Plano Nacional de Literacia Mediática: o jogo Bad News
Nicolau Borges
Plano Nacional de Leitura (PNL2027)
[email protected]
Adelina Moura
Plano Nacional de Leitura (PNL2027)
[email protected]
Resumo - À velocidade da luz, é como vivemos atualmente, no que diz respeito à informação,
produção e consumo de notícias. As plataformas digitais vieram mudar as formas como
produzimos, olhamos e interagimos, profissional e socialmente, com a informação. Se é
verdade que daí retiramos benefícios e melhorias, também é verdade que daí advêm novos
desafios e muitos riscos. Por vezes, torna-se difícil identificar a proveniência, a veracidade,
os objetivos e a utilidade da informação a que acedemos. Com a aprovação das linhas
orientadoras do Plano Nacional de Literacia Mediática pelo governo, dá-se um passo
significativo na promoção do combate à desinformação e à divulgação de conteúdos falsos
junto da população em geral, e da população estudantil, em particular. A Literacia Mediática
diz respeito a um conjunto de competências interligadas que ajudam as pessoas a agir e a
interagir com a sociedade, preocupando-se com a emergência de se minimizarem os riscos
dos impactos negativos decorrentes da acessibilidade facilitada a conteúdos informativos
analógicos e digitais massificados decorrentes da evolução comunicacional e cibercultural.
Este Workshop enquadra-se no Plano Nacional de Literacia Mediática e na missão que tem
o Plano Nacional de Leitura (PNL2027), para o desenvolvimento de ações de formação dos
cidadãos e para a implementação de políticas públicas de leitura e literacias, em contextos
de desenvolvimento pessoal, profissional, social e cultural, na perspetiva de consolidação de
uma cultura de exigência cívica e democrática. Vamos apresentar exemplos de atividades
prontas a usar e o jogo Bad News (Más Notícias) que será destacado em tutorial neste texto.
Introdução
Num mundo cada vez mais saturado de informações, em que as notícias e as imagens circulam
à velocidade da luz, a Literacia Mediática (LM) surge como bússola de navegação neste mar de
informação e conteúdos. Mais do que um mero conjunto de habilidades, a LM configura-se como
um imperativo para a cidadania ativa e consciente no século XXI. A Literacia Mediática é a
capacidade de aceder aos media, de compreender e avaliar de modo crítico os seus diferentes
aspetos e conteúdos e de criar comunicações em diversos contextos (Comissão Europeia, 2009).
Na sua essência, a LM define-se como a capacidade de aceder, analisar, criar e partilhar
informações de forma crítica e reflexiva. Trata-se de um processo multifacetado que envolve
identificar vieses, agendas ocultas e construção de mensagens autênticas e responsáveis.
64
Através da Educação para os Media visa-se ter pessoas e comunidades capazes de utilizar os
media de forma crítica, esclarecida e criativa. Enquanto a Educação para os Media se refere ao
processo de aprendizagem relacionado com a comunicação e os media, a LM diz respeito “ao
acionamento pertinente e contextualizado dessa aprendizagem por parte dos cidadãos” (Pereira
et al., 2023: p. 11). Ao desenvolvermos a consciência crítica em relação aos meios de
comunicação, tornamo-nos agentes ativos na sociedade, aptos a desconstruir narrativas
manipuladoras e construir conhecimento de forma autónoma. A Literacia Mediática ajuda-nos a
discernir entre factos e ficção, propaganda e opinião, combater a desinformação e promover a
verdade.
Os desafios que a era digital nos impõe, tornam relevantes todas as ações de preparação da
sociedade para se tornar profícua no uso e consumo dos media sociais. A proliferação de
plataformas online, a velocidade alucinante com que as notícias se propagam e a crescente
desconfiança nas instituições tradicionais, exigem de cada indivíduo um papel mais proativo na
busca e avaliação da informação. Num cenário onde a desinformação se alastra amplamente, a
LM surge como o melhor antídoto. Ela fornece as ferramentas para identificar notícias falsas,
verificar fontes e confirmar a veracidade dos conteúdos, protegendo-nos de cair em armadilhas
e de propagar informações enganosas.
A quem se destina a Literacia Mediática? A resposta é simples: a todos. Cidadãos de todas as
idades, origens e níveis de escolaridade podem beneficiar do desenvolvimento de competências
críticas em relação aos media. Crianças e adolescentes, na fase de formação, precisam de estar
munidos de ferramentas para navegar com segurança no mundo digital. Como referem Faria &
Andrade (2023), os jovens têm um papel importante no combate à desinformação, despertando
neles novos saberes sobre os media e necessidade de espírito crítico. Também os adultos
podem ver-se frente à necessidade de aperfeiçoar o conhecimento para enfrentar a enorme
quantidade de informações com que são bombardeados diariamente.
