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O Pentateuco e os “pentateucos” na Bíblia:
uma abordagem canônica
The Pentateuch and the “pentateuchs” in the Bible:
a canonical approach
Waldecir Gonzaga
Doaldo Ferreira Belém
Resumo
A literatura bíblica está fortemente marcada pelo conjunto dos livros do
Pentateuco/Torá, a partir dos temas, da teologia e de sua estrutura quinquenária.
Constitui-se em um conjunto de “cinco livros” e “instrução” que entrou no
coração e na mente do povo judeu e da tradição cristã. Seus livros são citados
pelos autores bíblicos tanto do AT como do NT. De seus cinco livros, ao longo
das Escrituras Sagradas, encontram-se citações, alusões e ecos de seus
personagens, fatos, temas e teologia. Também há conjuntos de livros que têm
arranjo em forma de “pentateuco”, como os Megillot e o “pentateuco
sapiencial”; ou de livros com estrutura quinquenária, como os Salmos (cinco
livros) e o Evangelho de Mateus (cinco discursos). É o único corpus bíblico
aceito por judeus e cristãos em sua estrutura e arranjo, de forma inalterável.
Olhando para o Pentateuco Samaritano, menor cânon bíblico, entende-se seu
valor e alcance na vida religiosa, como Palavra de Deus revelada e inspirada.
Este artigo tem como escopo olhar para esta realidade e chamar a atenção para
seu valor, indicando vários “pentateucos” bastante conhecidos – e outros menos
conhecidos, mas que certamente devem ter sofrido algum grau de influência da
literatura e da teologia do Pentateuco/Torá.
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Palavras-chave: Bíblia. Pentateuco. Torá. “Pentateucos”. Antigo e Novo
Testamento.
Abstract
The Biblical literature is strongly marked by the set of books of the
Pentateuch/Torah, from themes, theology and its quinquennial structure. It is a set
of “five books” and “instruction” that entered the heart and mind of the Jewish
people and the Christian tradition. His books are cited by both OT and NT biblical
authors. From his five books, throughout the Holy Scriptures, there are quotations,
allusions and echoes of his characters, facts, themes and theology. There are also
sets of books that are arranged in the form of a “pentateuch”, such as the Megillot
and the “sapiential pentateuch”; or books with a quinquennial structure, such as the
Psalms (five books) and the Gospel of Matthew (five discourses). It is the only
biblical corpus accepted by Jews and Christians in its structure and arrangement,
in an unalterable way. Looking at the Samaritan Pentateuch, the smallest biblical
canon, one understands its value and scope in religious life, as the revealed and
inspired Word of God. This article aims to look at this reality and call attention to
its value, indicating several well-known “pentateuchs” – and others less known, but
which certainly must have suffered some degree of influence from the literature
and theology of the Pentateuch/Torah.
Keywords: Bible. Pentateuch. Torah. “Pentateuchs”. Old and New Testament.
Introdução
O corpus do Pentateuco, terminus technicus, ou Torá (instrução =
indicação e noção do conteúdo), é o conjunto de livros do Antigo Testamento
mais comum a todas as tradições judaico-cristãs, seja em número seja na ordem
em que os livros são dispostos nas Bíblias hoje. Os cinco livros são muito
reverenciados dentro do Antigo Testamento e do Novo Testamento, tanto a
partir de citações explícitas, como de alusões ou ecos de temas próprios do
corpus, o primeiro nas Bíblias, em todas as tradições.
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Olhando nos livros das Sagradas Escrituras, percebe-se uma presença
muito forte da teologia,1 do “Deus de Israel”2 e da estrutura3 do “pentateuco”.
Bastaria correr os olhos para se perceber temas como: criação do mundo e do
ser humano, mundo, humanidade, amor, fé, lei, justiça, pecado, salvação,
aliança, promessa etc., que se encontram dentro dos livros do Pentateuco.
Outro dado interessante é a estrutura do Pentateuco, como arranjo de um
conjunto de livros, o qual abre as bíblias modernas, como primeiro bloco dos livros
do Antigo Testamento, sendo opinio communis entre todas as tradições judaicocristãs.4 Alguns “pentateucos” são muito conhecidos, como o Pentateuco Mosaico,
do Cânon Hebraico, recebido da corrente farisaica, pelo Texto Massorético, do
Códice Leningradenese (Gênesis, Êxodo, Levítico, Número e Deuteronômio) e o
Pentateuco Samaritano, que é o mesmo Mosaico (Gênesis, Êxodo, Levítico,
Número e Deuteronômio). Este é o conjunto dos cinco livros contidos nas Bíblias
modernas, chamado igualmente de Pentateuco, tomando o nome da língua grega.
Aliás, este é igualmente o Pentateuco presente na versão grega da LXX (250 a 150
a.C.) e na versão latina da Vulgata (final do séc. IV d.C.).
Há ainda “outros pentateucos” que são menos conhecidos, mas que é
importante saber da existência dos mesmos. Por exemplo, o Pentateuco dos
Megillot (Rute, Cântico dos Cânticos, Eclesiastes, Lamentações e Ester); tendo
presente o cânon protestante, pode-se falar em Pentateuco dos Profetas Maiores
em relação aos livros protocanônicos, uma vez que Baruc é um livro
deuterocanônico, comum aos católicos e ortodoxos, mas que não entra no cânon
protestante; em relação aos Profetas Menores, é possível falar de um Duplo
Hexateuco, tendo em vista que este corpus é formado por doze livros. Quando se
toma a versão da LXX, então se depara com outros “pentateucos”: o Pentateuco
Histórico (1Esdras, Esdras, Neemias, 1Crônicas e 2Crônicas); o Pentateuco
Feminino (Rute, Ester, Judit, Sabedoria e Suzana);5 o Pentateuco Sapiencial
1 OSWALT, J. N., Pentateuco, Teología del, p. 657-668.
2 MACKENZIE, J. L., Aspectos do Pensamento do Antigo Testamento, p. 1388-1408.
3 STEINER, V. J., Pentateuco, Estrutura Leteraria del, p. 632-642.
4 ZENGER, E., A Sagrada Escritura de Judeus e Cristãos, p. 28-34. p.15-43
5 Sugerimos conferir o artigo SASSI, K. R., O Pentateuco feminino na liturgia judaica e cristã,
p. 1029-1041, que desenvolve um estudo sobre um outro “pentateuco feminino” nas Escrituras
Judaicas, computando os textos de Rute, Ester, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos e Lamentações,
como cinco livros que fazem parte de um ciclo de leitura sinagogal nas festas litúrgicas do povo
de Israel.
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(Provérbios, Jó, Eclesiastes [Qohelet], Eclesiástico [Siracida] e Sabedoria); o
Pentateuco Salomônico, (Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos,
Sabedoria e Eclesiástico). Mas também é possível vislumbrar um Pentateuco
Salmódico (V livros dos Salmos) e um Pentateuco Enóquico (V livros de Henoc).
Pode-se falar igualmente da presença da estrutura de “pentateucos” no
corpus do Novo Testamento. Por exemplo, o “pentateuco” formado pelos
quatro Evangelhos e o livro dos Atos dos Apóstolos (Mateus, Marcos, Lucas,
João e Atos); o Pentateuco Mateano, formado pela estrutura dos cinco
discursos de Cristo ao longo do evangelho de Mateus; o Pentateuco Joanino,
formado pelo Evangelho, mais as 3 cartas e o livro do Apocalipse (Evangelho
de João, 1João, 2João, 3João e Apocalipse de João). Isso demonstra que a
teologia, os temas e a estrutura do Pentateuco entraram no coração e na mente
do povo e da tradição judaico-cristã, visto que “a Torá contém os eventos e a
teologia fundamentais do povo de Deus”.6
Neste artigo, pretende-se analisar a temática, ver e indicar algumas das
possibilidades, bem como o valor do corpus e da literatura da Torá, que é o
conjunto do Pentateuco. Não tem como preocupação a análise da autoria, se
mosaica ou não, sequer suas formas literárias, hipótese documentária e ou
história de sua formação.7 Alguns, com certeza, evidenciarão curiosidade e
aguçarão novas e futuras pesquisas neste campo das Escrituras Sagradas, que
conta com a aceitação comum entre judeus e cristãos de todas as correntes.
