PLANO DE ORDENAMENTO DA ALBUFEIRA DE

FOZ TUA
(POAFT)

Reflexo Crtica
por

Paulo Rodrigues
14 de Novembro de 2015

Conceitos Chave:
ADV: Alto Douro Vinhateiro
AHFT: O Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua
APA: Agncia Portuguesa do Ambiente
ADRVT: A Agncia de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua
INAG: Instituto da gua, I.P.
NPA: Nvel pleno de armazenamento (170/180/195 m)
POAAP: Planos de Ordenamento das Albufeira de guas Pblicas, tambm designados comummente
como Planos de Ordenamento das Albufeiras (POA)
POAFT: Plano de Ordenamento da Foz do Tua
RECAPE: Relatrio de Conformidade Ambiental do Projeto de Execuo

Metodologia:
Dentro de uma metodologia de pesquisa qualitativa foram consultadas fontes institucionais e no
institucionais, principalmente, atravs de fontes online e literrias.
Essa consulta foi realizada no mbito do enquadramento legal e do impacte econmico-social-ambiental
do POAFT.

Enquadramento Geogrfico
A Barragem do Tua, destinada ao aproveitamento hidroeltrico do rio Tua. Situa-se no rio Tua, afluente da
margem direita do rio Douro, a cerca de 1,1 km da confluncia destes dois rios. O vale do rio Tua, a 100m do nvel
do mar, ladeado por escarpas que chegam aos 676m. O Rio Tua resulta da juno dos rios Tuela e Rabaal.
A barragem est situada no concelho de Alij - distrito de Vila Real (encontro da margem direita) e no concelho de
Carrazeda de Ansies - Distrito de Bragana (encontro da margem esquerda). A sua albufeira abranger ainda os
concelhos de Mura, Vila Flor e Mirandela. Em fevereiro, dia 18, o Primeiro-Ministro Jos Scrates lana a
primeira pedra da barragem, em Alij.

Fig. 1 Enquadramento dos concelhos em Estudo, Fonte: Cedru et al., 2006

Fig. 2 Localizao da bacia hidrogrfica do Tua, Fonte: CAOP 2015 e Atlas do Ambiente,
Elaborado por: Paulo Rodrigues

Fig. 3 rea do POAFT, 2013

Fig. 4 Planta de Condicionantes, Nemus, 2013

Fig. 5 Planta de Ordenamento, Nemus, 2013

Esta foto uma anteviso da Barragem do Tua (previso de entrada em servio: 2016)

Fig. 6

Linha Ferroviria do Tua

A linha do Tua a Mirandela (54km) foi inaugurada em 1887. A linha foi posteriormente prolongada
at Bragana em 1906, onde se insere a Estao de Rossas, que a estao de maior altitude
em Portugal (850 m.), superando a da Guarda. A estao de Rossas no v passar comboios
desde 1992.
O panorama, especialmente nas duas primeiras dezenas de quilmetros, de uma beleza nica
(). No admira, por isso, que seja vulgar encontrar estrangeiros a percorrer esta linha, para
admirarem, filmarem e fotografarem a margem direita e o vale do Tua, vistos do comboio
in O Caminho de Ferro na regio do Douro e o Turismo, Tiago A. M. Ferreira, 1999

Em 1995, estavam a ser planeadas viagens tursticas nesta linha, no mbito de um programa de
turismo ferrovirio nas redes do Douro e Minho, por parte dos Caminhos de Ferro Portugueses.
A operao de encerramento definitivo do troo de
Mirandela a Bragana ocorreu durante a noite
(conhecida pela Noite do Roubo), sem aviso
prvio, e simultaneamente em Bragana e
Macedo de Cavaleiros. Foi registada a presena
de foras policiais, tanto para evitar ao mximo o
registo de imagens, como para afastar a
populao.

Que impactes poder o projeto provocar?

Fig. 7. Uso dos solos e infraestruturas na fase de construo. Fonte: Estudo do Impacte Ambiental (EIA) do AHFT
de 2008

Fauna e Flora do Rio Tua

Fonte: Gil Moura e Paulo Rodrigues

POAAP/POA
Objetivos: Os Planos de Ordenamento das Albufeira de guas Pblicas (POAAP), tambm
designados comummente como Planos de Ordenamento das Albufeiras (POA), so planos
especiais de ordenamento do territrio que consagram as medidas adequadas proteo e
valorizao dos recursos hdricos na rea a que se aplicam de modo a assegurar a sua
utilizao sustentvel, vinculando a administrao pblica e os particulares.
A elaborao dos POAAP, est cometida APA (Agncia Portuguesa do Ambiente), enquanto
autoridade nacional da gua.