A Literacia Mediática é um processo contínuo, em constante evolução à medida que novos
formatos e plataformas de comunicação surgem. Através da educação formal e informal, do
debate público e da autorreflexão, podemos construir uma sociedade mais informada, envolvida
e resiliente aos desafios da era da informação. Ao mergulharmos no universo da Literacia
Mediática, melhoramos a capacidade de lidar com a informação, mas também assumimos o
controle da própria narrativa, tornando-nos protagonistas conscientes na construção de um futuro
mais justo, plural e verdadeiro.
Literacia Mediática: Contextualização
A LM tem raízes na Declaração de Grünwald (1982) sobre a Educação para os Media,
incentivando a promoção da literacia para os meios de comunicação social em meio escolar.
Avaliar a literacia mediática dos cidadãos e o seu enquadramento em níveis tem sido uma
preocupação constante, por parte de diferentes entidades e especialistas (Lopes, 2015). Por
65
exemplo, a União Europeia (UE) recomenda, desde 2007, aos estados-membros um relatório
(de três em três anos) sobre os níveis de LM dos seus cidadãos. A Recomendação da Comissão
Europeia, de 2009, destaca a importância da Literacia Mediática no ambiente digital para uma
indústria audiovisual e de conteúdos mais competitiva e uma sociedade do conhecimento
inclusiva.
São vários os atores institucionais, associativos e empresariais com intervenção no campo da
Educação para os Media, no nosso país, por desenvolverem diferentes tipos de atividades
associados ao assunto, ora promovendo iniciativas e projetos, ora disponibilizando recursos ou
implementando projetos de investigação ou outros (Cardoso et al., 2023). O estudo “Educação
para os Media em Portugal: experiências, actores e contextos”, apresentado por Pinto et al.
(2011), é um importante contributo para conhecer melhor o setor dos media em Portugal e a
importância da LM como componente inalienável da cidadania. Nele se destaca que a Educação
para os Media pode envolver públicos diversos e desenvolver-se numa diversidade de contextos,
formais ou informais, públicos ou privados. Quer em espaços escolares ou não escolares, há
sempre novas possibilidades para desenvolver iniciativas e atividades educativas que tenham os
media como recursos de aprendizagem ou aprender acerca dos próprios media.
O Congresso “Literacia, Media e Cidadania”8, uma iniciativa do GILM, contribui, há mais de uma
década, para o aprofundamento de conhecimentos e para o debate sobre as múltiplas questões
decorrentes do mundo digital, com participantes oriundos de diferentes quadrantes: mediático,
educativo, universitário e cultural, e configura-se como mais um incentivo à educação para os
media em Portugal. No enquadramento da sexta edição, destaca-se a Literacia Mediática como
uma das literacias-chave da capacitação de todos os cidadãos e o seu importante papel para
desmontar as narrativas online, na luta contra o discurso de ódio, ampliado em ambientes
digitais, tudo “fenómenos que ameaçam a saúde da democracia e o exercício pleno da
cidadania”9.
Ao falar de Literacia dos media, não podemos esquecer da Declaração de Braga, que resultou
da reunião, de cerca de três centenas de pessoas, na Universidade do Minho, em 2011, no
Congresso Nacional sobre “Literacia, Media e Cidadania”. Os participantes, oriundos de
diferentes áreas e meios da sociedade (educativo, mediático, universitário, bibliotecas,
associações culturais, saúde pública e político) foram convocados por várias instituições
preocupadas com o papel que têm, ou devem ter, os media e o ecossistema comunicativo na
moderna formação dos cidadãos e numa cidadania mais esclarecida e participativa. Estes atores
entendem que é urgente tomar medidas e “inscrever a literacia para os media nas prioridades da
agenda pública, entendem partilhar com os seus concidadãos as principais preocupações então
manifestadas e apelar à iniciativa das organizações da sociedade civil, das instituições
8
https://www.cecs.uminho.pt/publicacoes/livros/?cat=atas
9
https://unescoportugal.mne.gov.pt/pt/noticias/vi-congresso-literacia-media-e-cidadania
66
educativas, dos media e dos decisores políticos, cientes de que os tempos que vivemos são
favoráveis à busca de caminhos inovadores para o futuro colectivo” (Pereira, 2011, p. 851).
