
Moacir Maia
Currículo completo: http://lattes.cnpq.br/6021707344002114
Historiador, doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013), com doutorado sanduíche sob orientação do prof. Paul Lovejoy no The Harriet Tubman Institute/York University. Possui mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (2006) e graduação em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (2003). Coordena o projeto Senhores de suas Casas, com enfoque na população negra mineira, no NPHED/Cedeplar/UFMG, e também o projeto Minas Gerais para o Slave Societies Digital Archive da Vanderbilt University. Integra a equipe do SHADD Biography Project: Testimonies of West Africans from the Era of the Slave Trade. Em 2019, foi laureado com primeiro lugar do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa, promovido pelo Arquivo Nacional do Brasil. Tem experiência na área de História, com ênfase na História da África Ocidental e História do Brasil Colonial, atuando principalmente nos seguintes temas: identidade étnica, diáspora africana, escravidão e parentesco.
E-mail: [email protected] Moacir R. de Castro Maia
Historiador, doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013), com doutorado sanduíche sob orientação do prof. Paul Lovejoy no The Harriet Tubman Institute/York University. Possui mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (2006) e graduação em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (2003). Coordena o projeto Senhores de suas Casas, com enfoque na população negra mineira, no NPHED/Cedeplar/UFMG, e também o projeto Minas Gerais para o Slave Societies Digital Archive da Vanderbilt University. Integra a equipe do SHADD Biography Project: Testimonies of West Africans from the Era of the Slave Trade. Em 2019, foi laureado com primeiro lugar do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa, promovido pelo Arquivo Nacional do Brasil. Tem experiência na área de História, com ênfase na História da África Ocidental e História do Brasil Colonial, atuando principalmente nos seguintes temas: identidade étnica, diáspora africana, escravidão e parentesco.
E-mail: [email protected] Moacir R. de Castro Maia
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Papers by Moacir Maia
Africana era sacerdotisa do culto vodum e participante de irmandade católica
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/07/angela-maria-gomes-tornou-se-rainha-do-rosario-apesar-de-ter-sido-denunciada-para-inquisicao.shtml
Autor: Moacir R. de Castro Maia
Ângela Maria Gomes tornou-se rainha do Rosário no século XVIII
Africana era sacerdotisa do culto vodum e participante de irmandade católica
Em noites de lua cheia, a africana Ângela Maria Gomes incorporava o vodum (nome das divindades e da religião) e dançava com outras mulheres em volta de uma gameleira em um povoado pertencente a Ouro Preto, por volta de 1759.
Enquanto buscava praticar os ritos religiosos de sua terra natal, ela era vigiada e perseguida por homens brancos, que escreveram várias cartas à Inquisição para denunciar a sacerdotisa vodum como a grande “mestra das feiticeiras” daquele arraial minerador.
Já fazia algumas décadas que Ângela havia sido capturada na região dos reinos de Uidá e Grande Popo (atual República do Benim), na África Ocidental, e vendida como escrava para a nova capitania de Minas Gerais, onde passou da escravidão para a liberdade.
Além de conquistar a alforria, ela se tornou senhora de sua casa, adquiriu trabalhadores escravos e vivia da produção de pães e quitandas, sendo reconhecida como uma mulher liberta.
A presença destacada e o relativo êxito econômico dessa mulher africana começaram a incomodar uma parcela de homens livres daquela sociedade escravista. Era um momento de insatisfação de parte da classe senhorial de Itabira do Campo (atual Itabirito – MG), que vivia um período de declínio da exploração do ouro naquele arraial.
Além disso, ser senhora de sua casa possibilitava maior liberdade para Ângela praticar seus cultos particulares, celebrar as divindades voduns e estreitar laços com pessoas de sua confiança. Nessas cerimônias secretas, ela se religava à família deixada na África, às histórias de seus ancestrais, às crenças religiosas de sua terra natal, o que contribuía para enfrentar as perdas, os infortúnios e os dilemas vivenciados do lado de cá do Atlântico.
A perseguição masculina contra Ângela e outras mulheres negras do povoado revela o quanto as práticas mágicas, o papel econômico independente e a liderança religiosa dessas mulheres libertas desagradavam parcela da elite do arraial.
As denúncias recebidas pelos agentes da Inquisição em Minas chegaram ao Tribunal do Santo Ofício, em Lisboa, com a acusação de que ela causava malefícios à população local. Contudo, outras fontes demonstram que algo havia sido omitido pelos denunciadores.
A africana não era apenas uma destacada praticante do culto vodum. Também era uma das mais proeminentes participantes de irmandade católica na localidade, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Essa era uma das únicas formas de organização coletiva de pessoas negras aceitas e permitidas pelo poder colonial, que buscava o controle social da população escrava e liberta e a assimilação delas ao catolicismo, a religião oficial do Império português.