Classificao Situao dos POAAP

Elementos

Reg. Hidrogrfica

Protegida

POAFT

Douro

Em fase de elaborao Despacho n.

8097/2011, D.R. n. 110, Srie II de 7
de junho

Os POAAP identificam e estabelecem,

nomeadamente
a
delimitao
da
albufeira e os valores naturais, culturais e
paisagsticos a preservar, entre outros...

O POAFT um plano especial de ordenamento do territrio supra-local, tendo o seguinte enquadramento

legal:

Decreto-Lei n. 107/2009 de 15 de maio (com as alteraes do Decreto-Lei n. 26/2010, de 30 de maro),

que estabelece o regime jurdico de proteo das albufeiras de guas pblicas de servio pblico
(abastecimento pblico, a rega ou a produo de energia):
A construo da barragem de Foz Tua dar origem a uma albufeira de guas pblicas de servio pblico
classificada atravs da Portaria n. 91/2010, de 11 de fevereiro, como albufeira protegida, uma vez que se
prev que possa vir a ser utilizada para o abastecimento pblico. Refira -se, ainda, que na elaborao do
presente decreto-lei foi acautelada a sua compatibilizao com o regime jurdico da reserva ecolgica
nacional (REN).

Decreto-Lei n. 380/99 de 22 de setembro (com a redao dada pelo Decreto-Lei n. 46/2009 de 20 de

fevereiro, no qual republicado), que define o regime aplicvel aos instrumentos de gesto territorial,
nomeadamente aos Planos Especiais de Ordenamento do Territrio, nos quais se incluem os planos
de ordenamento das albufeiras.
O Despacho n. 8097/2011, publicado no Dirio da Repblica, 2. srie, n. 110, de 7 de junho, veio determinar a
elaborao do Plano de Ordenamento da Albufeira de Foz Tua.
Neste Despacho a Secretria de Estado do Ordenamento do Territrio e das Cidades, Fernanda Julio
estabeleceu que o mbito territorial do POAFT compreende o plano de gua e a zona terrestre de proteo,
com uma largura mxima de 1000 m contados a partir da linha do nvel de pleno armazenamento da
albufeira, a definir pelo plano, abrangendo os concelhos de Alij, Mura, Mirandela, Carrazeda de Ansies e
Vila Flor.

POAFT
Para efeitos de elaborao do Plano de Ordenamento da Albufeira de Foz Tua (POAFT), foi estabelecido
um protocolo de colaborao entre o Instituto da gua, I.P e a EDP Gesto da Produo de Energia,
S.A. (Protocolo n. 5/2011, de 14 de abril, 2 Srie do Dirio da Repblica), que define a forma e as
condies em que ser elaborado o POAFT.
Neste contexto, foi determinado que a EDP executar, nos termos do quadro das medidas de compensao
previstas na Declarao de Impacte Ambiental do Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua, as tarefas
necessrias elaborao dos estudos indispensveis elaborao da proposta do POAFT.

Realizao do POAFT
EDP subcontratou a empresa Nemus
A curiosidade esta empresa ser constituda maioritariamente por Eng. Do Ambiente, Gelogos e
Bilogos e esteve igualmente envolvida no Alqueva.
Acompanhamento
O POAFT ser seguido por uma Comisso de Acompanhamento representada pelas seguintes
entidades:
Administrao da Regio Hidrogrfica do Norte, I. P.; Instituto da gua, I. P.; Autoridade Florestal
Nacional; Instituto da Conservao da Natureza e da Biodiversidade, I.P.; CCDRN; Direo
Regional de Agricultura e Pescas do Norte; Turismo de Portugal, I.P.; Direo Regional de
Cultura do Norte; Instituto de Gesto do Patrimnio Arquitetnico e Arqueolgico, I.P.;
E Municpios afetados...

