Serra do Curral
A serra do Curral integra o maciço da serra do Espinhaço. É o limite sul do município de Belo Horizonte. Seu nome alude a Curral del Rei, primitiva designação da localidade onde foi erigida em 1897 a capital de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Sua flora é bastante diversificada, variando, em gradientes, de áreas de campo rupestre (cotas mais altas), passando pelo cerrado até remanescentes da Mata Atlântica.
A seus pés estende-se o bairro Mangabeiras. A Serra do Curral está abrangida na área de proteção ambiental do Parque Municipal das Mangabeiras e Parque da Serra do Curral.
Sua altitude média varia de 1.100 a 1.350 metros, sendo que o ponto culminante se encontra no Pico Belo Horizonte a uma altitude de 1.390 metros. A partir de 1955, passou a abrigar a torres de transmissão de televisão, sendo a primeira antena a da TV Itacolomi.
Foi escolhida em 1995[1] como símbolo de Belo Horizonte em um plebiscito. Concorriam juntamente com a serra a Igreja de São Francisco de Assis e a Lagoa da Pampulha.[2]
Origem do nome
[editar | editar código-fonte]A história da Serra do Curral [3]se entrelaça com a própria fundação de Belo Horizonte. Antigamente, a área era utilizada para a criação de gado, e a formação rochosa natural assemelhava-se a um curral, dando origem ao nome que persiste até hoje. Mais do que um mero acidente geográfico, a Serra do Curral é um símbolo histórico e ambiental da capital mineira.
Aspectos geográficos
[editar | editar código-fonte]A Serra do Curral pertence à única cordilheira do Brasil, a Serra do Espinhaço. Com a maior altimetria da capital mineira – cerca de 1.350 metros – a Serra do Curral é responsável por preservar diversas nascentes dos rios e córregos que banham a capital como o Córrego da Serra e o Córrego Acaba Mundo.
A Serra do Curral apresenta formação ambiental típica da faixa de transição da Mata Atlântica para o Cerrado e, com isso, preserva uma grande fauna e flora dos dois biomas tipicamente brasileiros.
Sua composição rochosa é composta por itabiritos e hematitas localizadas no topo da montanha por serem rochas mais resistentes ao intemperismo. Na parte mais baixa da serra a maior presença é de dolomito, rocha sedimentar mais frágil que as presentes no topo da serra.
Importância da Serra do Curral para ocupação do território
[editar | editar código-fonte]Antes de se pensar na construção da capital moderna e da formação do Arraial do Curral del Rei, a Serra do Curral já era importante para populações indígenas que se fixaram no sopé da Serra devido à quantidade de nascentes presentes na região importantes para a irrigação da agricultura.
Durante o período da exploração aurífera, os bandeirantes e tropeiros vindos do litoral do Brasil se localizavam através da Serra. Esta era um marco geográfico que sinalizava a chegada à Sabarabuçu, região com grande exploração do ouro de aluvião. Com isso, a Serra do Curral faz parte da Estrada Real, caminho que a população na época colonial fazia para chegar às pedras preciosas[4].
Abílio Barreto escreveu em seu livro “Memória Histórica e Descritiva de Belo Horizonte” que a Serra foi considerada uma barreira contra os ventos frios do Sul e quentes do Norte, o que seria ideal para o alojamento da população do Arraial do Curral del Rei.
Além de servir como barreira das correntes de ar, o sopé da Serra era usado como área de lavoura devido ao seu terreno fértil (as rochas sedimentares são importantes para repor minerais para as plantações) e com nascentes responsáveis pela irrigação do plantio[5].
Quando a região do Arraial foi escolhida para sediar a nova capital de Minas, o engenheiro chefe da Comissão Construtora da Nova Capital, Aarão Reis, não desmereceu a Serra do Curral e a usou como referência de ocupação e limite para planejar a construção da cidade.