1. Origem da palavra “pentateuco”
A
palavra
“pentateuco”
tem
sua
origem
no
grego
“πεντάτευχος/pentateuco”. Etimologicamente é derivada de duas palavras:
“πεντά/cinco” e “τευχος/rolo”,8de papiro, e, por extensão, “volume”, “livro”,
usado para falar dos “cinco recipientes”, “indicando os rolos escritos de
6 MURPHY, R. E., Introdução ao Pentateuco, p. 56.
7 Para tanto indicamos a leitura do texto MURPHY, R. E., Introdução ao Pentateuco, p. 49-57;
BLENKINSOPP, J., El Pentateuco, p. 11-48; SKA, J.-L., Introdução à leitura do Pentateuco, p.
111-140; PURY, A.; RÖMER, T., O Pentateuco em Questão, p. 15-99; ZENGER, E., Os livros
da Torá/do Pentateuco, p. 45-157; GALVAGNO, G.; GIUNTOLI, F., Pentateuco, p. 129-152,
que apresentam uma ideia da problemática e o atual status quaestionis.
8 BAILLY, A., Dictionnaire Grec Français, p. 1513.
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pergaminho ou de papiro que eram guardados em receptáculos”.9 Neste sentido,
o termo é usado para designar “os cinco livros” que são atribuídos a Moisés ou
“ἡ πεντάτευχος βίβλος/o livro em cinco partes”10 (Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio);11 porém, esta autoria foi seriamente questionada
nos últimos séculos, visto que foram escritos após sua morte e época,12 “mas
devemos considerar a formação destes livros ainda como mistério”.13
Há duas formas para se designar os cinco primeiros livros da Bíblica,
pois além de Pentateuco, eles também são chamados de Torá, que constitui o
“fundamento da vida e do pensamento da comunidade judaica”,14 que significa
“instrução”, sendo como que o “centro da Escritura”.
Na Bíblia Hebraica – idioma original de sua escrita –,15 a Torá também
pode significar “coleções de leis” ou um conjunto de livros. Neste sentido, para
referir-se aos cinco primeiros livros da Bíblia, alguns preferem dizer “os cinco
livros da Torá”.16 Como se lê em Js 1,7: “sê forte e corajoso para cumprir toda
a Torá que Moisés, meu servo, prescreveu-te”, todos os livros da Torá são
atribuídos a Moisés.17
O termo grego πεντάτευχος é atestado pela primeira vez no séc. II de nossa
era, numa carta do gnóstico Ptolomeu18 (um contemporâneo de Justino, que teria
vivido entre os anos 136 e 180 d.C.) para sua irmã Flora, numa discussão acerca
da autoria da lei atribuída a Moisés, quando se refere ao “Pentateuco de Moisés”.
Seu uso, então, propagou-se no Cristianismo, como pode ser visto nos Padres da
Igreja Tertualiano, Orígenes e Epifânio para designar os cinco primeiros livros
da Bíblia, atribuídos a Moisés e conhecidos no Judaísmo como Torá.19
Tertuliano, por exemplo, utiliza a palavra “pentateuco” no primeiro de seus cinco
livros contra Marcião, no capítulo 10, ao declarar que muito embora Moisés
9 MURPHY, R. E., Introdução ao Pentateuco, p. 49.
10 ZENGER, E., Os livros da Torá/do Pentateuco, p. 46.
11 ZENGER, E., Os livros da Torá/do Pentateuco, p. 46; BLENKINSOPP, J., El Pentateuco, p.
11; BAILLY, A., Dictionnaire Grec Français, p. 1513.
12 BLENKINSOPP, J., El Pentateuco, p. 13.
13 MURPHY, R. E., Introdução ao Pentateuco, p. 50.
14 GARCIA LÓPEZ, F., O Pentateuco, p. 1294.
15 HESS, R. S., Pentateuco, Idioma del, p. 651-656.
16 GARCIA LÓPEZ, F., O Pentateuco, p. 15.
17 ALEXANDER, T. D., Pentateuco, Autoría del, p. 622-632.
18 GARCIA LÓPEZ, F., O Pentateuco, p. 16.
19 LIM, T. H., The Formation of the Jewish Canon, p. 88.
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“parece ter sido o primeiro a introduzir o conhecimento do Deus”, o “aniversário
desse conhecimento não deve (...) ser contado a partir do Pentateuco”.20
Jerônimo, um dos mais entusiasmados defensores da veritas hebraica,
utilizou essa expressão em sua introdução ao livro de Gênesis, e a reproduziu
no terceiro livro de sua Apologia contra os livros de Rufino:
Do meu caro Desidério recebi as tão desejadas cartas, ele que obteve por sorte,
como por certo presságio de coisas futuras, o mesmo nome que Daniel, ele me
solicita que eu dê aos ouvidos dos nossos compatriotas o Pentateuco traduzido
para a língua latina a partir do idioma hebraico.21
Se o uso da palavra “pentateuco” parece ser exclusivo do Cristianismo,
por outro lado está autenticamente enraizada no Judaísmo. O vocábulo τευχος
já aparece na carta de Aristeias, um escrito provavelmente da era pré-cristã, nos
parágrafos 179 e 310 na sua forma pluralizada “τὰ τεύχη/os rolos”.22 No
contexto, é uma referência clara aos livros da Lei atribuídos a Moisés, sem
necessitar explicitar o número de cinco.23 Por isso, o Judaísmo compreende
“πεντάτευχος/pentateuco” como adaptação para o grego da expressão hebraica
“ḥamishshah ḥumshe ha-Torah/cinco quintos da Torah”.24
É possível, embora não se possa ter certeza, de que a expressão hebraica
seja a mais antiga, visto que “ḥamishshah ḥumshe ha-Torah/cinco quintos da
Torah” é atestada na Mishnah, compilação da lei oral judaica, a qual foi posta
por escrito por volta do ano 200 de nossa era – posterior, portanto, à obra de
Ptolomeu – mas que remete a tradições mais antigas. Essa expressão, na sua
forma aramaica, também é encontrada no Talmud.25 A própria história da crítica
do Pentateuco indica que o mesmo é citado por várias fontes do mundo judaico,
20 TERTULLIAN, The Five Books Against Marcion, p. 278.
21 JERÔNIMO, Apologia contra os livros de Rufino 2,25.
22 BLENKINSOPP, J., El Pentateuco, p. 66.
23 LIM, T. H., The Formation of the Jewish Canon, p. 88.
24 HIRSCH, E. M., Pentateuch, p. 589-592.
25 Por exemplo B. Sotah 36B; b. Baba Metsia 6,8; b Hagigah 14a; j. Megilah 74A; b. Kiddushin
33a (conferir texto em NEUSNER, J., The Babylonian Talmud). Conferir ainda JASTROW, M.
A., חֹומֶ ׁש, Dictionary of the Targumim, the Talmud Babli and Yerushalmi, and the Midrashic
Literature, p. 436.
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como o Talmud, a Mishiná, Flávio Josefo e Filon de Alexandria, bem como
pela tradição cristã, desde seus primórdios.26
Pode-se dizer que, ainda que suas origens não sejam cristãs e sim
judaicas, a palavra “pentateuco” foi “capturada” pelo Cristianismo,
amplamente aceita nos seus diversos ramos, sendo comumente usada no dia a
dia, seja na vida acadêmica seja pela comunidade eclesial que lê e medita a
Palavra de Deus contida na Torá.
