - Pará
Raul Nunes de Carvalho Junior
Universidade Federal do Pará, LABEX - FEA
Belém - Pará
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
BOTANICAL ASPECTS OF ESSENTIAL OILS
ABSTRACT: Essential oils (EO’s) have been
used by the world’s communities for centuries,
Capítulo 16
170
in various areas and for various purposes such as medicinal, flavoring, perfumery,
cosmetics, insecticide, fungicide, bactericide, among others. They are natural and
biodegradable substances, generally nontoxic or with low toxicity to humans. Thus,
constant research in this area represents an alternative to searching for new drugs
that are more eficiente, and with less side effects, as well as the obtaining of diverse
products and inputs. It is also a source of obtaining molecules with great added value.
In this sense, this chapter aims to describe the botanical aspect of EO’s.
KEYWORDS: essential oils, botanical aspects, medicinal properties.
1 | INTRODUÇÃO
Os OE’s são metabólitos secundários dos vegetais, e que são biossintetizados
em diferentes órgãos vegetais como botões florais, flores, folhas, caules, ramos,
sementes, frutos, raízes, ou casca de madeira e armazenados em células secretoras,
cavidades, canais, células epidérmicas ou tricomas glandulares. Os constituintes
voláteis de todos esses órgãos vegetais podem ser extraídos através de vários métodos
como: enfloração, extração com solvente orgânico, por prensagem, CO2 supercrítico
e arraste a vapor de água (um dos mais utilizados) (El Asbahani et al., 2015; Bakkali
et al., 2008; Baser e Buchbauer, 2015).
Esses métodos podem variar de acordo com a finalidade da utilização dos
constituintes voláteis, localização do óleo na planta e quantidade de material vegetal
disponível (El Asbahani et al., 2015; Bakkali et al., 2008; Baser e Buchbauer, 2015).
As diversas propriedades dos OE’s podem ser atribuídas a uma mistura complexa
formada sobretudo por monoterpenos, sesquiterpenos e seus derivados oxigenados
(álcoois, aldeídos, ésteres, cetonas, fenóis e óxidos) (Bakkali et al., 2008; Baser e
Buchbauer, 2015; Ahl Hahs et al., 2015).
Existe atualmente um grande interesse de diversas áreas pelos OE’s por seus
altos valores agregados, por possuírem muitas atividades biológicas e por serem um
produto de origem natural, logo biodegradável e renovável ajudando assim com a
preservação do meio ambiente.
Desse modo, o presente capítulo tem como objetivo descrever os aspectos
botânicos dos OE’s.
2 | FUNÇÕES DOS ÓLEOS ESSENCIAIS NOS VEGETAIS
Os OE’s são produtos do metabolismo secundário de vegetais que atuam
como mecanismo de proteção e resistência a fatores ambientais aumentando sua
capacidade de sobrevivência (Kennedy e Wightman, 2011). No entanto, durante
muitos anos os OE’s foram relatados como desperdício fisiológico ou como produtos
de desintoxicação do metabolismo secundário dos vegetais. No texto de Julius
Sachs (1873), os metabólitos secundários foram definidos pela primeira vez como
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
171
“co-produtos” do metabolismo vegetal, sem qualquer benefício conhecido para o
metabolismo primário da planta. Os termos “metabolismo primário” e “metabolismo
secundário”, até então conhecidos respectivamente como “inner economy” e “by-
products”, foram introduzidos pela primeira vez em 1891 por Albrecht Kossel (Hartmann,
2007; Sachs, 1873)
Os OE’s são misturas complexas de compostos voláteis sintetizados em diversos
órgãos da planta e são armazenados em células secretoras, cavidades, canais, células
epidérmicas ou tricomas glandulares. Nos vegetais, tais misturas atuam como agentes
antibacterianos, antivirais, antifúngicos, e inseticidas, atraindo alguns insetos que agem
na dispersão de pólens e sementes; repelindo insetos, moluscos, e/ou vertebrados
que trazem prejuízos; também agem na sinalização envolvida na comunicação plantaplanta; e além disso, há relatos que os compostos orgânicos voláteis liberados pelas
plantas podem regular a capacidade oxidativa da troposfera em relação ao monóxido
de carbono, ozônio e aerossóis (Maffei et al., 2011), além de proteger o vegetal da
perda de água e do aumento de temperatura (Baser e Buchbauer, 2015).
Estudos relatam a atividade alelopática de OE’s associada à sua composição
química, na maioria das vezes, predominante em terpenoides lipofílicos, fenilpropanoides
ou derivados de hidrocarbonetos alifáticos de cadeia curta, que operam na inibição da
via citrocômica da respiração através do bloqueio do ciclo do nitrogênio ou inibindo
a germinação e elongação de sementes de plantas. Desta forma, ressalta-se a sua
importância no desenvolvimento de produtos agroquímicos utilizando fontes naturais
(Maffei et al., 2011).
3 | ÓRGÃOS VEGETAIS EM QUE SE ENCONTRAM OE’S E AS ORGANELAS
RESPONSÁVEIS POR ARMAZENAR ESSES CONSTITUINTES VOLÁTEIS
As plantas são capazes de sintetizar, armazenar e/ou expelir diversos tipos de
secreções. As secreções produzidas pelas plantas podem variar desde soluções mais
simples, compostas basicamente por açúcares, sais e aminoácidos, até soluções mais
complexas (Rojas et al., 2014). No metabolismo primário, são produzidos basicamente
macromoléculas como proteínas e polissacarídeos que irão desempenhar funções
essenciais à sobrevivência do vegetal. Enquanto que no metabolismo secundário,
são produzidas misturas complexas formadas por dezenas de compostos químicos de
diferentes classes como alcaloides, terpenoides, glicosídeos, dentre outros e que irão
desempenhar funções de proteção contra o ataque de patógenos, alelopatia, atração
de agentes polinizadores, etc. (Rojas et al., 2014).
Os OE’s são líquidos concentrados contendo compostos aromáticos voláteis que
possuem diferentes propriedades físico-químicas e que podem ser armazenados em
órgãos fora da planta (papilas, por exemplo) e dentro da planta (células secretoras,
canais secretores e bolsas secretoras) (El Asbahani et al., 2015). Deve-se levar em
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
172
consideração que o tempo de crescimento do órgão, período de colheita e outros fatores
bióticos e abióticos podem influenciar significativamente na produção, rendimento e
composição química do OE (Moghaddam e Mehdizadeh, 2017).
O OE pode ser obtido de diferentes órgãos da mesma planta, como: raízes,
flores, casca e caule. Nessa seção iremos abordar uma breve descrição morfológica
desses órgãos.
3.1 Raízes
A raiz é formada a partir do meristema apical do embrião e nesse estágio
de desenvolvimento geralmente a raiz é denominada de raiz primária. Após o seu
desenvolvimento, as raízes podem ser classificadas, de acordo com um sistema
radicular, em raiz pivotante ou axial que são características de dicotiledôneas e
gimnospermas; e raiz fasciculada encontrada em monocotiledôneas (Figura 1) (Liu et
al., 2018).
Figura 1. Imagem esquemática de raízes vegetais. (a) Raiz pivotante e (b) raiz fasciculada.
As raízes são estruturas que podem ser aquáticas, subterrâneas ou aéreas; e
também são responsáveis pela absorção e condução de água e nutrientes, reserva
de substâncias como amido, além de realizarem a fixação da planta (Kim et al., 2019).
Na morfologia externa das raízes, pode-se identificar as seguintes estruturas:
colo, raiz primária, raiz secundária, zona pilífera, zona lisa e coifa, sendo o colo a
parte de transição entre raiz e caule. Da raiz primária surgem as ramificações ou
raízes secundárias; a zona pilífera é composta por pelos que vão absorver água e
sais minerais do solo que irão compor a seiva; zona lisa corresponde a parte em que
ocorre o alongamento vertical e consequente crescimento da raiz; a coifa é a estrutura
protetora da ponta da raiz (Sattler e Rutishauser, 1997).
