Não se deixem enganar pelas riscas cor-de-rosa. Os dias são (d)escritos com todas as cores.
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quarta-feira, 22 de maio de 2019
Prémio Camões
segunda-feira, 2 de julho de 2018
Entre mulheres - Diário de um lisboeta (romance)
Depois de umas semanas de silêncio, trago novidades. Aqui vos deixo a notícia do meu novo livro. Disponível em pré-venda com preço especial até dia 15, aqui.
segunda-feira, 8 de janeiro de 2018
terça-feira, 28 de novembro de 2017
Christmas Three
Este é o meu trio mais recente, pois o Natal está aí e já estamos em modo natalício :-)
Se quiserem contratar-nos, é fácil, basta um primeiro contacto para:
[email protected]
[email protected]
EnJOY e Boas Festas!
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[email protected]
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EnJOY e Boas Festas!
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
contos de Natal
Nem sempre os pinheiros são verdes
Poética Edições
Vários autores
A Poética Edições, na pessoa da Virgínia do Carmo, desafiou-me a mim e a alguns dos seus autores a escrever um conto de Natal. A edição resultou num livro escrito a várias vozes, com timbres muito diversos, que vão do registo mais clássico ao mais transgressor, pois....nem todos os pinheiros são verdes. A capa é uma pintura original a óleo, realizada por Lídia Borges, uma das autoras na presente edição. É com grande prazer que me vejo incluída nesta antologia, cujo lançamento acontecerá no próximo Sábado, em Lisboa, e que em breve estará à venda nas livrarias Férin, Ler Devagar e Pó dos Livros, em Lisboa, além de poder ser encomendado online, na loja virtual da Poética Edições, da Bertrand, Sítio do Livro e Wook.
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Tabula Rasa
Regresso à rotina. Apesar de ter levado comigo o portátil para o Festival Literário Tabula Rasa, em Fátima, o programa foi tão intenso e rico que não houve tempo para a "manutenção" das minhas páginas, senão para ir postando directamente no facebook a notícia e as imagens dos convidados. O balanço destes cinco dias foi muito bom. Deixo aqui alguns excertos do texto "A escrita como interrogação", que li no sábado passado. Por companhia na mesa redonda (por que é que lhe chamam mesa redonda, se é rectangular? Nunca hei-de perceber) Maria João Carvalho, Luísa Janeirinho e Renato Epifânio, o organizador e anfitrião deste primeiro Festival Tabula Rasa.
« (...) também
o
escritor, embrenhado
no seu ofício como viajante solitário, por vezes quase cego, de
mãos atadas, poderá
desembocar em território inesperado, levado pela vontade insolente
das
suas personagens, quem sabe também elas se interrogando. Como
leitores atentos, apenas podemos adivinhar, pressentir e
admirar a perícia
do escritor, que
ao escrever é receptáculo
de pensamentos que vão tomando forma, respirando,
com prazer, a
poalha de mistério oculta no grão das suas
palavras,
na sede de
compreender, de livro para livro,
que
lugar, que marca irá deixar no mundo, e
que estranha mania é aquela de escrever sem ter outra saída...»
»Se
o filósofo
é «aquele
que procura
a sabedoria, que ama o saber, que indaga a verdade dos
valores morais e estéticos, da mente
e da linguagem»,
o
escritor, por sua vez, vai
apurando a estética da sua escrita e
deixando, de obra em obra, indícios da sua moral e
tentando, em tantos caSos,
atingir o Belo, a Perfeição.
Ao
tentar
dar
resposta aos seus próprios mistérios, provoca
em nós, leitores, novas perguntas
e espantos,
Nesse
caso, é um responder perguntando, pois a interrogação pode, também
ela, trazer o
reflexo da sabedoria.
É
preciso saber para perguntar. A
dúvida pressupõe pensamento, conhecimento.»
«Um
livro fechado, por ler, é um livro mudo. Os livros sem leitores
seriam como cores encerradas
num quarto escuro, invisíveis, sem sentido.»
