EDUCAÇÃO AMBIENTAL - IPEMIG

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

BELO HORIZONTE / MG
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

SUMÁRIO

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ...................................................................................... 3

O FUNDAMENTO MARXISTA DA PEDAGOGIA CRÍTICA ....................................... 5

DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO ..................................................................... 15

PARTICIPAÇÃO SOCIAL......................................................................................... 15

A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA ............................... 20

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 22

2
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL processo de aprendizagem permanente,


baseado no respeito a todas as formas de vida e
na afirmação de valores e ações que contribuam
para as transformações sócio- ambientais
exigindo responsabilidades individual e coletiva,
local e planetária. A educação ambiental para a
sustentabilidade na perspectiva transformadora é
a referência, neste documento, para a construção
de sociedades socialmente justas e
ecologicamente equilibradas: sociedades
sustentáveis. A educação ambiental para a
sustentabilidade, ali anunciada é uma educação
política de caráter democrático, libertador e
transformador.

http://www.cenedcursos.com.br/meio-
ambiente/educa-ambiental-nas-escolas/

A Educação Ambiental há poucas


décadas discutidas no Brasil, vem assumindo
novas dimensões a cada ano, principalmente
pela urgência de reversão do quadro de http://ineam.com.br/instituto-nacional-de-
deterioração ambiental em que vivemos, educacao-ambiental-uma-nova-ferramenta-para-a-
efetivando práticas de desenvolvimento educacao/
sustentado e melhor qualidade de vida para Reigota (1995) já destacava o caráter
todos e aperfeiçoando sistemas de códigos que político da educação ambiental em: uma
orientam a nossa relação com o meio natural. educação política, fundamentada numa filosofia
Trata-se de compreender e buscar novos política, da ciência da educação antitotalitária,
padrões, construídos coletivamente, de relação pacifista e mesmo utópica, no sentido de exigir e
da sociedade com o meio natural. chegar aos princípios básicos de justiça social,
No campo escolar a Educação Ambiental buscando uma “nova aliança” (Prigogine &
está presente nas Propostas Curriculares do Stengers) com a natureza através de práticas
Ensino Fundamental de 21 estados brasileiros, pedagógicas dialógicas. (REIGOTA, 1995, p.61).
cuja Proposta Curricular de Ciências tem como Podemos dizer que a educação como
eixo norteador o meio ambiente e está presente uma ação política – discussão já consolidada na
também nos Parâmetros Curriculares Nacionais educação - decorre da constatação de sua
(PCNs) como tema transversal, perpassando intencionalidade e da impossibilidade de sua
todas as disciplinas do currículo. Pressupõe a neutralidade. Portanto, como atividade da prática
discussão de questões éticas, ecológicas, social, a educação e, portanto, a educação
políticas, econômicas, sociais, legislativas e ambiental são eminentemente políticas, o que
culturais. não quer dizer necessariamente críticas e
O Tratado da Educação Ambiental para transformadoras, podendo ser também, porque
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade políticas, não-críticas e reprodutoras. Desta
Global (FÓRUM INTERNACIONAL DAS ONGs, forma, a educação crítica situa-se no horizonte
1995) reconhece a educação como direito dos da ação política da educação se voltada para a
cidadãos, defendendo a educação transformação social, como reflete Guimarães
transformadora. Este documento reflete a (2004, p.25):
trajetória da educação ambiental considerada um

3
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

“Senti necessidade de resignificar a segundo compreende, cumpre seu papel


educação ambiental como “crítica”, por educativo de formação - plena, crítica e reflexiva
compreender ser necessário diferenciar uma – do, como definiu Carvalho (2004), “sujeito
ação educativa que seja capaz de contribuir com ecológico”.
a transformação de uma realidade que,
historicamente, se coloca em uma grave crise
socioambiental”.

http://www.rabugio.org.br/educacaoambiental.php

Para introduzir a tematização do


ambiente que, segundo Grun (1996), foi
http://g1.globo.com/pb/paraiba/rainha-da-
esquecido na educação moderna, tomemos da
borborema/2013/noticia/2013/10/projeto-estimula-educacao- Política Nacional de Educação Ambiental
ambiental-decriancas-emcampina-grande.html instituída pela Lei no 9.795/99 uma definição
Se a educação ambiental é uma ação bastante precisa de educação ambiental: Art. 1º
política, ela exige posicionamento. Isso significa “Entende-se por educação ambiental os
que o pensar e o agir educativo ambiental trazem processos por meio dos quais o indivíduo e a
diferenças conceituais. Essas diferenças podem coletividade constroem valores sociais,
ser sintetizadas em alguns grandes grupos: a conhecimentos, habilidades, atitudes e
educação ambiental como promotora das competências voltadas para a conservação do
mudanças de comportamentos ambientalmente meio ambiente, bem de uso comum do povo,
inadequados – de fundo disciplinatório e essencial à sadia qualidade de vida e sua
moralista; a educação ambiental para a sustentabilidade” (BRASIL, 1999).
sensibilização ambiental – de fundo ingênuo e Tomemos o “interesse comum” como
imobilista; a educação ambiental centrada na ponto de partida para a tematização do ambiente
ação para a diminuição dos efeitos predatórios na educação ambiental na perspectiva crítica. As
das relações dos sujeitos com a natureza – de práticas sociais e pedagógicas em torno da
caráter ativista e imediatista; a educação questão ambiental como objeto de interesse
ambiental centrada na transmissão de coletivo, também foram tratadas por Brandão
conhecimentos técnico científicos sobre os (2005) na forma de “comunidade aprendente”,
processos ambientais - de caráter racionalista e como princípio pedagógico na organização da
instrumental; e a educação ambiental como um educação:
processo político, crítico, para a construção de Alguns pesquisadores de pedagogia têm
sociedades sustentáveis do ponto de vista procurado mesmo compreender de uma outra
ambiental e social - a educação ambiental maneira o próprio processo do ensinar-e-
transformadora e emancipatória. aprender. Podemos com eles partir da ideia de
O caráter político da educação – e da que a menor unidade do aprender não é cada
educação ambiental – implica em reconhecer que pessoa, cada aluno, cada estudante tomado em
cada uma dessas abordagens conceituais tem sua individualidade. Ela é o grupo que se reúne
referenciais epistemológicos, filosófico políticos e frente à tarefa partilhada de criar solidariamente
pedagógicos que precisam ser explicitados como seus saberes. É a pequena comunidade
orientadores das práticas educativas. Este aprendente, através da qual cada participante
ensaio elege para análise a educação ambiental ativo vive o seu aprendizado pessoal.
crítica, transformadora e emancipatória que, (BRANDÃO, 2005, p. 90).

4
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

função do contexto alienante e individualista em


que vivemos e da necessidade de os educadores
ambientais se motivarem e se estimularem diante
dos desafios, levando-nos a estudar e pesquisar
cada vez mais, com rigor e capacidade crítica. É
absolutamente crucial para a concretização de
um novo patamar societário que a produção em
educação ambiental aprofunde o debate teórico-
prático acerca daquilo que pode tornar possível
ao educador discernir uma concepção
ambientalista e educacional conservadora e
tradicional de uma emancipatória e
transformadora, e as variações e nuances que
http://use.org.br/a-educacao-e-a-falta-de-ducacaoambiental-
nossa-de-cada-dia/ ambas se inscrevem problematizando-as,
relacionando-as e superando-as
Criar, coletiva e solidariamente os
permanentemente (LOUREIRO, 2004, p. 139).
saberes para compreender nossa relação com o
Desta forma, compreendendo a
ambiente rumo à sustentabilidade nos levam a
educação ambiental a partir das diferentes
identificar um outro princípio da educação
abordagens teórico-práticas, formuladas e
ambiental crítica: a participação social. Este
praticadas por diferentes grupos sociais, com
princípio foi estudado por Jacobi (2005): A
interesses contraditórios, histórica, social e
participação deve ser um eixo estruturante das
politicamente determinados, este ensaio traz
práticas de educação ambiental e, considerando
para discussão a educação ambiental crítica,
o quadro de agravamento cotidiano da crise
transformadora e emancipatória, entendendo ser
ambiental, está representa um instrumento
o pensamento marxista seu referencial teórico-
essencial para a transformação das relações
prático. Assim, para compreender a educação
entre sociedade e ambiente (JACOBI, 2005,
ambiental nesta perspectiva, o texto apresenta
p.233).
uma breve reflexão sobre o referencial marxista
e sua importância na formulação da pedagogia
crítica para, a seguir, argumentar a favor de uma
pedagogia crítica para a educação ambiental.