Na LXX, o tradutor do livro do Eclesiástico, provavelmente do séc. II
a.C.,27 em seu prólogo ao livro, distingue as Escrituras Sagradas entre a
“νόμος/lei”, os “προφῆται/profetas” e os “βιβλίοις/escritos” (vv.1.8-10.24),
indicando que já era uma nomenclatura e divisão conhecidas entre os judeus.
Acrescente-se a isso, o fato de que os judeus samaritanos aceitavam apenas os
livros da Torá (Pentateuco Samaritano), como sendo genuínos, revelados e
canônicos.28
No que tange ao Novo Testamento, a ideia foi perpassada para seus livros, seja
na Teologia, seja pela questão do número cinco, como os cindo sermões de Cristo no
Evangelho de Mateus ou mesmo na estrutura e arranjo do cânon, como na construção
dos Evangelhos e Atos, por exemplo. Aliás, os grandes temas que permeiam todo o
Pentateuco, de uma forma ou de outra, estão contemplados e marcam presença ao
longo dos livros do Novo Testamento, como: criação, libertação, salvação, aliança,
lei, justiça, promessa, amor a Deus e ao próximo, etc.29
2. Os “pentateucos” no cânon hebraico
Ainda que a palavra “pentateuco” seja uma apropriação cristã, do ponto
de vista canônico a referência é ao conjunto de cinco livros considerados
basilares para a fé judaica, comum a todas as tradições do Judaísmo e do
Cristianismo, sendo, inclusive, aquele que sobrevive ao “arranjo” bíblico quase
sempre intacto em sua ordem, inclusive pelos judeus samaritanos.30 São os
26 ARNOLD, B. T., Pentateuco, Historia de la crítica del, p. 642-656; SKA, J.-L., Introdução à
leitura do Pentateuco, p. 15-17; GALVAGNO, G.; GIUNTOLI, F., Pentateuco, p. 129.
27 BLENKINSOPP, J., El Pentateuco, p. 11.
28 WILLIANS, P. J., Critica Textual, p. 196-202.
29 GARCIA LÓPEZ, F., O Pentateuco, p. 296-302.
30 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 278-280.
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únicos livros que não possuem uma explicação “específica” para sua
canonicidade – e os demais livros, segundo o Judaísmo, terão sua canonicidade
comprovada pela conformação com os livros que preferencialmente são
designados pelos judeus como a Torá de Moisés.31 Mais ainda, segundo Zenger.
A Torá/o Pentateuco é o bloco mais volumoso da Bíblia, quase tão volumoso
quanto o Novo Testamento. Constitui o documento-base tanto do Tanak quando
do Primeiro Testamento. Também a posição do Evangelho de Mateus, como
primeiro livro do Novo Testamento, deve ter relação com sua estrutura de Torá
(cf. o Sermão da Montanha, Mt 5–7). Na verdade, o Pentateuco é, por um lado,
uma constelação extraordinariamente complexa e por vezes perturbadora, o que
tem relação com seu processo de surgimento em múltiplas camadas. Por outro
lado, no entanto, não é mero resultado de um processo de coleta acidental, mas
permite constatar, em sua forma final, uma composição planejada, cujo objetivo
é ser lida como um programa teológico.32
No que diz respeito à terminologia, no cânon hebraico, os textos do
Pentateuco identificados e “denominados pela primeira palavra importante de
cada livro”: 33 1) Berē’šît (no princípio); 2) Šemôt (nomes); 3) Wayyikrā’ (e
chamou); 4) Bemidbar (no deserto); 5) Devarîm (palavras). Na LXX, os livros
do Pentateuco são identificados pelo conteúdo: 1) Γένεσις/Gênesis (origem); 2)
Ἔξοδος/Êxodo (saída); 3) Λευϊτικὸν/Levítico (levítico); 4) Ἀριθμοὶ/Números
(números); 5) Δευτερονόμιον/Deuteronômio (segunda lei). Nas versões latinas
eles assumiram a nomenclatura da LXX: Genesis, Exodus, Leviticus, Numeri et
Deuteronomium, e daqui os nomes passaram para as línguas modernas, como
se encontram nas Bíblias hoje.34
A importância da menção da cifra de cinco livros da Torá pode ser
identificada no Talmud: “os Profetas e os Escritos estão destinados para serem
anulados, mas os cinco livros da Torá não são destinados para serem anulados” (j.
Megillah 70D); e, à pergunta de quantos pregos deve haver numa sandália a ser
utilizada no sábado, Rabbi Yohanan responde “cinco, pelos cinco livros da Torah”
31 SANDERS, J. A., Canon, p. 837-852.
32 ZENGER, E., Os livros da Torá/do Pentateuco, p. 46.
33 GARCIA LÓPEZ, F., O Pentateuco, p. 16.
34 GARCIA LÓPEZ, F., O Pentateuco, p. 16.
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(j. Shabbat 8A). O caráter especial do número cinco proporcionou que cada livro
do Pentateuco também pudesse ser dividido em cinco partes.35
Interessante observar que os cinco livros estão em arranjo quiástico,
proporcionando uma leitura concêntrica dos preceitos judaicos, que vai
conduzindo os ouvintes/leitores a que entrem na vontade de IHWH, onde quer
que estejam, perto ou distante do Templo:
A
A’
Gênesis
B
Êxodo
X
Levítico
B’
Números
Deuteronômio
Mantendo a posição central de Levítico, o qual é o livro primordial para
a guarda dos preceitos judaicos como o kashrut, Êxodo e Números
compartilham em comum o início e o final da caminhada no deserto; Gênesis
representa o início de tudo, principalmente das origens do povo de Israel, e
Deuteronômio representa um “recomeço” com a nova geração entrando na
Terra Prometida e indicando que YHWH cumpre o que prometeu e que o povo
deve instalar-se na terra e fazê-la frutificar.
As pesquisas recentes revelam que provavelmente o conjunto não foi
pensado como um Pentateuco: desde as pesquisas de Martin Noth sobre o
deuteronomista, pensa-se no Deuteronômio originalmente iniciando um
conjunto de livros históricos que abarcam ainda Josué, Juízes, Samuel e Reis,
e que por isso ganharam o nome de “História Deuteronomista”.
Consequentemente, haveria originalmente um “Tetrateuco”, o qual evoluiu
posteriormente para um “Pentateuco”.36
Independente se a ideia de Pentateuco é ou não original, o mais
importante é a descoberta no cânon hebraico de outro “pentateuco”: o
deuteronomista, em disposição concêntrica:
35 APPLESON, R. R., Is There a Pattern to The Five Books of Moses?, p. 39-48. Para o texto de
j. Megillah 70D e j. Shabbat 8A, ver NEUSNER, J., The Jerusalem Talmud.
36 Para maiores detalhes, ver RÖMER, T.; NIHAN, C., O debate atual sobre a formação do
Pentateuco, p. 85-143.
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A
A’
Deuteronômio
B
Josué
X
Samuel
B’
Reis
Juízes
A disposição central de Juízes pode ser explicada pelo momento crucial de
luta pela ocupação efetiva da terra; se em Josué há a conquista da terra, em Reis há
a perda da terra; se em Deuteronômio há a Aliança para a posse da terra, em Samuel
há a Aliança com Davi.