A composição química do OE pode variar de acordo com o órgão utilizado para
obtê-lo. Vukovic et al. (2009) investigaram as diferenças na composição química
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
173
do OE de Ballota nigra, extraído das raízes, caules e folhas, utilizando análises de
cromatografia gasosa/espectrometria de massa (CG/EM). O óleo encontrado nos
caules e folhas demonstrou ser rico em sesquiterpeno, tendo como compostos
majoritários o β-cariofileno, germacreno D e α-humuleno. Em contraste, o OE obtido da
raiz apresentou, como componentes majoritários, o p-vinilguiacol, borneol e mirtenol.
3.2 Folhas
A folha é o órgão vegetal responsável pela fotossíntese, transpiração, trocas
gasosas e atração de agentes polinizadores. Sua estrutura, em grande maioria, é
laminar e de cor esverdeada devido a presenta de clorofila, pigmento fotorreceptor no
processo de fotossíntese (Terashima et al., 2011).
As folhas são constituídas por: a) tecidos que formam o sistema dérmico e que
revestem toda a estrutura da folha. Aí pode-se destacar a presença de células que
compõem o tricoma e os estômatos; b) sistema fundamental que compõe o mesófilo
da lamina foliar e o córtex da nervura mediana; e c) o sistema vascular composto pelo
xilema, tecido condutor de água, nutrientes e sais minerais, e floema responsável pelo
transporte de seiva elaborada (Lawson e Vialet‐Chabrand, 2019).
Os tricomas localizados na epiderme das folhas podem ou não produzir
substâncias. Os tricomas glandulares secretam OE’s que são utilizados para finalidades
medicinais, mas que também são capazes de auxiliar a planta na sua proteção contra
patógenos e herbívoros. A estrutura do tricoma glandular é semelhante à de um fio de
cabelo em que na ponta pode-se encontrar o local de armazenamento das substâncias
(Figura 2) (Kim, 2018).
Figura 2. Tricomas glandulares de S. habrochaites. (a) Superfície da folha e (b) Zoom na
estrutura do tricoma glandular. Adaptado de Glas et al. (2012).
A extração de OE dos tricomas é relativamente fácil. Dessa maneira, a análise
detalhada das moléculas que compõem a mistura, das proteínas envolvidas na síntese,
da excreção dos compostos e também dos genes envolvidos ficaram relativamente
fáceis. Assim, diversos grupos de pesquisas têm direcionado seus esforços para
compreender esses mecanismos (Glas et al., 2012).
Barbosa et al. (2007) apontaram que os tricomas glandulares e não glandulares
da Climedia sp. conferem à planta maior defesa contra herbívoros. Os tricomas
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
174
glandulares protegem a estrutura foliar ao produzirem OE, que devido sua viscosidade,
dificulta a locomoção e tempo de permanência do inseto na superfície da folha. Os
tricomas não glandulares funcionam como uma barreira mecânica que dificulta a
penetração de pequenos herbívoros para os tecidos mais internos das folhas.
Oliveira et al. (2019) avaliaram as propriedades antioxidantes, capacidade de
inibição da acetilcolinesterase in vitro e in silico do OE extraído das folhas de Piper
divaricatum utilizando CO2 supercrítico. O óleo apresentou boa capacidade antioxidante
e bom efeito de inibição da acetilcolinesterase in vitro. As interações dos compostos
majoritários do óleo (β-elemeno, eugenol, acetato de eugenila e metil eugenol) foram
avaliadas in silico usando docagem molecular, simulações de dinâmica molecular e
cálculos de energia livre. Os resultados demonstraram que os compostos majoritários
foram capazes de interagir com resíduos catalíticos da acetil que são essenciais para
sua inibição.
3.3 Flores
As flores desempenham funções de proteção e reprodução, sendo estruturas
que surgiram evolutivamente no grupo das angiospermas. Sua distribuição nas plantas
pode ocorrer de maneira isolada ou estarem agrupadas formando inflorescências.
As flores são formadas por uma estrutura central que serve de suporte, o pedicelo,
de onde surge uma porção dilatada chamada de receptáculo formado por sépalas,
pétalas, estames e carpelos (Figura 3) (Melzer et al., 2010).
Figura 3. Morfologia esquemática de uma flor.
Devido as flores serem sensíveis ao calor, perda de umidade e outros fatores
ambientais, elas necessitam de operações de manejo pós-colheita adequadas
para sua conservação. Além disso, a vida pós-colheita das flores é influenciada por
características de cada espécie como fatores genéticos e químicos, plantio e irrigação.
Devido a isso, a indústria da floricultura enfrenta um grande problema com a vida de
prateleira ou duração flores ornamentais usadas em decorações de eventos como
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
175
casamentos e funerais. Atualmente, para prolongar o tempo de vida dessas flores
alguns pesquisadores têm sugerido a utilização de OE para sua conservação, pois
esses óleos apresentam propriedades antimicrobianas (Schneider et al., 2003; Tanko
et al., 2005)
Shanan et al. (2010) utilizaram OE para prolongar a vida de prateleira de flores
de Dianthus caryophyllus L.: Farida e Madam Collate. Em seus experimentos foram
usados os óleos extraídos de tangerina, coentro, endro e cravo, além de dois cultivares
tratados com água e 8-Hidroxiquinolina (8-HQ) como controles. A captação liquida de
água pelas flores, importante para o desenvolvimento e manutenção da planta, foi
avaliado após a planta ser mantida em solução contendo OE. Os maiores aumentos
na captação de água foram observados nas plantas tratadas com os óleos de endro e
cravo. Os pesquisadores puderam observar que há estreita relação entra a captação
líquida de água e o tempo de prateleira, pois as plantas que tiveram sua capacidade
de captação de água aumentada puderam sobreviver mais tempo em vaso. Também
foi possível observar que os OE diminuíram a quantidade de bactérias formadoras de
esporos. Os melhores resultados foram obtidos para óleo de endro, enquanto que as
plantas que foram tratadas apenas com água de torneira tiveram a maior quantidade
de bactérias formadoras de esporos. Os endro, cravo e coentro também foram capazes
de diminuir a quantidade de decompositores de celulose, o que resultou no aumento
da densidade de flores comparado às plantas do grupo controle tratadas com água de
torneira.
Outro processo em que os OE’s podem ser úteis é para auxiliar na polinização
das plantas superiores. A polinização consiste na transferência de células reprodutivas
de uma planta para outra, desempenhando um papel crítico para o sucesso da
evolução de diversas espécies vegetais. Alguns animais participam desse processo
como agentes polinizadores, sendo responsáveis pelo transporte de pólen. Para atrair
com maior sucesso os agentes polinizadores muitas espécies vegetais produzem OE
em diferentes órgãos florais como pétalas, sépalas, nectários e outros. A combinação
dos compostos presente nos OE’s produzidos nesses órgãos é o que confere à planta
suas fragrâncias características (Cseke et al., 2007).
3.4 Fruto
Alguns frutos são formados somente do ovário da flor, após seu processo de
fecundação e amadurecimento, contudo suas origens podem ser mais diversificadas
havendo o envolvimento, durante as etapas de formação, de partes das flores, como
estames, sépalas, pétalas e pedúnculo. Algumas espécies, mesmo sem fecundação,
dão origem a frutas, mas sem sementes, sendo chamados de partenocárpicos (Van
der Knaap e Østergaard, 2018).
Na composição do fruto podemos identificar o pericarpo e as sementes. O
pericarpo é a parte comestível do fruto que envolve toda a semente auxiliando em
seu desenvolvimento e proteção. O tegumento, camada mais externa da semente,
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
176
envolve o embrião e o endosperma, que vai fornecer nutrientes durante a germinação
do embrião. O pericarpo é divido em três camadas: epicarpo ou casca, camada mais
externa; mesocarpo, camada mediana; e endocarpo, camada mais interna (Figura 4)
(Dardick e Callahan, 2014).
Figura 4. Imagem esquemática de um fruto com a representação das partes que o compõem.
