QUEM SOU EU...


"Ninguém pode calar dentro em mim esta chama que não vai passar, é mais forte que eu e não quero dela me afastar....



Eu não posso explicar quando foi e nem quando ela veio, mas só digo o que penso, só faço o que gosto e aquilo em que creio..."(Maysa)



Com as outras dores fazem-se versos...com as que doem,grita-se! (Fernando Pessoa)













Quem "grita" como eu......

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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

DANÇANDO NAS NUVENS


Mais de meio século se passara desde que nascera. Era feliz consigo e com o que conseguira realizar, mesmo com escolhas erradas. Gerara, parira, educara três filhos já crescidos e aparentemente felizes, felicidade é um estado muito particular de cada um. Sentia orgulho da formação com que conseguira lhes moldar, do trabalho realizado neles e por eles.

Gostava de livros, todos e quaisquer, mesmo que fosse para exclamar ao terminar de lê-los: -Detestei!!!
Amava escrever. A palavra escrita a fascinava, assim como o som delas. Elaborava listas de palavras "deliciosas"e "odiosas"; palavras-mulher"e "palavras-homem", só pelo prazer de desenhar as letras e, ao lê-las ouvir a sonoridade delas.

Era capaz de assistir a filmes seguidos pela madrugada afora. Quando algum a encantava, via-o repetidas vezes em busca dos detalhes e nuances que o formaram.
Havia as músicas, essas escolhidas com cuidado, apenas aquelas que lhe invadissem a alma, aquecessem o corpo e a fizessem levitar em pensamento e na prática, pois quando as ouvia, punha-se a dançar e flutuava... Isso quando estava só e como gostava de estar consigo mesma!

O marido, sempre ausente, mesmo que na sala ao lado, os filhos vivendo suas vidas, e ela...gostava mesmo de estar só. Seu tempo sozinha preenchia-o por inteiro, quando não era insuficiente.

Certo sábado ela, filho, nora, filha, genro e a filha caçula foram a um casamento.
Durante o ritual religioso manteve-se impassível com sua opinião crítica, ferina sobre aquela representação. Tudo lindo, perfumado, musical e mentiroso. Gostava de atos significativos e, ao seu ver, só ela entendia o significado real daquela cerimônia.

Refletia na futilidade da pompa, que em tempo algum fez alguém feliz, nos gastos inúteis, nos cumprimentos estéreis...
Seguiram para a recepção: linda, muito mais do que esperara.

Ainda é tempo que se diga, ela também estava se encantando consigo. Sentia-se bonita, bem vestida, bem maquiada, tudo em acordo com a sua idade. Gostava de si: do seu rosto, de seu corpo magro, de seu porte, de seu jeito. Admirava-se consigo mesma mais do que se admirara quando jovem. E olha que os que a conheceram diziam que era muito "linda, muito cheia de graça!

Gostava de ser como era e sabia que os filhos a admiravam também.
A festa desenrolava-se perfeita, a conversa corria alegre, até que a música foi solta pelo salão, enchendo-o com aquelas melodias que preenchiam as carências que seu coração precisou aceitar; inteira, recheou-se de sons.

Todos os que estavam à sua mesa levantaram-se para dançar, estavam aos pares e ela estava só, como sempre, o marido esquecido dele mesmo na sala de casa, frente à televisão.

Ali ficou ela, com as músicas que amava, o repertório perfeito que a fazia esquecer onde estava, que o tempo passara...
O ritmo batia dentro de seu coração, em sua alma e ah! como ela desejou dançar,flutuar como fazia sozinha em casa. Pela primeira vez sentiu um gosto de solidão, sentiu-se abandonada e com vontade de abandonar-se à música. Chegou a pensar em sair dançando: o pudor não o permitiu. Estava acostumada a estar só.

Começou a inquietar-se, a cantar baixinho os versos e as melodias, sabia-os todos, e viu-se como deviam vê-la: uma senhora que os filhos levaram à festa e que deveria comportar-se como tal.

Sentiu que ia chorar, de raiva, de pena por não aproveitar aquelas melodias tão lindas. Seu corpo, sua alma pediam para dançar, uma censura severa dentro dela a impedia.
A filha aproximou-se e convidou: - Vem mãe! Você dança "tão bonitinho"...

