Por um milê nio de mil anos.
(Uma defesa da literalidade de Apocalipse 20.1-10)
A.A.Dias
summer 2024
1
Dedicatória
“Dedico este estudo ao meu irmão em Cristo, Silas H. Cardoso, o qual sempre me abençoa,
mesmo quando não o percebe.
Espero que este material seja uma pequena retribuição por sua amizade e serviço em prol
ao Reino milenar e eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”
A.A.Dias
2
1) Introdução
O teó logo Alderi de Souza Matos defende que a Teologia nã o é uma atividade meramente
especulativa de pensadores isolados numa torre de marHim(3), mas sim realizada e construı́da em meio
ao povo como resultado das necessidades que a igreja enfrentava. Foi assim que lidamos com o tema
da divindade de Cristo, com a trindade divina e por aı́ vai desde o Hinal da era apostó lica. AMediante um
grande irmã o, que tem desempenhado o papel de pregador em sua comunidade local, fui questionado
sobre a literalidade ou nã o de um futuro reino milenar de Cristo aqui na Terra, e por essa razã o
produzo o trabalho teoló gico que se segue.
O livro da Revelaçã o, o qual costumamos chamar pelo nome grego Apocalipse, escrito pelo
apó stolo Joã o na ilha de Patmos, apresenta profecias sobre o Hinal dos tempos, as quais sã o proferidas
em grande parte de maneira Higurada, alegó rica ou como chamam os teó logos, linguagem apocalı́ptica.
Apesar de seu forte conteú do alegó rico, alguns temas e construçõ es literá rias carecem de manejo
literal por parte dos leitores, e sobre este aspecto é que trataremos aqui. Alguns destes temas sã o
pé treos, ou seja, nã o podem ser mudados, questionados ou alterados, outros sã o passı́veis de
interpretaçã o pela igreja, pois nã o ferem a doutrina cristã em seu â mago.
Embora a palavra Milênio nã o se encontre no texto grego, aHinal se trata de um termo do Latin
millennium, o conceito a que ela se refere e apresentado em Ap 20.1-6, χίλια ἔτη chilia éte, é
perfeitamente aceito e considerado canô nico. Toda a disputa teoló gica reside em sua interpretaçã o,
que, para alguns seria literal e terrena, para outros representada pela era da igreja e ainda a poucos
outros seria o resultado da evoluçã o humana até atingir um estado lú dico.
A grande diHiculdade nã o reside em compreender o que está escrito, aHinal o autor divino
desejava que sua mensagem fosse percebida por nó s, mas sim nas implicaçõ es que esta literalidade nos
impõ e. Este é o aspecto que divide a igreja, pois alguns irmã os sé rios em seu compromisso com Cristo,
diante da perplexidade que a Escritura nos impõ e, buscam maneiras de acomodar o texto inspirado em
seus conceitos de vida. Enquanto o correto é seguir o caminho oposto, de modo que a Bı́blia nos
obrigue a viver à sua maneira e nã o que nó s, humanos limitados, em vã o busquemos maneiras de
distorcer o que está escrito segundo nossa necessidade.
“Esta perícope tem o papel importante de dar profundidade à esperança cristã. A terra, a
arena de sofrimento e tribulação cristãos, também será parte do galardão cristão na partilha da
autoridade do Messias.” Carlos Osvaldo Pinto Cardoso (1)
(1) Carlos Osvaldo Pinto Cardoso - Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento - p.370
3
1.1) O texto bíblico Apocalipse 20.1-10
Tradução Nova Almeida Atualizada
1Então
vi descer do céu um anjo que tinha na mão a chave do abismo e uma grande
corrente.
segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil
anos. 3Lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as
nações até se completarem os mil anos. Depois disso, é necessário que ele seja solto por um
pouco de tempo.
4Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade para julgar.
Vi ainda as almas dos que foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus e
proclamado a palavra de Deus. Estes são os que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não
receberam a sua marca na testa e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos.
5Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira
ressurreição. 6Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição. Sobre
esses a segunda morte não tem poder; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e
reinarão com ele os mil anos.
7Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão 8e sairá
para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reunilas para a batalha. O número dessas é como a areia do mar. 9Marcharam, então, pela superfície
da terra e cercaram o acampamento dos santos e a cidade amada. Porém, desceu fogo do céu e
os consumiu. 10O diabo, que os tinha enganado, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde já se
encontram a besta e o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, para todo o sempre.
2Ele
Texto grego NA28
1 Καὶ εἶδον ἄγγελον καταβαίνοντα ἐκ τοῦ οὐρανοῦ ἔχοντα τὴν κλεῖν τῆς ἀβύσσου
καὶ ἅλυσιν μεγάλην ἐπὶ τὴν χεῖρα αὐτοῦ. 2 καὶ ἐκράτησεν τὸν δράκοντα, ὁ ὄφις ὁ
ἀρχαῖος, ὅς ἐστιν Διάβολος καὶ ὁ Σατανᾶς, καὶ ἔδησεν αὐτὸν χίλια ἔτη 3 καὶ ἔβαλεν
αὐτὸν εἰς τὴν ἄβυσσον καὶ ἔκλεισεν καὶ ἐσφράγισεν ἐπάνω αὐτοῦ, ἵνα μὴ πλανήσῃ ἔτι τὰ
ἔθνη ἄχρι τελεσθῇ τὰ χίλια ἔτη. μετὰ ταῦτα δεῖ λυθῆναι αὐτὸν μικρὸν χρόνον.
Καὶ εἶδον θρόνους καὶ ἐκάθισαν ἐπʼ αὐτοὺς καὶ κρίμα ἐδόθη αὐτοῖς, καὶ τὰς ψυχὰς
τῶν πεπελεκισμένων διὰ τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ καὶ διὰ τὸν λόγον τοῦ θεοῦ καὶ οἵτινες οὐ
προσεκύνησαν τὸ θηρίον οὐδὲ τὴν εἰκόνα αὐτοῦ καὶ οὐκ ἔλαβον τὸ χάραγμα ἐπὶ τὸ
μέτωπον καὶ ἐπὶ τὴν χεῖρα αὐτῶν. καὶ ἔζησαν καὶ ἐβασίλευσαν μετὰ τοῦ Χριστοῦ χίλια
ἔτη. 5 οἱ λοιποὶ τῶν νεκρῶν οὐκ ἔζησαν ἄχρι τελεσθῇ τὰ χίλια ἔτη. Αὕτη ἡ ἀνάστασις ἡ
πρώτη. 6 μακάριος καὶ ἅγιος ὁ ἔχων μέρος ἐν τῇ ἀναστάσει τῇ πρώτῃ· ἐπὶ τούτων ὁ
⸂δεύτερος θάνατος οὐκ ἔχει ἐξουσίαν, ἀλλʼ ἔσονται ἱερεῖς τοῦ θεοῦ καὶ τοῦ Χριστοῦ καὶ
βασιλεύσουσιν μετʼ αὐτοῦ [τὰ] χίλια ἔτη.
7 Καὶ ὅταν τελεσθῇ τὰ χίλια ἔτη, λυθήσεται ὁ σατανᾶς ἐκ τῆς φυλακῆς αὐτοῦ
8 καὶ ἐξελεύσεται πλανῆσαι τὰ ἔθνη τὰ ἐν ταῖς τέσσαρσιν γωνίαις τῆς γῆς, τὸν⸌ Γὼγ καὶ
Μαγώγ, συναγαγεῖν αὐτοὺς εἰς τὸν πόλεμον, ὧν ὁ ἀριθμὸς αὐτῶν ὡς ἡ ἄμμος τῆς
θαλάσσης. 9 καὶ ἀνέβησαν ἐπὶ τὸ πλάτος τῆς γῆς καὶ ἐκύκλευσαν τὴν παρεμβολὴν τῶν
ἁγίων καὶ τὴν πόλιν τὴν ἠγαπημένην, καὶ κατέβη πῦρ ἐκ τοῦ οὐρανοῦ καὶ κατέφαγεν
αὐτούς. 10 καὶ ὁ διάβολος ὁ πλανῶν αὐτοὺς ἐβλήθη εἰς τὴν λίμνην τοῦ πυρὸς καὶ θείου
ὅπου καὶ τὸ θηρίον καὶ ὁ ψευδοπροφήτης, καὶ βασανισθήσονται ἡμέρας καὶ νυκτὸς εἰς
τοὺς αἰῶνας τῶν αἰώνων.
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1.2) Esboço sintético e contextualização da passagem
EZ importante encarar o livro do Apocalipse como ele realmente é , ou seja, um livro. Claro que
seu conteú do é a pró pria e infalı́vel palavra de Deus, mas, se o pró prio Deus escolheu nos instruir
mediante o uso de um livro, devemos nos submeter a essa vontade. Caso fosse uma cançã o, como
ocorre nos Salmos, nossa abordagem poderia ser diferente, mas aqui tratamos de um livro cujo
conteú do sã o as revelaçõ es que o apó stolo Joã o recebeu enquanto estava preso na ilha de Patmos. EZ
exatamente explicando este ponto que o livro começa: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para
mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo,
noti@icou ao seu servo João, o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.
Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela
escritas, pois o tempo está próximo.” Ap 1.1-3
Posto que a palavra revelada é escrita, devemos observar que a ordem dos eventos nã o é
aleató ria, assim como o uso da linguagem Higurada, dita apocalı́ptica, nã o é de todo alheia aos ouvidos
dos leitores originais. Falemos, portanto da organizaçã o deste livro, pois ela pode ser descrita
mediante um esboço sintá tico, que, ainda que nã o seja perfeito, nos delineia muito bem a disposiçã o do
desenrolar dos acontecimentos.
.