O OE de frutas cítricas é obtido principalmente a partir do epicarpo ou casca
usando tradicionalmente o método prensagem a frio. O óleo armazenado em sacos ou
glândulas, que estão distribuídos em diferentes profundidades da casca, são extraídos
mecanicamente pela prensagem a frio formando uma emulsão aquosa que é levada
ao centrifugador para separar o OE das demais substâncias (Ferhat et al., 2007).
As cascas de frutas também podem ser submetidas a processos de destilação
sendo expostas a água fervente ou vapor para que sejam liberados os compostos
voláteis. O vapor carregado de OE, ao percorrer as tubulações do condensador, vai
liquefazer e ser depositado num frasco coletor. Devido a imiscibilidade do óleo e da
água, a recuperação do OE é facilitada, pois o óleo sendo menos denso que água vai
formar uma mistura heterogênea que estará flutuando sobre a água (Lucchesi et al.,
2004).
Alternativamente aos métodos tradicionais estão sendo usadas as técnicas de
extração por fluido supercrítico, extração por ultrassom, extração com água subcrítica,
processo controlado de queda de pressão e extração por micro-ondas para obter o
OE de frutas cítricas. A vantagem dessas técnicas está intimamente relacionada à
qualidade do óleo extraído, maior volume de OE produzido e diminuição do consumo
energético. Além disso, não degradam alguns compostos voláteis devido ao uso de
altas temperaturas como ocorre no processo de destilação a vapor.
Ferhat et al. (2007) compararam a utilização dessas três técnicas para obter
OE de cascas de frutas cítricas frescas. O método de destilação acelerada por
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
177
micro-onda (DAM) foi o que apresentou menor tempo extração (30 m), enquanto
que a hidrodestilação (HD) foi o processo mais demorado (3 h). A prensagem a frio
(PF) apresentou tempo intermediário entre essas técnicas de 1 hora. Os melhores
rendimentos foram encontrados, respectivamente, para micro-ondas (0,24%),
hidrodestilação (0,21%) e prensagem a frio (0,05%). Ao comparar o tempo de extração
com o rendimento, a técnica de micro-ondas possui impacto ambiente menor quando
comparada às técnicas de hidrodestilação e prensagem a frio. Adicionalmente, a
extração assistida por micro-ondas pode ser considerada limpa, pois não há geração
de resíduos e não consome solventes orgânicos e água. Nos três métodos, os
monoterpenos foram majoritários (DAM: 86.03%; HD: 92.23%; PF: 95.37%), sendo
seguido pelos monoterpenos oxigenados (DAM: 3.93%; HD: 4.53%; PF: 2.00%) e
sesquiterpenos (DAM: 1.59%; HD: 1.15%; PF: 1.61%). O limoneno foi o composto
que esteve em maior quantidade nos OE’s obtidos (DAM: 69.65%; HD: 72.90%; PF:
75.68%).
3.4.1 Caule
O caule sustenta as folhas e os órgãos de reprodução do vegetal, além de realizar,
por meio de vasos condutores, o transporte de seiva bruta e elaborada da raiz para
o topo da planta e vice-versa. Na Figura 5 podemos observar as partes que formam
o caule, como: gema auxiliar que origina a folha; entrenó, região que está localizada
entre dois nós; nó, que pode dar origem à folha; flor ou ramificação do caule; e gema
terminal responsável pelo crescimento do vegetal (Nadezhdina, 2010).
Figura 5. Representação esquemática do caule e seus componentes.
Diferentes métodos de extração têm sido aplicados para obter OE do caule de
diferentes plantas. Oladipupo e Adebola (2009) compararam a composição química do
OE de Senecio polyanthemoides coletada em duas localidades diferentes da cidade
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
178
de uMhlathuze (Província de KwaZulu-Natal – África do Sul). Os compostos foram
isolados por hidrodestilação a partir do caule e analisados por CG e CG/EM. Nas duas
amostras, os componentes monoterpenoides foram predominantes, apesar de haver
diferenças na porcentagem de cada composto presente na fração total do óleo das
amostras. Na amostra A, quantidade total de monoterpenoides correspondeu a 85.3%,
enquanto que na amostra B o resultado foi de 71.6%.
Hung et al. (2019) avaliaram o potencial larvicida do óleo das espécies Erechtites
hieraciifolius e Erechtites valerianifolius como alternativa ao uso de herbicidas para o
combate de mosquitos vetores de doenças. As partes aéreas da planta envolvendo
caule, flor e folha foram colhidas no distrito de Dong Giang eHoa Vang (Vietnam).
O óleo foi obtido por hidrodestilação e sua composição química foi avaliada usando
CG/EM. Na espécie E. hieraciifolius foram encontrados os compostos α-pineno
(14.5%), limoneno (21.4%) e óxido de cariofileno (15.1%) como majoritários; enquanto
que na espécie E. valerianifolius, os majoritários foram mirceno (47.8%) e α-pineno
(30.2%). Os OE’s das duas espécies apresentaram atividade larvicida contra Aedes
aegypti e Aedes albopictus, vetores da dengue, zika, febre amarela e chikungunya.
Adicionalmente o óleo de E. valerianifolius apresentou boa atividade contra larvas do
mosquito Culex quinquefasciatus, vetor da filariose.
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 16
181
CAPÍTULO 17
ESTUDO DOS EFEITOS DAS VARIÁVEIS DE
IMPRESSÃO 3D POR EXTRUSÃO SOBRE
AS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO ÁCIDO
POLILÁTICO (PLA) OBTIDAS POR INTERMÉDIO DE
ENSAIO DE TRAÇÃO
Camila Colombari Bomfim
Faculdade Anhanguera, Polo Franca
Franca – São Paulo
Antônio Carlos Marangoni
Universidade do Estado de Minas Gerais, Unidade
Frutal
Frutal – Minas Gerais
Rafael Junqueira Marangoni
Universidade de São Paulo, Campus São Carlos
São Carlos – São Paulo
RESUMO: Devido à sucessiva implementação
das tecnologias que cingem as impressoras
3D, tal ferramenta tem deixado de ser utilizada
apenas como um meio de prototipagem
rápida, fazendo-se uma importante forma de
manufatura. Quando um objeto construído
por uma impressora 3D torna-se um elemento
de utilização imediata em um equipamento,
é necessário conhecer as propriedades
mecânicas finais do material quando submetido
ao processo de prototipagem rápida, pois o
conhecimento das propriedades mecânicas de
um material é fundamental para estabelecer
quais são os limites de resistência à qual aquele
objeto pode ser submetido. Tais impressoras
utilizam, em sua maioria, polímeros como
material de impressão por extrusão, ou seja, o
material fundido é depositado, filamento após
filamento, até que o objeto seja construído. Nesse
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
sentido, o projeto analisa, por intermédio de
análises estatísticas dos resultados de ensaios
mecânicos de tração, realizados segundo as
normas da American Society for Testing and
Materials (ASTM), quais são as propriedades
mecânicas do polímero Ácido Polilático (PLA),
quando são alterados o diâmetro do filamento de
impressão e a composição da estrutura interna
do corpo de prova, mantendo-se a densidade
constante à noventa por cento.
PALAVRAS-CHAVE: ácido polilático, ensaio de
tração, propriedades mecânicas, prototipagem
rápida.
STUDY OF THE EFFECTS OF THE
VARIABLES OF 3D PRINTING BY
EXTRUSION ON THE MECHANICAL
PROPERTIES OF POLYLATIC ACID (PLA)
OBTAINED BY TRATION TEST
ABSTRACT:
Due
to
the
successive
implementation of technologies that surround
3D printers, this tool has stopped being used
only as a mean of rapid prototyping, and has
becoming an important form of manufacturing.
When an object constructed by a 3D printer
becomes an element of immediate use in
an equipment, it is necessary to know the
final mechanical properties of the material
when submitted to the process, because the
Capítulo 17
182
knowledge of the mechanical properties of a material is fundamental to establish the
limits of resistance that an object can be submitted. Most printers use polymers as
extrusion-printing material, what means that the molten material is deposited, filament
after filament, until the object is constructed. Due to the exposed, the project analyzes
the mechanical properties of the Polylactic Acid (PLA) polymer by means of statistical
analyzes of the results of mechanical tensile tests carried out according to the standards
of the American Society for Testing and Materials (ASTM), when the diameter of the
printing filament and the composition of the internal structure of the specimen are
changed, and the density remaining constant at ninety percent.
