"E aqueles que pensam em Me procurar, saibam que a vossa busca e vosso anseio devem beneficiar-vos apenas se vós souberdes o Mistério; se o que vós procurardes, vós não achardes dentro de vós mesmos, então nunca encontrarão fora. Pois eu tenho estado convosco desde o Início e Eu Sou Aquela que é alcançada ao final do desejo"


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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ATHENA E MEDUSA DOIS NOMES,A MESMA DEUSA

ATHENA & MEDUSA


Na arte clássica grega existem duas diferentes apresentações de Athena. A imagem mais familiar é a da deusa severa, paramentada com armadura, elmo e escudo, a virgem invicta e guardiã de Atenas, que protege as batalhas e os heróis. Já a mais antiga a mostra como uma deusa majestosa, com o manto e os cabelos decorados com serpentes e um fuso na mão esquerda. No entanto, mesmo a figura guerreira guarda as memórias arcaicas da sua verdadeira origem, que aparecem na cabeça da górgone com cabelos de serpentes, existente no seu escudo chamado Gorgoneion. Esta é a revelação da descendência de Athena, herdeira da deusa minoana das serpentes, cultuada um milênio antes do mito patriarcal transformá-la na filha nascida da cabeça do seu pai Zeus, surgindo totalmente armada e pronta para a batalha

Os mitos mais recentes descrevem a górgone como um monstro atemorizador, vencido e morto pelo herói Perseu, que após decapitá-la, entregou à deusa Athena sua cabeça como gratidão pela ajuda recebida.

Analisando detalhes do seu nascimento descobrimos que a mãe de Athena era a deusa Metis, uma das esposas de Zeus, que a engoliu, temendo que o filho que ela carregava no ventre pudesse destroná-lo, assim como ele tinha feito com o seu progenitor Chronos. Sofrendo de atrozes dores de cabeça Zeus pediu ajuda ao deus ferreiro Hefaisto, que lhe abriu a cabeça com seu machado e dela emergiu Athena, defensora da ordem patriarcal e não sua opositora. É evidente a metáfora que descreve o predomínio do direito paterno e patriarcal sobre a antiga ordem da sociedade matrilinear e matrifocal.Vemos nisso uma semelhança com o nascimento de Eva da costela de Adão, o primogênito; tanto Eva quanto Athena sendo associadas a serpentes.

Em grego, Athena pode ser compreendida como A Thea, a Deusa, que também deu origem ao nome da cidade por Ela patrocinada. Seu segundo nome, Pallas, significa “virgem”, pois em nenhum mito é feita qualquer referência à sua condição de mãe, sendo sempre conselheira, protetora e amiga de heróis e reis.

Uma antiga imagem minoana do período neolítico a retrata como uma deusa alada e com cabeça de pássaro. A transformação de Athena, de uma deusa pássaro e serpente em uma deusa guerreira que negou a sua filiação materna, ocorreu ao longo dos dois milênios de influências indo-européias e orientais na Grécia. O nome da sua mãe – Metis – permaneceu no seu atributo “sabedoria” ou “aconselhamento prático”. A origem serpentínea de Athena aparece ocultada na lenda da Medusa que foi transformada pelo patriarcado na terrível górgone cujo olhar petrificava os homens.

Na realidade Medusa era neta de Gaia, seu nome significava Senhora ou Rainha, sendo a deusa serpente das Amazonas da Líbia, uma das três irmãs górgones cujo cabelo encaracolado era semelhante a uma coroa de serpentes. Elas protegiam os mistérios matrifocais antigos e os limites dos lugares sagrados. Em uma inscrição antiga Medusa era chamada “Mãe dos Deuses, passado, presente, futuro, tudo o que foi, é e será” (frase posteriormente copiada pelos cristãos para definir Deus). Sua sabedoria era resumida nesta frase: “nenhum mortal foi capaz de levantar o véu que Me oculta”, por Ela ser a própria morte, sendo o aspecto destruidor da deusa tríplice. Outro significado da sua face oculta e perigosa era o tabu menstrual, pois os povos antigos temiam o poder mágico do sangue menstrual, que podia criar e destruir a vida. A serpente é um antigo símbolo da sabedoria feminina e também representa o poder da energia Kundalini, a capacidade de transmutação e regeneração.