http://bracelpa.org.br/bra2/?q=node/563

Se a educação ambiental compreendida


na abordagem crítica é uma ação política que,
para contribuir na transformação social tem os
princípios de cooperação, coletividade e http://modelosdemonografias.com.br/monografias/educacao/
participação como norteadores do processo ambiental/
educativo, está educação ambiental refere-se à
transformação das relações dos homens entre si O FUNDAMENTO MARXISTA DA
e deles com o ambiente no sentido concreto e PEDAGOGIA CRÍTICA
histórico, portanto, é preciso compreendê-la para
muito além do consenso. Loureiro (2004) Embora a expressão “teoria crítica” tenha
considera que: a demarcação de distintos sido originalmente usada pela Escola de
“campos ambientais” relevante e urgente, em Frankfurt, convivemos hoje com um amplo

5
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

espectro de reflexões filosófico-políticas movimento - dialético – orientam a compreensão


abrigadas no que tem sido chamado de “teorias dos processos educativos, permitindo a
críticas” da educação com algumas diferenças superação da compreensão empírica da
em suas bases teóricas. Este estudo opta por educação pela a compreensão concreta. Trata-
pensar a pedagogia crítica desta forma ampliada, se, portanto, de um caminho epistemológico para
a partir do pensamento marxista, seu referencial a interpretação da realidade histórica e social
teórico-epistemológico. onde se insere a educação e o tema ambiental.
O caráter materialista e histórico desse
referencial teórico (MARX e ENGELS, 1979), do
ponto de vista metodológico de interpretação da
realidade, é a compreensão, da forma mais
completa possível (totalidade e concreticidade)
pelo movimento do pensamento (dialética e
contraditoriedade), dos fenômenos e dos
problemas em estudo.

https://ensaiosdegenero.wordpress.com/2012/08/15/pedago
gia-e-celebracao-da-identidade-e-da-
diferencaalgunspontoscriticos/

Consideremos que as teorias da


educação se referem ao processo de formação
humana e a pedagogia, como ciência dos e para
a educação, refere-se à compreensão teórica e
prática desses processos educativos-formativos,
ou seja, refere-se aos saberes e modos da ação
voltados para a formação humana. A teoria crítica
da educação e a pedagogia crítica, então,
referem-se a determinadas formas de pensar o http://famosos.culturamix.com/historicos/karl-marx
ato educativo e a prática educativa concreta
Neste sentido, movimentar o
(LIBÂNEO, 1998), tendo as relações entre a
pensamento dialeticamente, significa refletir
educação e a sociedade como problematização
permanente. Neste sentido, a pedagogia crítica sobre a realidade social e ambiental. Saviani
(1991) aponta um caminho epistemológico para
diz respeito à teoria e a prática do processo de
a compreensão da realidade educativa: partir do
apropriação de conhecimentos, ideias, conceitos,
empírico (a realidade imediata, aparente) e
valores, símbolos, habilidades, hábitos,
empreender abstrações (reflexões, teoria) para
procedimentos e atitudes para a emancipação
chegar ao concreto (a realidade pensada,
dos sujeitos e a transformação das relações de
compreendida). Do ponto de vista metodológico,
dominação nas sociedades desiguais.
a diferença entre o empírico (realidade aparente)
Na análise e interpretação da realidade e o concreto (realidade pensada) são as
histórica em que se insere a educação e a busca abstrações (reflexões), que tornam mais
da emancipação e transformação, a pedagogia complexa a compreensão desta realidade.
crítica lança mão do Método Materialista Nesta perspectiva metodológica,
Histórico Dialético formulado por Karl Marx consideremos a educação como formação
(18181883) e Friedrich Engels (1820-1895) como humana, como desenvolvimento pleno da pessoa
referencial teóricometodológico. Nesta humana definido no pensamento marxista como
perspectiva, as categorias essenciais para “onilateral” (MARX e ENGELS, 1979; MARX,
compreensão e para a ação educativa são a 1993). A onilateralidade emerge da concepção
totalidade, concreticidade, historicidade e marxista de homem que tem no trabalho a
contraditoriedade. Estas categorias, num atividade vital e essencial humana.

6
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

(MARX, 1993) o conceito de onilateralidade é


definido como a apropriação plena do-ser-
humano pelo ser humano, um “vir a ser” humano
expresso pela ideia de pessoa humana como ser
natural universal, social e consciente: onilateral.
Ocorre que, sob as condições de
dominação da sociedade capitalista, a
onilateralidade da pessoa humana resulta em
unilateralidade. Então, a educação,
compreendida como formação humana diz
respeito a superação da unilateralidade pela
onilateralidade. Refletindo sobre “o homem
onilateral” e a função da educação na sociedade
capitalista, Manacorda (1991, p. 85) afirma:
http://blogs.prensaescuela.es/prestexoan/tag/segundarevolu Quanto às implicações pedagógicas que tudo
cion-industrial/ isso comporta, podem expressarse, em síntese,
Neste sentido, a relação homem- na afirmação de que, para a reintegração da
natureza - categoria síntese de múltiplas onilateralidade do homem, se exige a
determinações para a compreensão da educação reunificação das estruturas da ciência com as da
ambiental - é construída pelo trabalho. Se o produção. Não pode, de fato, ter validade nem a
trabalho define a natureza humana, a concepção extensão a todos da cultura tradicional no tipo de
de homem no pensamento marxista exige escola até agora existente para as classes
compreender o conceito de trabalho, dominantes, nem a permanência da formação
compreendendo a essência humana no subalterna, até agora concedida às classes
desenvolvimento histórico. Desta forma, produtivas, através da antiga aprendizagem
podemos afirmar que, para Marx: “Tal e como os artesanal ou das novas formas de ensino unidas
indivíduos manifestam sua vida, assim o são. O à indústria moderna.
que eles são coincide, por conseguinte, com sua No entanto, sob as contradições das
produção, tanto com o que produzem como com relações sociais de dominação a possibilidade de
o modo como produzem” (MARX e ENGELS, ser humano não se realiza determinando formas
1979, p. 19). Isso nos leva a acrescentar, na de desenvolvimento da pessoa humana
construção da concepção de homem, no modo alienadas e alienantes. Se a pessoa humana se
de produção capitalista a ideia da sua definição caracteriza por sua ação transformadora na
pela divisão do trabalho. Então, se a natureza é no processo histórico que ela pode ser
onilateralidade, como desenvolvimento pleno da – ou não ser - plena de humanidade.
pessoa humana está na base da concepção Estamos falando aqui, portanto, de
marxista de educação (formação humana), no humanização (onilateralidade) e alienação
capitalismo a educação crítica e transformadora (unilateralidade). Um dos mais importantes
diz respeito à superação, concreta e histórica, da conceitos para a compreensão das teorias
condição de alienação dos homens, resultante da críticas da educação, a alienação diz respeito ao
divisão do trabalho. conceito de trabalho alienado. Nas relações de
trabalho do capitalismo, segundo Marx, a
alienação emerge da divisão social do trabalho: a
alienação do produto do trabalho e a alienação
da atividade do trabalho. O produto do trabalho
ao transformar-se em mercadoria torna-se objeto
estranho – alienado - para o trabalhador e a
atividade do trabalho alienado caracteriza-se
pela impossibilidade deste trabalhador tomar
https://sagaz.wordpress.com/2009/10/29/educacaoproducao/ decisões sobre a atividade. Podemos dizer,
portanto, que sob as condições sociais de
A onilateralidade, sob a base teórica do
dominação, a alienação é a condição da pessoa
pensamento marxista, é considerada finalidade
humana, sob as condições de exploração, sem
da educação (ENGUITA, 1989; MANACORDA,
poder de decisão sobre sua própria vida.
1991). Nos Manuscritos Econômicos Filosóficos