KEYWORDS: mechanical properties, polylactic acid, rapid prototyping, tration test.
1 | INTRODUÇÃO
Para elaborar um projeto, é primordial a análise das propriedades mecânicas do
material a ser utilizado. A seleção do material correto leva em consideração o aspecto
econômico e as condições de trabalho ao qual o projeto será submetido, uma vez
que são essas condições que impõem quais propriedades mecânicas o material deve
possuir, para que a deformação não seja excessiva e não ocorra fratura (CALLISTER
JÚNIOR; RETHWISCH, 2012).
De acordo com Donald R. Askeland e Pradeep P. Phulé (2008), as propriedades
mecânicas dependem da composição interna da peça e de sua composição química,
e são determinadas, segundo Cassu e Felisbert (2005) a partir de uma solicitação
constante e monitorada feita no material, como o ensaio mecânico de tração.
O ensaio de tração consiste na aplicação de uma carga de uniaxial crescente
em um corpo de prova normatizado. O ensaio é destrutivo, uma vez que uma de suas
funções é determinar qual é a propriedade limite daquele material naquelas condições,
ou seja, qual é a máxima solicitação permitida. É realizado em larga escala nas
indústrias, por oferecer dados quantitativos das características do material (GARCIA
e SPIM, 2012).
A máquina de ensaios mede variação do comprimento do objeto em função da
carga aplicada, e após isso, obtém uma curva de tensão versus deformação, que
fornece dados referentes ao limite de resistência à tração, limite de escoamento,
módulo de elasticidade, módulo de resiliência, módulo de tenacidade e coeficiente de
encruamento (GARCIA e SPIM, 2012). Um exemplo do diagrama tensão-deformação
é ilustrado na figura 01:
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
183
Figura 01: Esboço de curva obtida no ensaio de tração de material dúctil.
Fonte: GARCIA; SPIM, 2012.
Segundo Cassu e Felisbert (2005), o ensaio mecânico de tração apenas pode
ser realizado em materiais sólidos, como polímeros.
Os polímeros são materiais que incluem as borrachas e os plásticos. Baseados
nos elementos carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, no geral, possuem baixa
densidade e condutividade elétrica, são inertes quimicamente, extremamente dúcteis
e flexíveis, ou seja, podem ser moldados nas mais complexas formas (CALLISTER,
Jr., 2008).
James M. Gere e Barry J. Goodno (2010, p.16) explicitam que, atualmente,
mesmo com sua baixa resistência à elevadas temperaturas, muitos polímeros, com
diversas propriedades mecânicas distintas, têm sido utilizados em projetos estruturais
devido ao seu baixo peso específico e à sua alta resistência à corrosão.
Entre os polímeros mais estudados durante os últimos dez anos, encontra-se o
polímero sintético Polylactic Acid (PLA), ou Ácido Polilático, por ser biodegradável e
possuir propriedades próximas aos polímeros derivados de petróleo. É produzido por
meio de síntese química do ácido lático por meio de fermentação bacteriana do amido
ou de glicose extraída do milho (WANG et al., 2008).
O PLA, atualmente, é um dos materiais mais comumente utilizados em
impressoras 3D por extrusão. Nesse modelo, o material se funde dentro de uma
cabeça de impressão e é empurrado através de um pequeno orifício, construindo
um pequeno cordão, que é depositado sobre uma plataforma, camada por camada,
até que a peça seja completamente construída (TAKAGAKI, 2012). Esse processo é
ilustrado na figura 02.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
184
Figura 02: Princípio de manufatura por camada.
Fonte: VOLPATO, 2007.
De acordo com o SINDPLAST (Sindicato da Indústria de material Plástico, 2011),
o processo mais comum de transformação do plástico é a extrusão. A impressão 3D
permite a construção de objetos personalizados, e por isso, teve seu uso ampliado
ao longo dos últimos anos já como fabricação de itens para uso imediato, permitindo
a personalização dos produtos de acordo com a preferência do indivíduo; possível
complexidade de estruturas internas quando comparadas à peças fundidas ou
moldadas; sustentabilidade, devido à redução da quantidade de material desperdiçado
durante outros processos de fabricação, à consequente economia de capital, e também
à possibilidade de utilizar polímeros biodegradáveis na sua produção (HAUSMAN e
HORNE, 2014).
Aliado às vantagens de utilização das impressoras 3D, tem-se o crescente
aumento da urbanização, em escala global, ocasionando a multiplicação da
geração de resíduos. Tal geração de lixo representa uma fração significativa dos
impactos ambientais conhecidos. A evolução do descarte de materiais plásticos não-
biodegradáveis no Brasil e no mundo destaca-se dentro dessa situação (CARR, 2007).
Em contrapartida, mercado mundial de polímeros biodegradáveis cresceu de
18.400 toneladas em 2006 para 24.350 toneladas em 2007. A produção estimada para
o ano de 2012 foi de 54.000 toneladas (PELICANO et al., 2009). Dentre os polímeros
biodegradáveis conhecidos, encontra-se o PLA, que é utilizado principalmente
na confecção de embalagens, o que representa 70% de sua aplicação. O restante
encontra-se em eletrônicos, aparelhos e utilidades domésticas (PRADELLA, 2006).
2 | OBJETIVO
Analisar comparativamente os resultados obtidos nos ensaios mecânicos
de tração em corpos de prova dimensionados de acordo com a ASTM D638-08 e
construídos por extrusão em impressora 3D, quando são alteradas as seguintes
variáveis físicas: composição da estrutura interna e espessura dos filamentos de
impressão; e, dessa maneira, determinar a influência dos parâmetros de impressão
sobre as propriedades mecânicas do objeto impresso.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
185
3 | MATERIAIS E MÉTODOS
O corpo de prova foi prototipado em PLA na cor branca, sendo desenhado e
dimensionado utilizando o software SolidWorks ® (2014), conforme figura 03, de
acordo com a norma ASTM D638-08, que padroniza os testes para propriedades de
tração e compressão dos plásticos.
Figura 03: Corpo de prova de acordo com a norma ASTM 638-08.
Fonte: os autores.
As variáveis analisadas são: espessura do filamento de impressão e composição
interna. Tais variáveis são determinadas por meio do software de impressão 3D Axon
3.0 ®. A interface do software onde pode-se determinar os parâmetros de impressão
encontra-se na figura 04.
Figura 04: Interface do software Axon 3.0 ®.
Fonte: os autores.
Durante a construção, foi mantida fixa a densidade à 90%. São três espessuras
de filamento possíveis, sendo essas 0,125 mm, 0,250 mm e 0,500 mm; e quatro
disposições geométricas da estrutura interna, sendo essas “linear”, “treliça”, “hexagonal”
e “cilíndrica”. Portanto, tem-se as seguintes combinações de impressão, expressas no
quadro 01 abaixo:
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
186
01
0,125mm
0,250mm
0,500mm
Linear
Treliça
Hexagonal
Cilíndrica
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
Quadro 01: Variáveis de construção de corpos de prova por impressão 3D por extrusão.
Foram prototipados dez corpos de prova para cada parâmetro de comparação
analisado no projeto, os quais foram descritos no quadro 01, totalizando 120 corpos de
prova, em conformidade com norma a ASTM D638-08. O software Axon 3.0® converte
o arquivo do Solidworks® para o formato BFB, lido pela impressora 3D. Na figura
05, pode-se observar a entrada do desenho dos cinco corpos de prova que foram
impressos em conjunto, desenhados de acordo com as medidas expostas na figura
03.
Figura 05: Interface do Software Axon 3.0 ® antes da conversão.
Fonte: os autores.
Após a seleção dos parâmetros de impressão no software, conforme exposto na
figura 04, tem-se como resultado o arquivo de impressão, conforme figura 06, já com
o número de camadas de impressão delimitado pelo processo de fatiamento conforme
explicitado na figura 02.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
187
Figura 06: Interface do Software Axon 3.0® após conversão para BFB.