O Referencial de Educação para os Media lançado em 2014, pela Direção-Geral da Educação,
para a educação pré-escolar e para os ensinos básico e secundário, com versão revista e
atualizada em 2023, bem como o referencial "Aprender com a Biblioteca Escolar", 2012, versão
revista e atualizada em 2017, pela Rede de Bibliotecas Escolares (Conde et al., 2017), deram
um forte impulso à promoção da Literacia Mediática nas instituições educativas.
Salienta-se também o trabalho desenvolvido pela equipa do MILObs 10 , um Observatório de
Media, Informação e Alfabetização que acompanha, monitoriza e divulga o que se vem fazendo
no domínio da Educação para os Media em Portugal e no estrangeiro e promove a Literacia
Mediática nos diferentes setores da sociedade. A Educação para os Media, um dos domínios da
componente curricular de Cidadania e Desenvolvimento, está alinhado com o Perfil dos Alunos
à Saída da Escolaridade Obrigatória e com a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania,
por ajudar a preparar os alunos para utilizar e decifrar os meios de comunicação social e
compreender o funcionamento da Internet e das redes sociais.
A UNESCO publicou, em 2013, o documento “Media and Information Literacy - Policies and
Strategies Guidelines”11, para apoio ao desenvolvimento da literacia mediática e informacional e
das competências digitais para todos, para um envolvimento crítico com a informação,
navegação online segura e responsável e confiança nas tecnologias digitais. Hobbs (2021), no
sentido de ajudar na educação para os media, apresenta questões essenciais para compreender
a LM e ideias para apoiar os alunos a desenvolver as competências e hábitos mentais para uma
aprendizagem ao longo da vida. Este autor sistematiza um plano de ação com cinco
competências fundamentais: Acesso, análise e avaliação, criação, reflexão e ação, pois
considera que a nossa relação com os media nunca foi tão importante e complexa, obrigando a
uma boa dose de imaginação. Como refere Jenkins (2019), a imaginação cívica é essencial para
intervir no mundo e para imaginar como poderia ser diferente.
Plano Nacional para a Literacia Mediática
Recentemente, foi aprovado o Plano Nacional para a Literacia Mediática (PNLM), pela Resolução
do Conselho de Ministros n.º 142/202312, de 17 de novembro, e está alinhado com os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Este plano pretende diminuir as lacunas no
acesso, consulta e leitura de conteúdos informativos de imprensa, promover o combate à
desinformação e à divulgação de conteúdos falsos, junto da população, em especial da
10
https://milobs.pt/
11
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000225606
12
https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/resolucao-conselho-ministros/142-2023-224427490
67
população escolar. Preconiza o desenvolvimento de competências de leitura, análise e
compreensão críticas relativamente aos media, bem como capacidades de produção e de
expressão (Conselho de Ministros, 2023). O quadro de referência para a Literacia Mediática regese por valores, atitudes, conhecimentos e competências estabelecidas pelo Conselho da Europa
(2017) e pela UNESCO (2021).
O Plano Nacional para a Literacia Mediática está inserido no Plano Nacional de Leitura, de forma
a fazer “um uso mais adequado dos recursos disponíveis”, conforme referiu o Ministro da
Educação, no encerramento da Conferência do Plano Nacional de Leitura de 2023.
Acrescentando que o PNLM abordará tópicos como a liberdade de imprensa, o serviço público
dos media, a integração da educação para os media nos curricula do ensino básico e secundário,
o estímulo à criação de recursos educativos para lá da educação formal, o reforço da confiança
nas instituições ou, ainda, o fomento de competências de literacia mediática e de regras de
conduta que contraponham fenómenos como o discurso de ódio 13.
O Plano Estratégico para a LM, já apresentado publicamente, consubstancia esse Plano
Nacional, em objetivos, medidas e metas para os próximos cinco anos de implementação e
constitui-se como uma plataforma de apoio, cooperação e de orientação às entidades com
trabalho na área. Este Plano Nacional é enquadrado pelo Plano Nacional de Leitura e pela
Comissão Interministerial que o coordena. Na sua visão estratégica e linhas orientadoras
encontram-se quatro Eixos norteadores: 1. Educação e Formação; 2. Participação e Inclusão; 3.
Cooperação; 4. Monitorização e Avaliação14.
