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Maria II de Portugal

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(Redirecionado de D. Maria II de Portugal)
Maria II
A Educadora, A Boa Mãe
Maria II de Portugal
Rainha de Portugal e Algarves
1.º Reinado 2 de maio de 1826
a 11 de julho de 1828
Antecessor(a) Pedro IV
Sucessor(a) Miguel I
Regentes Isabel Maria (1826–1828)
Miguel (1828)
2.º Reinado 26 de maio de 1834
a 15 de novembro de 1853
Predecessor(a) Miguel I
Sucessor(a) Pedro V
Princesa Imperial do Brasil
Período 12 de outubro de 1822
a 2 de dezembro de 1825
Predecessor(a) Título criado
Sucessor(a) Pedro de Alcântara
Período 7 de abril de 1831
a 30 de outubro de 1835
Predecessor(a) Pedro de Alcântara
Sucessor(a) Januária
Nascimento 4 de abril de 1819
  Palácio de São Cristóvão, Rio de Janeiro, Brasil
Morte 15 de novembro de 1853 (34 anos)
  Palácio das Necessidades, Lisboa, Portugal
Sepultado em Panteão da Dinastia de Bragança, Igreja de São Vicente de Fora, Lisboa
Nome completo  
Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga
Maridos Augusto de Beauharnais (1835–1835)
Fernando II de Portugal (1836–1853)
Descendência Pedro V de Portugal
Luís I de Portugal
Maria de Portugal
João, Duque de Beja
Maria Ana de Portugal
Antónia de Portugal
Fernando de Portugal
Augusto, Duque de Coimbra
Leopoldo de Portugal
Maria da Glória de Portugal
Eugénio de Portugal
Casa Bragança
Pai Pedro I & IV
Mãe Maria Leopoldina da Áustria
Religião Catolicismo
Assinatura Assinatura de Maria II
Brasão

Maria II (nome completo: Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga; Rio de Janeiro, 4 de abril de 1819Lisboa, 15 de novembro de 1853), cognominada "a Educadora" e "a Boa Mãe", foi Rainha de Portugal por duas vezes: primeiro de 1826 a 1828, quando foi deposta pelo seu tio D. Miguel, e depois, de 1834 até à sua morte, em 1853. Era a filha mais velha do rei Pedro IV (imperador Pedro I do Brasil) e da sua primeira esposa, a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria.

Dona Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga nasceu em 4 de abril de 1819 no Palácio de São Cristóvão, cidade do Rio de Janeiro, Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, sob o título de Princesa da Beira e posteriormente Princesa Imperial do Brasil. Era a filha mais velha do então príncipe real Pedro de Alcântara e da sua primeira esposa, a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria. Maria da Glória foi a única monarca da Europa a nascer fora de terras europeias, embora tenha nascido dentro de território português.

Início do reinado

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Documento da abdicação de Pedro IV de Portugal em 1826.

Pedro ascendeu ao trono português em março de 1826, como Pedro IV. A 29 de abril, outorgou aos portugueses uma constituição livre, a carta constitucional. Porém, rapidamente abdicou em favor da sua filha mais velha, que se tornou Rainha de Portugal e dos Algarves como Maria II, aos sete anos de idade, pois os brasileiros não aceitaram que o imperador cingisse a coroa portuguesa, o que resultaria na unidade da antiga monarquia, da qual se haviam libertado.

A abdicação era condicional: a princesa casaria com o seu tio paterno, o infante Miguel, e enquanto se não realizasse o consórcio, e o novo regime não dominasse em Portugal, continuaria a regência da infanta Isabel Maria em nome de Pedro IV.

Miguel residia em Viena, para onde fora mandado, por carta régia de 12 de maio de 1824, depois da revolta de 30 de abril ou Abrilada.

A 31 de julho de 1826 foi jurada a constituição em Portugal. Miguel, em Viena, também a jurou em 4 de outubro,[1] pronto a obedecer às vontades do irmão Pedro, e efetuou, por procuração, os seus esponsais com a sobrinha perante a corte de Viena, a 29 de outubro. Foi dispensado o impedimento de consanguinidade por breve do papa Leão XII, estando a rainha representada no acto, em virtude do alvará que para tal fim fora conferido em 28 de abril de 1826, pelo "barão de Vila Seca", enviado extraordinário e ministro plenipotenciário do Império do Brasil junto à corte do imperador Francisco I, como participado às cortes pela infanta regente.