Fonte: os autores.
A construção foi feita em impressora 3D, modelo BFB Touch – Dual head-smoke,
conforme figura 07.
Figura 07: Impressora 3D modelo BFB Touch – Dual head-smoke
Fonte: os autores
Após a construção dos corpos de prova em ambiente sem ventilação e
termicamente controlado, foram realizados ensaios de tração utilizando a máquina
universal de ensaio EMIC modelo DL10000, conforme ilustrado nas figuras 08 e 09. A
figura 10, em sequência, ilustra a amostragem de corpos de prova do tipo 01 (0,125
mm e estrutura interna linear) após a realização do ensaio.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
188
Figura 08: corpo de prova durante
realização do ensaio.
Fonte: os autores.
Figura 09: corpo de prova com detalhe
no rompimento.
Fonte: os autores.
Figura 10: Corpos de prova do tipo 01 rompidos após ensaio de tração.
Fonte: os autores.
Para cada ensaio realizado, a máquina de tração emite um relatório com os
dados obtidos, sendo eles: tensão máxima, tensão de ruptura e deformação de ruptura,
conforme figura 11.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
189
Figura 11: Exemplo de relatório de ensaio de tração.
Fonte: os autores.
Após a realização dos ensaios, os dados foram analisados estatisticamente,
no intuito de determinar a correlação entre as propriedades mecânicas do polímero
quando alterado os parâmetros de impressão.
4 | RESULTADOS
Após análise estatística dos dados obtidos nos 120 ensaios de tração, obtém-se
os seguintes resultados para cada tipo de corpo de prova.
ESPESSURA 0,125 mm
Área (mm²)
Força máxima (N)
Deformação (mm)
Deformação específica (%)
Tensão máxima (MPa)
Módulo de elasticidade (MPa)
Linear
Treliça
Hexagonal
Cilíndrica
773,1
756,9
656,8
773,1
7,5
8,3
7,6
7,5
27,0
5,2
28,5
746,6
27,0
5,8
27,8
811,0
27,0
5,3
24,2
720,3
27,0
5,2
31,1
753,0
Quadro 02: resultados após análise estatística para o corpo de prova tipo 01, 02, 03 e 04.
ESPESSURA 0,250 mm
Área (mm²)
Força máxima (N)
Deformação (mm)
Deformação específica (%)
Tensão máxima (MPa)
Módulo de elasticidade (MPa)
Linear
Treliça
Hexagonal
Cilíndrica
770,9
658,7
707,7
748,9
7,8
7,2
7,4
8,9
27,0
5,5
28,4
781,4
27,0
5,0
24,3
675,0
27,0
5,1
26,1
639,1
27,0
6,3
27,6
704,6
Quadro 03: resultados após análise estatística para o corpo de prova tipo 05, 06, 07 e 08.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
190
ESPESSURA 0,500 mm
Área (mm²)
Força máxima (N)
Deformação (mm)
Deformação específica (%)
Tensão máxima (MPa)
Módulo de elasticidade (MPa)
Linear
Treliça
Hexagonal
Cilíndrica
628,9
562,7
558,6
600,4
6,7
10,3
8,8
6,6
655,5
415,4
27,0
4,7
23,2
27,0
7,2
20,8
27,0
6,1
20,6
456,4
27,0
4,6
24,4
686,9
Quadro 04: resultados após análise estatística para o corpo de prova tipo 09, 10, 11 e 12.
Durante a realização dos ensaios, os corpos de prova não foram rompidos
abruptamente. Como corpos de prova são constituídos por filamentos de PLA
que foram depositados ordenadamente durante o seu processo de construção,
o comportamento assemelha-se ao de fibras submetidas ao ensaio de tração. O
rompimento não simultâneo dos filamentos fica evidente em alguns corpos de prova,
conforme detalhe ilustrado na figura 12 abaixo.
Figura 12: Rompimento não simultâneo dos filamentos.
Fonte: os autores
Conforme a espessura do filamento aumenta, a seção transversal de cada
filamento constituinte do corpo de prova também aumenta, sendo necessária uma
maior tensão para provocar o rompimento das mesmas e, consequentemente, o
corpo de prova atinge uma tensão máxima mais elevada quando comparada aos de
filamentos de espessura inferior.
Analisando a estrutura interna de preenchimento, observa-se que os corpos de
prova das configurações 04, 08 e 12 suportam tensões menores quando comparados
com outros tipos de preenchimento interno. Isso deve-se ao fato da existência reduzida
de fibras posicionadas na direção de realização do ensaio de tração, fazendo com que
seja necessária uma tensão menor para o rompimento.
Quando se mantem a espessura do filamento constante e analisa-se a variação
causada pela treliça interna de composição do corpo de prova, a estrutura cilíndrica
é a que possui menor massa final de impressão. Para produções em larga escala,
a economia de material implica também na redução de custos. Portanto, quando a
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
191
aplicação não exige uma resistência à tração elevada, as configurações cilíndricas são
mais adequadas devido à contenção de gastos.
5 | CONCLUSÕES
Diante dos resultados determinados, pode-se concluir que a tensão máxima e a
resistência à fratura aumentam à medida que a espessura do filamento de impressão
aumenta. Em média, os corpos de prova preenchidos de forma cilíndrica suportam
tensões menores quando comparados a outros tipos de preenchimento. Esse mesmo
tipo também é o que possui massa final de impressão menor quando mantemos a
variável “espessura do filamento” constante e avaliamos apenas a estrutura interna,
portanto, são mais econômicos para produção em larga escala.
O objetivo do trabalho foi atingido, visto que os resultados obtidos nos ensaios
mecânicos de tração em corpos de prova dimensionados de acordo com a ASTM
D638-14 e construídos por extrusão em impressora 3D quando alteram-se as variáveis
físicas “estrutura do filamento” e “disposição geométrica da estrutura interna”, foram
expostos e analisados comparativamente, no intuito de fornecer informações sobre
as suas propriedades mecânicas, para que pesquisadores, indústrias e demais
interessados possam avaliar o melhor custo benefício para diversas aplicações dos
aspectos econômicos e as condições de trabalho ao qual o projeto será submetido
para que não ocorra fratura.
REFERÊNCIAS
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Cengage Learning, 2008.
ASTM – American Society for Testing Materials. ASTM D638-14, Standart Test Method for Tensile
Properties of Plastics, 2014.
CALLISTER, Jr., William D.: RETHWISCH, David G. Ciência e engenharia de materiais: uma
introdução. 7. Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.
CARR, Laura G. Desenvolvimento de embalagens biodegradável tipo espuma a partir de fécula
de mandioca. 2007. 107 f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2007.
CASSU, Silvana N.; FELISBERTI, Maria I.; O comportamento dinâmico-mecânico e relaxações em
polímeros e blendas poliméricas. Revista Química Nova, São Paulo, vol. 28, no. 2, p. 255-263, fev.
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GARCIA, Amauri; SPIM, Jaime Alvares; SANTOS, Carlos Alexandre dos. Ensaios dos materiais.
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GERE, J.M; GOODNO, B.J. Mecânica dos Materiais. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
192
Guia ambiental da indústria de transformação e reciclagem de materiais plásticos. SINDIPLAST,
2011. Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/tecnologia-ambiental/Produ??o-e-ConsumoSustent?vel/11-Documentos>. Acesso em 16 de set. 2016.
HAUSMAN, Kalani Kirk; HORNE, Richard. 3D Printing For Dummies. Hoboken, New Jersey: John
Wiley & Sons, 2014. 384 p.
PELICANO, M; PACHEKOSKI, W.; AGNELLI, J. A. M. Influência da Adição de Amido de Mandioca na
Biodegradação da Blenda Polimérica PHBV/Ecoflex®. Polímeros: Ciência e Tecnologia, v.19, n.3, p.
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PRADELLA, José G. C. Biopolímeros e Intermediários Químicos. Relatório Técnico no 84 396-205.
