Figuras de Linguagem

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Figuras de Linguagem A linguagem cientfica prima pela exatido, pela preciso, pela correo, pela objetividade.

O texto literrio, no entanto, se marca por desvios em relao ao significado das palavras ou s prprias construes. Por apresentar desvios, que tambm so conhecidos como figuras, diz-se que a linguagem usada pela literatura figurada. isso que vamos estudar nessa parte do livro. Para tal, dividimos essas figuras em grupos. 2.1 Metfora (e suas variaes) Um homem, ao dirigir-se a uma mulher, diz: Voc o sol da minha vida. Considerando que mulher no sol, percebe-se que esta palavra (sol) est em sentido conotativo, ou seja, figurado. O que ele quer dizer p que ela o ilumina, o orienta, o aquece, o centro de seus interesses, o mantm em rbita... Enfim, ele se coloca como um planeta, para o qual o sol o prprio sentido e motivo da existncia. A esse processo de criao lingstica, que envolve uma comparao implcita, d-se o nome geral de metfora, a qual, por sua vez, se inclui num grupo mais amplo, o das figuras semnticas. Vamos, agora, ver as mais comuns. 1.Metfora Troca ou relacionamento de palavras em que h uma construo figurada baseada na semelhana, isto , um critrio subjetivo e de contexto intelectual (no aparece o termo comparativo) Qualquer rudo, dizia, era faca em seus ouvidos (Marina Colassanti) 2. Smile ou Comparao parecida com a metfora, porm apresenta o termo comparativo presente. Partiu-se meu rosto em chispas / como as estrelas num poo.(Ceclia Meireles) 3. Personificao ou prosopopia um tipo de metfora em que se atribui qualidade, ao ou condio humana a coisas ou seres no humanos. As grandes rvores nem se mexem, pois no do confiana a essa brisa, mas as plantinhas midas ficam felizes.(Anbal Machado) 4. Hiprbole tambm uma variao da metfora, mas seu nome indica que se baseia num exagero. At nosso cu eles espanaram .(Joo Cabral de Melo Neto) No o vejo h milhes de anos. 5. Catacrese o uso imprprio, porm, j comum, de uma palavra por outra. ... o Zaca o intimou com uma navalha cheia de dentes a fazer uma serenata.(Manuel Bandeira) 6. Eufemismo Tambm da famlia da metfora, mas tem o objetivo de suavizar uma idia desagradvel ou grosseira. O meu ltimo sono, eu quero assim dormi-lo: - Num largo descampado... (Vicente de carvalho) s vezes, o Eufemismo ganha um tom humorstico. A mesma idia de morte percebida em:

Ele vestiu um palet de madeira. 7. Sinestesia um tipo bem especial de metfora. Consiste na mistura de elementos sensoriais. A luz gelada e plida diluindo.(Cruz e Souza) (viso X tato) 2.2 Metonmia (e suas variaes) o segundo grande eixo das figuras semnticas. Diferentemente da metfora, que se baseia num eixo de concentrao, a metonmia se caracteriza por uma relao ou troca de palavras em que ocorra uma contigidade, isto , uma aproximao objetiva, devido ocupao de espaos prximos no universo. Os olhos claros da mulher pediram-lhe com doura... (Carlos Drummond de Andrade) olhos substituem mulher Agora hora de estudar uma por uma. 1.Metonmia Observe que se trocam (ou se relacionam) as palavras baseando-se na aproximao dentro do universo ou do contexto. Abriu uma torneira do banheiro para lavar o sono do rosto.(Lus Fernando Verssimo) H um tipo especial de metonmia que, na verdade, troca o todo por uma parte, que tem o nome de Sindoque. O Ford quase o derrubou e ele no viu o Ford.(Alcntara Machado) Outro tipo de metonmia que tem nome especial o Smbolo, que consiste na mistura do concreto com o abstrato. A cruz a salvao do sculo. (Tristo de Atade) 2. Perfrase o uso de uma expresso para substituir uma palavra, caracterizando-se por um rodeio frasal. A ptria de Alexandre se impunha ao mundo conhecido.(Roberto Rinazzo) (= Macednia) H uma perfrase especial conhecida como Antonomsia, que consiste num quase apelido. Todos amam o Poeta dos escravos. (= Castro Alves) 3.Anttese O que aproxima as palavras trocadas ou relacionadas a oposio. Abaixo via a terra abismo de treva! Acima o firmamento abismo de luz! (Castro Alves) H dois tipos de Anttese, com razovel presena em concursos. a)Paradoxo a oposio de raciocnios, j que h ilogicidade na idia. Estranha paixo: quanto mais dio, mais amor. (Fagundes Varela) b)Oxmoro a oposio de idias no mesmo grupo sinttico