Intercalei com um punhado de "Filosofices", que conquistaram bastante simpatia, e terminei num registo filosófico e intimista. Aqui vos deixo um último excerto:
«Na (minha) adolescência, deu-se o inevitável: a escrita de versos. Decerto
horríveis, recheados de pirosices, de exclamações...de pontos de
interrogação...até descobrir que as interrogações que certos
autores semeavam em mim eram muito mais interessantes.
E
fui crescendo, vou crescendo, como todos nós, descobrindo com pasmo,
que ao fim de tantas leituras complexas, o olhar se vai esbatendo…
tornando-se desfocado outra vez, as certezas transformando-se
em
incertezas,
as interrogações ganhando às respostas… uma visão que nos vai
encostando a um capítulo final, um epílogo no qual adivinho uma
simplicidade que desarma.
E porque andarmos
desarmados
é
um
ideal que todos deveríamos
conquistar, apostemos
na Literatura.»
terça-feira, 2 de junho de 2015
Não me queixo
O ofício de escritor pode ser frágil e colorido como um vitral.
A feira formada por corredores cheios de cor, forrados de livros, livros, livros. Era Dia da Criança, mas as crianças estavam na escola, não podiam pedir autógrafos aos escritores.
Cheguei já a barriga dava horas, o pequeno-almoço distante, o estômago a implorar por alimento. Depois de me ir buscar a Ribamar, perto da Ericeira, a minha editora deixou-me instalada na mesa de autor, com alguns exemplares do Coisandês, e foi buscar-me almoço. Chegou o fotógrafo da Activa, para uma pequena entrevista. A nós juntou-se a jornalista Catarina Fonseca, que me ajudou a passar aquela hora de constrangimento de uma autora novata, que está ali a uma 2ª feira a meio da tarde.
Às quatro chegou o Alexandre Honrado, que me fez rir e com quem simpatizei de imediato. Ele e a Catarina, que já terminara a pequena entrevista e despachara as fotos da "avodrasta", deram um longo abraço cúmplice de camaradas.
Ainda revi a minha colega Joana Macieira e de novo provei os seus "Queques com Alma", desta vez um de aveia e chocolate, maravilhoso.
Passeei-me pela feira, parei para lanchar, quando os pés já pediam: um scone simples, uma limonada de maracujá e um café, tudo muito bom. Os feirantes gostam de mimar quem anda por ali, a namoriscar os livros.
E foi precisamente nos livros que me desforrei do meu fracasso: "Memórias de Adriano", de M. Yourcenar (Ulisseia, Grupo Babel), "A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector (Relógio d'Água) e dois do Nobel islandês Haldór Laxness: "Gente Independente" e "Os Peixes Também Sabem Cantar" (Cavalo de Ferro).
No pavilhão da Chiado Editora, fui dar com a minha Ilha de Melquisedech embalada em papel transparente, pack 2 em 1, com um livro sobre cristais...preço do pack: 5 euros. Por momentos não soube se havia de rir ou de chorar. Optei por rir e colocar o meu livro em primeiro plano, para os ajudar a despachá-lo ainda mais depressa.
Quando regressei ao pavilhão da Babel, estava a autora Maria Teresa Maia Gonzalez, minha colega na área juvenil, e que eu ainda não tinha tido o prazer de conhecer.
Da minha editora ainda recebi três miminhos, ao fim da tarde: um boné da colecção "Sisters", e um bloco e um mouse pad da Mafalda.
A Maria José veio trazer-me a casa, chegámos já era noite, distraímo-nos à conversa e, quando reparámos, já íamos em Torres Vedras.
Autógrafos, zero. Mas o balanço do dia foi bom. Tenho aprendido a manter baixas as expectativas. E o que vem é bem-vindo. Tive, decerto, um dia bem mais simpático do que muito boa gente. Não há lugar para queixumes.
A feira formada por corredores cheios de cor, forrados de livros, livros, livros. Era Dia da Criança, mas as crianças estavam na escola, não podiam pedir autógrafos aos escritores.
Cheguei já a barriga dava horas, o pequeno-almoço distante, o estômago a implorar por alimento. Depois de me ir buscar a Ribamar, perto da Ericeira, a minha editora deixou-me instalada na mesa de autor, com alguns exemplares do Coisandês, e foi buscar-me almoço. Chegou o fotógrafo da Activa, para uma pequena entrevista. A nós juntou-se a jornalista Catarina Fonseca, que me ajudou a passar aquela hora de constrangimento de uma autora novata, que está ali a uma 2ª feira a meio da tarde.