A Comissão Construtora aproveitou muito dos córregos com nascentes na Serra para a instalação de reservatórios de água para suprir as necessidades básicas dos moradores. A foto a seguir, presente no acervo do Museu Histórico Abílio Barreto, mostra um reservatório de água que capta água das nascentes da Serra do Curral. O edifício é tomado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte e o reservatório está em funcionamento desde sua inauguração em 1897. Atualmente compõe o Parque Amilcar Vianna Martins, no bairro Cruzeiro.
Extração
[editar | editar código-fonte]Com a maioria do solo revestido por minério de ferro e calcário[6] e com grande número de árvores para extração de madeira, a Serra do Curral começou a ser explorada antes mesmo da fundação de Belo Horizonte[7]. Inicialmente, o material retirado serviu para a construção dos primeiros prédios públicos presentes na inauguração da capital em 1897.
A remoção do minério de ferro começou na década de 1960 pela empresa Ferrobel[8], sociedade de economia mista criada pela Prefeitura de Belo Horizonte[9]. Com a primeira instalação de mina de ferro, novas empresas se alocaram na região visando lucros da mineração. Foi o caso da Companhia Vale do Rio Doce (atual Vale S.A.) que realizou a instalação da Mina de Águas Claras nos primeiros anos da década de 1970[10]. Segundo estudos feitos, foram retiradas, em média, 14 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, até sua desativação em 2002.
Outras empresas mineradoras também exploraram a Serra, como a Empabra (Empresa de Mineração do Pau Branco) e a MBR (Minerações Brasileiras Reunidas) no final da década de 1970[11].
Além da retirada de minério de ferro, a mineradora Companhia Vale do Rio Doce tentou interferir na Serra criando uma linha ferroviária ligando a Mina de Águas Claras até Ibirité para facilitar o transporte da carga extraída na capital[11]. Tal situação gerou a primeira denúncia relatada sobre problemas ambientais que poderiam trazer danos à Serra do Curral, que ocorreu no ano de 1973[11]. Mesmo com a denúncia, a obra foi feita e resultou em um rebaixamento de 100 metros da linha do horizonte onde hoje se localizam os bairros Mangabeiras e Serra[11].
As nascentes dos rios presentes na serra também foram afetadas pela extração mineral. Para limpar os resíduos vindos da mineração, as empresas usavam as águas dos rios e aproveitavam o leito para escoar os rejeitos. Esse movimento afetou o abastecimento de água da região do Taquaril, já que a água não vinha mais limpa da nascente[11].
Habitações na Serra do Curral
[editar | editar código-fonte]O plano de construção de Belo Horizonte previa a existência de três zonas: urbana, suburbana e rural. Enquanto a área urbana seria a concentradora de serviços, comércios e residências, a suburbana seria destinada à instalação de chácaras, que poderiam abastecer a cidade, além de desenvolver pequena produção de subsistência, e a zona rural era composta por pequenas lavouras que abasteciam a cidade[12].
Várias chácaras foram construídas nas proximidades da Serra do Curral durante a década de 1910, responsáveis pela produção agrícola. Com o passar dos anos, as lavouras foram sendo substituídas por casas e mudando totalmente os bairros próximos à Serra do Curral.
Com terreno acidentado, a área também foi alvo de ocupações ainda na primeira metade do século XX com a formação de várias favelas, a exemplo da Pindura Saia e Pombal – duas vilas situadas no que viria a se tornar o prolongamento da Avenida Afonso Pena[13]. Da mesma forma, uma série de vilas se formou mais a leste, como a Cafezal, a Marçola e outras que, com seu desenvolvimento, passaram a compor o chamado Aglomerado da Serra, o mais populoso da capital mineira[13].