Em vista do procedimento do infante Miguel no acto de jurar a carta constitucional, quando tempos depois, no meio da agitação dos partidos que se gladiavam, dos tumultos e das revoltas, Isabel Maria adoeceu, Pedro não hesitou em nomear, em nome da rainha Maria II, Miguel seu lugar-tenente e regente do reino, por decreto de 3 de setembro de 1827, resolvendo enviar a filha para Viena a completar a educação na corte do seu avô.

A rainha Maria II deixou o Rio de Janeiro rumo à Europa a 5 de julho de 1828, acompanhada por Felisberto Caldeira Brant, Marquês de Barbacena, que fora escolhido pelo próprio Pedro para a acompanhar.

Levantamento absolutista

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Maria II, 1829 por Thomas Lawrence, na Royal Collection

Miguel chegara a Lisboa em 22 de fevereiro de 1828.[1] A tomada de posse oficial da regência ocorreria quatro dias mais tarde.[1]

Em 13 de março de 1828, Miguel dissolveu as cortes, convocando a 3 de maio o conselho dos três Estados para que "por modo solene e legal, segundo os usos e estilos desta Monarquia, e na forma praticada em semelhantes ocasiões, reconheçam a aplicação de graves pontos do Direito português".[1] O conselho reuniu-se em 23 de junho e Miguel foi aclamado rei em 11 de julho.[1]

Começaram então as Guerras Liberais que se prolongam até 1834, ano em que Maria foi reposta no trono e Miguel exilado para a Alemanha.

O Marquês de Barbacena, chegando a Gibraltar com a princesa em 3 de setembro de 1828, teve conhecimento, por um emissário, do que se passava em Portugal e compreendeu que Miguel viera de Viena resolvido a encabeçar o movimento absolutista, aconselhado pelo príncipe Klemens Wenzel von Metternich, que dirigia a política europeia, sendo assim perigoso a jovem rainha seguir para Viena. Tomando a responsabilidade, mudou a direção da viagem, e partiu para Londres, onde chegou a 7 de outubro. A política inglesa nada favorecia os seus intuitos. O gabinete do Duque de Wellington patrocinava abertamente Miguel, de sorte que o asilo que o marquês procurara não era seguro. Maria II foi recebida na corte com as honras devidas à sua elevada hierarquia, mas os ingleses impediam os seus súbditos ali emigrados de irem reforçar a guarnição da ilha Terceira.

O golpe de Estado de Miguel não passara sem protestos. A 16 de maio de 1828 revoltava-se a guarnição do Porto e a 25 em Lagos um batalhão de infantaria. As revoltas foram sufocadas. Saldanha, Palmela, e outros, que tinham vindo para tomar a direção do movimento do Porto, reembarcaram no Belfast, que os trouxera; a guarnição do Porto, reforçada pelos voluntários académicos de Coimbra e por outras tropas liberais, emigrava para a Galiza e dali para Inglaterra.

Em janeiro de 1829, à frente duma pequena expedição liberal, tentou Saldanha desembarcar na Terceira, mas não lho consentiu a fragata britânica Ranger, cuja vigilância não pôde, contudo, evitar que a 22 de junho o Conde de Vila Flor, mais tarde duque da Terceira, conseguisse desembarcar.[2] A tempo, porque em agosto de 1829 aparecia na frente da ilha a grande esquadra miguelista que lançou em terra um corpo de desembarque. Deu-se então a batalha de 11 de agosto na vila da Praia, em que os miguelistas foram derrotados. Quando os emigrados na Inglaterra receberam a notícia da vitória, sentiram grande entusiasmo. Logo perderam as esperanças ao saber que a jovem rainha voltava para o Brasil. Na verdade, a situação de Maria II na corte inglesa, ao lado do ministério no poder, tornava-se embaraçosa e humilhante. A rainha saiu de Londres para se ir encontrar com a sua futura madrasta, Amélia de Leuchtenberg. Partiram juntas em 30 de agosto de 1829 para o Rio de Janeiro, chegando a 16 de outubro.

Julgava-se perdida a causa constitucional. Os emigrados dispersos (França, Inglaterra e Brasil) dividiam-se em fações rivais. Só a ilha Terceira reconhecia os princípios constitucionais, e mesmo ali apareciam guerrilhas miguelistas. França estava já disposta a reconhecer o governo de Miguel quando em 1830 rebentou em Paris a revolução de julho, o que fez animar os liberais portugueses.