O livro dos Salmos também foi dividido em cinco livros,37
correspondendo pela ordem aos cinco livros da Torá (Torah), como declara o
Midrash: “Assim como Moisés deu cinco livros da lei para Israel, também Davi
deu cinco livros de salmos para Israel”. Assim, em sua forma canônica, os cinco
livros dos Salmos são fundamentalmente “Torá” (“instrução”) para nossa
meditação,38 formando e contendo, em seu interior e estrutura, um “pentateuco
salmódico”, contendo, cada livro, inclusive, uma doxologia final e, no final do
livro, uma grande doxologia, com os últimos cinco salmos).39
A
Livro I (Salmos 1-41)
B
Livro II (Salmos 42-72)
X
B’
A’
Livro III (Salmos 73-89)
Livro IV (Salmos 90-106)
Livro V (Salmos 107-150)
Outro “pentateuco” tradicional encontrado no cânon hebraico é o grupo
conhecido como Megillot (do singular Megillah), “rolos”. São cinco livros
especialmente relacionados às grandes festas judaicas. Por isso, a ordem
canônica judaica vigente hoje segue o calendário judaico para esses livros, e
37 GONZAGA, W., O Salmo 150 à luz da Análise Retórica Bíblica Semítica, p. 155-170.
38 Apud FUTATO, M. D., Interpretação dos Salmos, p. 49-50.
39 GONZAGA, W., O Salmo 150 à luz da Análise Retórica Bíblica Semítica, p. 155-170.
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apresenta uma disposição concêntrica – a exemplo do “pentateuco
deuteronomista”:40
A
A’
Cântico dos Cânticos
B
Rute
X
Lamentações
Eclesiastes
B’
Ester
O livro das Lamentações ocupa a porção central, um dia de lamento e
jejum;41 Rute e Ester são os únicos livros do cânon hebraico a ter nomes
femininos; enquanto Cântico dos Cânticos celebra a união de Israel com
YHWH, Eclesiastes mostra o momento de tensão dessa união.
Entretanto, o Códice Leningradense B19A apresenta uma ordem
diferente, tornando-se quiástica, e, consequentemente, mais de acordo com a
disposição da Torá, e cuja centralidade passa a ser ocupada por Eclesiastes:
A
A’
Rute
B
B’
Ester
Cântico dos Cânticos
X
Eclesiastes
Lamentações
3. Os “pentateucos” no cânon alexandrino
O códice Alexandrino,42 no arranjo do cânon, tem um fator curioso em
sua distribuição. Ele traz cinco blocos de livros na divisão do Antigo
Testamento, como que “um pentateuco” de corpora e com cinco livros cada,
com exceção dos Sapienciais, que forma um bloco com sete livros.
Outro dado curioso é que o códice Alexandrino tem duas divisões entre
os “livros históricos”, e o centro é ocupado pelo corpus profético, próprio da
tradição cristã: 1) os cinco livros clássicos do Pentateuco (Gênesis, Êxodo,
Levítico, Número e Deuteronômio); 2) um primeiro bloco de cinco livros dos
40 FRANCISCO, E. F., Manual da Bíblia Hebraica, p. 183-184.
41 ASHERI, M., O Judaísmo Vivo, p. 238.
42 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 293-298.
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históricos, contando os duplos como sendo um livro apenas (Josué, Juízes,
Rute, Reis e Crônicas); 3) os cinco livros proféticos, tendo presente que os
profetas menores contam como sendo um livro apenas (Doze menores, Isaías,
Jeremias, Ezequiel e Daniel); 4) um segundo bloco de cinco livros históricos,
sendo que um é duplo [Esdras] e outro é quádruplo [Macabeus] (Ester, Tobias,
Judite, Esdras e Macabeus); 5) e, por fim, um último conjunto contém os sete
livros sapienciais (Saltério, Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos,
Sabedoria e Eclesiástico), podendo ser estruturado da seguinte forma
concêntrica:
A
Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Número e Deuteronômio)
B
Históricos (Josué, Juízes, Rute, Reis e Crônicas)
X
Proféticos (Doze menores, Isaías, Jeremias, Ezequiel e
Daniel)
B’
Históricos (Ester, Tobias, Judite, Esdras e Macabeus)
A’
Sapienciais (Saltério, Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cântico, Sabedoria e
Eclesiástico)
Entre os livros da LXX, Mazzinghi43 chama a atenção para o Pentateuco
Sapiencial. Embora não exista na LXX a nomenclatura corpus sapiencial, como
existe um corpus do Pentateuco, é possível falar de gênero literário sapiencial ou
de “literatura sapiencial”,44 que diz respeito a alguns livros que se encontram no
interior da duas Bíblias: Hebraica e Grega. A literatura sapiencial não se encontra
entre as mais estudadas do Antigo Testamento, como Pentateuco, Profetas e
Salmos (literatura lírica ou poética). No entanto, ela é muito importante, inclusive
para entender “a relação que esses textos têm com a sabedoria dos povos vizinhos
(...) e sua relação com a história de Israel”.45 Este “quinteto” de livros sapienciais
foi atribuído a Salomão. A literatura sapiencial se diferencia da literatura da Torá,
que tem textos de caráter legal, como temos nos livros do Pentateuco, pois o
“sábio não prescreve, não tem mandamento para dar, mas sim sugestões e
conselhos”.46
43 MAZZINGHI, L., Il Pentateuco sapienziale.
44 MAZZINGHI, L., Il Pentateuco sapienziale, p. 11.
45 MAZZINGHI, L., Il Pentateuco sapienziale, p. 9.
46 MAZZINGHI, L., Il Pentateuco sapienziale, p. 10.
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A
A’
Provérbios
B
Eclesiastes [Qohelet]
X Jó
B’
Eclesiástico [Siracida]
Sabedoria
4. O Pentateuco Samaritano (séc. IV a.C.)
A Bíblia Samaritana47 contém apenas os cinco livros do Pentateuco.
Forma o menor cânon bíblico que conhecemos na tradição judaico-cristã. Ela é
chamada de Pentateuco Samaritano, Torá Samaritana ou Pentateuco
Samaritano de Nablus. “Embora constituam uma comunidade religiosa bastante
pequena, os samaritanos sobrevivem até hoje na região de Siquém, em Israel”.48
Eles não aceitaram e nem aceitam o restante dos livros do TANAK, mas apenas
e tão somente os cinco livros da Torá como sendo os únicos livros que contém a
revelação de Deus. Para eles, os demais livros da Bíblia Hebraica (Profetas e
Escritos) não foram dados por Deus, não passando de criações humanas
posteriores. Portanto, eles rejeitam até hoje todos os demais livros da Bíblia
Hebraica. Com apenas os cinco livros da Torá, o Pentateuco Samaritano conta
com:
A
A’
Gênesis
B
Êxodo
X
Levítico
B’
Números
Deuteronômio
Escrito no alfabeto samaritano e assim conservado em seus caracteres
arcaicos, o Pentateuco Samaritano não tem apenas a diferença linguística com o
texto do Pentateuco Hebraico, da edição do Texto Massorético,49 mas conta com
outras diferenças de conteúdo, como, por ex.: na versão samaritana dos Dez
Mandamentos, logo após o texto de Ex 20,17, há um 11º Mandamento, onde Deus
ordena ao povo que construa um templo no Monte Garizim, diferentemente do
47 BORGONOVO, G., La Tôrâ, ovvero il Pentateco, p. 89.
48 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 278-280.