Originariamente a cabeça da górgone era encontrada na entrada dos templos como um escudo de proteção, a górgone arcaica representando uma trindade lunar formada por sabedoria, força e proteção. A lenda conta que o sangue de Medusa - que tanto servia para curar como para matar - foi colhido dos seus dois lados (esquerdo e direito) colocado em duas ânforas e dado a Asclépio e à sua filha Hygéia, deuses da cura. A imagem das duas serpentes entrelaçadas existente no caduceu (o bastão das divindades de cura) simboliza o conceito de vida e morte, a polaridade masculino/ feminino, esquerda/ direita, a representação da hélice dupla do DNA. Os antigos símbolos da deusa serpente minoana sobreviveram na ordem patriarcal apenas no seu aspecto escuro e ameaçador (principalmente para os homens, que ficavam paralisados pelo poder do olhar da Medusa).

Um mito antigo atribui à Medusa o nascimento de Pégaso, o cavalo alado, como fruto da sua união com Poseidon, ambos metamorfoseados em eqüinos (cavalo e égua). Outro mito mais recente descreve sua criação do sangue jorrando do pescoço de Medusa quando a sua cabeça foi cortada pela espada brilhante de Perseu. A vitória de Perseu é vista como uma ode à vitória da luz sobre os terrores da escuridão e das serpentes, reforçando assim a dicotomia entre luz e sombra, masculino e feminino, Sol e Lua.


Compete às atuais sacerdotisas e seguidoras da Deusa compreender a complexa polaridade deste mito não como um conflito entre o arquétipo patriarcal de Athena e a sua antiga origem lunar e górgonica, mas uma complementação de opostos personificados por Athena - o aspecto solar, guerreiro, criativo, heróico - e Medusa, sua contraparte lunar, passiva, obscura e misteriosa, mas igualmente poderosa.


domingo, 7 de dezembro de 2008

AS GÓRGONAS



As três Górgonas, originalmente, tinham rostos muito belos e corpos bem delineados, além de apresentarem graciosas asas douradas arqueadas por sobre os ombros. Essas irmãs, filhas imortais de Fórcis (o "Grisalho", filho do extremo Ocidente) e Ceto (os dois são divindades marinhas), chamavam-se Medusa ("a ladina"), Esteno ("a forte") e Euríale ("a que corre o mundo"). Medusa provocou a ira de Atena ao fazer amor com Poseidon (deus do Mar) em um dos santuários desta. Enfurecida, Atena tornou-a mortal e a transformou, e às suas irmãs, em feias megeras , as "Repugnantes". Tinham a pele escamosa de um lagarto e cobras silvantes por cabelos; sua língua era protuberante, cercada por presas de javali. Medusa era a mais feia e petrificadora das três.


O terrível olhar das Górgonas era tão intenso que transformava os mortais em pedra e por toda a volta da caverna em que viviam podiam-se ver figuras de homens e animais que tinham olhado casualmente para elas e foram petrificados por essa visão. Podemos vê-las nesse sentido, como figuras guardiãs, protetoras das fronteiras dos antigos mistérios primais, guardiãs do limiar. Robert Graves, entre outros, sugere que as sacerdotisas usavam, máscaras de Górgonas para afastarem os não-iniciados. Cabeças de Górgonas, na forma de grotescos entalhes, eram colocadas com freqüência nos muros das cidades gregas para aterrorizarem os inimigos, um exemplo de proteção de fronteiras pelo arquétipo das Górgonas.
As Górgonas viviam juntas no além-mar, na extremidade ocidental do mundo e seu santuário formava fronteira com o reino da Noite. Eram protegidas por suas irmãs mais velhas, as Gréias, que possuíam um único olho e um único dente que compartilhavam, passando-os uma para as outras.