Na Irmandade do Rosário dos Pretos de Itabira do Campo, Ângela foi coroada rainha do Rosário mais de uma vez. Sua influência e sua autoridade transparecem em diversas decisões, como a posse da sua escrava Ana como juíza da irmandade e a doação de uma vara de prata (signo de autoridade do cargo) para que ela pudesse sair em cortejo festivo e cumprir suas funções na mesa de direção com dignidade e certa opulência.
Para esta africana e outros conterrâneos, não era contraditório ser uma sacerdotisa do culto vodum, abraçar o catolicismo ou dançar para o vodum Loko (de origem no orixá Iroko dos iorubás), pois a religião vodum era dinâmica, aberta, e incluía novos elementos, mesmo se de outros territórios e religiões.
A crença era que quanto mais protetores a pessoa tivesse, mais protegida espiritualmente ela estaria, o que buscava equilibrar a relação entre o mundo visível e o mundo invisível do universo vodum, além de demonstrar temor e respeito por práticas de outros indivíduos e religiões.
É uma lição de tolerância religiosa vinda dessa cultura africana, que contribuiu na formação de vários ritos afro-americanos, incluindo o candomblé no Brasil.
As denúncias contra Ângela foram arquivadas em Lisboa enquanto ela continuava a sofrer a perseguição local, inclusive de alguns membros de sua própria confraria. Contudo, superou as adversidades, manteve-se senhora de sua casa e voltou a ser coroada rainha do Rosário no final de sua vida. Sendo também católica, deixou sua residência como patrimônio para sua irmandade.
Este artigo faz parte da série #matriabrasil.
Folha de São Paulo, caderno Cotidiano, B4 - 29/07/2023.
Autores: Aldair Rodrigues e Moacir Maia .
Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII) reúne transcrições de documentos inéditos sobre a vida e as crenças de mulheres africanas perseguidas no Brasil por forças militares e pela Inquisição.
Essas mulheres permaneceram a grupos étnicos que habitavam a região da África ocidental chamada pelos portugueses da Costa da Mina. Escravizadas e trazidas para o Brasil, algumas se tornaram lideranças de comunidades negras na posição de sacerdotisas voduns (vodúnsis), ao mesmo tempo que exerciam cargos de juízas e rainhas da irmandade católica de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos — a principal confraria negra mineira.
Chão Editora
RODRIGUES, Aldair; MAIA, Moacir. Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII). Chão Editora: São Paulo, 2023.
ISBN: 9786580341122
Moacir Rodrigo de Castro Maia
---------------------------------------------------------------------
Para adquirir o exemplar:
https://chaoeditora.com.br/livros/sacerdotisas-voduns/#:~:text=Sinopse-,Sacerdotisas%20voduns%20e%20rainhas%20do%20Ros%C3%A1rio%3A%20mul
Adaptado do mapa disponível no site costadamina.ufba.br. Delimitação da chamada Costa da Mina baseada na bibliografia e na documentação mineira trabalhada. Mapa produzido para este livro pela geógrafa Danielle Gomes Corrêa.
Como citar:
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 31.
Para baixar os arquivos (em escala de cinza e colorido) acessar o Google drive:
https://drive.google.com/drive/folders/11_mBRTMh39bMj3u8-lUy7gory8O78ZXW?usp=sharing
O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e recriaram laços de solidariedade, dependência e autoridade com indivíduos do mesmo grupo e com outros minas, em uma espécie de (re)encontro nas Américas.
O livro traz importante descoberta: a origem dos courás na África. Esse termo africano, traduzido para a língua portuguesa, era até então desconhecido. Este achado liga os dois lados do Atlântico, o que ainda é raro em investigações históricas. E revela uma das páginas mais surpreendentes da História da África e também da migração forçada de africanos para o Brasil colonial.
Os chamados courás vinham, originalmente, do reino de Uidá (reino de Ajudá para os portugueses; Whydah para os ingleses; Fida para os holandeses), no golfo do Benim. Era um pequeno e próspero Estado que viu o seu auge, no início do século XVIII, ao abrigar o mais importante “porto” do tráfico de escravos da África Ocidental. Mas que poucas décadas depois foi conquistado pelo Daomé, parceiro no infame comércio e força africana do interior daquela região.
Uidá passou, assim, de reino traficante a reino conquistado, e parte do seu povo foi escravizada e vendida para diversos pontos do continente americano, principalmente, para as áreas mineradoras de Minas Gerais. O povo de Uidá protagonizou um dos capítulos mais dramáticos e impressionantes da História da África e da diáspora africana.
O estudo aponta como a identidade courá / courana se metamorfoseou em Minas Gerais, tornando-se mais inclusiva. Tanto os Huedas e Hulas, dois grupos com intensa interação social e ambos habitantes do reino de Uidá e do litoral, passaram a se autoidentificar como courás e couranos na diáspora, mesmo que as distinções e contrastes identitários pudessem continuar a existir no interior da dita "nação" em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro.