49 PISANO, S., O Texto do Antigo Testamento, p. 42.
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Texto Massorético, que não ordena isso. Suas diferenças se concentram
especialmente em três campos: 1) harmonização, buscando eliminar possíveis
tensões e contradições no texto; 2) simplificação, procurando realizar correções
gráficas em questões gramaticais, como os sufixos, muito comuns nas línguas
semíticas; 3) e alterações de conteúdo, que são alterações de cunho dogmático,
com interesses religiosos e cultuais próprios dos samaritanos,50 que são
alterações voluntárias ao longo do texto, com intenções “ideológicas”.51
Basicamente desconhecido no mundo, o Pentateuco Samaritano foi
redescoberto por Pietro Della Valle, que, em 1616, revelou ao Ocidente uma
cópia do mesmo, trazida de Damasco,52 embora hoje já se conheça outros
Manuscritos, como o Codex Zubil e duas traduções para o aramaico, transmitidas
em Targumim.53 Entre o Pentateuco Hebraico e o Pentateuco Samaritano há
diversas diferenças, a exemplo do que afirma Simian-Yofre:
Confrontando o Pentateuco Samaritano com o TM, encontram-se mais ou menos
6.000 variantes, das quais cerca de 1.600 concordam com a LXX. Em geral as
variantes são de tipo ortográfico (por exemplo, matres lectiones) ou
morfológico. Há, todavia, algumas que indicam os interesses teológicos dos
samaritanos (por exemplo, em Ex 20,17 e Dt 5,21 encontramos uma longa
interpolação de Dt 11,29s; 27,2-7, que traz as palavras do povo depois da entrega
dos dez mandamentos). A construção de um altar sobre o monte Garizim tornase uma parte do decálogo. Às vezes a forma do texto é diversa em comparação
com a do TM e da LXX (por exemplo, as cronologias e Gn 5 e 11 existem em
três formas: TM, LXX, Pentateuco Samaritano).54
50 FISCHER, A. A., O Texto do Antigo Testamento, p. 80.
51 BORGONOVO, G., La Tôrâ, ovvero il Pentateco, p. 90.
52 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 278-283.
53 FISCHER, A. A., O Texto do Antigo Testamento, p. 82.
54 PISANO, S., O Texto do Antigo Testamento, p. 49; confira igualmente o texto FISCHER, A.
A., O Texto do Antigo Testamento, p. 80-82.
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5. Os “pentateucos” no cânon neotestamentário
5.1. O “pentateuco mateano”
Como se percebe em suas narrativas, o Evangelho de Mateus
provavelmente foi dirigido a uma comunidade de ambiente judaico. Como para
Mateus, Cristo é o novo Moisés, é provável que ele tenha redigido seu
Evangelho como um “novo pentateuco”.55 Entre as várias coincidências, assim
como Moisés, Cristo também é salvo das mãos de um atroz imperial; ambos
residem no Egito, passam pelas águas e pelo deserto, etc.56 Mateus inicia seu
Evangelho com as mesmas palavras que se encontram no segundo relato da
criação da versão grega da LXX:57
Gn 2,4a: “αὕτη ἡ βίβλος γενέσεως οὐρανοῦ καὶ γῆς
Este é o livro da origem do céu e da terra”;
Mt 1,1:.“Βίβλος γενέσεως Ἰησοῦ Χριστοῦ υἱοῦ Δαυὶδ υἱοῦ Ἀβραάμ
Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”.
Segundo Mateus, a lei continua viva (Mt 5,18) e Cristo a leva à plenitude
(Mt 5,17). As palavras de Cristo, a partir de seus ensinamentos, são entendidas
e praticadas como a nova lei, daquele que segue e respeita a tradição dos pais,
por isso mesmo ele está ligado aos Patriarcas e a Davi, como seu descendente.
Aliás, as boas obras do judaísmo continuam a ter valor, a exemplo do jejum, da
esmola e da oração (Mt 6,1-15). Mateus tem abundantes citações do Antigo
Testamento e muitas delas são dos livros do Pentateuco, inclusive com citações
explícitas, além das alusões e ecos.
Seu Evangelho é estruturado sobre cinco discursos principais, sendo que
cada um tem uma fórmula conclusiva semelhante: Mt 7,28; 11.1; 13,53, 19,1 e
26,1. Em seus discursos, Cristo “esboça um quadro de ações ideadas para os
discípulos”.58
55 CARTER, W., O Evangelho de São Mateus, p. 16.
56 CARTER, W., O Evangelho de São Mateus, p. 29.
57 CARTER, W., O Evangelho de São Mateus, p. 16.
58 CARTER, W., O Evangelho de São Mateus, p. 31.
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A
A’
I Discurso (Evangélico): Mt 5–7
B
II Discurso (Apostólico; da Missão): Mt 10
X
III Discurso (em Sete Parábolas): Mt 13,1-52
B’
IV Discurso (sobre a Igreja, a vida em comunidade): Mt 18
V Discurso (Escatológico, sobre o Reino em Jesus): Mt 24–25
5.2. O “pentateuco joanino”
O corpus joanino é formado por cinco textos que foram atribuídos a um
mesmo autor, João, o apóstolo e evangelista. Conta com dois textos
protocanônicos (Evangelho e 1Joao) e três deuterocanônicos (2-3João e
Apocalipse).59 Ele é um corpus que conta com gêneros diversos de literatura: o
evangélico, o epistolar e o apocalíptico.60 Estes cinco livros não foram e nem
estão dispostos segundo a autoria, como as cartas paulinas, mas sim segundo o
gênero literário: entre os evangelhos, as cartas católicas – e o Apocalipse está
sozinho, como o último livro no corpus do Novo Testamento.61 Para tanto,
colaborou ainda o fato de que os cinco textos joaninos, embora atribuídos ao
mesmo autor, sempre foram levantadas dúvidas acerca da autoria dos textos
deuterocanônicos, sobretudo por causa de sua grande diferença de estilo e
vocabulário, entre outros, como dados e teologia.62
Ainda, ao longo da literatura joanina é possível ver a presença de termos
oriundos do Pentateuco, como as palavras iniciais de Gênesis e do Evangelho
de João, tomada da versão grega da LXX e presente na própria introdução do
livro, do Prólogo Joanino: “ἐν ἀρχῇ/no princípio” (Gn 1,1 e Jo 1,1).63
Gn 1,1: ἐν ἀρχῇ ἐποίησεν ὁ θεὸς τὸν οὐρανὸν καὶ τὴν γῆν
no princípio fez Deus o céu e a terra.
59 GONZAGA. W., As Cartas Católicas no Cânon do Novo Testamento, p. 424 e 440.
60 GONZAGA, W., A acolhida e o lugar do Corpus Joanino no Cânon do Novo Testamento, p.
682-683.
61 GONZAGA, W., A acolhida e o lugar do Corpus Joanino no Cânon do Novo Testamento, p.
691.
62 GONZAGA, W., A acolhida e o lugar do Corpus Joanino no Cânon do Novo Testamento, p.
684.
63 SKA, J.-L., Introdução à leitura do Pentateuco, p. 16.
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Jo 1,1: ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ λόγος, καὶ ὁ λόγος ἦν πρὸς τὸν θεόν, καὶ θεὸς ἦν ὁ
λόγος
no princípio era a palavra, e a palavra era junto de Deus, e a palavra
era Deus.
Porém, mesmo que os cinco textos joaninos, em seu arranjo no cânon
bíblico, estejam espalhados pelos vários corpora do Novo Testamento, e não todos
juntos, em um único bloco, é possível ver a presença de um “pentateuco joanino”:
A
A’
Evangelho de João
B
2João
X
1João
B’
3João
Apocalipse de João
6. A presença de “pentateucos” em outros cânones
6.1. O “pentateuco enóquico”
O Primeiro Livro de Henoc gozou de prestígio tanto no Judaísmo quanto
no Cristianismo dos primeiros séculos da era cristã, como atestam os
manuscritos encontrados em Qumran e a citação em Jd 9.14.15. Mas não logrou
êxito em entrar nos cânones, sejam judaicos ou cristãos, fazendo parte
unicamente do cânon cristão etíope. Justamente por isso, seu texto foi
conservado na íntegra unicamente em manuscritos etíopes, pelo que é
conhecido como “Henoc Etíope”.64
Este livro, na verdade, abarca uma série de escritos relacionados a temas
enóquicos originalmente separados e redigidos entre os séculos II a.C. e II d.C.
