Argumentação e Filosofia

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Argumentação e Filosofia

Da emergência de um novo modelo de


racionalidade (a razoabilidade como
categoria filosó fica)
Argumentação e filosofia

Antiga grécia

• Cidades estado
• Atenas: cidade democrá tica
• Todo o homem livre tem direito e dever de participar nos
desígnios da comunidade
• A discussã o aberta e pú blica assume-se como palco das
decisõ es estatais e pú blicas
• Surge a necessidade/exigência de cada homem ser capaz,
• de exprimir e fazer-se entender quanto á s sua razõ es
• de ser capaz de persuadir ou outros a aderirem á s mesmas
• Desenvolve-se um clima no qual a discussã o assume cará cter
decisivo na determinaçã o da politicas e como tal assume
também papel relevante na conduçã o da vida individual
Sofistas
• Grupo de pensadores/filó sofos que privilegiam o ensino da arte
retó rica como meio de imposiçã o de cada homem no panorama
pú blico
• Defendem que “o homem é a medida de todas as coisas” (Protá goras
de Abdera)
• A verdade nã o é universal nem perene mas temporal e individual
• Cada homem encerra em si mesmo uma verdade pró pria e portanto
deve ser capaz de a impor publicamente
• Consequências deste tipo de posiçõ es
• Desvalorizaçã o dos filó sofos e da filosofia (porque esta procura
uma verdade imutável, universal e intemporal)
• Relativizaçã o da verdade (nã o há uma verdade mas tantas quantas
o homem desejar e for capaz de impor aos outros através da sua
palavra)
• Só crates (e Platã o)
• Condenam o ensino sofístico e as suas teses de base
• Afirmam a existência de uma verdade absoluta, imutável, universal e
perene
• Na realidade existe uma verdade das coisas e essa nã o depende deste
ou daquele homem mas sim da capacidade do homem de a poder
descobrir
• Nã o basta estar convencido de que se está na posse da verdade para
sofística
estar de facto na posse da verdade à
• Nã o basta falar bem, com aparência de verdade para se concluir que o
dito é verdadeiro
Reacçõ es
• Criticam os sofístas de se dedicarem a explorar e evidenciar a
aparência, contentando-se com isso, e inclusive tomarem isso como
verdade, em vez de procurarem, efectivamente, a verdade
• Consideram que os sofistas instrumentalizam o discurso
• Para retirarem proveito pró prio
• Em funçã o da conveniência ( a verdade seria assim o que fosse mais
conveniente, e nã o o legítimo verdadeiro)
• Una

A
• Universal
• Perene
verdade • Imú tavel
• Para Só crates deve ser

• Universal
• Perene

O ser • Imutável
• Uno
• Para só crates é

A verdade nã o é mais do que o


conhecimento do ser (sobre o ser), logo deve
possuir as mesmas características que este

Para Só crates há uma correspondência entre o ser e a
verdade
 O ser sã o as ideias que o homem possui. Esse é o conhecimento
verdadeiro
 A realidade, a do mundo sensível , é apenas um conjunto de
aparências, que os sofistas, por exemplo, tomam como a ú nica
realidade existente
 Falando de aparências o discurso reflecte relativismo,
circunstancialismo e mutabilidade pois o mundo aparente é assim
mesmo
 Por isso é que, na sua opiniã o, esse mundo nã o é o verdadeiro mundo,
sendo que este se encontra “escondido” sob o véu das aparências
 O verdadeiro mundo, o “mundo das ideias” esse sim é imutável, uno,
universal e intemporal e assim deverá ser o conhecimento que o
homem deve procurar sob ele, ou seja , a verdade.