A mitologia masculina posterior fala do herói Perseu, que, enviado numa missão suicida para trazer a cabeça de Medusa, atraiu a simpatia e ajuda de Atena. Com sua ajuda e com o empréstimo de sandálias aladas, um elmo de invisibilidade e um escudo brilhante, Perseu penetrou no reino das Górgonas. Encontrando-as adormecidas, ele delas se aproximou, protegido pelo elmo da invisibilidade e, caminhando de costas, olhando apenas para o reflexo da cabeça de Medusa em seu escudo, pôde decapitá-la com a espada guiada por Atena, e escapar. Ele levou a cabeça guardada em segurança em uma bolsa mágica e a deu de presente a Atena, que a pendurou no cinto ou, como dizem outras versões, fixou-a no centro da égide do seu escudo. Não só Atena usava a imagem da Medusa como tótem protetor contra os inimigos e todo o mal. Sua imagem era encontrada em cerâmica, jóias, portas e carregada pelos soldados nos campos de batalha.

mito de Perseu e a luta com a Medusa simbolizam a guerra íntima do ser humano na procura por si próprio. Quem vê a cabeça da Medusa é petrificado: é a conscientização, por parte do homem, do seu lado negativo, é a descoberta do peso petrificante de sua culpa.
O nome Medusa significa " sabedoria feminina soberana, " em Sanscrito significa Medha, Metis em griego e em egípcio, Met ou Maat.

Medusa foi trazida para a Grécia da Líbia, onde as Amazonas líbias a adoravam como a Deusa Serpente. A Medusa (Metis) correspondia ao aspecto destruidor da Grande Deusa Tríplice Neith também chamada de Anath, Athene ou Athenna na África do Norte e Athana em1400 a.C., em Minos Creta.


A Medusa tinha originalmente o aspecto da deusa Atena da Líbia onde ela era a Deusa Serpente das Amazonas. Seu rosto era oculto e pavoroso. Estava escrito que nada nem ninguém poderia levantar seu véu, e todo aquele que se atravesse a fazê-lo morreria instantâneamente. Foram os gregos que separaram Medusa de Atena e as tornaram inimigas.


Dando continuidade a nossa história..., mesmo após a sua morte, o sangue da Medusa conservou seus poderes e deu vida ao famoso Pégasus, o cavalo alado, obediente à Zeus. O sangue da Medusa é totalmente extraído de seu corpo e utilizado então, mais tarde, transformando Asclépio em um grande curador. Foi exatamente Atena quem deu a Asclépio dois frascos do sangue de Medusa. Venerado como fundador da medicina, Asclépio era habilidoso na cirurgia e no uso de remédios. Ele usou o sangue do lado esquerdo de Medusa para levantar os mortos; o sangue do lado direito provocava morte instantânea. Na verdade, Asclépio preferia trabalhar apenas com a capacidade curativa dos remédios. Mas o fato de o sangue de Medusa poder tanto curar como matar demonstra que a figura da Medusa ou da Górgona não era estritamente negativa e destruidora, tendo em si forças curativas positivas, o que lhe dava equilíbrio.


sangue mágico da Medusa se correlaciona ainda, com um antigo tabu relacionado com a menstruação. Povos primitivos acreditavam que o olhar de uma mulher menstruada poderia converter em pedra um homem. Também era crença popular que o sangue menstrual era fonte de toda a vida mortal e também da morte, pois ambas são inseparáveis.

As Górgonas aladas, cujos cabelos eram serpentes que também cingiam a sua cintura, juntamente com as presas dos javalis, a barba e a língua à mostra, são símbolos urobóricos do poder primordial do Grande Feminino, imagens da Grande Divindade Materna pré-helênica em seu aspecto devorador, como terra, noite e mundo inferior.