– um período de cerca de quatrocentos anos –, e que foram paulatinamente
agregados até formar um único livro como o texto hoje conhecido na versão
etíope. Manuscritos em aramaico e grego foram encontrados, mas não há
consenso se o hebraico teria sido a língua original de compilação.65
64 ROST, L., Introdução aos livros apócrifos e pseudepígrafos do Antigo Testamento e aos
manuscritos de Qumran, p. 137-139; 142-143.
65 FITZMYER, J. A., Implications of the New Enoch Literature from Qumran, p. 332-345.
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A origem desta literatura estaria relacionada a grupos com estreitos pontos
de contato com Qumran, sem necessariamente pertencerem à comunidade ali
localizada. São identificados cinco materiais, que formam um “pentateuco”: 1)
capítulos 1-36 (incluindo o “Livro de Noé”); 2) 37-71 (“Similitudes”); 3)
capítulos 72-82 (“Livro Astronômico”); 4) capítulos 83-90 (“Apocalipse dos
Símbolos dos Animais”; 5) capítulos 91-104 (incluindo o “Apocalipse das
Semanas’), com acréscimo dos capítulos 105-108.66
Da mesma forma que a Torá, é provável que este arranjo como um
“pentateuco” não seja original, tendo evoluído para uma construção como um
“pentateuco” em algum momento entre as primeiras cópias até a “fixação” do
inteiro conjunto como livro único no cânon etíope.67 Entretanto, a disposição
foi posta de tal forma a coincidir com aquela da Torá: dentro dos capítulos 136 encontra-se temas relacionados aos relatos de Gênesis; nos capítulos 72-82,
o “Livro Astronômico” remete ao calendário das festas, especialmente
designados no Levítico; e os discursos nos capítulos 94-105 lembram discursos
de despedida, como o de Moisés no Deuteronômio.
Portanto, o “pentateuco enóquico” segue bem de perto a disposição
quiástica da Torá, com igual centralidade ao material correspondente a
Levítico:
A
A’
Capítulos 1- 36
B
Capítulos 37-71
X
Capítulos 72-82
B’
Capítulos 83-90
Capítulos 91-108
6.2. O cânon siríaco e um “pentateuco a menos”
No início do século V o Cristianismo enfrentou seu primeiro “grande”
cisma. Nestório, patriarca de Constantinopla, influenciado por Teodoro de
Mopsuéstia, posicionou-se contrário ao ensinamento de que Maria fosse mãe de
Deus, e advogava ser esta apenas mãe do Cristo. Para sustentar sua tese, defendeu
66 ROST, L., Introdução aos livros apócrifos e pseudepígrafos do Antigo Testamento e aos
manuscritos de Qumran, p. 140-142.
67 GREENFIELD, J. C; STONE, M. E., Enochic Pentateuch and the Date of the Similitudes, p.
51-65.
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existir em Cristo duas pessoas, o que provocou a convocação do Concílio
Ecumênico de Éfeso, em 431. Embora suas ideias tenham sido condenadas, o
Nestorianismo espalhou-se especialmente pelo Oriente. Assim, o segmento sírio
oriental separou-se, embora posteriormente nem todos aderissem às ideias
nestorianas. No Concílio Ecumênico seguinte, o de Calcedônia (451), a solução
proposta de Cristo como única pessoa, mas duas naturezas, não agradou uma
parcela que adotou o monofisismo, provocando um novo cisma – desta vez, dos
coptas, sírios (ocidentais) e armênios, com cânones bíblicos próprios e diversos
dos ocidentais.68 Ironicamente, acusaram as decisões de Calcedônia de
“nestorianas”.69
As diferenças entre sírios “orientais” e “ocidentais” não se restringiram à
doutrina, mas incluíram o cânon: com relação ao Novo Testamento, enquanto o
segmento sírio ocidental tenha mantido na íntegra os 27 livros da prática ocidental,
o segmento oriental usa até hoje um cânon menor de 22 livros.70 Pensa-se que este
cânon “menor” seja o mais antigo, e o “ocidental” seja posterior, sendo este
atestado nas versões Filoxena e Heracleana.71
Portanto, são 5 livros a menos, a saber 2Pedro, 2 e 3João, Judas e
Apocalipse. Todos esses são deuterocanônicos neotestamentários,72 pelo que o
segmento sírio oriental manteve apenas dois dos deuterocanônicos – Hebreus e
Tiago. Isto exposto, verifica-se, portanto, a ausência de um “pentateuco” neste
cânon sírio. Levando em consideração a ordem adotada no Ocidente, esses livros
formam uma disposição concêntrica:
A
A’
2 Pedro
B
2 João
X
3 João
Judas
B’
Apocalipse
68 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 303-306.
69 Para maiores detalhes, consultar PERRONE, L., De Éfeso (431) a Calcedônia (451), p. 72122.
70 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 299.
71 LUCIUS, F., Manual da Peshitta, p. 55.
72GONZAGA. W., As Cartas Católicas no Cânon do Novo Testamento, p. 424 e 440.
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As relações temáticas entre 2Pedro e Judas há muito são reconhecidas, o
que leva inclusive a conjecturar a dependência redacional mútua.73 A relação
entre 2João e Apocalipse pode ser encontrada na designação na primeira da
“senhora eleita”, possível simbolismo para a Igreja, alvo das atenções no último
para encorajá-la e confortá-la. A centralidade de 3João poderia ser explicada
pelo desejo de prosperidade e saúde a Gaio, representativo de todos os cristãos
fiéis.74
6.3. A presença de “pentateucos” no cânon protestante
A Reforma Protestante apresentou um novo cisma na cristandade, o qual
não acontecia desde o “grande cisma” com a Igreja Ortodoxa Oriental, cujos
começos podem ser detectados nas controvérsias em torno da processão do
Espírito Santo, na época carolíngia, “oficializado” em 1054 e tornado
“irreversível” na Quarta Cruzada de 1204.75 A Reforma Protestante trouxe novas
reflexões acerca da teologia, abrangendo questões como Eclesiologia e
Soteriologia. E reviveu antigas polêmicas sobre o cânon, pelo qual “retornou” à
compreensão judaica clássica de uma lista canônica veterotestamentária
exclusivamente hebraica – a “veritas hebraica” advogada nos primórdios do
Cristianismo por Jerônimo, por exemplo,76 enquanto que a Igreja Católica
Romana seguia a Septuaginta Auctoritas, defendida e apoiada por Agostinho de
Hipona, em sua disputa com Jerônimo, entre Hebraica veritas versus Septuaginta
auctoritatem, no que diz respeito ao Cânon Bíblico do Antigo Testamento,77 na
tensão entre os textos nas línguas originais. Para os textos do Novo Testamento
ambos aceitaram a Graeca veritas,78 pois já começam a surgir textos em latim.