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TAKAGAKI, Luiz Koiti. Tecnologia de Impressão 3D. Revista Inovação Tecnológica, São Paulo, v.2,
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VOLPATO, Neri. Prototipagem rápida: tecnologias e aplicações. São Paulo. Edgar Blucher. 2007.
WANG, Ning. et.al. Influence of formamide and water on the properties of thermoplastic stach/
poly(lactic acid) blends. Carbohydrate Polymers, v.71, p.109-118, 2008.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 17
193
CAPÍTULO 18
ESTUDO DO ASPECTO GEOMÉTRICO DOS
CORDÕES DE SOLDA COMO ORIENTAÇÃO
OPERACIONAL PARA O USO NA SOLDAGEM MAG
ROBOTIZADA
Everaldo Vitor
Escola de Engenharia de Mecânica
Universidade Presbiteriana Mackenzie
São Paulo, SP
Paulo Eduardo Alves Fernandes
Faculdade SENAI de Tecnologia em Processos
Metalúrgicos
Nadir Dias de Figueiredo
Osasco, SP.
RESUMO: A proposta deste trabalho é
proporcionar aos trabalhadores da área
de soldagem uma base de conhecimento
e orientação para a sua aplicação na
parametrização e na realização de soldas
robotizadas pelo processo MAG. Com a
finalidade de obter cordões de solda com
aspectos geométricos aceitáveis de acordo
com os critérios de qualidade exigidos,
proporcionando uma condição ótima para o
processo.
Diante destes fatos, a expectativa deste
estudo é determinar a melhor configuração dos
parâmetros de soldagem: tensão, velocidade de
soldagem, intensidade da corrente, velocidade
de alimentação do arame, vazão do gás de
proteção, energia teórica de soldagem.
Realizou-se neste estudo, a união de chapas
de aço com baixo teor de carbono, na posição
horizontal em juntas de angulo e metal de
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
adição AWS ER70S-6.
Foram realizados, ensaios visuais das
juntas soldadas, ensaios das características
macroestruturais, verificação das dimensões
geométricas: garganta teórica, perna horizontal
e vertical, analise das imagens da microestrutura
pelo método MEV e EDS, análise comparativa
do cálculo da energia de soldagem e analise da
equação de regressão linear.
PALAVRAS-CHAVE: Soldagem Robotizada
MAG, Parâmetros de Soldagem e Geometria
do cordão de solda.
ABSTRACT: The purpose of this study is to
provide welding area workers a knowledge
base and guidance for their application in
the parameterization and conducting robotic
welding by MAG process. In order to obtain
weld beads with acceptable geometric aspects
in accordance with the required quality criteria,
providing an optimum condition for the process.
According to these facts, the expectation of
this study is to determine the best setting of the
welding parameters: voltage, welding speed,
amperage, wire feed speed, flow of the shielding
gas, welding theoretical energy.
We conducted this study, the union of steel
sheet with low carbon content, horizontally
angled joints and AWS ER70S-6 filler metal.
Were performed, visual testing of welds, testing
of macro-structural characteristics, verification
Capítulo 18
194
of the geometric dimensions: theoretical throat, horizontal and vertical leg, analyze the
images of the microstructure by SEM and EDS method, comparative analysis of the
welding energy calculation and analysis of the equation linear regression.
KEYWORDS: Robotic Welding MAG, welding and weld bead geometry parameters.
1 | INTRODUÇÃO
É cada vez mais frequente na Indústria de fabricação de peças automobilísticas,
a utilização do processo de soldagem MAG robotizada na união de seus componentes
metálicos, devido às exigências impostas pelo mercado referente: a qualidade,
produtividade, repetibilidade e redução de custos de fabricação. Tem movido as
indústrias de fabricação a investir cada vez mais neste segmento tornando-as mais
competitivas, minimizando os custos com retrabalhos e com a mão de obra.
Diante destes fatos, os técnicos e especialistas devem possuir o conhecimento
e o domínio desta tecnologia destas variáveis do processo de soldagem automatizado
MAG, possibilitando a escolha da melhor configuração dos parâmetros de soldagem:
tensão, velocidade de soldagem, intensidade da corrente, velocidade de alimentação
do arame, vazão do gás de proteção, energia teórica de soldagem, com a finalidade
de buscar uma condição ótima para o processo e com os resultados apresentados,
aplicarem em uma situação real na indústria de fabricação de componentes metálicos
e automobilísticos.
Com este estudo não serão questionados e apresentados os resultados
pertinentes à taxa de deposição do metal de adição, valores e custos com energia
de soldagem, consumo e custos com os gases de proteção, dimensões geométricas
referentes ao reforço, penetração horizontal e vertical, garganta efetiva e real e com a
dimensão da penetração da raiz.
A soldagem MIG/MAG robotizada apresenta o mesmo princípio de funcionamento
do processo MIG/MAG convencional de funcionamento semiautomático, entretanto,
com sua automação este processo ganha uma melhor rendimento na fabricação
de peças em série, uma vez que o robô seja programado, utilizando a escolha dos
melhores parâmetros de soldagem, este mesmo realiza cordões de solda, sempre na
mesma sequência de soldagem de forma precisa e repetitiva, proporcionando soldas
com excelência de qualidade, com menos descontinuidades e possíveis defeitos.
Gimenes e Tremonti (2013) descreveram que o robô, deve estar dimensionado
para o peso do elemento terminal, no caso da soldagem a ponto, o peso da pinça, dos
cabos elétricos e dos tubos de refrigeração podem chegar a 90 kg. Na soldagem por
arco elétrico, o elemento terminal é conhecido como tocha ou pistola, com dimensões
e peso menores que as pinças de solda a ponto. Os elementos terminais são fixados
no punho do robô. A tocha de soldagem deverá ter uma orientação com relação ao
punho, compatível com requisitos e exigências da soldagem. Esse fator pode reduzir
até 50% o volume do trabalho do robô.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
195
Michelan (2011) em sua dissertação de mestrado descreveu que o processo de
soldagem MIG/MAG possui uma facilidade de automação, o desenvolvimento dos
processos de soldagem se deve em grande parte aos avanços na área de automação
e eletrônica, entre os quais se destacam: a difusão da utilização de robôs industriais
de soldagem, que possibilitam operações em altas velocidades em peças de
geometria complexa e o emprego de novas fontes eletrônicas utilizadas em soldagem,
que permitem um melhor controle da fusão dos materiais, por meio do emprego de
diferentes formas de onda de corrente.
1.1 Vantagens da soldagem robotizada MIG / MAG
Como mencionado anteriormente, É cada vez mais frequente a utilização do
processo de soldagem robotizada na indústria tornando-se crescente o seu uso em
larga escala a cada dia na indústria de fabricação de manufaturas de produtos soldados
devido às exigências impostas pelo mercado no que diz sobre respeito da qualidade,
produtividade e competividade.
Diversos autores, Rosário (2010), Gimeneses e Tremonti (2013), Alves (2009)
e Schnee (1996) citaram em seus trabalhos as principais vantagens da utilização do
processo MAG robotizado na união dos componentes metálicos. Conforme descritos
abaixo:
•
Melhoria na qualidade da solda;
•
Redução dos custos e tempo gastos na realização de retrabalhos;
•
Redução dos custos com energia;
•
Redução do consumo de metal de adição devido ao fato de consumir somente o necessário para realização da solda de acordo com a geometria
imposta;
•
Economia do gás de proteção;
•
Ganhos em produtividade;
•
Redução de custo de mão de obra;
•
Ergonomia no trabalho;
•
Redução da fadiga de soldador;
•
Repetibilidade;
•
Menor tendência a defeitos e descontinuidades;
•
Padronização dos parâmetros de soldagem;
•
Velocidades de soldagem altas;
•
Sequência de trabalho bem definida;
•
Facilidade na programação e uso dos robôs de soldagem;
•
Capacidade trabalhos sem interrupções por longos períodos.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
196
2 | MATERIAIS, EQUIPAMENTOS E MÉTODOS
As soldas foram realizadas em chapas de aço com baixo teor de carbono SAE
1020 é rígido pela Norma J403 sob a, cuja composição química encontra-se descrita
na tabela 1 Nas dimensões de 9,5 mm de espessura, com largura de 50,8 mm e no
comprimento de 250 mm os quais, foram seccionadas em uma máquina de serra de
fita horizontal.