A ADRVT
A Agncia de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua (Agncia), constituda em abril de 2011, integra atualmente os
municpios de Alij, Carrazeda de Ansies, Mirandela, Mura, Vila Flor e a EDP.
A agncia uma associao sem fins lucrativos e com caractersticas de utilidade pblica, ir promover, ao longo dos prximos
anos, um conjunto de iniciativas capazes de valorizar os recursos endgenos e de aproveitar as oportunidades criadas pelo
Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua (AHFT).
A agncia tem como fonte de financiamento a dotao por parte da EDP de um fundo prprio destinado a assegurar o seu
funcionamento.
Paralelamente, a agncia assinou um Protocolo com o Instituto de Conservao da Natureza e das Florestas (ICNF) com vista a
assegurar que cerca de trs quartos dos contributos financeiros da EDP para o Fundo da Conservao da Natureza, efetuados
no mbito do AHFT, sejam canalizados para a regio.
A agncia congrega os esforos das comunidades da regio e da EDP em torno da concretizao de um conjunto de
contrapartidas financeiras, que visam: Emprego e Empreendedorismo, Mobilidade, Ncleo Museolgico, Parque Natural,
Recuperao do Patrimnio, Outros Projetos.
Curiosidade: O atual Presidente da ADRVT para o ano de 2014 o Eng. Antnio Pires Almor Branco, presidente da Cmara
Municipal de Mirandela.

PLANO DE MOBILIDADE
Os autarcas do Tua aceitam a proposta da EDP para a criao de um sistema multimodal de mobilidade. A explorao ser
entregue Agncia de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, a ser constituda pelas autarquias do Tua e outras
entidades. A soluo para o segmento turstico contempla um percurso multimodal ao longo do vale do Tua
Desenvolvimento, implementao e explorao de um sistema de mobilidade complementar linha do Tua, considerando
duas ofertas distintas: quotidiano e turstico. O segmento turstico representar uma soluo de transporte integrada com
funicular, barco e comboio desde Foz Tua at Mirandela.

Fig. 8. Futuro Plano de mobilidade para a linha doTua, Fonte: http://www.valetua.pt/desenvolvimentoregional/plano-de-mobilidade/

BARRAGEM DE FOZ TUA CRONOLOGIA

2007
O Plano Nacional de Barragens alvo de consulta pblica, tendo sido feitas algumas recomendaes para o
Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua (AHFT).
2008
Em abril de 2008, a EDP, entregou ao Instituto da gua, I.P. (INAG), o Estudo Prvio e respetivo Estudo de Impacte
Ambiental (EIA), que os apresentou Agncia Portuguesa do Ambiente (APA), iniciando-se assim o processo de
Avaliao de Impacte Ambiental (AIA) do AHFT.
2009
A Declarao de Impacte Ambiental (DIA) do AHFT foi emitida em maio de 2009 pelo Ministrio do Ambiente e do
Ordenamento do Territrio, tendo o respetivo parecer sido favorvel condicionado ao Nvel de Pleno Armazenamento
cota 170 e implementao das condicionantes e medidas constantes nessa mesma DIA.
2010
Em agosto de 2010 a Comisso de Avaliao (CA) emitiu o seu parecer relativamente ao RECAPE, tendo a EDP em
novembro de 2010 efetuado um aditamento (acrscimo) ao RECAPE de modo a dar resposta aos aspetos referidos no
douto parecer da Comisso de Avaliao.
() tendo a CA constatado que embora o presente Projeto contempla, no geral, as condicionantes, as medidas de minimizao e os
planos de recuperao paisagstica e monitorizao, referidos na DIA, considera-se que o Projeto de Execuo do Aproveitamento
Hidroeltrico de Foz Tua no d cumprimento integral DIA, pelo que os aspetos mencionados no presente parecer devero ser
esclarecidos e justificados. in Parecer da Comisso da Avaliao do RECAPE, pp. 80.