Agostinho defendia que a Igreja “devia abraçar em seu cânon os livros que a
tradição apostólica, e a tradição posterior, haviam recebido no que chamamos de
73 SPROUL, R. C., 1 e 2 Pedro, p. 268.
74 SMALLEY, S. S., 1, 2, 3 John, p. 344.
75 Para maiores detalhes, WARE, T., The Orthodox Church, p. 1-100.
76 TRUEMAN, C.; KIM, E., Os Reformadores e suas Reformas, l. 2615-3229.
77 CARBOJA, I., Hebraica veritas versus Septuaginta auctoritatem, p. 14-21.
78 CARBOJA, I., Hebraica veritas versus Septuaginta auctoritatem, p. 14.
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versão grega da LXX”,79 sendo esta a versão usada, de longe, como fonte para as
citações nos textos do Novo Testamento e na Patrística.80
Num primeiro momento, os reformadores usaram os deuterocanônicos
– os livros que constavam na Septuaginta e na Vulgata, mas não no cânon
hebraico; mas, para sua lista canônica, preferiram deixá-los em separado, ao
final. Depois, no decorrer dos anos, “abandonaram” de vez os livros
deuterocanônicos;81 e assim, a partir da ordem canônica já estabelecida desde
a Vulgata, houve uma reorganização que permitiu o surgimento de novos
“pentateucos”. A esse respeito, a “Introdução aos livros deuterocanônicos” da
nova Bíblia TEB esclarece que:
Entretanto, a estes 39 livros algumas Igrejas acrescentam vários escritos que não
figuram na Bíblia hebraica, mas que foram transmitidos em sua tradução grega, a
Septuaginta. Estes livros se encontram em todas as traduções cristãs antigas da
Bíblia. Estão presentes nas bíblias modernas (com algumas exceções) até o início
de séc. XIX, embora seu número, sua nomeação e autoridade sejam diferentes de
uma confissão a outra. A partir do séc. XIX, apenas as bíblias católicas e ortodoxas
mantiveram no AT livros suplementares vindos da Septuaginta.82
Sem a presença dos livros deuterocanônicos poéticos da Sabedoria de
Salomão e Eclesiástico, o cânon protestante ficou com um “pentateuco
poético”: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares. Nessa lista encontrase uma interessante disposição concêntrica, tendo como centro o livro dos
Provérbios, que indica a forma de se viver com sabedoria na vida cotidiana:
A
A’
Jó (por que o justo sofre?)
B
Salmos (louvores à união com Deus)
X
Provérbios (como proceder na vida diária)
Eclesiastes (qual é o sentido da vida?)
B’
Cantares (louvor à união conjugal)
79 CARBOJA, I., Hebraica veritas versus Septuaginta auctoritatem, p. 142.
80 CARBOJA, I., Hebraica veritas versus Septuaginta auctoritatem, p. 143-147.
81 Para maiores detalhes sobre esse desenvolvimento no cânon protestante, consultar
GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 337-384; conferir igualmente a “Introdução
aos livros deuterocanônicos” da nova BÍBLIA TEB, p. 1425-1437.
82 BÍBLIA TEB, Introdução aos livros deuterocanônicos, p. 1425.
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Nesta disposição Provérbios ocupa a centralidade como grande manual
para a conduta diária piedosa. Os dois livros que envolvem grandes perguntas
existenciais – Jó e Eclesiastes – formam um paralelo, bem como dois livros
relacionados à ideia de união – Salmos e Cantares. Neste último caso, se, a
princípio, um fala de união com o divino e outro com o sexo oposto, não se
deve perder de vista como tanto a piedade judaica quanto a cristã elaboraram
uma interpretação simbólica em Cantares de uma união do povo de Deus com
o divino.83
Sem a presença do livro deuterocanônico profético de Baruc, a lista dos
profetas maiores, no cânon protestante, também formou um “pentateuco”:
Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel, Daniel. Desta feita, com
Lamentações ocupando a centralidade, detecta-se uma disposição quiástica:
A
A’
Isaías
B
B’
Daniel
Jeremias
X
Lamentações de Jeremias
Ezequiel
Aqui, a disposição quiástica materializa-se da seguinte forma: tanto Isaías
quanto Daniel são reputados como grandes profetas messiânicos, os quais
anunciaram, de antemão, fatos relacionados à vida de Cristo; Jeremias e Ezequiel
são ambos profetas com origens relacionadas ao ambiente sacerdotal, e os dois
possuem ligações com a ideia do cativeiro. Ao ocupar a centralidade, Lamentações
deixa de ser exclusivamente uma queixa acerca do cativeiro judeu para simbolizar
o sentimento de cativeiro de todos os cristãos.84
6.4. O arranjo do Pentateuco nos Padres da Igreja, Sínodos e Concílios
Como é do conhecimento geral, o arranjo ou sequência dos livros no cânon
bíblico do Antigo Testamento, que temos nas Bíblias hoje, é resultado de um longo
83 Para maiores detalhes, ver POPE, M. H., Song of Songs, p. 17-21.
84 Uma pergunta pode ser feita: haveria intencionalidade nessa disposição de Lamentações, ao
pensar nas grandes perseguições empreendidas contra o movimento protestante, e incluir ainda a
história das grandes perseguições da era pré-constantiniana?
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processo de caminhada na vida do povo judeu, dentro (TANAK) e fora da Palestina
(LXX), passando pela Monarquia, pelo Exílio Babilônico, pelo período dos Impérios
Grego e Persa, entrando no período do Império Romano, indo até à discutida
Assembleia de Jamnia,85 que teria acontecido entre o final do séc. I d.C. e o início do
séc. II d.C., provavelmente entre os anos 90-110 d.C., quando fora fechado o cânon
bíblico em seu arranjo, na forma tríplice da TANAK,86 termo artificial, um acróstico
formado a partir das iniciais dos três conjuntos da Bíblia Hebraica (Torá, Profetas e
Escritos),87 declarando os inspirados e canônicos e os que ficaram de fora.88
A tradução do texto hebraico para o grego deu-se no período do Império
Grego, entre os anos 250-150 a.C., e tem o nome de Septuaginta89 (LXX, 4
blocos: Pentateuco, Históricos, Poéticos e Proféticos), quando também tivemos
a escrita de outros livros em língua grega, chamados de deuterocanônicos do
Antigo Testamento e ou de apócrifos, a depender de qual tradição eclesial. A
tradução para o latim, versão chamada Vulgata,90 tanto do Antigo Testamento
como do Novo Testamento, deu-se no final do séc. IV, por Jerônimo.
No que tange ao arranjo geral dos corpora do Antigo Testamento, o que
se percebe é que realmente o conjunto dos livros do Pentateuco é o mais comum
e igual em todos os padres da Igreja, Sínodos e Concílios. A mesma coisa se dá
na divisão interna dos livros do corpus do Pentateuco, como se vê a seguir,
segundo Gonzaga.91
1) Arranjo Geral dos Corpora do AT
- Septuaginta, Melitão de Sardes, Orígenes, Vulgata, Códice Vaticano, Cirilo de
Jerusalém, Cânon de Cheltenham/Mommsen, Concílio de Laodicea, Cânon
Apostólico, Célio Sedúlio – Anonymus, Jerusalemitano, Gregório de Nazianzo,
Anfilóquio de Icônio, Hilário de Poitiers, Códice Claromontano, Atanásio,
Agostinho, Concílio Plenário de Hipona, III Concílio de Cartago, IV Concílio
de Cartago, Epifânio, Anônimo in notis, Sessenta Livros, Isidoro, João
85 BROWN, R. E.; COLLINS, E. F., Canonicidade, p. 919.
86 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 276-278; BROWN, R. E.; COLLINS, E.
F., Canonicidade, p. 915-917; GALVAGNO, G.; GIUNTOLI, F., Pentateuco, p. 17-18.
87 BORGONOVO, G., La Tôrâ, ovvero il Pentateco, p. 83.
88 ZENGER, E., A Sagrada Escritura de Judeus e Cristãos, p. 28-34.
89 PISANO, S., O Texto do Antigo Testamento, p. 53-63; GONZAGA, W., Compêndio do
Cânon Bíblico, p. 280-283.
90 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 300-303.
91 GONZAGA, W., Compêndio do Cânon Bíblico, p. 394-396.
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Damasceno, João Crisóstomo, Synopsis Scripturae Sacrae, 4 blocos:
Pentateuco, Históricos, Sapienciais (Poéticos) e Proféticos.
