Papers by Rafael Kalaf Cossi
PLURAL - Revista de Psicologia UNESP Bauru
Trata-se da resenha do livro O Outrossexo: não existe relação heterossexual. Seu autor, Jean Allo... more Trata-se da resenha do livro O Outrossexo: não existe relação heterossexual. Seu autor, Jean Allouch, considera que se pode deduzir duas analíticas do sexo em Lacan, correspondentes a duas modalidades de inexistência da relação sexual. Allouch questiona o projeto lacaniano da escrita da não-relação –segunda analítica – que recorre aos recursos da teoria do nós, a partir do que se poderia depreender três incidências da inexistência: O Outro não existe, não existe o Outro gozo, a relação sexual não existe. Em paralelo a essa proposta, o autor apresenta três figuras da não relação sexual retiradas de Foucault – do mestre com os garotos, com as mulheres e com a esposa. O livro convida à reflexão crítica sobre uma eventual contribuição da erótica inferida pelos estudos de gênero para um erotismo característico da não-relação sexual – e que seria uma forma inédita de abordar esse aforismo lacaniano.
Psicologia em Estudo
O objetivo deste artigo é defender a tese de que o sexo em psicanálise apresenta caráter ontologi... more O objetivo deste artigo é defender a tese de que o sexo em psicanálise apresenta caráter ontologicamente negativo. Desde Freud, sabemos que sexo não se restringe a práticas específicas nem se aferra a objetos predeterminados – sexo é encarado como pulsional; sendo assim, perverso, polimorfo e infantil. Desta feita, trata-se de um objeto não positivado e que se manifesta em fenômenos negativos, como as formações do inconsciente – sexo, inconsciente e não saber estão intimamente associados. O impasse ontológico radical concernente ao sexo compõe os desenvolvimentos lacanianos referentes ao desejo e ao gozo. Ater-se à espécie de negatividade que lhe é própria permite extrair outras consequências do aforismo ‘não há relação sexual’ – para além da ideia de obstáculo ou impedimento, problematiza-se a face ontológica negativa da não relação, correspondente à ligação entre simbólico e real e que pode ser formalizada no matema S (Ⱥ). O artigo também põe em destaque incidências clínicas desta...
Leituras de Judith Butler, 2016
Psicologia em Estudo, 2023
RESUMO. O objetivo deste artigo é defender a tese de que o sexo em psicanálise apresenta caráter ... more RESUMO. O objetivo deste artigo é defender a tese de que o sexo em psicanálise apresenta caráter ontologicamente negativo. Desde Freud, sabemos que sexo não se restringe a práticas específicas nem se aferra a objetos predeterminadossexo é encarado como pulsional; sendo assim, perverso, polimorfo e infantil. Desta feita, trata-se de um objeto não positivado e que se manifesta em fenômenos negativos, como as formações do inconscientesexo, inconsciente e não saber estão intimamente associados. O impasse ontológico radical concernente ao sexo compõe os desenvolvimentos lacanianos referentes ao desejo e ao gozo. Ater-se à espécie de negatividade que lhe é própria permite extrair outras consequências do aforismo 'não há relação sexual'para além da ideia de obstáculo ou impedimento, problematiza-se a face ontológica negativa da não relação, correspondente à ligação entre simbólico e real e que pode ser formalizada no matema S (Ⱥ). O artigo também põe em destaque incidências clínicas desta propostareconhecer a irredutibilidade ontológica da negação nos desvia das determinações positivas que sustentam normatizações identitárias em horizonte clínico. Palavras-chave: Sexo; psicanálise; ontologia negativa.
