Gentrificação: diferenças entre revisões
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Revisão das 09h56min de 25 de outubro de 2007
Chama-se gentrificação (ou enobrecimento, de acordo com algumas traduções) um conjunto de processos de transformação do espaço urbano, altamente criticados por estudiosos do urbanismo e de planejamento urbano devido ao seu comum caráter excludente e privatizador. A expressão da língua inglesa gentrification foi usada pela primeira vez pela socióloga britânica Ruth Glass, em 1964, ao analisar as transformações imobiliárias em determinados distritos londrinos. Entretanto, é no ensaio The new urban frontiers: gentrification and the revanchist city, do geógrafo britânico Neil Smith, que o processo é analisado em profundidade e consolidado como fenômeno social presente nas cidades contemporâneas. Smith identificou os vários processos de gentrificação em curso nas décadas de 1980 e 1990 e tentou sistematizá-los, especialmente os ocorridos em Nova Iorque (com destaque para a gentrificação ocorrida nos bairros do Soho e do Harlem, naquela cidade).
Normalmente os processos de gentrificação identificam casos de recuperação do valor imobiliário de regiões centrais de grandes cidades que passaram as últimas décadas por um período de degradação, durante o qual a população que vivia nestes locais era, em geral, pertencente às camadas sociais de menor poder aquisitivo. Através de uma estratégia do mercado imobiliário, normalmente aliado a uma política pública de suposta "revitalização" dos centros urbanos, procura-se recuperar o caráter outrora glamouroso da região em questão, de forma a sutilmente expulsar a população original e atrair residentes de mais alta renda.
Foi adotada a expressão em inglês gentrification devido ao caráter "enobrecedor" que tais estratégias imobiliárias procuram associar às suas regiões-alvo (a raiz "gent" pode ser grosseiramente traduzida como "nobreza"). Em português, alguns textos chegam a traduzir o processo, de fato, através da expressão "enobrecimento", embora seja mais comum utilizar-se do aportuguesamento "gentrificação". Eventualmente o processo também é chamado de higienização social ou de limpeza social, especificamente, devido à violência com que tradicionalmente tais ações são realizadas.
No Brasil
Apesar de não se constituir propriamente de um país com uma estrutura urbana similar à do mundo anglo-saxão, no qual se desenvolveram de forma mais aprofundada os estudos sobre a gentrificação, o Brasil ainda assim apresenta casos de mudança de perfis de renda em espaços urbanos que se remetem aos processos tradicionais de gentrificação. Acadêmicos diversos estudaram fenômenos desse tipo em várias cidades brasileiras, especialmente nas capitais, e têm atribuído a eles o status de "gentrificação", ainda que com características diferentes daquelas verificadas no mundo anglófono. Entre os vários estudos, destacam-se aqueles relacionados ao bairro do Pelourinho[1], em Salvador, e às acusações[2] de gentrificação que tem ocorrido na cidade de São Paulo durante as gestões dos prefeitos José Serra e Gilberto Kassab[3] e na atuação do subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, que já chegou a ser comparado por movimentos de esquerda (de oposição ao governo municipal) a Adolf Hitler pela sua atuação no centro de São Paulo[4][5].
Referências
- ↑ NOBRE, Eduardo; Intervenções urbanas em Salvador: turismo e "gentrificação" no processo de renovação urbana do Pelourinho, artigo publicado nos anais do X Encontro Nacional da Anpur, 2003
- ↑ Para mais detalhes, conferir o artigo Gentrificação na cidade de São Paulo
- ↑ Repórter Brasil - Dossiê aponta ‘limpeza social’ dos sem-teto em São Paulo
- ↑ Centro de Mídia Independente Brasil; Serra constrói rampas antimoradores/as de rua
- ↑ E-agora
Artigos relacionados
Páginas externas
- pbs.org - What is gentrification - em inglês
- LiP Magazine - Shame of the cities: Gentrification in the new urban America - em inglês
Bibliográficas
- SMITH, Neil; The New Urban Frontier; Gentrification and the Revanchist City; Nova Iorque: Routledge, 1996
- ZUKIN, Sharon “Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder” in ARANTES, Antônio (org.); O Espaço da diferença; São Paulo: Papirus Editora, pp 81-102