Prólogo 1.1-8 descriçã o do livro, de seu autor divino e de seu autor humano.
1.9 a 3.22 Cartas à s sete igrejas da AZ sia.
4.1 a 6.17 Livro dos sete selos.
7.1 a 13.18 Sete trombetas e seus juı́zos.
14.1 a 14.20 Quatro vozes angelicais.
15.1 a 16.21 Sete taças de juı́zo.
17.1 a 19.21 Armagedon, a batalha.
20.1 a 22.5 Milê nio, juı́zo Hinal e Eternidade.
Epílogo 22.6-21 consideraçõ es Hinais por parte do autor.
Muitos outros teó logos propuseram muitos outros esboços para este livro, alguns bem mais
detalhados e intrincados, enquanto outros sã o ainda mais resumidos que minha proposta acima. O
objetivo de um esboço é ajudar a nos localizar dentro do enredo do livro, por isso, se desejares outras
opçõ es, busque a que melhor te servir.
Um dado importante que este esboço ressalta é a continuidade e a Hluidez entre as passagens,
por isso ao chegarmos ao capı́tulo 20, temos a nı́tida certeza de que os eventos ali revelados sã o
contı́nuos ao que fora apresentado no capı́tulo 19.
“eu não posso consentir na distorção de palavras do seu sentido simples e da sua
colocação cronológica na profecia, por causa de qualquer dificuldade ou risco de abuso que a
doutrina do milênio possa provocar.” Alford, H(36)
5
2) Como interpretar um texto
Podemos analisar algo atravé s de diversos mé todos, poré m os que sã o realmente eHicazes sã o
aqueles cujas mé tricas sejam conhecidas e pertinentes ao objeto de estudo. Por exemplo, eu trabalho
com café especial, e, em meu segmento, existem certas aná lises cabı́veis, tais como: acidez, doçura,
amargor, adstringê ncia e corpo. Alguns destes aspectos podem ser medidos mediante equipamentos,
enquanto outros contam muito mais com uma avaliaçã o subjetiva. Para que uma aná lise nã o se torne
um embate sem Him, os pontos que podem ser mensurados, como, por exemplo, temperatura, nã o sã o
questionados; enquanto nota sensorial de jasmim seja bem mais complexa e passı́vel de interpretaçã o.
O modelo padrã o de interpretaçã o fora descrito Milton S. Terry no fundamental Biblical
Hermeneutics, 2nd ed. e diz: “Um princípio fundamental na exposição histórico-gramatical é que as palavras e sentenças
podem ter apenas um signi@icado em uma mesma conexão. No momento em que negligenciamos este princípio, @lutuamos num
mar de incertezas e conjecturas.”(18) Enquanto o 2º Encontro do Conselho Internacional sobre Inerrâ ncia
Bı́blica apresenta o tema da seguinte maneira: “A@irmamos que o signi@icado expresso em cada texto bíblico é único,
de@inido e @ixo. Negamos que o reconhecimento deste signi@icado único elimine a variedade da sua aplicação.” (19)
Na interpretaçã o das Escrituras, o que pode ser entendido como literal, preferivelmente o deva
ser, enquanto aquilo que excede a ló gica denotativa pode até ser interpretado. Ningué m seria tolo ao
aHirmar que o texto de Jo 10.9: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará
pastagem.” aHirma que Nosso Senhor é realmente um objeto de madeira, com fechadura, dobradiças e
maçaneta. O oposto també m é vá lido quando Jo 21.11 descreve: “Simão Pedro entrou no barco e arrastou a
rede para a terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, não obstante serem tantos, a rede não se
rompeu.” sendo que aqui nã o existe espaço para se questionar a natureza bioló gica dos peixes, tã o
pouco o nú mero deles, o qual é nı́tido como o Sol ao meio-dia. Walvoord, J.F. aHirma: “Está implícito em
qualquer abordagem protestante ortodoxa das Escrituras sustentar que a Bíblia foi concebida para ser compreendida. O que é
verdade para outras Escrituras também é verdade para o livro de Apocalipse.” (27)
2.1) Hermenêutica
.
Para lidar com o tema da interpretaçã o, existe uma cadeira de estudos chamada Hermenê utica,
a qual existe no direito, na HilosoHia e na Hilologia també m. Este estudo nos ajuda a nortear nossa
interpretaçã o, analisando o contexto original (aHinal, o livro foi escrito à muito tempo e em uma cultura
muito diferente da nossa) e també m que eram os destinatá rios de tal escrito. Por exemplo, o apó stolo
Mateus escreveu para os judeus(1) enquanto Marcos (que teria sido tradutor de Pedro em Roma)
escreveu pensando nos romanos.
Atualmente existem trê s mé todos de interpretaçã o bı́blica e um quase em desuso. Sã o
chamados de:
.
• Histórico-gramatical - deriva dos Reformados do sé culo XVI, onde a verdade do texto
escrito tomou seu lugar de direito, afastando as interpretaçõ es alegó ricas do catolicismo.
Baseia-se no estudo profundo de cada palavra, de cada frase e de seu contexto literá rio.
Ensina-nos Blaising, C.A.: “Que o livro do Apocalipse está cheio de símbolos e @iguras não é uma razão válida
para recusar o que ele ensina, quando esse ensinamento pode ser discernido dentro de um estilo gramatical,
literário e contextual.”(23)
• Histórico-crítico (ou liberal) - nega a inerrâ ncia da Escritura e foca-se nas fontes dos
textos (algo quase impossı́vel de se deHinir) e em seus aspectos de redaçã o. Nã o que a forma
de redaçã o seja irrelevante, mas de forma alguma ela anula o espı́rito do texto.
• Pós-moderno - é basicamente um buffet hermenê utico, onde o interprete alegoriza o que
lhe interessa, critica o que lhe convé m e extrapola sempre que seja em seu benefı́cio. Daı́
surgem “Doze dias de culto para doze meses de bençã o”, “Fogueira Santa, em Israel” e outras
atrocidades. Veja o que disse Vanhoozer, K.J. a este respeito: “… Permita o @lorescimento de uma
centena de ideologias, contanto que não se torne nenhuma delas muito a sério. Por que não ler a Bíblia de forma a
apoiar seu estilo de vida preferido? A leitura de todos os outros também é apenas uma projeção de preconceitos.
Tudo é relativo à identidade do leitor. Alguns lêem a Bíblia a partir da perspectiva marxista; outros, da capitalista;
alguns a lêem com o viés heterossexual, outros a partir da perspectiva homossexual; ainda outros a lêem como
calvinistas; outros, como arminianos. Os pós-modernistas concedem permissão a todos eles para lerem a Escritura
de acordo com sua predição.” (2)
• Alegórico - Ainda cedo na histó ria da igreja, muitos estudiosos sé rios, tendiam a fazer uma
interpretaçã o alegó rica dos textos bı́blicos, buscando um sentido oculto no texto ou uma
verdade mais elevada. Eles seguiam um mé todo que hoje chamamos de “Alexandrino” e que
foi muito usado, nã o apenas para o texto sagrado, mas també m para os escritos Homero e
Platã o. Seu maior expoente foi Philo de Alexandria, um teó logo-Hiló sofo judeu do sé culo I,
6
mas també m foi muito empregado pelos pais da igreja. Como curiosidade, veja como
Agostinho de Hipona (que fora fortemente inHluenciado por Ambró sio de Milã o, famoso por
sua alegorias elaboradas e até certo ponto mı́sticas) interpretou a pará bola do bom
Samaritano encontrada em Lc 10.30-37. Perceba como pequenas aspectos da passagem
tomam um sentido jamais imaginado pelo autor: (1) o homem é Adã o; (2) Jerusalé m é a
cidade celestial; (3) Jericó é a Lua, que signiHica nossa mortalidade; (4) os ladrõ es sã o
demô nios, que roubam do homem sua imortalidade e batem nele o obrigando a pecar; (5) o
sacerdote e o Levita representam os ministros do Antigo Testamento; (6) o bom Samaritano
é Jesus; (7) o enfaixar as feridas é equivalente a resistir ao pecado; (8) o ó leo e o vinho sã o
encorajamentos a persistir no trabalho; (9) o burrinho é a encarnaçã o; (10) a hospedaria é a
igreja; (11) o dia seguinte representa a ressurreiçã o de Cristo; (12) o dono da hospedaria é o
apó stolo Paulo e (13) os dois dená rios sã o os dois mandamentos para amar. (Quaestiones
Evangeliorum 2.19)(9)
Agora que já conhecemos as quatro escolas bá sicas da hermenê utica, resta-nos escolher qual
mé todo seguir. Opto sempre pelo mé todo histó rico-gramatical, pois ele nos livro do perigo do vié s
teoló gico, algo normalmente enunciado na forma de “nó s os batistas” ou “nó s os reformados” que
reHlete um termo empregado nas salas de estudo bı́blico, conhecido por “ó culos hermenê utico”. Quando
o que nos restringe na questã o interpretativa é o texto inteligı́vel, estaremos a salvo do que os
“presbité rios”, as “Convençõ es nacionais” ou os “lı́deres da igreja” consideram melhor ou mais aplicá vel
a seus rebanhos. Ou como disse o doutor Feibenrg: “tanto os pré-milenistas como os amilenistas admitem que a raiz
das suas diferenças reside no método de interpretação bíblica. . .”()
O grande e real perigo do “ó culos hermenê utico” é que ele nã o ajuda a enxergar melhor, pelo
contrá rio, ele distorce o senso ó bvio, adultera a denotaçã o bá sica das palavras e expande o texto a
patamares impensá veis ao autor bı́blico. Um modo mais grosseiro para descrever essa atitude é
chamá -la de preconceito, no sentido de se aproximar de um texto já com uma resposta deHinida e nã o
procurar extraı́-la dele. Conforme orienta Ladd, G.E.: “A abordagem exegética deve sempre preceder a teológica […]
Ninguém pode aproximar-se das Escrituras com um sistema escatológico e ajustar os registros escriturísticos a ele”(26)
Para todos os efeitos, seguirei a interpretaçã o literal, histó rica e gramatical, ao má ximo que as
normas de escrita e as doutrinas ortodoxas permitirem. O que for-nos impossı́vel de explicar,
humildemente nã o explicaremos; ainda que no texto em questã o nã o existam grandes desaHios
textuais.