Revista Subjetividades
Trata-se da resenha do livro Žižek in the clinic: a revolucionary proposal for a new endgame in p... more Trata-se da resenha do livro Žižek in the clinic: a revolucionary proposal for a new endgame in psychoterapy. Seu autor, Eliot Rosenstock, considera que os preceitos do capitalismo atual e da lógica do mercado moldam as práticas clínicas comportamentais e engendram a indústria da psicoterapia. Como reação, o autor propõe a estratégia da psicoeducação, munido das contribuições que Slavoj Žižek traz para a psicanálise. A intenção seria desalienar o sujeito contemporâneo imerso no modelo neoliberal e desarticular as proposições psicoterapêuticas condizentes a ele. O livro convida à reflexão crítica sobre renovações clínicas compelidas pelo nosso cenário político e econômico.
Stoller e a psicanálise: da identidade de gênero ao semblante lacaniano Stoller and psychoanalysi... more Stoller e a psicanálise: da identidade de gênero ao semblante lacaniano Stoller and psychoanalysis: from gender identity to the lacanian semblance Rafael Kalaf Cossi Resumo Neste texto, incialmente examinamos a obra de Robert Stoller, notadamente em seu percurso pela psicanálise. Detectamos que, ao longo de seu trabalho, Stoller tratou das diferentes manifestações da sexualidade até aos estudos antropológicos. Pioneiro do uso do termo "gender" no contexto psicanalítico, Stoller propôs várias modificações à teoria do Édipo freudiana. Suas teses foram largamente disseminadas em solo anglo-saxão e exerceram influência decisiva em expoentes da psicanálise inglesa. Mais conhecido no Brasil por sua pesquisa a respeito da transexualidade, verificamos que sua insistente intenção era engendrar o que denominou como "núcleo de identidade de gênero", e que foi alvo de crítica de Lacan no Seminário 18. A proposição stolleriana foi o ponto de partida para o desenvolvimento lacaniano da noção de semblante e acompanhamos que, se uma modalidade de relação pode ser inferida a partir dela, posteriormente Lacan vai se dedicar à formalização da não relação sexual.
Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 2019
Este trabalho visa expor o debate que Luce Irigaray trava com a Psicanálise. Inicialmente, contex... more Este trabalho visa expor o debate que Luce Irigaray trava com a Psicanálise. Inicialmente, contextualiza sua obra no universo feminista. Irigaray compõe a vertente francesa que, nos anos 1970, dava destaque especial à linguagem. A autora defende que os desenvolvimentos freudianos referentes ao complexo de Édipo tomam o patriarcado como base e se edificam aos moldes falogocêntricos, a ser ratificado pela tendência estruturalista que fundamenta os preceitos do simbólico de Lacan-nessa conjuntura, a mulher não tem representação própria, sendo acomodada aos parâmetros masculinos que a inferiorizam. Como forma de reverter tal cenário, Irigaray propõe estratégias como a reconfiguração da relação mãe-filha e intervenções na linguagem, o que permitiria a fundação de uma escrita transgressiva a inscrever discursivamente o gozo feminino não refreável pelas balizas fálicas.
Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 2019
RESUMO: Este artigo examina a crítica endereçada à psicanálise lacaniana de que seus desenvolvime... more RESUMO: Este artigo examina a crítica endereçada à psicanálise lacaniana de que seus desenvolvimentos teóricos a respeito da diferença sexual teriam se dado sob a regência da dinâmica que regula a binaridade de gênero. Pretendemos mostrar que a teoria da sexuação, através do recurso dos números e das subversões lógicas propostas, visa formalizar o aforismo “não há relação sexual”, deduzido de incompatíveis regências fálicas e modalidades de gozo. Desta forma, Lacan não teria adotado a operação de opor termos binários, homem/mulher, mas se vertido ao que faz obstáculo entre eles, desviando-se da mecânica dicotômica preconizada pela norma heterossexual.
Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 2018
Psicologia: Teoria e Pesquisa, 2017
RESUMO Judith Butler está no centro do fecundo debate estabelecido entre psicanálise e estudos de... more RESUMO Judith Butler está no centro do fecundo debate estabelecido entre psicanálise e estudos de gênero. A filósofa utiliza teses psicanalíticas em seu proveito. Porém, critica alguns de seus referenciais teóricos. Neste artigo, reexaminamos tais críticas à luz da teoria do Real e das fórmulas da sexuação de Lacan. Sugerimos que os apontamentos butlerianos dependem de um entendimento de ordem simbólica que identifica três instâncias: sistemas de parentesco; gêneros de relação ao falo; e modalidades de gozo. A nosso ver, esse entendimento de diferença sexual, dualista e complementar, é revisto pela teoria lacaniana da disparidade do gozo. Também sustentamos que a teoria dos discursos, na quais homem e mulher são tomados como semblantes, abrem caminhos inovadores à pesquisa da diferença sexual.
This thesis looks into the debate established between lacanian psychoanalysis and feminist and ge... more This thesis looks into the debate established between lacanian psychoanalysis and feminist and gender studies on the difference between the sexes, as well as the developments that Lacan's theory of sexuation can bring to this theme. We examine the fundamental french feminists's works that deal with this interface, in the case Irigaray´s, Cixous's, Montrelay's, Kristeva's and Wittig's. Those works, especially edifying of the feminine writing movement, have had a decisive impact on both Lacan and in contemporary gender studies. We examined the work of Robert Stoller, the introduction of the term gender in this context, and the development of his "core gender identity" theory, to be criticized by Lacan in the seminar XVIII, and which we have found to be determinant in establishing the lacanian notion of semblant. We verified that the lacanian strand incorporated in United States of America was the one that turned to Levi-Strauss's structuralism and kinship relations, as we see in the works of Rubin and Butler. We realized that the criticisms to Lacan were about his notions established through the symbolic register and its supposed apolitical and ahistorical character, which compelled proponents of psychoanalysis to react. Under the hypothesis that the lacanian sexuation could move this discussion forward, we concluded that dealing with the phallus as a function, the theory of jouissance and derivations of the aphorisms "There is no sexual relation" and "The woman does not exist", from logic field, number theory and set theory resources, finally invigorated the lacanian understanding of difference between the sexes, which escapes heteronormative prescriptions and gender binarity.
A Proposta Psicoeducativa: Um Recurso à Psicanálise Frente as Implicações Capitalistas Atuais?, 2022
Filosofia e Psicanálise (LATESFIP-USP). Membro do Ambulatório Generidades (AGE). Resumo Trata-se ... more Filosofia e Psicanálise (LATESFIP-USP). Membro do Ambulatório Generidades (AGE). Resumo Trata-se da resenha do livro Žižek in the clinic: a revolucionary proposal for a new endgame in psychoterapy. Seu autor, Eliot Rosenstock, considera que os preceitos do capitalismo atual e da lógica do mercado moldam as práticas clínicas comportamentais e engendram a indústria da psicoterapia. Como reação, o autor propõe a estratégia da psicoeducação, munido das contribuições que Slavoj Žižek traz para a psicanálise. A intenção seria desalienar o sujeito contemporâneo imerso no modelo neoliberal e desarticular as proposições psicoterapêuticas condizentes a ele. O livro convida à reflexão crítica sobre renovações clínicas compelidas pelo nosso cenário político e econômico.
Este trabalho tem por finalidade examinar certa faceta da polêmica que gira em torno dos termos d... more Este trabalho tem por finalidade examinar certa faceta da polêmica que gira em torno dos termos diferença dos sexos, gênero e diferença sexual em repercussão no campo psicanalítico. Inicialmente, versa sobre a incorporação de gender como instrumento da pesquisa sobre a sexualidade efetuada por Robert Stoller. Sua tese a respeito do núcleo de identidade de gênero foi analisada por Judith Butler e serviu-lhe de contraponto para o desenvolvimento de sua noção de performatividade de gênero. Acompanhamos a polêmica concernente à noção de diferença sexual em psicanálise. Se, por um lado, é interpretada pelos estudos de gênero como mantenedora duma norma binária que é avessa à multiplicidade; por outro, tem o mérito de resguardar o termo sexo, justamente este que é excluído do espectro contemplado por gênero e é exaltado pelo feminismo francês. Constatamos que a proposição stolleriana também foi criticada por Jacques Lacan no contexto de sua elaboração da noção de semblante do seminário XV...
