Religião na União Soviética
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A União Soviética foi o primeiro estado a objetivar a eliminação completa da religião[1] e sua substituição pelo ateísmo universal.[2][3] O Estado comunista soviético confiscou propriedades religiosas, promoveu amplamente o ateísmo nas escolas, perseguiu crentes e investiu na ridicularização das religiões.[4] O confisco de bens religiosos apoiou-se principalmente em denúncias de acúmulo ilegal de riqueza.
A grande maioria da população do Império Russo era, na época da revolução, formada por crentes religiosos, enquanto que os revolucionários tinham como objetivo romper completamente com a crença religiosa e o poder das igrejas. Após a revolução, promoveu-se amplamente a ideia da oposição entre "ciência" e "superstição religiosa". Não havia lugar na nova ordem comunista para a chamada "ficção subjetiva" da espiritualidade religiosa. No entanto, os principais cultos religiosos persistiram e foram tolerados, porém desencorajados e colocados dentro de limites restritos.
O ateísmo de Estado da União Soviética era conhecido como gosateizm,[1] e era baseado na ideologia do marxismo-leninismo. Como o fundador do Estado soviético, Lênin declarou:
A religião é o ópio do povo; este provérbio de Marx é a pedra angular de toda a ideologia do marxismo a respeito da religião. Todas as religiões e todo o tipo de organização religiosa sempre foram consideradas pelo marxismo como órgãos de reação burguesa, usados para a proteção da exploração e estupefação da classe trabalhadora.[5]
O ateísmo Marxista-leninista defendeu firmemente o controle, repressão e eliminação da religião[carece de fontes]. Dentro de cerca de um ano da revolução, o Estado nacionalizou todos os bens de igrejas, incluindo os seus edifícios. No período de 1922 a 1926, 28 bispos ortodoxos russos e mais de 1.200 sacerdotes foram executados. Vários outros foram perseguidos.[6]
Os cristãos pertenciam a várias igrejas: ortodoxa (que possuía o maior número de seguidores), católica, batista e vários outras denominações protestantes. A maioria dos muçulmanos na União Soviética eram sunitas. O judaísmo também tinha muitos seguidores. Outras religiões como o budismo e xamanismo, também eram praticadas em menor número.
Políticas em relação a prática religiosa
[editar | editar código-fonte]O ateísmo era a doutrina oficial do Partido Comunista. Apesar de objetivar a extinção completa das religiões, num primeiro momento algumas igrejas foram poupadas da destruição e fechamento arbitrário. Havia também uma certa tolerância e a liberdade de crença era prevista na constituição.[8]
O marxismo-leninismo defende a supressão e finalmente o desaparecimento das crenças religiosas, consideradas como "não cientificas" e "supersticiosas". Nas décadas de 1920 e 1930, organizações como a Liga dos Ateus Militantes (também chamada de Sociedade dos sem-Deus) participavam ativamente de campanhas de propaganda antirreligiosa. O ateísmo era norma nas escolas, organizações comunistas (como, por exemplo, na Organização dos Jovens Pioneiros) e na mídia. No entanto, a intensidade dos esforços para erradicar determinadas religiões variaram ao longo dos anos em que a União Soviética existiu, dependendo dos interesses estatais. Em 1923, um correspondente do The New York Times relatou que cristãos estavam comemorando a páscoa pacificamente em Moscou, apesar das ações violentas de repressão em anos anteriores. As políticas e práticas oficiais não apenas variaram com o tempo, mas também se diferiam em suas aplicações de acordo com determinadas nacionalidades e religiões.[9]
Em 1929, com o início da Revolução Cultural na União Soviética e o aumento da militância radical do Partido e da Komsomol, surgiu um grande movimento dominante em favor do fechamento de igrejas e prisão de sacerdotes, aprovado por Stalin. Instruções secretas de "linha dura" não divulgadas oficialmente foram emitidas para organizações locais do Partido. Quando as manobras antirreligiosas instigaram a ira da população rural e condenações do Papa e outros porta-vozes de igrejas no Ocidente, o regime decidiu afastar-se dessa política, que de qualquer maneira nunca tinha sido endossada oficialmente.[10][11]
Apesar de todos os líderes soviéticos terem como objetivo de longo prazo o desenvolvimento de uma população soviética coesa, eles experimentaram métodos diferentes para esse objetivo. Para o regime soviético, questões relacionadas a nacionalidade e religião sempre estiveram intimamente ligadas. Portanto, de acordo com a necessidade e os interesses estatais, algumas religiões podiam ser mais condenadas em alguns locais do que em outros e até mesmo podia haver o apoio de determinadas crenças para promover a aproximação com o povo.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b Kowalewski, David (1980). «"Protest for Religious Rights in the USSR: Characteristics and Consequences"». Russian Review. 39 (4): 426–441
- ↑ Ramet, Sabrina Petra. (Ed) (1993). "Religious Policy in the Soviet Union". [S.l.]: Cambridge University Press. p. 4
- ↑ Anderson, John (1994). "Religion, State and Politics in the Soviet Union and Successor States". Cambridge, England: Cambridge University Press. p. 3. ISBN 0-521-46784-5
- ↑ Loc.gov (ed.). «"Anti-religious Campaigns"». Consultado em 19 de setembro de 2011
- ↑ Lenin, V. I. «"About the attitude of the working party toward the religion".». Collected works, v. 17, p.41. Consultado em 9 de setembro de 2006. Arquivado do original em 20 de julho de 2011
- ↑ «"Country Studies: Russia-The Russian Orthodox Church"». U.S. Library of Congress. Consultado em 3 de abril de 2008
- ↑ Anna Shternshis, Soviet and Kosher: Jewish Popular Culture in the Soviet Union, 1923–1939, Indiana University Press, 2006, pg. 150–155. ISBN 0-253-21841-1
- ↑ Fitzpatrick, S. Everyday Stalinism. Oxford University Press. New York, 1999. page 27. ISBN 0-19-505001-0
- ↑ "Moscow Keeps Easter; No Riots Expected; A Faithful Few Still Go to Church and Are Unmolested", The New York Times. 6 de abril de 1923 Página acessada em 14 de março de 2011.
- ↑ Fitzpatrick, S. On the drive against religion in 1929-30. Stalin's Peasants. New-York, 1994. pg. 59-63.
- ↑ Fitzpatrick, S. Everyday Stalinism. New-York, 1999. pg.27