Às quatro chegou o Alexandre Honrado, que me fez rir e com quem simpatizei de imediato. Ele e a Catarina, que já terminara a pequena entrevista e despachara as fotos da "avodrasta", deram um longo abraço cúmplice de camaradas.
Ainda revi a minha colega Joana Macieira e de novo provei os seus "Queques com Alma", desta vez um de aveia e chocolate, maravilhoso.
Passeei-me pela feira, parei para lanchar, quando os pés já pediam: um scone simples, uma limonada de maracujá e um café, tudo muito bom. Os feirantes gostam de mimar quem anda por ali, a namoriscar os livros.
E foi precisamente nos livros que me desforrei do meu fracasso: "Memórias de Adriano", de M. Yourcenar (Ulisseia, Grupo Babel), "A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector (Relógio d'Água) e dois do Nobel islandês Haldór Laxness: "Gente Independente" e "Os Peixes Também Sabem Cantar" (Cavalo de Ferro).
No pavilhão da Chiado Editora, fui dar com a minha Ilha de Melquisedech embalada em papel transparente, pack 2 em 1, com um livro sobre cristais...preço do pack: 5 euros. Por momentos não soube se havia de rir ou de chorar. Optei por rir e colocar o meu livro em primeiro plano, para os ajudar a despachá-lo ainda mais depressa.
Quando regressei ao pavilhão da Babel, estava a autora Maria Teresa Maia Gonzalez, minha colega na área juvenil, e que eu ainda não tinha tido o prazer de conhecer.
Da minha editora ainda recebi três miminhos, ao fim da tarde: um boné da colecção "Sisters", e um bloco e um mouse pad da Mafalda.
A Maria José veio trazer-me a casa, chegámos já era noite, distraímo-nos à conversa e, quando reparámos, já íamos em Torres Vedras.
Autógrafos, zero. Mas o balanço do dia foi bom. Tenho aprendido a manter baixas as expectativas. E o que vem é bem-vindo. Tive, decerto, um dia bem mais simpático do que muito boa gente. Não há lugar para queixumes.
Alexandre Honrado |
Joana Macieira |
Maria Teresa Maia Gonzalez |
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
"Coisandês, a vida nas coisas" - lançamento
Meus Caros,
Venho convidar-vos para o lançamento oficial deste meu pequeno livro para leitores dos 10 aos 110 anos de idade.
Ganhou o prémio Revelação APE/Babel e, ao fim de alguns percalços de publicação, viu este ano a luz do dia, e poderá agora chegar, enfim, às mãos dos seus leitores.
«Coisandês - a vida nas coisas» é isso mesmo: um conjunto de contos em que as coisas-objectos ganham vida e ficamos a conhecer alguns dos seus pensamentos, sonhos, emoções e aventuras.
As ilustrações no interior, a carvão, e de capa inteira, são de Vanessa Bettencourt. O prefácio é de Júlio Isidro.
(clique na imagem para aumentar)
Venho convidar-vos para o lançamento oficial deste meu pequeno livro para leitores dos 10 aos 110 anos de idade.
Ganhou o prémio Revelação APE/Babel e, ao fim de alguns percalços de publicação, viu este ano a luz do dia, e poderá agora chegar, enfim, às mãos dos seus leitores.
«Coisandês - a vida nas coisas» é isso mesmo: um conjunto de contos em que as coisas-objectos ganham vida e ficamos a conhecer alguns dos seus pensamentos, sonhos, emoções e aventuras.
As ilustrações no interior, a carvão, e de capa inteira, são de Vanessa Bettencourt. O prefácio é de Júlio Isidro.