- Samaritanos: aceitaram apenas o Pentateuco e recusaram todo o resto do AT.
- Marcião: recusou todo o AT.
- Fragmento Muratoriano: traz o catálogo a partir de Lucas, tendo perdido o restante.
- Massorético, Jerônimo [herbraica veritas], João de Salisbury, 3 blocos:
Pentateuco, Proféticos e Escritos.
- Liber Sacramentorum, Códice Sinaítico, Esticometria Armeniana, Rufino,
Leôncio de Bizâncio, Hugo de São Vitor, Junílio, 4 blocos: Pentateuco,
Históricos, Proféticos e Sapienciais.
- Ebed Jesu, Concílio de Antioquia, Concílio Romano e Decreto Gelasiano, 4
blocos: Pentateuco, Históricos, Sapienciais, Proféticos e o restante dos Históricos.
- Códice Alexandrino, 4 blocos: Pentateuco, Históricos, Proféticos, e o restante
dos Históricos, Sapienciais.
- Inocente I, 4 blocos: Pentateuco, Históricos, Proféticos, Sapienciais e o restante
dos Históricos.
- Filastro: traz um comentário geral dos corpora do AT, sem especificar os livros.
- Cassiodoro: não tem uma lista própria. Ele traz uma recensão das litas de
Jerônimo, Agostinho e da Septuaginta [com o NT].
- Eusébio de Cesareia: o texto que temos dele traz apenas a lista do NT,
dividindo os livros entre recebidos, contestados, espúrios e hereges.
2) Arranjo do Corpus Pentateucum
- Pentateuco Samaritano, Massorético, Septuaginta, Vulgata, Peshita Syriaca,
Armena, Copta, Etiópica, Georgiana, Códice Vaticano, Códice Alexandrino, Códice
Sinaítico, Esticometria Armeniana, Fragmento Muratoriano, Orígenes, Concílio de
Antioquia, Cirilo de Jerusalém, Hilário de Poitiers, Cânon de
Cheltenham/Mommsen, Concílio de Laodicea, Atanásio, Cânon Apostólico,
Anfilóquio de Icônio, Concílio Romano e Decreto Gelasiano, Gregório de Nazianzo,
Epifânio, Filastro, Códice Claromontano, Jerônimo, Concílio Plenário de Hipona,
Agostinho, III Concílio de Cartago (Norte da África), IV Concílio de Cartago (Norte
da África), Rufino, João Crisóstomo, Inocente I, Célio Sedúlio - Anonymus,
Synopsis Scripturae Sacrae, Junílio, Leôncio, Isidoro, Liber Sacramentorum,
Sessenta Livros, Anônimo in notis, João Damasceno, Jerusalemitano, Hugo de São
Vitor, João de Salisbury, Ebed Jesu, Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano,
Cipriano, Dídimo (o Cego): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
- Melitão de Sardes, Leôncio de Bizâncio: Gênesis, Êxodo, Números, Levítico,
Deuteronômio, Josué, ...
- Jerusalemitano: Gênesis, Êxodo, Levítico, Josué, Deuteronômio, Números, ...
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- Cassiodoro: não tem uma lista própria. Ele traz uma recensão das litas de
Jerônimo, Agostinho e da Septuaginta [com o NT].
- Eusébio de Cesareia: o texto que temos dele traz apenas a lista do NT,
dividindo os livros entre recebidos, contestados, espúrios e hereges.
Conclusão
Se o Pentateuco constitui a base da fé e da religião judaica, sua
singularidade, conforme pode se constatar por esse artigo, não se restringe à
teologia, nem tampouco às inúmeras citações, alusões e ecos encontrados no
Novo Testamento: o Pentateuco exerceu uma forte influência na própria
história da formação dos diversos cânones. Mais do que influência, o papel do
Pentateuco seria decisivo.
Se o Judaísmo apresentou diversas vertentes, com diferentes teologias, o
Pentateuco tornou-se um fator aglutinador, um ponto de união. Os samaritanos, até
hoje existentes, o aceitam como “cânon mínimo”. O cânon palestinense não se
restringiu ao Pentateuco: os diversos arranjos da “ordem canônica”, seja no texto
massorético, seja nos diversos códices medievais (como o códice Leningradense
B19A), sempre se basearam no Pentateuco, seja explicitamente (como é o caso dos
Salmos), seja implicitamente (História Deuteronomista, Megillot).
Isto fica ainda mais evidente com a Septuaginta, com seu “cânon
alexandrino”. Ainda que inclua outros livros não aceitos na Bíblia Hebraica,
que tornou-se normativa entre os judeus, justamente com estes livros procurou
reorganizar a ordem dos livros, de tal forma a obter outros “pentateucos”, como
no “Pentateuco Sapíencial”. Talvez o Pentateuco pudesse ser encarado como
um elemento a mais para explicar a razão das diferenças entre o cânon
palestinense e o cânon alexandrino: mesmo o livro de Henoc, o qual participa
tão somente do cânon cristão etíope, reuniu todo o material das tradições
relativas a Henoc em forma quíntupla, o “Pentateuco enóquico”.
Com o Cristianismo, a influência do Pentateuco na elaboração do cânon
aprofundou-se: o conjunto dos Evangelhos-Atos, o “pentateuco joanino”, e o
próprio Evangelho segundo Mateus organizado como se fosse um “novo
pentateuco” – o que talvez explique a escolha de sua proeminência,
encabeçando a lista dos evangelhos.
Tão importante é o Pentateuco para a formação do cânon cristão, que talvez
tenha determinado a escolha por um “pentateuco a menos” no cânon siríaco, e
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novos arranjos do “cânon protestante”. Pode-se argumentar que estes
“pentateucos” sejam “fortuitos”, não intencionais. Não obstante, provavelmente
indicariam que de tal forma o Pentateuco estaria enraizado no pensamento cristão,
que pode se ver indubitavelmente a constituição de “pentateucos” alternativos.
Mas a detecção desses diferentes “pentateucos” não constitui uma mera
“homenagem numérica”: pode-se sempre encontrar uma disposição
concêntrica, com um elemento central. E esse elemento central representaria o
pensamento mais caro para as diferentes comunidades, sejam judaicas ou
cristãs. Ou seja, a ordem canônica não representa uma disposição aleatória, mas
antes uma afirmação dos pontos doutrinários mais importantes conforme
compreendidos. No cânon protestante, a centralidade do livro das Lamentações
poderia ser mais do que uma “coincidência”: representaria o sentimento de
todos aqueles que compartilhavam uma fé perseguida, e que muitas vezes
levava à ruína e deportação – numa identificação como a sorte do povo judeu.
Mas, infelizmente, não há dados seguros para tal assertiva.
Os limites da identificação ampliam-se, como quando K. R. Sassi
identifica, levando em consideração o ciclo litúrgico sinagogal, a presença de um
“pentateuco feminino” – com as menções explícitas de Ester e Rute, implícita no
Cântico dos Cânticos, e “simbólicas” em Eclesiastes e Lamentações. Ou seja: um
“pentateuco feminino” enfatizaria o quanto a literatura bíblica valorizaria o papel
da mulher, tão proeminente na liturgia judaica, e presente igualmente no relato
evangélico. Tudo isso posto, conclui-se finalmente que há ainda um grande
campo a ser explorado acerca dos “pentateucos” da Bíblia, e como poderiam ser
incluídos na história da formação do cânon.
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Waldecir Gonzaga
Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma,
Itália)
Diretor do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro/RJ – Brasil.
E-mail:
[email protected]
Doaldo Belem
Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro/RJ, Brasil.
E-mail:
[email protected]
Recebido em: 25/01/2022
Aprovado em: 02/04/2022
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