2011
Em janeiro, a Comisso de Avaliao concluiu que o aditamento ao RECAPE apresentado pela EDP
estava em condies de ser aprovado e foi celebrado entre o Estado Portugus e a EDP o Contrato
de Concesso referente ao AHFT.
2012
A misso da UNESCO que esteve em territrio do Alto Douro Vinhateiro para reavaliao do
impacto da construo do Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua no Patrimnio da
Humanidade concluiu que o aproveitamento tem um impacto reduzido no valor, integridade e
autenticidade do patrimnio.
Contradio com afirmao anterior de 2011: O Comit do Patrimnio Mundial da UNESCO considera
que a construo da barragem de Foz Tua tem um impacto irreversvel e ameaa os valores que
esto na base da classificao do Alto Douro Vinhateiro como Patrimnio Mundial
PORQUE QUE O APROVEITAMENTO HIDROELTRICO DO FOZ TUA FOI CONTESTADO
JUNTO DA UNESCO?
A Quercus formalizou uma queixa junto da UNESCO contra a construo do AHFT alegando os
impactos negativos sobre a paisagem do Alto Douro Vinhateiro (ADV), classificado como Patrimnio
da Humanidade.
Apesar de fazer parte do plano nacional de energia de 1989 e do plano da bacia hidrogrfica do Douro
de 1999, o projeto desta barragem no foi mencionado no processo de candidatura do Bem a
Patrimnio da Humanidade. O Estado Portugus apenas notificou a UNESCO aps solicitao em
2010.

ISTO SIGNIFICA QUE O PROJETO EST APROVADO PELA UNESCO?

A deciso final s foi tomada na 37 Sesso do Comit do Patrimnio Mundial, em 2013, no

Cambodja.
O Comit do Patrimnio Mundial no s se dispensou de discutir a proposta, como nem sequer a
aprovou individualmente. O texto foi avaliado em conjunto com outras propostas de deciso,
procedimento habitual para poupar tempo quando j h consensos prvios e no se esperam
objees.
Gaspar Martins Pereira, ex-diretor do Museu do Douro e membro da equipa que preparou a
candidatura da regio a patrimnio mundial, v nesta deciso "mais uma agresso ao Douro" e
diz no conseguir perceber a posio da UNESCO.
in Pblico 20/06/2013

Concluses
1. Talk the talk ... walk the walk. A barragem est quase na fase final de construo mas o plano de
ordenamento ainda se encontra em elaborao.
Embora o POAFT, que muito diz relativamente preservao dos recursos hdricos e s finalidades
principais que estiveram na gnese da construo das respetivas barragens, esteja ligado pela
legislao REN, a fauna e a flora das albufeiras abrangidas pelo plano podem ver os seus valores
comprometidos.
A legislao ambiental do Plano no evitou que as negociaes polticas se se sobrepusessem aos
argumentos tcnicos e cientficos, caso da posio contraditria da UNESCO, mas no s...
2. Interesses polticos-econmicos (EDP/construtoras/banca) so pagos por todos os contribuintes. A
barragem do Tua " irrelevante do ponto de vista da produo de energia", mas o custo da obra
"implicar um aumento de 2% na fatura de eletricidade do consumidor domstico". Promiscuidade
entre os Stakeholders (intervenientes), na situao pblico e privado, caso da NEMUS e das
construtoras.

3. estranho que o traado da zona classificada termine exatamente a poucos metros do local
previsto para a barragem. Tambm o o facto de o vale do Tua no ter sido classificado na
Rede Natura 2000. Era uma obra j h muito tempo na gaveta de pelo menos desde 1989.
4. O que a barragem do Vale do Tua pe em causa?
- A Paisagem e a linha imponente do Vale do rio Tua e sua Geografia Afetiva (Paisagem de Miguel
Torga) vai ser apagada do mapa! As barragens e as pedreiras nivelam o mundo, que fica assim
mais desinteressante.
- Fauna e Flora do vale do rio Tua, Termalismo vale do rio Tua, Histria da linha do vale do rio Tua,
Antropologia/Arqueologia, Turismo vale do rio Tua.

Vale do Tua: um Templo fora do Tempo

Os rios devem continuar a ser rios e as

montanhas a ser montanhas?

Bibliografia:
CARVALHO, M., Ilha de Xisto, Guia do Douro e do Vinho do Porto, 1 edio, Pedra Lua, Barcelos, 2006
Coord. PEREIRA, G. M., Histria do Douro e do Vinho do Porto, 1 edio, Afrontamento, S. M. Feira,
2010.
Ferreira, Tiago A. M., O Caminho de Ferro na regio do Douro e o Turismo, Caminhos de Ferro
Portugueses, E. P., 1999.
REIS, J., Atlas dos Bivalves de gua Doce em Portugal Continental. Instituto da Conservao da
Natureza, Lisboa, 2006 130 pp.
SOUSA, F. e PEREIRA, G. M., Alto Douro, Introduo Douro Superior, 1 edio, Ed. Presena, Venda
Nova, 1998.
SOUSA, Ana M. R. M., Contribuio para o Estudo das Implicaes no clima local, da construo de
barragens, Porto, 1987.