O PNLM15 pretende valorizar e consolidar estrategicamente o trabalho que já é realizado. Visa
coordenar a ação dos diferentes agentes de forma a incentivar e preparar novos mediadores e
estender o alcance deste trabalho aos diferentes grupos populacionais, especificamente com
populações vulneráveis e com necessidades específicas. Para além desta coordenação, caberá
ao PNLM diagnosticar quais as áreas de intervenção prioritárias, traçar uma estratégia coerente
para as ações a desenvolver, monitorizá-la e comunicar a intencionalidade das medidas criadas
e desenvolvidas com objetividade e clareza.
Referencial da Literacia Mediática
Em 2014, foi publicado o Referencial de Educação para os Media, dirigido à educação préescolar e ao ensino básico e secundário (Pereira et al., 2014), sofrendo uma revisão e
atualização em 2023. Este referencial tem na sua base publicações em diversos países e
tomadas de posição de instituições internacionais sobre a temática.
13
https://milobs.pt/plano-nacional-de-literacia-mediatica-com-linhas-orientadoras-definidas/
14
https://www.pnl2027.gov.pt/np4/entreler/leiturasdosmedia.html
15
https://www.pnl2027.gov.pt/np4/file/3766/PLANO_ESTRAT_GICO_LITERACIA_MEDI_TICA_24.pdf
68
Propõe para os diferentes níveis escolares temas, subtemas, objetivos e descritores de
desempenho por níveis de educação e ciclos de ensino e um quadro de referência para o
trabalho pedagógico sobre questões da Educação para os Media. Apresenta dez grandes
princípios da Educação para os Média: 1. O valor da comunicação entre as pessoas; 2. As
tecnologias: mais do que ferramentas; 3. A informação e a comunicação como ecossistema; 4.
Os media como representação do social; 5. Papel do jornalismo e desafio da desinformação; 6.
Olhar os media a partir dos seus públicos; 7. O digital e os riscos de exclusão; 8. As novas
literacias e a formação de cidadãos críticos; 9. Campo mediático: espaço social, ambiente
simbólico e texto a interpretar; 10. Razão de ser e horizontes da literacia mediática.
Quanto à estrutura do referencial, ela reflete uma grande flexibilidade, podendo ser adaptada a
contextos formais, não-formais ou informais, no seu todo ou em parte (Pereira et al., 2023). Os
seus autores, destacam que o Referencial se constitui “como um todo coerente, com uma
estrutura comum a todos os níveis e ciclos de educação e ensino, apresentando uma proposta
de abordagem à Educação para os Media específica para cada nível ou ciclo” (Ibidem, p. 15).
Apresenta dois temas transversais: a comunicação como processo social básico e a tecnologia
enquanto fenómeno estruturante da sociedade e das relações sociais. Estes temas estão
subjacentes aos oito temas apresentados no documento, ou a alguns deles, e podem ser tratados
em momentos que o docente considere oportunos. Estes são os oito temas selecionados: 1.
Media, Informação e Atualidade; 2. Tipos e Linguagens dos Media; 3. Acesso, Usos e Práticas
Mediáticas; 4. Criação, Produção e Participação; 5. Liberdade e Ética; 6. Ficção e
Entretenimento; 7. Propaganda, Publicidade e Marcas; 8. Empresas e Profissionais. Para cada
um são apresentados também os resultados da aprendizagem.
Literacia e educação para os media: Exemplos de atividades
Crianças e jovens vivem amplamente conectados e mergulhados em tecnologias digitais, por
isso as instituições educativas têm o dever de garantir que estes cidadãos digitais estejam
plenamente conscientes das normas de comportamento apropriado quando utilizam tecnologia
em constante evolução e participam na vida digital, dentro e fora da escola (Frau-Meigs et al.,
2017).
O Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores (DigCompEdu), fomenta a literacia
da informação e dos media sugerindo-se a realização de atividades em que os alunos articulem
a pesquisa de informação em ambientes digitais, que “organizem, processem, analisem e
interpretem informação e comparem e avaliem criticamente a credibilidade e fiabilidade da
informação e das suas fontes” (Lucas e Moreira, 2018, p. 78). Para estes autores, o
desenvolvimento da competência digital dos professores é essencial para promover a
competência digital dos alunos em ambientes digitais e serem capazes de aproveitar o potencial
das tecnologias digitais para melhorar e inovar a educação.
Navegando pela Web, o internauta encontra todo o tipo de informação e em diferentes formatos,
69
e torna-se difícil saber o que é verdadeiro e o que é falso. A plataforma “Literacia e Educação
para os Media Em Linha”16 é um agregador de recursos digitais, em diferentes formatos, prontos
a usar em atividades pedagógicas a desenvolver em contextos formais, não-formais ou informais
de aprendizagem.