A acentuação urobórica masculino-feminina da Górgona não resulta somente da impressão causada pelas presas ferozes, mas também da língua estendida para fora, a qual, em contraste com os lábios femininos, sempre tem um caráter fálico. Na Nova Zelândia, a exibição da língua estendida é sinal de poder e de energia dinâmica. Onde quer que surja o aspecto terrível do Feminino, ele também será a mulher-serpente, a mulher com o falo, a unidade conceber-gerar da vida e da morte. Eis a razão pela quel as Górgonas são dotadas de todos os atributos masculinos: a serpente, as presas do javali, o dente, a língua exposta e, às vezes, até barba.


GÓRGONAS COMO ARQUÉTIPOS

As Górgonas são tidas históricamente como arquétipos da "Mãe Repugnante", ou "Mãe Terrível". Entretanto elas simbolizam bem mais do que só isso, representam: a sabedoria feminina soberana; os mistérios femininos; todas as forças da Grande Deusa primordial; os ciclos do tempo presente e futuro; os ciclos da natureza como vida, morte e renascimento. Elas são criatividade e destruição universais em transformação eterna. Elas são guardiãs dos umbrais e mediatrizes entre os reinos do Céu, da Terra e do Mundo Inferior. Elas fazem a conexão do Céu com a Terra; destróem para construir, alcançando assim o equilíbrio. Elas purificam e curam. Elas são a última verdade da realidade e da integridade.
São as Górgonas com sua terrível aparência, que nos alertam contra a imersão prematura nas sombrias profundezas do nosso mundo inferior psíquico, o nosso domínio inconsciente. Se penetrarmos nesse reino sem a preparação adequada, podemos ficar petrificados, ter a vontade paralizada e perder a capacidade de compreender as forças e os tenebrosos poderes do nosso inconsciente. Seríamos reduzidos a uma completa inatividade da alma.
As Gógonas surgem das profundezas das cavernas do mundo subterrâneo para nos desafiar com um grande enigma. As Desafiantes deste Lado Obscuro fazem parte da Grande Deusa e estão vinculadas a Deusa Anciã, que juntamente com a Deusa Virgem e a Deusa Mãe, participam do arquétipo da Deusa Tríplice. A Deusa Anciã e as Górgonas expressam energias iniciáticas, curadoras e libertadoras da sabedoria feminina. Nos relatos mitológicos elas tornam-se demoníacas em virtude das religiões patriarcais que purgaram da consciência da mulher qualquer tipo de poder mágico e transformador. A decapitação mitológica da Medusa simboliza o silêncio da sabedoria e da expressão feminina. É um ato que freia seu crecimento, limita seu potencial, movimento e contribuições culturais. A sabedoria feminina é um dos aspectos mais reprimido nas mulheres, produto de uma larga prédica contra o xamanismo das sacerdotisas, bruxas, curadoras e profetizas. Nós mulheres ainda guardamos na memória a perseguição e queima das bruxas européias e ainda hoje, qualquer coisa que esteja associada ao poder das bruxas é percebido com muito temor e como algo perigoso e obscuro pelo homem. Entretanto, as energias da Deusa Anciã nos dota de força, sabedoria e dignidade. As anciãs sábias das culturas matriarcais aborígenes não foram mulheres submissas porque haviam encontrado o seu verdadeiro "Eu" através das iniciações, ritos de passagem e consciência madura.

As histórias míticas das Górgonas propocionam um ponto de partida para se detectar as qualidades e energias internas em cada mulher. Qualidades das bruxas, xamãs, profetizas e sacerdotisas que se desenvolveram em distintas culturas, oferecem hoje, as demais mulheres e até para homens que se interessem sobre o assunto, experiências de conhecimento e transformação. Tal qual nossas ancestrais, nós, mulheres de novos tempos, necessitamos estar conscientemente vinculadas com a energia de nosso lado obscuro para descobrirmos o seu tesouro oculto, com o qual poderemos transformar tanto nossa vida pessoal como comunitária.

Rosane Volpatto IN: http://www.rosanevolpatto.trd.br/medusa.htm