Considerando-se o acúmulo etnográfico sobre a região em foco, parte-se da premissa da simultaneid... more Considerando-se o acúmulo etnográfico sobre a região em foco, parte-se da premissa da simultaneidade de formas expressivas, orais e não orais, de registro e transformação da temporalidade entre os Karipuna, Palikur e Galibi-Marworno do extremo norte do estado do Amapá. Assim, no clássico eixo do mito e da história encontraríamos formas outras de registro e transformação da temporalidade, a exemplo de cantos xamânicos, performances dramáticas e narrativas híbridas, como bem sublinhou Lévi-Strauss (1986) ao caracterizar o corpus “barroco” de povos norte-americanos enquanto literatura mitológica colonial. Algumas perguntas emergem deste cenário, tais como: o que é “história”? Quais os elementos verdadeiramente constitutivos disso que chamamos de “história”? Podemos universalizar a “história” ou devemos trata-la como o modo que nos é familiar de registro e transformação da temporalidade? Quando é legítimo falarmos de “histórias indígenas”, no sentido de uma ascensão indígena à “história”? A que reducionismos estamos expostos ao dizermos que as expressões indígenas de registro e transformação da temporalidade são “história”? Com tais problematizações procura-se compreender quais são os elementos pelos quais os povos indígenas da região em tela se percebem e se representam no fluxo temporal, indo além, portanto, da compreensão de modelos nativos de interpretação de processos históricos de mudança que vem ocupando uma parcela da etnologia amazônica voltada para a experiência indígena do contato.
Bancos zoomorfos, Mastros, Clarinetes e Maracás são itens fundamentais do turé dos índios Galibi-... more Bancos zoomorfos, Mastros, Clarinetes e Maracás são itens fundamentais do turé dos índios Galibi-Marworno do norte do Amapá. Ao contrário de meramente comporem o acervo de objetos rituais, esses elementos são, simultaneamente, partícipes e destinatários da cerimônia, uma vez que são Karuãna com invólucro de artefatos atuantes, notadamente na cura e causação de doenças. O presente texto visa refletir sobre a gênese da agência extra-humana e sobre modos de distribuição da pessoa no pensamento xamânico regional que atribui intencionalidade e capacidade de rela-
ção aos artefatos rituais.
Elemento fundamental no pensamento grego pré-filosófico, physis reflete unidade, presença e relaç... more Elemento fundamental no pensamento grego pré-filosófico, physis reflete unidade, presença e relação. Convertida em “naturans” pelos romanos foi, na modernidade, depurada em “natureza” e com esse sentido passou a representar um domínio em face do qual a história e a cultura mantém uma relação crescente de assimetria e exterioridade figuradas pela máxima cartesiana de que “o homem deve ser Mestre e Senhor da natureza”. Fora do arco hegemônico do pensamento ocidental há, entretanto, percepções alternativas da natureza análogas à physis. Assumindo que para o que nomeamos natureza existe um plano originário – captado seja pelo pensamento selvagem, de Lévi-Strauss (1962), ou pela ontologia anímica, de Tim Ingold (2000; 2006) – o texto busca confluências entre a physis pré-filosófica e o xamanismo dos índios Galibi-Marworno da região do baixo Rio Oiapoque e Rio Uaçá (fronteira Brasil-Guiana Francesa).
Considerando-se o acúmulo etnográfico sobre a região em foco, parte-se da premissa da simultaneid... more Considerando-se o acúmulo etnográfico sobre a região em foco, parte-se da premissa da simultaneidade de formas expressivas, orais e não orais, de registro e transformação da temporalidade entre os Karipuna, Palikur e Galibi-Marworno do extremo norte do estado do Amapá. Assim, no clássico eixo do mito e da história encontraríamos formas outras de registro e transformação da temporalidade, a exemplo de cantos xamânicos, performances dramáticas e narrativas híbridas, como bem sublinhou Lévi-Strauss (1986) ao caracterizar o corpus “barroco” de povos norte-americanos enquanto literatura mitológica colonial. Algumas perguntas emergem deste cenário, tais como: o que é “história”? Quais os elementos verdadeiramente constitutivos disso que chamamos de “história”? Podemos universalizar a “história” ou devemos trata-la como o modo que nos é familiar de registro e transformação da temporalidade? Quando é legítimo falarmos de “histórias indígenas”, no sentido de uma ascensão indígena à “história”? A que reducionismos estamos expostos ao dizermos que as expressões indígenas de registro e transformação da temporalidade são “história”? Com tais problematizações procura-se compreender quais são os elementos pelos quais os povos indígenas da região em tela se percebem e se representam no fluxo temporal, indo além, portanto, da compreensão de modelos nativos de interpretação de processos históricos de mudança que vem ocupando uma parcela da etnologia amazônica voltada para a experiência indígena do contato.
Bancos zoomorfos, Mastros, Clarinetes e Maracás são itens fundamentais do turé dos índios Galibi-... more Bancos zoomorfos, Mastros, Clarinetes e Maracás são itens fundamentais do turé dos índios Galibi-Marworno do norte do Amapá. Ao contrário de meramente comporem o acervo de objetos rituais, esses elementos são, simultaneamente, partícipes e destinatários da cerimônia, uma vez que são Karuãna com invólucro de artefatos atuantes, notadamente na cura e causação de doenças. O presente texto visa refletir sobre a gênese da agência extra-humana e sobre modos de distribuição da pessoa no pensamento xamânico regional que atribui intencionalidade e capacidade de rela-
ção aos artefatos rituais.
Elemento fundamental no pensamento grego pré-filosófico, physis reflete unidade, presença e relaç... more Elemento fundamental no pensamento grego pré-filosófico, physis reflete unidade, presença e relação. Convertida em “naturans” pelos romanos foi, na modernidade, depurada em “natureza” e com esse sentido passou a representar um domínio em face do qual a história e a cultura mantém uma relação crescente de assimetria e exterioridade figuradas pela máxima cartesiana de que “o homem deve ser Mestre e Senhor da natureza”. Fora do arco hegemônico do pensamento ocidental há, entretanto, percepções alternativas da natureza análogas à physis. Assumindo que para o que nomeamos natureza existe um plano originário – captado seja pelo pensamento selvagem, de Lévi-Strauss (1962), ou pela ontologia anímica, de Tim Ingold (2000; 2006) – o texto busca confluências entre a physis pré-filosófica e o xamanismo dos índios Galibi-Marworno da região do baixo Rio Oiapoque e Rio Uaçá (fronteira Brasil-Guiana Francesa).
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Papers by Ugo Andrade
ção aos artefatos rituais.
ção aos artefatos rituais.