Para as montagens das peças a serem soldadas, utilizou-se o dispositivo
desenvolvido, optando-se por fixa-las através de grampos para fixação, os mesmos
utilizados em máquinas ferramentas conforme demonstradas na Figura 1.
Figura 1 – Fixação e montagem do corpo de prova no dispositivo de solda
Todos os cordões de solda foram realizados em uma mesma posição plana,
com a tocha de solda posicionada num ângulo de 45° entre as duas chapas, 90°
em relação ao eixo da solda, em alguns testes a distância bico contato peça e o
comprimento do arame oscilaram de 15 – 20 mm, conforme a programação, estas
distâncias serão indicadas nas tabelas dos resultados dos cordões e, as soldas foram
aplicadas somente em um lado da junta conforme ilustrado na figura 2.
Uma vez estabelecida à posição de solda de ataque do arame, a mesma manterá
constante, pois o robô posicionará a tocha sempre na mesma localização.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
197
As condições de soldagem foram selecionadas de modo que a solda aplicada
atendesse os requisitos de uma junta soldada. Denomina-se aqui, como um cordão
de solda que atende os requisitos sob o aspecto técnico e operacional, aquele que
represente uma boa aparência, arco elétrico mais estável, livre de descontinuidades
superficiais.
Corpo de
prova
Corrente (A)
Tensão (V)
Velocidade de
Soldagem. (mm/s)
Velocidade de
alimentação do arame
(m/min)
1
164
23,3
8,9
8
3
194
24,5
7,3
9,9
2
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
164
220
236
245
280
200
250
280
280
315
315
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
23,3
27,2
8,9
5
12,5
6,7
14,4
27,2
7,3
30,4
6,7
28,9
24,8
28,9
30,4
12,5
17,6
5
10,2
5
14,4
5
30,3
10
31
6,7
31
8
17,6
17,6
10
21
21
Capítulo 18
198
14
330
16
285
15
17
18
5
30,3
4
250
28,9
315
31
315
19
31
320
30,5
31,1
21
3
14,4
4
21
17,6
6,7
21
6,7
22
Tabela 1 – Condições de soldagem proposta para o estudo
Fonte: O próprio autor
3 | RESULTADOS COMPARATIVOS DA ENERGIA DE SOLDAGEM
Um fator importante neste trabalho foi à verificação pelo método comparativo
do resultado do valor da energia de soldagem em relação à geometria do cordão
de solda no que se refere às dimensões da perna vertical e horizontal e no aspecto
visual da penetração da raiz. Comparando - se aos valores dimensionais próximos em
comparação a dois corpos de provas.
Garganta Teórica
(mm)
Perna
Horizontal(mm)
429
2,35
4,76
651
3,10
3,79
CP
HEAT- INPUT
(J/ mm)
1
3
2
429
4
1197
6
1057
8
992
5
7
879
1270
9
1445
11
848
10
12
1702
977
13
1457
15
2408
14
16
17
18
19
2046
2159
2441
1434
1485
2,94
4,05
4,12
4,04
4,99
3,56
4,42
4,83
4,75
4,86
4,04
5,20
5,19
4,81
7,01
4.54
6,22
6,40
6,20
6,11
4,48
5,72
4,27
6,20
4,90
4,56
4,49
5,22
5.13
6,51
Perna
Vertical
(mm)
Velocidade de
Soldagem
(mm/s)
4,32
8,90
5,40
5,00
6.50
6,79
7,48
7,13
5,76
6,30
7,38
5,00
7,30
6,70
6,70
5,00
5,00
5,00
10,00
7,20
6,70
8,01
7,44
5,9
7,86
6,90
8
7,20
7,30
7,40
5,60
5,50
8,90
7,8
7,3
10,00
5,00
3,00
4,00
4,00
6,70
6,70
Tabela 2 – Valores da energia de soldagem e dimensões dos cordões de solda
Fonte: O próprio autor
Com o objetivo de uma identificação do aspecto visual da macrografia dos
cordões de solda com seus respectivos parâmetros de soldagem, optou-se por este
tipo de apresentação dos resultados em formas de tabelas, para que os trabalhadores
da área de soldagem robotizada MAG possam utilizar estas tabelas na aplicação em
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
199
sua célula de soldas, tornando – se de fácil visualização.
Os valores demonstrados nas tabelas: referentes ao comprimento do arco,
indutância, e processos foram obtidos através da programação da fonte Fronius TPS
4000.
Figura 3 – corpo de prova 1
Parâmetros de soldagem
Valores / Unidades
Corrente
164 A
Tensão
23,3 V
Diâmetro do arame
1 mm
Velocidade de soldagem
8,9 mm/s
Gás de proteção
85 % Ar e 15% CO2
Vazão dos Gases
7 l/min.
Velocidade de alimentação
8,0 m/min.
DBCP
15 mm
Stick-out
10 mm
Geometria
Ângulo e Inclinação da tocha
90° e 0°
Heat input – 429 J/mm
Comprimento do Arco
0
Garg. Teórica – 2,94 mm
Indutância
0
Perna Hor. – 4,04 mm
Processo
MIG/MAG Synergic-Pulse Perna Vert. – 4,32 mm
Tabela 3 - Referente ao corpo de prova 1
Fonte: O próprio autor
Parâmetros de soldagem
Valores / Unidades
Corrente
194 A
Tensão
24,5 V
Diâmetro do arame
1 mm
Velocidade de soldagem
7,3 mm/s
Gás de proteção
85 % Ar e 15% CO2
Vazão dos Gases
7 l/min.
Velocidade de alimentação
9,9 m/min.
DBCP
15 mm
Stick-out
10 mm
Geometria
Comprimento do Arco
0
Garg. Teórica – 3,10 mm
Indutância
0
Perna Horiz.. – 3,79 mm
Processo
MIG/MAG Synergic-Pulse
Perna Vert. – 5,00 mm
Ângulo e Inclinação da tocha
90° e 0°
Figura 4 – corpo de prova 2
Heat input – 651 J/mm
Tabela 4- Referente ao corpo de prova 2
Fonte: O próprio autor
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
200
Figura 5 – corpo de prova 3
Parâmetros de soldagem
Valores / Unidades
Corrente
245 A
Tensão
28,9 V
Diâmetro do arame
1 mm
Velocidade de soldagem
6,7 mm/s
Gás de proteção
85 % Ar e 15% CO2
Vazão do Gás
7 l/min.
Velocidade de alimentação
14,4 m/min.
DBCP
20 mm
Stick-out
15 mm
Geometria
Ângulo e Inclinação da tocha
90° e 0°
Heat input – 1057 J/mm
Comprimento do Arco
0
Garg. Teórica – 4,04 mm
Indutância
0
Perna Hor. – 4,81 mm
Processo
MIG/MAG Synergic-Pulse
Perna Vert. – 7,48 mm
Tabela 5: Referente ao corpo de prova 3
Fonte: O próprio autor
Figura 6 – corpo de prova 4
Parâmetros de soldagem
Valores / Unidades
Corrente
245 A
Tensão
28,9 V
Diâmetro do arame
1 mm
Velocidade de soldagem
6,7 mm/s
Gás de proteção
85 % Ar e 15% CO2
Vazão do Gás
7 l/min.
Velocidade de alimentação
14,4 m/min.
DBCP
20 mm
Stick-out
15 mm
Geometria
Ângulo e Inclinação da tocha
90° e 0°
Heat input – 1057 J/mm
Comprimento do Arco
0
Garg. Teórica – 4,04 mm
Indutância
0
Perna Hor. – 4,81 mm
Processo
MIG/MAG Synergic-Pulse
Perna Vert. – 7,48 mm
Tabela 6: Referente ao corpo de prova 4
Fonte: O próprio autor
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
201
Figura 7 – corpo de prova 5
Parâmetros de soldagem
Valores / Unidades
Corrente
250 A
Tensão
28,9 V
Diâmetro do arame
1 mm
Velocidade de soldagem
5 mm/s
Gás de proteção
85 % Ar e 15% CO2
Vazão dos Gases
7 l/min.