(clique na imagem para aumentar)
quarta-feira, 25 de junho de 2014
Morreu Ana Maria Matute
Para um bom adeus, aqui fica o texto escrito por CRISTINA CARVALHO no âmbito da
apresentação de Ana Maria Matute e do livro “A Torre de Vigia”, edição Planeta
Manuscrito, no Instituto Cervantes em Lisboa, no dia 13 de Outubro de 2011
«A literatura é algo que, usando palavras, não
se pode definir nem soletrar. É uma expressão artística ambiciosa, que usa
sangue e corpo, que tem de ser livre – como todas as expressões de arte ou como
a própria vida –
Deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de água, como um estremecer de folhas de árvore.
Quanto a mim, o papel da literatura não é explicar o mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais, histórias experimentadas, visitas, efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e desespero. As palavras escritas devem formar um todo compreensível, - um romance, um conto, um poema. As palavras que servem as ideias, têm de ser dádiva. As palavras não podem viver subterraneamente de modo incompreensível ou navegar ao sabor da moda; as letras não devem agrupar-se em palavras que não tenham significado. Isso não é bom. Não é essa a interrogação que a literatura precisa. Não é isso que perdura. Não é isso que prende. E está à vista de todos.
O pensamento existe. A estética da linguagem, também existe. O ideal também existe. As histórias existem. Os livros existem. A pessoa existe e a pessoa é a interrogação. É a pessoa que escreve histórias que deseja que a outra pessoa as leia, mas sobretudo, que as compreenda.
Ana Maria Matute é totalmente clara. Ela não escreve sobre o eterno Eu e o Tu e o Tu e o Eu mas abraça sim, toda a humanidade. Por exemplo,em Paraíso Inabitado ,
Matute revela a inteira psicologia da vida desde os primeiros anos da
protagonista, Adriana, que são os nossos primeiros anos rumo a um salto
assombroso nesse perigoso e absurdo abismo que é a adolescência, túnel sombrio
de dúvidas e indecisões que só o próprio adolescente consegue resolver.
Atravessando a vida com tantos livros escritos, tantos prémios que a consagraram universalmente, há um que destaco porque me toca particularmente, porque o sentido mais humano da literatura ainda que fantástico e submetido, aparentemente, ao reino do surreal e do maravilhoso que muito aprecio e elevo, é também, pelo que sei, o livro que a escritora mais gostou de escrever: Olvidado rei Gudú. Como ela própria afirma - , el libro que siempre quiso escribir y por el que le gustaría ser recordada! "Es un libro mágico, como la vida misma".
Toda a magia e mistério da vida é extraordinariamente bem escrito e descritoem Olvidado Rei Gudú ,
seus mistérios e superstições onde todas as emoções humanas são reveladas num
registo de assombrosa fantasia e de poderoso conhecimento da imaginativa mente
humana.
Com uma vastíssima obra que passa por muitos romances entre os quais destaco as traduções em língua portuguesa: Olvidado Rei Gudú, Aranmanoth, outro romance no género fantástico apresentado com uma escrita tão doce e envolvente, conta-nos a infância e o crescimento de duas crianças enamoradas.
Aindaem Paraiso Inabitado
e de novo pela voz de uma criança se percorre a vida e os complexos estágios do
crescimento numa escrita aparentemente leve e simplificada que nos conduz às
mais elaboradas reflexões.
E o livro que hoje apresentamos, A Torre de Vigia.
Ao entrar na leitura deste livro imergimos imediatamente num cenário onírico, denso e misterioso onde sobressai a Natureza por vezes assustadora, outras vezes duma beleza escaldante. Todo este ambiente enevoado e surreal de homens-lobis, ventanias, campos de neve de fome e de frio mais as doçuras do estio, de ameias de castelos, baronesas e barões, veados, javalis, gansos, lobos, cavalos brancos e cavalos pretos, jovens iniciados cavaleiros, peles de ursos, flechas, salões, cozinhas e alcovas, todo este universo existe, atavicamente, em todos nós. Está nos mais altos e escondidos sótãos da nossa memória. Este universo foi, neste livro, posto a descoberto. É uma vida inteira a descobrir universos, a desvendar sonhos, uns atrás dos outros.
E com a ironia sempre presente, vivemos mais uma vez uma certa infância ou como uma criança pode e consegue sublimar atos ou situações terríveis através da construção dos sonhos.
Nesta história somos transportados, como num quadro musical em ambiente medieval, somos transportados em nuvens de cheiros, cores e sabores, interrogações, desespero e espanto.