Sites Institucionais Consultados (entre 6/11/2015 e 13/11/2015):

http://poa-foztua.nemus.pt/
http://www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=7&sub2ref=10&sub3ref=96
https://bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/4090
http://www.valetua.pt/edp-inicia-construcao-da-barragem-de-foz-tua/
http://www.citcem.org/sobre-o-citcem/apresentacao

Sites no institucionais Consultados (entre 6/11/2015 e 13/11/2015):

http://www.icomos.pt/index.php/o-que-e-o-icomos/introducao

http://www.portugalnotavel.com/vale-do-rio-tua/
http://alinhaetua.blogspot.pt/search/label/CS
https://pt.wikipedia.org/wiki/Linha_do_Tua
http://ogalaico.blogspot.pt/2011/03/paisagem-miguel-torga.html
http://cadaprd.blogspot.pt/?zx=4a212bb10f64930e
http://portocanal.sapo.pt/noticia/48182/
http://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/unesco-aprova-resolucao-que-permite-barragem-do-tua-26712474

Anexos

CONCEITOS:
ADV: Alto Douro Vinhateiro
AHFT: O Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua
AIA: Avaliao de Impacte Ambiental
APA: Agncia Portuguesa do Ambiente
AHFT: Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua
ADRVT: A Agncia de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua
CA: Comisso de Avaliao
DIA: Declarao de Impacte Ambiental
EIA Estudo do Impacte Ambiental de 2008 (existe mais extenso na CCDR-N e na APA)
FCNB: Fundo de Conservao da Natureza e Biodiversidade
GEOTA: uma associao de defesa do ambiente, de mbito nacional e sem fins lucrativos, em atividade desde 1981
ICOMOS Portugal: Comisso Nacional Portuguesa do Conselho Internacional de Monumentos e Stios
INAG: Instituto da gua, I.P.
MCLT - Movimento Cvico pela Linha do Tua, organizao no-governamental de Portugal
NPA: Nvel pleno de armazenamento (170/180/195)
PCA: Parecer da Comisso de Avaliao Agosto de 2010
PE: Projeto de Execuo
PNBEPH: Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeltrico (2007)
POAAP: Planos de Ordenamento das Albufeira de guas Pblicas, tambm designados comummente como Planos de Ordenamento das Albufeiras (POA)
PROFICO: A empresa, fundada em 1991, presta servios em diversas reas da engenharia, consultoria e gesto de empreendimentos.
QUERCUS: Organizao No Governamental de Ambiente (ONGA) portuguesa fundada a 31 de outubro de 1985.
RECAPE: Relatrio de Conformidade Ambiental do Projeto de Execuo

Mexilho-de-rio Margaritifera margaritifera Linnaeus 1758

Na bacia hidrogrfica do Rio Tua, no Nordeste de Portugal, esto referenciadas as ltimas populaes viveis
duma espcie ameaada a nvel nacional e mundial, o Mexilho-de-rio Margaritifera margaritifera Linnaeus
1758.
O bom estado de integridade ecolgica detetado nos cursos de gua do Alto Tua, ao nvel abitico (bom estado
de conservao de habitats aquticos e ribeirinhos e boa qualidade da gua) e bitico (domnio de espcies
estenobiontes e composio faunstica autctone) contrastou com sinais de perturbao presentes em troos
amostrados no Baixo Tua (e.g. poluio, regularizao, degradao de habitats e presena de espcies
exticas).
Segundo REIS (2006) a fauna de bivalves de gua doce de Portugal inclui 16 espcies Nos cursos de gua da
bacia hidrogrfica do Rio Tua esto presentes quatro espcies autctones de niades (Figura 2).
Por isso mesmo, trata-se de uma espcie internacionalmente protegida pela Conveno Sobre a
Conservao da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais (Conveno de Berna), pela Diretiva CE
sobre a Conveno dos Recursos Naturais e habitats semi-naturais da Fauna e da Flora e foi
ainda listada como Vulnervel na Lista Vermelha da IUCN (LVARES et al. 2000; REIS 2003).
Em Portugal pode actualmente ser encontrado quase exclusivamente nas bacias hidrogrficas do
Douro.
As principais ameaas para a Margaritifera margaritifera resultam essencialmente de (REIS 2006;
GEIST et al. 2006):
Descargas de efluentes: Construo de barragens e audes: Extrao de inertes, ()