Velocidade de alimentação
14,4 m/min.
DBCP
20 mm
Stick-out
15 mm
Geometria
Ângulo da tocha
90° e 0°
Heat input – 1445 J/mm
Comprimento do Arco
0
Garg. Teórica – 4,42 mm
Indutância
0
Perna Horiz. – 6,22 mm
Processo
MIG/MAG Synergic-Pulse
Perna Vert. – 6,30 mm
Tabela 7 - Referente ao corpo de prova 9
Fonte: O próprio autor
Figura 8 – corpo de prova 6
Parâmetros de soldagem
Valores / Unidades
Corrente
280 A
Tensão
30,3 V
Diâmetro do arame
1 mm
Velocidade de soldagem
10 mm/s
Gás de proteção
85 % Ar e 15% CO2
Vazão dos Gases
7 l/min.
Velocidade de alimentação
17,6 m/min.
DBCP
20 mm
Stick-out
15 mm
Geometria
Ângulo e Inclinação da tocha
90° e 0°
Heat input – 848 J/mm
Comprimento do Arco
0
Garg. Teórica – 4,75 mm
Indutância
0
Perna Horiz. – 6,20 mm
Processo
MIC/MAG Synergic-Pulse
Perna Vert. – 7,40 mm
Tabela 8 - Referente ao corpo de prova 6
Fonte: O próprio autor
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
202
Figura 9 – corpo de prova 7
Parâmetros de soldagem
Valores / Unidades
Corrente
315 A
Tensão
31 V
Diâmetro do arame
1 mm
Velocidade de soldagem
6,7 mm/s
Gás de proteção
85 % Ar e 15% CO2
Vazão dos Gases
7 l/min.
Velocidade de alimentação
21 m/min.
DBCP
20
Stick-out
15
Geometria
Ângulo e Inclinação da tocha
90° e 0°
Heat input – 1457 J/mm
Comprimento do Arco
0
Garg. Teórica – 4,48 mm
Indutância
0
Perna Hor. – 5,72 mm
Processo
MIG/MAG Synergic-Pulse
Perna Vert. – 7,2 mm
Tabela 9 - Referente ao corpo de prova 7
Fonte: O próprio autor
CONCLUSÃO
Com a realização do estudo do processo de soldagem robotizado MAG referente
aos aspectos geométricos do cordão de solda e com o objetivo de servir de orientação
operacional aos profissionais que trabalham com células de soldagem podem- se tirar
as seguintes conclusões:
•
O cálculo da energia de soldagem é uma ferramenta importante na otimização do processo de soldagem robotizado MAG, podendo facilmente ser
aplicada em uma célula de soldagem, com o objetivo de ganho em aumento
de produtividade na execução de cordões de soldas. Mantendo-se a mesma
geometria dimensional do cordão de solda.
•
Os parâmetros de soldagem utilizados na realização dos cordões de solda
nos corpos de provas: 1;2;3;4;5;6 e 7. Apresentaram aspectos geométricos
com excelentes características de penetração e dimensional. Possibilitando
a utilização destes resultados na aplicação prática em uma célula de soldagem robotizada.
•
Pelo método comparativo da dimensão geométrica do cordão de solda é
possível produzi-la empregando uma menor quantidade de energia de soldagem.
•
É notável em um processo de soldagem robotizado MAG a economia do
gás de proteção, verificada através de uma programação específica, a real
vazão dos gases de proteção, aferido no bocal da tocha com o auxílio do
aparelho fluxômetro.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
203
•
A definição dos melhores parâmetros de soldagem é um fator de elevada importância no processo de soldagem robotizado MAG devido ao fato dos resultados influenciarem diretamente nos aspectos geométricos dos cordões
de solda.
•
O conhecimento da programação do robô e da fonte de soldagem aplicado
na soldagem robotizada MAG, são complexos devido à existência de inúmeras variáveis do processo.
•
As tabelas contendo os principais parâmetros de soldagem associado à
imagem das macrografias da região das soldas. Já estabelecidas e otimizadas tornar-se de fácil visualização, aplicação e orientação para o uso no
processo de soldagem MAG fatos estes confirmado pelos profissionais envolvidos na célula de soldagem da empresa Axmol, durante a ministração
de um minicurso.
REFERÊNCIAS
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Capítulo 18
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Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Capítulo 18
205
SOBRE O ORGANIZADOR
JOÃO DALLAMUTA Professor assistente da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR). Graduação em Engenharia de Telecomunicações pela UFPR. MBA em Gestão pela
FAE Business School, Mestre pela UEL. Doutorando em Engenharia Espacial pelo INPE,
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Sobre o Organizador
206
ÍNDICE REMISSIVO
A
Ácidos Graxos 138, 139, 143, 146, 147
Águas Pluviais 25, 26, 27, 28, 31, 33, 38, 39, 40, 43, 45, 55, 76
Algoritmo de Roteamento 120, 123, 126, 127
Algoritmo de Utilização de Regeneradores 120
Análise de Redes Sociais 93, 95, 96, 97, 98, 99, 101, 103, 104
Arquitetura 55, 123, 128, 129, 130, 131, 133, 134, 135, 136
Aspectos Botânicos 170, 171
B
Biocombustível 161, 162, 164, 165
Biodiesel 3, 13, 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169
Biomassa 3, 8, 13, 161
C
Calibração 46, 48, 49, 50, 52, 53, 54
Caraúbas 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44
Cluster Comercial 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103
Concatenação 128, 129, 135
Conservação de Energia Elétrica 15, 16, 20, 23, 24
Controle de Posição 106, 110, 112, 113, 117, 118, 119
D
Degradação de Estruturas 68
Demanda Energética 1, 2, 7, 8, 9, 10, 12
Desenvolvimento Urbano Sustentável 55
Destilado de Desodorização 138
Drenagem Urbana 25, 37, 38, 40, 43, 44
E
Economia de Energia 15, 22
Eficiência Luminosa 15, 16, 17, 18
Energia Alternativa 161
Equilíbrio Sólido-Líquido 138, 140, 141, 144
Equipamento de Litografia Óptica 106, 108, 110, 111, 112, 118
Escoamentos 25, 27, 29, 30, 31, 33, 56, 62
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Índice Remissivo
207
F
Fator de Atrito 46, 49, 50, 52
Filtro Óptico 128, 129, 130, 132
Fotocatálise 80, 81, 82, 89, 149, 150, 151, 160
G
Gestão de Águas Urbanas 36, 38, 44
L
Lixívia Ácida 80, 82, 83, 84, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 150, 151, 152, 153, 155, 156, 157, 158, 159
M
Mesa Cartesiana XY 106
Microgravação 106
MIGHA 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53
Moagem de Alta Energia 80, 81, 82, 83, 86, 89, 91, 149, 150, 151, 154, 159, 160
Modelagem Termodinâmica 138
N
Nanopartículas 81, 92, 149, 150, 160
Nanopós 81, 149, 150, 151, 152, 153
O
Óleos Essenciais 170, 171
P
Patologias 68, 69
Penalidade Física 128, 129
Propriedades Medicinais 170
Q
Qualidade de Transmissão 120, 121, 128, 129
R
Rede Óptica Elástica 120, 127, 128, 136
Rede Óptica Elástica Translúcida 120, 127, 136
Remoção de Contaminantes 25, 33
Requalificação Ambiental 55, 57, 61, 65
Resiliência a Inundações 55, 57, 60, 62, 65
Roraima 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 14
Estudos Transdisciplinares nas Engenharias 3
Índice Remissivo
208
S
Saneamento Básico 36, 37, 43, 44
Solubilidade 32, 138, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 147, 148
T
Teatros Públicos 68
TiO2 81, 82, 83, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157,
158, 159, 160
Tratamento de Efluentes 25, 26, 33, 82, 151
Troca de Informações 93, 96, 98, 101, 103
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Índice Remissivo
209