7
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

http://literataceci.blogspot.com.br/2015/08/tema-alienacao-
social-1-geracao-coca.html

A alienação transforma, portanto, as


http://filosofiaperene1.blogspot.com.br/2015/02/o-
relações sociais entre pessoas em relação entre frankenstein-ideologico-colonialismo.html
“coisas” – mercadoria, que reifica as relações
sociais transformando pessoas em “coisas” O conceito político de ideologia
definindo as atividades humanas como alheias, formulado por Marx e Engels, supera sua
independentes, autônomas à vontade dos definição como “uma teoria geral das ideias”, pois
homens. É importante destacar que o processo diz respeito à sociedade de classes, à dominação
de alienação, para se concretizar, necessita da exercida pelas classes dominantes, expresso
ideologia, outro conceito do pensamento como:
marxista fundamental para compreender “A ideologia é um dos meios usados
criticamente a educação. Temos, então, que: (a pelos dominantes para exercer a dominação,
alienação) torna objetivamente possível a fazendo com que esta não seja percebida como
ideologia, isto é, o fato de que no plano da tal pelos dominados” (CHAUÍ, 1981, p.86). Isto é,
experiência vivida e imediata as condições reais um corpo de ideias produzidas pela classe
da existência social dos homens não lhes dominante que será disseminado como ideias
apareçam como produzidas por eles, mas, ao universais, verdadeiras, válidas para todos.
contrário, eles se percebem produzidos por tais Desta forma, podemos afirmar que o conceito de
condições e atribuem a origem da vida social a ideologia na sociedade de classes tem origem na
forças ignoradas, alheias às suas, superiores e divisão mais elaborada do trabalho em trabalho
independentes (deuses, Natureza, Razão, manual e trabalho intelectual. A divisão do
Estado, destino, etc), de sorte que as ideias trabalho e sua consequente divisão do produto
quotidianas dos homens representam a realidade do trabalho realizam-se sob a propriedade
de modo invertido e são conservadas nessa privada dos meios de produção, dividindo a
inversão, vindo a constituir os pilares para a sociedade entre proprietário das condições de
construção da ideologia (CHAUÍ, 1981, p. 8687). produção e proprietários unicamente da força de
trabalho: a sociedade desigual. A contradição de
interesses entre essas duas classes sociais
constitui a principal característica do capitalismo,
gerando alienação e elaborando ideologia,
componentes da educação política não-crítica e
reprodutora.
Neste sentido, o capitalismo veicula as
ideias sobre o mundo do trabalho e sobre as
relações sociais de produção de forma
autônoma, como se elas fossem independentes
das relações contraditórias construídas social e
historicamente. A ideologia está, então, a serviço
da reprodução dessas relações contraditórias,

8
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

assumindo papel de explicação falsa das ideologia e não na ideologia da classe dominada.
relações sociais, negando, assim esta realidade. Além disso, pensamos que a alienação é um
Neste sentido, a representação da realidade na fenômeno que não pode ser superado apenas
consciência dos homens – papel da educação - pela “consciência da condição alienada”. Essa
sofre a intervenção da ideologia: ... são tomar o consciência, embora necessária, é insuficiente
resultado de um processo como se fosse seu para a transformação social porque essa exige a
começo, tomar os efeitos pelas causas, as ação, a prática social. Neste sentido, o
consequências pelas premissas, o determinado enfrentamento da ideologia e da alienação,
pelo determinante. Assim, por exemplo, quando fundamentais para o processo educativo, se faz
os homens admitem que são desiguais porque pelas práxis: ação prática refletida, pensada
Deus ou a Natureza o fez desiguais, estão concreta e historicamente, prática eivada de
tomando a desigualdade como causa de sua teoria.
situação social e não como tendo sido produzida
pelas relações sociais e, portanto, por eles
próprios, sem que o desejassem e sem que o
soubessem (CHAUÍ, 1981, p.104).
A ideologia, portanto, só se realiza na
sociedade de classes, pois sua função é a
manutenção da exploração e da dominação de
pessoas sobre pessoas, embora sua principal
estratégia seja a negação da existência das
classes sociais como fundamento das relações
sociais. A ideologia dominante, desta forma, é a
ideologia da classe dominante: “As ideias
dominantes nada mais são do que a expressão
ideal das relações materiais dominantes, as
relações materiais dominantes concebidas como
ideias” (CHAUÍ, 1981, p. 93).
A classe que controla as condições
materiais de produção controla também a http://ericaguimaraens.blogspot.com.br/2011/06/ideologia-e-
produção e a distribuição das ideias, criando alienacao.html
diversos e diferentes meios educativos para
perpetuar este controle. Esses meios, A onilateralidade, resultado da
historicamente, são a família, a religião, os meios superação da alienação e da ideologia como
de comunicação e, particularmente, a escola. parte do processo de formação humana, resulta
Todas essas instituições sociais, são também na articulação radical da teoria com a
reprodutoras da ideologia das classes prática social – a práxis. Fundamentada no
dominantes, realizando um papel educativo de pensamento marxista, a educação crítica
caráter ideológico: A ideologia é um conjunto preocupa-se em articular a consciência da
lógico, sistemático e coerente de representações alienação e da ideologia com a ação
(ideias, e valores) e de normas ou regras (de transformadora das relações sociais que as
condutas) que indicam e prescrevem aos produzem, ou seja, a educação crítica voltada
membros da sociedade o que devem pensar, o para a formação humana plena, comprometese
que devem valorizar, o que devem sentir, o que com a prática social transformadora, com a
devem fazer e como devem fazer (CHAUÍ, 1981, construção de relações sociais plenas de
p.113) humanidade. Trata-se, portanto, de educar para
Ideologia e alienação são, portanto, a transformação, não do sujeito individual, mas
conceitos do pensamento marxista fundamentais das relações sociais de dominação.
para a formulação da pedagogia crítica que,
tendo como finalidade da educação a Assim, podemos compreender a
onilateralidade, diz respeito a superação da educação crítica como essencialmente política,
alienação e da ideologia dominante em todas as democrática, emancipatória e transformadora.
dimensões da prática social. Na educação crítica,
portanto, falamos na produção do contra

9
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

no Brasil principalmente por Libâneo (1986),


Misukami (1986), Saviani (1987, 2005), Luckesi
(1994) e Gadotti (2004). Alguns desses estudos
referemse às diferenças de compreensão dos
fundamentos filosófico políticos das teorias da
educação e outros às diferenças filosófico-
políticas e metodológicas das teorias da
aprendizagem.
Como síntese, podemos considerar três
grandes grupos de referenciais teóricos para a
formulação de diferentes pedagogias: pedagogia
tradicional, pedagogia nova e pedagogia crítica.
A pedagogia tradicional e a pedagogia nova
emergem das teorias não-críticas da educação
enquanto a pedagogia crítica emerge da teoria
crítica da educação.
A Pedagogia Tradicional diz respeito a
práticas pedagógicas cujo pressuposto sobre a
função social da educação é a “adaptação” dos
sujeitos à sociedade, vista de forma não crítica. A
transmissão de conhecimentos e valores sociais
produzidos pelos grupos sociais dominantes é o
eixo desta prática pedagógica. Desta forma, esta
proposta pedagógica é eminentemente
ideológica pois expressa o caráter disciplinatório
A PEDAGOGIA CRÍTICA E O PENSAMENTO da educação, do ensino e, principalmente, da
PEDAGÓGICO NO BRASIL escola no que diz respeito a adaptação não-
crítica dos sujeitos educandos ao projeto
hegemônico de sociedade. O pressuposto da
adaptação nos leva a identificar a proposta
educativa: os educandos são “moldados” pelo
processo educativo que os prepara para ocupar
seu papel na sociedade tal qual ela se encontra
estruturada. A pedagogia tradicional tem,
portanto, a função ideológica de reproduzir a
sociedade.
Podemos encontrar essa proposta
pedagógica como proposta educativa dominante
em diferentes momentos históricos – inclusive no
Brasil -, mas é na modernidade, na educação
escolarizada, que ela se expressa mais
intensamente dando origem também a uma
teoria da aprendizagem. Se seu pressuposto é
“preparar” os sujeitos, intelectual e moralmente,
para assumirem sua posição na sociedade (papel
da escola), os conteúdos de ensino são os
conhecimentos e valores transmitidos
http://formaciondocente.edudigital.unellez.edu.ve/mod/forum/ acriticamente, os métodos são baseados na
discuss.php?d=1210 transmissão mecânica de conteúdos pela
Para contribuir na construção de uma exposição oral e repetitiva, o professor é o
pedagogia crítica para a educação ambiental, transmissor e o aluno o receptor. Desta forma, a
vejamos onde se situa a pedagogia crítica nas resposta à pergunta que orienta as teorias da
tendências pedagógicas para a organização da aprendizagem - “como o sujeito aprende? ” - É
educação e do ensino que vem sendo estudadas simples: pela interiorização/memorização dos