2.1.2) Perspectiva histórica na interpretação desta passagem
A herança teoló gica cristã já completa 2.000 anos, e nela encontramos muitos irmã os
dedicados que se debruçaram sobre a Escritura e que hoje nos servem de referê ncia. Vejamos algumas
referê ncias:
• Irineu de Lyon - (Contra as heresias, 5:32) defende Hirmemente a futura existê ncia um reino de
•
•
mil anos na Terra, principalmente tendo em mente os que deram sua vida por Cristo durante as
perseguiçõ es e que merecem um conforto futuro no Reino.
Justino Mártir - (Diálogo com Tritón, 80) "Eu e outros cristãos, que somos impecáveis na retidão de
nossa pro@issão de fé, estamos seguros que haverá uma ressurreição dos mortos, e um reino de mil anos
em Jerusalém, que será aumentada, embelezada e adornada, conforme anunciam o profeta Ezequiel e o
profeta Isaías e outros”
Tertuliano de Cartago - (Contra Marcion, 24) “Mas confessamos que um reino nos é prometido na
terra, embora antes do céu, apenas em outro estado de existência; na medida em que será após a
ressurreição por mil anos na cidade divinamente construída de Jerusalém”
O historiador da Igreja, Phillip Schaff, diz: “O ponto mais marcante na escatologia do pré-niceno é o
proeminente quiliasmo, ou milenarismo, que é a crença de um reinado visível de Cristo em glória na terra com os santos
ressuscitados por mil anos, antes da ressurreição geral e do julgamento. . Na verdade, não era a doutrina da igreja incorporada
em qualquer credo ou forma de devoção, mas uma opinião amplamente corrente de professores ilustres, como Barnabé, Pápias,
Justino Mártir, Irineu, Tertuliano, Metódio e Lactâncio;”(29) sendo o mesmo ponto observado por Hannah J.D. outro
historiador renomado: “Ao discutir eventos futuros, os pais da igreja adotaram um entendimento pré-milenista: isto é, os
primeiros escritores depois dos apóstolos entenderam que Cristo retornaria à terra e reinaria @isicamente antes do julgamento
7
Alé m do livro de Apocalipse(15), encontramos o Didaquê e a epı́stola de Barnabé como
representantes textuais dessa primeva esperança escatoló gica.
@inal.”(30)
Ainda que houvesse um contraponto entre os pais da igreja oriental, como Clemente de
Alexandria e Orı́genes, os quais eram mais fortemente inHluenciados pela HilosoHia grega (platonismo),
houve sempre a rejeiçã o da promessa milenar terrestre denominada quiliasmo (do grego chilioi = mil),
o milenarismo literal era a opiniã o mais aceita. Atente que a rejeiçã o se dá por questõ es extratextuais,
ou seja, nunca baseadas na Escritura, mas sim em circunstâ ncia humana. Seu principal argumento,
seguindo a doutrina platô nica, é o conHlito permanente entre carne e espı́rito, sendo esta, considerado
o mais elevado; e criando assim a necessidade de se espiritualizar certos textos bı́blicos, incluindo a
questã o de Ap 20.
Entã o o que houve para que essa interpretaçã o mudasse do literal para algo Higurado, ou dito
por alguns, como Agostinho, espiritualizado? Dois pontos principais devem ser levado em
consideraçã o:
.
1) Tempo - O tempo inclinou a interpretaçã o para um caminho nã o bı́blico, pois enquanto as
primeiras geraçõ es aguardavam um retorno quase que imediato de Cristo (termo chamado de parúsia),
e por isso lidavam de maneira estrita com o texto bı́blico, aqueles que forma chegando nas dé cadas
seguintes começavam a buscar maneiras de lidar com a demora da segunda vinda do Senhor.
2) Estatização da Igreja - Apó s a Igreja se tornar estatal, e assumir a perspectiva de ser um
“novo Israel” foi necessá rio aos teó logos oferecer alternativas aos ensinos primevos. Como o Novo
Testamento nunca se desconecta plenamente do Antigo, e algumas promessas divinas sã o perenes e
independentes da participaçã o humana (judeus), tornava-se necessá ria uma maneira de desviar de
Israel as bençã os prometidas; entre elas, o milê nio.
Por isso, quando chegamos ao quarto sé culo, com a igreja papal já dominando o cená rio
mundial, encontramos Eusé bio(12) e posteriormente Jerô nimo(11) e Agostinho(10) caminhando contra o
milê nio literal. Talvez venha do pró prio Agostinho, o qual nunca foi muito aHicionado do literalismo e
da exegese, em seu monumental livro A cidade de Deus a repressã o ao quialismo dentro do impé rio
romano de fala latina. Ouçamos o que fala Roloff, J. a este respeito: “De acordo com ela (negação do quialismo), o
reino de mil anos abrangeria o tempo desde a primeira aparição de Cristo na terra até o seu retorno – isto é, o tempo da igreja.
Esta interpretação, que desescatologiza fortemente o texto, foi extraordinariamente importante; formou o solo fértil para a
ideologia imperial dos imperadores medievais, bem como para a reivindicação mundana de domínio do papado. O pânico do
declínio do mundo que tomou conta de toda a Europa por volta do ano 1000 d.C. também remonta a ele.”(14) Veja como a
distorçã o da verdade bı́blica é perniciosa, principalmente quando vai de encontro com os poderosos.
Conforme falamos logo na introduçã o deste trabalho, a teologia reHlete as necessidades da
igreja durante o tempo, por isso tais irmã os, valorosı́ssimos em nossas vidas, acabaram tendo suas
percepçõ es embotadas, já que muitas de suas posiçõ es foram erguidas contra HilosoHias espú rias, como
aquela que propunha um milê nio de festas (até imorais)(13) Fica evidente que nestes estes casos, a
negaçã o do Milê nio se dá puramente de maneira Hilosó Hica, sendo que nenhum dos teó logos citados
acima lidam com o texto escrito, com sua exegese e sua hermenê utica original; por isso falham em
buscar apenas contextualizar Ap 20 à s suas necessidades.
Chegando ao sé culo XIX, alguns estudiosos insatisfeitos com o papel da igreja estatal, fosse ela
romana ou anglicana, começaram a buscar o sentido textual de passagens até entã o espiritualizadas ou
aplicadas de maneira Higurada. John Nelson Darby é o grande referencial dessa primeira geraçã o e o
propositor de uma interpretaçã o pré -milenial a qual veio a ser conhecida por Dispensacionalismo.
Outro ponto fundamental do sistema de Darby é a distinçã o entre Igreja e Israel.
Ao aceitar que Israel tem um espaço no plano divino é -nos necessá rio “rejeitar qualquer
interpretação alegórica da profecia, o resultado sendo que as profecias do Antigo Testamento sobre a salvação de Israel não
deveriam ser reinterpretadas em termos da Igreja, mas deveriam ser interpretadas literalmente, o que signi@ica que Deus ainda
tinha um lugar para a nação de Israel futuro escatológico.”(33) E aqui reside todo o debate, pois os qualquer teó logo
honesto é capaz de identiHicar as palavras de Apocalipse 20 e traduzi-las adequadamente, o problema é
a consequê ncia de ser Hiel ao texto, pois isso faria-os ter de rever sua posiçã o de que a Igreja substituiu
o Israel é tnico.
Repito: Nã o se trata de uma diHiculdade textual e sim de uma diHiculdade historico-Hilosó Hica de
colocar a Igreja e Israel em seu devido lugar.
A Palavra de Deus é eterna, imutá vel e sempre eHicaz, por isso repare como a distorçã o de
Eusé bio, para defender a fé de um herege de sua é poca, agora nã o faz tanto sentido para nó s do sé culo
8
XXI, mas as palavras inspiradas pelo Espı́rito Santo e escritas por Joã o ainda sã o as mesmas, onde χίλια
ἔτη continua signiHicando Mil Anos, no sentido denotativo e direto da palavra.
2.2) Armadilhas no processo de interpretação
Mesmo seguindo o mé todo histó rico-gramatical nã o estamos livres de diHiculdades,
principalmente aquelas impostas pelos pró prios inté rpretes. Uma dessas armadilhas é conhecida como
“Escritura se interpreta com Escritura”, no sentido até vá lido de se utilizar a pró pria bı́blia para se lidar
com trechos mais complexos. O problema dessa abordagem é que sã o poucos os textos que se
relacionam diretamente com outro em especı́Hico. Preste atençã o no que escrevo, pois de maneira
alguma aHirmo que alguma parte nã o seja inspirada ou entã o que pertença a uma segunda categoria de
revelaçã o; mas sim que o sentido original proposto pelo autor daquele texto é o que deve prevalecer.
Veja, por exemplo, Is 53.4-5 “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores
levou sobre si; e nós o reputávamos por a@lito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas
transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados.” é interpretado pelo apó stolo Mateus em Mt 8.16-17 “Chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos
endemoninhados; e ele meramente com a palavra expeliu os espíritos e curou todos os que estavam doentes; para
que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e
carregou com as nossas doenças.” Existe uma ú nica e grande diferença entre Mateus e nó s: ele foi Inspirado
em seu texto pelo pró prio Espı́rito Santo, e nó s nã o o somos. Por isso devemos sempre cuidar para nã o
nos servirmos da Escritura para tentar provar algum ponto nosso em discussã o.