Este livro, o primeiro duma trilogia medieval, fala-nos de um filho de boas famílias, a sua travessia da infância e entrada na adolescência com grande desassossego. A castelã, a baronesa de Mohl, linda, ruiva e branca que o inicia no amor carnal aos treze anos. Também essa atitude, brutal e estranha, fá-lo perceber os mais rudimentares indícios da constituição psicológica do ser humano. Tudo o que de mais escondido está, para além da fronteira do conhecimento, rente às superstições mais subterrâneas que todos nós temos e que desejamos esconder. Conseguimos perceber este jovem a pensar e a transformar-se todos os dias, o que causa alguma angústia.
As personagens avassaladoras quer animais quer humanas são fascinantes. Krim-Cavalo é um ser inesquecível, lendário e protetor do jovem iniciado. Eu penso mesmo que Krim-Cavalo podia ser o jovem, ele mesmo. Este jovem sem nome. Este fantasma. O barão e a baronesa de Mohl, outras personagens tão excessivas quanto misteriosas. O próprio pai, um poderoso desgraçado que, sem amor para dar, é como se personificasse a eterna noite dos homens.
“A Torre de Vigia” é pois, uma história de desejos, de descoberta, a eterna luta entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas e ao ler este romance pensei sempre no homem à face da Terra, vi-o a tentar avançar não sei para onde, nem porquê, nem para que destino ou fatalidade.
É esta a arte de Ana Maria Matute: a literatura, esse milagre.
Escreveu também contos e muitas histórias para a infância e juventude.
Os prémios e reconhecimentos literários são inúmeros.
Em 2010 recebeu o Prémio Cervantes, o mais alto galardão espanhol atribuído à literatura.
A arte literária é mais uma insignificância do cosmos. Quantos e quantos quilómetros de linhas já foram escritas? Quanto pensamento glorioso já oferecemos aos nossos deuses? Quantos restam? Quantos encantos e desencantos vamos sofrendo? O que é que aprendemos? O que é que valemos? Que interesse tem tudo? Tanta interrogação…
Sei, sinto que Ana Maria Matute tem absoluta consciência das penas que uma pessoa suporta ao longo desta permanência por aqui. Os seus livros são documentos de extraordinária importância que desenham a vida e as experiências do quotidiano de alguém que conviveu com a guerra civil de Espanha e a segunda grande guerra mundial e o pós-guerra. A sua literatura é um grito de libertação através do poder imagético de cada um. A fantasia está expressa em muitos dos seus livros atingindo o picoem
Olvidado Rei Gudú e Aranmanoth e ainda, muito embora estes
livros sejam um hino à poderosa fantasia humana, é também a constatação da
triste realidade da condição humana.
Ana Maria Matute enche-me de orgulho como mulher, como escritora, como exemplo de conhecimento, de experiência, de sabedoria, de humanidade e celebro-a em todas as suas vertentes e capacidades. Exalto-a e elevo-a. Desejo-lhe, com toda a admiração e a par desta complexa e temporária passagem pelo planeta Terra, muita saúde e as maiores felicidades em tudo, na sua condição humana e na sua literatura.»
Deverá ser simples e compreensível como uma correnteza de água, como um estremecer de folhas de árvore.
Quanto a mim, o papel da literatura não é explicar o mundo. A literatura é o próprio mundo. Porque são sentimentos, ideais, histórias experimentadas, visitas, efabulações, desenhos de memórias, conquistas, alegria e desespero. As palavras escritas devem formar um todo compreensível, - um romance, um conto, um poema. As palavras que servem as ideias, têm de ser dádiva. As palavras não podem viver subterraneamente de modo incompreensível ou navegar ao sabor da moda; as letras não devem agrupar-se em palavras que não tenham significado. Isso não é bom. Não é essa a interrogação que a literatura precisa. Não é isso que perdura. Não é isso que prende. E está à vista de todos.
O pensamento existe. A estética da linguagem, também existe. O ideal também existe. As histórias existem. Os livros existem. A pessoa existe e a pessoa é a interrogação. É a pessoa que escreve histórias que deseja que a outra pessoa as leia, mas sobretudo, que as compreenda.