10
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

conteúdos transmitidos. Na educação ambiental desenvolvimento das competências e


a educação tradicional se manifesta pela ideia de habilidades práticas para a adaptação na
que a transmissão de conhecimentos e valores sociedade: a prática social é vista ponto de
ambientais seja realizada acriticamente, tendo partida, como meta do processo educativo no
como objetivo a formação de indivíduos sentido adaptativo, é a supervalorização da
ecologicamente responsáveis, compreendido relação da educação com a vida cotidiana. Essa
como indivíduos que considerem os aspectos secundarização dos conteúdos culturais que dá
ambientais em suas ações sociais sem lugar aos conteúdos práticos expressa-se pelo
questionar o contexto histórico-concreto de suas pressuposto básico da aprendizagem na
determinações. Essa tendência na educação pedagogia nova: “aprender a aprender”. Neste
ambiental tem caráter moralista e disciplinatório. mesmo sentido os métodos de ensino se
Dentre as teorias não-críticas temos organizam sob o conceito de atividade:
ainda a Pedagogia Nova que surgiu no Brasil na “Métodos ativos”. É importante destacar
década de vinte (Século XX) se expressando de aqui a enorme influência da psicologia, em
forma mais evidente no Manifesto dos Pioneiros especial a psicologia do desenvolvimento, nas
pela Educação Nova, publicado em 1932. propostas pedagógicas escola novistas, assim
Partindo também do pressuposto da educação como o papel central da ação. As principais
com função adaptadora, esta proposta teorias da aprendizagem que emergem da escola
pedagógica, na sua origem, valorizou a nova são as teorias não-diretivas, cujo
“educação para todos” que interessava ao projeto fundamento é a psicologia não-diretiva de
modernizante de desenvolvimento do capitalismo Rogers; as teorias construtivistas, principalmente
industrial. Sua proposta básica – construída pela a teoria de Piaget; e, por último, as teorias
crítica à repetição mecânica dos processos tecnicistas, com destaque para as contribuições
educativos - é a renovação de referenciais da psicologia comportamental (behaviorista) de
teóricos e metodológicos na organização da Skiner. Na educação ambiental a pedagogia
educação escolarizada secundarizando os nova se expressa pela supervalorização de
conteúdos culturais. métodos ativos da aprendizagem, que pressupõe
O ensino escola novista “renova-se”, o fazer – a ação sobre o ambiente - esvaziado da
colocando como alternativa os processos crítica aos condicionantes sócio históricos da
“ativos”, onde a memória não é mais a atividade modificação da relação da sociedade com a
mental de assimilação da cultura como na natureza. A ideia central na educação ambiental,
pedagogia tradicional, mas a atividade prática de então, refere-se a novas atitudes, novos
desenvolvimento dos indivíduos para a comportamentos, mais adequados do ponto de
participação no projeto de modernização da vista ambiental, novas “competências” do ponto
sociedade. de vista da ação sobre o ambiente, sem a
reflexão social e política de seus condicionantes
históricos. Podemos dizer que o “adestramento”
ambiental (BRÜGGER, 1994) aqui não tem os
conhecimentos dos processos ecológicos e os
problemas ambientais como eixo da proposta
pedagógica (tradicional), mas a ação empírica,
ativista e imediatista para a conservação
ambiental, desvinculada da ação política.
O caráter não-crítico dessas abordagens
difere radicalmente da Pedagogia Crítica,
compreendida como síntese das propostas
pedagógicas que, partindo da crítica da
sociedade injusta e desigual e do papel da
http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/didatica/u
educação como adaptadora social, propõe a
nidade2/propostas_de_trabalho_integrado/unidade2_3.html
educação transformadora. Na tendência crítica
Os processos educativos na pedagogia estão abrigadas propostas que orientam ações
nova são processos em que o sujeito deixa de ter educativas que contribuam para a formação
um papel passivo, de receptor de conhecimentos, crítica dos sujeitos através de processos
e passa a ter um papel ativo, no sentido reflexivos para discussão, compreensão e ação
essencialmente prático. Importa aqui, portanto, o

11
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

transformadora das relações sociais de transformador como a pobreza, a degradação


dominação. A ênfase na crítica da organização humana e ambiental, a violência, a compreensão
da sociedade desigual e no papel crítico e das formas de vida da população, suas
transformador da educação indica a teoria condições de saúde, a fome e, em especial, a
marxista como fundamento da pedagogia crítica. democracia.
Podemos dizer que a pedagogia crítica
no Brasil pode ser compreendida pela análise de
pelo menos dois importantes autores: Paulo
Freire (19211997) e Dermeval Saviani (nascido
em 1944). Do pensamento de Paulo Freire para
a educação emerge a proposta da “educação
libertadora” e do de Saviani a “pedagogia
histórico-crítica”.

http://biblioo.info/paulo-freire-e-a-greve-de-professores-no-
rio-de-janeiro/

A educação libertadora preocupa-se


fundamentalmente com a conscientização do
sujeito sobre sua condição social, sobre sua
própria vida no que diz respeito à organização da
sociedade capitalista, constituindo-se numa
alternativa política à educação tradicional, que
Paulo Freire chamou de “educação bancária”, http://pnld.moderna.com.br/2012/05/02/paulo-freire-o-
patrono-da-educacao/
tendo como principal objetivo a ação política para
a transformação social. Na educação ambiental a A proposta pedagógica conhecida como
pedagogia de Paulo Freire tem sido tomada Pedagogia Histórico-Crítica de
como referencial teórico, mas, nem sempre Dermeval Saviani difere da proposta
compreendida naquilo que a caracteriza: uma freireana principalmente quanto a especificidade
educação política que compreende as condições da educação: “o objeto da educação diz respeito,
sociais da existência dos sujeitos oprimidos como de um lado, à identificação dos elementos
ponto de partida para o processo de culturais que precisam ser assimilados pelos
conscientização na perspectiva da transformação indivíduos da espécie humana para que eles se
da sociedade injusta e desigual. Desta forma, tornem humanos e, de outro lado e
uma pedagogia crítica da educação ambiental concomitantemente, à descoberta das formas
fundamentada no pensamento de Paulo Freire dá mais adequadas para atingir esse objetivo”
ênfase no conhecimento das relações sociais de (SAVIANI, 2005, p.13). Partindo da análise crítica
dominação que se realiza na sociedade desigual da relação da educação com a sociedade, a
para, através do processo educativo dialógico, pedagogia histórico-crítica define como papel da
conscientizar os sujeitos para transformar estas educação sua contribuição em um movimento
relações de dominação. maior de transformação da sociedade capitalista.
Neste sentido, é o pensamento de Paulo No entanto, neste movimento de transformação,
Freire que inspira o Tratado de Educação Saviani entende que a educação assume
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e funções específicas:
Responsabilidade Global (FÓRUM A pedagogia revolucionária é crítica. E,
INTERNACIONAL DAS ONGs, 1995): por ser crítica, sabe-se condicionada. Longe de
transformação social, conscientização, educação entender a educação como determinante
política, cooperação e diálogo. Os temas do principal das transformações sociais, reconhece
Tratado são problematizadores para um ser ela elemento secundário e determinado.
processo de conscientização político e Entretanto, longe de pensar, como faz a
concepção crítico-reprodutivista, que a educação