Ela não foi. Ela não dançava "bonitinho", ela flutuava, ela levitava!
Aproveitou a animação de todos para sair sem ser vista do salão e, pelas escadas, ia ensaiando seus passos flutuantes que realizava tão bem e a faziam tão feliz.

Desceu, solidão esquecida, apenas sozinha e dançou pela alameda do clube, calçada de paralelepípedos sob os olhos do segurança que ensaiou um sorriso, imaginando-a de pilequinho.

Em direção à rua tropeçou nos saltos dos sapatos de camurça, finos e altos, que não estava habituada a usar e se prenderam às pedras do calçamento. Tirou-os e, pés no chão, a música soando lá dentro penetrou inteira em seu corpo, cérebro, alma.

O segurança foi a única testemunha daquela "coroa loura, bonitona ainda" que atirando os sapatos para que ele os pegasse foi subindo em direção ao céu dançando, flutuando e sumiu entre as estrelas. Contou ele, ainda, que durante alguns segundos sua sombra apareceu contra a lua cheia para logo desaparecer atrás dela, sempre cantarolando e dançando... sozinha.

Quando os filhos a procuraram, além do relato, receberam do rapaz, em estado de perplexidade,o par de sapatos de camurça pretos, saltos altos e finos, só usados em ocasiões especiais...

...Quem não expõe seus talentos,dança nas nuvens...

Sonia Regina,1999

sábado, 3 de janeiro de 2009

UMA HISTÓRIA PARA VANUZA PANTALEÃO




Corria a década de 60, acredito que 1965 e eu aos 21 anos, já formada professora, gostava muito de cantar, para ser absolutamente sincera, sentia-me cantora, tocava um violão, ou pensava que o fazia. Naquela época o termo era "bater um violão".

A mocidade era mantida sob controle dos pais e, com o meu irmão mais velho,tinha que ser, sozinha jamais, frequentávamos um clube na Tijuca que às quartas-feiras oferecia em sua programação uma "noitada":"O devaneio musical", rsrsrs!

Ficávamos, um grupo de jovens, alguns tocavam, a sério,instrumentos, a conversar, cantar muito e nos maravilhando uns com os outros e conosco mesmos. Nos sentíamos os artistas.

No clube víamos a noite passar para desespero de minha mãe, pois no dia seguinte eu tinha que ir trabalhar, em Bangu, e lá chegar às sete horas. Pobre mãe que me esperava, por volta das cinco com um copo de leite OFCO ( foi o pai dos leites integrais de caixinha) , que era considerado o leite mais forte e saudável. Eu era magrinha, aliás ainda sou, e a mãe preocupava-se com a minha saúde.

Muitas vezes, muitas mesmo, nos finais de noite apareciam artistas verdadeiros por lá, creio que também estavam terminando as suas noites e iam ver o que aqueles jovens metidos faziam, alguns elogiavam, devia ser por estímulo. Por lá passaram Wilson Simonal ( eu até fiz um dueto com ele) ,Tim Maia, Jorge Ben, Ellen de Lima, compositores, músicos.

Certa noite por lá surgiu,com um grupo um homem magro, bonito, pálido e interessante, principalmente por ser mais velho que o grupo em geral, talvez uns vinte ou trinta anos a mais o que não lhe diminuía o encanto.

Sentou-se conosco, tomou cerveja e alguém entoou a canção "Estão chegando as flores". O grupo fez coro e ele tomou parte nele. Quando a canção terminou todos aplaudiram, na verdade a si mesmos, pois nos achávamos o máximo.

A voz de um dos que chegaram com ele nos perguntou se conhecíamos o autor da música que era nova nos repertórios. Ninguém respondeu e ele nos foi apresentado: - Este é o Paulo Soledade, o autor deste hino que acabaram de aplaudir.

Nós ficamos meio sem graça, e um de nós, para dizer alguma coisa declarou que era a Saudação à Primavera da MPB. O Paulo tornou-se sério e disse que a música era uma saudação à vida. Relatou que estivera seriamente doente (teve tuberculose) e quando começou a sentir-se melhor, pela janela, viu a beleza do sol, reparando que chegavam, vindo pela rua, sua mulher e sua filha e sentiu-se agradecido por estar se recuperando, confessando que dali para diante olharia com mais cuidado por sua saúde (daí o nome da canção ser "Estão chegando as flores!)