Judith Butler is in the center of the productive debate established between psychoanalysis and ge... more Judith Butler is in the center of the productive debate established between psychoanalysis and gender studies. The philosopher appeals to some psychoanalytic theories, but criticizes certain psychoanalytical references. In this article, we reexamine these criticisms resorting to Lacan’s theory of the Real and the formulas of sexuation. We suggest that Butler’s notes require an understanding of the symbolic order which identifies three instances: kinship systems; genres of relation to the phallus; and juissance modalities. In our view, this understanding of sexual difference, dualistic and complementary, is reviewed by Lacan´s theory of juissance disparity. We also argue that the theory of discourse, in which man and woman are taken as semblant, brings innovative perspectives to sexual difference research.
Psicologia USP
Resumo Este trabalho apresenta as teorias empreendidas pelas feministas francesas dos anos 1970, ... more Resumo Este trabalho apresenta as teorias empreendidas pelas feministas francesas dos anos 1970, notadamente a respeito do uso e da interpretação que fizeram da psicanálise lacaniana, assim como o que consideramos ter sido a postura epistemológica que Lacan adota nesse momento. Fortemente marcadas por Derrida e o pós-estruturalismo, Irigaray e Cixous tecem suas críticas ao arsenal teórico psicanalítico supostamente condizente com o modelo patriarcal, ao passo que concebem um tipo de escrita subversiva com aspirações políticas. Também nesse intuito, Montrelay e Kristeva pretendem oferecer uma sustentação teórica consistente com o movimento. Já Wittig, marcada pelo marxismo, lê os conceitos lacanianos como determinados pela mentalidade heterossexual enquanto regime político. Sustentamos que Lacan, atento ao entusiasmo feminista do período, opta por desenvolver sua teoria da sexuação e se dedica à formalização do aforismo “Não há relação sexual”.
revista psicologia USP, 2020
Resumo: Este trabalho apresenta as teorias empreendidas pelas feministas francesas dos anos 1970,... more Resumo: Este trabalho apresenta as teorias empreendidas pelas feministas francesas dos anos 1970, notadamente a respeito do uso e da interpretação que fizeram da psicanálise lacaniana, assim como o que consideramos ter sido a postura epistemológica que Lacan adota nesse momento. Fortemente marcadas por Derrida e o pós-estruturalismo, Irigaray e Cixous tecem suas críticas ao arsenal teórico psicanalítico supostamente condizente com o modelo patriarcal, ao passo que concebem um tipo de escrita subversiva com aspirações políticas. Também nesse intuito, Montrelay e Kristeva pretendem oferecer uma sustentação teórica consistente com o movimento. Já Wittig, marcada pelo marxismo, lê os conceitos lacanianos como determinados pela mentalidade heterossexual enquanto regime político. Sustentamos que Lacan, atento ao entusiasmo feminista do período, opta por desenvolver sua teoria da sexuação e se dedica à formalização do aforismo "Não há relação sexual". Palavras-chave: feminismo francês, psicanálise lacaniana, diferença dos sexos, não relação. * Endereço para correspondência: [email protected] O feminismo pode ser didaticamente dividido em três ondas (Lago, 2010). A primeira é situada na virada do séculos XIX para o XX e no entreguerras, chamada "feminismo da igualdade"-reivindicava-se o direito ao voto, ao trabalho e à cidadania, ou seja, igualdade social e política com relação aos homens. A segunda onda, que foi até por volta dos anos 1980, é conhecida como "feminismo das diferenças"-além de dar força às lutas anteriores, mirava-se o mecanismo em jogo no sistema patriarcal que subjugava as mulheres; a crítica é contra a dominação masculina e as especificidades das mulheres tendem a ser exaltadas. A terceira onda do feminismo, iniciada a partir dos anos 1990, demanda a legitimação de novos modelos de identidade, práticas sexuais e relações de parentesco, ao questionar os processos de normatização de gênero. Psicanálise