12
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

é determinada unidirecionalmente pela estrutura


social dissolvendose a sua especificidade,
entende que a educação se relaciona
dialeticamente com a sociedade. Nesse sentido,
ainda que elemento determinado, não deixa de
influenciar o elemento determinante. Ainda que
secundário, nem por isso deixa de ser
instrumento importante e por vezes decisivas no
processo de transformação da sociedade
(SAVIANI, 1987, p.68-69).
Então, o princípio educativo/pedagógico
do pensamento de Saviani para a educação é a
apropriação do saber historicamente acumulado:
“o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a
humanidade que é produzida histórica e http://www.scrapsdinamicos.com.br/frases/frases-de-paulo-
coletivamente pelo conjunto dos homens” freire/3
(SAVIANI, 2005, p.13). O QUE É MEIO AMBIENTE?
Esta proposta educativa, portanto,
valoriza os saberes culturais, compreendidos de
forma dinâmica, como elemento central da ação Para esta pergunta poderemos obter as
pedagógica, cuja estratégia política é a mais diferentes e variadas respostas, que
instrumentalização dos sujeitos singulares para a indicam as representações sociais, o
prática social transformadora. Uma pedagogia conhecimento científico, as experiências vividas
históricocrítica para a educação ambiental, histórica e individualmente com o meio natural.
portanto, é uma proposta educativa que se Para a realização da educação ambiental
preocupa com a apropriação, pelos sujeitos, dos popular, é importante termos um conceito que
saberes socioambientais compreendidos como o oriente as diferentes práticas. Assim, definimos
conjunto de conhecimentos, ideias, conceitos, meio ambiente como o lugar determinado ou
valores, símbolos, habilidades, hábitos, percebido onde os elementos naturais e sociais
procedimentos e atitudes re-significados na estão em relações dinâmicas e em interação.
perspectiva da sustentabilidade social e Essas relações implicam processos de criação
ambiental. cultural e tecnológica e processos históricos e
Esses dois autores, com suas diferentes sociais de transformação do meio natural e
interpretações sobre o papel do processo construído.
educativo, têm grande contribuição na
formulação de uma pedagogia crítica para a
educação ambiental, uma pedagogia voltada
para a construção, histórica e política, de uma
prática social ecológica e democrática. A
educação ambiental crítica, transformadora e
emancipatória tem como ponto de partida a ideia
de que a prática social é construída e construtora
de humanidade, isto é, é construída pelas
relações sociais de produção da vida social,
contribuindo na construção dessas mesmas
relações. A formação humana plena na
perspectiva de superação radical da alienação,
da exploração do homem pelo homem e da
exploração da natureza pelos seres humanos,
exige um processo educativo que garanta
condições concretas para uma prática social
http://www.cedin.com.br/seminario-organizacoes-
ambiental transformada e transformadora
internacionais-e-meio-ambiente/
(TOZONI-REIS, 2004).

13
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Nesta definição de meio ambiente fica áreas de estudo de disciplinas diversas podem
implícito que: contribuir para o desenvolvimento da Ciência
Ambiental dentro da ideia de
1 - Ele é "determinado": - quando se trata de interdisciplinaridade.
delimitar as fronteiras e os momentos No entanto, esta ideia enfrenta algumas
específicos que permitem um dificuldades para se concretizar, tanto em nível
conhecimento mais aprofundado. Ele é teórico como em nível prático. Se, atualmente,
"percebido" quando cada indivíduo o limita temos cada vez mais trabalhos teóricos que se
em função de suas representações baseiam no conhecimento acumulado nas
sociais, conhecimento e experiências diferentes ciências (incluindo as exatas),
cotidianas. podemos ainda notar a dificuldade para muitos
2 - As relações dinâmicas e interativas autores se lançarem nas ciências que não
indicam que o meio ambiente está em dominam com a mesma profundidade atingida
constante mutação, como resultado da nas suas especialidades. Esses autores não
dialética entre o homem e o meio natural. ousam trilhar por ciências onde não terão o
3 - Isto implica um processo de criação que mesmo reconhecimento de seus pares e ainda
estabelece e indica os sinais de uma serem alvos fáceis de críticas dos especialistas
cultura que se manifesta na arquitetura, dessas outras ciências. Devemos também
nas expressões artísticas e literárias, na considerar o extremo corporativismo ainda
tecnologia, etc. presente nos meios acadêmicos e científicos,
4 - Em transformando o meio, o homem é que impede a troca de experiências e
transformado por ele. Todo processo de informações entre cientistas de especialidades
transformação implica uma história e diferentes e supostamente antagônicas.
reflete as necessidades, a distribuição, a A Ciência Ambiental exige dos atores
exploração e o acesso aos recursos de envolvidos conhecimento aprofundado, espírito
uma sociedade. curioso e modéstia diante do desconhecido. Na
A definição de meio ambiente acima sua fase atual, que é de busca da síntese e da
exige um aprofundamento teórico que conta com perspectiva interdisciplinar, é fundamental a troca
a contribuição de diferentes ciências que se de conhecimentos de origens científicas
aglutinam no que se convencionou chamar de diversas, possibilitando dar algumas respostas
Ciência Ambiental. Tem se tornado cada vez às complexas questões que fazem parte do seu
mais claro e consensual que a Ciência quadro teórico.
Ambiental só se realizará através da perspectiva
interdisciplinar.

http://guiadoestudante.abril.com.br/orientacaovocacional/con http://barriossaetatic.weebly.com/moacutedulo-31.html
sulte-orientador/qual-diferenca-engenharia-ambientalciencia-
ambiental-594953.shtml ALGUNS PARADIGMAS DA
A problemática ambiental não pode se
reduzir só aos aspectos geográficos e biológicos, CIÊNCIA AMBIENTAL
de um lado, ou só aos aspectos econômicos e
sociais, de outro. Nenhum deles, isolado,
possibilitará o aprofundamento do conhecimento
sobre essa problemática. À Ciência Ambiental
cabe o privilégio de realizar a síntese entre as
ciências naturais e as ciências humanas,
lançando novos paradigmas de estudo onde não
se "naturalizarão" os fatores sociais e nem se
"socializarão" os fatores naturais. Diferentes http://www.infoescola.com/geografia/desenvolvimento-
sustentavel/

14
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Desenvolvimento Sustentado básicos das necessidades humanas e


intimamente dependentes da problemática
Observamos que nos últimos anos o ambiental, como transportes, saúde, moradia,
conceito de desenvolvimento sustentado tem alimentação e educação, estão longe de terem
substituído na literatura especializada os sido resolvidos.
conceitos de desenvolvimento alternativo e eco Nos pontos comuns e divergentes entre
desenvolvimento. Porém, esses conceitos são sociedades capitalistas desenvolvidas e
originados da Conferência de Estocolmo de periféricas, podemos considerar que, para a
1972, sendo que o de desenvolvimento realização do desenvolvimento sustentado em
alternativo lhe é anterior. A partir dessa nível global, é de fundamental importância o
Conferência, o eco desenvolvimento foi o estabelecimento de uma nova ordem econômica
conceito mais fundido na literatura especializada, e ecológica, onde países dos hemisférios Norte e
até, principalmente, a publicação do Report Sul possam dialogar em igualdade de condições.
Brundtland em 1987. Porém, esse diálogo (se ocorrer) não será sem
Pearce et al (1989) observam que dificuldades, pois a falta de homogeneidade dos
existem diferentes definições de países do Terceiro Mundo e a passividade frente
desenvolvimento sustentado que ilustram as ao poderio econômico (e militar) dos países do
diferentes perspectivas apresentadas, sobretudo Norte são duas dificuldades evidentes.
na segunda metade da década de 80, na Em face disso, qualquer que seja o
literatura anglo-saxônica. À parte está questão de conceito de desenvolvimento, dificilmente
conceitualização, o que nos parece importante podemos garantir, pacificamente, às gerações
enfatizar é que atualmente as propostas de futuras de qualquer parte do globo, o patrimônio
desenvolvimento econômico que não levam em natural e cultural comum da humanidade.
consideração os fatores ambientais estão
condenados ao esquecimento. Participação Social
As recentes mudanças no cenário
político internacional têm mostrado que tanto sob Os movimentos ecológicos surgidos nas
o capitalismo como sob o socialismo a questão sociedades capitalistas desenvolvidas nos anos
ambiental tem um peso político muito grande que 70 se caracterizam inicialmente por uma crítica
interessa tanto a uns quanto a outros. Motivo pelo ao modelo de sociedade industrial. A esse início
qual a ideia de desenvolvimento sustentado tem "contracultura", foram se aglutinando tanto os
estado presente nos debates e acordos movimentos preservacionistas de espécies
internacionais. Porém, ela não se apresenta de animais e vegetais, como movimentos pacifistas
forma homogênea, como já foi assinalado por e anti-nucleares.
Pearce et al (1989). O surgimento e a evolução desses
movimentos devem ser vistos dentro do contexto
da participação civil em sociedades
democráticas. A organização de grupos e a
posterior constituição de "partidos verdes" só se
tornaram possíveis graças à crescente
mobilização da população frente a decisões do
Estado. Nos países onde a democracia é
incipiente, a organização da população se faz
com resultados menos satisfatórios, mas não
menos combativos. É importante assinalar que a
visão de Estado e da participação da sociedade
http://www.itamaraty.gov.br/ptBR/politicaexterna/desenvolvimento- civil nas diferentes ideologias políticas, que se
sustentavel-e-meioambiente/134-objetivos-
dedesenvolvimentosustentavel-ods
posicionam nos países da América Latina, influi
na prática de organizações civis frente à questão
Nas sociedades capitalistas periféricas, a ambiental. Se o que aparece com mais
ideia de desenvolvimento sustentado não pode frequência é a ideia de autonomia frente ao
se restringir à preservação de recursos naturais, Estado, no entanto ela apresenta conotações
visando o abastecimento de matérias primas às ideológicas muito diferentes. Num primeiro
gerações futuras, como tem sido enfatizado nos momento, tivemos a influência das ideias
países de capitalismo avançado. Elementos