Muitas vezes, na â nsia de encontrar subsı́dio a uma opiniã o que nã o condiz com o texto em
aná lise, o inté rprete começa a citar textos salteados da Bı́blia, o quais o autor original nunca imaginou
ao redigir seu trabalho inspirado. Em nosso caso especı́Hico, se Joã o nã o cita nem se baseia em um texto
de outro autor, nã o é honesto buscar em outro texto uma resposta que Joã o nã o nos apresenta. Existe
uma maté ria do estudo de teologia chamada Teologia Bı́blica (nã o que o restante da teologia o seja, tá ),
a qual se debruça sobre o modo como um autor se expressa e como um livro em questã o deve ser
estudado. Nem sempre o modo como Paulo escreve se harmoniza com o de Pedro, nem o de Pedro com
Joã o e por aı́ vai. Lembre-se de que, mesmo o Novo Testamento, levou muito tempo para ser escrito,
teve diversos autores em diversos contextos de vida, por isso, ainda que o Espı́rito seja o mesmo, o
texto escrito é muito diverso. Bı́blia nã o é um daqueles sucos e caixinhas pasteurizados!
Tomemos agora o texto do profeta Daniel 9.24 , o qual fala sobre as setenta semanas: “Setenta
semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar
@im aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o
Santo dos Santos.” Apesar deste texto, assim como Ap 20, descrever uma visã o inspirada, nã o podemos
utilizá -lo como parâ metro de comparaçã o, uma vez que o emprego das palavras por Daniel nã o é o
mesmo de Joã o.
Certamente existem temas em comum, profecias e revelaçõ es que se complementam, como, por
exemplo, a forte conexã o de Ezekiel 38 até 48 como Ap 19-22, por isso devemos usar estes pontos
como apoio a nossa interpretaçã o, mas nunca tentar impor a linguagem de um autor sobre a do outro.
Carson e Beale explicam: “Na verdade, o leitor não familiarizado com o AT terá di@iculdade para ver algum sentido em
Apocalipse. A esse respeito, Apocalipse deve ser lido à luz do AT, mas não de for ma excessivamente “literal”. No entanto, ao passo
que o AT interpreta o NT, o NT também interpreta o AT — a Escritura interpreta a Escritura. Sobre o “valor nominal” de uma
profecia, essa abordagem argumenta que João deve ter a palavra @inal, uma vez que a está interpretando pela perspectiva
histórico-redentora, um estágio mais avançado da revelação progressiva que “retira o véu” da revelação anterior.” (16)
Existe um aspecto muito importante em qualquer vocabulá rio que é o sentido de uma palavra,
ou seja, qual a intençã o do autor em empregá -la. Por exemplo, quando falamos em “milho-verde” nos
referimos a cor dele, no sentido fı́sico (onde ondas de luz sã o reHletidas ou absorvidas) ou nos
referimos ao estado ainda novo, imaturo, do produto. Em ambos os caso o adjetivo “verde” é vá lido,
poré m no primeiro caso ele possui denotativo (lato sensu) e enquanto no segundo conotativo, o que
nada mais é que uma ideia afetiva e até metafó rica, ou como diria Garcia, O.M. “denotação é o elemento
estável da signi@icação de uma palavra, elemento não subjetivo e analisável fora do discurso (contexto), ao passo
que conotação é constituída pelos elementos subjetivos, que varia, segundo o contexto.”(6) Caso estejamos lendo
um livro sobre design grá Hico ou sobre artes grá Hicas, o sentido de “verde” penderia muito mais para o
aspecto da cor, enquanto se o tó pico do texto for culiná rio, diHicilmente algué m teria dú vida em pegar
um milho de cor amarela, mesmo a receita indicando “milho-verde”. Este tipo de deHiniçã o nã o é meu,
tã o pouco novo, já sendo empregado desde o pensamento escolá stico iniciado no sé culo IX e que
9
perdurou até o sé culo XVI, tendo seu maior expoente em Thomá s de Aquino e que fora reanimado por
Mill, J.S. em um livro, de 1843, chamado Sistema de ló gica dedutiva e indutiva.
A bı́blia utiliza o nú mero mil de maneira conotativa (Higurada) em usos temporais e nã o
temporais, veja:
• usos não temporais
• Dt 1.11 “O Senhor, Deus de vossos pais, vos faça mil vezes mais numerosos do que sois e vos
•
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•
•
•
•
abençoe, como vos prometeu.”
Js 23.10 “Um só homem dentre vós perseguirá mil, pois o Senhor, vosso Deus, é quem peleja por
vós, como já vos prometeu.”
Jó 9.3 “Se quiser contender com ele, nem a uma de mil coisas lhe poderá responder.”
Sl 50.10 “Pois são meus todos os animais do bosque e as alimárias aos milhares sobre as
montanhas.”
Ct 4.4 “O teu pescoço é como a torre de Davi, edi@icada para arsenal; mil escudos pendem dela,
todos broquéis de soldados valorosos.”
Dn 7.10 “Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e miríades
de miríades estavam diante dele; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros.”
Am 5.3 “Porque assim diz o Senhor Deus: A cidade da qual saem mil conservará cem, e aquela da
qual saem cem conservará dez à casa de Israel.”
• usos temporais
Dt 7.9 “Saberá s, pois, que o Senhor, teu Deus, é
•
•
•
Deus, o Deus Hiel, que guarda a aliança e a
misericó rdia até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos”
Sl 84.10 “Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; pre@iro estar à porta da casa do meu
Deus, a permanecer nas tendas da perversidade.”
Ec 6.6 “ainda que aquele vivesse duas vezes mil anos, mas não gozasse o bem. Porventura, não
vão todos para o mesmo lugar?”
O aspecto a ser respeitado nos textos acima é sua teologia bı́blica e a linguagem especı́Hica de
cada autor, por isso devemos entender profundamente cada texto antes de propor qualquer tipo de
debate. Em Apocalipse 20, seria a linguagem de Joã o conotativa (Higurada) ou denotativa (literal e
especı́Hica)? Bem, proporemos uma resposta a esta questã o ao Hinal de nosso estudo.
O Apocalipse, apresenta muita Higura de linguagem, muita metá fora e muito espaço para
interpretaçã o e contextualizaçã o, poré m, em quase todos os usos de numerais, seja para deHinir
quantidade de personagens, eventos, para unidades de medida, como tempo ou distâ ncia, sã o
especı́Hico e nã o se discute sobre a literalidade dessas informaçõ es. Por exemplo, você já ouviu algum
estudioso sé rio questionando a quantidade das igrejas a quem Joã o escreve? Ap 1.4 “João, às sete igrejas
que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete
Espíritos que se acham diante do seu trono” Algué m questiona o nú mero dos cavaleiros do Apocalipse? (Ap
6) Podemos e devemos interpretar muita informaçã o sobre estes cavaleiros, mas nunca se questiona
sua quantidade. O mesmo podemos dizer sobre os 6 selos descritos na mesma passagem, aHinal, quem
especula que nã o sejam nesta exata quantidade? Posso levantar mais uma dezena de casos, exclusivos
em Apocalipse, poré m acredito que já tenha Hirmado o ó bvio, os nú meros aqui devem ser entendidos
denotativamente, ou seja, no sentido literal e comum da palavra.
“Aí está, pois — citamos agora textualmente — a importante diferença entre o sentido extensional e o sentido
intensional , a saber; quando as declarações têm sentido intensional, a discussão pode prosseguir inde@inidamente,
daí resultando con@litos irreconciliáveis. Entre indivíduos, pode provocar a ruptura de laços de amizade; na
sociedade, ocasiona a formação de grupos antagônicos; entre as nações, pode agravar tão seriamente as tensões já
existente que se criam obstáculos à solução pací@ica dos desentendimentos.” (Hayakawa, 1952:59)
10
2.2.1 Texto e Contexto
.
.
1.
2.
3.
4.
5.
.
1.
2.
3.
4.
Segundo o dicioná rio Oxford Languages(8) Texto signiHica:
conjunto das palavras escritas, em livro, folheto, documento etc. (p.opos. a comentá rios, aditamentos,
sumá rio etc.); redaçã o original de qualquer obra escrita."um t. manuscrito”
trecho ou fragmento de obra de um autor."o t. de Graciliano Ramos”
passagem da Bı́blia que se toma para servir de tema ou assunto de um sermã o.
qualquer material escrito que se destina a ser falado ou lido em voz alta.
ARTES GRAZ FICAS - parte principal de livro ou outra publicaçã o, com exclusã o dos tı́tulos, subtı́tulos,
epı́grafes, gravuras, notas e etc.
enquanto Contexto signiHica:
inter-relaçã o de circunstâ ncias que acompanham um fato ou uma situaçã o."o c. histó rico da Guerra de
Canudos”
conjunto de palavras, frases, ou o texto que precede ou se segue a determinada palavra, frase ou texto, e
que contribuem para o seu signiHicado; encadeamento do discurso.
Linguı́stica Estrutural - Ambiente
Linguı́stica Sociolinguı́stica - conjunto de condiçõ es de uso da lı́ngua, que envolve simultaneamente, o
comportamento linguı́stico e social, e é constituı́do de dados comuns ao emissor e ao receptor.
Vale ressaltar uma pequena observaçã o sobre a origem latina desta palavra, apresentada ao rodapé da
mesma pá gina do Oxford Languages: latim contextus, variaçã o do latim contexere ‘entrelaçar, reunir tecendo’.