Os courás eram originalmente povos agricultores, pescadores e produtores de sal na região costeira e com a diáspora passaram a viver em Minas Gerais e outras partes do Brasil colonial. O livro enfoca a presença africana desses indivíduos principalmente em duas das mais importantes localidades mineiras do período: Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (Mariana). E revela a luta desses africanos litorâneos para reconstruir suas vidas nas montanhas de Minas Gerais.
“Apoiado em vasta pesquisa conduzida nos arquivos coloniais, Moacir Maia renova a forma de compreendermos a história da experiência africana no Brasil ao analisar a diáspora dos povos courá dentro de uma moldura que abrange o litoral do golfo do Benim e o interior da América portuguesa. O autor joga luz sobre trajetórias vividas entre a escravidão e a liberdade, mostrando com muita sensibilidade as redes de solidariedade e as estratégias de resistência que os couranos desenvolveram por meio do batismo cristão, dos cultos voduns e da entrada nas irmandades católicas negras. Para além da tragédia do tráfico, emergem desta obra homens e mulheres com nomes, rostos, histórias e identidades construídas entre a África e Minas Gerais” (Aldair Rodrigues, professor do Departamento de História da Unicamp).
...
Para mais informações sobre o livro. Arquivo Nacional, e-mail: [email protected]
Para adquirir o livro, acesse o site:
https://naueditora.com.br/produto/a-diaspora-mina-africanos-entre-o-golfo-do-benim-e-o-brasil/
Artigo completo
Revista Afro-Ásia n. 62.
.
O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou variantes, para entender como constituíram suas casas em dois importantes núcleos urbanos da capitania de Minas Gerais ao longo do século XVIII. A economia do ouro possibilitou uma significativa posse de trabalhadores escravos para alguns desses senhores negros. O estudo desvenda a origem desses escravizados e como muitos desses lares mantiveram uma estreita relação com o passado africano desse grupo. De forma comparativa e também conectada, percebeu-se como as duas povoações vizinhas possuíam grupos de africanos forros que, além da alforria, adquiriram bens: casas, estabelecimentos comerciais, minas de ouro e, principalmente, trabalhadores escravos da mesma identidade étnica.
Palavras-chave: diáspora africana | libertos | escravidão | identidade étnica | posse escravista.
Autor: Moacir Rodrigo de Castro Maia.
Abstract:
This article discusses a group of freed African people identified in Portuguese sources as Courás or Couranos, seeking to understand how they formed their homes in two important urban centers of the Captaincy of Minas Gerais during the eighteenth century. The gold-mining economy facilitated the acquisition of significant numbers of enslaved laborers by black masters. The study examines the origin of these enslaved people and the way in which many of these households maintained a close relationship with their African past. Usinga comparative and connected approach, this paper shows that in both of the two neighboring towns there were enclaves of freed Africans who, in addition to obtaining manumission, also acquired various forms of property, including houses, commercial establishments, gold mines and especially, enslaved people of the same ethnic identity.
Keywords: african diaspora | african freed people | slavery | ethnic identity | slave ownership.
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Reforçar a identidade e a autoridade: as casas de courás libertos em Vila Rica e Mariana no século XVIII, Revista Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 9-45.
Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/29127
.
O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou variantes, para entender como constituíram suas casas em dois importantes núcleos urbanos da capitania de Minas Gerais ao longo do século XVIII. A economia do ouro possibilitou uma significativa posse de trabalhadores escravos para alguns desses senhores negros. O estudo desvenda a origem desses escravizados e como muitos desses lares mantiveram uma estreita relação com o passado africano desse grupo. De forma comparativa e também conectada, percebeu-se como as duas povoações vizinhas possuíam grupos de africanos forros que, além da alforria, adquiriram bens: casas, estabelecimentos comerciais, minas de ouro e, principalmente, trabalhadores escravos da mesma identidade étnica.
Palavras-chave: diáspora africana | libertos | escravidão | identidade étnica | posse escravista.
Autor: Moacir Rodrigo de Castro Maia.
Abstract:
This article discusses a group of freed African people identified in Portuguese sources as Courás or Couranos, seeking to understand how they formed their homes in two important urban centers of the Captaincy of Minas Gerais during the eighteenth century. The gold-mining economy facilitated the acquisition of significant numbers of enslaved laborers by black masters. The study examines the origin of these enslaved people and the way in which many of these households maintained a close relationship with their African past. Usinga comparative and connected approach, this paper shows that in both of the two neighboring towns there were enclaves of freed Africans who, in addition to obtaining manumission, also acquired various forms of property, including houses, commercial establishments, gold mines and especially, enslaved people of the same ethnic identity.
Keywords: african diaspora | african freed people | slavery | ethnic identity | slave ownership.