15
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

autonomistas surgidas nos anos 60, onde se EDUCAÇÃO AMBIENTAL POPULAR


caracteriza a perspectiva crítica ao Estado
centralizador e autoritário, às suas opções de
desenvolvimento e de saque ao meio ambiente
com as suas consequências sociais.
No entanto, esta posição mais crítica foi
perdendo terreno nos últimos anos a favor de
tendências que, embora contrárias à interferência
do Estado, se posicionam e atuam no terreno das
ideias neo-liberalizantes. A participação da
população nas questões ambientais tem
basicamente se destacado nos grandes centros
urbanos, mas também fora deles, aglutinando
diferentes camadas sociais em torno de questões
específicas. https://sites.google.com/site/quoteslinks/1/frase/br/1/frases-
ambientais
Inúmeras entidades ecológicas e/ou
ambientalistas surgiram no continente nos Depois da reunião do "Clube de Roma"
últimos anos, porém com penetração mais
em 1968 e da "Conferência das Nações Unidas
localizada, e muitas delas atreladas a interesses
sobre o Meio Ambiente Humano" em Estocolmo
econômicos e políticos nem sempre muito claros.
em 1972, a problemática ambiental passou a ser
Podemos considerar que essa
analisada na sua dimensão planetária. Nesta
quantidade de novas organizações ocorre devido
última conferência, uma das resoluções
ao processo de democratização. A atuação de
indicadas no seu relatório final apontava para a
cada um desses movimentos e a sua
necessidade de se realizarem projetos de
continuidade ficará por conta daqueles que:
educação ambiental.
apresentarem respostas aos graves problemas
ambientais puderem discuti-las Em 1977, a UNESCO realizou em Tbilisi,
democraticamente e tiverem meios econômicos URSS, a primeira Conferência Mundial de
e técnicos para viabilizá-las. Educação Ambiental, após a realização de
Várias propostas de participação têm inúmeras outras a nível regional, nos diferentes
sido colocadas à sociedade, porém só a continentes. Em 1987, em Moscou, foi realizada
autonomia dos movimentos sociais frente ao a segunda Conferência Mundial que reafirmou os
Estado, aos partidos políticos, meios de objetivos da educação ambiental indicados em
comunicação de massa, monopólios econômicos Tbilisi.
e seitas religiosas poderá garantir o seu potencial
crítico ao modelo de desenvolvimento, Surgidos do consenso internacional, os
favorecendo a consolidação da democracia no objetivos da educação ambiental são:
continente. Isso não ocorrerá, no entanto, sem o
desenvolvimento da consciência de cidadania, 1 Consciência: Ajudar os grupos sociais
possível através da educação popular ambiental. e os indivíduos a adquirirem uma consciência e
uma sensibilidade acerca do meio ambiente e
dos problemas a ele associados.
2 Conhecimento: Ajudar os grupos
sociais e os indivíduos a ganharem uma grande
variedade de experiências.
3 Atividades: Ajudar os grupos sociais e
os indivíduos a adquirirem um conjunto de
valores e sentimentos de preocupação com o
ambiente e motivação para participarem
ativamente na sua proteção e melhoramento.
4 Competência: Ajudar os grupos sociais
e os indivíduos a adquirirem competências para
resolver problemas ambientais.
http://meioambientetecnico.blogspot.com.br/2012/05/o-
tempo-e-as-ongs.html 5 Participação: Propiciar aos grupos
sociais e aos indivíduos uma oportunidade de se

16
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

envolverem ativamente, em todos os níveis, na suas reivindicações políticas, econômicas e


resolução de problemas relacionados com o ecológicas.
ambiente (UNESCO, 1977, p.15).

http://gepsolucoesambientais.blogspot.com.br/2012/04/projet http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/educacao/programa
o-de-educacao-ambiental-em.html -de-educacao-ambiental-e-levado-a-ong-de-fortaleza/
A sua realização possibilitará recuperar o
Esses elementos fundamentam potencial critico dos movimentos ecológicos, que
experiências diversas em educação ambiental a têm se caracterizado pelo conservadorismo,
nível escolar e extraescolar. tecnocracismo, elitismo, entre outros "ismos",
Muito recentemente temos visto o assim como propiciar a participação social nas
surgimento do que tem sido chamado de questões ambientais das principais vítimas do
educação ambiental popular, no que o ICAE é um modelo de desenvolvimento econômico, que
dos centros pioneiros na sua divulgação e está ignora as suas consequências sociais e
implementando uma política de realização. Onde ecológicas.
então a educação popular e a educação A educação ambiental popular terá
ambiental se encontram e se unem? certamente um papel importante nos próximos
Nesta perspectiva de educação popular anos, já que muito resta a fazer nos planos
se incluem os objetivos da educação ambiental, teórico e prático para atingirmos uma melhor
só que a primeira tem uma tradição pedagógica qualidade de vida, a democracia e a cidadania. O
e política voltada para o avanço das camadas papel que a América Latina tem e terá nos
populares. Avanço este que inclui melhores próximos anos, no debate internacional sobre o
condições de vida, democracia e cidadania. A meio ambiente, será de importância fundamental
opção política explícita da educação popular não para estabelecimento de uma nova ordem
se encontra facilmente nos projetos de educação econômica e ecológica internacional.
ambiental que têm sido realizados no Brasil, em
particular. Um estudo mais aprofundado sobre
isso na América Latina, é necessário ser feito.
São também poucas as opções e projetos de
educação ambiental para as camadas populares,
embora esta necessidade e reivindicação já
tenham sido apontadas em trabalhos que se
situam nos limites da educação realizada em
escolas públicas de São Paulo (Reigota, 1987 e
1990).
A educação ambiental popular, no
entanto, deverá ser realizada prioritariamente
com os movimentos sociais, associações e
organizações ecológicas, de mulheres, de http://revistadonna.clicrbs.com.br/noticia/criancas-aprendem-
sobre-educacao-ambiental-com-visitas-a-horta-de-escola/
camponeses, operários, de jovens, etc,
procurando fornecer um salto qualitativo nas Se queremos que os setores populares
participem desse debate, é urgente

