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A Crise Na Igreja: Como O Cristianismo Sobrevive?

2014, ATUALIDADE TEOLÓGICA

10.17771/ PUCRio.ATeo.23294 ISSN 1676-3742 KAUFMANN, Franz-Xavier. A crise na Igreja. Como o cristianismo sobrevive? S. Paulo, 2013, 166 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-15-04046-9. Mario de França Miranda O autor é um conhecido sociólogo suíço, autor de várias obras no campo da sociologia religiosa, sobretudo refletindo sobre a situação do cristianismo na sociedade moderna. Sua conhecida obra Religion und Modernität (1989), recolhe uma rica série de textos, tanto do ponto de vista da instituição eclesial, quanto na perspectiva do simples fiel, que esclarecem sobremaneira entendermos o atual contexto sociocultural e seus desafios para a fé cristã. O presente volume, pequeno de tamanho mas de grande qualidade, se concentra mais na atual crise da instituição eclesial. Já de início, embora católico, o autor declara que vai se limitar a uma análise exclusivamente de cunho sociológico para demonstrar que o atual modelo institucional representa sério perigo para a missão salvífica da Igreja na atual sociedade. Num capítulo inicial apresenta a atual situação crítica do cristianismo em nossos dias. Em seguida coloca a questão: como se deu o sucesso histórico do cristianismo e por que ele sobreviveu nos últimos dois mil anos? Neste capítulo, limitando-se aos fatores humanos e históricos em jogo, expõe a situação das primeiras comunidades cristãs e como conseguiram se expandir num contexto de rivalidade com o judaísmo e de competição religiosa em geral. Apresenta a força atrativa do cristianismo na sociedade de então, bem como sua leitura do que ele denomina a “virada de Constantino”. Num terceiro capítulo Kaufmann pergunta pela contribuição do cristianismo para o surgimento da modernidade. Este capítulo se intitula: O cristianismo e a história da liberdade europeia. Trata da transcendência de Deus e do surgimento dos conceitos ocidentais de pessoa e de liberdade, do significado estrutural do cristianismo para a transformação modernizante da sociedade Atualidade Teológica, Rio de Janeiro, v.46, p. 191-192, jan./abr.2014 191 10.17771/ PUCRio.ATeo.23294 europeia e do desenvolvimento do Estado moderno e o cristianismo. O quarto capítulo já fala de uma sociedade que nos atinge, pois trata da modernização, da secularização e da eclesialização do próprio cristianismo. Explicita as diversas compreensões da noção de secularização, explica como a sociedade se reestrutura marcada pelo iluminismo, como as Igrejas ganham autonomia institucional e se especializam nas tarefas de cunho religioso, como conteúdos originalmente cristãos se tornam componentes da cultura secular. Termina apontando o fenômeno do distanciamento eclesial por parte dos cristãos e provocando o leitor com uma série de perguntas sobre o futuro do cristianismo. O quinto capítulo tem um título provocativo: Sobrevive o cristianismo à modernidade? Depois de explicitar a questão, aborda as condições e as causas da ruptura com a tradição com relação à transmissão da fé: liberdade religiosa, perda dos vínculos com o meio social e portanto da legitimidade, maior espaço para as opções individuais. Em seguida apresenta como a questão mais séria da pós-modernidade a realidade da própria identidade cristã, alicerçada então mais na experiência religiosa de cada um como veículo de valores e referências. Termina apresentando as possíveis presenças do cristianismo na sociedade: cultural, eclesiástica e individual. O sexto e último capítulo enfrenta diretamente a atual crise ao tratar das fraquezas estruturais da Igreja Católica com críticas pertinentes à exagerada centralização, a resistência às mudanças necessárias, as barreiras de cunho teológico e canônico, as consequências negativas dos abusos sexuais e o autoritarismo hierárquico. A obra demonstra a urgente necessidade de mudanças na Igreja e nos possibilita compreender mais lucidamente a renovação eclesial empreendida pelo papa Francisco. Um livro pequeno, de fácil leitura e muito oportuno para entendermos melhor o que se passa na Igreja em nossos dias. Mario de França Miranda Doutor em Teologia Sistemática pela PUG – Roma Professor de Teologia na PUC-Rio Rio de Janeiro / RJ - Brasil E-mail: [email protected] Resenha recebida em: 16/02/14 192 Atualidade Teológica, Rio de Janeiro, v.46, p. 191-192, jan./abr.2014