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Reforçar a identidade e a autoridade: as casas de courás libertos em Vila Rica e Mariana no século XVIII, Revista Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 9-45.
Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/29127
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A tese revista e ampliada virou livro, com mapas inéditos da África e da diaspora africana:
De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022
Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2019.
Para mais informações sobre o livro. Arquivo Nacional, e-mail: [email protected]
O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e recriaram laços de solidariedade, dependência e autoridade com indivíduos do mesmo grupo e com outros minas, em uma espécie de (re)encontro nas Américas.
O livro traz importante descoberta: a origem dos courás na África. Esse termo africano, traduzido para a língua portuguesa, era até então desconhecido. Este achado liga os dois lados do Atlântico, o que ainda é raro em investigações históricas. E revela uma das páginas mais surpreendentes da História da África e também da migração forçada de africanos para o Brasil colonial.
Os chamados courás vinham, originalmente, do reino de Uidá (reino de Ajudá para os portugueses; Whydah para os ingleses; Fida para os holandeses), no golfo do Benim. Era um pequeno e próspero Estado que viu o seu auge, no início do século XVIII, ao abrigar o mais importante “porto” do tráfico de escravos da África Ocidental. Mas que poucas décadas depois foi conquistado pelo Daomé, parceiro no infame comércio e força africana do interior daquela região.
Uidá passou, assim, de reino traficante a reino conquistado, e parte do seu povo foi escravizada e vendida para diversos pontos do continente americano, principalmente, para as áreas mineradoras de Minas Gerais. O povo de Uidá protagonizou um dos capítulos mais dramáticos e impressionantes da História da África e da diáspora africana.
O estudo aponta como a identidade courá / courana se metamorfoseou em Minas Gerais, tornando-se mais inclusiva. Tanto os Huedas e Hulas, dois grupos com intensa interação social e ambos habitantes do reino de Uidá e do litoral, passaram a se autoidentificar como courás e couranos na diáspora, mesmo que as distinções e contrastes identitários pudessem continuar a existir no interior da dita "nação" em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro.
Os courás eram originalmente povos agricultores, pescadores e produtores de sal na região costeira e com a diáspora passaram a viver em Minas Gerais e outras partes do Brasil colonial. O livro enfoca a presença africana desses indivíduos principalmente em duas das mais importantes localidades mineiras do período: Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (Mariana). E revela a luta desses africanos litorâneos para reconstruir suas vidas nas montanhas de Minas Gerais.
“Apoiado em vasta pesquisa conduzida nos arquivos coloniais, Moacir Maia renova a forma de compreendermos a história da experiência africana no Brasil ao analisar a diáspora dos povos courá dentro de uma moldura que abrange o litoral do golfo do Benim e o interior da América portuguesa. O autor joga luz sobre trajetórias vividas entre a escravidão e a liberdade, mostrando com muita sensibilidade as redes de solidariedade e as estratégias de resistência que os couranos desenvolveram por meio do batismo cristão, dos cultos voduns e da entrada nas irmandades católicas negras. Para além da tragédia do tráfico, emergem desta obra homens e mulheres com nomes, rostos, histórias e identidades construídas entre a África e Minas Gerais” (Aldair Rodrigues, professor do Departamento de História da Unicamp).
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Para mais informações sobre o livro: Arquivo Nacional, e-mail [email protected]
Hueda Kingdom (Uidá, Whydah; Ouidah, Whidah, Juda ou reino de Ajuda).
Hueda people (Xwéda, Pheda); Hula people.(Xwla, Pla).
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Histórias (re)conectadas: o horto botânico de Vila Rica e os jardins do antigo palácio dos bispos de Mariana. In: PESSOA, Ana; FASOLATO, Douglas; ANDRADE, Rubens de (Orgs.) Jardins históricos: a cultura, as práticas e os instrumentos de salvaguarda de espaços paisagísticos. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2015.
Palavras-chave: Patrimônio; jardins históricos; Ouro Preto; Mariana.
ISBN 978-85-7004-329-0
Artigo publicado na revista Mariana Histórica e Cultural:
https://www.yumpu.com/pt/document/view/62213894/revista-outubro-2018-2?fbclid=IwAR1h9FEm7sz-VfAO_n2uoh8pMegDxhCxgpxW5MYmYaYbazuzw3G1EQE3eNo
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Museus brasileiros e a hiperconectividade: a experiência com a plataforma Tainacan no acesso ao patrimônio Afro-Digital, Revista Museu, 18/05/2018. Disponível em: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2018/4751-museus-brasileiros-e-a-hiperconectividade-a-experiencia-com-a-plataforma-tainacan-no-acesso-ao-patrimonio-afro-digital.html
Ângela Maria Gomes
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro Maia. In: BAETA,; PILÓ. Arêdes: recuperação ambiental e valorização de um sítio histórico-arqueológico. Belo Horizonte: Orange Editorial, 2016.