A carta constitucional e a família real

Em 1831, Pedro I abdicou, a 7 de abril, da coroa imperial do Brasil em nome do seu filho Pedro II do Brasil, irmão de Maria II, e veio para a Europa com a filha e a segunda mulher, sustentar os direitos da filha à coroa de Portugal. Tomou o título de duque de Bragança, e de Regente em seu nome.

Quase ao mesmo tempo a regência da ilha Terceira, nomeada por Pedro e composta pelo marquês de Palmela, o conde de Vila Flor e José António Guerreiro, preparou uma expedição que em pouco tempo se apossou dos Açores. Enquanto se ampliava, assim, o território constitucional, Pedro desembarcava em França, sendo acolhido com simpatia pelo novo governo e por Luís Filipe I. O governo de Miguel desacatara as imunidades dos súbditos franceses e não satisfizera de pronto as reclamações do governo francês, que mandara uma esquadra comandada pelo almirante Roussin forçar a barra de Lisboa e impor humilhantes condições de paz.

Pedro deixou a filha em Paris para acabar a sua educação, entregue à madrasta, com bons mestres, e partiu para os Açores à frente duma expedição organizada em Belle-Isle, reunindo os seus partidários. Chegando aos Açores a 3 de março de 1832, formou novo ministério, juntou um pequeno exército, cujo comando entregou ao conde de Vila Flor, e dando o comando da esquadra ao almirante Sartorius,[3] partiu para Portugal continental, desembarcando a 8 de julho na Praia da Memória, em Matosinhos. Seguiu-se o cerco do Porto e uma série de combates, até que, a 24 de julho de 1833, o duque da Terceira entrou vitorioso em Lisboa, depois de ter ganho, na véspera, a batalha da Cova da Piedade. Porto e Lisboa, as principais cidades, estavam no poder dos liberais. Pedro veio para Lisboa, e mandou vir a sua filha de Paris.[4]

Proclamação da maioridade

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Documentos da proclamação da maioridade de Maria II.

Em 18 de setembro de 1834, o legislativo de Portugal, aprovou a maioridade de Maria II então proclamando a sua maioridade de modo que ela passou a reinar sem a figura do regente.[5]

Ceptro do dragão, feito para a aclamação da rainha Maria II, simbolizando a Coroa de Portugal, a carta constitucional, e um dragão emblemático da Casa de Bragança

Com dispensa papal, por procuração, em 29 de outubro de 1826 casou com o seu tio, o infante D. Miguel de Bragança (1802-66). Porém, esse casamento foi dissolvido ou declarado nulo em 1 de dezembro de 1834.

Casou em Munique, na Alemanha, por procuração, no dia 1 de Dezembro de 1834[6] e ao vivo, em pessoa, na cidade de Lisboa, em Portugal, a 26 de janeiro de 1835 com o príncipe Augusto de Beauharnais. Baptizado Augusto Carlos Eugénio Napoleão de Beauharnais, nasceu em Milão a 9 de dezembro de 1810 e faleceu a 28 de março de 1835, com doença de difteria, no Paço Real das Necessidades, em Lisboa. Segundo duque de Leuchtenberg, Príncipe de Eichstätt, feito príncipe de Portugal pelo casamento e 1.° duque de Santa Cruz no Brasil, feito em 5 de novembro de 1829 pelo seu sogro e cunhado Pedro I do Brasil. Era filho de Eugénio de Beauharnais e da princesa Augusta da Baviera, e irmão mais velho da imperatriz Amélia, madrasta de Maria II.

Havia necessidade de um segundo marido. Apareceram candidatos de França, Nápoles, Alemanha e Sardenha e foi escolhido o sobrinho do rei Leopoldo I dos belgas.

Em 1836 casou com o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Koháry, baptizado Fernando Augusto Francisco António de Saxe-Coburgo-Koháry, nascido em Viena em 29 de outubro de 1816 e falecido em Lisboa a 15 de dezembro de 1885, no Paço Real das Necessidades, estando sepultado no mosteiro de São Vicente de Fora. O contrato matrimonial foi assinado no fim de 1835. Meses depois, chegou o marido. Haviam casado em Coburgo por procuração em 1 de janeiro de 1836 e, em Lisboa, em pessoa, na Sé patriarcal em 9 de abril de 1836. O príncipe alemão passou a Rei Consorte de Portugal, como D. Fernando II, em 16 de setembro de 1837, após o nascimento de um filho varão. Regente do reino durante a menoridade do filho D. Pedro V e, depois da morte deste, até à chegada a Portugal do filho D. Luís I. Tiveram 11 filhos. Era filho do príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, e da sua esposa, a princesa Maria Antônia de Koháry. Viúvo, o rei D. Fernando II casaria de novo em 1869 com a sua companheira de longa data, a cantora Elise Hensler, feita condessa de Edla.