e feminismo estão em diálogo desde seus primórdios e apresentam um percurso interimplicado: "emaranhados, não apenas constituíram um ao outro, como também nunca viveram separados" (Dimen citado por Roth, 2000, p. 189). Relação conflituosa, união paradoxal, "como gêmeos que estivessem, desde o começo, destinados ao amor e a rivalidade infinitos" (Bowlby citado por Brennan, 1997, p. 66). No início do século XX, prevalecia a concepção de que o baixo impacto da mulher no espaço público e sua módica participação nos processos de produção seriam decorrentes da função reprodutiva que lhe cabia, ou seja, seu aparato biológico justificaria sua menor importância sociopolítica-visão a ser combatida pelo grupo feminista. Neste sentido, a grande ênfase que a psicanálise dá à sexualidade feminina nos anos 1920 chama atenção. Se, por um lado, Freud desenvolvia uma teoria que sustentava que o processo de constituição do sujeito como homem ou mulher é histórico ou cultural, na forma da trama edípica-ou seja, não temos um inalterável percurso biologicamente determinado; por outro, ele era acusado de ser mantenedor da subordinação da mulher a partir da alegação de que a diferença anatômica prescrevia a ela menor valor e inferioridade de condições quando comparada ao homem. Surgem então, dentro do universo psicanalítico desse período, autores que se contrapunham às proposições freudianas, tais como Ernest Jones, Melanie Klein, Helene Deutsch e Karen Horney, que acabaram por contribuir com a articulação das posições feministas. Os principais pontos de divergência com Freud diziam respeito ao complexo de castração ser concebido como um processo único, válido para meninos e meninas; e ao fato de a libido também ser única, masculina-assim como o falo, para tais autores, ser veiculado como um artifício teórico inerente ao pênis. O clitóris era reconhecido como uma versão feminina do pênis, libidinalmente desinvestido, à medida que a vagina entrava em cena; contudo, a menina sempre padecia da "inveja do pênis"-tal conjectura freudiana foi vigorosamente afrontada por Horney (1967/1993) e seu desenvolvimento da "inveja do útero". Se a premissa é fálica, aqueles autores vão buscar explicar a mulher em si mesma, não por meio do modelo da organização da sexualidade masculina. Não à toa, enfatizam o período pré-edípico e a relação primordial mãe-filho, deslocando, assim, o pai do lugar privilegiado reservado a ele na teoria do Édipo. Freud (1931/2010)
RESUMO: Este artigo examina a crítica endereçada à psicanálise lacaniana de que seus desenvolvime... more RESUMO: Este artigo examina a crítica endereçada à psicanálise lacaniana de que seus desenvolvimentos teóricos a respeito da diferença sexual teriam se dado sob a regência da dinâmica que regula a binaridade de gênero. Pretendemos mostrar que a teoria da sexuação, através do recurso dos números e das subversões lógicas propostas, visa formalizar o aforismo "não há relação sexual", deduzido de incompatíveis regências fálicas e modalidades de gozo. Desta forma, Lacan não teria adotado a operação de opor termos binários, homem/ mulher, mas se vertido ao que faz obstáculo entre eles, desviando-se da mecânica dicotômica preconizada pela norma heterossexual. Palavras-chave: binaridade de gênero; psicanálise lacaniana; sexuação; diferença dos sexos. Abstract: Psychoanalysis and gender binarism: a debate in the light of lacanian sexuation. This paper examines the criticism that the Lacanian theoretical developments about sexual difference would have taken place under the regency of the dynamics that regulate the gender binarism. We intend to show that the theory of sexuation, through the resources of numbers and logical subversions proposed, aims to formalize the aphorism "there is no sexual relation", deduced from incompatible phallic regencies and modalities of jouissance. In this way, Lacan would not have assumed the operation of opposing binary terms, male/female, but instead turned to the obstacle between them, diverging from the dichotomous mechanics that keep the heterosexual norm.