ISBN 978-85-68643-02-0.
Livro: REIS, Isabel; ROCHA, Solange. Diáspora africana nas Américas. Cruz das Almas, BA: EDUFRB : Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2016.
Keywords : Cipriano de São José, Frei (1743-1817); historical garden; Minas Gerais (Brazil); Enlightenment; heritage.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v16n4/en_03.pdf
Africana era sacerdotisa do culto vodum e participante de irmandade católica
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2023/07/angela-maria-gomes-tornou-se-rainha-do-rosario-apesar-de-ter-sido-denunciada-para-inquisicao.shtml
Autor: Moacir R. de Castro Maia
Ângela Maria Gomes tornou-se rainha do Rosário no século XVIII
Africana era sacerdotisa do culto vodum e participante de irmandade católica
Em noites de lua cheia, a africana Ângela Maria Gomes incorporava o vodum (nome das divindades e da religião) e dançava com outras mulheres em volta de uma gameleira em um povoado pertencente a Ouro Preto, por volta de 1759.
Enquanto buscava praticar os ritos religiosos de sua terra natal, ela era vigiada e perseguida por homens brancos, que escreveram várias cartas à Inquisição para denunciar a sacerdotisa vodum como a grande “mestra das feiticeiras” daquele arraial minerador.
Já fazia algumas décadas que Ângela havia sido capturada na região dos reinos de Uidá e Grande Popo (atual República do Benim), na África Ocidental, e vendida como escrava para a nova capitania de Minas Gerais, onde passou da escravidão para a liberdade.
Além de conquistar a alforria, ela se tornou senhora de sua casa, adquiriu trabalhadores escravos e vivia da produção de pães e quitandas, sendo reconhecida como uma mulher liberta.
A presença destacada e o relativo êxito econômico dessa mulher africana começaram a incomodar uma parcela de homens livres daquela sociedade escravista. Era um momento de insatisfação de parte da classe senhorial de Itabira do Campo (atual Itabirito – MG), que vivia um período de declínio da exploração do ouro naquele arraial.
Além disso, ser senhora de sua casa possibilitava maior liberdade para Ângela praticar seus cultos particulares, celebrar as divindades voduns e estreitar laços com pessoas de sua confiança. Nessas cerimônias secretas, ela se religava à família deixada na África, às histórias de seus ancestrais, às crenças religiosas de sua terra natal, o que contribuía para enfrentar as perdas, os infortúnios e os dilemas vivenciados do lado de cá do Atlântico.
A perseguição masculina contra Ângela e outras mulheres negras do povoado revela o quanto as práticas mágicas, o papel econômico independente e a liderança religiosa dessas mulheres libertas desagradavam parcela da elite do arraial.
As denúncias recebidas pelos agentes da Inquisição em Minas chegaram ao Tribunal do Santo Ofício, em Lisboa, com a acusação de que ela causava malefícios à população local. Contudo, outras fontes demonstram que algo havia sido omitido pelos denunciadores.
A africana não era apenas uma destacada praticante do culto vodum. Também era uma das mais proeminentes participantes de irmandade católica na localidade, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.
Essa era uma das únicas formas de organização coletiva de pessoas negras aceitas e permitidas pelo poder colonial, que buscava o controle social da população escrava e liberta e a assimilação delas ao catolicismo, a religião oficial do Império português.
Na Irmandade do Rosário dos Pretos de Itabira do Campo, Ângela foi coroada rainha do Rosário mais de uma vez. Sua influência e sua autoridade transparecem em diversas decisões, como a posse da sua escrava Ana como juíza da irmandade e a doação de uma vara de prata (signo de autoridade do cargo) para que ela pudesse sair em cortejo festivo e cumprir suas funções na mesa de direção com dignidade e certa opulência.
Para esta africana e outros conterrâneos, não era contraditório ser uma sacerdotisa do culto vodum, abraçar o catolicismo ou dançar para o vodum Loko (de origem no orixá Iroko dos iorubás), pois a religião vodum era dinâmica, aberta, e incluía novos elementos, mesmo se de outros territórios e religiões.
A crença era que quanto mais protetores a pessoa tivesse, mais protegida espiritualmente ela estaria, o que buscava equilibrar a relação entre o mundo visível e o mundo invisível do universo vodum, além de demonstrar temor e respeito por práticas de outros indivíduos e religiões.
É uma lição de tolerância religiosa vinda dessa cultura africana, que contribuiu na formação de vários ritos afro-americanos, incluindo o candomblé no Brasil.
As denúncias contra Ângela foram arquivadas em Lisboa enquanto ela continuava a sofrer a perseguição local, inclusive de alguns membros de sua própria confraria. Contudo, superou as adversidades, manteve-se senhora de sua casa e voltou a ser coroada rainha do Rosário no final de sua vida. Sendo também católica, deixou sua residência como patrimônio para sua irmandade.