Após a revolução liberal, na sequência da reforma administrativa de 1836, a rainha Maria II entregou o foral de concelho ao Seixal, no dia 6 de novembro.

Foi no seu reinado, em 1853, que começou a circulação do selo em Portugal (com a sua cara) pago pelo remetente e não pelo destinatário, como era habitual antes da criação do selo. Foi por isso que as cartas antes da época da criação normalmente não eram recebidas pelo destinatário.

O Teatro Nacional Maria II, no Rossio (zona central de Lisboa), tem o seu nome por ter sido inaugurado no dia de aniversário da rainha.

D. Maria II engravidou 12 vezes e teve 11 partos, tudo isto em 16 anos, a uma média de filho por cada 17 meses. Desde a sua primeira gravidez, aos dezoito anos de idade, Maria II enfrentou problemas para dar à luz, com trabalhos de parto prolongados e extremamente difíceis. Exemplo disso foi a sua terceira gestação, cujo trabalho de parto durou 32 horas, findas as quais, foi retirada a fórceps uma menina, baptizada in articulo mortis com o nome de Maria (1840).[7]

Aos 25 anos de idade e na sua quinta gestação, a soberana tornou-se obesa e os seus partos tornaram-se ainda mais complicados. Em 1847 o sofrimento fetal que precedeu o nascimento do seu oitavo filho — o infante D. Augusto de Bragança — trouxe ao mundo uma criança "bastante arroxada e com pouca respiração".[8]

A perigosa rotina de gestações sucessivas, somada à obesidade (que terminou por causar-lhe problemas cardíacos) e à frequência de partos distócicos (preocupante, especialmente por tratar-se de uma multípara) levaram os médicos a alertarem a rainha sobre os sérios riscos que corria. Indiferente aos avisos, Dona Maria II limitava-se a retrucar: "Se morrer, morro no meu posto".

Maria II, 1849
Bandeira pessoal de D. João V e de D. Maria II

Em 15 de novembro de 1853, treze horas após o início do trabalho de parto do natimorto infante Dom Eugénio, o seu 11.º filho, Dona Maria II morreu, aos 34 anos de idade. O anúncio da morte foi publicado no Diário do Governo de 16 de novembro de 1853:

"Paço das Necessidades, 15 de Novembro de 1853, à meia hora depois do meio dia.
Sua Magestade a Rainha começou a sentir annuncios do parto às nove horas e meia da noite de hontem. Appareceram difficuldades no progresso do mesmo parto, as quaes obrigaram os facultativos a recorrer a operações, pelas quaes se conseguiu a extracção de um Infante, de tempo, que recebeu o baptismo antes de extrahido.
O resultado destas operações teve lugar às dez horas da manhã. Desgraçadamente, passada hora e meia, Sua Magestade, exhausta de todas as forças, rendeo a alma a Deos, depois de haver recebido todos os sacramentos.
- Francisco Elias Rodrigues da Silveira. Dr. Kessler. Ignacio António da Fonseca Benevides. António Joaquim Farto. Manuel Carlos Teixeira."

Em carta datada de 28 de novembro de 1853, a duquesa de Ficalho, camareira da rainha, relata o desenlace ao seu irmão, o 2.º conde do Lavradio:

"Às duas horas depois da meia-noite do dia 14 para 15, recebi ordem para ir para o Paço, onde cheguei perto das três. Achei já a Imperatriz no quarto da Rainha, para onde entrei logo, achando Sua Majestade incomodada e mesmo pouco fora do seu costume. Assim estivemos até às cinco horas, e então saímos do quarto imediato e perguntámos ao Teixeira[nota 1] o que achava, dizendo-nos: "Sua Majestade vai bem mas devagar". Eu não gostei; e assim se foi passando até às oito horas e meia. Então é que o Teixeira chamou os facultativos, que estavam fora e que não tinham visto a Rainha, e, logo que a examinaram, decidiu-se a horrível operação. Os facultativos eram o Teixeira, o Farto[nota 2] e o Kessler,[nota 3] e os médicos eram o Elias[nota 4] e o Benevides.[nota 5] O Kessler deu logo o caso por muito perigoso.
Maria II,
por William Charles Ross, 1852
Começou-se a operação. Eu subi para cima da cama. Do lado direito, a Imperatriz, toda debulhada em lágrimas; a Rainha com ânimo, sem ter um desmaio, mas com muito mau parecer e, queixando-se de que sofria bastante, disse com a sua voz natural: "Ó Teixeira? Se tenho perigo, diga-mo; não me engane".
A Imperatriz desceu da cama, e disse-me: "A Rainha deve-se confessar"; e foi logo dizê-lo a El-Rei, que respondeu: "Chamem o Patriarca". Ora a este tempo já o Farto tinha baptizado o menino. O Patriarca entrou, e a operação não estava de todo acabada, e tudo era horroroso, mas eram mais de dez horas. Acabou-se, e o Patriarca falou com a Rainha, que estava bem mal, e disse-lhe que fizesse com ele o acto de contrição para a absolver, mas, depois disto, pôde Sua Majestade confessar-se, sacramentar-se e ungir-se, e às onze horas e meia expirou.
Não faço reflexões, mas tenho o maior sentimento de que não viessem o José Lourenço e Magalhães Coutinho,[nota 6] que os foram buscar quando não havia remédio.
A Rainha dizia: "- Não é nada como das outras vezes". E Ela já tinha passado por uma operação. Não posso explicar a consternação de El-Rei Fernando e de todo o Paço.
Triste embalsamação, que se fez no dia 16, estando eu sempre, e durou a do Infante e a da Rainha sete horas. Acabada esta aflição, foi a de se vestir, o que era quase impossível, no estado da dissolução em que estava Sua Majestade, mas do modo possível se fez, levando as Ordens e manto Real, mas foi preciso fechar o caixão, porque não é possível pintar o estado de dissolução".[9]

Jaz no Panteão Real da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.

Títulos, estilos, e honrarias

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Escultura representando Maria da Glória, então Princesa do Brasil, com sua mãe e irmão mais novo, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro

Títulos e estilos

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  • 4 de abril de 1819 – 6 de março de 1821: Sua Alteza Real, a Princesa da Beira
  • 6 de março de 1821 – 4 de fevereiro de 1822: Sua Alteza, a Infanta Maria da Glória de Portugal
  • 4 de fevereiro de 1822 – 12 de outubro de 1822: Sua Alteza Real, a Princesa da Beira
  • 12 de outubro de 1822 – 2 de dezembro de 1825: Sua Alteza Imperial, a Princesa Imperial do Brasil
  • 2 de dezembro de 1825 – 2 de maio de 1826: Sua Alteza Imperial, a Princesa do Grão-Pará
  • 2 de maio de 1826 – 15 de novembro de 1853: Sua Majestade Fidelíssima, a Rainha

O estilo oficial de Maria como rainha era: Sua Majestade Fidelíssima, Maria II, pela Graça de Deus, Rainha de Portugal e Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhora da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Enquanto monarca de Portugal, Maria foi Grã-Mestre das seguintes Ordens:

Descendência

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De Fernando de Saxe-Coburgo-Koháry esteve grávida 12 vezes, sendo que deu à luz 11 vezes, mas só 7 dos seus filhos sobreviveram, e acabou por morrer no seu 11.º parto:

Nome Nascimento Morte Notas
Pedro V de Portugal 16 de setembro de 1837 11 de novembro de 1861 Sucedeu à sua mãe no trono; o seu pai foi regente até atingir a maioridade; casou-se com Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, porém ela morreu um ano após o casamento vítima de difteria. Pedro acabaria por falecer dois anos depois da sua esposa devido a febre tifoide.
Luís I de Portugal 31 de outubro de 1838 19 de outubro de 1889 Sucedeu ao seu irmão ao trono, casou-se com Maria Pia de Saboia com quem teve dois filhos.
Maria 4 de outubro de 1840 4 de outubro de 1840 natimorta
João, Duque de Beja 16 de março de 1842 27 de dezembro de 1861 De saúde frágil, o duque nunca se casou. Morreu aos dezanove anos de idade vitimado por uma doença infecto-contagiosa comum na época, a febre tifoide.
Maria Ana 21 de agosto de 1843 5 de fevereiro de 1884 Princesa da Saxónia pelo seu casamento com Jorge, Príncipe Hereditário da Saxónia, com descendência; morreu de esgotamento após cuidar do seu filho mais novo.
Antónia, Princesa de Hohenzollern-Sigmaringen 17 de fevereiro de 1845 27 de dezembro de 1913 Princesa de Hohenzollern-Sigmaringen pelo seu casamento com Leopoldo, Príncipe de Hohenzollern, com descendência, incluindo o rei Fernando I da Roménia.
Fernando 23 de julho de 1846 6 de novembro de 1861 Foi tenente do Batalhão de Caçadores n.º 5 tal como seus irmãos Pedro V e o infante João de Bragança. Faleceu de febre tifoide.
Augusto, Duque de Coimbra 4 de novembro de 1847 26 de setembro de 1889 O seu parto foi bastante complicado e sofreu de hipóxia neonatal. Seguiu carreira militar e faleceu solteiro e sem descendência.
Leopoldo 7 de maio de 1849[10] 7 de maio de 1849 natimorto
Maria da Glória 3 de fevereiro de 1851[10] 3 de fevereiro de 1851 natimorta
Eugénio 15 de novembro de 1853[10] 15 de novembro de 1853 natimorto

Notas

  1. Manuel Carlos Teixeira, professor da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e 1.º cirurgião privativo da Real Câmara (1856), sendo decano do Hospital Real de S. José – onde prestava serviço desde 1819. Faleceu em Março de 1877
  2. António Joaquim Farto era cirurgião do Hospital Real de S. José (1797), cirurgião equiparado com as honras de cirurgião-mor do Reino (1827), fidalgo da Casa Real (1827), diretor da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1830) e 1.º cirurgião da Real Câmara (1837). Faleceu em Outubro de 1856
  3. Dr. Friedrich Kessler (1804-1872), alemão de nascimento e doutor em Medicina, veio para Portugal como médico pessoal do rei Fernando, tornando-se sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa e 1.º Barão de Kessler (1855).
  4. Dr. Francisco Elias Rodrigues da Silveira (1778-1864), bacharel formado em Filosofia e licenciado em Medicina, membro do Conselho de Sua Majestade, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1.º médico da Real Câmara, publicista e por fim 1.º Barão da Silveira (1855).
  5. Dr. Inácio António da Fonseca Benevides (1788-1857), sendo bacharel formado em Medicina (1813), foi diretor da Academia Real das Ciências de Lisboa (1817), médico privativo da Real Câmara (1827), físico-mor da Armada Real (1832), presidente do Conselho de Saúde Naval, conselheiro do Conselho de Sua Majestade (1853) e publicista de temas científicos.
  6. José Eduardo Magalhães Coutinho (1815-1895), reputado médico formado pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa (1836), foi cirurgião militar (1837), professor de Obstetrícia (1850), deputado da Nação (1853), cirurgião do Hospital de S. José (1856) e diretor da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, sendo o primeiro médico português a anestesiar uma paciente com o uso de clorofórmio nos partos (1857). Devido ao saber e competência o seu nome foi dado à primeira maternidade criada em Portugal.

Referências

  1. a b c d e Fernandes, Paulo Jorge (2023). «A reunião dos «três estados» em 1828» (PDF). Universidade Nova de Lisboa 
  2. «Enciclopédia Açoriana». Cultura - Governo dos Açores. Consultado em 29 de junho de 2024 
  3. «Terceira (António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha, 7.º conde e 1.º marquês de Vila Flor, e 1.º duque da).». Portugal - Dicionário Histórico 
  4. .: Louis Miard, «Le passage en Bretagne de la Reine Marie II du Portugal : juillet 1831» in La Bretagne, le Portugal, le Brésil: échanges et rapports, vol. 1, pp. 227-238. Université de Haute Bretagne, Rennes. 1973.
  5. Costa, Sérgio Corrêa da. As quatro coroas de D. Pedro I. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, p.311
  6. «Resenha das famílias titulares do reino». Books.google.pt 
  7. Sacadura, Sebastião Costa. "O Parto Mortal de Maria II", in "Imprensa Médica", n.º 11, Lisboa, 1940
  8. "Diário do Governo, de 4 de Novembro de 1847".
  9. «"Memórias do Conde do Lavradio – Francisco de Almeida Portugal"». O Portal da História 
  10. a b c Amaral, Manuel (2010). «Reis, Rainhas e Presidentes de Portugal. D. Maria II». Consultado em 8 de agosto de 2020 

Ligações externas

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