Ana Maria Matute é totalmente clara. Ela não escreve sobre o eterno Eu e o Tu e o Tu e o Eu mas abraça sim, toda a humanidade. Por exemplo,
Atravessando a vida com tantos livros escritos, tantos prémios que a consagraram universalmente, há um que destaco porque me toca particularmente, porque o sentido mais humano da literatura ainda que fantástico e submetido, aparentemente, ao reino do surreal e do maravilhoso que muito aprecio e elevo, é também, pelo que sei, o livro que a escritora mais gostou de escrever: Olvidado rei Gudú. Como ela própria afirma - , el libro que siempre quiso escribir y por el que le gustaría ser recordada! "Es un libro mágico, como la vida misma".
Toda a magia e mistério da vida é extraordinariamente bem escrito e descrito
Com uma vastíssima obra que passa por muitos romances entre os quais destaco as traduções em língua portuguesa: Olvidado Rei Gudú, Aranmanoth, outro romance no género fantástico apresentado com uma escrita tão doce e envolvente, conta-nos a infância e o crescimento de duas crianças enamoradas.
Ainda
E o livro que hoje apresentamos, A Torre de Vigia.
Ao entrar na leitura deste livro imergimos imediatamente num cenário onírico, denso e misterioso onde sobressai a Natureza por vezes assustadora, outras vezes duma beleza escaldante. Todo este ambiente enevoado e surreal de homens-lobis, ventanias, campos de neve de fome e de frio mais as doçuras do estio, de ameias de castelos, baronesas e barões, veados, javalis, gansos, lobos, cavalos brancos e cavalos pretos, jovens iniciados cavaleiros, peles de ursos, flechas, salões, cozinhas e alcovas, todo este universo existe, atavicamente, em todos nós. Está nos mais altos e escondidos sótãos da nossa memória. Este universo foi, neste livro, posto a descoberto. É uma vida inteira a descobrir universos, a desvendar sonhos, uns atrás dos outros.
E com a ironia sempre presente, vivemos mais uma vez uma certa infância ou como uma criança pode e consegue sublimar atos ou situações terríveis através da construção dos sonhos.
Nesta história somos transportados, como num quadro musical em ambiente medieval, somos transportados em nuvens de cheiros, cores e sabores, interrogações, desespero e espanto.
Este livro, o primeiro duma trilogia medieval, fala-nos de um filho de boas famílias, a sua travessia da infância e entrada na adolescência com grande desassossego. A castelã, a baronesa de Mohl, linda, ruiva e branca que o inicia no amor carnal aos treze anos. Também essa atitude, brutal e estranha, fá-lo perceber os mais rudimentares indícios da constituição psicológica do ser humano. Tudo o que de mais escondido está, para além da fronteira do conhecimento, rente às superstições mais subterrâneas que todos nós temos e que desejamos esconder. Conseguimos perceber este jovem a pensar e a transformar-se todos os dias, o que causa alguma angústia.
As personagens avassaladoras quer animais quer humanas são fascinantes. Krim-Cavalo é um ser inesquecível, lendário e protetor do jovem iniciado. Eu penso mesmo que Krim-Cavalo podia ser o jovem, ele mesmo. Este jovem sem nome. Este fantasma. O barão e a baronesa de Mohl, outras personagens tão excessivas quanto misteriosas. O próprio pai, um poderoso desgraçado que, sem amor para dar, é como se personificasse a eterna noite dos homens.
“A Torre de Vigia” é pois, uma história de desejos, de descoberta, a eterna luta entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas e ao ler este romance pensei sempre no homem à face da Terra, vi-o a tentar avançar não sei para onde, nem porquê, nem para que destino ou fatalidade.
É esta a arte de Ana Maria Matute: a literatura, esse milagre.
Escreveu também contos e muitas histórias para a infância e juventude.
Os prémios e reconhecimentos literários são inúmeros.
Em 2010 recebeu o Prémio Cervantes, o mais alto galardão espanhol atribuído à literatura.