Este artigo faz parte da série #matriabrasil.
Folha de São Paulo, caderno Cotidiano, B4 - 29/07/2023.
Autores: Aldair Rodrigues e Moacir Maia .
Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII) reúne transcrições de documentos inéditos sobre a vida e as crenças de mulheres africanas perseguidas no Brasil por forças militares e pela Inquisição.
Essas mulheres permaneceram a grupos étnicos que habitavam a região da África ocidental chamada pelos portugueses da Costa da Mina. Escravizadas e trazidas para o Brasil, algumas se tornaram lideranças de comunidades negras na posição de sacerdotisas voduns (vodúnsis), ao mesmo tempo que exerciam cargos de juízas e rainhas da irmandade católica de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos — a principal confraria negra mineira.
Chão Editora
RODRIGUES, Aldair; MAIA, Moacir. Sacerdotisas voduns e rainhas do Rosário: mulheres africanas e Inquisição em Minas Gerais (século XVIII). Chão Editora: São Paulo, 2023.
ISBN: 9786580341122
Moacir Rodrigo de Castro Maia
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Para adquirir o exemplar:
https://chaoeditora.com.br/livros/sacerdotisas-voduns/#:~:text=Sinopse-,Sacerdotisas%20voduns%20e%20rainhas%20do%20Ros%C3%A1rio%3A%20mul
Adaptado do mapa disponível no site costadamina.ufba.br. Delimitação da chamada Costa da Mina baseada na bibliografia e na documentação mineira trabalhada. Mapa produzido para este livro pela geógrafa Danielle Gomes Corrêa.
Como citar:
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 31.
Para baixar os arquivos (em escala de cinza e colorido) acessar o Google drive:
https://drive.google.com/drive/folders/11_mBRTMh39bMj3u8-lUy7gory8O78ZXW?usp=sharing
O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e recriaram laços de solidariedade, dependência e autoridade com indivíduos do mesmo grupo e com outros minas, em uma espécie de (re)encontro nas Américas.
O livro traz importante descoberta: a origem dos courás na África. Esse termo africano, traduzido para a língua portuguesa, era até então desconhecido. Este achado liga os dois lados do Atlântico, o que ainda é raro em investigações históricas. E revela uma das páginas mais surpreendentes da História da África e também da migração forçada de africanos para o Brasil colonial.
Os chamados courás vinham, originalmente, do reino de Uidá (reino de Ajudá para os portugueses; Whydah para os ingleses; Fida para os holandeses), no golfo do Benim. Era um pequeno e próspero Estado que viu o seu auge, no início do século XVIII, ao abrigar o mais importante “porto” do tráfico de escravos da África Ocidental. Mas que poucas décadas depois foi conquistado pelo Daomé, parceiro no infame comércio e força africana do interior daquela região.
Uidá passou, assim, de reino traficante a reino conquistado, e parte do seu povo foi escravizada e vendida para diversos pontos do continente americano, principalmente, para as áreas mineradoras de Minas Gerais. O povo de Uidá protagonizou um dos capítulos mais dramáticos e impressionantes da História da África e da diáspora africana.
O estudo aponta como a identidade courá / courana se metamorfoseou em Minas Gerais, tornando-se mais inclusiva. Tanto os Huedas e Hulas, dois grupos com intensa interação social e ambos habitantes do reino de Uidá e do litoral, passaram a se autoidentificar como courás e couranos na diáspora, mesmo que as distinções e contrastes identitários pudessem continuar a existir no interior da dita "nação" em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro.
Os courás eram originalmente povos agricultores, pescadores e produtores de sal na região costeira e com a diáspora passaram a viver em Minas Gerais e outras partes do Brasil colonial. O livro enfoca a presença africana desses indivíduos principalmente em duas das mais importantes localidades mineiras do período: Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (Mariana). E revela a luta desses africanos litorâneos para reconstruir suas vidas nas montanhas de Minas Gerais.
“Apoiado em vasta pesquisa conduzida nos arquivos coloniais, Moacir Maia renova a forma de compreendermos a história da experiência africana no Brasil ao analisar a diáspora dos povos courá dentro de uma moldura que abrange o litoral do golfo do Benim e o interior da América portuguesa. O autor joga luz sobre trajetórias vividas entre a escravidão e a liberdade, mostrando com muita sensibilidade as redes de solidariedade e as estratégias de resistência que os couranos desenvolveram por meio do batismo cristão, dos cultos voduns e da entrada nas irmandades católicas negras. Para além da tragédia do tráfico, emergem desta obra homens e mulheres com nomes, rostos, histórias e identidades construídas entre a África e Minas Gerais” (Aldair Rodrigues, professor do Departamento de História da Unicamp).