Na Web, encontram-se atividades divertidas e envolventes que oferecem a qualquer um a
oportunidade de testar as habilidades e aprender novas técnicas para identificar o que é
desinformação do que não é. Por exemplo, no portal do MILObs apresentam-se quinze ideias
para “Levar os Media para a Escola”17. Outro exemplo é o PICCLE18, uma plataforma de criação,
agregação e curadoria de conteúdos dirigida a docentes, para o desenvolvimento das
competências digitais de literacia dos jovens do 3º ciclo do Ensino Básico e do Ensino
Secundário.
No portal Media Smarts 19 , para além de informação útil sobre Literacia Mediática, há jogos
educacionais destinados a crianças, jovens e adultos para compreenderem e refletirem sobre
questões importantes e ideias-chave da educação para os media. Por exemplo, no jogo Reality
Check: The Game20 (Verificação de Realidade: O Jogo), podemos aprender a encontrar pistas
sobre a origem de uma notícia (história) e compará-la com outras fontes e ainda aprender a usar
ferramentas como websites de verificação de factos e pesquisa reversa de imagens.
O jogo Bad News
Neste workshop vamos explorar o jogo Bad News 21 (Más Notícias), desenvolvido por uma
organização holandesa que combate a desinformação e pode ser jogado diretamente no
navegador. A ideia é criar o próprio império de notícias falsas. O jogador ao simular criar
conteúdo falso e manipulador, aprende como é que isso funciona por dentro, para melhor
identificar a desinformação no mundo real. O jogo foi criado em conjunto com especialistas da
educação mediática, psicólogos, especialistas em comunicação social e investigadores de
Cambridge. Os autores testaram o jogo durante um projeto piloto com alunos de escolas
secundárias. O cenário do jogo envolve a utilização de princípios básicos de desinformação, a
sua forma e a sua apresentação ao público.
Este jogo ajuda qualquer pessoa a saber falar sobre desinformação (fake news) e preconceitos
e encontra-se traduzido em várias línguas, incluindo a língua portuguesa (Figura 1).
16
https://www.leme.gov.pt/sobre
17
https://milobs.pt/en/15-ideias-para-levar-os-media-para-a-escola/
18
https://piccle.pnl2027.gov.pt/
19
https://mediasmarts.ca/digital-media-literacy/educational-games
20
https://mediasmarts.ca/digital-media-literacy/educational-games/reality-check-game
21
https://www.getbadnews.com/en
70
Figura 1. Página inicial em inglês e português
O jogo é bastante interativo, tem a aparência de uma conversa com um Chatbot (Figura 2), pois
o próprio jogo se personifica e conversa com o jogador incentivando, propondo, avisando. A
interface é simples e intuitiva, contém um cronómetro de credibilidade e um contador de “Gostos”,
para além das caixas de “diálogo” e as possibilidades de resposta em hiperligação. Apresenta
seis técnicas, começando com a técnica “Imitação”.
Figura 2. Início do jogo (Saudação)
O jogo propõe que o jogador deve abandonar a ética e esquecer o profissionalismo. A tarefa do
jogador é tornar-se no mais injusto dos magnatas dos media. Ao mesmo tempo, não deve perder
de vista o número de seguidores e o grau de aceitabilidade do conteúdo. A conversa vai
evoluindo, conforme o jogador clica numa opção de resposta ou noutra (Figura 3).
71
Figura 3. Primeiras interações
O jogador começa como um utilizador anónimo do Twitter (atual X) que busca popularidade. O
jogo em si mostra aos jogadores que as notícias falsas manipulam emoções e manchetes
sensacionais, não factos reais. Estes métodos também são usados para distrair os leitores da
essência do conteúdo das notícias e desencorajá-los a revê-lo ou pensar que o conteúdo pode
ser manipulador. O jogador é avisado que não deve mentir sempre: deve misturar a mentira com
a verdade para não perder os seguidores. O jogador terá sempre que tomar decisões sobre o
grau de falácias que publica na conta do Twitter (Figura 4).
Figura 4. Conta no Twitter e opções de decisão
72
À medida que o jogador vai fazendo as escolhas, vai obtendo gostos e o ponteiro sobe para dar
mais credibilidade ao jogador ou emite um alerta (Figura 5).