A arte literária é mais uma insignificância do cosmos. Quantos e quantos quilómetros de linhas já foram escritas? Quanto pensamento glorioso já oferecemos aos nossos deuses? Quantos restam? Quantos encantos e desencantos vamos sofrendo? O que é que aprendemos? O que é que valemos? Que interesse tem tudo? Tanta interrogação…
Sei, sinto que Ana Maria Matute tem absoluta consciência das penas que uma pessoa suporta ao longo desta permanência por aqui. Os seus livros são documentos de extraordinária importância que desenham a vida e as experiências do quotidiano de alguém que conviveu com a guerra civil de Espanha e a segunda grande guerra mundial e o pós-guerra. A sua literatura é um grito de libertação através do poder imagético de cada um. A fantasia está expressa em muitos dos seus livros atingindo o pico
Ana Maria Matute enche-me de orgulho como mulher, como escritora, como exemplo de conhecimento, de experiência, de sabedoria, de humanidade e celebro-a em todas as suas vertentes e capacidades. Exalto-a e elevo-a. Desejo-lhe, com toda a admiração e a par desta complexa e temporária passagem pelo planeta Terra, muita saúde e as maiores felicidades em tudo, na sua condição humana e na sua literatura.»
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Por estes dias
Apesar de tudo.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
Prémio Correntes d' Escritas 2014
Manuel Jorge Marmelo, de 42 anos, jornalista nascido no Porto, e desempregado há cerca de um ano, acaba de vencer o prémio Correntes d' Escritas 2014.
A obra "Uma Mentira Mil Vezes Repetida" saiu pela Quetzal em 2011. O júri foi constituído por Isabel Pires de Lima, Carlos Quiroga, Patrícia Reis, Pedro Teixeira Neves e Sara Figueiredo Costa. O prémio, no valor de 20 mil euros, será entregue no próximo sábado, dia 22, na sessão de encerramento da 15ª edição deste festival literário, que decorre no Casino da Póvoa do Varzim.
Para mais informação sobre o autor, vá aqui
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Prémio T.S. Eliot
«Há prémios literários prestigiantes, mas com um valor pecuniário relativamente baixo, e prémios realmente chorudos, mas sem grande reputação. Um prémio literário que reúna ambas as coisas é mais difícil, claro, e é um galardão assim que todos os que escrevem naturalmente almejam. Pois os herdeiros do grande T. S. Eliot e a Poetry Book Society têm há vinte anos o Prémio T. S. Eliot para um livro de poesia, que rende nada mais, nada menos do que quinze mil libras ao seu autor, além, evidentemente, de uma honra sem igual (que poeta não gostaria de ter na sua carreira um prémio cujo patrono fosse um dos maiores poetas de sempre?). Entre os vinte distinguidos até hoje, contam-se, pelo menos, dois autores que receberam o Prémio Nobel da Literatura – o irlandês Seamus Heaney, recentemente falecido, e Derek Walcott, natural da ilha de Santa Lucia, que foi nobelizado em 1992 – e ainda o sobejamente conhecido Ted Hughes. Este ano arrecadou-o uma irlandesa, Sinéad Morrissey, com a obra Parallax (que estou em vias de adquirir), uma poetisa que já somou várias distinções importantes e foi a mais jovem de sempre a ganhar o Prémio Patrick Kavanagh, para inéditos, com dezoito anos, embora a obra só tenha visto a luz muitos anos depois. Convém dizer que todos os seus livros anteriores foram finalistas do prémio que agora lhe foi atribuído e que, portanto, era uma vitória mais ou menos esperada.»
(retirado do blogue "HORAS EXTRAORDINÁRIAS", de Maria do Rosário Pedreira)
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Exposição «Euro Art Photo», Milão
Exposição de Fotografia Euro Art Photo, no Palácio Stelline, em Milão.
(texto adaptado do próprio, facebook)
Parabéns, Nanã! Orgulhosa, eu? Muito! :-)
Parabéns, Nanã! Orgulhosa, eu? Muito! :-)
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
No mundo
Sim, andava eu à procura de um lugar especial para fazer o lançamento do meu livro, quando me deparei com esta "Farmácia Liberal" e disse, É isto. E foi. Foi, porque tive uma sorte tremenda. E foi aqui, junto de botelhas com essências antigas, óleos, almofarizes, frascos de rótulos centários e chão de xadrez que eu, o Director do Museu da Farmácia e a Patrícia Reis, nos viemos instalar para receber os convidados. O meu filho, garantidamente ausente, apareceu de surpresa a tirar sentido aos dias de tristeza que andei a sentir por antecipação, por saber (julgava eu) que ele não iria estar. E pergunto: então para quê sofrer por antecipação? É que às vezes a tristeza não se confirma.