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Para mais informações sobre o livro. Arquivo Nacional, e-mail: [email protected]
Para adquirir o livro, acesse o site:
https://naueditora.com.br/produto/a-diaspora-mina-africanos-entre-o-golfo-do-benim-e-o-brasil/
Artigo completo
Revista Afro-Ásia n. 62.
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O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou variantes, para entender como constituíram suas casas em dois importantes núcleos urbanos da capitania de Minas Gerais ao longo do século XVIII. A economia do ouro possibilitou uma significativa posse de trabalhadores escravos para alguns desses senhores negros. O estudo desvenda a origem desses escravizados e como muitos desses lares mantiveram uma estreita relação com o passado africano desse grupo. De forma comparativa e também conectada, percebeu-se como as duas povoações vizinhas possuíam grupos de africanos forros que, além da alforria, adquiriram bens: casas, estabelecimentos comerciais, minas de ouro e, principalmente, trabalhadores escravos da mesma identidade étnica.
Palavras-chave: diáspora africana | libertos | escravidão | identidade étnica | posse escravista.
Autor: Moacir Rodrigo de Castro Maia.
Abstract:
This article discusses a group of freed African people identified in Portuguese sources as Courás or Couranos, seeking to understand how they formed their homes in two important urban centers of the Captaincy of Minas Gerais during the eighteenth century. The gold-mining economy facilitated the acquisition of significant numbers of enslaved laborers by black masters. The study examines the origin of these enslaved people and the way in which many of these households maintained a close relationship with their African past. Usinga comparative and connected approach, this paper shows that in both of the two neighboring towns there were enclaves of freed Africans who, in addition to obtaining manumission, also acquired various forms of property, including houses, commercial establishments, gold mines and especially, enslaved people of the same ethnic identity.
Keywords: african diaspora | african freed people | slavery | ethnic identity | slave ownership.
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Reforçar a identidade e a autoridade: as casas de courás libertos em Vila Rica e Mariana no século XVIII, Revista Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 9-45.
Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/29127
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O artigo acompanha um grupo de libertos africanos, nomeado nas fontes portuguesas como courás, couranos ou variantes, para entender como constituíram suas casas em dois importantes núcleos urbanos da capitania de Minas Gerais ao longo do século XVIII. A economia do ouro possibilitou uma significativa posse de trabalhadores escravos para alguns desses senhores negros. O estudo desvenda a origem desses escravizados e como muitos desses lares mantiveram uma estreita relação com o passado africano desse grupo. De forma comparativa e também conectada, percebeu-se como as duas povoações vizinhas possuíam grupos de africanos forros que, além da alforria, adquiriram bens: casas, estabelecimentos comerciais, minas de ouro e, principalmente, trabalhadores escravos da mesma identidade étnica.
Palavras-chave: diáspora africana | libertos | escravidão | identidade étnica | posse escravista.
Autor: Moacir Rodrigo de Castro Maia.
Abstract:
This article discusses a group of freed African people identified in Portuguese sources as Courás or Couranos, seeking to understand how they formed their homes in two important urban centers of the Captaincy of Minas Gerais during the eighteenth century. The gold-mining economy facilitated the acquisition of significant numbers of enslaved laborers by black masters. The study examines the origin of these enslaved people and the way in which many of these households maintained a close relationship with their African past. Usinga comparative and connected approach, this paper shows that in both of the two neighboring towns there were enclaves of freed Africans who, in addition to obtaining manumission, also acquired various forms of property, including houses, commercial establishments, gold mines and especially, enslaved people of the same ethnic identity.
Keywords: african diaspora | african freed people | slavery | ethnic identity | slave ownership.
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Reforçar a identidade e a autoridade: as casas de courás libertos em Vila Rica e Mariana no século XVIII, Revista Afro-Ásia, n. 62 (2020), pp. 9-45.
Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/afroasia/article/view/29127
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A tese revista e ampliada virou livro, com mapas inéditos da África e da diaspora africana:
De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022
Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2019.
Para mais informações sobre o livro. Arquivo Nacional, e-mail: [email protected]
O livro analisa momentos da vida de um grupo de africanos da chamada Costa da Mina, que se autoidentificava como courá / courano em Minas Gerais no século XVIII. E revela como criaram e recriaram laços de solidariedade, dependência e autoridade com indivíduos do mesmo grupo e com outros minas, em uma espécie de (re)encontro nas Américas.
O livro traz importante descoberta: a origem dos courás na África. Esse termo africano, traduzido para a língua portuguesa, era até então desconhecido. Este achado liga os dois lados do Atlântico, o que ainda é raro em investigações históricas. E revela uma das páginas mais surpreendentes da História da África e também da migração forçada de africanos para o Brasil colonial.