Figura 5. Seguidores e credibilidade
Após cada postagem, o jogo permite acompanhar as reações dos seguidores (Figura 6). O
número crescente de seguidores aparece no lado esquerdo do ecrã, assim como o nível de
credibilidade da decisão. Para se tornar “vilão” da desinformação, o jogador deve decidir no
sentido de aumentar os seguidores, em detrimento de factos reais.
Figura 6. Reação dos seguidores
Quando as escolhas vão no caminho certo para o jogador se tornar perito em desinformação,
acaba por concluir a primeira técnica e torna-se chefe de redação de um Website de notícias
reais, por dominar a técnica “Imitação”. Ao passar de nível o jogador recebe um novo emblema
73
pelas suas conquistas. No total, existem seis estratégias para minar a verdade. Clicando no botão
Continuar, o jogador vai para a página que apresenta todas as técnicas (Figura 7).
Figura 7. Técnicas por dominar e técnicas dominadas
Após um breve treino no Twitter, o jogador pode criar o seu próprio Website para publicar
falsidades (criar o nome, um slogan e decidir o que quer publicar: conteúdo emocional ou sério).
Clicando no botão Continuar, vai desbloquear a segunda técnica: Emoção (Figura 8).
Figura 8. Técnica Emoção e Website Palavra Certa
No modo interativo, o jogador escolhe o texto, que é completado por sensações e emoções
sensacionais e até memes (Figura 9).
74
Figura 9. Explorar emoções básicas com meme
O próprio jogo vai ajudar também o jogador na seleção das imagens ou memes, cores das letras
e explicar porque tal imagem é necessária para atrair mais atenção. É só isso que interessa, os
seguidores. Neste exemplo, o jogador ao clicar em Atacar os cientistas pessoalmente, surge um
exemplo de um meme e o jogador pode ver a reação dos seguidores (Figura 10).
Figura 10. Exemplo de um meme
75
O jogador pode jogar e passar de nível até dominar todas as técnicas, surgindo em cada uma
pequena síntese do que foi alcançado, no sentido de levar sempre a melhor em questões de
inverdades e manipulação do público (Figura 11).
Figura 11. Todas as técnicas da desinformação dominadas
O jogo serve para apresentar o lado negro do dono de um Website de fake news, cuja tarefa é
criar mais confusão e provocar reações nas redes sociais. O jogador poderá também utilizar bots
para promover o conteúdo e divulgá-lo (Figura 12).
Figura 12. Usar bots para promover e divulgar conteúdo
Passando por todas as técnicas, o jogador atinge o final do jogo. O jogador obtém a pontuação
conseguida e os emblemas conquistados (Figura 13).
76
Figura 13. Final do jogo: pontuação e emblemas
Ao completar este jogo, percebe-se que os autores deste jogo estudaram detalhadamente os
métodos de divulgação de fake news. O jogo tem grande interesse como recurso pedagógico e
foi desenvolvido de forma muito realista. Pode ser usado para ensinar crianças e adolescentes,
bem como trabalhar com adultos para demonstrar como funciona o sistema de distribuição da
desinformação, manipulações e boatos online.
Conclusão
Pensar criticamente, distinguir facto de opinião, fontes credíveis de fontes falsas e reconhecer
exemplos de desinformação são competências fundamentais para a tomada de decisões
informadas, a interação com a informação e a relação com os media. Para responder com
conhecimento e competência às exigências de uma sociedade altamente conectada e digital,
considerando que, nos nossos dias, todos somos consumidores e produtores de media e
informação, é importante capacitar para a responsabilidade pessoal e a ética cívica na
participação online, crianças jovens e adultos e este Workshop pode ajudar os professores a
encontrarem atividades adequadas para levar para a sala de aula a Literacia Mediática.
Apoiar as crianças e os jovens a participarem de forma segura, eficaz, crítica e responsável num
mundo repleto de redes sociais e tecnologias digitais é uma prioridade para educadores e
professores de todo o mundo. A Literacia Mediática cria as bases para qualquer cidadão
desenvolver a capacidade de aceder, criar, avaliar e compreender as mensagens dos vários
meios de comunicação (Lopes, 2018). Apesar dos esforços mundiais para resolver as lacunas
referentes à LM, existe uma clara necessidade de as autoridades educativas assumirem a
liderança na educação para a cidadania digital e integrá-la nos currículos escolares. A Literacia
Mediática deve ser abordada de diferentes modos e a diferentes níveis nos currículos escolares
e a responsabilidade é de todos nós.
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Referências
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Jornal
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lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2009:227:0009:0012:PT:PDF
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Orientadoras do Plano Nacional de Literacia Mediática. Diário da República, 17 novembro.
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