Amor um contentamento descontente. (Cames) 2.3 Ironia (e assemelhadas) Colocamos neste grupo, alm da prpria ironia, outras que provocam efeitos expressivos curiosos, normalmente com inteno de humor. 1.Ironia , com clara inteno, comunicar exatamente o contrrio do que se diz. ... o velho comeou a ficar com aquela bonita expresso cadavrica. (Stanislau Ponte Preta) 2.Ambiguidade quando, intencionalmente, se provoca o duplo sentido, para conseguir o efeito estilstico desejado. Deixa-me, fonte! Dizia / A flor, tonta de terror. / E a fonte, sonora e fria, / Cantava, levando a flor. (Vicente de Carvalho) Dois sentidos: oposto a quente ou insensvel, indiferente Cuidado! No havendo a inteno estilstica, a ambiguidade pode ser considerada como um vcio de linguagem (erro de construo frasal): O aluno pediu ao professor para contar a verdade. Eu vi o desmoronamento do barraco. O rapaz olhava para a moa com olhar lnguido. 3. Clich ou Chavo , na verdade, um tipo de metfora, que, pelo uso excessivo, se torna muito comum, a ponto de no parecer linguagem figurada. Existem pedras no caminho da reeleio do governador. (= obstculos) 4.Paranomsia um jogo de palavras, motivado pela simples aproximao sonora. H quem faa obras / eu apenas / solto as minhas cobras. (Sebastio Uchoa Leite) s vezes, envolve o que se chama trocadilho: No confunda carioca turista com caricaturista! 2.4 Outros recursos estilsticos a)Figuras sintticas 1.Pleonasmo uma repetio; normalmente, para efeito estilstico, tem uma inteno enftica e retoma uma funo sinttica. A monocultura exclusiva do caf no boa para o solo. Vi tudo com meus prprios olhos. 2.Assndeto a ausncia intencional do conectivo coordenativo. Vim, vi, venci.(Csar, imperador de Roma) 3.Polissndeto Ao contrrio do anterior, a repetio, com inteno expressiva, da conjuno coordenativa.

... as casas so pobres e os homens so pobres, e muitos so parados e doentes e indolentes... (Rubem Braga) 4.Anfora a repetio de palavra(s) no incio da(s) estruturas(s) sinttica(s). Fitar-te, flor do babilnio rio, Fitar-te a medo no salgueiro oculto. (Castro Alves) H uma variao chamada anadiplose, que consiste em comear a nova estrutura com a ltima palavra da anterior. Veja. Ofendi-vos, meu Deus, bem verdade, Verdade , meu Senhor, que hei delinqido, Delinqido vos tenho, e ofendido; Ofendido vos tem minha maldade. (Gregrio de Matos)

5. Apstrofe ou Invocao uma interpelao marcante. Deus, Deus, onde ests que no respondes? (Castro Alves). 6. Silepse o desvio de concordncia. Pode ser: - de gnero V.S mostrou-se atento aos problemas do povo, Sr prefeito. (feminino X masculino) - de nmero Corriam gente de todos os lados e gritavam... (plural X singular) - de pessoa Os cariocas somos especiais. (3 pessoa X 1 pessoa) b) Figuras de estilstica fonolgica 1. Aliterao a repetio das consoantes no incio das palavras Esperando parada pregada na pedra da pedra do porto.(Chico Buarque de Holanda) 2.Eco a sucesso de palavras com final igual ou semelhante Era ela, Arabela. Como estava bela! (Ciro dos Anjos). 3.Onomatopia a figura pela qual se tenta reproduzir os sons por meio de palavras existentes ou criadas para esse fim. Tinir de ferros... estalar de aoite.(Castro Alves) S ouvia o tique-taque do relgio. 4. Rima

a coincidncia de sons no final dos versos, ou, raramente, no meio deles. Vs?! Ningum assistiu ao formidvel Enterro de tua ltima quimera Somente a ingratido essa pantera Foi tua companheira inseparvel! (Augusto dos Anjos) Atividades

Texto 1 Receita de acordar palavras Palavras so como as estrelas facas ou flores elas tm razes ptalas espinhos so lisas speras leves ou densas para acord-las basta um sopro em sua alma e como pssaros vo encontrar seu caminho. (Roseana Murray, em Receitas de Olhar) 1.Os dois primeiros versos se constroem por meio de um(a): a) exagero b) mentira c) erro d) gradao e) comparao 2. Versos livres so os que no tem mtrica, e brancos, os que no tm rimas. Analisando-se o poema, percebe-se que seus versos so: a) livres e rimados b) metrificados e brancos c) livres e brancos d) metrificados e rimados e)impossveis de confirmar 3. O tema do texto, na verdade: a) a prpria poesia b) a palavra c) a alma das palavras d) o caminho da vida e) a vida em si 4. No ttulo, h uma clara prova de que a linguagem do poema literria. Assinale-a. a) o uso denotativo do verbo acordar b) a referncia palavra palavras c) a presena da preposio de d) o emprego conotativo da palavra receita e) o no aparecimento do tema real do texto 5. A funo da linguagem predominante do texto, alm da potica, : a) emotiva