LINHA DO TUA
O troo de Carvalhais a Bragana encontra-se encerrado a todo o trfego ferrovirio desde 1992. Esta data est
envolta em controvrsia, uma vez que em Dezembro de 1991 se encerrou o troo de Mirandela a Macedo de
Cavaleiros, deixando o troo at Bragana isolado da rede ferroviria nacional. Poucos dias depois, um
descarrilamento em Sortes veio ditar o encerramento do troo de Macedo de Cavaleiros a Bragana, de forma
indeterminada, finalmente confirmada em 1992.

A operao de encerramento definitivo do troo de Mirandela a Bragana ocorreu durante a noite, sem aviso prvio, e
simultaneamente em Bragana e Macedo de Cavaleiros. Foi registada a presena de foras policiais, tanto para
evitar ao mximo o registo de imagens, como para afastar a populao, que ao saber da operao acorreu s
estaes destas localidades. O material circulante estacionado nestas foi retirado no por via ferroviria, mas via
rodoviria. Foi relatado nessa noite um sbito corte nas telecomunicaes em Bragana e Vinhais. Devido a estes
acontecimentos, a imprensa regional registou-a como sendo um "Roubo" e um "Ato de Pirataria"; a expresso
Noite do Roubo comeou por ser utilizada por Daniel Conde, membro fundador do MCLT - Movimento Cvico
pela Linha do Tua, passando desde ento a ser amplamente utilizada.
Grande parte do material de trao utilizado foi vendido ou parqueado, tendo sido, por exemplo, estacionadas vrias
carruagens da Dcada de 1930 nas vias de resguardo da Estao de Tua.
Em 1995, estavam a ser planeadas viagens tursticas nesta linha, no mbito de um programa de turismo ferrovirio nas
redes do Douro e Minho, por parte dos Caminhos de Ferro Portugueses.
Parte do trajeto da Linha do Tua encontra-se neste momento ameaado de submerso pela albufeira prevista para a
Barragem do Tua. Se for concretizada a construo, ser submergida parte da linha, deixando-a isolada da restante
rede nacional ferroviria.

Outras medidas de compensao da EDP

A compensao pela perda de valores naturais e sua preservao deve ser assegurada
atravs de contribuies anuais para o Fundo para a Conservao da Natureza e da
Biodiversidade, previsto no artigo 37. do DecretoLei n. 142/2008, de 24 de Julho, de
acordo com o constante na medida de compensao n. 13.
No que respeita ao cumprimento desta Condicionante (e concomitantemente da Medida de
Compensao n. 13) considera-se que para ser assegurada a conformidade com a DIA
emitida, dever ser apresentado um documento onde esteja claramente expresso que a verba
equivalente aos 3% do valor lquido anual mdio de produo do AHFT, a qual a EDP se
compromete a contribuir anualmente desde o incio da construo, ser afeta ao Fundo para a
Conservao da Natureza e da Biodiversidade. Este Fundo, previsto no Decreto-Lei n.
142/2008, de 24 de Julho, foi constitudo atravs do Decreto-Lei n. 171/2009, de 3 de Agosto e
tem j aprovado o respetivo regulamento de gesto (Portaria n. 487/2010, de 13 de Julho).
O referido documento dever ser apresentado Autoridade de AIA antes do licenciamento.

BARRAGEM DE FOZ TUA CRONOLOGIA

2007
O Plano Nacional de Barragens alvo de consulta pblica, tendo sido feitas algumas recomendaes para o Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua (AHFT).

2008
O Governo adjudica provisoriamente a explorao da barragem EDP, por um prazo de 75 anos, a partir da entrada em funcionamento, pela qual pagou uma contrapartida de 63 M.
Em abril de 2008, a EDP, entregou ao Instituto da gua, I.P. (INAG), o Estudo Prvio e respetivo Estudo de Impacte Ambiental (EIA), que os apresentou Agncia
Portuguesa do Ambiente (APA), iniciando-se assim o processo de Avaliao de Impacte Ambiental (AIA) do AHFT.

