Estrada Real do Comércio
A Estrada Real do Comércio é uma antiga estrada construída no século XIX e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), cujos resquícios ainda podem ser vistos nos municípios de Nova Iguaçu e Miguel Pereira, no estado brasileiro do Rio de Janeiro.
Origem
[editar | editar código-fonte]A Real Junta de Comércio, Agricultura, Fábrica e Navegação do Estado do Brasil e Domínios Ultramarinos, daí o nome Comércio,[1] sugeriu em 1811 a abertura de um caminho através de uma região de mata virgem para melhorar o trajeto das tropas de mulas entre o porto do Rio de Janeiro e as Minas Gerais e Goiás. Assim foi aberta a "Estrada do Comércio" que saía da vila de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu (hoje em Nova Iguaçu), cortava a atual Reserva Biológica Federal do Tinguá subindo as serras, passava pelo arraiais da Estiva (hoje município de Miguel Pereira, Arcádia e Vera Cruz[2] e chegava no porto de Ubá (atual Andrade Pinto, distrito de Vassouras), nas margens do rio Paraíba do Sul.[3]
Trajeto
[editar | editar código-fonte]O trajeto original, que ficou pronto em 1822, começava na vila de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu, subia a serra do Tinguá, e chegava até o porto de Ubá, atual distrito de Andrade Pinto, em Vassouras, nas margens do rio Paraíba do Sul,[4] de onde podia seguir-se para Minas Gerais e Goiás.[3] Em Piedade do Iguaçu, a estrada permitia a conexão com diversos portos no rio Iguaçu de onde as embarcações chegavam no porto do Rio de Janeiro. Outra opção, era seguir-se por estradas que passavam pela freguesia de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá e Inhaúma até chegar na cidade do Rio de Janeiro.
Relevância
[editar | editar código-fonte]A abertura da Estrada do Comércio influenciou o crescimento econômico da Baixada Fluminense e a criação da vila de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu, que depois mudou de lugar e nome para o atual município de Nova Iguaçu.
Com a expansão das lavouras de café no vale do rio Paraíba do Sul, a Estrada do Comércio tornou a principal via de escoamento desta região para o porto do Rio de Janeiro. A produção cafeeira expandiu-se também na serra do Tinguá e vale do rio Santana, utilizando a mesma rota de escoamento.
Reconstrução
[editar | editar código-fonte]A primeira seção da Estrada do Comércio foi praticamente reconstruída em 1842 pelo coronel do Imperial Corpo de Engenheiros Conrado Jacob de Niemeyer[3][nota 1] com a colocação de calçamento de pedras, retificação de trechos, construção de pontilhões e extensos muros de arrimo para contenção de encostas.[2] O coronel engenheiro Niemeyer mudou-se com a família para a serra do Tinguá, onde hoje está o distrito de Conrado, em Miguel Pereira.
Declínio
[editar | editar código-fonte]A decadência da Estrada do Comércio começou quando se inaugurou a Estrada de Ferro Dom Pedro II (atual Estrada de Ferro Central do Brasil), em 29 de março de 1858, ligando a Corte do Rio de Janeiro com Queimados e, anos depois, com Minas Gerais.[3] Depois houve a abertura da Estrada de Rodeio (atual Engenheiro Paulo de Frontin) a Paty do Alferes que proporcionou um caminho alternativo até a região cafeeira do vale do rio Paraíba do Sul.[3]
A Estrada do Comércio poderia ter continuado em uso com o tráfego local, mas problemas ecológicos causaram uma rápida decadência econômica da região. A má exploração agrícola causou a degradação dos solos, o assoreamento dos rios e o surgimento de zonas pantanosas infestadas de mosquitos. Surgiram várias endemias que causaram o despovoamento de parte da Baixada Fluminense e uma profunda decadência econõmia. No vale do rio Paraíba do Sul, a má exploração agrícola também esgotou rapidamente os solos de modo que a produção de café caiu rapidamente no final do século XIX. Com isto, a Estrada do Comércio ficou praticamente abandonada.
Notas
Referências
- ↑ Novaes, Adriano. «Os Caminhos antigos do Território Fluminense» (PDF). Consultado em 22 de março de 2016
- ↑ a b CORREIO DA LAVOURA. Reserva Biológica do Tinguá – o maior tesouro de Nova Iguaçu. Rio de Janeiro: Correio da Lavoura, 2001. parte 09. apud SOUZA, Joelma Cavalcante. Reserva Biológica do Tinguá, RJ - Discutindo o processo de co-gestão a partir de uma iniciativa local. Teste de Mestrado em Estudos Sociais e Pesquisas Populacionais, Produção e Análise de Informação Geográfica. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; ENCE - Escola Nacional de Ciências Estatísticas. 2003. p. 84. Visitado em 22 de março de 2016.
- ↑ a b c d e Jornal Caminhando - Informativo da Diocese de Nova Iguaçu, ano XVIII, no 142, julho/2002, pg. 14 apud MENEZES, Antônio Lacerda. Blog da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Tinguá. Visitado em 9 de novembro de 2008.
- ↑ Niemeyer, Conrado Jacob (1844). «Planta hydro-topographica da estrada do commercio entre os rios Iguassu e Parahiba [Cartográfico] : com todos os rios, ribeirões pricipaes, corregos, lagrimaes (sic) e torrentes que atravessão a dita estrada». Biblioteca Nacional Digital. Consultado em 22 de março de 2016