Está ú ltima explicaçã o revela a mais profunda funçã o do contexto, a qual é a entrelaçar o que foi dito
antes com o que será dito a seguir. EZ o contexto que nos impele a uma interpretaçã o literal ou nos dirige à s
metá foras e alegorias.
A expressã o “Escritura se interpreta com Escritura” é vá lida dentro de um parâ metro fundamental:
o Contexto. Caso uma frase, ou pensamento, seja deveras intrincado, seu contexto imediato nos servirá
de todo o auxı́lio necessá rio, com a ú nica excessã o de que se trate de algo nã o revelado por Deus a nó s.
Vejamos o que um especialista em gramá tica e semâ ntica tem a dizer sobre “contexto”:
“o que determina o valor (= sentido) da palavra é o contexto. A palavra situa-se numa ambiência que lhe @ixa, a cada
vez e momentaneamente, o valor. É o contexto que, a despeito da variedade de sentidos de que a palavra seja suscetível, lhe impõe
um valor “singular”; é o contexto que liberta de todas as representações passadas, nela acumuladas pela memória, e que lhe
atribui um valor “atual”.” (Vendryes, 1921: 211)
Uma vez que os outros nú meros do Apocalipse fazem sentido se os interpretarmos
literalmente, e este també m faz, é impossı́vel provar que qualquer nú mero do Apocalipse seja
simbó lico.(24) Durante a aná lise do texto veremos como nã o é plausı́vel outra interpretaçã o que nã o seja
a literal.
Você pode descobrir facilmente a honestidade (ao menos intelectual) de um pregador ao
analisar o quã o distante do texto em questã o ele irá à busca por consolidar sua opiniã o. Se estudamos
Ap 20, o qual foi Inspirado e foi intelectualmente redigido por um escritor (o apó stolo Joã o), este texto
deve ser suHiciente para se autoexplicar. O nome do livro que estudamos, em grego é Apocalipse, e em
nossa lı́ngua Revelaçã o; portanto, nunca, nunca foi um livro de enigmas, charadas e misté rios
insondá veis. Mesmo quando o autor é crı́ptico em seu escrito, como em Ap 13.18 “Aqui está a sabedoria.
Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e
sessenta e seis.” o texto é nı́tido em aHirmar que o entendimento humano é capaz de compreender o que é
proposto. Como vimos acima, na deHiniçã o sobre contexto 4, lidamos com dados comuns ao emissor
(apó stolo Joã o) e ao receptor (a igreja a quem ele dirigiu o livro).
SENTIDO ESPIRITUAL OU FICTÍCIO (alegórico)
Algo que merece ser detalhado em nossa conversa é o sentido específico de alguns termos
empregados nessa discussão. Acontece que, com a ampla dispersão do ponto de vista de Agostinho, tudo
o que passou a ser interpretado como não literal, ficou conhecido por “espiritualizado”, sendo que o
correto seria chamar de “sentido figurado” ou “alegórico”. Por isso, muitas vezes, quando buscamos apoio
na literatura cristã encontramos certa dificuldade de compreensão.
Veja o exemplo do Abismo onde o dragão será aprisionado. Trata-se de algo espiritual, afinal, tanto
11
o anjo que prende, quando o demônio é preso, são seres espirituais no sentido pleno da palavra. Por isso,
falham aqueles que buscam fugir da interpretação do milênio ao postular que, pelo fato de não podermos
identificar num mapa a posição geográfica do Abismo, o mesmo não existe. O máximo que tal proponente
pode dizer é que ele prefere alegorizar o tópico, mas nunca poderá sustentar que o anjo, a corrente, a
chave, o prisioneiro e seu cativeiro não existam.
3) Análise do texto
.
Estamos chegando na parte Hinal do livro da revelaçã o, e aqui o apó stolo Joã o nos apresenta
temas até entã o desconhecidos a todos, sendo que nem mesmo o ensino de Jesus, em Mateus 24 e 25,
fora tã o distante nos eventos do Hinal dos tempos. E aqui surge um dos primeiros questionamentos
daqueles que preferem negar a literalidade do texto, dizem eles: essa doutrina do milê nio nã o aparece
em lugar algum da Bı́blia. Quanto a isso, eles estã o certos, pois como mencionado, Joã o traz-nos uma
revelaçã o iné dita aqui. Entã o, qual é o problema?
Bem. Uma vez que nenhum cristã o verdadeiro irá propor que este capı́tulo nã o seja inspirado
por Deus, nem tã o pouco que o texto que chegou até nó s contenha erros, entã o a ú nica alternativa que
tais irmã os tê m é distorcer o texto. E aqui te ensino outro termo teoló gico profundo chamado de
“cambalhota textual”. Que nada mais é que uma tentativa quase tola de rodopiar para cá e para lá
buscando dizer que algo que a Bı́blia diz é diferente do que a Bı́blia diz. Palace loucura, nã o? E é . Só nã o
entendo porque nã o é preferı́vel nos submeter ao que está escrito e lutar com as implicaçõ es que o
texto nos impõ e.
A abordagem que sigo é atrelada à ordem do texto inspirado, ou seja, existe uma ordem
cronoló gica entre os capı́tulos 19-20-21-22. Para um leitor com um mı́nimo de bom senso, tal
explicaçã o pode parecer desnecessá ria, poré m, infelizmente o meio evangé lico é tã o cheio de
aberraçõ es, que alguns inté rpretes buscarã o mudar a ordem destes capı́tulos Hinais, apenas no afã de
buscar sustentar uma visã o nã o linear, nã o histó rica e nã o gramatical.
“Poucos versículos da Bíblia são mais cruciais para a interpretação da Bíblia como um todo do que os
versículos iniciais de Apocalipse 20.”(21) John F. Walvoord
Vejamos a primeira unidade de pensamento:
1Então
vi descer do céu um anjo que tinha na mão a chave do abismo e uma grande
corrente.
segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil
anos. 3Lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as
nações até se completarem os mil anos. Depois disso, é necessário que ele seja solto por um
pouco de tempo.
2Ele
v.1 Inicia-se o capı́tulo com uma frase recorrente no livro “Então vi um anjo” a mesma que ocorre
em 7.2; 8.2; 10.1; 14.6; 18.1; 19.17; assim demonstrando que existe uma unidade e coerê ncia no modo
como o apó stolo escreve. O texto fala de um anjo, nã o? Algué m proporia discordar de que se trate de
um anjo mesmo, no sentido esperado da palavra? Até hoje nã o houve questionamento sobre isso.
Um detalhe mais sú til é a quantidade de anjos envolvidos na açã o, pois o texto diz se tratar de
01 anjo. A palavra grega ἄγγελον é um substantivo, masculino e singular, o que deHine apenas um ser
em açã o. Novamente te pergunto: algum questionamento?
O texto fala de uma chave e uma grande corrente, algué m questionaria se referir de outra
quantidade aqui? Claro que podemos pensar sobre a natureza destes instrumentos, aHinal o inimigo é
um ser espiritual, assim nã o possuindo um corpo fı́sico como o nosso. Certamente nã o encontraremos
dentro da tabela perió dica as substâ ncias necessá rias para a confecçã o dessa corrente, todavia nã o
devemos tratá -la como apenas uma Higura de linguagem, pois o mundo espiritual é real. Assim como o
anjo nã o é algo Higurado, sendo 100% real, ainda que espiritual, o mesmo vale para a chave e a
corrente.
12
“tinha na mão a chave do abismo” Esta chave havia sido entregue ao anjo lá no capı́tulo 9. 1-2
“O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo.
Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do
poço, escureceu-se o sol e o ar.”
“e o prendeu por mil anos” Se no capı́tulo 12.9 o inimigo é expulso, deHinitivamente, do cé u;
agora ele será detido fora da Terra pelo perı́odo estipulado de mil anos.
v.2 Aqui, o apó stolo usa uma Higura de linguagem, o dragã o δράκοντα, e veja como ele se
esforça para explicar que se trata de um modo de falar e explica detalhadamente o desenrolar de sua
Higura de linguagem. Ou seja, quando Joã o emprega uma Higura, ele a delimita muito bem, sendo a
mesma é empregada també m em 12.9 “E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e
Satanás, o sedutor de todo o mundo” Veja como o autor é muito coerente na escolha de suas palavras e
expressõ es, por isso nã o há motivo para buscar alternativas para distorcer o que Joã o, inspirado,
escreveu. Essa comparaçã o nos conecta diretamente com Gn 3.1-15.
E aqui surge pela primeira vez o termo “mil anos” do grego χίλια ἔτη - chila ete, onde ἔτη se
trata de um substantivo acusativo plural, traduzido por “anos” e χίλια um adjetivo, acusativo plural, na
forma do numeral mil.
Esta mesma χίλια ocorre anteriormente em Ap 11.3; 12.6; 14.20 acompanhe:
• Ap 11.3 “Darei às minhas duas testemunhas que profetizem por mil duzentos e sessenta dias, vestidas
de pano de saco.”
• Ap 12.6 “E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse
alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.”
• Ap 14.20 “E o lagar foi pisado fora da cidade, e saiu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, pelo
espaço de mil e seiscentos estádios.”
Esta informaçã o é importante, porque um dos fundamentos para a interpretaçã o de um texto é
saber como o autor emprega as palavras naquele material. O apó stolo Mateus, cujo texto estudo já à
alguns anos, possui um linguajar distinto do utilizado por Paulo em suas cartas, mas aqui, o texto
inteiro é de Joã o. Sendo selecionado pelo mesmo autor, em um mesmo texto, Hica difı́cil postular que o
numeral mil possua um signiHicado diferente aqui no capı́tulo 20.