2009
A Declarao de Impacte Ambiental (DIA) do AHFT foi emitida em maio de 2009 pelo Ministrio do Ambiente e do Ordenamento do Territrio, tendo o respetivo parecer sido favorvel
condicionado ao Nvel de Pleno Armazenamento cota 170 e implementao das condicionantes e medidas constantes nessa mesma DIA.
A EDP inicia trabalhos de investigao geolgica, nas margens do rio Tua.

2010
Em junho de 2010, a EDP entregou ao INAG o Relatrio de Conformidade Ambiental do Projeto de Execuo (RECAPE), tendo este documento sido remetido APA para
procedimento de Ps-Avaliao.
Em agosto de 2010 a Comisso de Avaliao (CA) emitiu o seu parecer relativamente ao RECAPE, tendo a EDP em novembro de 2010 efetuado um aditamento ao RECAPE de modo a
dar resposta aos aspetos referidos no douto parecer da Comisso de Avaliao.
EDP anuncia a abertura do concurso para a construo da barragem, cujo investimento de 300 M
Os autarcas do Tua aceitam a proposta da EDP para a criao de um sistema multimodal de mobilidade. A explorao ser entregue Agncia de Desenvolvimento Regional do Vale do
Tua, a ser constituda pelas autarquias do Tua e outras entidades.

2011
Em janeiro, a Comisso de Avaliao concluiu que o aditamento ao RECAPE apresentado pela EDP estava em condies de ser aprovado e foi
celebrado entre o Estado Portugus e a EDP o Contrato de Concesso referente ao AHFT.
Em fevereiro, dia 18, o Primeiro-Ministro Jos Scrates lana a primeira pedra da barragem, em Alij.
Em maro foi atribuda EDP pelo Ministrio da Economia, da Inovao e do Desenvolvimento a Licena de Produo/Estabelecimento do AHFT.
Os trabalhos de construo do AHFT tiveram incio em abril de 2011.
A EDP assina um contrato de 76 M para o fornecimento dos equipamentos da barragem de Foz Tua, sendo 40% componente nacional.
Visita da Misso da UNESCO/ICOMOS s obras do Aproveitamento Hidroeltrico de Foz Tua.
O Comit do Patrimnio Mundial da UNESCO considera que a construo da barragem de Foz Tua tem um impacto irreversvel e ameaa os
valores que esto na base da classificao do Alto Douro Vinhateiro como Patrimnio Mundial.

2012
Em junho, UNESCO prope abrandamento dos trabalhos na barragem de Foz Tua enquanto no forem avaliados os verdadeiros impactos no
patrimnio do Alto Douro Vinhateiro.
A Ministra do Ambiente defende que a barragem de Foz Tua compatvel com a classificao do Alto Douro Vinhateiro como patrimnio da
humanidade e afasta a possibilidade de suspender as obras por falta de verbas.
Em julho e agosto realizada nova visita da Misso UNESCO/ICOMOS s obras do Aproveitamento Hidroeltrico, para emisso de novo relatrio.
A Associao para o Desenvolvimento da Agricultura Duriense considera que a futura albufeira do Aproveitamento Hidroelctrico de Foz Tua
constituir um factor de mitigao da subida da temperatura estimada para os prximos anos, bem como um factor de incremento da eficincia
do uso da gua ao ser reduzido o dfice de presso de vapor de gua na atmosfera. De igual modo, a gua disponvel para rega pode contribuir
para minimizar os efeitos das alteraes climticas. Em sentido contrrio, poder condicionar negativamente a gesto fitossanitria da vinha,
que, no entanto no dever ser superior ao actualmente verificado nas zonas vitcolas imediatamente adjacentes s albufeiras da Valeira e
Rgua.
A misso da UNESCO que esteve em territrio do Alto Douro Vinhateiro para reavaliao do impacto da construo do Aproveitamento
Hidroelctrico de Foz Tua no Patrimnio da Humanidade concluiu que o aproveitamento tem um impacto reduzido no valor, integridade e
autenticidade do patrimnio. Considera ainda que o projecto de arquitectura para o edifcio da central proposto pelo Arquitecto Souto Moura
reduz o impacto visual da construo, sendo que a barragem tem um impacto reduzido.