Enquanto este conjunto se desenvolveu e permanece até os dias atuais, as vilas Pindura Saia e Pombal foram alvo de ações de desfavelamento do poder público na passagem dos anos 1960 para 1970, com a justificativa da implantação de uma série de equipamentos urbanos a exemplo do Mercado Distrital do Cruzeiro, a Universidade FUMEC e dos clubes Ginástico e Minas Tênis Clube II[13]. A memória da remoção dessa população pobre da região é narrada na obra “Becos de Memória” da escritora belorizontina Conceição Evaristo[14].
A partir da metade do século XX, as mudanças na região foram drásticas. A especulação imobiliária se voltou à região sul da cidade, com planos de construção de prédios voltados às classes altas e médias de Belo Horizonte, beneficiada por obras públicas, como aquelas decorrentes das ações de desfavelamento[15].
Os anos 1960 a 1990 marcam avanços da especulação imobiliária sobre a Serra do Curral. O primeiro deles se deu de forma irregular, com a instalação de residências e outras construções em áreas não aprovadas que dariam origem ao bairro Mangabeiras. Na década de 1990, foi a vez de polêmica aprovação do Belvedere III, que autorizou a verticalização na área adjacente à Serra do Curral. A região teve valorização na compra de casas e teve que seguir algumas ordens ambientais já que, por ser próximo à Serra, a altura dos prédios não podia exceder a linha do horizonte. Os prédios construídos não respeitaram também o solo da Serra que é constituída principalmente por calcário, rocha sedimentar que facilita desmoronamentos com o peso das habitações[11].
As ordens ambientais impostas não foram cumpridas pelas 11 empresas que alteraram a visibilidade da Serra do Curral. O Ministério Público de Minas Gerais aprovou o processo de indenização ao IPHAN pago pelas imobiliárias que desacataram a lei de tombamento da Serra e o Plano Diretor de Belo Horizonte[16].
Serra do Curral como área verde
[editar | editar código-fonte]Em paralelo aos impactos contra o meio ambiente, ações a favor da preservação da Serra começaram a ser feitas ainda em 1930 com a criação do Jardim Botânico na Fazenda do Baleia[11].
Para preservar ainda mais a linha do horizonte criada pela altimetria da Serra do Curral, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) decretou, em 1960, pelo Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico o tombamento do conjunto paisagístico e da parte mais nobre da serra localizada na região onde hoje fica a Praça Israel Pinheiro[17]. Em 2021, um abaixo assinado com mais de 72 mil assinaturas entregue à então vereadora Duda Salabert (PDT) pede o tombamento de toda a área da Serra para barrar as mineradoras que ainda realizam a extração em algumas partes da montanha[18]. O prefeito da gestão 2022 - 2024, Fuad Noman decretou, no dia seis de Junho de 2022, a criação do corredor ecológico Espinhaço – Serra do Curral que promove a conservação da flora e da fauna da Serra do Curral, protege as nascentes presentes na área e traz visibilidade para o tombamento da área que “contempla o conjunto paisagístico-cultural da Serra do Curral[19].
Com o fim das explorações da mineradora Ferro Belo Horizonte (Ferrobel) em 1980, a região onde estava instalada a mina foi totalmente reflorestada e inaugurou-se, em 1982, o Parque das Mangabeiras[8] com finalidade de preservação das nascentes da região e a criação de mais uma área de recreação para as famílias de Belo Horizonte.
Em 2008, começou a ser elaborada a criação do Parque da Serra do Curral com atrativos de trilhas e mirantes dos lugares mais altos da cidade e expandindo a área de preservação da Serra do Curral[20].
Tanto o Parque das Mangabeiras quanto o Parque da Serra do Curral são administrados pela Fundação de Parques Municipais, criada em 2005.
Referências
- ↑ «Serra do Curral - programa + Ação». Rede Minas. Consultado em 3 de outubro de 2009
- ↑ «Serra do Curral». Mix BH. Consultado em 3 de outubro de 2009
- ↑ «Serra do Curral e a História de Belo Horizonte». BH Fácil. 2 de janeiro de 2024. Consultado em 16 de janeiro de 2024
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