Joã o nã o só emprega esta palavra, sempre em sentido literal neste livro, como o faz de maneira
detalhada e especiHicada, o que nos revela seu desejo de deixar bem claro sobre o que se referia. Existe
um livro sobre a gramá tica (cujo conteú do nã o fala de teologia), escrito por Othon M. Garcia, chamado
“Comunicaçã o em prosa moderna” o qual é uma referê ncia absoluta a mais de cinquenta anos, e nele o
professor explica:
“Se, ao descrevermos evocar um aspecto da paisagem campestre, o autor se limita a uma referência generalizadora,
falando apenas em “árvores onde cantam os pássaros”, terá assinalado somente traços indistintos, comuns a uma classe muito
ampla de coisas ou seres. Sua referência é incaracterística. Mas, se @izer como o poeta que se serviu de termos especí@icos, terá
caracterizado de maneira mais precisa aquele aspecto da paisagem: “palmeiras onde canta o sabiá”. No primeiro caso, empregou
palavras de sentido geral; no segundo, serviu-se de termos de sentido especí@ico. Ora, quanto mais geral é o sentido de uma
palavra, tanto mais vago e impreciso; reciprocamente, quanto mais especíGico, tanto mais concreto e preciso.” (4)
Os versı́culos 2 e 3 sã o inspirados em Is 24.21-22, veja: “Naquele dia, o Senhor castigará, no céu, as
hostes celestes, e os reis da terra, na terra. Serão ajuntados como presos em masmorra, e encerrados num cárcere, e
castigados depois de muitos dias.” Poré m, uma diferença fundamental aparece aqui, e é justamente no
emprego da linguagem em relaçã o ao perı́odo de aprisionamento, pois Isaı́as se refere como “depois de
muitos dias” enquanto Joã o é taxativo nos “mil anos”. Um versı́culo nã o é oposto ao outro, pois Isaı́as,
inspirado em seu texto, possivelmente nã o fora informado do tempo cronoló gico de aprisionamento do
inimigo, enquanto Joã o recebeu um complemento iné dito.
Já que o apó stolo Joã o procura ser bem especı́Hico em relaçã o ao perı́odo de reinado terreno de
Jesus, e já que o sentido das palavras e o tema do livro nos permite interpretá -lo da maneira mais
literal possı́vel, é prudente defender que “mil anos” se reHira a um perı́odo de mil anos exatamente
como nossa realidade demonstra. O Dictionnaire de linguistique(5), o qual é uma valiosa fonte na
consulta deste tipo de assunto gramatical, no verbete “connotation”, explica “Denotação é tudo aquilo que,
no sentido de um termo, é objeto de um consenso na comunidade linguística. Assim, “rouge” (vermelho) denota uma
cor precisa em termos de amplitude de onda …” Conforme analisamos pouco acima, denotaçã o se refere ao
sentido esperado de uma palavra, o qual é preferı́vel, a menos que o texto nos impila a outro rumo. Se
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Joã o refrisa por diversas vezes um perı́odo de mil anos, é quase vã a tentativa de fazê -lo se referir a
algo menos especı́Hico.
Caso deixemos de considerar o sentido ó bvio de uma palavra e passemos a inferir o que nos
aprouver, adentramos em um pâ ntano textual onde tudo pode acontecer. Aqueles que labutam contra o
sentido literal propõ em sentidos aleató rios vexató rios. Veja o exemplo proposto por Gentry, K.L.
conhecido defensor de uma interpretaçã o nã o gramá tica da Bı́blia: “Mas o que esse “mil” simboliza? Mil é o
cubo de 10 (10x10x10); dez é um número de perfeição quantitativa (aparentemente porque é o pleno complemento
de dedos dos pés ou das mãos de uma pessoa)(22)(25) Com todo o respeito que o sr.Gentry merece, te pergunto,
essa explicaçã o nã o parece conversa de maluco?
Existe sim certo valor simbó lico nos nú meros utilizados na Escritura, ainda que sua relevâ ncia
seja um tanto quanto aberta à interpretaçã o. Como disse Harrison, E.F, no Comentá rio bı́blico Moody:
“o livro está saturado de linguagem simbólica, e estes símbolos devem receber cuidadosa consideração. Especialmente isto
acontece em relação aos números”(34) Um sinal de que devemos empregar maior atençã o sã o as repetiçõ es de
um nú mero, o que ocorre por diversas vezes com o nú mero 7 (sã o 7 mensagens a 7 igrejas [cap. 2 e 3],
sete selos [6 e 8], sete trombetas [8.2-11.16]), o nú mero 10 que aparece no dragã o vermelho Ap 12.3 e
na primeira besta Ap 13.1 e també m o nú mero 12 (a mulher com coroa de doze estrelas Ap 21.1, doze
portõ es da Nova Jerusalé m Ap 21.12, o muro da cidade com doze fundamentos e por Him, a á rvore da
vida com doze frutos). Todos estes nú meros possuem relevâ ncia e por isso devem ser analisados, mas
em nenhum momento cabe propor que os nú meros nã o sejam exatamente como a matemá tica os
deHine; ou seja, todos representa uma quantidade deHinida, seja de selos, portõ es ou chifres.
Ainda neste tó pico de possı́veis interpretaçõ es para os conjuntos de nú meros, muito chama
minha atençã o o fato do nú mero 12 ser associado ao reino de Deus(35) e nã o o nú mero mil, tã o
enfatizado por Joã o. Uma vez que aqueles que supõ e que os “mil anos” simbolizem algo diferente do
sentido esperado, nã o deveriam eles esperar talvez 1.200 anos?
v.3 Aqui encontramos pela segunda vez a expressã o temporal deHinida “mil anos”, poré m o
mais importante é outra expressã o, a qual serve-nos de prova cabal da literalidade dos mil anos. A
expressã o é “um pouco de tempo” do grego μικρὸν χρόνον - micró n kró non. Repare que, quando
Joã o desejou falar de um perı́odo de tempo, de maneira nã o especiHicada, ele emprega um termo
totalmente distinto de χίλια ἔτη. Ou seja, aqui nã o temos uma precisã o de anos ou dias como a
especiHicada em Ap 11.3, Ap 12.6, Ap 14.20 nem nos versı́culos anteriores, ou subsequentes, aqui do
capı́tulo 20.
O pró prio abismo ἄβυσσον é literal, ainda que nã o possamos deHinir se fı́sico ou espiritual. Veja
como os demô nios já o temiam durante o ministé rio terreno de Jesus: “Rogavam-lhe que não os mandasse
sair para o abismo.” Lc 8.31 Ou seja, os anjos caı́dos temiam literalmente tal puniçã o.
CURIOSIDADE
O livro pseudo-epígrafo chamado Segundo livro de Enoch, também escrito em linguagem
apocalíptica, no trecho 32.2 33.1-2 postula também um Reino de mil anos, baseado na ideia de uma
existência terrestre máxima de 7.000 anos. Segundo essa lógica, assim como o Senhor criou o mundo em
6 dias e descansou no 7º, o mesmo ocorreria com a criação (incluindo a humanidade) que descansaria no
sétimo e último milênio.
Claro que não existe suporte textual a essa conjectura, mas vale para saber que existia um
pensamento sobre o milênio mesmo na antiguidade.
14
Albrecht Dürer, 1511 - The Angel with the Key to Bottomless Pit
15
Sigamos à segunda unidade de pensamento:
4Vi
também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade para
julgar. Vi ainda as almas dos que foram decapitados por terem dado testemunho de Jesus e
proclamado a palavra de Deus. Estes são os que não adoraram a besta nem a sua imagem, e não
receberam a sua marca na testa e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos.
5Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira
ressurreição. 6Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição. Sobre
esses a segunda morte não tem poder; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e
reinarão com ele os mil anos.
v.4 A pró xima cena deixa para trá s as batalhas, aprisionamentos e outros lamentos; agora
vemos um momento de festa com o Reino instaurado em sua plenitude.
Somos conduzidos por Joã o a uma nova visã o, també m iné dita na Escritura, revelando a
ressurreiçã o daqueles que nã o se curvaram ao inimigo durante o perı́odo da tribulaçã o. Note como,
para o apó stolo que vivenciou, mediante uma visã o, estes eventos tã o inesperados, é importante atrelá los ao perı́odo de reinado milenar de Cristo. Sobre os juı́zes sentados nos tronos, um ensino de Cristo,
registrado em Lc 22.29-30 (e Mt 19.28) diz: “Assim como meu Pai me con@iou um reino, eu vo-lo con@io, para
que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgaras doze tribos de Israel.”
Aqui se referindo aos apó stolos. També m existe certa referê ncia a Dn 7.9-11 que fala do tribunal
divino, poré m de maneira mais Higurada: “Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de
Dias se assentou; sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o seu trono eram
chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente. Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares
o serviam, e miríades de miríades estavam diante dele; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros. Então, estive
olhando, por causa da voz das insolentes palavras que o chifre proferia; estive olhando e vi que o animal foi morto, e
o seu corpo desfeito e entregue para ser queimado.”
Existe certo contraste literá rio entre alma e corpo, sendo que neste tipo de frase o autor
demonstra sua habilidade. Repare como aqueles que foram decapitados (suas cabeças foram cortadas)
agora sã o vistos completos, ressurrectos e transformados para reinar por mil anos.
v.5 Ao se referir ao restante dos mortos, mais uma vez, o apó stolo frisa o perı́odo especı́Hico de
mil anos. Joã o parece nã o desejar falar de condenaçã o agora, mas sim celebrar a bem-aventurança dos
que ressuscitarã o para serem sacerdotes.
v.6 μακάριος Fazia um bom tempo que nã o ouvimos essa palavra. Ela foi fundamental durante
o Sermã o do Monte, onde Jesus falava das bem-aventuranças daquele que era crente. Makários é sua
pronú ncia grega, a mesma usada aqui por Joã o para descrever os irmã os que irã o que mantiveram sua
fé durante o tenebroso perı́odo da Tribulaçã o.