Quando se fala de bondade nã o se está a falar de acto bom
ou coisa boa, mas de um conceito, uma “ideia”
 Podem existir inú meras aparências de bondade, mas
bondade só existe uma
 Igual para todos os homens
 Igual para todos os tempos ou épocas
 O homem que nunca contemplou a verdade, o mundo da
ideias, é levado a crer que o real é a aparência, pois nunca,
mais do isto, ele contemplou

Os sofistas, para ele, nunca contemplaram o verdadeiro
mundo e por isso, julgam e fazem julgar, que a aparência é
a realidade, quando de facto nã o o é de todo

No mundo da aparência há lugar para o relativismo porque
a cada homem é dado “perceber” as coisas e uma forma
diferente
 Porém, no mundo das ideias, a realidade, a ideia, é igual
para todos os homens

Os sentidos, primeira e mais bá sica forma de percepçã o da
realidade fornecem a ilusã o do conhecimento (e
consequentemente do ser e da verdade)
 Um mesmo fenó meno é percepcionado de formas diferentes por
diferentes sujeitos, mas a verdade do acontecimento é só uma
independentemente das diversas percepçõ es
 Dai que seja necessá rio recorrer á RAZÃ O pois somente ela
apresenta e representa o conhecimento do universal e do imutável

O apelo socrá tico e plató nico
 Põ e a tó nica na racionalidade e na razã o enquanto meio para
desvelar a verdade do ser
 É pela razã o, e nã o pela sensibilidade ou crença que o homem se
torna capaz de atingir o ser, desvelar a sua verdade
 Ora a razã o nã o deixa lugar para arbitrariedades nem para
relativismos
 Porque ela é igual em todo os homens
 Porque trabalha com ideias universais
 Porque os seus conceitos sã o necessá rios
 A razã o é a faculdade que permite ao homem dominar e praticar a
matemá tica por exemplo, e esta apresenta-se como universal e necessá ria,
como domínio do nã o arbitrário ou relativo
 Independentemente de um homem, por qualquer razã o julgar, crer, ou
estar certo de que a soma de 2 com 3 resulta em 4, nã o altera a realidade
de que a soma de 2 com 3 sã o sempre e em qualquer circunstâ ncia 5

Só crates e Platã o inauguram o domínio do racionalismo e
idealismo na filosofia
 A partir deles a razã o é soberana no conhecimento e acçã o
da humanidade

Muitas foram as crenças e erros delatados e corrigidos
devido a esta postura

Por outro lado muitos foram os erros cometidos também
em nome de uma razã o sublime que apesar de rigorosa
despreza tudo o que seja alheio ao seu domínio afastando
da verdade e da “realidade” muito daquilo que de facto
acontece e influencia e presença do homem no mundo e o
conhecimento que este tem do mesmo

A doutrina socrá tica e plató nica das ideias serviu de base á
adaptaçã o do cristianismo ao esquema operacional do homem
perante o mundo e perante si mesmo.

A existência de uma mundo real , o mundo das ideias, para
alem do mundo visível, encaixou sublimemente na doutrina
cristã “do outro mundo” o mundo divino

A razã o humana, capacidade de entender e reflectir a verdade
encaixou perfeitamente na ideia de que o homem é filho de
deus e em certa medida participa da sua natureza
 A alma subsiste ao corpo
 A alma (razã o) é a parte nã o mundana que contemplou o mundo
verdadeiro, mas que está entrevada desde a encarnaçã o
 O corpo é a prisã o da alma e o que a impede de conhecer a verdade
(assim também os sentidos nã o reflectem a verdade das coisas na sua
percepçã o do mundo

O racionalismo e idealismo chegam ao auge no século XVI
com o pensamento cartesiano, e as suas consequêcias
foram por exemplo, a física newtoniana, a matemá tica de
Leibniz
 A suas consequências , o aprofundamento deste paradigma
desemboca, no seu final na sua mais fabulosa criaçã o, a
relatividade de Einstein, a incerteza de Heisenberg, a
geometria nã o euclidiana de Riemam e Lovatchevski, etc