Revista Gerais, 2019
Este trabalho visa expor o debate que Luce Irigaray trava com a Psicanálise. Inicialmente, contex... more Este trabalho visa expor o debate que Luce Irigaray trava com a Psicanálise. Inicialmente, contextualiza sua obra no universo feminista. Irigaray compõe a vertente francesa que, nos anos 1970, dava destaque especial à linguagem. A autora defende que os desenvolvimentos freudianos referentes ao complexo de Édipo tomam o patriarcado como base e se edificam aos moldes falogocêntricos, a ser ratificado pela tendência estruturalista que fundamenta os preceitos do simbólico de Lacan-nessa conjuntura, a mulher não tem representação própria, sendo acomodada aos parâmetros masculinos que a inferiorizam. Como forma de reverter tal cenário, Irigaray propõe estratégias como a reconfiguração da relação mãe-filha e intervenções na linguagem, o que permitiria a fundação de uma escrita transgressiva a inscrever discursivamente o gozo feminino não refreável pelas balizas fálicas. Palavras-chave: Irigaray. Feminismo. Psicanálise. Linguagem. Gozo. Abstract
This paper aims to present the debate between Luce Irigaray and psychoanalysis. Initially, it contextualizes her work within the feminist field. Irigaray composes its French strand that, in the 1970s, gave prominence to language. She argues that the Freudian developments about Oedipus complex is based on patriarchy and are set up through phallogocentric resolutions, which would be ratified by the structuralist strand that underlies the Lacan's precepts of the Symbolic-in this conjuncture, the woman does not have its own representation, as she adapts to the male parameters that make her inferior. To disturb such situation, Irigaray proposes some strategies, such as the reconfiguration of the mother-daughter relation and interventions in language, which would make possible a transgressive writing type that would discursively inscribe female jouissance, which is not guided by the phallic parameters.
Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 2018
Publicação Irigaray, L. (2017). Este sexo que não é só um sexo: sexualidade e status social da mu... more Publicação Irigaray, L. (2017). Este sexo que não é só um sexo: sexualidade e status social da mulher. (C. Prada, Trans.). São Paulo: Editora Senac. (Trabalho original publicado em 1977)
Revista Subjetividades, 2018
Este trabalho tem por finalidade examinar certa faceta da polêmica que gira em torno dos termos d... more Este trabalho tem por finalidade examinar certa faceta da polêmica que gira em torno dos termos diferença dos sexos, gênero e diferença sexual
em repercussão no campo psicanalítico. Inicialmente, versa sobre a incorporação de gender como instrumento da pesquisa sobre a sexualidade
efetuada por Robert Stoller. Sua tese a respeito do núcleo de identidade de gênero foi analisada por Judith Butler e serviu-lhe de contraponto
para o desenvolvimento de sua noção de performatividade de gênero. Acompanhamos a polêmica concernente à noção de diferença sexual em
psicanálise. Se, por um lado, é interpretada pelos estudos de gênero como mantenedora duma norma binária que é avessa à multiplicidade; por
outro, tem o mérito de resguardar o termo sexo, justamente este que é excluído do espectro contemplado por gênero e é exaltado pelo feminismo
francês. Constatamos que a proposição stolleriana também foi criticada por Jacques Lacan no contexto de sua elaboração da noção de semblante
do seminário XVIII, que prevê uma espécie de relação entre os sexos. Por fim, defendemos que Lacan não recorre à diferença sexual nem
a gênero visando defini-los, mas entra nesse debate privilegiando a relação entre um sexo e outro enquanto impossível, concepção que é
subsumida na expressão diferença dos sexos e que foi tema tratado extensamente e com grande rigor de formalização em sua teoria da sexuação.