17
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

desenvolvermos projetos educativos para atingi-los, da opção pelos materiais didáticos a


impedir que, mais uma vez, a maior parte da serem usados, dentro das possibilidades da
população fique alheia à tomada de decisões que escola, são condições para a construção de um
lhe concernem direta e cotidianamente. ambiente democrático e para o desenvolvimento
da capacidade de intervenção na realidade.
Entretanto, não se pode esquecer que a
ENSINAR E APRENDER EM EDUCAÇÃO
escola não é o único agente educativo e que os
AMBIENTAL
padrões de comportamento da família e as
informações veiculadas pela mídia exercem
especial influência sobre os adolescentes e
jovens.
No que se refere à área ambiental, há
muitas informações, valores e procedimentos
aprendidos pelo que se faz e se diz em casa.
Esses conhecimentos poderão ser trazidos e
debatidos nos trabalhos da escola, para que se
estabeleçam as relações entre esses dois
universos no reconhecimento dos valores
expressos por comportamentos, técnicas,
manifestações artísticas e culturais.

http://teabrasil.blogspot.com.br/2013/02/a-importancia-da-
educacao-ambiental-na.html

A principal função do trabalho com o


tema Meio Ambiente é contribuir para a formação
de cidadãos conscientes, aptos a decidir e atuar
na realidade socioambiental de um modo
comprometido com a vida, com o bem-estar de
cada um e da sociedade, local e global. Para isso
é necessário que, mais do que informações e
conceitos, a escola se proponha a trabalhar com http://www.jaguariuna.sp.gov.br/portais/sma/?p=835
atitudes, com formação de valores, com o ensino
e aprendizagem de procedimentos. E esse é um Além disso, o rádio, a TV e a imprensa
grande desafio para a educação. Gestos de constituem uma fonte de informações sobre o
solidariedade, hábitos de higiene pessoal e dos Meio Ambiente para a maioria das pessoas,
diversos ambientes, participação em pequenas sendo, portanto, inegável sua importância no
negociações são exemplos de aprendizagem que desencadeamento dos debates que podem gerar
podem ocorrer na escola. transformações e soluções efetivas dos
Assim, a grande tarefa da escola é problemas locais. No entanto, muitas vezes, as
proporcionar um ambiente escolar saudável e questões ambientais são abordadas de forma
coerente com aquilo que ela pretende que seus superficial ou equivocada pelos diferentes meios
alunos apreendam, para que possa, de fato, de comunicação. Notícias de TV e de rádio, de
contribuir para a formação da identidade como jornais e revistas, programas especiais tratando
cidadãos conscientes de suas responsabilidades de questões relacionadas ao meio ambiente têm
com o meio ambiente e capazes de atitudes de sido cada vez mais frequentes. Paralelamente,
proteção e melhoria em relação a ele. existe o discurso veiculado pelos mesmos meios
Por outro lado, cabe à escola também de comunicação quando propõem uma ideia de
garantir situações em que os alunos possam pôr desenvolvimento que não raro entra em conflito
em prática sua capacidade de atuação. O com a ideia de respeito ao meio ambiente. São
fornecimento das informações, a explicitação e propostos e estimulados por meio do incentivo ao
discussão das regras e normas da escola, a consumismo, desperdício, violência, egoísmo,
promoção de atividades que possibilitem uma desrespeito, preconceito, irresponsabilidade e
participação concreta dos alunos, desde a tantas outras atitudes questionáveis dentro de
definição do objetivo, dos caminhos a seguir para uma perspectiva de melhoria de qualidade de

18
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

vida. Por isso, é imprescindível os educadores papel dos professores como orientadores desse
relativizarem essas mensagens, ao mostrar que processo é de fundamental importância.
elas traduzem um posicionamento diante da
realidade e que é possível haver outros.

https://www.joinville.sc.gov.br/noticia/5541Alunos+de+CEI+r
ealizam+atos+heroicos+em+prol+do+meio+ambiente.html

Essa vivência permite aos alunos


perceber que a construção e a produção dos
conhecimentos são contínuas e que, para
entender as questões ambientais, há
necessidade de atualização constante.
https://ericasoffice.wordpress.com/tag/imprensa-livre/

Desenvolver essa postura crítica é muito Como esse campo temático é


importante para os alunos, pois isso lhes permite relativamente novo no ambiente escolar, os
reavaliar essas mesmas informações, professores podem priorizar sua própria
percebendo os vários determinantes da leitura, formação/informação à medida que as
os valores a elas associados e aqueles trazidos necessidades se configurem. Pesquisar sozinho
de casa. Isso os ajuda a agir com visão mais ou junto com os alunos, aprofundar seu
ampla e, portanto, mais segura ante a realidade conhecimento com relação à temática ambiental
que vivem. Para tanto, os professores precisam será necessário aos professores, por, pelo
conhecer o assunto e buscar com os alunos mais menos, três motivos:
informações, enquanto desenvolvem suas
atividades: pesquisando em livros e levantando  Para tê-lo disponível ao abordar assuntos
dados, conversando com os colegas das outras gerais ou específicos de cada disciplina,
disciplinas, ou convidando pessoas da vendo-os não só do modo analítico
comunidade (professores especializados, tradicional, parte por parte, mas nas inter-
técnicos de governo, lideranças, médicos, relações com outras áreas, compondo um
agrônomos, moradores tradicionais que todo mais amplo; muitas vezes é possível
conhecem a história do lugar etc.) para fornecer encontrar informações valiosas em
informações, dar pequenas entrevistas ou documentos oficiais.
participar das aulas na escola. Ou melhor, deve-  Para ter maior facilidade em identificar e
se recorrer às mais diversas fontes: dos livros, discutir os aspectos éticos (valores e
tradicionalmente utilizados, até a história oral dos atitudes envolvidos) e apreciar os estéticos
habitantes da região. Essa heterogeneidade de (percepção e reconhecimento do que
fontes é importante até como medida de agrada à visão, à audição, ao paladar, ao
checagem da precisão das informações, tato; de harmonias, simetrias e outros)
mostrando ainda a diversidade de interpretações presentes nos objetos ou paisagens
dos fatos. observadas, nas formas de expressão
Temas da atualidade, em contínuo cultural etc.
desenvolvimento, exigem uma permanente  Para obter novas informações sobre a
atualização; e fazê-lo junto com os alunos é uma dimensão local do ambiente, já que há
excelente oportunidade para que eles vivenciem transformações constantes seja qual for a
o desenvolvimento de procedimentos dimensão ou amplitude. Isso pode ser de
elementares de pesquisa e construam, na extrema valia, se, associado a informações
prática, formas de sistematização da informação, de outras localidades, puder compor
medidas, considerações quantitativas, informações mais globais sobre a região.
apresentação e discussão de resultados etc. O

19
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O acesso a novas informações permite A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL


repensar a prática. É em esses fazer e refazer BRASILEIRA
que é possível enxergar a riqueza de
informações, conhecimentos e situações de Apesar de já existirem algumas regras
aprendizagem geradas por iniciativa dos próprios sobre a utilização e extração de árvores, foi na
professores. Afinal, eles também estão em década de 30 que surgiram as primeiras normas
processo de construção de saberes e de ações específicas de bens ambientais, tal como o
no ambiente, como qualquer cidadão. Código Florestal (Decreto 23.793/34), Código de
Sistematizar e problematizar suas vivências, e Águas (Decreto 24.643/34 – ainda hoje com
práticas, à luz de novas informações contribui dispositivos em vigor), a disciplina sobre a Caça
para o reconhecimento da importância do (Decreto 24.645/34), o regulamento sobre
trabalho de cada um, permitindo assim a patrimônio cultural (Decreto-lei 25/37).
construção de um projeto consciente de Na década de 60, foi editado o novo
educação ambiental. Código Florestal, que ainda hoje se encontra em
Ou seja, as atividades de educação vigor (Lei 4.771/65) e a Lei de Proteção à Fauna
ambiental dos professores são aqui consideradas (Lei 5.197/1967). Na década seguinte, alguns
no âmbito do aprimoramento de sua cidadania, e Estados instituíram seus sistemas de combate à
não como algo inédito de que eles ainda não poluição, como é o caso do Rio de Janeiro que
estejam participando. Afinal, a própria inserção editou o Decreto-lei 134/75, instituindo o Sistema
do indivíduo na sociedade implica algum tipo de de Licenciamento de Atividades Poluidoras.
participação, de direitos e deveres com relação Não havia, contudo, a proteção do meio
ao ambiente. ambiente de modo integral e como um sistema,
Reconhece-se aqui a necessidade de tal como ficaria evidente a necessidade e cuja
capacitação permanente do quadro de conscientização aumentava a partir da
professores, da melhoria das condições salariais Conferência de Estocolmo. No entanto, foi com a
e de trabalho, assim como a elaboração e edição da Lei Federal 6.938/81 que o Direito
divulgação de materiais de apoio. Sem essas Ambiental brasileiro alcança o patamar que hoje
medidas, a qualidade desejada fica apenas no se encontra. Esta Lei, conhecida como a Lei da
campo das intenções. Polícia Nacional de Meio
Da mesma forma, a estrutura da escola, Ambiente, traz o meio ambiente como “o
as ações dos outros integrantes do espaço conjunto de condições, leis, influências e
escolar devem contribuir na construção das interações de ordem física, química e biológica,
condições necessárias à desejada formação que permite, abriga e rege a vida em todas as
mais atuante e participativa do cidadão. suas formas” e inaugura uma nova fase no direito
ambiental: o do tratamento ao meio ambiente
como um macro-bem.
Além disso, a Lei tem como mérito o
estabelecimento de um regime de
responsabilidade civil por danos ambientais em
que não se verifica a culpa do causador do dano
– responsabilidade civil objetiva; uniformiza o
licenciamento ambiental para todo o território
nacional; estabelece os conceitos de poluidor e
de degradação ambiental; constitui o SISNAMA
(Sistema Nacional do Meio Ambiente).
Em seguida, contribuindo para a
efetividade do direito ambiental, foi editada a Lei
7.345/85, que disciplina a ação civil pública por
danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico. Esta
Lei trata de um dos instrumentos judiciais mais
http://meioambientetecnico.blogspot.com.br/2012/04/projeto-
escola-sustentavel.html utilizados para a proteção do meio ambiente
ecologicamente equilibrado, que pode ser

20
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

utilizado pelo Ministério Público, União, Estados, § 2º – Aquele que explorar recursos
Municípios e associações civis. minerais fica obrigado a recuperar o meio
Em contribuição ao avanço do direito ambiente degradado, de acordo com solução
ambiental, foi promulgado, em 1988, um dos técnica exigida pelo órgão público competente,
textos constitucionais mais avançados do na forma da lei.
planeta: a Constituição da República Federativa § 3º – As condutas e atividades
do Brasil. As disposições constitucionais sobre o consideradas lesivas ao meio ambiente
meio ambiente estão dispersas em todo o texto, sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
disposto em diversos títulos e capítulos. O jurídicas, a sanções penais e administrativas,
dispositivo de mais destaque, no entanto, é o independentemente da obrigação de reparar os
artigo 225, que estabelece: danos causados.
Art. 225 – Todos têm direito ao meio § 4º – A Floresta Amazônica brasileira, a
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-
uso comum do povo e essencial à sadia Grossense e a Zona Costeira são patrimônio
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da
e à coletividade o dever de defendê-lo e lei, dentro de condições que assegurem a
preservá-lo para as presentes e futuras preservação do meio ambiente, inclusive quanto
gerações. ao uso dos recursos naturais. § 5º – São
§ 1º – Para assegurar a efetividade indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas
desse direito, incumbe ao Poder Público: pelos Estados, por ações discriminatórias,
I – Preservar e restaurar os processos necessárias à proteção dos ecossistemas
ecológicos essenciais e prover o manejo naturais.
ecológico das espécies e ecossistemas; § 6º – As usinas que operem com reator
II – Preservar a diversidade e a integridade nuclear deverão ter sua localização definida em
do patrimônio genético do País e fiscalizar lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
as entidades dedicadas à pesquisa e Dentre as importantes leis sobre
manipulação de material genético; proteção do meio ambiente, mencione-se ainda:
III – Definir, em todas as unidades da - Lei 4.717/1965: ação popular;
Federação, espaços territoriais e seus - Lei 6.766/1979: parcelamento do solo
componentes a serem especialmente urbano;
protegidos, sendo a alteração e a - Lei 7.661/1988: Plano Nacional de
supressão permitidas somente através de Gerenciamento Costeiro;
lei, vedada qualquer utilização que - Lei 8.723/1993: emissão de poluentes
comprometa a integridade dos atributos por veículos automotores;
que justifiquem sua proteção; - Lei 9.055/1995: utilização do
IV – Exigir, na forma da lei, para instalação de asbesto/amianto;
obra ou atividade potencialmente - Lei 9.433/1997: Política Nacional de
causadora de significativa degradação do Recursos Hídricos;
meio ambiente, estudo prévio de impacto - Lei 9.605/1998: crimes ambientais;
ambiental, a que se dará publicidade; - Lei 9.795/1999: Política Nacional de
V – Controlar a produção, a comercialização Educação Ambiental;
e o emprego de técnicas, métodos e - Lei 9.985/2000: institui o Sistema
substâncias que comportem risco para a Nacional de Unidades de Conservação;
vida, a qualidade de vida e o meio - Lei 10.257/2001: Estatuto da Cidade;
ambiente; - Lei 10.650/2003: acesso público aos
VI – Promover a educação ambiental em dados e informações do SISNAMA;
todos os níveis de ensino e a - Lei 11.105/2005: biossegurança;
conscientização pública para a - Lei 11.284/2006: institui o Sistema
preservação do meio ambiente; Florestal Brasileiro e cria o Fundo Nacional de
VII – Proteger a fauna e a flora, vedadas, na Desenvolvimento Florestal;
forma da lei, as práticas que coloquem em - Lei 11.428/2006: utilização e proteção da
risco sua função ecológica, provoquem a vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica;
extinção de espécies ou submetam os - Lei 11.445/2007: saneamento básico.
animais a crueldade.

21
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

BIBLIOGRAFIA

BRANDÃO, C.R. Comunidades Aprendentes. In: FERRARO-JÚNIOR, L.A. (org). Encontros e


caminhos: formação de educadoras(es)ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Diretoria de
Educação Ambiental, 2005.

BRASIL. Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999. Brasília: Congresso Nacional, 1999.

BRÜGGER, P. Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994.

CARVALHO, I.C.M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.

CHAUÍ, M. O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense, 1981. (Coleção Primeiros Passos)

ENGUITA, M. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.

FORUM INTERNACIONAL DAS ONGs. Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis
e responsabilidade global. Rio de Janeiro: 1995.

GADOTTI, M. O pensamento pedagógico brasileiro. 8 ed. São Paulo: Ática, 2004.

GRÜN, M. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas:

Papirus, 1996.

GUIMARÃES, M. Educação ambiental crítica. In: LAYRARGUES, P.P.(org). Identidades da educação


ambiental brasileira. Brasília, MMA. Diretoria de Educação Ambiental, 2004.

JACOBI, P. Participação. In: FERRARO-JÚNIOR, L.A. (org). Encontros e caminhos: formação de


educadoras(es)ambientais e coletivos educadores.

Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005.

LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 2 ed. Petrópolis:


Vozes, 2001.

LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico social dos conteúdos. 4 ed. São
Paulo: Loyola, 1986.

LIBÂNEO, J.C. Pedagogia e Pedagogos: para quê? São Paulo: Cortez, 1998.

LOUREIRO, C. F. B. Trajetórias e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo: Cortez, 2004.

LUCKESI, C.C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.

MANACORDA. M.A. Marx e a pedagogia moderna. São Paulo: Cortez/autores Associados, 1991.

MARX, K & ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Hucitec, 1979.

MARX, K. Manuscritos económicos-filosóficos. Edições 70. 1993.

MISUKAMI, M.G.N. Ensino: as abordagens no processo. São Paulo: EDUSP, 1986.

REIGOTA, M. Educação ambiental e representação social. São Paulo: Cortez, 1995. (Coleção
Questões da Nossa Época)

22
EDUCAÇÃO AMBIENTAL

SAVIANI, D. A pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 9 ed. Campinas: Autores


Associados, 2005.

SAVIANI, D. Do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.

SAVIANI, D. Escola e Democracia. 19 ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1987.

TOZONI-REIS, M.F.C. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campinas: Autores


Associados, 2004.

23

Você também pode gostar