Posso parecer repetitivo a você , amigo leitor, mas o texto é tã o atrelado ao perı́odo de mil anos,
que nã o temos como divagar deste objetivo. Aqui encontramos a quinta repetiçã o do mesmo termo em
um espaço de apenas seis versı́culos, nã o lhe parece ó bvio que o autor deseja que algo seja Hixado em
nossa mente?
Neste versı́culo, concluı́-se a explicaçã o sobre a ressurreiçã o e é -nos apresentado como serã o
as atribuiçõ es daqueles irmã os durante o reinado terreno de Cristo.
Concluamos com a terceira unidade de pensamento:
7Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão 8e sairá
para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reunilas para a batalha. O número dessas é como a areia do mar. 9Marcharam, então, pela superfície
da terra e cercaram o acampamento dos santos e a cidade amada. Porém, desceu fogo do céu e
os consumiu. 10O diabo, que os tinha enganado, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde já se
encontram a besta e o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, para todo o sempre.
v.7-8 Iniciamos a terceira unidade de pensamento com a mesma moldura literá ria, a qual todos
já sabem de cor e salteado: Mil Anos. Joã o traz mais revelaçõ es ú nicas e iné ditas sobre uma
surpreendente reviravolta no andamento futuro. Nã o sabemos ao certo que serã o Gogue e Magogue, o
que nã o é de todo inusitado, basta lembrar de quantos paı́ses deixaram de existir nos ú ltimos mil anos
e assim perceber que nã o existe diHiculdade teoló gica alguma em nã o podermos determinar
exatamente a origem das naçõ es rebeliosas. O livro do profeta Ezekiel cita uma naçã o de Gog,
16
originá ria da terra de Magogue, conHira: “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, volve o
rosto contra Gogue, da terra de Magogue, príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal; profetiza contra ele e dize: Assim diz
o Senhor Deus: Eis que eu sou contra ti, ó Gogue, príncipe de Rôs, de Meseque e Tubal.” Ez 38.2-3
Fundamental é apontar mais uma vez que, quando Joã o nã o deseja especiHicar um nú mero, ele
emprega outra construçã o. Aqui ele diz “como a areia do mar” ao invé s de apresentar um nú mero exato, o
que seria difı́cil de se determinar ao avistar uma gigantesca multidã o de soldados marchando.
Entretanto, uma frase atrá s, neste mesmo versı́culo, Joã o é taxativo ao conHirmar o perı́odo de
aprisionamento do inimigo. “Quando, porém, se completarem os mil anos”.
O texto, vez sobre vez, nos apresenta Joã o sendo detalhado, especı́Hico e direto quando assim o
deseja, e Higurativo e abstrato quando lhe aprouve; o que nã o muda é o uso estrito da descriçã o “mil
anos” para se referir ao reinado terreno do Messias. Veja abaixo o uso destes termos:
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Ap 1 - grande corrente - nã o especı́Hico (tamanho)
Ap 2 - mil anos - especí[ico (tempo)
Ap 3 - mil anos - especí[ico (tempo)
Ap 3 - pouco tempo - nã o especı́Hico (tempo)
Ap 4 - mil anos - especí[ico (tempo)
Ap 5 - mil anos - especí[ico (tempo)
Ap 5 - primeira ressurreiçã o - especí[ico (numeral ordinal)
Ap 6 - primeira ressurreiçã o - especí[ico (numeral ordinal)
Ap 6 - segunda morte - especí[ico (numeral ordinal)
Ap 6 - mil anos - especí[ico (tempo)
Ap 7 - mil anos - especí[ico (tempo)
Ap 8 - quatro cantos da terra - nã o especı́Hico* (geograHia)
Ap 8 - como a areia do mar - nã o especı́Hico (quantitativo)
Ap 10 - de dia e de noite - nã o especı́Hico* (tempo)
Ap 10 - sé culos dos sé culos - nã o especı́Hico* (tempo)
*(marcados com
asterisco estã o expressõ es que, para o leitor original possuı́am um sentido muito mais especı́Hico do que percebemos hoje.)
A expressã o “como a areia do mar” é encontrada també m em nos livros que relatam batalhas do
povo judeu, veja por exemplo, Js 11.4 “Saı́ram, pois, estes e todas as suas tropas com eles, muito povo, em multidã o
como a areia que está na praia do mar, e muitı́ssimos cavalos e carros.” Jz 7.12 “Os midianitas, os amalequitas e todos os
povos do Oriente cobriam o vale como gafanhotos em multidã o; e eram os seus camelos em multidã o inumerá vel como a areia
que há na praia do mar.” e 1Sm 13.5 “Reuniram-se os Hilisteus para pelejar contra Israel: trinta mil carros, e seis mil
cavaleiros, e povo em multidã o como a areia que está à beira-mar; e subiram e se acamparam em Micmá s, ao oriente de BeteAZ ven.” Desta forma, revelando que o autor sempre buscou um linguajar pró ximo ao do leitor original,
assim tornando mais simples a compreensã o da mensagem inspirada.
v.9 Muita coisa acontece neste ú nico versı́culo, mas Joã o nã o parece interessado em revelar
detalhes bé licos, tã o pouco se demorar aqui. Encontramos a movimentaçã o de um exé rcito gigantesco,
o cerco ao distrito santo e até mesmo a fulminaçã o dos inimigos, tudo compactado em uma ú nica frase.
Sugiro que sigamos o Hluxo proposto por Joã o e avancemos para o pró ximo versı́culo.
v.10 Chegamos Hinalmente ao Hinal do perı́odo de 1000 anos + curto um perı́odo, e somos
informados do destino Hinal da serpente, lá de Gn 3. Apó s enganar novamente a humanidade,
Hinalmente o diabo é lançado para o sofrimento eterno, expresso no lago de fogo e enxofre que queima
pelos sé culos dos sé culos.
Fundamental notar que Joã o emoldura seu relato com um termo muito importante para este
estudo “dia e de noite, pelos séculos dos séculos” Perceba que aqui nã o existe uma perı́odo de tempo
deHinido em tempo humano, mas sim uma Higura temporal representando a eternidade; o que reaHirma
a escolha do autor pelo emprego, ou nã o, de palavras denotativas (com foco especı́Hico).
17
4) Conclusão
.
O apó stolo Mateus, em seu relato da obra de Cristo, o qual chamamos de Evangelho segundo
Mateus, é obstinado por provar a cada momento possı́vel e imaginá vel que Jesus, de Nazaré , é o
Messias prometido no Antigo Testamento. Cada gesto, cada palavra e cada silê ncio do Mestre cumpria
uma funçã o pré -determinada na Palavra de Deus. Aqui, no capı́tulo 20, de seu registro da Revelaçã o
futura, o apó stolo Joã o demonstra o mesmo ı́mpeto ao deHinir o reino terrestre como tendo a duraçã o
especı́Hica de mil anos. Sã o 6 repetiçõ es em um espaço de apenas sete versı́culos; caso você nã o saiba, a
repetiçã o é a forma como o hebraico enfatiza algo.
Em outro livro que escrevei, chamado “O templo profetizado por Ezekiel”(, trato do templo em
Jerusalé m o qual será restaurado e ungido, com o retorno da Shekinah pela mesma porta a qual ela
abandonou o primeiro pré dio, e o serviço que ali ocorrerá . Pondero ali que, se tal templo nã o vier a
existir no futuro reino milenar, entã o o trecho de Ezekiel de 40-48 nã o passa da Higura de linguagem
mais bem elaborada já escrita; aHinal, sã o pá ginas e pá ginas, de texto Inspirado, apenas para descrever
um reino que nã o existirá Hisicamente. Claro que nã o é essa a opiniã o do profeta, o qual fez questã o de
registrar com o má ximo de Hidelidade a visã o que recebeu, da mesma maneira como o fez o apó stolo
Joã o.
Lembre-se que muito da discussã o que ocorre a respeito do trecho de Ap 19.11-21.8 advé m de
razõ es extratextuais, ou, na melhor das hipó teses hermenê uticas que precisam se encaixar neste
trecho. O texto em si é até que claro, em se tratando de uma revelaçã o futura em um livro de linguagem
apocalı́ptica, por isso, ao nos atermos ao texto Hica até que simples acreditar na literalidade do milê nio.
Entre minha opiniã o e a sua, Hico com a de Joã o, apó stolo de Cristo, que recebeu a visã o e,
mediante a inspiraçã o de seu texto, no-la revelou a nó s sem erro ou falha alguma. Posso estar errado,
aHinal sou falho, mas preHiro me apegar à literalidade do texto sempre que for possı́vel, independente
das diHiculdades que isso nos traga. Assim o fazemos com a Trindade, ainda que nos deHinamos como
monoteı́stas, o mesmo quando defendemos a Uniã o Hipostá tica, mesmo que seja incoerente
matematicamente, Hisicamente e HilosoHicamente.