b) metalingstica c) conotativa d) ftica e) referencial 6. O sopro na alma das palavras significaria, segundo o texto; a) a forma potica b) uso de metrificao adequada c) a procura das melhores rimas d) a mensagem que exprima o contedo e) a inteno de sugestionar o ouvinte Texto 2 Consoada Quando a indesejada das gentes chegar (no sei se dura ou carovel) talvez eu tenha medo talvez sorria ou diga: - Al, Iniludvel O meu dia foi bom, pode a noite descer (a noite com seus sortilgios). Encontrar lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar. (Manuel Bandeira) 7. Indique a afirmativa que est em DESACORDO com as idias expressas no texto 2. a) O poeta apresenta um tom de ironia amarga. b) O poeta aborda o tema da morte. c) O ttulo marca a recepo ilustre personagem cuja presena certa. d) Os significantes Indesejada, Iniludvel e noite equivalem-se semanticamente. e) H certeza, mas profundo sofrimento com relao visita inesperada. Descobrimento Abancado escrivaninha em So Paulo Na minha casa da Rua Lopes Chaves De supeto senti um frime por dentro. Fiquei trmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. No v que me lembrei que l no norte, meu Deus! Muito longe de mim Na escurido ativa da noite que caiu Um homem plido magro de cabelo escorrendo nos olhos, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, est dormindo. Esse homem brasileiro que nem eu. (Mrio de Andrade) 08. Pela comparao entre o ttulo e o contedo do poema, percebe-se uma inteno. a) eufemstica b) onomatopaica

c) simblica d) metafrica e) hiperblica 09. No quinto verso, h uma figura chamada: a)metonmia b)ironia c)prosopopia ou personificao d)smile ou comparao e)catacrese 10. No ltimo verso, temos um (a): a)metonmia b)comparao c)metfora d)paralelismo e)catacrese 11. Numere, de acordo com as indicaes: 1.Hiprbole 2.Personificao 3.Smile 4.Eufemismo 5.Catacrese 6.Anttese a) ( ) morte, tu s o porque da minha vida. b) ( ) Embarcamos no nibus das oito. c) ( ) A onda do mar beijava a Branca areia. d) ( ) Ela agiu como uma leoa na defesa dos filhos. e) ( ) Sero sculos de angstia em meu corao. f) ( ) Vov entregou a alma a Deus... 12. Identifique a silepse: 1- de gnero; 2- de nmero; 3- de pessoa e 4- de gnero e nmero. a) ( ) Os homens sois, naturalmente, infiis... (Clarice Lispector) b) ( ) Era uma torcida fascinante, gritavam animados todo o tempo...(Stanislaw Ponte Preta) c) ( ) Povo bom aquele, tiram de letra misrias e injustias. (Plnio Marcos) d) ( ) V.M muito impetuoso. (Alexandre Herculano) Fanatismo "Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida Meus olhos andam cegos de te ver! No s sequer a razo do meu viver, Pois que tu s j toda a minha vida! No vejo nada assim enlouquecida... Passo no mundo, meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma histria tantas vezes lida! "Tudo no mundo frgil, tudo passa..." Quando me dizem isto, toda a graa Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros:

"Ah ! Podem voar mundos, morrer astros, Que tu s como Deus : Princpio e Fim." Florbela Espanca

Interpretao do poema 1. Por que o ttulo do poema Fanatismo? Qual a passagem do poema que melhor justifica esse ttulo?

2. No verso Meus olhos andam cegos de te ver! h a predominncia de uma figura de linguagem. Que figura essa?

3. Sobre verso final do poema Que tu s como Deus : Princpio e Fim., podemos dizer que: a) H uma comparao entre Deus e o homem amado, caracterizada pelo comparativo como. b) H uma hiprbole, j que houve um exagero ao comparar o homem amado a Deus. c) H uma metfora, pois o homem amado colocado no lugar de Deus na adorao da poeta.

4. Que impresso o poema lhe causou? Qual, na sua opinio, o sentimento do eu - lrico? 5. Classifique as figuras de linguagem presentes nos fragmentos abaixo: a) Voc o sol da minha vida. b) O p do vaso est quebrado. c) Seus olhos brilham como estrelas. d) O tilintar dos metais. e) Esse homem uma fera! f) Meu corao um almirante louco. g) O rapaz lhe estendeu uma folha. Era um poema. h) J lhe disse isso um milho de vezes. i) A mocidade um noivado. j) Bebeu dois copos cheios. l) O tique-taque dos relgios. m) O livro est cheio de orelhas. n) O carro andava, corria, voava.

o) Ele entregou a alma a Deus. p) As rvores so imbecis: se despem justamente quando comea o inverno. q) Oh, Deus, onde ests? r) Existem pedras no caminho. s) Quase morri de estudar. t) Vi tudo com os meus prprios olhos. u) Ele est lendo Jorge amado. v) Ele bravo como um leo. x) Que bonita expresso cadavrica! z) Ele comprou um Ford.

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