Os chamados courás vinham, originalmente, do reino de Uidá (reino de Ajudá para os portugueses; Whydah para os ingleses; Fida para os holandeses), no golfo do Benim. Era um pequeno e próspero Estado que viu o seu auge, no início do século XVIII, ao abrigar o mais importante “porto” do tráfico de escravos da África Ocidental. Mas que poucas décadas depois foi conquistado pelo Daomé, parceiro no infame comércio e força africana do interior daquela região.
Uidá passou, assim, de reino traficante a reino conquistado, e parte do seu povo foi escravizada e vendida para diversos pontos do continente americano, principalmente, para as áreas mineradoras de Minas Gerais. O povo de Uidá protagonizou um dos capítulos mais dramáticos e impressionantes da História da África e da diáspora africana.
O estudo aponta como a identidade courá / courana se metamorfoseou em Minas Gerais, tornando-se mais inclusiva. Tanto os Huedas e Hulas, dois grupos com intensa interação social e ambos habitantes do reino de Uidá e do litoral, passaram a se autoidentificar como courás e couranos na diáspora, mesmo que as distinções e contrastes identitários pudessem continuar a existir no interior da dita "nação" em Minas Gerais ou no Rio de Janeiro.
Os courás eram originalmente povos agricultores, pescadores e produtores de sal na região costeira e com a diáspora passaram a viver em Minas Gerais e outras partes do Brasil colonial. O livro enfoca a presença africana desses indivíduos principalmente em duas das mais importantes localidades mineiras do período: Vila Rica de Ouro Preto e Vila do Carmo (Mariana). E revela a luta desses africanos litorâneos para reconstruir suas vidas nas montanhas de Minas Gerais.
“Apoiado em vasta pesquisa conduzida nos arquivos coloniais, Moacir Maia renova a forma de compreendermos a história da experiência africana no Brasil ao analisar a diáspora dos povos courá dentro de uma moldura que abrange o litoral do golfo do Benim e o interior da América portuguesa. O autor joga luz sobre trajetórias vividas entre a escravidão e a liberdade, mostrando com muita sensibilidade as redes de solidariedade e as estratégias de resistência que os couranos desenvolveram por meio do batismo cristão, dos cultos voduns e da entrada nas irmandades católicas negras. Para além da tragédia do tráfico, emergem desta obra homens e mulheres com nomes, rostos, histórias e identidades construídas entre a África e Minas Gerais” (Aldair Rodrigues, professor do Departamento de História da Unicamp).
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Para mais informações sobre o livro: Arquivo Nacional, e-mail [email protected]
Hueda Kingdom (Uidá, Whydah; Ouidah, Whidah, Juda ou reino de Ajuda).
Hueda people (Xwéda, Pheda); Hula people.(Xwla, Pla).
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Histórias (re)conectadas: o horto botânico de Vila Rica e os jardins do antigo palácio dos bispos de Mariana. In: PESSOA, Ana; FASOLATO, Douglas; ANDRADE, Rubens de (Orgs.) Jardins históricos: a cultura, as práticas e os instrumentos de salvaguarda de espaços paisagísticos. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2015.
Palavras-chave: Patrimônio; jardins históricos; Ouro Preto; Mariana.
ISBN 978-85-7004-329-0
Artigo publicado na revista Mariana Histórica e Cultural:
https://www.yumpu.com/pt/document/view/62213894/revista-outubro-2018-2?fbclid=IwAR1h9FEm7sz-VfAO_n2uoh8pMegDxhCxgpxW5MYmYaYbazuzw3G1EQE3eNo
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. Museus brasileiros e a hiperconectividade: a experiência com a plataforma Tainacan no acesso ao patrimônio Afro-Digital, Revista Museu, 18/05/2018. Disponível em: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2018/4751-museus-brasileiros-e-a-hiperconectividade-a-experiencia-com-a-plataforma-tainacan-no-acesso-ao-patrimonio-afro-digital.html
Ângela Maria Gomes
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro Maia. In: BAETA,; PILÓ. Arêdes: recuperação ambiental e valorização de um sítio histórico-arqueológico. Belo Horizonte: Orange Editorial, 2016.
ISBN 978-85-68643-02-0.
Livro: REIS, Isabel; ROCHA, Solange. Diáspora africana nas Américas. Cruz das Almas, BA: EDUFRB : Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2016.
Keywords : Cipriano de São José, Frei (1743-1817); historical garden; Minas Gerais (Brazil); Enlightenment; heritage.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v16n4/en_03.pdf
Adaptado do mapa disponível no site costadamina.ufba.br. Delimitação da chamada Costa da Mina baseada na bibliografia e na documentação mineira trabalhada. Mapa produzido para este livro pela geógrafa Danielle Gomes Corrêa.
Como citar:
MAIA, Moacir Rodrigo de Castro. De reino traficante a povo traficado: A diáspora dos courás do golfo do Benim para Minas Gerais (América portuguesa, 1715-1760). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2022, p. 31.
Para baixar os arquivos (em escala de cinza e colorido) acessar o Google drive:
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