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Papers by Rafael Kalaf Cossi
This paper aims to present the debate between Luce Irigaray and psychoanalysis. Initially, it contextualizes her work within the feminist field. Irigaray composes its French strand that, in the 1970s, gave prominence to language. She argues that the Freudian developments about Oedipus complex is based on patriarchy and are set up through phallogocentric resolutions, which would be ratified by the structuralist strand that underlies the Lacan's precepts of the Symbolic-in this conjuncture, the woman does not have its own representation, as she adapts to the male parameters that make her inferior. To disturb such situation, Irigaray proposes some strategies, such as the reconfiguration of the mother-daughter relation and interventions in language, which would make possible a transgressive writing type that would discursively inscribe female jouissance, which is not guided by the phallic parameters.
em repercussão no campo psicanalítico. Inicialmente, versa sobre a incorporação de gender como instrumento da pesquisa sobre a sexualidade
efetuada por Robert Stoller. Sua tese a respeito do núcleo de identidade de gênero foi analisada por Judith Butler e serviu-lhe de contraponto
para o desenvolvimento de sua noção de performatividade de gênero. Acompanhamos a polêmica concernente à noção de diferença sexual em
psicanálise. Se, por um lado, é interpretada pelos estudos de gênero como mantenedora duma norma binária que é avessa à multiplicidade; por
outro, tem o mérito de resguardar o termo sexo, justamente este que é excluído do espectro contemplado por gênero e é exaltado pelo feminismo
francês. Constatamos que a proposição stolleriana também foi criticada por Jacques Lacan no contexto de sua elaboração da noção de semblante
do seminário XVIII, que prevê uma espécie de relação entre os sexos. Por fim, defendemos que Lacan não recorre à diferença sexual nem
a gênero visando defini-los, mas entra nesse debate privilegiando a relação entre um sexo e outro enquanto impossível, concepção que é
subsumida na expressão diferença dos sexos e que foi tema tratado extensamente e com grande rigor de formalização em sua teoria da sexuação.
This paper aims to present the debate between Luce Irigaray and psychoanalysis. Initially, it contextualizes her work within the feminist field. Irigaray composes its French strand that, in the 1970s, gave prominence to language. She argues that the Freudian developments about Oedipus complex is based on patriarchy and are set up through phallogocentric resolutions, which would be ratified by the structuralist strand that underlies the Lacan's precepts of the Symbolic-in this conjuncture, the woman does not have its own representation, as she adapts to the male parameters that make her inferior. To disturb such situation, Irigaray proposes some strategies, such as the reconfiguration of the mother-daughter relation and interventions in language, which would make possible a transgressive writing type that would discursively inscribe female jouissance, which is not guided by the phallic parameters.
em repercussão no campo psicanalítico. Inicialmente, versa sobre a incorporação de gender como instrumento da pesquisa sobre a sexualidade
efetuada por Robert Stoller. Sua tese a respeito do núcleo de identidade de gênero foi analisada por Judith Butler e serviu-lhe de contraponto
para o desenvolvimento de sua noção de performatividade de gênero. Acompanhamos a polêmica concernente à noção de diferença sexual em
psicanálise. Se, por um lado, é interpretada pelos estudos de gênero como mantenedora duma norma binária que é avessa à multiplicidade; por
outro, tem o mérito de resguardar o termo sexo, justamente este que é excluído do espectro contemplado por gênero e é exaltado pelo feminismo
francês. Constatamos que a proposição stolleriana também foi criticada por Jacques Lacan no contexto de sua elaboração da noção de semblante
do seminário XVIII, que prevê uma espécie de relação entre os sexos. Por fim, defendemos que Lacan não recorre à diferença sexual nem
a gênero visando defini-los, mas entra nesse debate privilegiando a relação entre um sexo e outro enquanto impossível, concepção que é
subsumida na expressão diferença dos sexos e que foi tema tratado extensamente e com grande rigor de formalização em sua teoria da sexuação.