Todos ficaram em silêncio, aquele que baixa quando se sente que se fez algo errado e daí ele deu um sorriso cativante e pediu ao conjunto que tocasse a música novamente. Desta vez, ele mesmo iniciou o canto com um sorriso iluminado. Logo todos já cantávamos juntos e neste dia vimos o dia clarear.Confesso que meus alunos, no dia seguinte, não tiveram aula,pois a professora faltou...

Confesso, também, que fiquei algumas semanas sem frequentar os Devaneios: a mãe da professora-cantora a deixou de castigo e ela obedeceu!!!

***

Sonia Regina
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ESTÃO CHEGANDO AS FLORES



Composição: Paulo Soledade



Vê, estão voltando as flores
Vê, nessa manhã tão linda
Vê, como é bonita a vida
Vê, há esperança, ainda

Vê, as nuvens vão passando
Vê, um novo céu se abrindo
Vê, o sol iluminando
Por onde nós vamos indo


postado por Sonia Regina.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Dons de Deus


Gabi é uma mocinha adorável, meiga, tranquila, prestativa e Deus a dotou de alguns talentos que ela explora com orgulho e muita alegria.




Ao nascer os prognósticos não lhes foram muito favoráveis: Deus a dotara, além dos talentos, com a síndrome de Down.





No entanto a vida, por ser perfeita, mostrou à sua mãe os caminhos para tornar falsos aqueles prognósticos. Ela saiu em busca de terapias, escolas, técnicos e todos os meios para que sua menina crescesse o mais sã possível.





Com a passagem dos anos Gabi mais e mais se desenvolvia. Aprendeu a ler bem, a escrever com alguma dificuldade, a se cuidar e ajudar nas tarefas caseiras, adora ler revistas de "fofocas" televisivas, conversa com todos e tem muitos amigos.






Gosta de assistir a DVDs, de música e de dançar. Deste talento falarei em uma outra ocasião.






Um dia, no grupo de convivência que frequenta surgiu uma nova oficina: a oficina de tapeçaria. Sua mãe colocou para a professora que ela não conseguiria, pois jamais havia segurado uma agulha comum, que se dizer de uma agulha para tecer tapetes?






A professora insistiu, alegou conhecer métodos específicos para aquele ensinamento e a mãe de Gabi se rendeu.





No início tudo era muito complicado: a agulha, as lãs, a tela,a tensão do ponto, muito difícil. Bem!Quem achava difícil era a mãe da mocinha porque ela mesma insistia e insistia. Aos poucos os trabalhos foram ficando mais organizados, mais esticados, os pontos mais regulares e as belezas foram surgindo...





De início tapetinhos para colocar sob o telefone, pequeninos painéis, bolsinhas...





Passou a trabalhar em tapetes para colocar ao lado da cama, mais coloridos, mais alegres, mais elaborados.



Quando sua mãe deu por si, Gabi já bordava lindos painéis, sem se preocupar com tamanho, caminhos para mesa, tapetes para chão e todos elaborados com muito capricho.





Hoje, sempre que lhe sobra tempo, pois faz muitas atividades, está às voltas com suas agulhas, lãs e telas e volta e meia indaga à sua mãe: - Não está lindo?





Gabi faz exposições mas não vende seus tapetes porque, infelizmente, as pessoas não dão o devido valor e desconhecem o custo do material.





No entanto, como é um espírito pleno de amor em si, Gabi resolveu o problema de sua mãe acomodar tantos tapetes em casa, que não é muito espaçosa. Quando termina um trabalho ela decide a quem presentear e os dá às pessoas que sabe apreciá-los. Já ofereceu a parentes, amigos, ao seu médico e, até mesmo, à moça que trabalha nos serviços domésticos na casa de sua irmã, que é uma pessoa muito sensível e calada, mas que ela percebeu o seu interior e a delicadeza com que a trata.






A mãe de Gabi tem muito orgulho deste talento oferecido por Deus e a Ele agradece pela filha e pela alegria que este dom proporciona à Gabi.






Sonia Regina.

NITERÓI, LUGAR ENCANTADO!!!

NITERÓI, LUGAR ENCANTADO!!!
Luar dando espetáculo na praia da Boa Viagem!"