"Encore bien que je te trouve"
Estava eu a ler a coluna do Jorge Silva Melo, no Mil Folhas de ontem, com o título acima, em que ele vai discorrendo sobre a tradução que por aí se pratica no teatro, quando a certa altura, ele escreve: "Na tradução, diz-se, há-de ouvir-se a língua de origem". Ia eu já rever todos os meus conceitos sobre tradução (a presença ou não da língua de origem na tradução é coisa responsável pelo abate de muitas árvores), o estatuto do texto original e essas coisas mais, mas com a leitura do texto até ao fim, pensei, para comigo, (não sabendo se essa era ou não a intenção original do autor, mas isso também não me interessa, pois como diz Pessoa, "E os que lêem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, / Mas só a que eles não têm."), que afinal, nos exemplos dados por JSM, ironicamente, a língua original não se ouvia apenas, estava era aos gritos. Escreve JSM:
Nunca houve tranta gente licenciada especificamente em tradução. Aliás, em Portugal, nunca houve tanta gente licenciada. Como se explica todos os problemas que, frequentemente, vemos levantados nesta questão das traduções? Será que as traduções do passado era todas excelentes. Certamente que não. Mas, se o grau de qualificação actual é superior, temos que esperar mais e melhor.
Também é certo que, exemplos isolados, como os apresentados por JSM, retirados daqui e dali, por si só não servem para fazer a avaliação global de uma tradução, mas, pela sua natureza, abalam fortemente a sua credibilidade e o grau de confiança do leitor/espectador em relação ao todo.
Na tradução, diz-se, há-de ouvir-se a língua de origem. E é inegavelmente bonita a maneira como o inglês de Shakespeare vai desfilando paralelo ao português de Sophia. Mar porquê pôr as personagens a falar inglês com palavras semiportuguesas naquela maneira "encore bien que je te trouve" ("ainda bem que te encontro") de que nos ríamos, alameda da Universidade abaixo? É nessa língua (o "portinglês") que ouço agora teatro. De palco em palco, as traduções parecem ser feitas, por computador, sem língua que as sustente, palavra a palavra, como se isso fosse fala. (...)Por outro lado, JSM critica a "crítica", quando encontra:
Num [jornal], a propósito de um actor italiano, diz-se que "recita de memória" ("recitare a memoria" = "dizer de cor"); noutro, fala-se de "jóia" que o encenador via no texto (singular tradução de "gioia", "joie", "joy". Em português, ficou "júbilo", mas, trazido de outras terras, dizemos "alegria"). (...)
Uma jornalista escreve que "se morre de pé. como as aves" (terá ouvido mal a gravação, aceite-se; mas onde terá visto, nem que fosse um flamingo, morrer de pé? É que a frase termina com "árvores", no original de Casona que Palmyra celebrizou com o seu trémolo);
... o último número do "Mouvement", quando não o "press-release" alinhavado pela produção para o "Festival d'Automne" e reproduzido toscamente. Será por isso que a "crítica" (?) parece preferir debruçar-se sobre espectáculos, exposições, filmes, "eventos" já criticados naquele imenso "lá fora", para repetir o que já foi escrito, estilo "copy+paste"?De facto, não são só os estudantes que vão à net fazer cópias para os seus trabalhos académicos. Pensar pela própria cabeça, implica esforço e é sempre mais fácil escrever quando se encontra a "papinha feita".
Nunca houve tranta gente licenciada especificamente em tradução. Aliás, em Portugal, nunca houve tanta gente licenciada. Como se explica todos os problemas que, frequentemente, vemos levantados nesta questão das traduções? Será que as traduções do passado era todas excelentes. Certamente que não. Mas, se o grau de qualificação actual é superior, temos que esperar mais e melhor.
Também é certo que, exemplos isolados, como os apresentados por JSM, retirados daqui e dali, por si só não servem para fazer a avaliação global de uma tradução, mas, pela sua natureza, abalam fortemente a sua credibilidade e o grau de confiança do leitor/espectador em relação ao todo.
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