A Patrícia apareceu com um vestido da Anita, que tinha guardado propositadamente para a ocasião. Não, o meu livro não é sobre a Anita, mas pelo meio das 506 páginas anda a inocência da infância e muita nostalgia que sempre sentimos por mundos perdidos e tempos que nos fogem entre os dedos. Leu o seu texto e captou a atenção de todos. Ninguém fica indiferente ao que esta mulher tem para dizer.
O meu tio Vasco ofereceu-se para fazer a reportagem e, como se não bastasse, ainda tive direito a assistente, o Vasco Jr, meu primo, que se prepara para se tornar em mais um fotógrafo nesta família de artistas.
O meu marido assegurou o som, carregou equipamento e caixas com livros, sumiu-se rumo a um qualquer gig, e deixou-me desamparada...mas entregue ao tão esperado alívio.
Não estás feliz? Perguntam-me. Confesso que o sentimento é sobretudo de alívio, como pássaro que tenta, em vão, encontrar uma janela, uma escapatória, e bate irremediavelmente as asas contra as paredes de vidro e os recantos abandonados. A janela foi destrancada, ele partiu enfim. Foi para isso que foi feito, para bater as asas na paisagem, entre as ruas, roçando ao de leve os cabelos e as mãos, brincando com quem passa. Os ventos! É preciso não esquecer os ventos, que levam tudo.
Não esquecerei este dia de alívio, aromatizado com algo que lembra vagamente a fé no que há-de vir.
O meu filho de folhas está cá fora. A reportagem completa com todos? No facebook, claro.
A ILHA DE MELQUISEDECH (1º volume). Capa - maravilhosa - de Vanessa Bettencourt.
Não sei de que me rio, mas estou feliz, sem dúvida. Afinal não é só alívio. |
Moçoilas (colegas da faculdade): nunca falham quando chamamos por elas. É uma arte de feiticeiras que elas têm. |
De alunas de escrita criativa têm pouco: são sobretudo amigas com quem aprendo a ser feliz. |
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
domingo, 6 de outubro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
Escrita a 8 mãos
Mais uma sessão matinal de escrita criativa cá em casa: Outono na ponta dos dedos. Uma manhã de sol e bastante vento, para estes lados. Recebi as minhas alunas de avental. Duas de nós meteram as mãos na massa, tendendo bolinhas para os biscoitos que foram a cozer. A Rosário trouxe amêndoas. Tive de por um pacotinho de lenços sobre a mesa. A escrita pode ser uma terapia. Talvez o seja sempre. Escondemo-nos dos outros para escrever, mas também nos revelamos ou escondemos na escrita. Vieram autores à conversa, Mia Couto, Laura Esquivel, Joanne Harrys, Romain Gary, Albert Spinoza.
A João interrompeu a realização de um exercício para retirar os tabuleiros do forno. Quando desci com as fotografias do Nanã na mão, a casa já se inundara de perfumes doces. A meio da sessão houve chá earl Grey, aromatizado com bergamota, para acompanhar os biscoitos feitos com amor, sim.
A 2ª pessoa do singular foi rainha de quase todos os textos. 3 poemas de Russel Edson sobre a mesa, a mostrar que a poesia pode ser assim, infantil, surrealista, desconcertante.
O tempo voou como folhas secas ao vento. Obrigada por tudo, meninas escrevinhadoras.sexta-feira, 5 de julho de 2013
quinta-feira, 20 de junho de 2013
James Gandolfini
Morreu ontem, aos 51 anos, em Roma, de ataque cardíaco (atrás de um imenso prato de esparguete, será?). É caso para espanto? Claro que não. Mas que se perde mais um actor "de peso", sem dúvida. E é uma pena.
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