Curiosamente, as criaçõ es mais extremosa do paradigma
racionalista sã o , ao mesmo tempo, a prova, de que ele
estava errado, ou senã o, pelo menos que é insuficiente para
espelhar a realidade, ou seja o ser, e consequentemente,
revelar a verdade

As categorias da modernidade e do racionalismo profundo
 Certeza
 Univocidade
 Universalidade
 Racionalidade
 Sã o substituídas pelas da
 Incerteza
 Pluralismo
 Relatividade
 Razoabilidade


Daí a emergência de uma nova retó rica, uma nova
utilizaçã o do paradigma discursivo e persuasivo, visto que,
na investigaçã o de ponta, a plausibilidade, a probabilidade
sã o indicadores de verdade muito mais do que a pró pria
verdade e a certeza
 Segundo as teoria actuais, e mesmo a prá tica cientifica,
uma teoria científica só o é de facto se se apresentar sem
pretensõ es de absolutismo

Aliá s, qualquer teoria eu se apresente como absoluta é
imediatamente rejeitada

O crité rio primeiro para admissã o de uma teoria é a sua
falseabilidade ou seja, a possibilidade intrínseca de ser
falseada (Karl Popper)

O paradigma científico deixou de ser absoluto e imutável
para ser flexível e susceptível de alteraçõ es (revoluçõ es
científicas parciais)
 A fisica newtoniana continua a ser vá lida apesar de
contradita em muitos aspectos pela física da relatividade

O que acontece é que ela é incapaz de dar respostas a
inú meras possibilidades teó ricas suscitadas pelas
investigaçõ es, logo nã o é universal.

O discurso, retoma assim o lugar que perdeu durante 20
séculos, se bem que nã o com a pretensã o nem a natureza
da retó rica sofística

Em todo o caso
 Cada vez mais é importante o discurso como casa da verdade e do
ser(M. Heidegger)
 É na e pela palavra que se consubstancia o ser e o conhecimento
 As ideias e doutrinas sã o defendidas mais através da argumentaçã o
do que propriamente da demonstraçã o
 Para demonstrar é necessá rio possuir um ponto de apoio inabalável
que sirva de referência, donde derivem dedutivamente todos as
consequências
 Ora, cientificamente esse ponto inabalável, absoluto, deixou de existir
 Daí que a argumentaçã o se imponha cada vez mais como estratégia de
defesa e prova de uma qualquer teoria ou atitude
 Mais do que convencer pela razã o, porque há uma verdade que
justifica tudo, que serve de fundamento a estratégia é a de convencer
pela razoabilidade, porque parece mais ou menos razoável pensar ou
agir desta ou daquela maneira

Porem nã o quer isto dizer que tudo é relativo e que cada
homem tem a sua verdade ou tem verdade sempre em tudo
o que pensa ou diz
 É claro que existem verdades assumidas e consensuais, a
questã o é que com as descobertas que se têm efectuado
fomos perdendo aqueles pontos de referência que serviam
para justificar tudo e mais alguma coisa

Por muito convicentes que sejamos nã o é com um discurso
de ocasiã o que alteramos uma lei científica

Mas é cada vez mais usual fazerem-se descobertas que até
há bem pouco tempo nem sequer eram admitidas á
investigaçã o por nã o se adequarem ao paradigma
estabelecido

Concluindo
 Nã o vivemos num relativismo extremo
 Mas também já nã o temos referencias absolutas e necessá rias para
fundamentar o nosso conhecimento

Portanto
 Se até há bem pouco tempo a argumentaçã o era relegada para
segundo plano e a demonstraçã o se assumia como ú nica prova de
valor para instituir uma verdade
 Neste momento a argumentaçã o, mais do que a demonstraçã o
assume-se com meio mais eficaz e correcto de instituir uma
investigaçã o ou um resultado de uma investigaçã o

A retó rica renasce como instrumento fundamental para o
alargamento das possibilidades de investigaçã o e de
revelaçã o do mundo, do ser e da verdade

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