O estudioso Beale, G.K., diz sobre Joã o e seu livro “O uso do Antigo Testamento no Novo
Testamento e suas implicaçõ es hermenê uticas” diz: Uma vez que se pode atribuir a perfeição absoluta ao caráter e
à palavra de Deus, a mesma qualidade deve ser atribuída à palavra escrita de João. Essa inferência é a mesma feita pelo próprio
autor de Apocalipse: uma vez que o caráter e a fala de Cristo são impecáveis, João é encarregado de registrar as palavras de
Cristo (Deus) porque elas provêm do ser divino cujo caráter — que inclui seu conhecimento de todas as coisas — é infalível.” (17)
Em relaçã o a seguir a interpretaçã o literal, sempre que possı́vel for, concluo com uma deliciosa
histó ria contada por Constable, T.L.: “Quando eu estava estudando hebraico com o Dr. Merrill Unger no seminário,
alguém lhe perguntou na aula o que ele diria ao Senhor se, quando chegasse ao céu, descobrisse que o Amilenismo era verdadeiro
e o Pré-milenismo era falso. Dr. Unger, que era um pré-milenista, respondeu jocosamente que diria: "Sinto muito, Senhor. Eu
simplesmente acreditei em Sua palavra.”(20)
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5) Epílogo
Nã o foi objeto deste estudo tratar de temas como Pré -milenarismo, Amilenarismo ou Pó smilenarismo, ainda que toda a discussã o gire em torno destes temas. Optei por adentrar nessa questã o
porque nosso foco era obter do texto, mediante a exegese e a hermenê utica, a verdade que o autor
busca transmitir. Dessa forma, ao nos aproximarmos sem pré -conclusã o ou necessidade de defender
alguma posiçã o histó rico-denominacional, podemos ser francos com o texto.
Entretanto, para que você possa compreender mais a fundo as posiçõ es conHlitantes à
interpretaçã o histó rico-gramatical é importante avançar seu estudo sobre os tó picos acima. Um bom
ponto de partida é o livro compilado por BOCK, D.L - O milênio - 3 pontos de vista o qual apresenta de
maneira equilibrada as trê s principais posiçõ es relativas ao milê nio. Nele Kenneth L. Gentry Jr defende
o Pó s-Milenarismo, Robert B. Strimple o Amilenarismo e Craig A. Blaising sustenta o Pré -Milenarismo.
Um debate jamais abordado foi o embate entre Dispensacionalismo e Aliancismo, que també m
permeia muito da distorçã o que se impõ e sobre o estudo de Apocalipse 20. Esse tema nos leva a outra
questã o que é a Continuidade ou Descontinuidade do Antigo Testamento, o que també m traz contornos
relevantes à questã o do Reino Milenar.
Uma vigorosa defesa da literalidade da Escritura é apresentada por John Flipse Walvoord no
livro “The revelation of Jesus Christ”, onde ele lida bastante com a questã o exegé tica e també m com as
opniõ es amilenistas e pré -milenista.
Relacionado ao tema da Continuidade/Descontinuidade existe um excelente material
“Continuidade descontinuidade: Perspectivas sobre o relacionamento entre o Antigo e o Novo Testamento”
compilado por John S. Feinberg. Ele esteve em nossa igreja, aqui no Brasil, alguns anos atrá s e
compartilhou muito do que está contido em seu livro.
Outro tó pico a ser explorado sã o as chamadas “Escolas de Interpretaçã o” já que o livro do
Apocalipse desde muito cedo foi lido a partir de algum desses pontos de vista, e em muitos casos, por
uma mistura entre eles. As vertentes interpretativas tradicionais sã o:
• Escola espiritual - diz que o objetivo do livro é transmitir princı́pios espirituais, e por essa
razã o alegoriza quase tudo.
• Escola preterista (passado) - apregoa que o autor descreve acontecimentos ocorridos ainda
no Impé rio Romano, aproximando no má ximo do Hinal do sé culo I.
• Escola historicista - defende que grande parte do livro, como a profecia dos selos, das
trombetas e das taças se referem com o bem-estar da Igreja. També m busca atrelar
historicamente os acontecimentos, poré m estendendo o perı́odo de interpretaçã o até nossos
dias.
• Escola futurista - postula que a grande maioria das visõ es ocorrerã o ao Hinal da era
humana.
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(1) DIAS. A - 2020 - ΚΑΤΑ ΜΑΘΘΑΙΟΝ, segundo Mateus.
(2) VANHOOZER, K.J. 2016, p. 26.
(3) MATOS, A.S. - Fundamentos da teologia histórica - p.19
(4) GARCIA, O.M. - Comunicação em prosa moderna - p.185
(5) DICTIONNAIRE DE LINGUISTIQUE - verberte “connotation”
(6) GARCIA, O.M. - Comunicação em prosa moderna - p.178-179
(7) VENDRYES, J. - Le language - p.211
(8) Oxford Languages - acessado em 04/02/2024
(9) AGOSTINHO de HIPONA - Quaestiones Evangeliorum 2.19
(10) AGOSTINHO de HIPONA - A cidade de Deus - 20.7
(11) JERO† NIMO - Comentário sobre Isaías - 60.1
(12) EUSEZ BIO de CESAREZ IA - História Eclesiástica - 3:38 e 7.24
(13) EUSEZ BIO de CESAREZ IA - História Eclesiástica - 3.28 “Cerinto, um herege, ensinou que o milênio seria um período de desejos,
prazeres e festas de bodas, "onde se daria satisfação ao estômago e às paixões sexuais, comendo, bebendo e casando-se””.
(14) ROLOFF, J. - A Continental Commentary: The Revelation of John - p.223
(15) COLLINS, Y. - Crisis p.54-77
(16) BEALE, G.K. e CARSON, D.A - Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento - p.1442
(17) BEALE, G.K. - Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento e suas implicações hermenêuticas - p.133
(18) TERRY, M.S. - Biblical Hermeneutics, 2nd ed. - p.205
(19) Article VII, “Articles of AfHirmation and Denial,” adopted by the International Council on Biblical Inerrancy, November 10-13,
1982.
(20) CONSTABLE, T.L - Notes on Revelation - p.3
(21) WALVOORD, J.F. - “The Theological Signi@icance of Revelation 20:1-6," in Essays in Honor of J. Dwight Pentecost, - p.227
(22) BOCK, D.L - O milênio - 3 pontos de vista - p.46-47
(23) BOCK, D.L - O milênio - 3 pontos de vista - p.71
(24) J. B. Smith, p. 269; Walvoord, The Revelation . . ., p. 295; Hoehner, p. 249.
(25) MORRIS, L. - p.235 cf. Vern S. Poythress, "Genre and Hermeneutics in Rev 20:1-6," Journal of the Evangelical Theological Society
36:1 (March 1993) - p.41-54.
(26) LADD, G.E. - Crucial questions about the kingdom of God - p.135
(27) WALVOORD, J.F. - The revelation of Jesus Christ - p.4
(28) DIAS. A - 2020 - O templo profetizado por Ezekiel
(29) SCHAFF, P. e SCHAFF, D.S. - History os the christian church v.2 - p.614
(30) HANNAH, J.D. - Our legacy: The history of christian doctrine - p.306
(31) TERTULIANO DE CARTAGO - Contra Marcion - 24
(32) FEINBERG, C.L. - Premillennialism or Amillennialism? - p.13
(33) HARPER, B. - Apocalypse Soon? (New Wine, New Wineskins, Vol. 7, No. 1 (2011)), 68-69 e 67-79. http://new-wineskins.org/
wp-content/uploads/2011/07/Harper.pdf. (accessed February 22, 2015)
(34) HARRISON, F.E. - Comentário bíblico Moody - Apocalipse - p.988
(35) ibid- p.989
(36) ALFORD, H. - New testament for english readers
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MATERIAL DE APOIO
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BIBLIOGRAFIA
DIAS. A. - 2020 - ΚΑΤΑ ΜΑΘΘΑΙΟΝ, segundo Mateus.
VANHOOZER, K.J. 2016,
MATOS, A.S. - Fundamentos da teologia histórica
GARCIA, O.M. - Comunicação em prosa moderna
DICTIONNAIRE DE LINGUISTIQUE
VENDRYES, J. - Le language
OXFORD LANGUAGES - online
CARDOSO, C.O.P - Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento
ROLOFF, J. - A Continental Commentary: The Revelation of John
EUSEZ BIO de CESAREZ IA - História Eclesiástica
JERO† NIMO - Comentário sobre Isaías
AGOSTINHO de HIPONA - A cidade de Deus
AGOSTINHO de HIPONA - Quaestiones Evangeliorum
TERTULIANO DE CARTAGO - Contra Marcion
KOESTER C.R. - Revelation and the End of All Things, Second Edition.
HENRY, M. e SCOTT, T. - Matthew Henry’s Concise Commentary
Robert Jamieson, A. R. Fausset, and David Brown - Commentary Critical and Explanatory on the Whole Bible, vol. 2
WIERSBE, W.W. - The Bible Exposition Commentary, vol. 2
OLSON, N.L. - Através da Bíblia - livro por livro
BARCLAY, W. - Comentário do Novo Testamento
BEALE, G.K. e CARSON, D.A - Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento
BEALE, G.K. - Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento e suas implicações hermenêuticas
THOMAS, R.L. - The principal of single meaning
TERRY, M.S. - Biblical Hermeneutics, 2nd ed.
International Council on Biblical Inerrancy, November 10-13, 1982.
CONSTABLE, T.L - Notes on Revelation
WALVOORD, J.F. - The Revelation of Jesus Christ
WALVOORD, J.F. - “The Theological Signi@icance of Revelation 20:1-6," in Essays in Honor of J. Dwight Pentecost
BOCK, D.L - O milênio - 3 pontos de vista
MORRIS, L. - p.235 cf. Vern S. Poythress, "Genre and Hermeneutics in Rev 20:1-6," Journal of the Evangelical
Theological Society 36:1 (March 1993)
DIAS. A. - 2020 - O templo profetizado por Ezekiel
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HANNAH, J.D. - Our legacy: The history of christian doctrine
FEINBERG, C.L. - Premillennialism or Amillennialism?
HARRISON, F.E. - Comentário bíblico Moody
ALFORD, H. - New testament for english readers
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